DICASTÉRIO PARA A DOUTRINA DA FÉ (
Mater Populi fidelis:
Nota doutrinal "sobre alguns títulos marianos referidos à cooperação de Maria na
obra da Salvação"
Apresentação
A presente Nota responde a numerosas
consultas e propostas que chegaram à Santa Sé nas últimas décadas – de modo
especial a este Dicastério – sobre questões relacionadas com a devoção mariana
e, particularmente, sobre alguns títulos marianos. São questões que preocuparam
os recentes Pontífices e que foram repetidamente tratadas nos últimos trinta
anos nos diversos âmbitos de estudo do Dicastério, como Congressos, Assembleias
ordinárias, etc. Isto permitiu a este Dicastério contar com um abundante e rico
material que alimenta a presente reflexão.
O
texto, ao mesmo tempo que esclarece em que sentido são
aceitáveis, ou não, alguns títulos e expressões referentes a Maria, propõe-se
aprofundar nos adequados fundamentos da devoção mariana precisando o lugar de
Maria em sua relação com os fiéis, à luz do Mistério de Cristo como
único Mediador e Redentor. Isto implica uma profunda fidelidade à identidade
católica e, ao mesmo tempo, um particular esforço ecumênico.
O eixo que atravessa todas estas páginas é
a maternidade de Maria em relação aos fiéis, questão que aparece
reiteradamente, com afirmações que são retomadas muitas vezes, enriquecendo-as
e completando-as, em modo espiral, com novas considerações.
A
devoção mariana, que a maternidade de Maria suscita, é apresentada aqui como um
tesouro da Igreja. Não se trata de corrigir a piedade do
Povo fiel de Deus que encontra em Maria refúgio, fortaleza, ternura e
esperança, mas, sobretudo, de a valorizar, admirar e encorajar; visto
que esta é uma expressão mistagógica e simbólica de uma atitude evangélica de
confiança no Senhor que o mesmo Espírito Santo suscita livremente nos fiéis.
Realmente, os pobres «encontram a ternura e o amor de Deus no rosto de Maria.
Nela veem refletida a mensagem essencial do Evangelho».[1]
Ao mesmo tempo, existem alguns grupos de reflexão mariana,
publicações, novas devoções e inclusive solicitações de dogmas marianos, que
não apresentam as mesmas características da devoção popular, mas acabam por
propor um determinado desenvolvimento dogmático e divulgam-se intensamente
através das redes sociais despertando, com frequência, dúvidas nos fiéis mais
simples. Às vezes, tratam-se de reinterpretações de expressões utilizadas no
passado com diversos significados.
Este documento leva em consideração estas propostas para indicar em qual sentido algumas respondem a uma devoção mariana genuína e inspirada no Evangelho, ou em qual sentido outras devem ser evitadas, pois não favorecem uma adequada compreensão da harmonia da mensagem cristã em seu conjunto.Por outro lado, em diversas passagens desta Nota se oferece um amplo desenvolvimento bíblico que ajuda a mostrar como a autêntica devoção mariana não aparece apenas na rica Tradição da Igreja, mas já nas Sagradas Escrituras. Esta destacada marca bíblica é aqui acompanhada por textos dos Padres e Doutores da Igreja e dos últimos Pontífices. Deste modo, mais que limitar, a Nota busca acompanhar e sustentar o amor a Maria e a confiança na sua materna intercessão.
Prefeito
Introdução
1. [Mater Populi fidelis] A Mãe do Povo
fiel[2] é contemplada com afeto e admiração pelos cristãos porque, se a graça
nos quer semelhantes a Cristo, Maria é a expressão mais perfeita da sua ação
que transforma a nossa humanidade. Ela é a manifestação feminina de tudo quanto
pode operar a graça de Cristo no ser humano. Diante de tal formosura, movidos
pelo amor, muitos fiéis procuraram sempre referir-se à Mãe com as palavras mais
belas e exaltaram o lugar peculiar que ela tem junto a Cristo.
2. Recentemente este Dicastério publicou as
Normas para proceder no discernimento de presumidos fenômenos sobrenaturais.[3]
É frequente que, em relação a estes fenômenos, se utilizem determinados
títulos[4] e expressões referidas à Virgem Maria. Esses títulos, alguns dos
quais já aparecem nos Santos Padres, não são sempre utilizados com precisão; às
vezes muda-se o seu significado ou são mal interpretados. Além dos problemas
terminológicos, alguns títulos apresentam dificuldades importantes no que se
refere ao conteúdo, pois, com frequência, levam a uma compreensão errada da figura
de Maria, o que tem sérias repercussões a nível cristológico,[5]
eclesiológico[6] e antropológico.[7]
3. Na
interpretação destes títulos aplicados à Virgem Maria, o principal problema é
como se compreende a associação de Maria na obra redentora de Cristo, ou seja,
«qual é o significado dessa singular cooperação de Maria no plano da
salvação?».[8] O presente documento, sem querer
esgotar a reflexão, nem ser exaustivo, busca preservar o equilíbrio necessário
que, dentro dos mistérios cristãos, deve ser estabelecido entre a única
mediação de Cristo e a cooperação de Maria na obra da Salvação, e
pretende mostrar também como esta se expressa em diversos títulos marianos.
A cooperação de Maria na obra da Salvação
4. Tradicionalmente a cooperação de Maria
na obra da Salvação foi abordada a partir de uma dupla perspectiva: a sua participação na Redenção objetiva, realizada por
Cristo durante sua vida e particularmente na Páscoa, e a influência que ela tem
atualmente sobre os que foram redimidos. Na realidade, estas questões
estão interligadas e não podem ser consideradas isoladamente.
5. A participação de Maria na obra
salvadora de Cristo está atestada nas Escrituras, que apresentam o
acontecimento salvador realizado em Jesus Cristo como uma promessa nos escritos
veterotestamentários e como uma realização no Novo Testamento. Assim, Maria é
prefigurada em Gn 3, 15, porque é a mulher que participa da vitória definitiva
contra a serpente. Por isso, não chama a atenção que Jesus se dirija a Maria
com a denominação de «Mulher» na cena do Calvário (Jo 19, 26). Em Caná, também,
Jesus a chama «Mulher» (Jo 2, 4) remetendo a Maria e à sua função, junto a Ele,
na “Hora” da Cruz.
6. Ali, naquela
“Hora”, aparece a cooperação de Maria, que novamente pronuncia o “sim” da
Anunciação e, nesse momento sagrado, o Evangelho deixa de colocar nos lábios de
Jesus a palavra «Mulher» (Jo 19, 26),apresentando-a como «Mãe» (Jo 19, 27). Quando
o Evangelho explica que, como resposta, o discípulo que nos representa a todos
a recebeu, utiliza um verbo que no Evangelho assume o sentido de “acolher”
(lambanō) na fé (cf. Jo 1, 11-12; 5, 43 e 13, 20). O mesmo verbo que utiliza o
quarto Evangelho para expressar que a Luz veio para os seus e eles não a “acolheram”
(Jo 1, 11). Ou seja, o discípulo que ocupava o nosso lugar junto à Maria,
acolheu-a como mãe na fé. Somente depois de nos
entregar Maria como mãe, Jesus reconhece que «tudo se consumara» (Jo 19, 28). Esta
solene alusão à consumação impede que o episódio seja interpretado
superficialmente. A maternidade de Maria a nosso respeito constitui parte da
consumação do plano divino que se realiza na Páscoa de Cristo. Em modo
semelhante, o Apocalipse apresenta a «Mulher» (Ap 12, 1) como mãe do Messias
(cf. Ap 12, 5) e como mãe do «resto da sua descendência» (Ap 12, 17).
7. Convém recordar que Maria de Nazaré pode
ser considerada a «testemunha privilegiada»[9] dos eventos narrados nos
Evangelhos (cf. Lc 1-2; Mt 1-2) que marcaram a infância de Jesus.[10] Lucas, no
prólogo do seu Evangelho, adverte os seus leitores: «Visto que muitos
empreenderam compor uma narração dos factos que entre nós se consumaram, como
no-los transmitiram os que desde o princípio foram testemunhas oculares», ele
também decidiu escrever «depois de tudo ter investigado cuidadosamente desde a
origem» (Lc 1, 1-3). Entre essas testemunhas oculares destaca-se Maria,
protagonista direta da concepção, nascimento e infância do Senhor Jesus. Pode
dizer-se o mesmo dos relatos da paixão, já que estava «junto à cruz de Jesus»
(Jo 19, 25), e esperando o Pentecostes, quando os apóstolos se entregavam «à
oração, com algumas mulheres, entre as quais Maria, mãe de Jesus» (Act 1, 14).
8. No Evangelho de Lucas, Maria é a nova
Filha de Sião que recebe e transmite a alegria da salvação. Lucas recorre às
promessas proféticas que anunciavam a alegria messiânica (cf. Sf 3, 14-17; Zc
9, 9). Nela se cumprem as promessas que fizeram saltar de alegria João Batista
(cf. Lc 1, 41). Isabel apresenta-se como indigna de receber a visita de Maria:
«E donde me é dado que venha ter comigo a mãe do meu Senhor?» (Lc 1, 43).
Isabel não diz: “Donde me é dado que venha ter comigo o meu Senhor?”. Refere-se
diretamente à mãe, com a qual podemos advertir a conexão inseparável entre a
missão de Cristo e a de Maria. Isabel fala cheia do Espírito Santo (cf. Lc 1,
41), de modo que a sua atitude diante de Maria se apresenta como um modelo de
fé. Movida pelo Espírito Santo, ela diz as seguintes palavras: «Bendita és tu
entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre!» (Lc 1, 42). Chama a
atenção que, sob a ação do Espírito, não lhe baste chamar de “bendito” a Jesus,
mas também chama a mãe de “bendita”. Contempla-os intimamente unidos neste
momento de gozo messiânico. Maria aparece aqui como a “Feliz” por excelência:
«Feliz de ti que acreditaste» (Lc 1, 45); «o meu espírito se alegra» (Lc 1,
47); «me chamarão bem-aventurada todas as gerações» (Lc 1, 48). Isto adquire maior
importância se se adverte que, no Evangelho de Lucas, esta felicidade não
aparece como um estado de ânimo, mas como o cumprimento das promessas
messiânicas nos pequenos (cf. Lc 6, 20-22), que têm uma grande recompensa no
céu (cf. Lc 6, 23).
9. Nos primeiros séculos do cristianismo, os Santos Padres interessaram-se principalmente pela
maternidade divina de Maria (Theotokos), pela sua virgindade perpétua
(Aeiparthenos), pela sua perfeita santidade, livre do pecado durante toda a sua
vida (Panagia) e pela sua função de nova Eva,[11] concentrando no mistério da
Encarnação a reflexão sobre a associação de Maria à Redenção de Cristo. O “sim”
de Maria em resposta à saudação do Arcanjo Gabriel, para que o Verbo de Deus se
fizesse carne no seu ventre (cf. Lc 1, 26-27), dá ao ser humano a possibilidade
de ser divinizado. Por isso, Santo Agostinho chama a Virgem de
«cooperadora» na Redenção, sublinhando tanto a ação de Maria junto a Cristo
como a sua subordinação a Ele, porque Maria coopera com Cristo para que nasçam
«na Igreja os fiéis»[12] e, por isso, a podemos chamar Mãe do Povo fiel.
10. Durante o primeiro milénio, a reflexão
sobre a Virgem Maria na Igreja remete à liturgia. A grande e rica diversidade
das tradições litúrgicas do Oriente cristão quis ser um eco fiel das Sagradas
Escrituras, dos Concílios e dos Padres da Igreja. A lex orandi que se
transformou em lex credendi, configura a mariologia oriental desde a
hinografia, iconografia e a piedade popular.[13] Por exemplo, a partir do
século V estabelecem-se no Oriente as festas marianas que depois, no século
VII, passaram ao Ocidente. A participação da Mãe de Deus na obra da salvação
comemora-se, especialmente, não apenas em todas as anáforas e liturgias
eucarísticas das Igrejas orientais, mas, sobretudo, através dos textos
hinográficos utilizados nas Horas canônicas, presentes nas diversas tradições
litúrgicas do Oriente cristão. Na hinografia abundam as composições dedicadas à
Maria com alegorias bíblicas,[14] que permitiram aprofundar no mistério fundamental
da Encarnação e do seu significado para a redenção em Cristo, na linguagem
lírica de simbolismo poético capaz de expressar o espanto e a maravilha de
quem, sendo da mesma estirpe de Maria, contempla os prodígios que o
Todo-poderoso realizou nela.[15]
11. O ensinamento dos primeiros Concílios Ecuménicos começa a delinear o dogma de Maria, Mãe de Deus, que será proclamado no Concílio de Éfeso. O Oriente cristão sempre sustentou doutrinalmente aqueles dogmas definidos por estes primeiros concílios, ao menos naquelas Igrejas que aceitaram os Concílios de Éfeso e Calcedônia. Ao mesmo tempo, acolheu em suas tradições litúrgicas, hinográficas e iconográficas as narrações e as lendas marianas populares referidas aos relatos da infância e da morte de Jesus. Estes relatos buscam alimentar a piedade do Povo de Deus, dando voz ao lirismo das imagens poéticas, que não tem outro objetivo senão aquele de despertar o espanto. Essa veneração à Mãe de Deus, manifesta-se também por meio da iconografia que oferece uma imagem de Maria e do Verbo encarnado. É significativo que as iconografias tradicionais dessas Igrejas, vinculadas aos Concílio de Éfeso e de Calcedônia, representem Maria majoritariamente como «Theotokos»,[16] e tenham sido criadas para contemplar nelas a Virgem-Mãe que abraça e apresenta ao mundo seu Filho, o Menino Jesus, enquanto intercede pela humanidade perante Ele. Assim, a iconografia mariana oriental, como kerygma e recordação visual da teologia dos primeiros Concílios e dos Santos Padres, quer ser uma tradição visual dos títulos específicos que se aplicam à Virgem.[17] Por isso, os ícones tem que ser “lidos” a partir da liturgia e dos hinos.
Maria não é objeto de um culto
que se equipara ao de Cristo, mas que se insere no mistério de Cristo através
da Encarnação.[18] Ela é a Theotokos, a Virgem Mãe que apresenta seu Filho
Jesus, o Cristo, e é, ao mesmo tempo, a Odēgētria que mostra, apontando com sua
mão, o único Caminho que é Cristo.
12. A partir do século XII a teologia
ocidental[19] dirige o seu olhar para a relação que une a Virgem Mãe com o
mistério da Redenção cruenta do Calvário e relaciona a cena da espada de Simeão
com a Cruz de Cristo. A presença de Maria aos pés da Cruz entende-se como sinal
de fortaleza cristã, cheia de amor materno. São Bernardo fala da cooperação de
Nossa Senhora no sacrifício redentor num comentário sobre a apresentação de
Jesus no templo.[20] Arnaldo, amigo de São Bernardo e abade beneditino de
Bonneval († depois de 1159), considera pela primeira vez a cooperação de Maria
com o sacrifício do Calvário junto a seu Filho Jesus Cristo.[21]
13. A cooperação de Maria com o Filho na obra da Salvação foi
exposta pelo Magistério da Igreja.[22] Como diz o Concílio Vaticano II,
«consideram com razão os Santos Padres que Maria não foi utilizada por Deus
como instrumento meramente passivo, mas que cooperou livremente, pela sua fé e
obediência, na salvação dos homens».[23] Esta associação da Virgem está
presente tanto na vida terrena de Jesus Cristo (concepção, nascimento, morte e
ressurreição) como no tempo da Igreja.
