A Missa de Paulo VI foi concebida para "ser mais participativa, compreensível, e inclusiva para os Cristãos, utilizando a língua vernácula (língua falada pelo povo) em vez do uso exclusivo do latim, e adaptando algumas orações e ritos. A missa de Paulo VI, embora reformada apenas no rito, mantém integralmente a essência da fé católica e da tradição litúrgica. É completamente legítima, sendo a forma oficial da Missa romana atualmente, e sua validade é reconhecida pela Igreja magisterial,portanto nenhum leigo ou qualquer bispo tem autoridade para impedi-la ou revoga-la.
Padre
Paulo Ricardo esclarece: "Você sabia que não existe Missa de Pio V nem
Missa Tridentina”?
O que São Pio V fez foi apenas compilar um Missal que já existia e que foi se desenvolvendo ao longo dos séculos. Aquilo que hoje chamamos de “Missa Tridentina” fundamentalmente já existia no século VI, no tempo do Papa São Gregório Magno. Esse e tantos outros fatos apresentados no curso “História da Missa” nos mostram que até o século XX, a liturgia da Igreja sempre foi se desenvolvendo de forma orgânica e gradual.
Fonte - https://www.instagram.com/p/CmwEYH5N7aW/
O rito e o Missal Romano de São Paulo VI
por Jackson Erpen - Cidade do Vaticano
"Sabemos que conservar o Rito Romano não é uma questão puramente de estética, de conservadorismo, mas de zelar pela natureza própria da Liturgia milenar, que remonda à comunidade primitiva. Por isso, o Papa Paulo VI trouxe essa renovação, conservando a tradição, com a publicação de um novo “Ordo missae” – o novo Missal Romano - em 1969, três anos depois do Concilio Vaticano II", nos recorda padre Gerson Schmidt, em nosso especial Memória Histórica.No nosso espaço Memória Histórica - 50 anos do Concílio Vaticano II, vamos falar no programa de hoje sobre "O rito e o Missal Romano. [1]"
O Missal Romano (Missale Romanum), é o missal oficial do rito romano da
Igreja Católica
A primeira edição impressa de um livro com o título de Missale Romanum e que se propunha trazer os textos da Santa Missa segundo os usos da Cúria Romana ("Ordo Missalis Secundum Consuetudinem Curiae Romanae") remonta a 1474 e foi impressa em Milão [1]. Daquela data até a publicação da primeira edição oficial do Missal Romano, publicada pela Santa Sé, passou-se quase um século. Durante este período, surgiram pelo menos outras 14 edições do livro litúrgico: dez em Veneza, três em Paris e uma em Lyon [2] Devido à falta de um órgão de supervisão de sua qualidade, estas diferentes edições acabaram sofrendo várias modificações pelos editores, algumas dos quais não foram triviais [3].A edição de 1474 é considerada o arquétipo de todas as publicações que mais tarde se fundiram na edição oficial aprovada pelo Papa Pio V em 1570, também conhecido como “Missal tridentino” ou "Missal de São Pio V" [4]. As notas do cardeal Guglielmo Sirleto em um exemplar da edição com o título Missale secundum morem Sanctae Romanae Ecclesiae impresso em Veneza em 1497 (substancialmente idêntico ao de 1474) demonstram que esta edição veneziana foi usada como modelo para a edição de 1570 [3].
Missais com maior ou menor número de modificações foram publicados sucessivamente pelos Papas Clemente VIII em 1604, Urbano VIII em 1634, Leão XIII em 1884, Bento XV em 1920 (Missal cuja revisão foi iniciada por Pio X).Pio XII reformou profundamente a liturgia da Semana Santa e da Vigília Pascal, modificando não somente o texto das orações, mas também o horário das celebrações.A sexta e última edição típica do Missal Romano “revisado por decreto do Concílio de Trento” foi aquela publicada pelo Papa João XXIII em 1962.
A revisão do papa Pio XII, ainda que limitada a somente cinco dias do ano litúrgico, foi mais corajosa, exigindo mudanças até mesmo no Código de Direito Canónico, que até então prescrevia que, com exceção da Missa do Galo à meia-noite, a missa não deveria começar mais do que uma hora antes do alvorecer ou mais tarde que uma hora após o meio-dia.
Portanto, na parte do Missal meticulosamente
modificada, ele antecipou algumas das mudanças que afetariam todos os dias do
ano após o Concílio Vaticano II. Dentre estas novidades incluíam a primeira
introdução oficial das línguas vernáculas na liturgia para a renovação das
promessas do batismo durante a celebração da Vigília Pascal.
O papa Pio XII não publicou uma nova edição do Missal Romano, mas autorizou os tipógrafos a substituir os textos anteriores do Domingo de Ramos, Quinta-feira Santa, Sexta-feira da Paixão e da Vigília Pascal com aqueles que ele começou a introduzir em 1951 e que se tornaram universalmente obrigatórios em 1955.
Pio II também, removeu da Vigília de Pentecostes a série de seis leituras do
Antigo Testamento, com seus respectivos folhetos e coletas de acompanhamento,
mas estes continuaram a ser impressos até 1962.
Cedendo aos desejos de muitos dos bispos, o papa Pio XII julgou ser conveniente reduzir as rubricas do Missal, uma simplificação foi promulgada por decreto pela Sagrada Congregação dos Ritos em 23 de março de 1955. No ano seguinte, em 1956, enquanto estudos preparatórios estavam a ser conduzidos para uma reforma litúrgica geral, o papa Pio XII consultou a opinião dos bispos sobre um aperfeiçoamento litúrgico do Breviário Romano. Após a devida ponderação das respostas dos bispos, ele julgou ser hora de abordar a necessidade de uma geral e sistemática revisão das rubricas do Breviário e do Missal. Esta questão foi referida ao comité especial de especialistas apontados para estudar a reforma litúrgica geral.
O seu sucessor, o papa São João XXIII, emitiu uma nova edição típica do Missal Romano em 1962. Esta incorporou o Código de Rubricas que a comissão do papa Pio XII havia preparado, e que o papa São João XXIII tornou obrigatório a partir do dia 1 de janeiro de 1961.
No Missal, este Código de Rubricas substituiu dois dos documentos da edição de 1920; e o motu proprio do papa Rubricarum Instructum tomou o lugar da suplantada constituição apostólica Divino Afflatu do papa São Pio X.
Outras notáveis revisões foram a omissão do adjetivo "Perfidis" na oração pela conversão dos judeus na Sexta-feira da Paixão e a inserção do nome de São José no cânon da missa.
