Por Sílvio Grimaldo - Cientista político e diretor-executivo do jornal "Brasil sem Medo"
"Só com a força da vontade e a vontade da força!" Pelo menos não em democracias modernas. Na verdade, nem em ditaduras modernas! Hugo Chávez, por exemplo, à época do “golpe constitucional”, tinha apoio da população, de grande parte das forças armadas, da oligarquia dissidente, do clero, e apoio internacional, sobretudo das forças políticas do Foro de São Paulo, não só dele, óbvio. Ele tinha, por exemplo, apoio (na época) e simpatia, até do Bolsonaro! Em 1964, houve um movimento cívico em torno da queda de Jango. Havia apoio maciço do congresso, que votou o impeachment do presidente, com apoio dos governadores mais importantes, da Igreja, da imprensa, dos empresários, e o mais importante de tudo, das forças armadas e dos EUA. O movimento que derrubou Dilma foi uma longa construção que envolveu não apenas muita gente na rua, sobretudo a classe média, mas praticamente todo o Ministério Público (que em toda as fases da lava-jato teve apoio dos EUA), da maioria do judiciário, de empresários, das igrejas evangélicas, do Centrão, de parte da grande imprensa nacional e internacional, do vice-presidente (Temer), e do exército.
E mesmo assim, o movimento só foi efetivado quando parte da elite decidiu entregar os anéis para salvar os dedos, ou seja, quando o MBL foi cooptado por FHC e Serra, então, a oligarquia dissidente entendeu que o custo de resistir à derrubada da cleptocracia petista era maior do que dividendos futuros que poderiam vir posicionando-se "do lado certo" do novo regime. Não contavam com o fura-fila Bolsonaro, mas isso não muda o fato da ampla aliança construída entre vários setores para a derrubada de Dilma, que podem ser resumidos em:
1)-Classe média.
2)-Grande imprensa.
3)-Opinião pública generalizada.
4)-Elites principais (setores: agro, industrial, comercial, e financeiro)
5)-Forças armadas em conjunto.
6)-Grandes lideranças políticas (internas e externas).
Curiosamente, esses são os seis círculos que devem ser conquistados numa “revolução colorida”, segundo Andrew Korybko, notório cientista político americano cooptado pelos serviços de desinformação russos e bem conhecido no pequeno nicho de estudiosos de esquerda das forças armadas no Brasil. Korybko tem razão em alguns pontos, mas ele prefere ignorar que os tais “anéis de influência” que devem ser conquistados pela ação discreta do exército inimigo descrevem não apenas um processo de guerra híbrida ou revolução colorida, mas praticamente todas as revoluções e processos de mudança brusca de regime registrados pela história, em sociedades com corpos intermediários complexos e diferenciados. Mas, é evidente que o autor é um agente de desinformação e não um cientista político, e seu objetivo é construir a narrativa de que as revoluções coloridas são resultado exclusivo de guerra híbrida da CIA (mas isso é outro assunto).
O ponto, é que sem uma ampla construção de alianças de coalizão que pretenda
fazer a mudança de regime, seja ela orgânica ou criada por inimigo estrangeiro
numa guerra híbrida, não há possibilidade de sucesso numa ação de força, seja
golpe ou contra-golpe. E aqui vem o que importa: “Bolsonaro
não tem essa coalizão”. Ele certamente tem parte da classe média, mas é
inegável que a mobilização em frente aos quartéis atualmente é bem menor do que
as grandes manifestações do impeachment da Dilma ou mesmo dos dois últimos 7 de
setembro. Bolsonaro também, não tem apoio da grande mídia nacional e
internacional, nem houve, durante seu governo, preocupação com novas mídias
alinhadas aos óbvios sentimentos conservadores da população que o apoia. Ele tem apoio apenas de parte da elite, sobretudo aquela
ligada ao Agronegócio, mas essa, apesar da sua enorme participação no PIB,
ainda é politicamente fraca, sendo comparada com a estrutura política e opinião
pública controlada pela elite ligada ao setor industrial e à especulação financeira
e bancária. A primeira está com Alckmin, a segunda apoiou Lula explicitamente. Das
lideranças políticas ele tem apoio zero, a não ser de meia dúzia de deputados
de baixo-clero. Nenhum governador, mesmo aliados, senador, presidente de casas
legislativa e magistrados de tribunais superiores dão sinais de que o apoiariam
numa virada de mesa anti-sistêmica. E aí vem a maior
ilusão por parte do apoio das forças armadas. Acho que a essa altura, já está
claro para todos que ele não tem apoio do exército para uma coisa dessas, como
também, NUNCA teve apoio das forças armadas para coisa alguma! As FA’s são um
aparelho do estado totalmente integrado ao “Sistema”. E não é que ele
tenha apoio de alguns generais e não tenha de outros, os melancias, comunistas,
etc. Isso não existe mais nas forças armadas há mais de 50 anos. Há divergência
no oficialato, mas as Forças Armadas agem em bloco, orientados pela na doutrina
de segurança nacional, a verdadeira ideologia política do exército, parida,
nutrida e inculcada na Escola Superior de Guerra.