14. O dogma da Imaculada Conceição destaca
a primazia e unicidade de Cristo na Redenção, porque também a primeira dos
redimidos é redimida por Cristo e transformada pelo Espírito, antes de qualquer
possibilidade de uma ação própria.[24] É a partir
desta especial condição de primeira redimida por Cristo, de primeira
transformada pelo Espírito Santo, que Maria pode cooperar mais intensa e
profundamente com Cristo e com o Espírito, convertendo-se em protótipo,[25]
modelo e exemplo do que Deus quis realizar em cada pessoa redimida.[26]
15. A colaboração de Maria na obra da
Salvação tem uma estrutura trinitária, porque é fruto de uma iniciativa do Pai,
que olhou a pequenez de sua Serva (cf. Lc 1, 48); brota da kenōsis do Filho,
que se humilhou tomando a forma de Servo (cf. Fl 2, 7-8) e é efeito da graça do
Espírito Santo (cf. Lc 1, 28.30) que dispôs o coração da jovem de Nazaré para
responder na Anunciação e durante toda a vida de comunhão com seu Filho. São
Paulo VI ensinava que «na Virgem Maria, de fato, tudo é relativo a Cristo e
dependente d’Ele: foi em vista d’Ele que Deus Pai, desde toda a eternidade, a
escolheu Mãe toda santa e a plenificou com dons do Espírito a ninguém mais
concedidos».[27] O sim de Maria não é uma simples condição prévia a algo que
poderia ter chegado ao fim sem o seu consentimento e colaboração. A sua maternidade não é simplesmente biológica e
passiva,[28] mas é uma maternidade «plenamente ativa»[29] que se une ao
mistério salvífico de Cristo como instrumento querido pelo Pai no seu projeto
de salvação. Ela «é a garantia de que Ele, enquanto “nascido de mulher”
(Gal 4, 4), é autêntico homem, porém ela é também, desde a proclamação do dogma
de Nicéia, a Theotokos, a que dá à luz a Deus».[30]
Títulos referidos à cooperação de Maria na
Salvação
16. Dentre os títulos com os quais se
invocaram Maria (Mãe da Misericórdia, Esperança dos pobres, Auxílio dos
cristãos, Socorro, Advogada, etc.) há alguns que fazem referência, em maior
medida, à sua cooperação na obra redentora de Cristo, como por exemplo
Corredentora e Medianeira.
Corredentora
17. O título de Corredentora aparece no
século XV como correção à invocação de Redentora (como abreviação de Mãe do
Redentor) que Maria vinha recebendo desde o século X. São Bernardo atribui a
Maria um papel aos pés da Cruz que dá lugar ao título de Corredentora e que
aparece pela primeira vez num hino anônimo do século XV em Salisburgo.[31] Ainda
que a denominação de Redentora se tenha mantido durante os séculos XVI e XVII,
desapareceu totalmente no século XVIII para ser substituída por Corredentora. A
investigação teológica da cooperação de Maria na Redenção, durante a primeira
metade do século XX, chegou a aprofundar mais o conteúdo do título de
Corredentora.[32]
18. Alguns Pontífices utilizaram este
título sem se deterem demasiado em explicá-lo.[33] Geralmente apresentaram-no
de duas maneiras diversas: em relação à maternidade divina, enquanto Maria,
como mãe, tornou possível a Redenção realizada em Cristo,[34] ou ainda, em
referência à sua união com Cristo junto à Cruz redentora.[35] O Concílio
Vaticano II evitou utilizar o título de Corredentora por razões dogmáticas,
pastorais e ecuménicas. São João Paulo II utilizou-o, ao menos em sete
ocasiões, relacionando-o especialmente com o valor salvífico da nossa dor
oferecida junto à de Cristo, ao qual se une Maria sobretudo na Cruz[36].
19. Na Sessão Ordinária (Feria IV) de 21 de fevereiro de 1996, o Prefeito da então Congregação para a Doutrina da Fé, o cardeal Joseph Ratzinger, diante da pergunta se era aceitável a petição do movimento Vox Populi Mariae Mediatrici para uma definição do dogma de Maria como Corredentora ou Medianeira de todas as graças, respondeu em seu voto particular:
«Negativo. O significado preciso dos títulos não é claro e a doutrina neles contida não está madura. Uma doutrina definida de fé divina pertence ao depósito da fé, ou seja, à revelação divina vinculada na Escritura e na tradição apostólica. Desta maneira, não se vê em modo claro como a doutrina expressa nos títulos esteja presente na Escritura e na tradição apostólica».[37]
Mais adiante (Bento XVI ainda cardeal)
em 2002, expressou publicamente sua opinião contrária a este título:
«A fórmula “Corredentora” distancia-se em demasia da
linguagem da Escritura e da Patrística e, portanto, provoca mal-entendidos...
Tudo procede d’Ele, como dizem sobretudo as Cartas aos Efésios e aos
Colossenses. Maria é o que é graças a Ele. A palavra “Corredentora” obscureceria
essa origem». O Cardeal Ratzinger não negava que houvesse na proposta de uso
deste título boas intenções e aspectos válidos, porém sustentava que era um
«vocábulo equívoco».[38]
20. O então Cardeal mencionava as Cartas aos Éfesios e aos Colossenses, onde o vocabulário utilizado e o dinamismo teológico dos hinos apresenta, de tal modo, a centralidade redentora única e fontalidade do Filho encarnado que resta excluída a possibilidade de agregar outras mediações, porque:
«Toda a espécie de bênçãos espirituais» nos são dadas «em Cristo» (Ef 1, 3), porque por Ele somos filhos adotivos (cf. Ef 1, 5) e n’Ele fomos agraciados (cf. Ef 1, 6), «pelo seu sangue, [...] temos a redenção» (Ef 1, 7) e Ele «derramou sobre nós» (Ef 1, 8) sua graça. N’Ele «fomos escolhidos como sua herança» (Ef 1, 11) e estávamos predestinados. E Deus quis n’Ele «fazer habitar toda a plenitude» (Cl 1, 19) «e, por Ele e para Ele, reconciliar todas as coisas» (Cl 1, 20).
Semelhante louvor, sobre o lugar único de Cristo,
convida a situar qualquer criatura num lugar claramente receptivo, bem como a
uma religiosa e delicada cautela na hora de colocar qualquer forma de possível
cooperação no âmbito da Redenção.
21. O Papa Francisco expressou, ao menos por três vezes, sua posição claramente contrária ao uso do título de Corredentora, alegando que Maria «jamais quis reter para si algo do seu Filho. Nunca se apresentou como corredentora. Não, discípula!».[39]
A obra da redenção
foi perfeita e não necessita de acréscimo algum. Por isso, «Nossa Senhora não
quis tirar nenhum título a Jesus [...]. Ela não pediu para ser uma
quase-redentora ou corredentora: não. O Redentor é um só e este título não se
duplica».[40] Cristo «é o único Redentor: não existem corredentores com
Cristo».[41] Porque «o sacrifício da Cruz, oferecido com coração amante e
obediente, apresenta uma satisfação superabundante e infinita».[42] Se bem que
nós possamos prolongar no mundo os seus efeitos (cf. Cl 1, 24),nem a Igreja,
nem Maria podem substituir, ou aperfeiçoar, a obra redentora do Filho de Deus
encarnado, que foi perfeita e não necessita de acréscimos.
22. Levando em consideração a necessidade
de explicar o papel subordinado de Maria a Cristo na obra da Redenção, é sempre
inoportuno o uso do título de Corredentora para definir a cooperação de Maria.
Este título corre o risco de obscurecer a única mediação salvífica de Cristo e,
portanto, pode gerar confusão e desequilíbrio na harmonia das verdades da fé
cristã, pois «não há salvação em nenhum outro, pois não há debaixo do céu
qualquer outro nome, dado aos homens, que nos possa salvar» (Act 4, 12). Quando
uma expressão requer muitas e constantes explicações, para evitar que se desvie
de um significado correto, não presta um bom serviço à fé do Povo de Deus e
torna-se inconveniente. Neste caso, não ajuda a exaltar Maria como primeira e
máxima colaboradora na obra da Redenção e da graça, porque o perigo de
obscurecer o lugar exclusivo de Jesus Cristo, Filho de Deus feito homem por
nossa salvação, único capaz de oferecer ao Pai um sacrifício de valor infinito,
não seria uma verdadeira honra à Mãe. Com efeito, ela, como «serva do Senhor»
(Lc 1, 38), orienta-nos para Cristo e pede-nos para fazer «o que Ele vos
disser» (Jo 2, 5).
Medianeira
23. O conceito de mediação é utilizado na Patrística oriental a partir do século VI. Nos séculos seguintes, Santo André de Creta,[43] São Germano de Constantinopla[44] e São João Damasceno[45] utilizam este título com diferentes significados. No Ocidente, tornou-se mais frequente o seu uso a partir do século XII, ainda que apenas no século XVII será enunciado como tese doutrinal.
Em 1921 o Cardeal Mercier, Arcebispo de Malinas, com a colaboração científica da Universidade Católica de Lovaina e o apoio dos bispos, do clero e do povo belga, pediu ao Papa Bento XV a definição dogmática da "mediação universal de Maria", porém o Papa não consentiu!
Aprovou
apenas uma festa com a missa própria e o "ofício de Maria Medianeira".[46] Desde
então, até o ano de 1950 desenvolveu-se uma investigação teológica sobre a
questão, que chegaria à fase preparatória do Concílio Vaticano II. O Concílio
não entrou em declarações dogmáticas,[47] mas preferiu apresentar uma extensa
síntese «da doutrina católica acerca do lugar que Maria Santíssima ocupa no
mistério de Cristo e da Igreja».[48]
24. A expressão bíblica referida à
exclusiva mediação de Cristo é peremptória. Cristo é o único Mediador, «pois há
um só Deus, e um só mediador entre Deus e os homens, um homem: Cristo Jesus,
que se entregou a si mesmo como resgate por todos» (1 Tm 2, 5-6). A Igreja
explicou este lugar único de Cristo porque, sendo o Filho eterno e infinito, a
Ele está unida hipostaticamente a Humanidade que assumiu. Este lugar é
exclusivo dessa Humanidade e as consequências que derivam disso só podem aplicar-se
a Cristo. Neste sentido preciso, o papel do Verbo encarnado é exclusivo e
único. Diante de tal clareza da Palavra revelada, requer-se uma especial
prudência na aplicação do título “Medianeira” a Maria. Face à tendência de
ampliar os alcances da cooperação de Maria a partir deste termo, é conveniente
precisar tanto o seu valioso alcance quanto os seus limites.
25. Por um lado, não podemos ignorar que
existe um uso muito comum da palavra “mediação” nos mais diversos âmbitos da
vida social, onde é entendido simplesmente como cooperação, ajuda, intercessão.
Por consequência, é inevitável que se aplique a Maria no sentido subordinado e
de nenhum modo se pretenda acrescentar alguma eficácia, ou potência, à única
mediação de Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem.
26. Por outro lado, é evidente que houve um modo real de mediação
de Maria para tornar possível a verdadeira encarnação do Filho de Deus na nossa
humanidade, porque era requerido que o Redentor fosse «nascido de uma mulher»
(Gl 4, 4). O relato da Anunciação mostra que não se tratou de uma mediação unicamente
biológica, já que destaca a presença ativa de Maria perguntando (cf. Lc 1,
29.34) e aceitando com uma firme decisão: «Faça-se» (Lc 1, 38). Esta resposta
de Maria abriu as portas da Redenção que toda a humanidade esperava e que os
santos descreveram com poético dramatismo.[49] Também nas bodas de Caná, Maria
cumpriu uma função de mediadora quando apresentou a Jesus a necessidade dos
esposos (cf. Jo 2, 3) e quando pediu aos servidores que seguissem as indicações
de Jesus (cf. Jo 2, 5).
27. A terminologia da mediação no Concílio
Vaticano II aparece referida sobretudo a Cristo, mas, às vezes, também à Maria,
porém de maneira claramente subordinada[50]. Com efeito, para ela preferiu-se
usar outra terminologia centrada na cooperação[51] ou na ajuda maternal.[52] O
ensinamento do Concílio formula claramente a perspectiva da intercessão materna
de Maria, com expressões como «múltipla intercessão» e «proteção maternal».[53]
Estes dois aspectos unidos configuram a especificidade da cooperação de Maria
na ação de Cristo pelo Espírito. Em sentido estrito, não podemos falar de outra
mediação na graça que não seja a do Filho de Deus encarnado.[54] Por isso, é
necessário recordar sempre, e não obscurecer, a convicção cristã de que «deve
crer-se firmemente, como dado perene da fé da Igreja, a verdade de Jesus
Cristo, Filho de Deus, Senhor e único salvador, que no seu evento de
encarnação, morte e ressurreição realizou a história da salvação, a qual tem
n’Ele a sua plenitude e o seu centro».[55]
Maria na mediação única de Cristo
28. Ao mesmo tempo, necessitamos recordar
que a unicidade da mediação de Cristo é “inclusiva”, ou seja, Cristo
possibilita diversas formas de participação no cumprimento do seu projeto
salvífico porque, em comunhão com Ele, todos podemos ser, de alguma maneira,
cooperadores de Deus, “mediadores” uns para com os outros (cf. 1 Cor 3, 9).
Precisamente porque Cristo tem um poder infinitamente supremo, Ele pode
promover os seus irmãos e torná-los capazes de uma verdadeira cooperação na
realização dos seus desígnios. O Concílio Vaticano II sustentou que a «a
mediação única do Redentor não exclui, antes suscita nas criaturas cooperações
diversas, que participam dessa única fonte».[56] Por isso, «há que aprofundar o
conteúdo desta mediação participada, que deve ser todavia regulada pelo
princípio da única mediação de Cristo».[57] É verdade que a Igreja prolonga no
tempo e comunica, em todo o lado, os efeitos do acontecimento pascal de
Cristo[58] e que Maria tem um lugar único no coração da Igreja mãe.[59]
29. Se partimos desta convicção de que o
Senhor ressuscitado promove, transforma e capacita os crentes para colaborarem
com Ele na sua obra, a participação de Maria na obra de Cristo resulta
evidente. Isto não ocorre por uma debilidade, incapacidade ou necessidade de
Cristo mesmo, mas precisamente pelo seu poder glorioso, que é capaz de nos
assumir, generosa e gratuitamente, como colaboradores da sua obra. Aquilo que
deve ser destacado neste caso é, precisamente, o seguinte: que quando Ele nos
permite que o acompanhemos e, sob o impulso da sua graça, demos o melhor de nós
mesmos, é o seu próprio poder e a sua misericórdia que, por fim, são
glorificados.
