Depois de ouvir durante meses, ou anos, toda essa
discussão sobre a “reforma da Previdência”, você está achando que ela é “contra
os pobres”? Ou acha que é exatamente o contrário? Ou, ainda, não acha nem uma
coisa nem outra, porque não tem mais paciência para continuar ouvindo essa
conversa que não acaba mais? Anime-se. O professor gaúcho Fernando Schüler, conferencista e consultor de
empresas, tem a solução definitiva para o seu problema. Se a reforma da
previdência fosse contra os pobres, explicou Schüler dias atrás, já teria sido
aprovada há muito tempo, e sem a menor dificuldade. Pela mais simples de todas
as razões: tudo aquilo que prejudica o pobre diabo que está tentando não morrer
de fome, e não tem tempo para fazer “articulação política”, passa como um
foguete da NASA pelas duas casas do Congresso deste país. Passa tão depressa,
na verdade, e com tanto silêncio, que ninguém nem fica sabendo que passou. A
reforma proposta pelo governo só está encontrando essa resistência desesperada
do PT, dos seus satélites e da massa da politicalha safada porque é,
justamente, a favor dos pobres e contra os ricos. Cem por cento
contra os ricos, no caso, algumas dezenas de milhares de funcionários públicos
com salário-teto na casa dos 40.000 reais por mês, sobretudo nas camadas mais
altas do Judiciário e do Legislativo. São esses os únicos que vão perder, e vão
perder em favor dos que têm menos ou não têm nada.Não parece possível, humanamente, eliminar de maneira mais clara as
dúvidas sobre a reforma da previdência. Alguém já viu, em cerca de 200 anos de
existência do Congresso Nacional, alguma coisa a favor de
rico dar trabalho para ser aprovada? Ainda há pouco, só para ficar num dos
exemplos mais degenerados do estilo de vida dessa gente, deputados e senadores
aprovaram o pagamento de 1,7 bilhão de reais para a “campanha eleitoral de
2018” ─ dinheiro vivo, saído diretamente dos seus impostos e entregue
diretamente no bolso dos congressistas. São os mesmos, em grande parte, que
agora viram um bando de tigres para “salvar os pobres” da reforma. Poderiam ser
mencionados, aí, uns outros 1.000 casos iguais, em benefício exclusivo da
manada que tem força para arrancar dinheiro do Erário público. No caso da
previdência a briga é para conservar os privilégios de ministros,
desembargadores, procuradores, auditores, ouvidores, marajás da Câmara dos
Deputados, sultões do Senado e toda a turma de magnatas que conseguem ganhar
ainda mais que o teto e exigem, ao se aposentar, os mesmos salários que ganham
na ativa, algo que nenhum outro brasileiro tem.Não adianta nada, com certeza, apresentar números, fatos e provas
materiais que liquidam qualquer dúvida sobre a injustiça rasteira de um sistema
que se utiliza da lei para violar o princípio mais elementar das democracias, o
de que todos os cidadãos são iguais em seus direitos e em seus deveres. A
previdência brasileira determina, expressamente, que os cidadãos são desiguais;
quem trabalha no setor privado, segundo as regras que se pretende mudar, vale
menos que os funcionários do setor público e, portanto, tem de receber
aposentadoria menor. Quando se demonstra essa aberração com a aritmética, a
esquerda diz que as contas não valem, pois se baseiam em “números ilegais”. Não
há, realmente, como continuar uma conversa a partir de um argumento desses, e
nem há mesmo qualquer utilidade prática em conversar sobre o assunto. Os defensores dos
privilégios não estão interessados em discutir número nenhum; estão
interessados, apenas, em defender privilégios. Por que raios,
então, iriam perder seu tempo se aborrecendo com fatos? O que existe, no fundo, é uma questão que vai muito além da previdência social.
É a guerra enfurecida que se trava no Brasil para manter exatamente como estão
todas as desigualdades materiais em favor das castas que mandam no Estado,
todas as desigualdades, sem exceção, e não apenas a aposentadoria com salário
integral. Sua marca registrada é um prodigioso esforço de propaganda para fazer
as pessoas acreditarem que o agressor está do lado dos agredidos, e que qualquer
tentativa séria de defender o pobre é uma monstruosidade que precisa ser
queimada em praça pública. Acabamos de viver, justo agora, um dos grandes
momentos na história dessa mentira que faz do Brasil um dos países mais
injustos do mundo, quando o ministro Paulo Guedes foi à Câmara para explicar,
com paciência de monge beneditino e fatos da lógica elementar, a reforma da
previdência. O PT fez o possível para impedir o ministro de falar. Ao fim,
tentou ganhar pelo insulto.
