É realmente necessário estar em um mosteiro para levar uma vida monástica? Não posso viver como um monge no mundo?
Primeiro,
você deve perceber que a graça de Deus está presente em toda parte, mas é sentida
especialmente em um mosteiro, pois a clausura traz graças específicas. Quando
as pessoas visitam um mosteiro, sentem que é um lugar sagrado onde Deus está
presente. Paradoxalmente, os monges que moram em um determinado mosteiro mais
frequentemente sentem a intensa guerra espiritual que o maligno está travando
contra eles.
Quando os visitantes chegam a um
mosteiro e dizem a um dos monges: “É tão pacífico aqui”, ele respondeu: “Você
sente a paz, nós vemos a guerra”.
Qualquer um que se esforce para cumprir os
mandamentos do Evangelho, que tenta viver verdadeiramente de acordo com os
ensinamentos da Igreja, sente esses dois aspectos se digladiando (conf. Rom
7,19-21):
-A graça de Deus operando gratuitamente em suas
vidas.
-A intensa batalha que travam contra suas concupiscências,
o mundo e o diabo.
Quanto mais intensamente nos esforçamos para
servir a Deus, mais o maligno procura nos impedir de seguir nosso caminho
estreito. Isso é mais verdadeiro na vida de quem renuncia ao mundo e procura
viver completamente para Cristo.
Isso não pode ser feito
enquanto se vive no mundo?
Sim e não. Certamente, com a ajuda de Deus, é
possível viver de acordo com os mandamentos do Evangelho e os ensinamentos da
Igreja no mundo, trabalhando pela nossa salvação (conf. Filip2,12-13),sendo
fiel à Igreja, em intimidade com Deus pela oração, o jejum e a esmola, lendo a
vida dos santos e outros livros que edificam a alma. Isto é tudo o que a Igreja
pede de todos os seus fiéis. Isso tudo está de acordo com os mandamentos. Da
mesma maneira, a pessoa pode participar de algumas atividades “mundanas” que
não são prejudiciais: Eventos culturais que não sejam mundanos, mas pelo ao
menos profanos, tais como apresentações culturais (teatro, música, danças...) esportivas, entretenimento
saudável etc., sem perder o foco em Deus.
A vida monástica compreende o que os Padres chamam de “conselhos
evangélicos”. Lembre-se do jovem rico que perguntou ao Senhor: O que devo fazer para herdar a vida eterna? O Senhor
disse-lhe para guardar os mandamentos, que o homem declarou que ele tinha feito
desde a juventude. Então o Senhor disse: "se você quiser
o caminho da perfeição, vai vende tudo o que tens e dá-o aos pobres.
Depois, vem e segue-me..." (Marcos 10,21).
Se
você quiser! Em outras palavras, não é obrigatório para a salvação, pois para
isto basta praticar os dez mandamentos como o próprio Jesus assegurou ao jovem
rico. Para a salvação não é necessário que você desista de tudo, apenas, “se
você sentir e quiser seguir o caminho de perfeição”.
Alguns dos prazeres da vida não são
ruins e são até recomendados por Deus, pois casar e ter filhos são certamente
abençoados por Cristo, que realizou Seu primeiro milagre público no casamento
de Caná na Galileia.
Estar com outras pessoas – mesmo aquelas que
não são da nossa fé, ou descrentes, não é ruim por si só, mas pode levar a
pessoa a seguir um caminho errado, se não for cuidadoso(a), as escrituras nos
alertam quanto a isto:
I Cor 15,33: “Não se deixem
enganar: As más companhias corrompem os bons costumes".
Certos entretenimentos, como mencionamos acima,
não são ruins em si mesmos, desde que não se tornem vícios, ou paixões
obsessivas (conf. I Cor 6,12). Portanto, o monge é aquele que escolhe o caminho
mais estreito. Para seguir esse caminho, ele deve contar com outras pessoas que
tenham experiência nos perigos e armadilhas ao longo do caminho, do contrário
será cego conduzindo cego e ambos cairão no precipício (conf Mateus 15,14). No
mosteiro, você não apenas tem os mais experientes que podem guiá-lo e
repreendê-lo quando você se desvia, está enfraquecido e sendo tentado, auxiliando-o com a prática das virtudes a graça de Deus que não pressupõe a nossa
humanidade, ajudando-nos nessas lutas. O próprio hábito monástico é um sinal de
pertença a Deus que guarda o monge, salvando-o de si mesmo.