Fecundos em Cristo glorioso
30. Particularmente iluminador é o texto:
«quem crê em mim também fará as obras que Eu realizo; e fará obras maiores do
que estas, porque Eu vou para o Pai» (Jo 14, 12). Os cristãos, unidos a Cristo
ressuscitado que voltou para o seio do Pai, podem realizar obras que superam os
prodígios do Jesus terreno, porém sempre graças à sua união pela fé com Cristo
glorioso. Foi o que se manifestou, por exemplo, na admirável expansão da Igreja
primitiva, porque o Ressuscitado fez a sua Igreja participante nesta sua obra
(cf. Mc 16, 15). Deste modo, a sua glória não foi diminuída, mas manifestou-se
ainda mais, ao mostrar-se com um poder capaz de transformar os cristãos,
tornando-os fecundos com Ele.
31. Nos Padres da Igreja esta ideia
encontrou uma peculiar expressão no comentário a Jo 7, 37-39, porque alguns
interpretaram a promessa dos «rios de água viva» como referida aos cristãos.
Isso significa que os próprios cristãos, transformados pela graça de Cristo,
convertem-se em mananciais para os demais. Orígenes explicava que o Senhor
cumpre o que anunciou em Jo 7, 38 porque fez brotar de nós correntes de água:
«a alma do ser humano, que é à imagem de Deus, pode conter em si e produzir a
partir de si poços, fontes e rios».[60] Santo Ambrósio recomendava beber do
lado aberto de Cristo «para que abunde em ti a fonte da água que jorra para a
vida eterna».[61] São Tomás de Aquino expressava-o afirmando que se um cristão
«se apressa em comunicar aos outros os diversos dons da graça que recebeu de
Deus, a água viva flui do seu seio».[62]
32. Se isto vale para cada cristão, cuja
cooperação com Cristo se torna cada vez mais fecunda quanto mais se deixa
transformar pela graça, com maior razão se deve afirmar de Maria, de um modo
único e supremo. Porque ela é a «cheia de graça» (Lc 1, 28) que, sem colocar
obstáculos à obra de Deus, disse: «Eis a serva do Senhor, faça-se em mim
segundo a tua palavra» (Lc 1, 38). Ela é a mãe que deu ao mundo o Autor da
Redenção e da graça, que se manteve firme junto à Cruz (cf. Jo 19, 25),
sofrendo com o Filho, oferecendo a dor do seu coração materno transpassado pela
espada (cf. Lc 2, 35). Ela esteve unida a Cristo desde a Encarnação até à Cruz
e à Ressurreição, de um modo exclusivo e superior a quanto poderia ocorrer com
qualquer fiel.
33. Tudo isto não por méritos próprios, mas
porque a ela se aplicaram plenamente, de forma peculiar e antecipada, os
méritos de Cristo na Cruz, para glória do único Senhor e Salvador.[63] Ela é,
por fim, um canto à eficácia da graça de Deus, de modo que qualquer reconhecimento
da sua beleza remete imediatamente à glorificação da fonte de todo bem: a
Trindade. A grandeza incomparável de Maria está no que ela recebeu e na sua
disponibilidade confiante a deixar-se preencher pelo Espírito. Quando nos
esforçamos em atribuir-lhe funções ativas, paralelas às de Cristo,
distanciamo-nos da beleza incomensurável que é especificamente sua. A expressão
“mediação participada” pode expressar um sentido preciso e precioso do lugar de
Maria, porém, se inadequadamente compreendida, poderia facilmente obscurecê-lo
e até contradizê-lo. A mediação de Cristo, que sob alguns aspectos pode ser
“inclusiva” ou participada, sob outros aspectos é exclusiva e incomunicável.
Mãe dos fiéis
34. No caso de Maria, esta mediação realiza-se de forma
maternal,[64] tal como fez em Caná[65] e como se confirmou na Cruz.[66] Assim
explicava o Papa Francisco: «Ela é Mãe. E este é o título que ela recebeu de
Jesus, ali mesmo, no momento da Cruz (cf. Jo 19, 26-27). Os teus filhos, tu és
mãe. [...] Recebeu o dom de ser sua Mãe e o dever de nos acompanhar como Mãe,
de ser nossa Mãe».[67]
35. O título de Mãe tem as suas raízes na
Sagrada Escritura e nos Santos Padres; é proposto pelo Magistério e a
formulação do seu conteúdo teve um progresso até à exposição do Concílio
Vaticano II[68] e à expressão maternidade espiritual na encíclica Redemptoris
Mater.[69] A maternidade espiritual de Maria brota da sua maternidade física do
Filho de Deus. Gerando fisicamente a Cristo, a partir da aceitação livre e fiel
desta missão, a Virgem gerou na fé todos os cristãos que são membros do Corpo
Místico de Cristo, ou seja, gerou o Cristo total, cabeça e membros.[70]
36. A participação da Virgem Maria, como
Mãe, na vida de seu Filho, desde a Encarnação até à Cruz e à Ressureição, dá um
caráter único e singular à sua cooperação na obra redentora de Cristo, de
maneira especial para a Igreja, «quando considera a maternidade espiritual de
Maria para com todos os membros do Corpo Místico; em invocação confiante,
quando experimenta a necessidade de intercessão da sua advogada e
auxiliadora».[71] Este aspecto materno é o que caracteriza a relação da Virgem
com Cristo e sua colaboração em todos os momentos da obra da Salvação. Na sua
missão como Mãe, Maria tem uma relação singular com o Redentor e, também, com
os que foram redimidos, dos quais ela mesma é a primeira. Maria é typos
(modelo) da Igreja e do novo nascimento que acontece nela, porém ainda mais,
Maria é símbolo e «síntese da mesma Igreja».[72] É uma maternidade que nasce do
dom total de si e da chamada a converter-se em servidora do mistério.[73] Na
maternidade de Maria sintetiza-se tudo o que podemos dizer sobre a maternidade
segundo a graça e sobre o lugar atual de Maria na Igreja inteira.
37. A maternidade espiritual de Maria possui
algumas características determinadas:
a) Encontra o seu fundamento na realidade
de ser Mãe de Deus e prolonga-se na maternidade para com os discípulos de
Cristo[74] e ainda com todos os seres humanos.[75] Neste sentido, a cooperação
de Maria é singular e distingue-se das cooperações «das outras criaturas».[76]
A sua intercessão tem uma característica que não é de uma mediação sacerdotal,
como aquela de Cristo, mas que se situa na ordem e na analogia da
maternidade.[77] Associando Maria à sua obra, os dons que nos chegam do Senhor
apresentam-se a nós com um aspecto materno, cheios da ternura e da proximidade
da Mãe[78] que Jesus quis partilhar conosco (cf. Jo 19, 27).
b) A cooperação materna de Maria é em
Cristo e, portanto, participada, ou seja, «comoparticipação nesta única fonte,
que é a mediação do próprio Cristo».[79] Maria entra de uma maneira peculiar na
única mediação de Cristo.[80] A função materna de Maria «de modo algum ofusca
ou diminui esta única mediação de Cristo; manifesta antes a sua eficácia. Com
efeito, todo o influxo salvador da Virgem Santíssima sobre os homens» brota da
«abundância dos méritos de Cristo, funda-se na Sua mediação e dela depende
inteiramente, haurindo aí toda a sua eficácia».[81] Na sua maternidade, Maria
não é um obstáculo interposto entre os seres humanos e Cristo; pelo contrário,
a sua função materna está indissoluvelmente unida à de Cristo e orientada a
Ele. Assim entendida, a maternidade de Maria não pretende debilitar a única
adoração que se deve somente a Cristo, mas estimulá-la.[82] Por isso, devem-se evitar
os títulos e expressões referidas a Maria que a apresentem como uma espécie de
“para-raios” diante da justiça do Senhor, como se Maria fosse uma alternativa
necessária diante da insuficiente misericórdia de Deus. O Concílio Vaticano II
reafirmou como deveria ser o culto dado a Maria: «um culto orientado ao centro
cristológico da fé cristã, de forma que, “honrando a Mãe, melhor se conheça,
ame e glorifique o Filho”».[83] Com efeito, a maternidade de Maria está
subordinada[84] à eleição por parte do Pai, à obra do Filho e à ação do
Espírito Santo.
c) A Igreja não é somente um ponto de
referência para a maternidade espiritual de Maria, mas é, precisamente, na
dimensão sacramental da Igreja que se desenvolve sempre a sua função
materna.[85] Maria atua com a Igreja, na Igreja e para a Igreja. O exercício da
sua maternidade encontra-se na comunhão eclesial, e não fora dela; conduz à
Igreja e acompanha-a. A Igreja aprende de Maria a própria maternidade:[86] no
acolhimento da Palavra de Deus que evangeliza, converte e anuncia Cristo; no
dom da vida sacramental do Batismo e da Eucaristia; e na educação e formação
maternal que ajuda no nascimento e crescimento dos filhos de Deus.[87] Por
isso, pode dizer-se que «afecundidade da Igreja é a mesma fecundidade de Maria;
e realiza-se na existência dos seus membros na medida em que eles revivem, em
menor dimensão, o que a Mãe viveu, isto é, amam segundo o amor de Jesus».[88]
Do mesmo modo que a Igreja, Maria, como Mãe, espera que Cristo seja gerado em
nós[89], sem ocupar o lugar d’Ele. Por isso, «graças à imensa fonte que brota
do lado aberto de Cristo, a Igreja, Maria e todos os fiéis, de diferentes
maneiras, tornam-se canais de água viva. Deste modo, o próprio Cristo revela a
sua glória na nossa pequenez».[90]
Intercessão
38. Maria está unida a Cristo de modo
único, por causa da sua maternidade e por ser cheia de graça. Isto percebe-se
na saudação do anjo (cf. Lc 1, 28), que utiliza uma palavra (kecharitōmenē) que
é única e exclusiva em toda a Bíblia. Ela, que acolheu no seu ventre a força do
Espírito Santo e foi Mãe de Deus, torna-se, por esse mesmo Espírito, Mãe da
Igreja.[91] Por essa peculiar união de maternidade e graça, a sua oração por
nós tem um valor e uma eficácia que não se podem comparar com qualquer outra intercessão.
São João Paulo II relacionava o título de “medianeira” com esta função de
intercessão materna, porque ela «põe-se de “permeio”, isto é, faz de mediadora,
não como uma estranha, mas na sua posição de mãe, consciente de que como tal
pode ― ou antes, “tem o direito de” ― fazer presente ao Filho as necessidades
dos homens».[92]
39. A fé católica lê nas Escrituras que
aqueles que estão junto a Deus no céu podem continuar a realizar semelhantes
atos de amor, intercedendo por nós e acompanhando-nos. Vemos, por exemplo, que
os anjos são «espíritos encarregados de um ministério, enviados ao serviço
daqueles que hão de herdar a salvação» (Heb 1, 14). Fala-se de missões
realizadas por anjos (cf. Tb 5, 4; 12, 12; Act 12, 7-11; Ap 8, 3-5). Havia
anjos a auxiliar Jesus no deserto das tentações (cf. Mt 4, 11) e durante a
paixão (cf. Lc 22, 43). Num dos Salmos, é-nos prometido que «Ele deu ordens aos
seus anjos, para que te guardem em todos os teus caminhos» (Sl 91, 11).
40. Estes textos indicam-nos que o céu não
está completamente separado da terra. O que abre a possibilidade de que
intercedam por nós os que já estão no céu. O livro de Zacarias nos apresenta um
anjo de Deus que diz: «Senhor do universo, até quando tardarás a compadecer-te
de Jerusalém e das cidades de Judá, às quais fazes sentir a tua cólera, desde
há setenta anos?» (Zc 1, 12). De modo análogo, o Apocalipse fala-nos dos
“imolados”, dos mártires no céu, que intervêm pedindo a Deus que atue na terra
para nos libertar das injustiças: «vi debaixo do altar as almas dos que tinham
sido mortos, por causa da Palavra de Deus e por causa do testemunho que deram.
E clamavam em alta voz: “Tu, que és o Poderoso, o Santo, o Verdadeiro! Até
quando esperarás para julgar e tirar vingança do nosso sangue sobre os habitantes
da terra?”» (Ap 6, 9-10). Já na tradição judaico-helenística aparecia a
convicção que os justos falecidos intercedem pelo povo (cf. 2 Mac 15, 12-14).
41. Maria, que no céu ama o «resto da sua
descendência» (Ap 12, 17), assim como acompanhava a oração dos apóstolos,
quando receberam o Espírito (cf. Act 1, 14), também, agora, acompanha as nossas
súplicas com a sua intercessão materna. Deste modo, continua a atitude de
serviço e compaixão que mostrava nas bodas de Caná (cf. Jo 2, 1-11) e ainda hoje
se dirige a Jesus, dizendo-lhe: «Não têm vinho» (Jo 2, 3). No seu canto de
louvor, vemos Maria como uma mulher do seu povo, que louva Deus porque «exaltou
os humildes [e] aos famintos encheu de bens» (Lc 1, 52-53), porque «acolheu a
Israel, seu servo, lembrado da sua misericórdia, como tinha prometido a nossos
pais» (Lc 1, 54-55), e reconhecemos a sua prontidão quando se aproxima sem
demora para ajudar a sua prima Isabel (cf. Lc 1, 39-40). Por isso, o Povo de
Deus confia firmemente na sua intercessão.
42. Entre os eleitos e glorificados
junto a Cristo está, em primeiro lugar, a Mãe. Por isso podemos afirmar que
existe uma colaboração singular de Maria na obra salvífica que Cristo realiza
na sua Igreja. Trata-se de uma intercessão que a converte em sinal materno da
misericórdia do Senhor. Desta maneira, porque Ele assim quis livremente, o
Senhor outorga à sua própria ação em nosso favor um rosto materno.[93]
Proximidade materna
43. A presença das diversas invocações, das
imagens e dos santuários marianos manifestam a maternidade real de Maria que se
faz próxima à vida dos seus filhos. Exemplo disso é a manifestação da Mãe ao
índio São Juan Diego no monte de Tepeyac. Maria chama-o com as ternas palavras
de uma mãe: «Meu filho, o menor, Juanito». E, diante das dificuldades que São
Juan Diego lhe manifesta para levar a termo a missão encomendada, Maria revela
a força da sua maternidade: «Não estou aqui, a que tenho a honra e a felicidade
de ser tua mãe? [...] Não estás na prega do meu manto, na dobra dos meus braços?»[94].
44. A experiência do afeto maternal de
Maria que viveu São Juan Diego, é a experiência pessoal dos cristãos que
recebem o afeto de Maria e que colocam em suas mãos «as necessidades da vida
quotidiana, abrindo confiantes o seu coração para pedirem a sua intercessão
materna e obterem a sua alentadora proteção».[95] Além das manifestações
extraordinárias da sua proximidade, existem constantes expressões quotidianas
da sua maternidade na vida de todos os seus filhos. Ainda que não peçamos a sua
intercessão, ela mostra-se próxima como Mãe, para nos ajudar a reconhecer o
amor do Pai, a contemplar a entrega salvadora de Cristo, a acolher a ação
santificadora do Espírito. É tão grande o seu valor para a Igreja que os
pastores devem evitar qualquer instrumentalização política desta proximidade da
Mãe. O Papa Francisco advertiu, em diversas ocasiões, e mostrou a sua
preocupação pelas «propostas ideológicas e culturais de todos os géneros que
querem apropriar-se do encontro de um povo com a sua Mãe».[96]
Mãe da graça
45. Este sentido de “Mãe dos fiéis” permite falar de uma ação de Maria também em relação à nossa vida da graça.
No entanto, convém advertir que certas expressões, que podem ser teologicamente aceitáveis, com facilidade estão carregadas dum imaginário e simbolismo que transmitem, efetivamente, outros conteúdos menos aceitáveis. Por exemplo, apresenta-se Maria como se ela tivesse um depósito de graça separado de Deus; então, não se percebe de modo tão claro que o Senhor, em sua generosa e livre omnipotência, quis associá-la à comunicação dessa vida divina que brota de um único centro que é o Coração de Cristo, não Maria.[97] É frequente também que ela seja apresentada ou imaginada como uma fonte da qual emana toda graça.