Um deputado de
segunda linha faturou seus 15 minutos de fama dizendo que Guedes era bravo com
“os aposentados”, mas “tchutchuca quando mexe com a turma mais privilegiada do
nosso país” - A grosseria serviu para três coisas:
1)- Em primeiro lugar, fez o deputado ouvir que “tchutchuca é a mãe”!
2)- Em segundo lugar, levou o ex-presidente Lula a dizer, da cadeia, que estava
“orgulhoso” com a agressão, mais um sinal, entre tantos, do bem que ele fará
pelo Brasil se for solto ou premiado com a “prisão domiciliar”.
3)- Em terceiro lugar, enfim, abriu mais uma avenida-gigante para se
dizer quem é quem, mesmo, em matéria de “tchutchuca” com os ricos, parasitas e
piratas neste país , “tchutchuca” na vida real, como ela é vivida na crueza do
seu dia a dia, e não na conversa de deputado petista. Aí não tem jeito: os
fatos, e puramente os fatos, mostram que Lula, guiando o bonde geral da
esquerda verde-amarela, foi o maior “tchutchuca” de rico que o Brasil já teve
em seus 500 anos de história; ninguém chegou perto dele, e nem de
forma tão exposta à luz do sol do meio dia. Pior: o ex-presidente não foi só a
grande mãe gentil dos ricos. Foi também a fada protetora dos empreiteiros de
obras bandidos, dos empresários escroques e dos variados tipos de ladrão que
tanto prosperam em países subdesenvolvidos, as “criaturas do pântano”, como se
diz.
O desagradável
desta afirmação é que ela tem teores mínimos de opinião; só incomoda, ao contrário,
porque sua base é uma lista sem fim de realidades que há muito tempo estão
acima de discussão. Vamos lá, então, coisa por coisa:
a)- Não há dúvida nenhuma, já que é preciso começar por algum lugar, que o
maior corruptor da história do Brasil, o empreiteiro Marcelo Odebrecht, passou
de mãos dadas com Lula os oito anos de seu governo, noves fora o paraíso que
viveu com Dilma Rousseff. Quem diz que Odebrecht é um delinquente em modo
extremo não é este artigo; é ele mesmo, que confessou seus crimes, delatou Deus
e o mundo e por conta disso está preso até hoje, em prisão domiciliar, certo,
mas preso.
b)- Também não foi o seu filho (nem o meu), nem de qualquer cidadão que você
conheça, quem conseguiu receber 10 milhões de reais da empreiteira Andrade
Gutierrez como investimento numa empresa de vídeo games. Foi o filho de Lula.
Os 10 milhões sumiram; a empresa faliu. A Andrade Gutierrez lamenta: o negócio
não deu certo, dizem eles, e a gente perdeu todo o dinheiro que deu para o
Lulinha. Uma pena, não é? Mas acontece com as melhores empresas do mundo.
c)- O empreiteiro Léo Pinheiro, da OAS, réu confesso, delator e hoje
presidiário, foi o grande protetor e protegido de quem? De Lula, a quem, por
sinal, denunciou no fatal triplex do Guarujá. Querem mais? É só chamar o
Google.
d)- Em dezesseis anos de Lula e Dilma, na verdade, não se conhece um único caso
de rico prejudicado pelo governo, a não ser os produtores rurais roubados pelos
“movimentos sociais” do PT e outras vítimas da criminalidade oficial. Os
banqueiros, por exemplo, jamais ganharam tanto dinheiro na história da economia
brasileira como durante o reinado da esquerda. Não apenas foram protegidos
contra qualquer espécie de concorrência, liberdade econômica, no lulismo
bancário, só vale na hora de deixar os bancos cobrarem os juros mais altos do
mundo. Foram os maiores beneficiários da dívida pública alucinante que Lula e o PT
tanto se orgulham de ter criado, pois na sua cabeça isso é sinal de que “o
governo está se endividando para ajudar os pobres” (?) quando, na verdade, faz
a população pagar 100 bilhões de dólares por ano em juros que vão para os bolso
dos “rentistas”, a começar pelos banqueiros.
