Origens da Filosofia Perene Clássica
A filosofia perene, frequentemente,
utiliza de uma conceitos filosóficos partilhados pelo neoplatonismo e religiões
abraâmicas, mas conforme Aldous Huxley, dentro outros expoentes, apresenta em
sua coletânea A Filosofia Perene, ela também pode ser encontrada em correntes
budistas (ex: mahayana, zen e dzogchen), hinduístas (ex: vedanta) e na filosofia
chinesa (ex: taoísmo).O neoplatonismo em si tem origens diversas na
cultura sincrética do período helenístico, e foi uma filosofia influente ao
longo da Idade Média.A
Filosofia Perene também, chamado de sabedoria perene, é
uma perspectiva na espiritualidade moderna que enxerga todas as tradições
religiosas do mundo como compartilhadoras de uma verdade única, sendo ela
metafísica ou a origem da qual todo o conhecimento esotérico e exotérico
e doutrinal se desdobraram.
O perenialismo tem suas raízes no interesse renascentista
pelo neoplatonismo e sua ideia do Uno, da qual toda a existência emana:
1)-Marsilio Ficino (1433-1499) procurou integrar o
hermetismo com o pensamento grego e judaico-cristão, discernindo uma Prisca
theologia que poderia ser encontrada em todas as eras.
2)-Giovanni Pico della
Mirandola (1463-94) sugeriu que a verdade poderia ser encontrada em muitas, e
não apenas em duas tradições. Ele propôs a harmonia entre o pensamento de Platão
e Aristóteles, e viu aspectos da teologia de Prisca em Averróis (Ibn Rushd), o
Alcorão, a Kabbalah e outras fontes.
3)-Agostino Steuco
(1497-1548)
cunhou o termo philosophia perennis.
4)-Antecedentes
considerados perenialistas já existiam em pensadores médio platônicos que buscavam a unidade
da filosofia numa chamada "antiga teologia" tradicional, como em
Numênio de Apameia: "será
necessário voltar atrás e conectar aos preceitos de Pitágoras, e apelar para as
nações famosas, apresentando seus ritos e doutrinas e instituições formadas em
concordância com Platão, e que os brâmanes, judeus, magos e egípcios
estabeleceram";
5)-E entre alguns
cristãos, como em Agostinho de Hipona: "aquilo que hoje é chamado
de religião cristã existia entre os antigos e nunca deixou de existir desde a
origem da raça humana, até o momento em que o próprio Cristo chegou e os homens
começaram a chamar de 'cristã' a verdadeira religião que já existia
anteriormente...”(Agostinho de Hipona. Retratações I.13.3. In
Schuon, Frithjof - 2004).
Uma interpretação mais popular defende o universalismo
A ideia de que todas as
religiões, sob aparentes diferenças, apontam para a mesma Verdade:
a)-No início do século XIX, os transcendentalistas
propagaram a ideia de uma verdade metafísica e universalismo, que inspirou os
unitaristas, que fizeram proselitismo entre as elites indianas.
b)-No final do século XIX, a Sociedade Teosófica
popularizou ainda mais o universalismo, não apenas no mundo ocidental, mas também nas
colônias ocidentais.
c)-No século XX, o universalismo foi popularizado no mundo
anglófono por meio da Escola Tradicionalista inspirada no neo-vedanta, que defende uma origem
única e metafísica das religiões ortodoxas, e por Aldous Huxley e seu livro A
Filosofia Perene, que foi inspirado pelo neo-vedanta e a escola
tradicionalista.
Neoplatonismo e filosofia perene
(Platão aponta para o UNO transcendente acima, Aristóteles para a razão imanente) |
O neoplatonismo surgiu
no século III e persistiu até pouco depois do encerramento da Academia
Platônica em Atenas em 529 dC por Justiniano I. Os neoplatônicos foram
fortemente influenciados por Platão, mas também pela tradição platônica que
prosperou durante os seis séculos que separaram o primeiro dos neoplatônicos de
Platão.O
trabalho da filosofia neoplatônica envolveu descrever a derivação de toda a
realidade de um único princípio, "o Uno". Foi fundada por Plotino, e
tem sido muito influente ao longo da história.Na Idade Média, as
ideias neoplatônicas foram integradas às obras filosóficas e teológicas de
muitos dos mais importantes pensadores islâmicos medievais, cristãos e judeus.