Há
uma outra armadilha que pega todos que tentam viver a vida monástica no mundo,
o orgulho. Isso não quer dizer que o orgulho não atinja os que estão no
mosteiro! Certamente, porém, no cenário monástico, quando alguém começa a se
orgulhar, há anciãos que rapidamente procuram eliminar esse pecado no novato.
Você não é alguém no mosteiro porque está jejuando e rezando – todo mundo está
fazendo isso! Você não é considerado “piedoso” porque luta para obter as
virtudes – é o que se espera. Mas quando você diz:
“Eu posso levar a vida monástica do mundo e não preciso em entrar no mosteiro”, você já está declarando com bastante orgulho carregado de pelagianismo, de que não precisa de nada disto para trilhar o caminho de perfeição proposto por Jesus.
Não descartemos a graça específica que trabalha
invisivelmente no mosteiro, como já foi tentado em vários momentos na história
da Igreja, principalmente durante e após a revolução francesa. Sem o auxílio da
graça, ninguém dentro, ou fora do mosteiro seria salvo. Se você deseja ser
salvo estando no mundo, siga os mandamentos; se você sentir este doce e suave chamado,
e quiser livremente trilhar um caminho de perfeição mais próximo a Cristo como
monge, vá a um mosteiro e submeta-se ao superior desse mosteiro e às suas
regras e veja em sua vida o cumprimento desta promessa:
“Em verdade vos digo, quem tiver deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos, campos, por causa de Mim e do Evangelho, receberá cem vezes mais agora, durante esta vida” (Marcos 10, 29-30).
Para começar: Qual a diferença entre Padre, monge e
frade(frei)?
Padre, monge e frade,
uma breve e clara explicação sobre a diferença entre estes três termos tão
confundidos pela linguagem popular.As palavras “sacerdote” (padre), “frade” e
“monge” são termos ambíguos e flexíveis. Na linguagem popular, são aplicados
sem propriedade, como se os três fossem equivalentes. No entanto, não querem
dizer a mesma coisa.
1)-Um sacerdote (padre), na Igreja Católica, é um homem
que recebeu o sacramento da Ordem Sacerdotal e que, em virtude de tal sacramento,
pode celebrar o sacrifício da Missa e realizar outras tarefas próprias do
ministério pastoral.Um padre pode pertencer a uma ordem ou família religiosa,
ou a uma diocese. Todos os padres, diocesanos ou religiosos, são celibatários e
devem obediência a seus superiores:
a)-Um padre diocesano promete obediência solene a seu
bispo.
b)-Um padre religioso (como um dominicano ou franciscano)
promete obediência ao seu superior, geralmente chamado de “provincial”.
c)-Um sacerdote monástico promete obediência a
seu abade (se estiver morando em uma abadia) ou ao prior (em um priorado).
Os padres diocesanos não fazem voto de pobreza e podem possuir e herdar
propriedades. Os padres pertencentes a uma ordem religiosa (como os
franciscanos, dominicanos, etc) ou a uma comunidade monástica (como os
beneditinos ou os cistercienses) fazem votos de pobreza, renunciando em favor
de sua comunidade qualquer renda que geram através de suas obras.
Assim, um escritor
dominicano que lucra com seus livros transfere seus ganhos para a Ordem dos
Pregadores. Um escritor trapista entregará seus ganhos para o benefício de toda
sua comunidade.
Monges e frades
Um monge ou frade, no
entanto, é uma pessoa que fez os votos de pobreza, castidade e obediência e
pertence a uma congregação ou família religiosa concreta (franciscanos,
jesuítas, dominicanos etc.). Pode coincidir, além disso, de que tal
religioso seja um sacerdote, mas não necessariamente. Sua vocação não é obrigatoriamente ao sacerdócio.
Mas qual é a diferença entre um monge e um frade?