e)- Também não há precedentes de tanta caridade pública para empresários amigos
quanto na era Lula-PT. Quem foi mais “tchutchuca” de que Eike Baptista, Joesley
Batista e outros abençoados do BNDES? Quem inventou a Sete Brasil, uma das
aberrações mais espantosas jamais criadas pelo capitalismo de compadres do
Brasil? Do começo ao fim, foi apenas uma arapuca para vender sondas imaginárias
à Petrobras e “ressuscitar a indústria naval brasileira”, vigarice de terceira
categoria que fez obras e empregos virarem fumaça quando a ladroagem toda veio
abaixo.
f)- A esses bem-aventurados da elite brasileira, de quem a esquerda se diz tão
horrorizada, mas a quem serve com a devoção de moleque de senzala, juntam-se os
ladrões puros e simples. Em que outra ocasião da história política do Brasil o
roubo do Tesouro Nacional viveu dias de tanta glória como nos governos de Lula
e seus subúrbios? Basta, provavelmente, citar um nome para se entender o
processo inteiro: Sérgio Cabral. Precisa mais? O homem soma quase 200 anos de
prisão, confessou um caminhão de crimes e tornou-se, possivelmente, o
governador mais ladrão que a humanidade já conheceu. Mas foi um dos grandes
heróis de Lula, não se esquecerá jamais o mandamento público do ex-presidente,
dizendo que votar em Cabral era “um dever moral, ético e político”.
g)- E quem foi o grande inventor de Antônio Palocci? Nada mais típico do que
Palocci, transformado por Lula em vice-rei da sua Presidência. O cidadão se
apresentava como “trotskysta”, ou, tecnicamente, como militante da extrema
esquerda. Roubou tanto, segundo suas próprias confissões, que jamais se saberá
ao certo o prejuízo que deu. Só o apartamento em que mora em São Paulo, e onde
cumpre hoje sua “prisão domiciliar” vale mais que o patrimônio que 99% dos
brasileiros vão obter durante todas as suas vidas. Isso não é ser rico? E
se Palocci não é uma criatura de Lula, de quem seria, então?
A verdade é que durante todo o
período em que a esquerda mandou no governo, o Brasil continuou sendo um dos
países de maior concentração de renda em todo o mundo!
Em dezesseis anos de lulismo, foi massacrado sem trégua o principal
instrumento de melhoria social que pode existir num país, a educação
pública. Pelos últimos dados do Banco Mundial, a média da população brasileira
só vai atingir o mesmo índice de compreensão da matemática existente nos países
desenvolvidos daqui a 75 anos. Essa é a boa notícia; em matéria de leitura,
vamos precisar de mais 260 anos para chegar lá. É o resultado direto do
abandono da edução dos pobres em benefício da educação dos ricos. Por conta dos
programas de “democratização” da universidade de Lula e Dilma, o Brasil gasta
quatro vezes mais por ano com um aluno da universidade pública, ou cerca de 21.000
reais, do que com um garoto que está no ensino básico. Queriam o que, com essa
divisão do dinheiro público que se gasta na educação? Em matéria de
ação pró-pobre, houve muita propaganda, muito filmezinho milionário de João
Santana, mais um réu confesso de corrupção, mostrando a clássica “família negra
feliz-com mesa farta-carrinho na porta-tomando avião-etc., etc.”, mas essas
fantasias quase só existiam na televisão. Dinheiro, que é bom, foi para o bolso
dos nababos, dos Marcelos e Eikes e Geddels. Foi para ditadores da África, o
filho de um deles, por sinal, é um fugitivo da polícia internacional. Foi para
obras em Cuba e na Venezuela. Foi para os “prestadores de serviço”, ONGs amigas
e artistas da Lei Rouanet. Foi, num país de 200 milhões de habitantes, para os
barões mais bem pagos de um funcionalismo público que já soma quase 12 milhões
de pessoas entre União, Estados e Municípios, 450.000 só nesse Ministério da
Educação que produz a catástrofe descrita acima. Para a pobrada sobrou o
programa oficial de esmolas do Bolsa Família, ideal para perpetuar a miséria,
ou pior que isso, segundo o Banco Mundial, de novo, 7 milhões de brasileiros
caíram abaixo da linha da pobreza apenas de 2014 para 2016. Quem gerou essa
desgraça? Não foi o governo da Cochinchina, nem o ministro Paulo Guedes com
apenas 3 meses no comando. A situação fica definitivamente
complicada para os pobres quando quem diz que está cuidando deles serve no
exército do inimigo, aqueles que têm como principal razão de sua existência,
talvez a única, defender direitos e princípios que são apenas presentes pagos
com o dinheiro de todos.
Por: J.R. Guzzo - VEJA - 19/04/2019
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