Agora vejam o espectro pelo outro
lado
A coalizão do establishment tem, ao menos, “uma
aparência de apoio popular nas urnas”, movimentos sindicais, sociais, etc.,
ainda que não tenha das ruas. Tem todo apoio da grande mídia nacional, tem o
apoio da elite financeira inteira, economistas liberais, empregados de bancos,
os velhinhos oligarcas da FIESP, e a galera do “beach” com os escritórios na
Faria Lima. Além das elites políticas do Centrão com PP, Kassab, MDB, etc. Sem contar o apoio inteiro de toda a cúpula do judiciário e
do Ministério Público. Por fim, sobram as Forças Armadas, que, pela doutrina de
segurança nacional, não precisam estar com apoio do executivo (ou qualquer um
dos demais poderes) para defender seus interesses de longo prazo. Mas, mesmo
assim, generais já negociaram com o próximo governo o controle dos aparelhos
indispensáveis para o que eles entendem como funciona a segurança interna e
externa: Ministério da Defesa, GSI nas mãos de general e ABIN debaixo do GSI.
Então, num cenário assim, que eu realmente acredito
estar correto, vocês esperam o que do Bolsonaro?
Mesmo que eu estivesse errado com relação ao exército, como ele poderia agir num contra-golpe sem o apoio dos outros estrados? Não é questão de torcer contra o povo na frente dos quarteis ou falta de esperança, mas de tentar olhar para situação com o máximo de racionalidade e objetividade possível. Como disse o presidente Bolsonaro no final da live: “perdemos uma batalha, não a guerra!”
NO VÍDEO ABAIXO, CORROBORANDO COM O TEXTO DO SILVIO, LULA DIZ QUE O PROCESSO DE TOMADA DE PODER É LENTO, A LONGO PRAZO, E DOLOROSO! POR QUE COM O CONSERVADORISMO RENASCENTE TERIA QUE SER DIFRENTE?
FONTE - https://twitter.com/silviogrimaldo/status/1608537526570201088?s=46&t=aRzFLJVSMV9IBV1fs2_TAQ
Como neo-aprendiz do grande mestre Olavo de Carvalho, um homem visionário, sempre a frente de seu tempo, como todos os profetas, ele em alguns momentos do governo Bolsonaro, o acompanhei em suas análises, hora Olavo elogiando e horas fazendo duras críticas a sua governança (e não a sua pessoa), que foram incompreendidas por muitos naquele contexto, mas eram críticas por quem tinha uma visão macro do SISTEMA, como tinha o velho e experiente professor Olavo. Porém, é entristecedor ver agora pessoas ditas conservadoras e "Bolsonaristas", atacando o presidente de forma barata e revanchista, diminuindo-o exatamente pelos maiores acertos que esse homem já fez como presidente da República! Bolsonaro não governou o país, simplesmente, ele REESCREVEU a história e pavimentou o nosso futuro! Ele acabou com o teatro das tesouras, ele foi o instrumento que nos permitiu ver a verdade nua e crua do sistema, como um rei que ficou nu diante de nós mostrando suas escandalosas "vergonhas". A coroa portuguesa, não conseguiu impedir o levante militar da República, mas o Bolsonaro conseguiu despertar toda uma nova geração com valores perenes como Deus, pátria e família, que não permitirão jamais a instalação de um regime comunista ateu, materialista e depravado no Brasil como quer a esquerda.