Isso tem a ver com a
origem de cada palavra: “monge” vem do latim tardio “monachus”,
palavra para designar os anacoretas, e que já em sua raiz tinha
implícito o significado de “solidão”.Isso se relaciona ao surgimento das
primeiras experiências de vida contemplativa (nos séculos IV-VI d.C.), como,
por exemplo, os Padres do Deserto, eremitas que abandonavam o mundo e viviam no
deserto, ou São Bento de Núrsia, fundador da ordem religiosa mais antiga do
Ocidente, os beneditinos.
Um monge, portanto, é um termo mais adequado para referir-se a homens
consagrados que vivem em conventos, dedicados inteiramente à oração e à
penitência. É o caso das ordens contemplativas, como a dos Cartuxos.
Frade, por outro
lado, é um termo mais moderno, que procede da Idade Média (do provençal
“fraire”) e significa “irmão”. A palavra “frade” é empregada para ordens
dedicadas à vida ativa, como os franciscanos ou hospitalários. O uso
desta palavra se relaciona ao surgimento das ordens mendicantes na Baixa Idade
Média, que supuseram uma grande mudança na vida religiosa: estes novos religiosos já não se
fechavam em conventos afastados das pessoas para se dedicar à oração, senão que
estavam nas cidades, dedicados aos pobres, ao ensino, aos doentes etc.
APROFUNDAMENTO
A vida religiosa não
é uma “carreira”, como outra qualquer, e para a qual por vezes se opta por
motivos humanos (bom salário, vida aprazível, mercado de trabalho, etc).
O problema é discernir uma autêntica de uma falsa vocação, um chamado
autêntico de um falso, ainda mais nos dias atuais, em que há muita falta de
perseverança, muita inconstância. Hoje se quer entrar no Mosteiro, amanhã não
se quer mais; entra-se no Mosteiro, mas logo vem o cansaço, o desejo de
mudança, e se sai dele com enorme facilidade.Muitos também têm uma falsa ideia
do que é um Mosteiro.
Há uma
ideia romântica da vida monástica – vida puramente “contemplativa”, vida calma
e tranquila - que não corresponde em nada à realidade.
-Tem-se dificuldade em viver o cotidiano.
-A levantar cedo todos os dias.
-A rezar sempre os mesmos salmos.
-Viver uma vida recolhida, sem grandes acontecimentos,
sem grandes passeios, sem televisão.
-Uma vida também de trabalho sério (é conhecido o lema
beneditino, “Ora et labora”, “Reza e trabalha”).
-Esquecem-se também a dimensão penitencial que sempre tem
a vida cristã, ainda mais a vida religiosa e a vida monástica.
Deve-se entrar no
mosteiro por um chamado de Cristo e para viver com ele, a procurá-lo sempre
mais, a amá-lo, servi-lo. Outras motivações (ou fugas), são
insuficientes para se perseverar.
Como saber se há um real chamado de Jesus Cristo para
segui-lo?
Infelizmente não se ouve uma voz do céu, convidando-o a segui-lo em determinado
lugar, então vem a pergunta: Como é que Deus nos fala? Aqui começa o mistério.
Deus fala uma linguagem que só o coração compreende. Mas ele fala-nos e
chama-nos. Fala ao nosso coração, se ele for puro, aberto, disponível. Fala
através de nossa consciência. Ele pode falar-nos através de encontros e
acontecimentos os mais diversos. Fala-nos também através de nossas inclinações
(p.ex., gosto pela leitura de livros religiosos, gosto pela liturgia...), de
nossos dons, de nossas qualidades. Até nossos limites e decepções podem ser um sinal
do chamamento divino.
Quem se preocupa com
a pergunta: “Será que Deus me chama?”, poderia refletir sobre alguns sinais de
reconhecimento da vocação:
-Inquietação interior
sobre a atual situação de vida, sem motivo exterior concreto.
-“Onde está meu
coração? Nas coisas da terra, ou nas coisas espirituais, em Deus?”
-Amor a Cristo e
alegria na oração (amor à Santa Missa, de que participa com frequência, não só
aos domingos, gosto pela leitura da Bíblia, especialmente dos Evangelhos e dos
Salmos).
-Alegria no serviço à
Igreja (p.ex., pertença a um movimento de Igreja, colaboração numa pastoral
paroquial).