Se se tem em conta que a inabitação trinitária (graça incriada) e a participação da vida divina (graça criada) são inseparáveis, não podemos pensar que este mistério pode estar condicionado a uma “passagem” através das mãos de Maria.
Imaginários deste tipo enaltecem a
Maria de tal modo que a centralidade do mesmo Cristo pode desaparecer ou, pelo
menos, ser condicionada. O Cardeal Ratzinger expressou que o título de Maria
medianeira de todas as graças não era claramente fundado na Revelação,[98] e em
sintonia com essa convicção podemos reconhecer as dificuldades que este título
implica tanto na reflexão teológica como na espiritualidade.
46. Para evitar estas dificuldades, a
maternidade de Maria na ordem da graça deve entender-se como dispositiva. Por
um lado, pelo seu caráter de intercessão,[99] já que a intercessão maternal é
expressão dessa «ajuda materna»[100] que permite reconhecer em Cristo o único
Mediador entre Deus e os homens. Por outro lado, a sua presença materna nas
nossas vidas não exclui diversas ações de Maria que motivam a abertura dos
nossos corações à ação de Cristo no Espírito Santo. Assim, de diversas
maneiras, nos ajuda a dispormo-nos à vida da graça que somente o Senhor pode
infundir em nós.
47. A nossa salvação é obra somente da graça salvadora de Cristo e de nenhum outro. Santo Agostinho afirmava que «este reino da morte é destruído em cada ser humano apenas pela graça do Salvador»[101] e explicava-o claramente com a redenção do homem injusto: «Quem gostaria de morrer por um injusto, por um ímpio, por um iníquo, exceto somente Cristo que por ser tão justo aos injustos quis justificar? Portanto, meus irmãos, não tivemos obra meritória, mas apenas deméritos. Porém, ainda que tais eram as obras dos homens, sua misericórdia não os abandonou e [...] no lugar do castigo devido, outorgou-lhes a graça que não mereciam [...] para resgatar-nos, não a preço nem de ouro nem de prata, mas a preço do seu sangue derramado».[102]
Por isso, quando São Tomás de Aquino se pergunta se alguém
pode merecer por outro, responde que «ninguém, salvo Cristo, pode merecer para
outrem a primeira graça».[103] Nenhum outro ser humano pode merecê-la em
sentido estrito (de condigno), e neste ponto não existe nenhuma dúvida: «embora
ninguém possa ser justo senão pela comunicação dos méritos da paixão de nosso
Senhor Jesus Cristo».[104] Também a plenitude de graça de Maria existe porque
ela a recebeu gratuitamente, antes de qualquer ação sua, «em vista dos méritos
de Jesus Cristo, Salvador do gênero humano».[105] Somente os méritos de Jesus
Cristo, entregue até o fim, são os que se aplicam à nossa justificação, pois
«maior obra é a justificação do ímpio, que termina pelo bem eterno da
participação divina, do que a criação do céu e da terra».[106]
48. No entanto, um ser humano pode
participar com seu desejo do bem do irmão e é razoável (congruo) que Deus
atenda esse desejo de caridade que a pessoa expressa «orando» ou «pelas
próprias obras de misericórdia».[107] É verdade que este dom da graça pode ser
derramado apenas por Deus, já que excede «à capacidade da nossa natureza»[108]
e que existe uma distância infinita[109] entre a nossa natureza e a sua vida
divina. Todavia, pode fazê-lo cumprindo o desejo da Mãe, que deste modo se
associa alegremente à obra divina como humilde serva.
49. Como em Caná, Maria não diz a Cristo o
que tem de fazer. Ela intercede manifestando a Cristo as nossas carências e
necessidades, e os nossos sofrimentos, para que Ele atue com seu poder
divino:[110] «Não têm vinho» (Jo 2, 3). Também hoje ela nos ajuda a
dispormo-nos à ação de Deus:[111] «Fazei o que Ele vos disser» (Jo 2, 5). As
suas palavras não são uma simples indicação, mas convertem-se numa verdadeira
pedagogia materna que introduz a pessoa, sob a ação do Espírito, no sentido
profundo do mistério de Cristo.[112] Maria escuta, decide e atua[113] para nos
ajudar a abrir a existência a Cristo e à sua graça,[114] porque Ele é o único
que opera no mais íntimo do nosso ser.
Lá onde só Deus pode chegar
50. Como nos recorda o Catecismo, a graça santificante é «antes de tudo e principalmente, o dom do Espírito que nos justifica e nos santifica».[115] Não é simplesmente uma ajuda, uma energia que se possui, mas «é o dom gratuito que Deus nos faz de sua vida infundida pelo Espírito Santo na nossa alma»[116] que pode ser descrito como inabitação da Trindade no mais íntimo, como amizade com Deus, como aliança com o Senhor. Exclusivamente Deus pode fazê-lo, porque implica superar uma desproporção «infinita».[117] Esta doação de si da Trindade, este «penetrar na alma»[118] (illabitur) por parte de Deus mesmo, implica um efeito de transformação inerente no mais íntimo do cristão[119]. São Tomás de Aquino, para esta penetração no íntimo do ser humano, utilizava este verbo que somente poderia aplicar-se a Deus, illabi, já que apenas Deus, não sendo uma criatura, pode chegar a essa intimidade pessoal sem violentar a liberdade e a identidade da pessoa.[120]
Somente Deus chega ao mais íntimo da
pessoa para realizar a sua elevação e transformação quando se entrega como
amigo e, por isso, «nenhuma criatura pode conferir a graça».[121] São Tomás
repete ao falar da graça sacramental: enquanto causa principal «só Deus causa o
efeito interior do sacramento. Quer porque só Deus penetra na alma, no que
recebe o efeito do sacramento, e não pode nenhum agente obrar imediatamente
onde não está. Quer também porque a graça, efeito interior do sacramento, vem
só de Deus».[122]
51. Outros autores expressaram-se em modo semelhante,[123] entre os quais destaca-se São Boaventura. Ele ensinava que quando Deus opera com a graça santificante num ser humano, torna-o absolutamente imediato a Ele.[124] Deus, por graça, faz-se plenamente próximo ao ser humano, com uma absoluta imediatez, com um “entranhar-se” no íntimo do ser humano que somente Ele pode realizar.[125]
A mesma graça criada, então, não
opera como um “intermediário”, mas é um efeito direto da amizade que Deus
presenteia tocando diretamente o coração humano. E assim, sendo Deus quem
realiza a transformação da pessoa quando se entrega como amigo, não existe meio
algum entre Deus e o ser humano transformado.[126] Somente Deus é capaz de
penetrar assim, tão profundo, para santificar, até fazer-se absolutamente
imediato, e apenas Ele pode fazê-lo sem anular a pessoa.[127]
52. Na Encarnação, o Filho eterno e natural
de Deus[128] assume uma natureza humana que ocupa um lugar único na economia da
salvação. Hipostaticamente unida ao Filho por uma graça que «é sem dúvida
alguma infinita»,[129] essa Humanidade «recebeu a graça segundo uma eminência
máxima. Por isso, pela eminência da graça que recebeu, compete-lhe [competit
sibi] distribuir essa graça aos outros, o que pertence à razão de cabeça».[130]
Essa Humanidade participa na efusão da graça santificante, que dela transborda
ou «abunda»[131]. Em consequência, «segundo sua humanidade, é princípio de toda
graça» como Cabeça desde a qual esta chega aos demais («in alios
transfunderetur»).[132] Essa natureza humana é inseparável da nossa salvação,
já que «com a encarnação, todas as ações salvíficas do Verbo de Deus fazem-se
sempre em unidade com a natureza humana, que Ele assumiu para a salvação de
todos os homens».[133] Através da natureza humana assumida, o Filho de Deus
«uniu-se de certo modo a cada homem» e «mereceu-nos a vida com a livre efusão
do seu sangue».[134] Pela graça, os fiéis se unem a Cristo e participam em seu
mistério pascal, de modo que podem viver uma união íntima e única com Ele que
São Paulo expressava com estas palavras: «já não sou eu que vivo, mas é Cristo
que vive em mim» (Gl 2, 20).
53. Nenhuma pessoa humana, nem sequer os
apóstolos ou a Santíssima Virgem, pode atuar como dispensadora universal da
graça. Apenas Deus pode conceder a graça[135] e fá-lo por meio da humanidade de
Cristo,[136] já que «a plenitude da graça de Cristo homem ele a tem como
unigênito do Pai».[137] Ainda que a Santíssima Virgem Maria seja
preeminentemente “cheia de graça” e “Mãe de Deus”, ela, como nós é filha
adotiva do Pai e também, como escreve o poeta Dante Alighieri, «filha do teu
Filho».[138] Ela coopera na economia da salvação por uma participação derivada
e subordinada; portanto, qualquer linguagem sobre sua “mediação” na graça deve
entender-se em analogia remota com Cristo e sua mediação única».[139]
54. Na perfeita imediatez entre um ser
humano e Deus na comunicação da graça, nem mesmo Maria pode intervir. Nem a
amizade com Jesus Cristo, nem a inabitação trinitária podem conceber-se como
algo que nos chega através de Maria ou dos santos. Em todo caso, o que podemos
dizer é que Maria deseja esse bem para nós e pede-o conosco. A liturgia, que é
também lex credendi, permite-nos reafirmar esta cooperação de Maria, não na
comunicação da graça, mas na intercessão materna. Com efeito, na liturgia da
Solenidade da Imaculada Conceição, quando se explica em que sentido o
privilégio concedido a Maria foi dado em vista do bem do Povo, afirma-se que
foi disposta como «advogada de graça»,[140] ou seja, que intercede pedindo para
nós o dom da graça.
55. Como ensina o Concílio Vaticano II, «o
influxo salvador da Virgem Santíssima sobre os homens [...] de modo nenhum
impede a união imediata dos fiéis com Cristo, antes a favorece».[141] Por este
motivo, se deve evitar qualquer descrição que faça pensar, de um modo
neoplatónico, em uma espécie de derramamento da graça por etapas, como se a
graça de Deus descesse, através de distintos intermediários – como Maria –,
enquanto sua fonte última (Deus) permanecesse desconectada do nosso coração.
Estas interpretações afetam negativamente a adequada compreensão do encontro
íntimo, direto e imediato que a graça realiza entre o Senhor e o coração do
fiel.[142] O certo é que somente Deus justifica.[143] Só o Deus Trindade.
Somente Ele nos eleva para superar a desproporção infinita que nos separa da
vida divina, só Ele atua em nós sua inabitação trinitária, só Ele penetra em
nós e nos faz participar da sua vida divina. Não se honra Maria atribuindo-lhe
alguma mediação na realização desta obra exclusivamente divina.
Água viva que jorra
56. Não obstante isto, dado que Maria está
cheia de graça, e que o bem tende sempre a comunicar-se, facilmente aparece a
ideia de uma espécie de “transbordamento” da graça que tem Maria, que só poderá
ter um sentido adequado se não contradisser quanto foi dito até agora. Não
apresentará dificuldade se se tratar, antes de tudo, das formas de cooperação
que já mencionamos (intercessão, proximidade materna que convida a abrir o
coração para a graça santificante) e que o Concílio Vaticano II apresentou como
uma cooperação variada por parte das criaturas «que participam dessa única
fonte».[144]
57. O caráter fundamentalmente dispositivo
da cooperação dos fiéis – principalmente de Maria – na comunicação da graça,
aparece plasmado na interpretação tradicional dos “rios de água viva” que
brotam do coração deles (cf. Jo 7, 38). Embora seja uma imagem potente, que se
poderia interpretar como se os fiéis fossem canais de uma transmissão perfeita
da graça santificante, contudo, os Padres da Igreja, na hora de concretizar
como se realiza esta efusão dos rios do Espírito, plasmaram-no em ações de tipo
dispositivo. Por exemplo, a oração, o ensinamento e outras formas de
transmissão do dom da Palavra revelada.
58. Orígenes aplica-o à ciência das
Escrituras ou à percepção de seus sentidos espirituais.[145] Para São Cirilo de
Alexandria este transbordamento de águas é o ensinamento dos mistérios da
fé,[146] a “pura mistagogia” no sentido profundo, que não é meramente
intelectual, mas disposição ou preparação de toda a pessoa.[147] São Cirilo de
Jerusalém sustenta que é o ensinamento da Escritura quando leva à luz.[148] São
João Crisóstomo refere-se à sabedoria de Estevão ou à autoridade da palavra de
Pedro.[149] Santo Ambrósio afirma: «estes são os rios que ouvem a Palavra de
Deus e falam, para infundir a palavra nos corações dos indivíduos»,[150] e
aplica-o desta maneira: «que a água da doutrina celestial flua [...] que a
seiva da palavra do Senhor aspirja»[151] o coração de cada um.[152] Também para
São Jerónimo a água é ensinamento do Salvador,[153] como para São Gregório
Magno, que ensina ser «uma vontade piedosa para com o próximo».[154] Estas
interpretações dos rios de água viva que derramam os cristãos concentram-se no
conhecimento das Escrituras e seus mistérios, e não se referem, em geral, a um
conhecimento meramente intelectual, mas sapiencial e de iluminação do coração
para se abrir à realidade mesma dos Mistérios.
59. Em distintos Padres e Doutores da Igreja
encontramos, também, uma explicação mais ampla, onde se integram, para além da
pregação ou da catequese, as obras que oferecem ajuda ao próximo em suas
necessidades, ou um testemunho de amor. Assim, Santo Hilário entende os rios de
água viva como as obras do Espírito Santo através das virtudes que atuam para
benefício do próximo.[155] Santo Agostinho aplica a imagem à «benevolência, com
a qual se deseja ajudar o próximo».[156] Na Idade Média continua-se esta
perspectiva que chega até São Tomás de Aquino, para quem os rios de água viva
se manifestam porque quando alguém «se apressa a aconselhar o próximo e
comunica aos outros diversos dons da graça, de seu seio jorram águas
vivas».[157]
60. Quando
São Tomás fala dos «diversos dons da graça» para o serviço do próximo,
refere-se aos diversos dons carismáticos, porque «como se diz (1 Cor 12, 10), a
um se dá o dom das línguas, a outro o de curas, etc.».[158] Este aspecto também
está presente em São Cirilo de Jerusalém: ele indica que os rios de água do
Espírito, que se comunicam através dos cristãos, são manifestados quando Este
«se serve da língua de uns para o carisma da sabedoria; ilumina a mente de
outros com o dom da profecia; concede a alguém o poder de expulsar os demónios
[...]. [O Espírito] fortalece, em alguns, a temperança; em outros, a
misericórdia; ensina a alguém a prática do jejum e da vida ascética».[159]
61. Algo semelhante podemos dizer com
relação à interpretação de Jo 14, 12, referido aos fiéis que realizam “obras
maiores” (meizona) que as do Cristo terreno. Os fiéis participam da obra de
Cristo enquanto eles também, de algum modo, estimulam a fé de outros com o
anúncio da Palavra. Assim se diz explicitamente em Jo 17, 20b: «aqueles que hão
de crer em mim, por meio da sua palavra». O mesmo se sugere em Jo 14, 6-11,
onde as obras de Cristo são as que manifestam o Pai (v. 8). As obras dos fiéis,
concentradas no anúncio do Evangelho pela palavra, colocam-se em paralelismo
com as obras de Cristo. Jesus anuncia: «se cumpriram a minha palavra, também
hão de cumprir a vossa» (Jo 15, 20c). E assim como quem escuta a palavra de
Cristo tem a vida eterna (cf. Jo 5, 24), Jesus anuncia que outros crerão
através da palavra dos que creem (cf. Jo 17, 20). Todavia, isto implica não
apenas as palavras, mas também o testemunho eloquente dos cristãos e, por isso,
Jesus pede ao Pai que os cristãos estejam unidos para que «o mundo creia» (Jo
17, 21).