Revisão
em decorrência do Concílio Vaticano II
Entre
1965 e 1967 algumas mudanças foram oficialmente introduzidas à Missa do Rito
Romano em decorrência do documento Sacrosanctum Concilium, mas nenhuma nova
edição do Missal Romano havia sido produzida de modo a incorporar tais
mudanças. Estas alterações foram refletidas nas provisórias traduções em
vernáculo confeccionadas em vários países quando as línguas locais começaram a
ser utilizadas em conjunto com o Latim. Alguns países de mesma língua por vezes
acabaram por usar distintas traduções que variavam até mesmo na quantidade de
vernáculo admitido.
Uma nova edição do Missal Romano foi promulgada pelo papa São Paulo VI com a constituição apostólica Missale Romanum de 3 de abril de 1969
O texto inteiro
do Missal revisado só foi publicado no ano seguinte, e versões completamente em
vernáculo só surgiriam anos mais tarde, mas partes do Missal em Latim já
estavam disponíveis desde 1964 em formato não-definitivo, e traduções
provisórias surgiram sem demora.
Em
sua constituição apostólica, o papa São Paulo VI fez menção particular das
seguintes mudanças significativas que ele efetuou no Missal Romano:
-Além da única Oração Eucarística da edição anterior (que, com parvas mudanças, foi preservada como "Oração Eucarística I ou Cânon Romano") ele acrescentou outras três Orações Eucarísticas, aumentando também o número de prefácios.
-Os ritos do Ordinário da Missa (em Latim, Ordo Missae)—isto é, a majoritariamente imutável parte da liturgia—foram "simplificados, embora o devido cuidado foi tomado para preservar a sua substância..."
-Outros elementos que sofreram prejuízo por acidentes da História agora devem ser restaurados à norma original dos Santos Padres' (Sacrosanctum Concilium, art. 50), Por exemplo, a homilia (cf. Sacrosanctum Concilium, art. 52) E a 'Oração Comum' ou 'Oração dos Fiéis' (cf. Sacrosanctum Concilium, art. 53)."
-São Paulo VI também adicionou a opção de "um rito penitencial ou ato de reconciliação com Deus e os irmãos, ao início da missa," ainda que isto não fizesse parte nem das versões antigas dos Ritos Iniciais, nem estivesse presente no Sacrosanctum Concilium.
-Ele
ampliou de forma positiva, mui grandemente, a proporção da Bíblia lida na missa. Mesmo antes de Pio XII
reduzir ainda mais a porcentagem, somente 1% do Antigo Testamento e 16.5% do
Novo Testamento eram lidos na missa. Após a revisão do papa São Paulo VI,
aproximadamente 13.5% do Antigo Testamento e 71.5% do Novo Testamento são
lidos.Ele conseguiu realizar isto acrescentando leituras à missa e
introduzindo um ciclo trienal de leituras aos domingos e um ciclo bienal nos
dias de semana.
-Além destas mudanças, o papa notou que sua revisão modificou consideravelmente outras secções do Missal, como o Próprio do Tempo, o Próprio dos Santos, o Comum dos Santos, as Missas Rituais e as Missas Votivas, dizendo:
"Em todas estas
alterações, tivemos cuidado em particular com as orações, não apenas seu número
foi aumentado, para que os novos textos possam corresponder melhor às novas
necessidades, mas também, seu texto foi restaurado com base no testemunho das
evidências mais antigas."
Revisões
Posteriores ao Concílio Vaticano II
-Em
1970, a Primeira Edição Típica do Missal Romano (em Latim), contendo o título
de Missale Romanum ex decreto Sacrosancti Oecomenici Concilii Vaticani II
instauratum, foi publicada, após ter sido formalmente promulgada pelo papa São
Paulo VI no ano anterior. Uma reimpressão, que corrigiu erros tipográficos,
surgiu em 1971.
-A
Segunda Edição Típica, com pequenas mudanças, foi emitida em 1975, ainda sob o
papa São Paulo VI.
-Em
2000, o papa São João Paulo II aprovou a Terceira Edição Típica, publicada em
2002, em Latim. A Terceira Edição adicionou festas, especialmente de santos
recém-canonizados, novos prefácios das Orações Eucarísticas, missas e orações
adicionais para variadas necessidades e revisou e ampliou a Instrução Geral do
Missal Romano.
-Em
2008, sob o papa Bento XVI, uma reimpressão emendada da Terceira Edição em
latim foi emitida, corrigindo falhas de impressão e outros erros (como a
inserção, no início do Credo Apostólico, do vocábulo "unum", como no
Credo Niceno). O apêndice adicionou celebrações, como a de São Pio de
Pietrelcina, ao Calendário Romano Geral após a impressão original de 2002.
Três
alterações exigiram a aprovação pessoal do papa Bento XVI:
1ª)-Uma mudança na ordem em que um bispo, celebrando missa fora de sua própria diocese, menciona o bispo local e a si próprio.
2ª)- Omissão do Missal Romano das Orações Eucarísticas especiais para missas com crianças (que não foram abolidas).
3ª)- A adição de três alternativas à forma padrão de despedida ao fim da missa, Ite, missa est.:
-Ite
ad evangelium Domini annuntiandum
-Ite
in pace, glorificando vita vestra Dominum
-Ite
in pace
A
edição do Missal de 1962 pelo papa São João XXIII inaugurou um período de
preferência estética por um número reduzido de ilustrações em preto-e-branco em
vez das muitas gravuras coloridas anteriormente utilizadas. As primeiras
edições pós-Vaticano II, tanto no original em Latim, quanto nas versões
traduzidas, continuaram esta tendência. A primeira edição latina de 1970
continha doze xilogravuras em preto-e-branco feitas por Gian Luigi Uboldi. As
edições alemãs de 1975 e 1984 não continham ilustrações, procurando enfatizar a
clareza e a beleza da tipografia. As edições francesas de 1974 e 1978 também
não se utilizaram de ilustrações, enquanto as edições italianas de 1973 e 1983
continham tanto reproduções de miniaturas no estilo do século XI e figuras
estilizadas. As versões espanholas de 1978 e 1988 também recorriam a
ilustrações. A apresentação minimalista destes missais contrasta fortemente com
a opulência das edições americanas do período de 2005 a 2011 com suas diversas e
coloridas reproduções de pinturas e outras obras de arte.