O perenialismo contemporâneo
Orientado para os
estudiosos, dá continuidade a essa orientação metafísica. De acordo com os perenialistas, a
filosofia perene é "Verdade absoluta e Presença infinita". A
Verdade Absoluta é "a sabedoria perene (sophia perennis) que permanece
como fonte transcendente de todas as religiões ortodoxas da humanidade." A
Presença Infinita é "a religião perene (religio perennis) que vive dentro
do coração de todas as religiões intrinsecamente ortodoxas."
Idade de ouro islâmica e a filosofia perene
Durante a Idade Média, o
filósofo sufi Xaabe Aldim Surauardi considerou o reviver a philosophia
perennis, ou o que ele chama de Hikmat al-khalidah ou Hikmat al-atiqa,
que, de acordo com Surauardi, sempre existiu entre os hindus, persas,
babilônios, egípcios e gregos antigos, até o tempo de Platão.
A FILOSOFIA PERENE NA REVELAÇÃO JUDAICO-CRISTÃ:
A visão de Santo
Agostinho de que a sabedoria perene e a espiritualidade cristã convergem,
independentemente dos nomes e formas pelos quais se revestem. As esclarecimentos expostos na obra de
Mateus Soares de Azevedo: Filosofia Perene e Cristianismo, rompem, no dizer do
professor Patrick Laude, da Georgetown University dos EUA, com concepções
convencionais e exteriores da religião e expõem o fundo espiritual e a
integridade sacra dos dons que o Cristo legou ao mundo. Um dos méritos desta
obra é relembrar que o Cristianismo (uma religião) e a Filosofia Perene (uma
perspectiva metafísica, na linha do Platonismo e do Vedânta) falam com uma voz
comum, na qual se é possível dialogar e pensar numa ética universal a partir da lei natural (conforme o doc. da COMISSÃO TEOLÓGICA
INTERNACIONAL DO VATICANO: “EM
BUSCA DE UMA ÉTICA UNIVERSAL: NOVO OLHAR SOBRE A LEI NATURAL” - disponível em Vatican.va).
A FILOSOFIA PERENE TOMISTA - TOMÁS DE AQUINO O FILÓSOFO DO EQUILÍBRIO
“O
TOMISMO É COMO UMA ÁRVORE, FINCADA NAS VIGOROSAS RAÍZES CLÁSSICAS, DE
ARISTÓTELES, E TEOLÓGICAS, DE AGOSTINHO, QUE SE DESENVOLVE, ORGANICAMENTE, EM
GALHOS EXPANSIVOS, NO ENFRENTAMENTO DOS NOVOS PROBLEMAS”
A sabedoria elementar
reconhece que a virtude está no meio, num ponto de equilíbrio entre dois excessos
incomunicáveis entre si.O
sentido comum, compartilhado por todas as pessoas, reconhece que se deve ser
evitar o extremismo e a parcialidade, que a contenção e o equilíbrio são
virtudes não só do caráter, mas também do pensamento,
que se esforça por reunir, dialeticamente, as verdades parciais dos diversos
pontos de vista numa síntese abrangente maior.Surgida da filosofia
clássica de Sócrates, Platão e Aristóteles, essa dialética do equilíbrio
pautou, de modo incomparável, a obra de Tomás de Aquino, o maior pensador da
Cristandade, responsável pela realização mais consumada do projeto
intelectual da Idade Média de reunir, harmonicamente, fé e razão, Teologia e
Filosofia, Revelação e Especulação. Para isso, ele sintetizou
praticamente todos os filósofos e teólogos conhecidos de sua época, Platão e
Aristóteles (pagãos), Agostinho e Anselmo (cristãos), Maimônides (judeu) e
Averróis (árabe), tornando-se o centro da história da filosofia de 1.800 anos e
da história da teologia de 1.200 anos antes dele. Isso
porque não se afiliou a uma corrente excludente e imergiu numa competição
contra os rivais intelectuais sem antes considerar, a fundo, os seus
argumentos.Mais
do que ninguém, Aquino demonstrou que o fato de alguém
acertar num ponto, não quer dizer que esteja certo em todos os outros pontos;
e, reciprocamente, o fato de alguém errar num aspecto, não significa que erre
em todos os outros.Mas esta virtude da
inclusão e combinação não deve ser confundida com o sincretismo que elide as
diferenças, as incompatibilidades e os erros. Ela deve ser sustentada numa
firme convicção de que é possível alcançar a verdade filosófica, que se manifesta
difusamente entre os erros e incompletudes dos que a buscam. Para
articular essas meia-verdades, o pensamento deve
obedecer a regras lógicas de definição e distinção, assim como de articulação
dialética entre os conceitos. Nesse contexto, Aquino tem um poder
analítico ímpar, com uma clareza, objetividade e simplicidade de estilo
raramente alcançadas na história intelectual.Impressionante também é
o modo como ele relaciona esse rigor como uma profundidade e vastidão de
assuntos, como: Deus, anjo, homem, vida, morte, imortalidade, corpo, alma, mente,
vontade, paixões, bem, mal, virtude, vício, lei, verdade, beleza, tempo e
eternidade. Tudo isso reunido a partir da questão ontológica do
fundamento de tudo o que é no ser absoluto e incondicionado de Deus, cuja
existência pode ser reconhecida racionalmente, como nas famosas “cinco vias”:
1. Motor imóvel.
2. Causa primeira, não
causada.