Amor que se comunica no mundo
62. O Evangelho de João une estreitamente a
caridade fraterna a esta comunicação do bem. Com efeito, a afirmação «se me
tendes amor, cumprireis os meus mandamentos» (Jo 14, 15), é paralela àquela
outra: «quem crê em mim também fará as obras que Eu realizo» (Jo 14, 12).
Quando Cristo fala do fruto que espera dos seus discípulos, termina identificando-o
com o amor fraterno (cf. Jo 15, 16-17). Também São Paulo, depois de falar sobre
as obras extraordinárias que podem realizar os fiéis (cf. 1 Cor 12), propõe um
caminho mais excelente quando diz «Aspirai, porém, aos melhores dons (ta
meizona). Aliás, vou mostrar-vos um caminho que ultrapassa (kath’hyperbolēn)
todos os outros»: o amor (1 Cor 12, 31; cf. 13, 1). As obras de amor ao
próximo, também o trabalho quotidiano ou o empenho por mudar este mundo,
convertem-se então num canal de cooperação com a obra salvífica de Cristo.
63. Neste sentido se expressaram também os
últimos Pontífices. São João XXIII ensinava que «todo o trabalho e todas as
atividades, mesmo as de caráter temporal, que se exercem em união com Jesus,
divino Redentor, se tornam um prolongamento do trabalho de Jesus e d’Ele
recebem virtude redentora [...] para estender e difundir aos outros os frutos
da Redenção».[160] São João Paulo II entendia esta colaboração como
reconstrução, junto com Cristo, do bem que foi danificado no mundo por causa do
pecado, porque «o Coração de Cristo quis precisar da nossa colaboração para
reconstruir a bondade e a beleza», e «é esta a verdadeira reparação pedida pelo
Coração do Salvador»[161]. O Papa Bento XVI sustentava que sendo «destinatários
do amor de Deus, os homens são constituídos sujeitos de caridade, chamados a
fazerem-se eles mesmos instrumentos da graça, para difundir a caridade de Deus
e tecer redes de caridade. A esta dinâmica de caridade recebida e dada,
propõe-se dar resposta a doutrina social da Igreja».[162] E o Papa Francisco
ensinou que, para Santa Terezinha do Menino Jesus, «não se trata apenas de
deixar que o Coração de Cristo difunda a beleza do seu amor no nosso coração,
através de uma confiança total, mas também que, através da própria vida, chegue
aos outros e transforme o mundo [...] isto acontece se o nosso amor [...] se
transforma em atos de amor fraterno com os quais curamos as feridas da Igreja e
do mundo. Deste modo, oferecemos novas expressões da força restauradora do Coração
de Cristo».[163]
64. Esta é a cooperação possibilitada por
Cristo e suscitada pela ação do Espírito que, no caso de Maria, distingue-se da
cooperação de qualquer outro ser humano pelo caráter materno que Cristo mesmo,
na Cruz, lhe atribuiu.
Critérios
65. Qualquer outro modo de compreender esta
cooperação de Maria na ordem da graça, especialmente se se pretende
atribuir-lhe alguma forma de intervenção ou de instrumentalidade perfectiva ou
de causa secundária na comunicação da graça santificante,[164] deveria prestar
especial atenção a alguns critérios já indicados na Constituição dogmática
Lumen gentium:
a) Devemos refletir sobre o modo como Maria
pode favorecer a nossa união «imediata»[165] com o Senhor, que Ele mesmo
realiza ao conferir a graça que só de Deus podemos receber,[166] sem entender,
porém, a união com Maria como mais imediata do que aquela com Cristo. Este
risco está presente, sobretudo, na ideia de que Cristo nos entrega Maria como
um instrumento ou causa secundária perfectiva na comunicação de sua graça.
b) O Concílio Vaticano II sublinhou que
«todo o influxo salvador da Virgem Santíssima sobre os homens se deve ao
beneplácito divino e não a qualquer necessidade».[167] Este influxo pode
pensar-se apenas a partir da livre decisão de Deus que, apesar da sua própria
ação ser transbordante e superabundante, quer associar – livre e gratuitamente
– Maria à sua obra. Por isso, não é lícito apresentar a ação de Maria como se
Ele necessitasse dessa ação para operar a Salvação.
c) Devemos entender a mediação de Maria não
como um complemento, para que Deus possa operar plenamente, com maior riqueza e
beleza, mas «de maneira que nada tire nem acrescente à dignidade e eficácia do
único mediador, que é Cristo».[168] Ao explicar a mediação de Maria, deve
ressaltar-se que Deus é o único Salvador que aplica de modo exclusivo os
méritos de Jesus Cristo, os únicos necessários e completamente suficientes para
a nossa justificação. Maria não substitui o Senhor em algo que ele não faça
(não subtrai nem acrescenta). Se, na comunicação da graça, ela não acrescenta
nada à mediação salvífica de Cristo, não deve pensar-se em Maria como
instrumento primário dessa doação.[169] Se ela acompanha uma ação de Cristo,
por obra do mesmo Cristo, de modo nenhum isto deve ser entendido como uma ação
paralela. Ou melhor, sendo associada a Ele, é Maria que recebe do seu Filho um
presente que a situa mais além de si mesma, porque é-lhe concedido acompanhar a
obra do Senhor com seu caráter materno. Voltemos então ao ponto mais seguro: a
contribuição dispositiva de Maria, a partir da qual pode pensar-se numa ação em
que ela contribua com algo próprio, na medida em que «pode dispor de algum
modo»[170] aos outros. Porque «pertence à potência suprema conduzir ao fim
último, enquanto as potências inferiores ajudam à consecução deste fim
dispondo».[171]
66. Tudo o que foi dito anteriormente não
ofende ou humilha Maria, porque todo o seu ser reporta ao seu Senhor. «A minha
alma glorifica o Senhor» (Lc 1, 46). Para ela não existe outra glória que a de
Deus. Sendo Mãe, duplica a sua alegria vendo como Cristo manifesta a beleza
inesgotável e superabundante de sua glória curando, transformando e enchendo de
si o coração desses filhos, que ela acompanhou no seu caminho até ao Senhor.
Portanto, um olhar dirigido a ela que nos distraia de Cristo, ou a coloque no
mesmo nível do Filho de Deus, ficaria fora da dinâmica própria de uma fé
autenticamente mariana.
As graças
67. Alguns títulos, como por exemplo o de "Medianeira de todas as graças", tem limites que não facilitam a correta
compreensão do lugar único de Maria. Com efeito, ela, a primeira redimida, não
pode ter sido medianeira da graça que ela mesma recebeu. Este não é um pormenor
de pequena importância, porque manifesta algo central: que também nela o dom da
graça a precede, procedendo da iniciativa absolutamente gratuita da Trindade,
em atenção aos méritos de Cristo. Ela, como todos nós, não mereceu a sua
justificação por alguma ação sua precedente,[172] porém nem mesmo por uma ação
posterior.[173] Também para Maria, a sua amizade com Deus pela graça será
sempre gratuita. A sua figura preciosa é testemunha suprema da receptividade
fiel de quem, mais e melhor do que qualquer outro, se abriu com docilidade e
plena confiança à obra de Cristo e, ao mesmo tempo, é o melhor sinal do poder
transformador dessa graça.
68. Por outro lado, o título antes
mencionado corre o perigo de ver a graça divina como se Maria se convertesse em
uma distribuidora dos bens ou energias espirituais em desconexão com a nossa
relação pessoal com Jesus Cristo. Contudo, a expressão “graças”, referida à
materna ajuda de Maria, em distintos momentos da vida, pode ter um sentido
aceitável. O plural expressa todos os auxílios, também materiais, que o Senhor
pode dar-nos escutando as intercessões da Mãe; auxílios que, por sua vez,
dispõem os corações para se abrirem ao amor de Deus. Deste modo, Maria, como
mãe, tem uma presença na vida quotidiana dos fiéis muito superior à proximidade
que possa ter qualquer outro santo.
69. Ela, com a sua intercessão, pode
implorar para nós os impulsos internos do Espírito Santo que chamamos “graças
atuais”. Trata-se daqueles auxílios do Espírito Santo que operam também nos
pecadores para os dispor à justificação,[174] e também nos já justificados pela
graça santificante, para os estimular ao crescimento. Neste sentido preciso,
deve interpretar-se o título de “Mãe da graça”. Ela humildemente colabora para
que abramos o coração ao Senhor, que é o único que pode justificar-nos com a
ação da graça santificante, ou seja, quando Ele derrama em nós a sua vida
trinitária, habita em nós como amigo e nos faz partícipes da sua vida divina.
Isto é exclusivamente obra do mesmo Senhor, porém não exclui que, através da
ação materna de Maria, possam chegar aos fiéis aquelas palavras, imagens e
estímulos diversos que os ajudem a seguir adiante na vida, a dispor o coração à
graça que o Senhor infunde ou a crescer na vida da graça, recebida
gratuitamente.
70. Estas ajudas chegam até nós do Senhor e
nos são apresentadas com um aspecto materno, cheias da ternura e da proximidade
da Mãe que Jesus quis compartilhar conosco (cf. Jo 19, 25-28). Maria desempenha
assim uma ação singular para nos ajudar a abrir o coração a Cristo e à sua
graça santificante que eleva e cura. Quando ela se comunica fazendo chegar
diversas “moções”, estas devem ser entendidas sempre como estímulos para abrir
nossas vidas ao Único que opera no mais íntimo do nosso ser.
A nossa união com Maria
71. O Concílio preferiu chamar Maria «mãe
na ordem da graça»,[175] que expressa melhor a universalidade da cooperação
materna de Maria e que é inegável num sentido preciso: ela é a Mãe de Cristo,
que é a graça por excelência e o Autor de toda graça.
72. Esta maternidade de Maria na ordem da
graça – que brota do mistério pascal de Cristo – implica também que cada
discípulo estabeleça com Maria «uma relação única e irrepetível». São João
Paulo II falava de uma «dimensão mariana da vida dos discípulos de Cristo», que
se expressa como «resposta ao amor duma pessoa e, em particular, ao amor da
mãe».[176] A vida da graça inclui a nossa relação com a Mãe. A união com Cristo
por graça, une-nos, ao mesmo tempo, a Maria numa relação feita de confiança,
ternura e afeto sem reservas.
A primeira discípula
73. Ela é «a primeira discípula, aquela que
melhor aprendeu as coisas de Jesus».[177] Maria é a primeira daqueles que
«escutam a Palavra de Deus e a põem em prática» (Lc 11, 28); é a primeira a
colocar-se entre os humildes e pobres do Senhor para nos ensinar a esperar e
receber, com confiança, a salvação que vem apenas de Deus. Deste modo, Maria
«tornava-se, em certo sentido, a primeira “discípula” do seu Filho, a primeira
a quem ele parecia dizer: “Segue-me”, mesmo antes de dirigir este chamamento
aos Apóstolos ou a quaisquer outros (cf. Jo 1, 43)».[178] Ela é modelo de fé e
caridade para a Igreja pela sua obediência à vontade do Pai, cooperação na obra
redentora do seu Filho e abertura à ação do Espírito Santo.[179] Por isso, diz
santo Agostinho que vale «mais para Maria ser discípula de Cristo do que ter
sido mãe de Cristo».[180] O Papa Francisco insistiu que ela «é mais discípula
que mãe».[181] Maria é, definitivamente, «a primeira e a mais perfeita
discípula de Cristo».[182]
74. Maria é, para todo o cristão, «a
primeira na fé: é “aquela que acreditou”; e, precisamente com esta sua fé de
esposa e de mãe, ela quer atuar em favor de todos os que a ela se entregam como
filhos».[183] E fá-lo com um afeto cheio de sinais de proximidade que os ajudam
a crescer na vida espiritual, ensinando-os a deixar que a graça de Cristo atue
cada vez mais. Nesta relação de afeto e confiança, ela, que é a “cheia de
graça”, ensina cada cristão a receber a graça, a conservar a graça recebida e a
meditar a obra que Deus faz nas suas vidas (cf. Lc 2, 19).
75. Face a
pretensos fenómenos sobrenaturais, que receberam um juízo positivo por parte da
Igreja e nos quais aparecem algumas das expressões ou títulos, como os
anteriormente citados, ter-se-á em conta que «no caso em que seja concedido por
parte do Dicastério um Nihil obstat [...], tais fenômenos não se tornam objeto
de fé – isto é, os fiéis não são obrigados a prestar a eles um assentimento de
fé ».[184]
Mãe do Povo fiel
76. «Maria, a primeira discípula, é a
Mãe».[185] Na Cruz, Cristo entrega-nos a Maria, e deste modo «conduz-nos a Ela,
porque não quer que caminhemos sem uma mãe».[186] Ela é a Mãe fiel que se
tornou «Mãe de todos os que creem»,[187] e, ao mesmo tempo, é «a Mãe da Igreja
evangelizadora»,[188] que nos acolhe assim como Deus nos quis convocar, não
apenas como indivíduos isolados, mas como Povo que caminha:[189] «nossa Mãe,
Maria, quer sempre caminhar conosco, estar perto, ajudar-nos com a sua intercessão
e o seu amor».[190] Ela é a Mãe do Povo fiel que, «movida por uma ternura
amorosa, caminha em meio ao seu povo e cuida das suas angústias e
vicissitudes»[191].
O
amor detém-se, contempla o mistério, desfruta em silêncio
77. O Povo fiel não se distancia de Cristo,
nem do Evangelho, quando se aproxima dela, mas é capaz de ler «nesta imagem
materna [...] todos os mistérios do Evangelho».[192] Porque nesse rosto materno
vê refletido o Senhor que nos busca (cf. Lc 15, 4-8), que vem ao nosso encontro
com braços abertos (cf. Lc 15, 20), que se detém diante de nós (cf. Lc 18, 40)
que se inclina e nos levanta até à altura do seu rosto (cf. Os 11, 4), que nos
olha com amor (cf. Mc 10, 21) e não nos condena (cf. Jo 8, 11; Os 11, 9). No
seu rosto materno muitos pobres reconhecem o Senhor que «derrubou os poderosos
de seus tronos e exaltou os humildes» (Lc 1, 52). Esse rosto de mulher canta o
mistério da Encarnação. Nesse rosto de Mãe, transpassada pela espada (cf. Lc 2,
35), o Povo de Deus reconhece o mistério da Cruz, e esse mesmo rosto, banhado
pela luz pascal, percebe que Cristo está vivo. E ela, que recebeu o Espírito
Santo em plenitude, é quem sustenta aos apóstolos em oração no cenáculo (cf.