Fonte
- https://pt.wikipedia.org/wiki/Missal_Romano
Ao aplicar a Constituição
Sacroanctum Concilium do Concílio Vaticano II, o Papa Paulo VI, assistido por
uma comissão de cardeais, bispos e peritos (o Consilium ad exsequendam
Constitutionem de Sacra Liturgia), criou uma nova edição do Missal Romano,
promulgada com a Constituição Apostólica Missale Romanum de 3 de abril de 1969
e que entrou em vigor em 30 de novembro sucessivo, início do novo Ano Litúrgico.
A forma ordinária da celebração da Missa segundo o rito romano continua a ser a
do Missal Romano, reformado e publicado por Paulo VI
Antes da grande reforma litúrgica realizada
por Paulo VI, o Missal Romano previa a celebração da chamada Missa tridentina,
que era a forma anterior do rito romano e cujo uso foi amplamente restaurado
pelo Papa Bento XVI através do motu proprio Summorum Pontificum e da instrução
Universae Ecclesiae.
Padre Gerson Schmidt nos propõe hoje a reflexão "O rito e o
Missal Romano":
"Apenas três anos depois do término do Concilio Vaticano II, o Papa Paulo VI surpreendia o universo católico com a publicação de um novo “Ordo missae” – um novo missal Romano - que levava a data de 6 de abril de 1969. Os Papas, até Paulo VI, não modificaram o Ordo Missae – O Rito Romano, mesmo introduzindo-se modos próprios para novas festas, o que não destrói a chamada Missa Tridentina ou Missa de São Pio V.Uma Missa Tridentina ou de São Pio V na verdade nunca existiu, já que, seguindo as instâncias do Concílio de Trento, não foi formado um Novus Ordo Missae, dado que a Missa de Pio V não é mais que o Missal da Cúria Romana, que foi se formando em Roma muitos séculos antes, e difundido especialmente pelos franciscanos em numerosas regiões do Ocidente. As modificações efetuadas em sua época por São Pio V são tão pequenas, que são perceptíveis tão somente pelos olhos dos especialistas."
O que fez, na verdade, Pio V?
"Não fez grande modificação. Tomou o missal em uso em Roma e em tantos outros lugares, deu-lhe retoques, especialmente reduzindo o número das festas dos Santos que continha. Não o tornou obrigatório para toda a Igreja. Respeitou até as tradições locais que pudessem se gloriar de ter, pelo menos, duzentos anos de idade.Assim, propriamente: era suficiente que o missal estivesse em uso, pelo menos, há duzentos anos, para que pudesse permanecer em uso ao lado e no lugar daquele publicado por São Pio V."
O fato de que o Missale Romanum tenha se difundido tão rapidamente e tenha sido espontaneamente adotado também em dioceses que tinham o modo próprio mais que bicentenário, deve-se a outras causas.
Roma não exerceu sobre elas nenhuma pressão, e isto numa época em que, bem diferente do que acontece hoje, não se falava de pluralismo, nem de tolerância.
Portanto, deixando de lado a expressão imprópria de Missa Tridentina, falamos melhor de um "Ritus Romanus"
O rito romano remonta em suas partes mais importantes pelo menos
ao século V, e mais precisamente ao Papa São Dâmaso (366-384).
O Canon Missae, com exceção de alguns retoques efetuados por São Gregório I (590-604), alcançou com São Gelásio I (492-496) a forma que conservou até há pouco.
A única coisa sobre a qual os Romanos Pontífices não cessaram de
insistir do século V em diante, foi a importância para todos de adotar o Canon
Missae Romanae, dado que dito cânon remonta nada menos que ao próprio Apóstolo
Pedro.
Antes do vaticano ii, O primeiro Papa que ousou inovar o Missal tradicional foi Pio XII, quando modificou a liturgia da Semana Santa
Seja-nos permitido observar, a respeito, que nada impedia de restabelecer a Missa do Sábado Santo no curso da noite de Páscoa, ainda que sem modificar o rito. João XXIII o seguiu por este caminho, retocando as rubricas. Mas nem um nem o outro, ousaram inovar sobre o Ordo Missae, que continuou invariável. Porém a porta tinha sido aberta, e por ela cruzaram aqueles que queriam uma substituição radical da liturgia tradicional e que a obtiveram.Muitos não concordaram com as mudanças de Paulo VI com um novo Rito Romano e preveem consequências desastrosas. Outros, no lado oposto, prefeririam ainda inventar uma liturgia totalmente nova, perdendo-se a tradição milenar. Mas sabemos que conservar o Rito Romano não é uma questão puramente de estética, de conservadorismo, mas de zelar pela natureza própria da Liturgia milenar, que remonda à comunidade primitiva.
Por isso, o Papa Paulo VI trouxe essa renovação, conservando a
tradição, com a publicação de um novo “Ordo missae” – o novo Missal Romano - em
1969, três anos depois do Concilio Vaticano II."
REFERÊNCIAS
[1] Resgate histórico feito por Monsenhor
Klaus Gamber, Reforma da Liturgia Romana, disponível em
http://www.unavocesevilla.info/reformaliturgia.pdf, adaptado em linguagem radiofônica.
[2]
Missale Romanum. Mediolani. 1474 a cura di Robert Lippe (Londra 1899),
vol. 1.
[3] Manlio Sodi e Achille Maria Triacca,
Missale Romanum: Editio Princeps (1570) (Libreria Editrice Vaticana 1998), p.
XV.
[4] Łukasz Celińsk, "Per una rilettura
della storia della formazione e dello sviluppo del Messale Romano. Il caso del
Messale di Clemente V." in Ecclesia Orans 33 (2016) 383-404 (p. 15
dell'estratto)
[5] Concilio di Trento, Sessione XXV
Fonte - https://www.vaticannews.va/pt/vaticano/news/2019-06/liturgia-o-rito-e-missal-romano.html
O rito da Missa, suas mudanças ao longo do tempo, e sua diversidade
Postado por "Catequista"
A primeira vez em que se celebrou a sagrada Eucaristia foi na
Santa Ceia, quando Jesus se reuniu com seus 12 apóstolos, antes de ser
crucificado. E qual foi a forma dessa primeira “missa”?
Muito provavelmente, eles se sentaram ao
redor de um móvel bem baixinho, que fazia as vezes de mesa. Não havia cadeiras,
apenas tapetes e almofadas para que se reclinassem. O formato mais comum desse
móvel, na época, era o triclínio, que tinha a forma de “U” (ilustração abaixo).