-Passando alguns dias
no Mosteiro, examinar depois os seus sentimentos: saudades, desejo de voltar,
ou receio, temor, interrogações diversas?
CONDIÇÕES PARA A ADMISSÃO
Para admitir um
candidato no Mosteiro, além de se exigir a idade mínima de 18 anos e como
estudos o ensino médio completo, temos que verificar (e o próprio candidato deve procurar se autoavaliar com honestidade):
-Se ele é maduro – maduro psicologicamente, maduro
espiritualmente.
-Não tem distúrbios psicológicos?
-Não tem problemas familiares? Aliás, tem condições de
viver longe da família? Não é demasiado apegado a ela?
-Não é inconstante? Dá indícios de saber o que quer?
-Se não é mais estudante, tem algum trabalho, uma
atividade profissional?
-Tem condições para a vida comunitária, vida esta que
exige caridade, perdão, paciência, equilíbrio?
-Tem condições de cumprir efetivamente os votos de pobreza,
obediência e castidade?
-A vida monástica é uma vida de afastamento do mundo, de
silêncio. O candidato está imbuído disto tudo?
-Qual a vida cristã que leva? Será recém convertido?
-Missa e comunhão diária ou frequente? Confissão
frequente? Reza?
-Gosta de ler? Lê a Sagrada Escritura?
-Pertence a algum movimento da Igreja ou tem algum
apostolado paroquial?
-Conhece o Catecismo?
-Foi crismado?
-Tem um diretor espiritual ou confessor habitual?
-Já não entrou em outro instituto religioso ou foi
seminarista?
-É fiel ao Papa?
-Vive a castidade?
Enfim, o candidato tem que se interrogar sobre estas questões e
manter uma correspondência com o monge encarregado das vocações. Oportunamente será convidado a passar alguns dias no
Mosteiro, para conhecê-lo de perto e ele próprio ser conhecido. Se morar no Rio
de Janeiro poderá vir aqui várias vezes, frequentando a nossa igreja aos
domingos e outros dias. Cada caso é um caso, mas normalmente se pede
um discernimento de aproximadamente um ano. Candidatos com mais de 35 anos são
admitidos com muito discernimento, pois tem normalmente dificuldade em se
adaptar à nova vida, a mudar hábitos antigos. Ele terá que conviver no
dia-a-dia com postulantes e noviços com menos idade que ele, talvez apenas com
o ensino médio, e não com os monges de sua idade. Para isso é necessária muita
humildade.
A vocação beneditina
não comporta necessariamente o ministério sacerdotal, em si o ministério
sacerdotal é um serviço ao povo de Deus
sendo que a vocação beneditina é mais ampla que o ministério sacerdotal, tanto
é assim que nem todos serão sacerdotes, mas somente aqueles que forem
escolhidos pela comunidade, conforme a necessidade, a desempenhar esse ofício
para o bem comum no nosso mosteiro
especificamente nos dedicamos a vida mais contemplativa, não atuamos em
paróquias, mas existem mosteiros que tem parte de sua atuação em paróquias e
santuários. No entanto, em nossa comunidade, todos são convidados a fazer o
estudo da Filosofia e da Teologia para o conhecimento da Fé e para edificação
do povo de Deus, mas isto não significa necessariamente que serão ordenados ao
ministério sacerdotal pois assim diz a Regra de São Bento no Capítulo 62:
“Se o Abade quiser pedir que alguém seja
ordenado presbítero ou diácono para si escolha, dentre os seus quem seja digno
de desempenhar o sacerdócio. Acautele-se o que tiver sido ordenado
contra o orgulho da soberba e não presuma fazer senão o
que for mandado pelo Abade, sabendo que deverá submeter-se muito mais a
disciplina regular. E não se esqueça, por causa do sacerdócio, da
obediência e da disciplina da Regra, mas progrida sempre mais para Deus, atente
sempre para o lugar em que entrou no Mosteiro, exceto no ofício do altar mesmo
que, pelo mérito da vida o quiserem promover a escolha da comunidade e a
vontade do Abade”.