Act 1, 14). Por isso, podemos dizer que, «a fé de Maria, atendo-nos ao
testemunho apostólico da Igreja, torna-se, de alguma maneira, incessantemente a
fé do Povo de Deus que está a caminho».[193]
78. Como diziam os Bispos
latino-americanos, os pobres «encontram a ternura e o amor de Deus no rosto de
Maria. Nela veem refletida a mensagem essencial do Evangelho».[194] O Povo
simples e pobre não separa a Mãe gloriosa de Maria de Nazaré, que encontramos
nos Evangelhos, pelo contrário, reconhece a simplicidade atrás da glória e sabe
que Maria não deixou de ser uma deles. É aquela que, como qualquer mãe,
carregou no ventre o seu filho, o amamentou e o criou com carinho e com a ajuda
de São José, não lhe faltando os sobressaltos e as dúvidas da maternidade (cf.
Lc 2, 48-50). Ela é aquela que: canta ao Deus que «aos famintos encheu de bens
e aos ricos despediu de mãos vazias» (Lc 1, 53); sofre com os noivos que ficam
sem vinho para a festa (cf. Jo 2, 3); sabe correr para dar uma mão à sua prima
que necessitava ajuda (cf. Lc 1, 39-40); se deixa ferir, como que atravessada
por uma espada, por causa da história do seu povo, onde o seu filho é «sinal de
contradição» (Lc 2, 34); compreende o que é ser migrante ou exilado (cf. Mt 2,
13-15); na sua pobreza só pode oferecer um par de pombinhos (cf. Lc 2, 24) e sabe
o que é ser desprezada por ser da família do pobre carpinteiro (cf. Mc 6, 3-4).
Os povos sofredores reconhecem que Maria caminha com eles lado a lado e, por
isso, recorrem a ela, sua Mãe, implorando ajuda.[195]
79. A proximidade da Mãe produz uma piedade
mariana “popular”, que tem expressões diversas nos distintos povos. Os mais
variados rostos de Maria – coreano, mexicano, congolês, italiano e tantos
outros – são formas de inculturação do Evangelho que refletem, em cada lugar da
terra, «a ternura paterna de Deus»[196] que chega até as entranhas dos nossos
povos.
80. Contemplamos a fé do Povo de Deus, onde
tantos irmãos que creem reconhecem espontaneamente Maria como Mãe, tal como
Cristo mesmo no-la propôs na Cruz. O Povo de Deus gosta de peregrinar aos
diferentes santuários marianos, onde encontra consolo e fortaleza para seguir
adiante, como quem, no meio do cansaço e da dor, recebe a carícia de sua Mãe. A
Conferência de Aparecida soube expressar com clareza e beleza o profundo valor
teologal desta experiência. Nada melhor que terminar esta Nota com estas
palavras:
«Destacamos as peregrinações, onde é
possível reconhecer o Povo de Deus a caminho. Aí o cristão celebra a alegria de
se sentir imerso em meio a tantos irmãos, caminhando juntos para Deus que os
espera. O próprio Cristo se faz peregrino e caminha ressuscitado entre os
pobres. A decisão de caminhar em direção ao santuário já é uma confissão de fé,
o caminhar é um verdadeiro canto de esperança e a chegada é um encontro de
amor. O olhar do peregrino se deposita sobre uma imagem que simboliza a ternura
e a proximidade de Deus. O amor se detém, contempla o mistério, desfruta dele
em silêncio. Também se comove, derramando todo o peso de sua dor e de seus
sonhos. A súplica sincera, que flui confiante, é a melhor expressão de um
coração que renunciou à autossuficiência, reconhecendo que sozinho nada pode.
Um breve instante condensa uma viva experiência espiritual».[197]
Mãe do Povo fiel, rogai por nós.
O Sumo Pontífice Leão XIV, no dia 7 de
outubro de 2025, Memória Litúrgica de Nossa Senhora do Rosário, aprovou a
presente Nota, decidida na Sessão Ordinária deste Dicastério do dia 26 de março
de 2025, e ordenou sua publicação.
Dado em Roma, na sede do Dicastério para a
Doutrina da Fé, aos 4 de novembro de 2025, Memória Litúrgica de São Carlos
Borromeu.
Víctor Manuel Card. Fernández
Prefeito
Mons. Armando Matteo
Secretário
para a Secção Doutrinal
Leo PP. XIV
7 de outubro de 2025
REFERÊNCIAS
[1] Conferência Episcopal Latino-Americana
e do Caribe, V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe
(Aparecida, 13-31 de maio de 2007), n. 265. Citado no n. 78 desta Nota
doutrinal.
[2] Cf. S. Agostinho de Hipona, De Sancta
Virginitate, 6: PL 40, 399.
[3] Dicastério para a Doutrina da Fé,
Normas para proceder no discernimento de presumidos fenômenos sobrenaturais (17
de maio de 2024): AAS 116 (2024), 771-794.
[4] Em alguns fenômenos, ou aparições, a
Virgem Maria é denominada com títulos de Corredentora, Redentora, Sacerdote,
Medianeira, Medianeira de todas as graças, Mãe da graça, Mãe espiritual, etc.
[5] Cf. S. Paulo VI, Exort. ap. Marialis
Cultus (2 de fevereiro de 1974), n. 26: AAS 66 (1974), 136-139.
[6] Cf. ibid., n. 28: AAS 66 (1974),
139-141.
[7] Cf. ibid., n. 37: AAS 66 (1974),
148-149.
[8] S. João Paulo II, Catequese na
Audiência Geral (9 de abril de 1997), n. 3: L’Osservatore Romano, 10 de abril
de 1997, 4.
[9] Francisco, Homilia no Jubileu
extraordinário da Misericórdia: Santa Missa e abertura da Porta santa (8 de
dezembro de 2015): AAS 108 (2016), 8.
[10] Cf. S. João Paulo II, Carta enc.
Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 26: AAS 79 (1987), 396.
[11] A relação que aparece nos textos de
São Paulo entre Adão e Cristo (Rm 5, 18-19 e 1Cor 15, 22) serviu aos Santos
Padres para estabelecer o paralelo Eva-Maria. Por exemplo, S. Justino, Dialogus
cum Tryphone, 100: PG 6, 710CD-711A; S. Irineu de Lião, Adversus haereses, III,
22, 4: PG 7/1, 959C-960A; Tertuliano, De carne Christi, 17, 5: PL 1, 782B. Esse
paralelismo antitético Eva-Maria é a primeira aproximação dos Santos Padres ao
tema da cooperação da Virgem na obra redentora de Cristo: se Eva trouxe a
perdição, a fé de Maria trouxe-nos a salvação. A grande abundância de
testemunhas na Patrística, sobre o tema da Virgem como nova Eva, oferece
elementos interessantes do ponto de vista teológico: a) Maria e a mulher,
porque em Maria a mulher retoma seu esplendor primitivo e encontra seu
cumprimento definitivo; b) Maria e Cristo como esposa-sócia, que constitui com
seu Filho o binômio exemplar e salvífico da recapitulação ou restauração
messiânica; c) Maria e a Igreja, estabelecendo-se em Maria uma dupla relação
com a Igreja, a de exemplaridade, como protótipo, e a de Mãe da Igreja.
[12] S. Agostinho, De sancta virginitate,
6: PL 40, 399.
[13] Cf. S. João Paulo II, Carta enc.
Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 31: AAS 79 (1987), 402-403.
[14] Por exemplo, cf. S. Efrém, Hymni de
Nativitate: SCh 459; S. João Damasceno, In dormitionem Deiparae I, 8: SCh 80,
100-104.
[15] Por exemplo, cf. Octoëchus magnus,
Roma 1885, 152: “Por ti nos tornamos partícipes da natureza divina, Ó sempre
Virgem, Theotokos, pois destes à luz para nós ao Deus encarnado. Por isso, come
é justo, todos te exaltamos com devoção” (trad. do original grego do Theotokion
do Kathisma poético após a primeira stasis). Outro exemplo, mais significativo,
de expressão devocional mariana é o célebre Hymnus Akathistos (do século V), em
24 estrofes; o título significa simplesmente que se escuta de pé, não sentado,
como se escuta o Evangelho em sinal de especial reverência à Virgem-Mãe Maria,
a qual o poeta adorna com os mais belos adjetivos e metáforas simbólicas
pedindo a ela que aceite sua oferta poética e interceda pela salvação do gênero
humano do pecado terreno: cf. E. M. Toniolo, O.S.M., Akathistos Inno alla Madre
di Dio, Roma 2017.
[16] O testemunho mais antigo deste título
provém do Egito e é do século III. Cf. Papyrus 470 da John Rylands Library
(Manchester, Inglaterra) que transmite em grego grande parte da invocação
mariana. A versão latina desta oração diz: «Sub tuum praesidium confugimus,
Sancta Dei Genetrix. Nostras deprecationes ne despicias in necessitatibus, sed
a periculis cunctis libera nos semper, Virgo gloriosa et benedicta».
[17] As representações iconográficas
tradicionais da Virgem, seguem uma série de modelos estáveis, em particular,
trata-se: da Odēgētria, é a que mostra com a mão ‘o caminho’ até seu filho
Jesus Cristo em seu regaço; da Eleousa, é a Ternura, onde se mostra o íntimo
vínculo entre Maria e o Filho, que apoia seu rosto no de Maria; e da Platytera
é a maior dos céus, porque leva a Cristo em si mesma, representando em seu
peito o Menino Jesus. Destes três modelos deriva a maioria dos demais como a
Galaktotrophousa, que alimenta com seu leite o Menino; a Kyriōtissa ou Senhora,
que sustenta o Menino em seus joelhos como num trono; a Panagia, ou Toda Santa,
vestida de manto vermelho que expressa a plenitude da santidade; ou a Deēsis,
que aparece à direita de seu Filho entronizado na majestade (Pantokratōr)
intercedendo com João Batista, que aparece à esquerda, por nós. Noutros ícones,
Maria aparece intercedendo com os demais santos – muitas vezes com João Batista
– como últimos representantes da Antiga Aliança e, ao mesmo tempo, como os
primeiros membros do novo Povo.
[18] Cf. Bento XVI, Catequese na Audiência
Geral (27 de maio de 2009): L’Osservatore Romano, 28 de maio de 2009, 1; S.
Gregório de Narek, Prex 26 et 30, Ad Deiparam: SCh 78, 160-164; 428-432.
[19] Autores orientais como Santiago de
Sarug († 521), S. Romano o Cantor (†555-562), S. João Damasceno († 749) e S.
João, o Geômetra (†1000) tinham já abordado o tema da cooperação de Mria no
sacrifício redentor de Cristo na Cruz.
[20] Cf. S. Bernardo de Claraval, In
Purificationem Deiparae, III, 2: PL 183, 370C.
[21] Cf. Arnaldo de Bonneval, De laudibus
B. M. Virginis I, 3c. 12, 4: PL 189, 1727A.
[22] No magistério anterior ao Concílio
Vaticano II destacam-se: Pio IX, Const. ap. Ineffabilis Deus (8 de dezembro de
1854): Pontificis Maximi Acta. Pars prima, Roma, (1854) 597-619; Leão XIII,
Carta enc. Iucunda semper expectatione (8 de setembro de 1894): ASS 27
(1894-1895), 177-184; Id., Carta enc. Adiutricem populi (5 de setembro de
1895): ASS 28 (1895-1896), 129-136; S. Pio X, Carta enc. Ad diem illum
laetissimum (2 de fevereiro de 1904): ASS 36 (1903-1904), 453; Bento XV, Carta
ap. Inter sodalicia,à Confraria de Nossa Senhora da Boa Morte (22 de março de
1918): AAS 10 (1918), 182; Pio XI, Carta enc. Miserentissimus Redemptor (8 de
maio de 1928): AAS 20 (1928), 165-178; Pio XII, Carta enc. Mystici corporis
Christi (29 de junho de 1943): AAS 35 (1943), 193-248; Pio XII, Carta enc. Ad
caeli Reginam, (11 de outubro de 1954): AAS 46 (1954), 634-635.
[23] Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm.
Lumen gentium, n. 56: AAS 57 (1965), 60.
[24] Cf. Pio IX, Const. ap. Ineffabilis
Deus (8 de dezembro de 1854): Pontificis Maximi Acta. Pars prima, Roma 1854,
616; DH 2803: «…a beatíssima Virgem Maria, no primeiro instante de sua
conceição, por singular graça e privilégio do Deus onipotente, em vista dos
méritos de Jesus Cristo, Salvador do gênero humano, foi preservada imune de
toda mancha da culpa original»; Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. Lumen
gentium, n. 53: AAS 57 (1965), 58: «Remida dum modo mais sublime, em atenção
aos méritos de seu Filho».
[25] Cf. S. Ambrosio, Exp. Evangelii
secundum Lucam, II, 7: PL 15, 1555.
[26] Cf. Francisco, Alocução do Angelus na
Solenidade da Assunção da Santíssima Virgem Maria (15 de agosto de 2013):
L’Osservatore Romano, 17-18 de agosto de 2013, 8.
[27] S. Paulo VI, Exort. ap. Marialis
Cultus (2 de fevereiro de 1974), n. 25: AAS 66 (1974), 135.
[28] Não é apenas uma “mãe-nutriz”. Cf. S.
João Paulo II, Carta enc. Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 20: AAS
79 (1987), 384-387.
[29] Bento XVI, Homilia na Concelebração
eucarística para a entrega do anel cardinalício aos novos purpurados (25 de
março de 2006): L’Osservatore Romano, 26 de março de 2006, 4; cf. S. Paulo VI,
Exort. ap. Signum magnum (13 de maio de 1967), n. 5: AAS 59 (1967), 469:
«Maria, logo que obteve a certeza pela voz do Anjo Gabriel que Deus a elegia
para Mãe do seu Filho Unigénito, sem qualquer hesitação, deu o seu
consentimento para uma obra na qual teria de empregar todas as energias da sua
frágil natureza, declarando: “Eis a Serva do Senhor, faça-se em mim segundo a
tua palavra” (Lc 1, 38)».
[30] H. U. von Balthasar, Teodramática. Las
personas del drama: el hombre en Cristo, Vol. 3, Madrid 1993, 274; cf. S.
Cirilo de Alexandria, Ep. II ad Nestorium: DH 251: «Por isso, eles [os santos
Padres] não duvidaram chamar a santa Virgem de Deípara [Mãe de Deus]»; Conc.
Ecum. de Éfeso, can.1: DH 252.
[31] Pelo que sabemos até hoje, isto teve
lugar no século XV, num hinógrafo beneditino, que nos deixou a seguinte oração
manuscrita, conservada no mosteiro de São Pedro de Salisburgo: «Pia dulcis et
benigna / nullo prorsus luctu digna / si fletum hinc eligeres / ut compassa
Redemptori / captivato transgressori / tu corredemptrix fieres». «Pia doce e
benigna / que de nenhuma dor és digna / se daqui o pranto extirpas / sofrendo
com o Redentor / para o escravo transgressor / te tornas Corredentora»: De
compassione BVM, 20: G. M. Dreves (ed.), Analecta Hymnica Medii Aevi, XLVI,
Leipzig 1905, n. 79, 127.