A esquerda, diga-se de passagem, não ganhou a eleição, apenas tomou o poder! Como muito bem disse José Dirceu, tentando nos fazer de manés!
A live do presidente não me causou nenhuma surpresa. Desde algum tempo lembrando das palavras do Olavo de Carvalho, estou muito tranquilo e consciente de tudo que está acontecendo, e no que estamos envolvidos. Entendo que muitas pessoas ficaram tristes e frustradas, sentindo-se impotentes. Nessas ocasiões muitos chutam o pau da barraca e desistem de tudo porque queriam que as coisas fossem resolvidas instantaneamente assim e assado. Se o presidente Bolsonaro pudesse fazer algo sozinho, sem dúvidas, por tudo que ele já passou e ainda vai passar (não se enganem, o sistema quer o fígado do nosso Presidente), ele já teria feito! Temos que dolorosamente, caros(as) e valorosos(as) patriotas, aprender que:
"Uma guerra não termina vencendo ou perdendo apenas em uma batalha!"
Todas as grandes mudanças na história tiveram longos tempos de maturação e de lutas inglórias, mas perseverantes, sabendo onde se quer chegar! As vezes dando um passo pra frente e dois para trás, reorganizando fileiras, tratando e motivando os feridos em combate. No Brasil não teria porque ser diferente! Não temos aqui e nem em lugar nenhum deste mundo, um super herói como naquelas "estórias" em quadrinhos, com superpoderes para destruir um "sistema bem estruturado ao longo de anos", favorecido infelizmente, pela nossa inércia, mas agora o gigante despertou!
------------------------------------------------------
APOSTOLADO BERAKASH: Como você pode ver, ao contrário de outros meios midiáticos, decidimos por manter a nossa página livre de anúncios, porque geralmente, estes querem determinar os conteúdos a serem publicados. Infelizmente, os algoritmos definem quem vai ler o quê. Não buscamos aplausos, queremos é que nossos leitores estejam bem informados, vendo sempre os TRÊS LADOS da moeda para emitir seu juízo. Acreditamos que cada um de nós no Brasil, e nos demais países que nos leem, merece o acesso a conteúdo verdadeiro e com profundidade. É o que praticamos desde o início deste blog a mais de 20 anos atrás. Isso nos dá essa credibilidade que orgulhosamente a preservamos, inclusive nestes tempos tumultuados, de narrativas polarizadas e de muita Fake News. O apoio e a propaganda de vocês nossos leitores é o que garante nossa linha de conduta. A mera veiculação, ou reprodução de matérias e entrevistas deste blog não significa, necessariamente, adesão às ideias neles contidas. Tal material deve ser considerado à luz do objetivo informativo deste blog. Os comentários devem ser respeitosos e relacionados estritamente ao assunto do post. Toda polêmica desnecessária será prontamente banida. Todos as postagens e comentários são de inteira responsabilidade de seus autores e não representam necessariamente, a posição do blog. A edição deste blog se reserva o direito de excluir qualquer artigo ou comentário que julgar oportuno, sem demais explicações. Todo material produzido por este blog é de livre difusão, contanto que se remeta nossa fonte. Não somos bancados por nenhum tipo de recurso ou patrocinadores internos, ou externo ao Brasil. Este blog é independente e representamos uma alternativa concreta de comunicação. Se você gosta de nossas publicações, junte-se a nós com sua propaganda, ou doação, para que possamos crescer e fazer a comunicação dos fatos, doa a quem doer. Entre em contato conosco pelo nosso e-mail abaixo, caso queira colaborar:
filhodedeusshalom@gmail.com
+ Comentário. Deixe o seu! + 1 Comentário. Deixe o seu!
Sílvio Grimaldo é muito bom em geopolítica. Excelente análise!
Postar um comentário
Todos os comentários publicados não significam a adesão às ideias nelas contidas por parte deste apostolado, nem a garantia da ortodoxia de seus conteúdos. Conforme a lei o blog oferece o DIREITO DE RESPOSTA a quem se sentir ofendido(a), desde que a resposta não contenha palavrões e ofensas de cunho pessoal e generalizados. Os comentários serão analisados criteriosamente e poderão ser ignorados e ou, excluídos.