Pequeno resumo histórico sobre a Regra de São Bento:
Primeiramente cabe
perguntar-se o que é uma Regra, que por definição é um conjunto de normas que
buscam ordenar o modo de vida de uma determinada sociedade, uma instituição ou
um grupo de pessoas. A Regra de São Bento mais do que isso, ela tenta dar uma
direção à nossa maneira de viver que deve estar orientada para o ideal do
Evangelho. São Bento se refere a ela:
“Tu, pois, quem quer que sejas, que te apressas para a pátria celeste,
realiza com o auxílio de Cristo esta mínima Regra de iniciação aqui escrita e,
então, por fim, chegarás, com a proteção de Deus, aos maiores cumes da doutrina
e das virtudes de que falamos acima”.(RB Cap. 73).
A Regra é composta de
73 capítulos, ela engloba desde um convite inicial à escuta dos preceitos do
Mestre, passando pela descrição de como deve funcionar o mosteiro, na oração e
no trabalho cotidiano, a recepção dos irmãos, pelo ordenamento da liturgia até
a Ordem da Comunidade.
Falar sobre a Regra de São Bento não é falar de um tratado espiritual
tal como fizeram os grandes autores da Igreja, mas expressa de viver o Batismo
de uma maneira mais radical, de homens que buscam viver para Deus. São Bento
não se preocupou tanto com Teologia, mas, quis viver simplesmente o ideal que
Deus o inspirou a levar adiante.
É importante dizer
aqui que outras expressões monásticas anteriores já existiam no tempo de São
Bento, todas elas se preocuparam igualmente em viver o Evangelho de Jesus Cristo.
Entre
as muitas estão os Padres do Deserto, A Regra de São Basílio, a de São Pacômio,
no Egito, que antecederam a própria Regra de São Bento. Podemos dizer
que a Regra bebeu destas fontes.A Regra de São Bento não foi escrita de uma só
vez, mas, foi o resultado de uma larga experiência vivida dentro dos mosteiros,
além disso ela procurou condensar textos, tradições, dentro da riqueza que a
própria Igreja possui.
Acompanhamento dos Candidatos
O acompanhamento
vocacional dos jovens que se sentem chamados a buscar a Deus na vida monástica
pode ser iniciado via e-mail, carta ou mesmo procurando o mosteiro
pessoalmente. O monge responsável pelas vocações acompanhará o candidato para
discernirem a vontade de Deus na vida dele. Havendo disponibilidade de ambas as
partes, o candidato é convidado a passar alguns dias na hospedaria do mosteiro
para conhecer a rotina da comunidade. Para o ingresso, o jovem
candidato deverá ter no mínimo 18 anos de idade e no máximo 35 anos, ser solteiro ou viúvo e sem compromissos afetivos ou financeiros.
Deve ter boa saúde física, equilíbrio emocional e psicológico.
Precisa ter o Ensino Médio completo. Não pode ser arrimo de família. Acima de
tudo deve ter grande desejo de “buscar verdadeiramente a Deus” através da vida
monástica.
Período de experiência
Após algumas visitas,
o
candidato pode ser convidado para o período de experiência, de aproximadamente
três meses. Terminado esse período de experiência, o candidato pode, se
desejar, pedir o ingresso no Postulantado. Ele então retorna a sua casa a fim
de tomar as providências necessárias para o ingresso.
Tornar-me eu mesma no Mosteiro!
Por:
Irmã Maria Terezinha Bezerra dos Santos, OSB - Mosteiro do Encontro (Brasil)
Pediram-me para dar
um testemunho sobre minha experiência monástica, porém, acho que mais que um
testemunho, gostaria de partilhar o quanto a vida consagrada monástica me ajuda
em minha caminhada humana, cristã e espiritual.Sou monja beneditina do Mosteiro
do Encontro, localizado em Mandirituba, Paraná, nasci em Palmeira dos Índios,
Alagoas. Estou na vida monástica há 15 anos, sou professa solene há 9 anos.