Os elementos essenciais da Última Ceia estão presentes em todas as missas, seja qual for o rito, em todos os tempos e lugares. Mas os demais elementos mudam muito, conforme a cultura local, o contexto histórico e as necessidades de cada tempo.
Se a liturgia da missa fosse como um dogma, jamais poderia ser
alterada em nenhum de seus aspectos. Então, os gestos, orações e palavras da
missa se resumiriam estritamente àquilo que Jesus realizou na Santa Ceia. O
padre teria que lavar os pés de cada um dos fiéis, teríamos que nos sentar em
almofadas, rezar somente em "aramaico"... (não em latim). Mas, não é e não pode ser assim! Não se
pode dogmatizar ritos!
Os gestos e palavras da missa que foram
divinamente revelados nunca mudam, pois são como a sua coluna dorsal. Já o
restante pode ser alterado pelos papas sempre que ele julgar necessário (como foi feito ao longo da história), pois são
elementos de origem humana, não divina.
Isso é explicado pelo Papa Pio XII - anterior ao Concílio Vaticano
II:
"A sagrada liturgia, com efeito, consta de elementos humanos
e de elementos divinos. Esses, tendo sido instituídos pelo divino Redentor, não
podem, evidentemente, ser mudados pelos homens; aqueles, ao contrário, podem
sofrer várias modificações, aprovadas pela hierarquia sagrada, assistida do
Espírito Santo, segundo as exigências dos tempos, das coisas e das almas. Disso
se origina a estupenda variedade dos ritos orientais e ocidentais..."
(Encíclica Mediator Dei, 45)
Sim! Muitos católicos não sabem, mas a Igreja Católica possui seis grandes ritos, que deram origem a dezenas de “ritos” derivados (mais propriamente chamados de “usos”).Ao longo dos séculos, a forma da liturgia da missa progrediu e se desenvolveu muito! Ora adicionando elementos, ora realizando reformas e “limpando” o rito dos simbolismos que já não funcionavam tão bem para aquele determinado tempo ou lugar.
Todas as mudanças sempre são feitas com
o objetivo de "comunicar melhor o mistério da salvação aos povos"
"A hierarquia eclesiástica tem
usado sempre desse seu direito em matéria litúrgica, preparando e ordenando o
culto divino e enriquecendo-o sempre de novo esplendor e decoro para glória de
Deus e vantagem dos féis. Não duvidou, além disto – salva a substância do
sacrifício eucarístico e dos sacramentos – em mudar aquilo que não julgava
adaptado, em acrescentar o que parecia contribuir melhor para a glória de Jesus
Cristo e da augusta Trindade, para instrução e estímulo salutar do povo
cristão." (Pio XII, Mediator Dei, 44)
O ERRO DOS TRADICIONALISTAS RADICAIS
Por isso tudo o que demonstramos, é ilógico
que alguém afirme que apenas a Missa Tridentina (a missa em latim, também
chamado de “forma extraordinária do rito latino”) é digna e agradável a Deus.
Os tradicionalistas radicais (conhecidos
como rad trads, conclavistas e sedevacantistas) são seguidores das ideias do
excomungado monsenhor Marcel Lefebvre
Alguns radtrads dizem que a missa a maioria dos fiéis, hoje, frequenta – a missa conforme o Missal de Paulo VI – é indigna e oferece perigo às almas; outros dizem que ela distribui menos graças do que a Missa Tridentina; e outros, mais insanos ainda, dizem que ela é inválida. A Missa Tridentina é a missa rezada conforme o missal decretado no século XVI, no Concílio de Trento. Antes desse concílio, a liturgia estava uma grande bagunça... Cada diocese (ou até mesmo cada padre) rezava a missa de um jeito diferente! E havia muitos abusos. Em Trento, a Igreja unificou a forma de rezar a missa em todo o Ocidente. No Oriente católico, porém, as veneráveis tradições litúrgicas foram mantidas como antes.
Ou seja, o próprio Concílio de
Trento, ao manter de pé os ritos orientais (e alguns outros ritos latinos mais
antigos), reconheceu que a Missa Tridentina não era a exclusiva e nem a única forma digna de prestar culto a Deus.
O grande erro dos radtrads é tratar a forma da missa como um DOGMA, o que não é! A ideia maluca dessa gente é a de que uma liturgia estabelecida mais de 1500 anos depois de Cristo, e que reunia tradições humanas surgidas em diversos tempos e lugares diferentes, foi estabelecida PARA SEMPRE como a única forma possível de se rezar a missa.Veja bem: desde os primórdios do cristianismo, a forma da missa sempre pôde mudar, se desenvolver.Por que raios em determinado ponto da história essa possibilidade de mudança deveria ser definitivamente proibida? Isso não faz sentido nenhum!
A BULA "QUO PRIMUM TEMPORE" e a MISSA
"DE SEMPRE"
Para
tentar fundamentar o “pseudo dogma”, os rad trads citam a bula do papa Pio V,
cujo texto dizia:
"...decretamos e ordenamos que
a Missa, no futuro e para sempre, não seja cantada nem rezada de modo diferente
do que esta, conforme o Missal publicado por Nós, em todas as Igrejas..."
Agora, é só ter mais de dois neurônios
funcionando para entender que esse “para sempre” não tinha intenção nem poder
de barrar a ação de um futuro papa!
Era uma dura ordem de restrição a todos aqueles que não tinham autoridade de alterar o missal – ou seja, o universo inteiro, menos o papa! Para sempre... Até que outro papa decrete algo diferente! Repare que o mesmo ponto que diz “para sempre” também diz “em todas as Igrejas” – só que não valeu, literalmente, para todas as Igrejas.
Tanto isso é verdade que Trento deu
permissão para que as comunidades com ritos que tivessem mais de 200 anos de
antiguidade continuassem com seus missais (como o rito ambrosiano), e também, as
igrejas orientais continuaram com suas tradições litúrgicas.
Ou seja, na bula Quo Primum Tempore, “para sempre” e “em todas as Igrejas” são termos relativos, e não absolutos! Além de que, a bula do Papa Pio V, publicada em 1570, não contém nenhum "anematema si", que indica uma declaração formal de exclusão, reprovação e, em alguns casos, excomunhão, relacionada a ideias ou comportamentos considerados heréticos ou inaceitáveis pela comunidade religiosa. A bula de Pio V estabelece apenas a obrigatoriedade do "uso do Missal Romano revisado por ele", porém, com algumas exceções, que foram as adptações necessárias feitas por seus sucessores bem antes do Vaticano II.
