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Mártires religiosos: Yuval Harari analisa Islã, Cristianismo e o dilema entre vingança e perdão

Written By Beraká - o blog da família on segunda-feira, 25 de agosto de 2025 | 17:02

 

(foto reprodução)

 

O verdadeiro Mártir é aquele que morre perdoando e não pedindo vingança. Essa postura reflete um dos pilares da fé cristã, que é o perdão e o amor ao próximo, mesmo em meio à perseguição. Mártires, como Jesus e Estêvão, demonstram a força da fé ao perdoar os seus algozes e não buscar vingança, um exemplo que inspira outros cristãos a perseverar na fé. Nas páginas 361 a 363 da obra 21 lições para o século 21, Yuval Noah Harari discute a identidade como uma construção narrativa em constante transformação. Segundo o autor, tanto os indivíduos quanto as culturas não possuem um núcleo essencial e imutável, mas sim um conjunto de histórias que são continuamente reinterpretadas e organizadas de forma a garantir a sensação de continuidade (Harari, 2018, p. 361-363). Essa perspectiva adquire relevância especial quando confrontada com episódios de violência extrema, como os atentados de 13 de novembro de 2015 em Paris, nos quais 130 pessoas foram assassinadas. Para Harari (2018, p. 362), tais acontecimentos não podem ser legitimados pela noção de sacrifício ou martírio, uma vez que revelam o uso ideológico e manipulador das identidades coletivas.


 

 

 

No último parágrafo da página 361, Harari faz uma crítica aos mártires do islamismo:



“Alguma coisa aqui não faz sentido. Se de fato os mártires mortos pela força aérea francesa estão no paraíso, por que buscar vingança em Paris?” (Harari, 2018, p. 361).




Essa provocação questiona a lógica interna das narrativas jihadistas que inspiraram atentados como os de 13 de novembro de 2015 em Paris, quando 130 pessoas foram assassinadas em ataques coordenados pelo Estado Islâmico. Os militantes responsáveis justificaram a violência como uma forma de vingança pelos bombardeios franceses na Síria e no Iraque, que haviam matado combatentes jihadistas, considerados mártires pelo Islamismo.

 

 

A crítica implícita

 

 

Harari desmonta a contradição central dessa narrativa: "se os militantes mortos em combate são realmente considerados mártires, recompensados com o paraíso eterno, então não haveria motivo racional para buscar vingança terrena". A lógica do martírio deveria produzir aceitação e até celebração da morte — não ressentimento e represália.





 

Ao apontar essa incoerência, Harari mostra que a retórica do martírio não é sustentada por convicções religiosas genuínas, mas por instrumentos de mobilização política e social



A vingança, nesse caso, revela-se como o verdadeiro motor da violência, enquanto a promessa do paraíso serve apenas como fachada ideológica para legitimar atos brutais diante dos seguidores.

 

 

A dimensão política da identidade

 

 

Esse raciocínio conecta-se à ideia de “portfólio da identidade”, desenvolvida no mesmo tópico (p. 356–363). Para Harari (2018, p. 361-363), as identidades coletivas são narrativas em constante edição, costuradas de modo a dar coerência a mudanças, contradições e rupturas.

 

 

No caso dos jihadistas, a identidade religiosa é manipulada para sustentar ações políticas, justificando mortes por meio de uma história supostamente coerente de luta e sacrifício.

 

 

 

Assim, a crítica revela como narrativas identitárias podem ser usadas de forma contraditória e instrumentalizada, transformando um discurso espiritual em arma política.

 

 

Conexão com o atentado de Paris

 

 

O atentado de Paris, portanto, exemplifica a incoerência das narrativas de martírio: os agressores reivindicaram justiça pela morte de seus companheiros, mas, ao mesmo tempo, sustentaram que esses companheiros já haviam alcançado o paraíso. 



A incoerência, como destaca Harari (2018, p. 361), expõe o caráter construído e manipulador dessas histórias identitárias, que não se orientam por lógica interna ou fé, mas pela necessidade de manter um senso de pertencimento e justificar violênciaIdentidade é como um “portfólio”, composto por fragmentos de experiências, tradições e rupturas históricas para frente ou para trás

 

 

Harari (2018, p. 361) sustenta que a identidade deve ser entendida como um “portfólio”, composto por fragmentos de experiências, tradições e rupturas históricas que adquirem coerência apenas por meio da narrativa. 



A continuidade, nesse sentido, não deriva de uma essência atemporal, mas da capacidade de indivíduos e grupos de costurarem suas transformações em histórias convincentes.O autor observa ainda que muitas tradições religiosas e nacionais se apresentam como estáveis e ancestrais, quando, na realidade, estão sujeitas a revisões constantes. Ao reivindicar uma suposta pureza histórica, essas tradições frequentemente ocultam mudanças profundas. Um exemplo é citado pelo autor em relação a jornais ultraortodoxos que, em nome de preceitos religiosos, editam fotografias para apagar a presença de mulheres. Para Harari (2018, p. 362), esse tipo de prática ilustra como a identidade é construída tanto pelo que se lembra quanto pelo que se apaga deliberadamente.

 

 

Nesse contexto, o atentado de Paris em 2015 ilustra o risco das narrativas identitárias rígidas.

 

 

Grupos extremistas, como o autodenominado Estado Islâmico, justificaram os assassinatos como um ato de martírio em defesa da fé. Entretanto, como assinala Harari (2018, p. 363), tal perspectiva não é aceitável, pois trata-se de mais uma manipulação de elementos identitários para legitimar a violência. A narrativa do sacrifício, nesse caso, revela-se como um artifício político e religioso que ignora o caráter dinâmico das identidades e promove a destruição em nome de uma suposta coerência histórica.

 

 


Conclusão

 

 

O trecho aqui analisado neste despretensioso post, sem querer por um ponto final, mas uma vírgula, evidencia que a identidade deve ser compreendida como um processo narrativo em permanente construção, e não como um legado imutável. Essa interpretação é fundamental para resistir a ideologias que, ao reinterpretarem seletivamente o passado, buscam justificar práticas violentas em nome da tradição ou do martírio. O ataque de Paris, em 2015, exemplifica de forma trágica as consequências da absolutização da identidade, transformada em instrumento de exclusão e morte. 



Nesse sentido, a leitura de Harari (2018, p. 361-363) oferece uma contribuição significativa para o debate contemporâneo sobre a resiliência cultural e a necessidade de narrativas que promovam adaptação e convivência pacífica, em vez de violência e fanatismo.



A crítica de Harari é, acima de tudo, uma denúncia da irracionalidade e da manipulação embutidas em narrativas fundamentalistas. Ao evidenciar a contradição entre a promessa de recompensa no paraíso e a busca por vingança terrestre, o autor mostra que a retórica do martírio não se sustenta em sua lógica. Mais do que religião, o que está em jogo é a construção e manipulação de identidades narrativas que alimentam ressentimento e violência.

 


Referência

 


-HARARI, Yuval Noah. 21 lições para o século 21. São Paulo: Companhia das Letras, 2018.



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