Sabemos que a vida
cristã é determinada por verbos de movimento, mesmo quando é vivida na dimensão
monástica e contemplativa claustral, é uma contínua busca[1]. Bem
sabemos que para São Bento a procura de Deus é o primeiro critério para se
receber alguém que deseja entrar no Mosteiro[2]. Procurar a Deus no
Ofício Divino: temos aí nosso primeiro serviço e, a partir dele, toda a nossa
vida no mosteiro é organizada. Aprendi com esta organização, que meu trabalho
não seria “visto”, nem apreciado pelas pessoas, não iria receber elogios e
reconhecimento pelo que viria a fazer. No começo, devo reconhecer que não foi
fácil aceitar isso, mas depois percebi que meu, nosso serviço, no Mosteiro do
Encontro, não é um trabalho para ser reconhecido, mas recebido. Sei que nossa
vida entregue à oração, por toda Igreja e por todo o mundo, dá frutos. A
diferença é que estes frutos é o próprio Senhor quem os colhe!
Devo ser sincera em afirmar que nunca pensei em ser religiosa, menos
ainda em ser monja! Mas Deus foi conduzindo a minha vida de tal modo que foi
impossível dizer não ao seu chamado.
Eu não conhecia a
vida monástica, mas tinha um amigo que era monge beneditino, fui ao seu
Mosteiro, em Santa Rosa, Rio Grande do Sul, fazer um retiro de preparação para
entrar em uma congregação de vida apostólica. Quando participei das vésperas
pela primeira vez com os monges, não sei explicar o que aconteceu, só sei que
ali tive a certeza que Deus tinha me chamado para esta vida. Voltei decidida a
entrar em um mosteiro, mas não sabia onde. Este mesmo amigo me indicou alguns
mosteiros, entre eles o Mosteiro do Encontro.
Quando cheguei ao Mosteiro do
Encontro meu primeiro desejo foi ir embora, achei que não era o meu lugar, mas
fiquei o tempo que tinha me proposto a ficar e no final da estadia, (uma
semana), pedi para fazer um tempo de experiência de 3 meses. Desde então passaram-se
15 anos. Meu sim passou e continua a
passar por muitas purificações. Graças a Deus! Quando cheguei ao Mosteiro,
pensava que entrando na vida religiosa a santidade era “automática”, eu era
muito fechada em mim mesma, achava que o mosteiro me daria a oportunidade de
ficar em meu lugar, tranquila, devo reconhecer que não foi fácil aceitar que a
vida monástica não é só rezar e viver em meu próprio mundo. Pouco a pouco,
entendi que a vida monástica é justamente um contínuo sair de mim mesma, e ir
ao encontro do outro, seja na oração, na comunidade ou na acolhida dos que
chegam ao Mosteiro.
O Mosteiro do
Encontro tem um nome sugestivo, levando em consideração o que nosso
Papa Francisco vem a todo o momento pregando sobre a cultura do encontro. Posso
afirmar que fiz esta experiência do Encontro, de várias maneiras, mas
vou limitar-me a três áreas onde pude viver e vivo continuamente este mistério
do Encontro. Meu primeiro encontro foi comigo mesma. Quando cheguei ao Mosteiro
me deparei com uma irmã Maria Terezinha, que nunca havia percebido antes, não
que ela não existisse, mas eu dava um jeito de deixá-la de lado, escondida nas
aparências.
Sempre vivi meus sentimentos e relações de maneira o mais superficial
possível, tinha medo de tocar minhas fragilidades e que as pessoas conhecessem
uma Terezinha com sentimentos muitas vezes reprovados. Não me permitia tocar
minha raiva, ciúmes, medo, evitava olhar para uma Terezinha com limites ou
simplesmente humana; em verdade, encontrei-me com minha humanidade. Este encontro
foi indispensável para que eu pudesse começar a fazer um caminho de
autoaceitação e reconciliação com minha própria história de salvação!
No Mosteiro fiz a
experiência de sentir-me amada na situação em que me encontrava, não precisava
mostrar ser uma pessoa que não era, podia ser eu mesma como sou, com qualidades
e limites e isto me deu e dá coragem para continuar o caminho de conversão. Experimentei a paciência de minhas irmãs, que mesmo no
silêncio diziam que acreditavam em mim. Aí se deu o meu segundo Encontro, com
minha comunidade. Esta
experiência de aceitação e acolhida por parte de minha comunidade me fez
perceber o quanto eu precisava de pessoas que me confrontassem, que me
ajudassem a sair de meu comodismo. Na vida comunitária descobri e pude
desenvolver dons que nunca imaginei ter.