O direito que o papa (qualquer papa!) tem que estabelecer novas
formas para o culto divino está claríssimo na explicação de Pio XII:
"Por isso, somente o sumo pontífice tem o direito de reconhecer e estabelecer quaisquer praxes do culto, de introduzir e aprovar novos ritos, e mudar aqueles que julgar devem ser mudados; os bispos têm o direito e o dever de vigiar diligentemente para que as prescrições dos sagrados cânones relativamente ao culto divino sejam pontualmente observadas...Certamente, a Igreja é um organismo vivo e, por isso, ainda no que diz respeito à sagrada liturgia, firme a integridade de seu ensinamento, cresce e se desenvolve, adaptando-se e conformando-se às circunstâncias e às exigências que se verificam no correr dos tempos..." (Mediator Dei, 52)
SÃO PIO X também, QUERIA UMA REFORMA NA LITURGIA católica !
Mesmo antes de Pio XII, outro papa já havia falando da importância de uma reforma litúrgica: São Pio X. Afinal, apesar de ter feito reformas importantíssimas, Trento não teve tempo de fazer todas as reformas necessárias na liturgia (saiba mais no livro Missarum Sollemnia, do padre Jungmann).É irônico, mas o fato é que São Pio X é um queridinho dos radtrads! Com certeza, se estivesse vivo, ia lhes dirigir uma dura reprovação! Sobretudo, por viverem falando mal do papa, a quem deveriam amar.
São Pio X fez algumas reformas importantes na liturgia!
Sobretudo no breviário. Mas, ele apenas colocou a primeira pedra,
pois havia um longo trabalho pela frente, que seria levado a cabo por outros
pontífices. Assim ele disse, sobre a reforma na liturgia:
"Na verdade, tudo isto exige, segundo a opinião dos
especialistas, um trabalho tão grande como quotidiano; e, portanto, é
necessário que se passem muitos anos antes que este, por assim dizer, edifício
litúrgico ... reapareça mais uma vez resplandecente em sua dignidade e
harmonia, uma vez que tenha sido limpo da desolação do envelhecimento."
(Motu proprio Abinc Duos Annos)
Nas palavras do grande são Pio X, sim, determinados elementos da liturgia (humanos), são passíveis de envelhecer (caducar)!
E assim, o rito
precisa ser reformado de tempos em tempos, precisa sofrer uma “limpeza”, uma
renovação. Nenhum leigo, padre ou bispo pode determinar essas mudanças
arbitrariamente, mas somente o papa:
"Tudo, pois, seja feito em indispensável união com a
hierarquia eclesiástica. Ninguém se arrogue o direito de ser lei para si mesmo
e de impô-la aos outros por sua vontade. Somente o sumo pontífice, na qualidade
de sucessor de Pedro, ao qual o divino Redentor confiou o rebanho
universal..."(Mediator Dei, 58)
Fonte - https://ocatequista.com.br/historia-da-igreja/item/18377-o-rito-da-missa-suas-mudancas-ao-
A Missa Nova é Ilegítima?
Um certo segmento reivindicador de
católicos acredita que sim, e Pe. Harrison responde às suas acusações e
preocupações
por PE. BRIAN HARRISON O.S. - 04/Abril /2019
Já se passaram cinquenta anos desde que o Papa São Paulo VI, na Constituição Apostólica Missale Romanum (3 de abril de 1969), promulgou o Missal do Rito Romano revisado em resposta à Sacrosanctum Concilium do Vaticano II (Constituição sobre a Sagrada Liturgia). E embora a Sagrada Eucaristia deva ser nosso vínculo sacramental central de unidade e amor, ela se tornou – tragicamente – neste meio século ocasião de séria confusão e dissensão.Eu respeito e, de fato, compartilho a preocupação dos católicos conscientes da tradição sobre certas características da reforma litúrgica, mas neste artigo eu gostaria de lançar um apelo por justiça e moderação na expressão de tais preocupações. A unidade da Igreja certamente exige isso.
Sim, É justo chamá-los de “dissidentes”
Alguns tradicionalistas, enquanto celebram e assistem à Missa do Rito Latino Romano clássica (apelidada de “Forma Extraordinária” pelo Papa Bento XVI), sempre que possível, evitam atacar o rito Novus Ordo pós-conciliar (a “Forma Ordinária”) como sendo ruim e inaceitável em si mesmo. Outros, entretanto, fazem exatamente o contrário disso.
Acho justo chamá-los de tradicionalistas “dissidentes”, porque
discordam abertamente de certas posições oficiais da Igreja pós-Vaticano II
sobre liturgia e doutrina.
O principal estandarte deles é, sem dúvida, a Fraternidade Sacerdotal de São Pio X (FSSPX), mas eles encontram uma voz estridente em muitas publicações e sites, e alguns deles sustentam pontos de vista que são totalmente sedevacantistas (a crença de que não houve papas verdadeiros desde o Vaticano II).
A alegação central deles é que a Missa Novus Ordo, mesmo se válida em si mesma, cheira tão fortemente a protestantismo e modernismo que é totalmente ilegítima – simplesmente inaceitável para o culto católico (mas, quem lhes deu essa autoridade? Em qual documento oficial da igreja apresenta esses critérios de uma missa válida porém, ilegítima?...)
Em sua repulsa total pelo que a Igreja agora prescreve como a forma normativa de celebrar nosso ato mais sagrado de adoração, os dissidentes afirmam que expressa uma religião diferente, não católica, que é objetivamente imoral – proibida por Deus! – celebrar ou frequentar as Missas da Forma Ordinária.E, sim, eles realmente vão tão longe. O site OnePeterFive.com recentemente publicou um artigo incluindo esta convocação peremptória:
“Leigos: Se vocês ainda pertencem a uma paróquia Novus Ordo, é
hora de partir...Nada substitui o dever do homem de render a Deus aquele
culto próprio à Sua Majestade, e o Novus Ordo simplesmente não é isso.”
E na seção FAQ (perguntas mais frequentes) do site oficial da
FSSPX, lemos (acessado em 1 de janeiro de 2019):
"O Novus Ordo Missae admite elementos heterodoxos lado a lado com
aqueles católicos para formar uma liturgia voltada para uma religião modernista
que casaria a Igreja e o mundo, o catolicismo e o protestantismo, a luz e as
trevas… Isso o torna perigo para nossa fé e, como tal, um mal… Mesmo quando
dito com piedade e respeito pelas regras litúrgicas...[o Novus Ordo] está
impregnado do espírito do protestantismo. Traz em si um veneno prejudicial à
fé."