[32] Os teólogos entendem o título de
corredentora em modos diversos: a) Cooperação imediata, cristotípica, ou
maximalista, que situa a cooperação de Maria como próxima, direta e imediata à
Redenção mesma (Redenção objetiva). Neste sentido os méritos de Maria, se bem
que subordinados aos de Cristo, teriam um valor para a salvação; b) Cooperação
mediada, ou minimalista, que estaria limitada ao “sim” da Anunciação. Se
trataria de uma cooperação mediada, que tornou possível a Encarnação como passo
prévio à Redenção; c) Cooperação imediata receptiva ou eclesiotípica,
cooperando à Redenção objetiva no sentido de que ela aceitou os frutos do
sacrifício redentor do Salvador representando a Igreja. Uma cooperação
imediata, porém, receptiva, pois Maria simplesmente aceitou a Redenção de
Cristo, convertendo-se na “primeira Igreja”.
[33] Sob o Pontificado de São Pio X, o
título de corredentora encontra-se em um documento da Sagrada Congregação dos
Ritos e em dois da Sagrada Congregação do Santo Ofício. Cf. Sagrada Congregação
dos Ritos, Dolores Virginis Deiparae (13 de maio de 1908): ASS 41 (1908), 409;
Sagrada Congregação do Santo Ofício, Decreto Sunt Quos Amor (26 de junho de
1913): AAS 5 (1913), 364, no qual se louva o costume de acrescentar ao nome de
Jesus o nome «de sua mãe, corredentora nossa, a bem-aventurada Maria»; Id.,
Oração indulgenciada (22 de janeiro de 1914): AAS 6 (1914), 108, na qual se
chama Maria de «corredentora do gênero humano». O primeiro dentre os Papas a
usar o termo Corredentora foi Pio XI, em um Breve do dia 20 de julho de 1925,
dirigindo-se à Rainha do Rosário de Pompéia: «Recorda-te também que no Calvário
te tornaste Corredentora, cooperando por meio da crucifixão do teu coração à
salvação do mundo, junto com teu Filho crucificado»: Pio XI, Ad B. V. M. a
sacratissimo Rosario in Valle Pompeiana, in: Sacra Paenitentiaria Apostolica,
Enchiridion Indulgentiarum, Roma 1952, n. 628. Cf. Id., Discurso “Ecco di
nuovo” a um grupo de peregrinos de Vicenza (30 de novembro de 1933):
L’Ossevatore Romano, 1 de dezembro de 1933, 1.
[34] Cf. Id., Radiomensagem com motivo do
encerramento do Ano Santo da Redenção em Lourdes, (28 de abril de 1935):
L’Ossevatore Romano, 29-30 de abril de 1935, 1.
[35] Cf. Id., Ad B. V. M. a sacratissimo
Rosario in Valle Pompeiana, in: Sacra Paenitentiaria Apostolica, Enchiridion
Indulgentiarum, Roma 1952, n. 628.
[36] Cf. S. João Paulo II, Catequese na
Audiência geral (10 de dezembro de 1980): L’Osservatore Romano, 11 de dezembro
de 1980, 2; Id., Catequese na Audiência geral (8 de setembro de 1982):
L’Osservatore Romano, 10 de setembro de 1982, 2; Id., Alocução do Angelus (4 de
novembro de 1984): L’Osservatore Romano, 5-6 de novembro de 1984, 7; Id,
Homilia no Santuário de Nossa Senhora da Alvorada em Guayaquil, Equador (31 de
janeiro de 1985): L’Osservatore Romano, 2 de fevereiro de 1985, 6; Id.,
Alocução do Angelus do Domingo de Ramos (31 de março de 1985): L’Osservatore
Romano, 1º-2 de abril de 1985, 10; Id., Discurso aos Peregrinos da “Opera Federativa
Trasporto Ammalati a Lourdes” – OFTAL (24 de março de 1990): L’Osservatore
Romano, 25 de março de 1990, 4; Id., Alocução do Angelus (6 de outubro de
1991): L’Osservatore Romano, 7-8 de outubro de 1991, 7. Depois da Sessão
Ordinária (Feria IV), da então Congregação para a Doutrina da Fé, de 21 de
fevereiro de 1996, São João Paulo II não voltará a usar o título de
Corredentora. É importante assinalar também que este título não aparece na
Carta encíclica Redemptoris Mater de 25 de março de 1987, que é o documento,
por excelência, no qual São João Paulo II explica o papel de Maria na obra da
Redenção.
[37] J. Ratzinger, Verbal da Feria IV de 21
de fevereiro 1996, no Arquivo do Dicastério para a Doutrina da Fé.
[38] P. Seewald - J. Ratzinger, Dios y el
Mundo. Una conversación con Peter Seewald, Madrid 2005, 287-288.
[39] Francisco, Homilia na Festa de N. Sra.
de Guadalupe (12 de dezembro de 2019): AAS 112 (2020), 9.
[40] Id., Meditações matutinas: Nossa
Senhora das Dores, discípula e mãe (3 de abril de 2020): L’Osservatore Romano,
4 de abril de 2020, 8.
[41] Id., Catequese na Audiência geral (24
de março de 2021): L’Osservatore Romano, 24 de março de 2021, 8.
[42] Pio XII, Carta enc. Haurietis Aquas
(15 de maio de 1956), n. 20: AAS 48 (1956), 321.
[43] Cf. S. André de Creta, In Nativitatem
Mariae, IV: PG 97, 865A.
[44] Cf. S. Germano de Constantinopla, In
annuntiationem s. Deiparae: PG 98, 322BC.
[45] Cf. S. João Damasceno, In dormitionem
Deiparae, I: PG 96, 712B–713A.
[46] Em 12 de janeiro de 1921, Bento XV,
respondendo ao pedido do Cardeal Désire-Joseph Mercier, concedeu a toda a
Bélgica o Ofício e a Missa de Santa Maria Virgem “Medianeira de todas as
graças”, para serem celebrados no dia 31 de maio. A Sé Apostólica concedeu
posteriormente a muitas outras Dioceses e Congregações religiosas, mediante
prévia solicitação, o mesmo Ofício e Missa. Cf. AAS 13 (1921), 345.
[47] Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm.
Lumen gentium, n. 62: AAS 57 (1965), 63; Pontifícia Academia Mariana
Internacional, “Um novo dogma mariano?”: L’Osservatore Romano, 4 de junho de
1997, 10: «a Constituição Lumen gentium, que após una meditada escolha não
contém a definição dogmática da mediação, foi aprovada com 2.151 votos
favoráveis entre 2.156 eleitores […] e, apenas 33 anos depois da promulgação da
Lumen gentium, […] o panorama eclesial, teológico e exegético substancialmente
não mudou». Esta afirmação da Pontifícia Academia Mariana Internacional se
somava à Declaração da Comissão teológica criada no marco do XII Congresso
Mariológico Internacional (Częstochowa, de 12 a 24 de agosto de 1996) que
considerou inadequado proceder com a definição dogmática de Maria como
“medianeira”, “corredentora” e “advogada”. Cf. Comissão Teológica do Congresso
de Częstochowa, Petição da definição do dogma de Maria Medianeira, Corredentora
e Advogada. Declaração da Comissão teológica do Congresso de Częstochowa:
L’Osservatore Romano, 4 de junho de 1997, 10.
[48] S. Paulo VI, Discurso no encerramento
da III Sessão do Concílio Vaticano II (21 de novembro de 1964):AAS 56 (1964),
1014.
[49] Cf. S. Bernardo de Claraval, Hom.. in
laudibus Virginis Matris, IV, 8: PL 183, 83CD-84AB.
[50] Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm.
Lumen gentium, nn. 55-62: AAS 57 (1965), 5-71, 59-63.
[51] Cf. Ibid., nn. 53, 56, 61, 63: AAS 57
(1965), 59; 60; 63; 64.
[52] Cf. Ibid., nn. 60, 62, 63, 65: AAS 57
(1965), 62; 63; 64; 65.
[53] Ibid., n. 62: AAS 57 (1965), 63.
[54] Cf. Francisco, Catequese na Audiência
geral (24 de março de 2021): L’Osservatore Romano, 24 de março de 2021, 8.
[55] Congregação para a Doutrina da Fé,
Declaração Dominus Iesus (6 de agosto de 2000), n.13: AAS 92 (2000), 754-755.
[56] Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm.
Lumen gentium, n. 62: AAS 57 (1965), 63.
[57] Congregação para a Doutrina da Fé,
Declaração Dominus Iesus (6 de agosto de 2000), n.14: AAS 92 (2000), 755.
[58] Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm.
Lumen gentium, n. 1: AAS 57 (1965), 5; Francisco, Exort. ap. Evangelii gaudium
(24 de novembro de 2013), n. 112: AAS 105 (2013), 1066.
[59] Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm.
Lumen gentium, n. 65: AAS 57 (1965), 64-65; Francisco, Exort. ap. Evangelii
gaudium (24 de novembro de 2013), n. 288: AAS 105 (2013), 1136.
[60] Orígenes, Hom. in Numeros, XII, 1: PG
12, 657.
[61] S. Ambrósio, Ep. 11, 24: PL 16, 1106D.
[62] S. Tomás de Aquino, Super Ioannem,
cap. 7, lect. 5.
[63] Cf. Pio IX, Const. ap. Ineffabilis
Deus (8 de dezembro de 1854): Pontificis Maximi Acta. Pars prima, Roma 1854,
616: DH 2803: «…por singular graça e privilégio do Deus onipotente, em vista
dos méritos de Jesus Cristo, Salvador do gênero humano».
[64] Cf. S. João Paulo II, Carta enc.
Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 38: AAS 79 (1987), 411.
[65] Cf. Ibid., n. 21: AAS 79 (1987),
387-389.
[66] Cf. Ibid., n. 23: AAS 79 (1987),
390-391.
[67] Francisco, Meditações matutinas: Nossa
Senhora das Dores, discípula e mãe (3 de abril de 2020): L’Osservatore Romano,
4 de abril de 2020, 8.
[68] Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm.
Lumen gentium, nn. 55-62: AAS 57 (1965), 59-63.
[69] Cf. S. João Paulo II, Carta enc.
Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 44: AAS 79 (1987), 421.
[70] Cf. S. Paulo VI, Discurso no
encerramento da III Sessão do Concílio Vaticano II (21 de novembro de 1964):AAS
56 (1964), 1015: «Maria, pois como Mãe de Cristo, também é Mãe dos fiéis e dos
pastores todos, isto é, da Igreja»; Catecismo da Igreja Catolica, n. 963.
[71] S. Paulo VI, Exort. ap. Marialis
Cultus (2 de fevereiro de 1974), n. 22: AAS 66 (1974), 133.
[72] Cf. H. U. von Balthasar, Teodramática.
Las personas del drama: el hombre en Cristo, Vol. 3, Madrid 1993, 307.
[73] Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm.
Lumen gentium, n. 56: AAS 57 (1965), 60: «Consagrou-se totalmente, como escrava
do Senhor, à pessoa e à obra de seu Filho, subordinada a Ele e juntamente com
Ele, servindo pela graça de Deus omnipotente o mistério da Redenção».
[74] Cf. S. João Paulo II, Carta enc.
Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 23: AAS 79 (1987), 391.
[75] Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm.
Lumen gentium, n. 69: AAS 57 (1965), 66: «Mãe de Deus e mãe dos homens».
[76] S. João Paulo II, Carta enc.
Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 38: AAS 79 (1987), 411; cf. Conc.
Ecum. Vat. II, Const. dogm., Lumen gentium, n. 61: AAS 57 (1965), 63. O
conteúdo da maternidade espiritual de Maria está presente nos textos mais
remotos da patrística, tendo o seu fundamento bíblico sobretudo no Evangelho de
São João e, mais concretamente, na cena da Cruz.
[77] Cf. S. João Paulo II, Carta enc.
Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 21: AAS 79 (1987), 388: «se
manifesta concretamente esta maternidade nova, segundo o espírito e não somente
segundo a carne, ou seja, a solicitude de Maria pelos homens, o seu ir ao
encontro deles, na vasta gama das suas carências e necessidades».
[78] Cf. Francisco, Homilia na Solenidade
de Santa Maria, Mãe de Deus (1º de janeiro de 2020): AAS 112 (2020), 19.
[79] S. João Paulo II, Carta enc.
Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 38: AAS 79 (1987), 411-412; cf.
Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. Lumen gentium, n. 62: AAS 57 (1965), 63.
[80] Cf. S. João Paulo II, Catequese na
Audiência Geral (9 de abril de 1997), n. 2: L’Osservatore Romano, 10 de abril
de 1997, 4: «O concurso de Maria [...] atuou-se durante o evento mesmo e a
título de mãe; estende-se, portanto, à totalidade da obra salvífica de Cristo».
[81] Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm.
Lumen gentium, n. 60: AAS 57 (1965), 62; Catecismo da Igreja Católica, n. 970.
[82] Cf. Francisco, Catequese na Audiência
geral (24 de março de 2021): L’Osservatore Romano, 24 de março de 2021, 8:
«[Maria] indica o Mediador: Ela é a Odēgētria. Na iconografia cristã a sua
presença está em toda a parte, às vezes até com grande destaque, mas sempre em
relação ao Filho e em função d'Ele. As suas mãos, o seu olhar, a sua atitude
são um “catecismo” vivo e indicam sempre o âmago, o centro: Jesus. Maria está
totalmente voltada para Ele».
[83] S. João Paulo II, Carta ap. Rosarium
Virginis Mariae (16 de outubro de 2002), n. 4, que cita Conc. Ecum. Vat. II,
Const. dogm. Lumen gentium, n. 66: AAS 57 (1965), 65.
[84] Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. Lumen
gentium, n. 62: AAS 57 (1965), 63: «função subordinada de Maria».
[85] Cf. S. João Paulo II, Carta enc.
Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 40: AAS 79 (1987), 414-415.
[86] Cf. Ibid., n. 43: AAS 79 (1987), 420.
[87] Cf. Francisco, Discurso por ocasião da
Oração do Santo Rosário na Basílica de Santa Maria Maior, (4 de maio de 2013):
L’Osservatore Romano, 6-7 de maio de 2013, 7.
[88] Leão XIV, Homilia no Jubileu da Santa
Sé (9 de junho de 2025): L’Osservatore Romano, 10 de junho de 2025, 2.
[89] Cf. Francisco, Exort. ap. Evangelii
gaudium (24 de novembro de 2013), n. 285: AAS 105 (2013), 1019-1137, 1135.
[90] Id., Carta enc. Dilexit nos (24 de
outubro de 2024), n. 176: AAS 116 (2024), 1424.
[91] Cf. Id., Catequese na Audiência geral
(18 de novembro de 2020): L’Osservatore Romano, 18 de novembro de 2020, 11.
[92] S. João Paulo II, Carta enc.
Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 21: AAS 79 (1987), 388-389.
[93] Cf. Francisco, Homilia na Solenidade
de Santa Maria, Mãe de Deus (1º de janeiro de 2024): AAS 116 (2024), 20.
[94] J. L. Guerrero Rosado, Nican Mopohua:
Aquí se cuenta… el gran acontecimiento, Cuatitlán 2023, nn. 23 e 119.