Minha experiência na vida comunitária foi como se eu tivesse a
oportunidade de “renascer”. Sinto que cada dia, no “útero” de minha comunidade,
o Senhor me recria, me ensina a recomeçar, cura minhas feridas, demonstra seu
amor, por meio de pessoas que nunca imaginei encontrar na minha vida. Claro que
constantemente tenho que aprender a relacionar-me com pessoas diferentes de
mim, que nem sempre estão de acordo com minhas ideias, nem eu com as delas, mas
tenho que aprender a respeitá-las como são, não é um caminho fácil, mas este
processo tem me ensinado a buscar o verdadeiro sentido de estar e permanecer no
Mosteiro.
Com a vida
comunitária aprendo sempre mais que não posso caminhar sozinha, que preciso de
relações verdadeiras para viver minha consagração como Deus me pede. Só
quando entendi que não podia viver minha consagração em meu próprio mundo de
reservas, que tinha que caminhar com minhas irmãs, muitas vezes morrendo à
minha própria vontade, pude entender o que é ser consagrada pelo Reino,
para construir o Reino de Deus já aqui e agora vivendo e servindo em comunidade
a caminho, mas com desejo verdadeiro de responder e ser fiel ao seguimento do
único Senhor.
A terceira
experiência de Encontro foi com as pessoas que chegam ao Mosteiro. Sabemos
que para São Bento todos os que chegam ao Mosteiro devem ser acolhidos como o
próprio Cristo[3]. Na prática e na vivência do cotidiano, esta acolhida
não é tão simples assim. No começo não entedia por quê tinha que dar
atenção para todos os que chegavam ao mosteiro, às vezes, humanamente falando,
em horas inconvenientes... Muitas vezes não entendia porque deixamos os
trabalhos, ou mesmo a oração, para ir ao encontro das pessoas que chegam até
nós. Mas aos poucos fui me dando conta que as pessoas que chegam ao
Mosteiro buscam a paz, querem ser acolhidas e escutadas, querem sentir-se
amadas, valorizadas como pessoas. Muitas pessoas que
chegam a nós têm tudo o que mundo e o dinheiro podem oferecer, mas não encontram
o essencial. Então entendi que as pessoas buscam Aquele que é o único capaz de
saciar esta busca e preencher o vazio, que nada nem ninguém poderia preencher. Elas
procuram a Deus, e o modo como acolho estas pessoas pode proporcionar lhes este
encontro. Hoje posso afirmar que cada vez que acolho uma pessoa, neste
encontro, posso ser instrumento de Deus para esta pessoa, mas estas pessoas são
sempre mais instrumentos de Deus em minha vida. Isto me faz perceber o quanto
Ele pode realizar por nós, e em nós, utilizando-se de nossos irmãos e irmãs,
que se tornam verdadeiramente manifestação de sua graça e presença em nossas
vidas!
Não poderia terminar
esta partilha, sem expressar minha gratidão à toda equipe da AIM, que desde o
inicio de minha vida monástica esteve presente com sua ajuda para minha
formação monástica, seja no período da formação inicial com a escola de
formadores que também me proporcionou continuar meu encontro comigo mesma e
minha humanidade, seja na continuação em minha formação permanente -, agora
estou terminando o curso de formação monástica dos cistercienses em Roma. Sei
que o Senhor age em nós com sua graça, mas bem sabemos que também nós
precisamos abrir-nos ao que Ele tem a nos oferecer! Ficam aqui os meus sinceros
agradecimentos a nossos irmãos e irmãs da AIM que não medem esforços para nos
ajudar em nossa formação, proporcionando-nos ferramentas para vivermos de modo
mais coerente nossa vida monástica! Que o Senhor nos sustente a cada dia em
nosso sim, e com Ele sigamos com nosso desejo de em tudo glorificá-lo! Assim
Seja!
REFERÊNCIAS:
[1] Ano da vida
consagrada, Alegrai-vos: Carta circular aos consagrados e às consagradas do
magistério do Papa Francisco, São Paulo, Ed. Paulinas, p.23.
[2] Regra de São
Bento 58,7.
[3] Regra de São
Bento 53,1.
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