Logo em seguida (de forma irresponsável e cismática) tem-se a
pergunta:
“Somos obrigados em consciência a comparecer à Novus Ordo Missae?”
O site não só responde que não, mas, "afirma que os
católicos não têm nenhum direito objetivo de comparecer ao culto
dominical":
"Se a Novus Ordo Missae não é verdadeiramente católica, logo
ela deixa de ser um preceito dominical. Muitos católicos que a assistem
desconhecem seu grau generalizado de inovação séria e estão isentos de culpa.
No entanto, qualquer católico que esteja ciente de seus danos não tem o direito
de participar. Ele só poderia assisti-la com uma mera presença física, sem
participar positivamente, e apenas por motivos familiares importantes
(casamentos, funerais, etc.)..."
Visto que a última frase expressa aqui as
rigorosas condições estabelecidas pela legislação da igreja pré-conciliar para
o comparecimento a serviços não-católicos, a mensagem que a FSSPX está enviando
é muito clara:
"A Missa Novus Ordo, como tal, deve ser considerada como um forma não-católica de culto"
Isso é irresponsável e demoníaco, pois deixaria centenas de milhões de fiéis sem acesso a
qualquer Missa legítima, porque na maior parte da América Latina, Ásia e
África, as Missas Latinas tradicionais são muito poucas e distantes entre si.
Cristo, então, abandonou todos esses irmãos, deixando-os com nada mais do que
um simulacro ímpio do genuíno culto católico?
Objeções doutrinárias
Então, por que esses dissidentes rejeitam o novo rito de forma total e tão implacável? Eles insistem que é essencialmente uma questão de doutrina, não apenas de preferência estética pelos antigos ritos.
Pe. Anthony Cekada resume posição comum deles no início de seu
livro, "Obra de Mão Humanas: Uma Crítica Teológica à Missa de Paulo VI" - A “tese
principal” do livro, ele nos diz, é que o novo rito:
a)- Destrói a doutrina católica nas mentes dos fiéis e, em particular, a doutrina católica relativa ao Santo Sacrifício da Missa, o sacerdócio e a Presença Real (onde exatamente?).
b)- Permite ou prescreve "irreverência
grave" (p. 7, itálico no original).
O espaço disponível neste artigo me
permitirá considerar apenas (e longe de ser completo) a primeira e mais
fundamental dessas objeções. No que diz respeito a (b), simplesmente
registrarei minha opinião de que algumas práticas litúrgicas recentemente
permitidas (isto é, opcionais) – Comunhão nas mãos e o sinal de paz pouco antes
da Comunhão – estão realmente sujeitas a abusos e podem se tornar a ocasião de
irreverência. No entanto, elas não são irreverentes em si mesmas (nem muito menos desonrosas ou desreipeitosas, pois palmas nem sempre são deboche, muito pelo contrário! E comunhão na mão foi o que Jesus fez na Santa Ceia com os apóstolos). Muito menos
posso encontrar algo gravemente irreverente “prescrito” (ou seja, obrigatório)
no texto do novo Missal Romano ou na Instrução Geral que o acompanha.
Vamos nos voltar para as "supostas
objeções doutrinárias dos dissidentes" do Novus Ordo:
Em primeiro lugar, consta a acusação de que isso mina a fé no caráter sacrificial da Missa. De acordo com o site da FSSPX, o novo missal é marcado pela “exclusão quase completa das referências ao sacrifício”. E o artigo OnePeterFive citado acima ainda faz a incrível afirmação de que no Novus Ordo “a Missa católica foi despojada de orações que expressam a doutrina católica”.É verdade que algumas orações que expressam sacrifício, adicionadas durante os tempos medievais, foram retiradas do Ofertório; mas longe de “apagar quase completamente” essas orações, cada Missa do Novus Ordo expressa sim, e muito claramente, a doutrina do sacrifício eucarístico pelo menos cinco vezes:
1.A
oração secreta do ofertório feita pelo sacerdote, rogando para que o nosso
sacrifício seja agradável a Deus.
2.Seu
convite ao povo: “Orai, irmãos e irmãs, para que o nosso sacrifício seja aceito
por Deus Pai todo-poderoso.”
3.Seu
convite ao povo: “Receba o Senhor (Deus) por tuas mãos (, ó Padre,) este
sacrifício, para Glória do Seu Nome (do Nome de Deus)…” E nós respondemos: ACEITAIS SENHOR ESSA NOSSA OFERTA!
4.No
Cânon Romano e em cada uma das novas orações eucarísticas, o caráter
sacrificial da Missa é claramente expresso nos textos que seguem a consagração.
5.As próprias palavras da consagração do pão no Novus Ordo realmente restauram uma expressão explícita do propósito sacrificial do que está sendo feito: “Este é o meu corpo, que será entregue por vós”. As palavras em itálico aqui (ou expressões equivalentes) foram encontradas em várias liturgias antigas, mas estão ausentes da fórmula Tridentina.Além de tudo isso, há uma sexta expressão dessa doutrina em muitas Missas, encontrada na oração do ofertório sobre os dons.
Deve-se notar também que todos os textos acima, exceto o primeiro,
são pronunciados em voz alta na língua do povo. Com efeito, no caso do terceiro
texto, são as próprias pessoas que o pronunciam. Assim, parece provável que a
doutrina do sacrifício eucarístico, longe de ter sido “destruída… nas mentes
das pessoas ”, está realmente impressa em suas mentes mais claramente pelas
orações do Novus Ordo do que nos dias pré-conciliares, quando cada uma das
orações que expressam esta doutrina era pronunciada "silenciosamente", em latim, e apenas pelo padre sozinho!
Por que erosão da fé? E O que dizer da fé dos féis no sacerdócio e na Presença Real, que Pe. Cekada também, afirma que o Novus Ordo “destrói”?
É verdade que o papel do sacerdote celebrante, em algumas rubricas secundárias, já não se distingue tão nitidamente daquele dos leigos como acontecia no rito tradicional, mas parece-me óbvio que permanece a sua proeminência única e insubstituível na celebração da Missa de forma clara e inconfundível para todos os participantes da liturgia Paulina. (Ver Info 1, abaixo). Sim, as pesquisas mostram consistentemente um declínio acentuado na crença católica nesta doutrina desde o Vaticano II e, em uma extensão limitada, isso pode ter sido um efeito colateral de mudanças oficiais, como a eliminação, no interesse da “nobre simplicidade”, de alguns sinais litúrgicos de reverência que os “reformadores da reforma” – como eu – gostaríamos de ver restaurados.