[95] S. João Paulo II, Catequese na
Audiência geral (13 de agosto de 1997), n. 4: L’Osservatore Romano, 14 de
agosto de 1997, 4.
[96] Francisco, Homilia na festa de Nossa
Senhora de Guadalupe (12 de dezembro de 2022): L’Osservatore Romano, 13 de
dezembro de 2022, 8; cf. Id., Homilia na festa de Nossa Senhora de Guadalupe
(12 de dezembro de 2023): L’Osservatore Romano, 13 de dezembro de 2023, 11.
[97] Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm.
Lumen gentium, n. 8: AAS 57 (1965), 11; Francisco, Carta enc. Dilexit nos (24
de outubro de 2024), n. 96: AAS 116 (2024), 1398.
[98] Cf.J. Card. Ratzinger, Verbal da Feria
IV do 21 de fevereiro de 1996, no Arquivo do Dicastério para a Doutrina da Fé.
[99] Cf. S. João Paulo II, Carta enc.
Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 21: AAS 79 (1987), 389. Este
caráter de intercessão da mediação materna de Maria é um ensinamento constante
dos últimos Papas. Cf. Pio IX, Const. ap. Ineffabilis Deus (8 de dezembro de
1854): Pontificis Maximi Acta. Pars prima, Roma 1854, 597-619; Leão XIII, Carta
enc. Adiutricem populi (5 de setembro de 1895): ASS 28 (1895-1896), 129-136; S.
Pio X, Carta enc. Ad diem illum (2 de fevereiro de 1904): AAS 36 (1903-1904),
455; Pio XII Carta enc. Ad Caeli Reginam (11 de outubro de 1954), n. 17: AAS 46
(1954), 636.
[100] Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm.
Lumen gentium, n. 62: AAS 57 (1965), 63.
[101] S. Agostinho, De peccatorum meritis
et remissione et de baptismo parvulorum, I, 11, 13: CSEL 60, 14.
[102] Id., Sermo 23/A: CCSL 41, 322.
[103] S. Tomás de Aquino, Summa Theologiae,
I-II, q. 114, a. 6. co.
[104] Conc. Ecum. de Trento, Sessio VI:
Decretum de iustificatione, 7: DH 1530.
[105] Pio IX, Const. ap. Ineffabilis Deus
(8 de dezembro de 1854): Pontificis Maximi Acta. Pars prima, Roma 1854, 616.
[106] S. Tomás de Aquino,Summa Theologiae,
I-II, q. 113, a.9, co.
[107] Ibid., q. 114, a. 6, ad 3.
[108] Ibid., q. 114, a. 5, co.
[109] Cf. Ibid., q. 114, a. 1, co.
[110] Cf. S. João paulo II, Carta enc.
Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 21: AAS 79 (1987), 389.
[111] Cf. Francisco, Catequese na Audiência
geral (8 de junho de 2016): L’Osservatore Romano, 9 de junho de 2016, 8.
[112] Cf. Id., Catequese na Audiência geral
(24 de março de 2021): L’Osservatore Romano, 24 de março de 2021, 8; Catecismo
da Igreja Católica, n. 2674.
[113] Cf. Francisco, Palavras do Santo
Padre na Oração do Santo Rosário (31 de maio de 2013): L’Osservatore Romano, 2
de junho de 2013, 8.
[114] Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm.
Lumen gentium, n. 61: AAS 57 (1965), 63.
[115] Catecismo da Igreja Católica, n.
2003.
[116] Ibid., n. 1999.
[117] Cf. S. Tomás de Aquino, Summa
Theologiae, I-II, q. 114, a.1, co.; Id.,Quaestiones disputatae de Veritate, 27,
a. 3, ad 10.
[118] Cf. Id., Summa Theologiae, III, q.
64, a. 1, co.: «[…] solus Deus illabitur animae».
[119] Conc. Ecum. de Trento, Sessio VI:
Decretum de iustificatione, 7: DH 1528-1531; Ibid., Canones de iustificatione,
11: DH 1561.
[120] Cf. S. Tomás de Aquino, Quaestiones
disputatae de Veritate, q. 28, a. 2, ad 8; Id. Summa contra gentiles, II, cap.
98, n. 18; ibíd., III, cap. 88, n. 6.
[121] Cf. Id., Quaestiones disputatae de
Veritate, q. 27, a. 3, s.c. 5.
[122] Id., Summa Theologiae, III, q. 64, a.
1, co.
[123] Entre outros, Genadio de Marselha, De
ecclesiasticis dogmatibus, 83: PL 58, 999B. Também S. João Cassiano,
Collationes. VII, 13: PL 49, 683A. Além de Dídimo, o Cego, De Spiritu Sancto,
60: PL 23, 158C.
[124] Cf. S. Boaventura, Collationes in
Hexaemeron, XXI, 18: Opera Omnia, V, Quaracchi 1891, 434.
[125] Cf. Id., Sententiarum Lib. I, d. 14,
a. 2, q. 2, ad 2: Opera Omnia, I, Quaracchi 1891, 250.
[126] Cf. Ibid., q. 2, fund. 3, 251.
[127] Cf. Ibid., q. 2, fund. 4 e 8,
251-252.
[128] Cf. S. Tomás de Aquino, Summa
Theologiae I, q. 33, a. 3; ibid., III, q. 23, a. 4.
[129] Id., Compendium theologiae, I, n.
215; cf. Id., Summa Theologiae III, q. 2, a. 10.
[130] Id., Summa Theologiae III, q. 8, a.
5, co.; cf. ibid., q. 2, a. 12; q. 7, a. 9; q. 48, a. 1.
[131] Id., Compendium theologiae, I, n.
214.
[132] Id., Quaestiones disputatae de Veritate,
q. 29, a. 5, co.
[133] Congregação para a Doutrina da Fé,
Declaração Dominus Iesus (6 de agosto de 2000), n. 10; cf. Francisco, Carta
enc. Dilexit nos (24 de outubro de 2024), nn. 59-63: AAS 116 (2024), 1386-1387.
[134] Conc. Ecum. Vat. II, Cons. past.
Gaudium et spes, n. 22: AAS 58 (1966), 1042-1043.
[135] Cf. S. Tomás de Aquino, Summa
Theologiae I-II, q. 112, a. 1, co.
[136] Cf. Id., Super Ioannem, cap. 1, v.
16, lectio 10; Id., Summa Theologiae I-II, q. 112, a. 1, ad 1.
[137] Id., Compendium theologiae, I, n.
214.
[138] Dante Alighieri, Paradiso, XXXIII, 1.
[139] Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm.
Lumen gentium (21 de novembro de 1964), nn. 60, 62: AAS 57 (1965), 62-63; S.
Tomás de Aquino, Summa Theologiae, III, q. 26.
[140] Missale Romanum ex Sacrosancti
Oecumenici Concilii Vaticani II instauratum auctoritate S. Pauli PP. VI
promulgatum S. Ioannis Pauli PP. II cura recognitum, editio typica tertia,
Typis Vaticanis 2008, 879.
[141] Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm.
Lumen gentium (21 de novembro de 1964), n. 60: AAS 57 (1965), 5-71, 62.
142] Cf. Catecismo da Igreja Católica, n.
2002.
[143] Cf. S. Tomás de Aquino,Summa
Theologiae I, q. 25, a.3, ad 4. Justificar, como criar, «por natureza, só pode
ser feito por Deus».
[144] Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm.
Lumen gentium, n 62: AAS 57 (1965), 63.
[145] Cf. Orígenes, Hom. in Genesim XIII,
3-4: PG 12, 232B-234CD.
[146] Cf. S. Cirilo de Alexandria, Comm. in
Ioannem, II, 4, 13-14: PG 73, 300C.
[147] Cf. Id., Comm. in Isaiam, V, II, 55, 1-2:
PG 70, 1220A.
[148] Cf. S. Cirilo de Jerusalém,
Catechesis mystagogica, XVI, 11: PG 33, 932C.
[149] Cf. S. João Crisóstomo, Hom. in
Ioannem, 51, 1: PG 59, 283.
[150] S. Ambrósio, Explanatio Psalmorum,
XII, Ps. 48, 4, 2: PL 14, 1157A.
[151] Id., De Noe, 19, 70: PL 14, 395A.
[152] Cf. Id., Explanatio Psalmorum, XII,
Ps. 48, 4, 2: PL 14, 1157A.
[153] Cf. S. Jerónimo, Comm. in Zachariam,
III, 14, 8.9: PL 25, 1528C.
[154] S. Gregório Magno, Hom. in
Ezechielem, I, 10, 6: PL 76, 888B.
[155] Cf. S. Hilário, Tractatus in Psalmos,
64, 14: PL 9, 421B.
[156] S. Agostinho, In Ioannis Evangelium,
32, 4: PL 35, 1643D.
[157] S. Tomás de Aquino,Super Ioannem,
cap. 7, lect. 5.
[158] Ibid.; cf. Id., Summa Theologiae,
II-II, q.178, a. 1, s. c.
[159] S. Cirilo de Jerusalém, Catechesis
mystagogica, XVI, 12: PG 33, 933B.
[160] S. João XXIII, Carta enc. Mater et
Magistra (15 de mayo de 1961): AAS 53 (1961), 462.
[161] S. João Paulo II, Carta ao
Prepósito-geral da Companhia de Jesus, Paray-le-Monial (5 de outubro 1986):
L’Osservatore Romano, 6 de outubro de 1986, 7, citado por Francisco, Carta enc.
Dilexit nos (24 de outubro de 2024), n. 182: AAS 116 (2024), 1427.
[162] Bento XVI, Carta enc. Caritas in
veritate (29 de junho de 2009), n. 5: AAS 101 (2009), 643.
[163] Francisco, Carta enc. Dilexit nos (24
outubro 2024), nn. 198, 200: AAS 116 (2024), 1432.
[164] Cf. S. Tomás de Aquino,Summa
Theologiae, I-II, q. 5, a. 6, co. e ad 1; Id., Quaestiones disputatae de
Veritate, q. 27, a. 3, s.c. 5. Os argumentos que usava São Tomás de Aquino para
explicar porque nenhuma criatura pode conferir a graça, mas somente Deus, não
podem ser considerados superados, nem ao interno da sua própria obra, nem
posteriormente.
[165] Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm.
Lumen gentium, n. 60: AAS 57 (1965), 62; cf. S. Tomás de Aquino,Summa
Theologiae, I, q. 25, a. 3, ad 4; Id., Scriptum Super Sententiis, II, d. 26,
q.1, a. 2 co; Ibid. IV, d. 5, q.1, a. 3, qc.1, ad 1.
[166] Cf. Id.,Quaestiones disputatae de
Veritate, q. 27, a. 3, s. c. 5. Novamente lembra-se que: «Sed mentem, in qua
est gratia, nulla creatura illabitur».
[167] Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm.
Lumen gentium, n. 60: AAS 57 (1965), 62.
[168] Ibid, n. 62: AAS 57 (1965), 63.
[169] Cf. S. Tomás de Aquino,Summa contra
Gentiles, lib. 2, cap. 21, n. 7. Um instrumento contribui com algo própio:
«Omne agens instrumentale exequitur actionem principalis agentis per aliquam
actionem propriam et connaturalem sibi».
[170] Ibid.,lib. 3, cap. 147, n. 6; cf.
Id., Summa Theologiae I, q. 45, a. 5 co.
[171] Id., Summa Theologiae I-II, q. 5, a.
6, ad 1.
[172] Cf. Conc. Ecum. de Trento, Sessio VI.
Decretum de iustificatione, 8: DH 1532.
[173] Cf. S. Tomás de Aquino,Summa
Theologiae, I-II, q. 114, a. 5 co.: «o homem que já está na graça, não é
possível que mereça a graça que já tem». Se bem que o justificado pode merecer
um crescimento na vida da graça, o fato de estar justificado, de ser amigo de
Deus pela graça, será sempre absolutamente gratuito.
[174] Aquilo que São Tomás chama
“disposição final”, simultânea ao derramamento da graça santificante, é obra
imediata da mesma graça. Trata-se da «disposição última, à qual necessariamente
segue a forma»: S. Tomás de Aquino, Sententia Metaphysicae, lib. 5, lect. 2, n.
5; cf. Id., Scriptum Super Sententiis, I, d. 17, q. 2, a. 3, co.; Id., Summa
contra Gentiles, lib. 2, cap. 19, n. 6; Id., Compendium theologiae, I, 105.
[175] Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm.
Lumen gentium, n. 61: AAS 57 (1965), 63.
[176] S. João Paulo II, Carta enc.
Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 45: AAS 79 (1987), 422-423.
[177] Francisco, Catequese na Audiência
geral (18 de novembro de 2020): L’Osservatore Romano, 18 de novembro de 2020,
11.
[178] S. João Paulo II, Carta enc.
Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 20: AAS 79 (1987), 387.
[179] Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm.
Lumen gentium, n. 53: AAS 57 (1965), 58-59.
[180] S. Agostinho, Sermo 72/A, 7: CCSL
41Ab, 117.
[181] Francisco, Catequese na Audiência
geral (24 de março de 2021): L’Osservatore Romano, 24 de março de 2021, 8.
[182] S. Paulo VI, Exort. ap. Marialis
Cultus (2 de fevereiro de 1974), n. 35: AAS 66 (1974), 147.
[183] S. João Paulo II, Carta enc.
Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 46: AAS 79 (1987), 424.
[184] Dicastério para a Doutrina da Fé,
Normas para proceder no discernimento de presumidos fenómenos sobrenaturais (17
de maio 2024), n. 12: AAS 116 (2024), 782.
[185] Francisco, Catequese na Audiência
geral (16 de fevereiro de 2022): L’Osservatore Romano, 16 de fevereiro de 2022,
2.
[186] Id., Exort. ap. Evangelii gaudium (24
de novembro de 2013), n. 285: AAS 105 (2013), 1134-1135.
[187] Bento XVI, Carta enc. Deus caritas
est (25 de dezembro de 2005), n. 42: AAS 98 (2006), 252.
[188] Francisco, Exort. ap. Evangelii
gaudium (24 de novembro de 2013), n. 284: AAS 105 (2013),1134.
[189] Cf. Ibid., n. 113: AAS 105
(2013),1067.
[190] Leão XIV, Benção apostólica “Urbi et
Orbi” (8 de maio de 2025): L’Osservatore Romano, 9 de maio de 2025, 3.
[191] Francisco, Mensagem para a XXXVII
Jornada Mundial da Juventude (15 de agosto de 2022): AAS 114 (2022), 1255.
[192] Francisco, Exort. ap. Evangelii
gaudium (24 de novembro de 2013), n. 285: AAS 105 (2013), 1135.
[193] S. João Paulo II, Carta enc.
Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 28: AAS 79 (1987), 398.
[194] Conferência Episcopal
Latino-americana, V Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e do
Caribe (Aparecida, 13-31 de maio de 2007), n. 265.
[195] Cf. S. João Paulo II, Carta enc.
Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 35: AAS 79 (1987), 407.
[196] Francisco, Homilia na Solenidade de
Santa Maria Mãe de Deus (1 de janeiro de 2024): AAS 79 (2024), 20.
[197] Conferência Episcopal
Latino-americana, V Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e do
Caribe (Aparecida, 13-31 de maio de 2007), n. 259.
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