3. Necessidade
absoluta.
4. Ser perfeito
5. Arquiteto cósmico
Segundo um dos seus maiores cultores da atualidade, Peter Kreeft (“The philosophy of Thomas Aquinas, Ed. Recorded Books):O equilíbrio filosófico de Aquino pode ser percebido quando comparado à fragmentação característica da modernidade, era de dicotomias reducionistas, das ideologias e dos “ismos” isolados e rivais, que se alternam sem mediação, como se afirmação de um polo implicasse necessariamente a negação do oposto, como nas contraposições:
a)-De racionalismo (Descartes) e
empirismo (Hume).
b)-Pessimismo (Hobbes) e otimismo
(Rousseau).
c)-Utilitarismo (Bentham) e legalismo
(Kant).
Diante
dessas polarizações, Aquino consideraria a parcialidade dos polos opostos a fim
de reuni-los numa síntese compreensiva.Na seara jurídica, por exemplo:
a)-Ao invés de afirmar
que o
direito é “só” ética, como o fazem jusnaturalistas
modernos.
b)-Ou, que o
direito é “só” política, como o fazem juspositivistas
modernos.
Aquino
diria que o direito é uma “interseção” entre ética (lei natural) e política
(lei positiva).Consoante Luis Fernando
Barzotto, em “Filosofia do direito – os conceitos fundamentais e a tradição
jusnaturalista” (Ed. Livraria do Advogado), a concepção tomista de direitos humanos
contribuiria para a elucidação do impasse atual entre universalismo e
relativismo dos direitos humanos, que reflete essas dicotomias
filosóficas modernas:
a)-Os
universalistas defendem que os direitos humanos têm um sentido unívoco,
sendo absolutamente idênticos em todos os tempos e lugares, porque concebem a
natureza humana de forma abstrata, geralmente identificada com a racionalidade. Ora, isso depende de
uma metafísica idealista, para a qual a realidade é formada “apenas” por ideias
abstratas, independente das determinações concretas, como história,
nacionalidade, renda, religião, ideologia e sexo.
b)-No polo
antagônico, os relativistas alegam que os direitos humanos revelam um
sentido equívoco, sendo absolutamente diferentes conforme a época e a cultura.
Nota-se aqui uma
metafísica empirista, que reduz a realidade “apenas” a fatos positivos como
poder e economia. Por isso, direitos humanos limitam-se àqueles positivados por
ordenamentos jurídicos particulares.Segundo
Barzotto, a concepção tomista é pautada numa metafísica
realista, composta por essência e existência, valores e fatos, forma e matéria,
reconhecendo um sentido analógico dos direitos humanos, que tem uma mesma
dimensão universal, mas que é diferentemente particularizada pelas
sociedades históricas.Numa era
de dicotomias e polarizações como a nossa, de neutralização do diálogo e da
mediação, convém recuperar o pensamento de Tomás de Aquino, como se faz
em muitos âmbitos da filosofia contemporânea.Depois de Sócrates,
difícil imaginar um autor cuja influência seja tão duradoura na história da
filosofia. Kreeft sugere que o tomismo é como uma árvore, fincada nas vigorosas
raízes clássicas, de Aristóteles, e teológicas, de Agostinho, que se
desenvolve, organicamente, em galhos expansivos, no enfrentamento de novos
problemas. Daí porque o tomismo ser considerado a “filosofia perene”.
Publicado no Jornal O
Liberal de 1°.outubro.2017.
BIBLIOGRAFIA:
-Wikipedia a Enciclopédia Virtual
-https://www.dialetico.com.br/2018/10/11/o-filosofo-do-equilibrio/#:~:text=Surgida%20da%20filosofia%20cl%C3%A1ssica%20de,f%C3%A9%20e%20raz%C3%A3o%2C%20Teologia%20e
http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/cti_documents/rc_con_cfaith_doc_20090520_legge-naturale_po.html
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