Mas a maior parte da culpa por esse
deplorável enfraquecimento da fé certamente está em causas mais diretas e
óbvias: teologia heterodoxa ensinada em seminários, a má (ou inexistente)
pregação e catequese sobre a doutrina eucarística, o declínio acentuado na
freqüência à Missa, desobediência litúrgica generalizada (muitas vezes chamada
de “criatividade”) e celebrações desleixadas e irreverentes.
Além disso, a afirmação absurda de que a Missa Paulina é “despojada de orações que expressam a doutrina católica” ignora todas as festas e orações votivas (“proprios”) no novo missal.
Na verdade, todas as doutrinas
católicas que distinguem a fé católica da protestante que estavam no antigo
Missal também estão no novo. (Veja Info 2, abaixo).
Uma série de outros pontos de discussão
continuam a circular nos meios de comunicação tradicionalistas de linha dura
como a suposta evidência do caráter heterodoxo e ilegítimo do Novus Ordo. A
maioria deles não é tão revelador quanto seus propagadores supõem. Vejamos
alguns:
Ponto 1: A “Intervenção Ottaviani”
Em setembro de 1969, o cardeal Alfredo Ottaviani, prefeito aposentado da Congregação para a Doutrina da Fé, assinou uma carta ao Papa Paulo VI apresentando um breve estudo crítico do rito de Missa recentemente promulgado por Paulo.
Esse estudo poderia ser considerado a Bíblia do tradicionalismo
dissidente. O principal autor do estudo foi o teólogo dominicano M. L.
Guérard des Lauriers, que logo depois caiu em cisma como o pai fundador do
sedevacantismo.
Em seguidaà intervenção de Ottaviani, outro padre francês, Pe. Gerard Lafond publicou um fac-símile de uma carta assinada, datada de 17 de fevereiro de 1970, que ele recebeu de Ottaviani, na qual o cardeal disse que suas hesitações anteriores sobre a nova Missa foram agora “dissipadas” pelas explicações do Pe. Lafond e do próprio Paulo VI. Frequentemente, os dissidentes não mencionam essa retratação, o que prejudica o apelo deles à autoridade e ao prestígio do chefe de longa data do Santo Ofício. Alguns deles sugerem que o secretário de confiança de Ottaviani, Mons. Gilberto Agustoni, fabricou esta carta e enganou o cardeal, quase cego então, para assiná-la (justificativa no mínimo esdrúxula e risível).
Tal, claro, pressupõe a implausabilidade de
não apenas Agustoni ser corrupto, mas que teria arriscado sua carreira
publicando uma mentira descarada. Ottaviani viveu por anos, recebendo
visitantes e mantendo todas as suas faculdades exceto a visão. Ele teria
aprendido rapidamente que sua carta retratando sua intervenção foi publicada na
amplamente lida Documentation Catholique e certamente a teria denunciado
publicamente como uma falsificação, se de fato fosse. Seu silêncio permanente,
portanto, é eloqüente.
Ponto 2: a instrução “herética” do Papa Paulo VI
Bem, este texto de tom ecumênico e amigável aos protestantes era herético (se essa é a palavra certa para ‘erro por omissão’) apenas no que deixou de fora de sua descrição da Missa, não pelo que realmente afirmou ou negou.
E nem todos os tradicionalistas que
apontam o dedo acusador a essa instrução deficiente são francos o suficiente
para reconhecer que pelo menos ela teve vida curta (ou será que eles acham que ela ainda está lá como eles afirmam?...)
O Papa Paulo VI, ao examinar esta introdução
com mais atenção, rapidamente retirou-a e substituiu-a no Missal de 1970 por um
novo “premium” que não apenas reafirma sem ambigüidade as doutrinas tridentinas
do sacrifício eucarístico, da Presença Real e do sacerdócio ordenado, mas
enfatiza que estas doutrinas são apresentadas de forma consistente nos textos e
rubricas atuais do novo Missal. (Ver especialmente os artigos 2, 3 e 4 na
“Introdução à Instrução Geral” no início do atual Missal Romano).
Ponto 3: Testemunho de Jean Guitton
Este filósofo francês declarou em uma entrevista de rádio em 1993 a um pastor luterano:
“Só posso repetir que Paulo VI fez tudo o que podia para afastar a
Missa Católica da tradição do Concílio de Trento em direção à Ceia do Senhor
protestante”
Mas o testemunho improvisado, episódico e
de segunda mão de Guitton dificilmente conta como um guia confiável e adequado
para o pensamento de Paulo VI, especialmente quando levamos em conta a
reafirmação enfática do pontífice da doutrinária “tradição do Concílio de
Trento” (ver parágrafo anterior), bem como seus muitos ensinamentos formais
sobre esses assuntos, especialmente sua esplêndida encíclica eucarística de
1965, Mysterium Fidei.
Uma avaliação mais equilibrada das intenções de São Paulo VI, penso eu, concluiria que, embora ele realmente quisesse uma reforma litúrgica que ajudasse a suavizar o caminho de volta à unidade católica para os protestantes, adotando algumas de suas práticas litúrgicas doutrinariamente inquestionáveis – como por exemplo:
-Usando a língua vernácula nas celebrações.
-Acrescentando mais leituras das Escrituras nas missas.
Paulo VI no entanto, insistiu em manter estrita fidelidade ao
ensino dogmático da Igreja tanto nos textos quanto nas rubricas do Missal
revisado.
Até que ponto essas reformas de orientação
ecumênica tiveram sucesso ou fracassaram na promoção da unidade genuína entre
os cristãos é, sem dúvida, uma questão muito diferente.
Ponto 4: Os seis conselheiros protestantes
Em vista do que acabamos de dizer, a
contribuição ecumênica de alguns liturgistas não-católicos para a reforma na
década de 1960 não é muito surpreendente; mas mesmo que a prudência de tê-los
lá pareça discutível, esses senhores não tinham direito a voto no Consilium
litúrgico do Vaticano que revisava o Missal Romano, e ninguém é capaz de
apontar qualquer característica do Novus Ordo resultante, que já não fosse
promovida independentemente por seu autores católicos.
Ponto 5: Max Thurian
Os tradicionalistas linha-dura adoram citar este teólogo protestante (um dos seis que acabamos de mencionar) que era proeminente na comunidade ecumênica de Taizé. OnePeterFive o cita fazendo o seguinte comentário logo depois que Paulo VI promulgou o Novus Ordo:
"Agora é teologicamente possível para os protestantes usarem a
mesma Missa que os católicos"
Esses tradicionalistas tomam isso para
reivindicar “como sendo de fonte primária”a própria afirmação deles de que o
Novus Ordo expressa a doutrina protestante em vez de integralmente católica.
Mas eles nunca informam que Thurian
não era de forma alguma um protestante típico e certamente não falava pelos
protestantes em geral. Assim como nem todos os católicos professos aderem
fielmente à doutrina católica, nem todos os protestantes aderem às doutrinas de
Lutero e Calvino.
Hoje em dia, Thurian e vários protestantes de mentalidade ecumênica nutrem idéias que se aproximam da doutrina católica do sacrifício eucarístico (e por isso eles são severamente denunciados como traidores da Reforma pelos protestantes tradicionais).A conclusão relevante que se tira aqui é que nenhum protestante, que leva a sério os textos totalmente católicos do Missal pós-Vaticano II e que adere à rejeição da Reforma clássica das doutrinas que eles expressam, poderia possivelmente se sentir confortável em “usar a mesma missa que os católicos.”
Prejudicial para a unidade católica
Vamos resumir. Estou implorando aqui que os
católicos que preferem o antigo rito latino (eu mesmo o celebro nos dias de
semana) respeitem a sábia disposição dos papas São João Paulo II e Bento XVI.
Em seus documentos, restaurando seu uso na Igreja, esses papas insistem, no interesse da unidade da Igreja, que aqueles que celebram e participam da Forma Extraordinária também devem reconhecer a correção doutrinária e a legitimidade da Forma Ordinária. Infelizmente, a FSSPX não cumpre com essa condição; nem o artigo OnePeterFive citado, que até endossa a calúnia de que nosso rito pós-conciliar da Santa Missa é “quase irreconhecível como um rito católico” e diz: “É discutível se esta forma de culto pode ser chamada de ‘católica’ em qualquer sentido significativo. ”A retórica do Dr. Peter Kwasniewski, em uma outra postagem do OnePeterFive, é igualmente desdenhosa. Depois de rotular com desdém o novo rito como “um disfarce, um simulacro, um substituto”, diz ele, “Mesmo no seu melhor, o Novus Ordo… ainda é uma dieta de fome em comparação com as riquezas da tradição litúrgica pré-conciliar. Deus pode santificar prisioneiros na prisão alimentados com crostas rançosas e água estagnada, mas esta não é a maneira pela qual Ele santificaria a maioria de nós. ”É triste ver este escritor habilidoso usando sua eloqüência em um esforço apaixonado para despertar o desprezo por nossaa aprovada Forma Ordinária de adoração nos corações e mentes católicos.Por favor, queridos irmãos! Essas condenações desregradas do Novus Ordo são manifestamente prejudiciais à unidade católica e podem até levar a uma direção cismática. Agrade a Deus que, no próximo meio século, os nossos inevitáveis desacordos sejam levados a cabo mais no espírito tranquilo da liturgia da Quinta-feira Santa: Ubi caritas et amor, Deus ibi est.
Info 1: O que dizer da Eucaristia? O que dizer da presença real? Refletir sobre:
•A
reverência exigida pelo sacerdote ao pão e ao cálice antes de sua consagração,
que é então marcada por suas genuflexões e elevações da hóstia e do cálice
•O
toque de sinos recomendado e incensação para cada consagração; a apresentação
dramática pelo sacerdote da hóstia e do cálice ao povo que proclama as palavras
imortais do Batista: “Eis o Cordeiro de Deus…”
•O
necessário ajoelhar-sedos ministros e da congregação para a consagração
•As
solenes procissões eucarísticas na noite de Quinta-feira Santa e Corpus Christi
(um dia sagrado de preceito que honra especificamente a realidade do Corpo e
Sangue do Senhor na Eucaristia)
•As
práticas altamente recomendadas de adoração eucarística e bênção fora da missa
Todas essas características da
liturgia Paulina demonstram a falsidade da acusação de que ela “destrói” a fé
dos católicos na transubstanciação e na Presença Real.
Info 2: Doutrinas na Missa Nova
No atual Missal encontramos claramente
expresso não só o caráter sacrificial da Missa, mas também:
•O
primado de Pedro e seus sucessores (oração pelo Papa em cada Missa, festas da
Cátedra de Pedro em 22 de fevereiro e S. Pedro e S Paulo em 29 de junho)
•Todos
os privilégios de Nossa Senhora (Imaculada Conceição, Assunção, Maternidade
Divina e Sua Virgindade Perpétua proclamada no início da maioria das Missas)
•Nossa
devoção aos outros santos (com dezenas de seus dias de festa celebradas ao
longo do ano)
•Transubstanciação
(veja acima)
• Orações
pelos defuntos no purgatório (brevemente em cada oração eucarística e mais
abundantemente nas missas fúnebres e nas missas do Dia de Finados (2 de
novembro).
Original em inglês: Catholic Answers:
https://www.catholic.com/magazine/print-edition/is-the-new-mass-illegitimate
Padre Paulo Ricardo: “a batalha dos missais de Pio V e Paulo VI e
a defesa da missa Nova”
https://padrepauloricardo.org/cursos/a-batalha-dos-missais
Referências bibliográficas RECOMENDADAS POR PADRE PAULO RICARDO:
-Josef Aertnys, Theologia Moralis juxta doctrinam S. Alphonsi Mariæ de Ligorio, 1887.
-Bíblia Sagrada. Tradução do Pe. Manuel de Matos Soares. Campinas: Ecclesiae, 2096p.
-João Calvino, Institutio religionis christianæ, v. 2. Brunsvique: Schwetschke, 1869.
-Denzinger-Hünermann, Compêndio dos símbolos, definições e declarações de fé e moral. Edições Loyola: Paulinas, 2007, 1467p.
-Paul Hacker, Faith in Luther: Martin Luther and the Origin of Anthropocentric Religion. Emmaus Academic, 200p.
-Santo Irineu de Lyon, Contra as Heresias. São Paulo: Paulus, 1995.
-São Justino Mártir, I e II Apologias: Diálogo com Trifão. São Paulo: Paulus, 1995.
-Ludwig Ott, Manual de Teología Dogmática. Barcelona: Herder, 1966.
-Martin Luther, D. Martin Luthers Werke: kritische Gesammtausgabe. 120 v. Weimar, 1883–2009.
-Padres apostólicos. São Paulo: Paulus, 1995.
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