John Donne (1572-1631) foi um dos maiores
poetas de língua inglesa. Incompreendido na sua época,
esquecido por muitos séculos, é hoje reverenciado e lido em todo o mundo. Sua
obra serviu de inspiração para muitos outros poetas além do seu tempo. Foi
a partir de um belíssimo texto de John Donne, que o escritor norte-americano
Ernest Hemingway, encontrou inspiração para o título do seu romance “Por Quem
os Sinos Dobram” (1940), mais tarde adaptado a filme de mesmo nome (1943). O
texto em referência faz parte de “Meditações”, de onde foi extraído o trecho
que abre o romance de Hemingway, eternizando-o, fazendo-o um dos textos
literários mais conhecidos da atualidade.
Hemingway não poderia ter escolhido citação
melhor para começar seu livro, escrito e publicado no
começo da década de 1940. Na obra, que foi listada como um dos 100 melhores
livros do século 20 pelo jornal Le Monde, ele conta a história de Robert
Jordan, um norte-americano que vive na Espanha durante a Guerra Civil, ocorrida
entre 1936 e 1939.Ele acaba se envolvendo no conflito, do lado dos
republicados, e recebe a missão de implodir uma ponte, tarefa considerada
fundamental numa batalha contra os nacionalistas, que tinham o apoio do
nazifascismo na Itália e na Alemanha. É bom lembrar que pouco depois começou a
Segunda Guerra Mundial, conflito em que a Guerra Civil Espanhola se insere e do
qual foi praticamente um prelúdio.Toda a trama se passa
ao longo de três dias, enquanto Robert Jordan, um professor que se identifica
com os ideais da luta contra o fascismo, aguarda o momento para cumprir sua
missão e lida com os desafios para conseguir explodir a ponte, tarefa em que
ele conta com a companhia de guerrilheiros, ciganos e camponeses.Boa
parte da história se passa na relação entre essas pessoas durante os dias
necessários até que a missão possa ser realizada. Há tempo, inclusive, para um
relacionamento entre Robert e uma cigana, Maria, alguns anos mais tarde
representados por Gary Cooper e Ingrid Bergman, no filme de 1943 – a atriz
sueca foi indicada ao Oscar pela atuação.Enquanto isso,
o personagem testemunha a selvageria, a violência e as mortes dos dois lados do
conflito, seja por seus próprios olhos ou pelos relatos das pessoas que ele
conhece, como a cigana Pilar, uma espécie de líder do grupo rebelde. Há
momentos de extrema violência, com destaque para a execução de soldados
fascistas pelas tropas revolucionárias.
Como em outras obras de Hemingway, o
personagem principal é uma espécie de alter-ego do escritor, que também
participou da Guerra Civil Espanhola, além de ter servido como motorista de
ambulância durante a Primeira Guerra Mundial. Uma
grande parte da beleza da obra de Hemingway está na mistura de elementos reais
com ficcionais, além, claro, na forma usada para narrar os acontecimentos.Aos
61 anos e numa manhã de julho, Ernest Hemingway acordou cedo, pegou uma arma
que ele usava para caçar pombos, colocou na própria boca e atirou. Aos
policiais, sua esposa, Mary, que estava dormindo na hora que ouviu o disparo,
disse que a morte teria sido acidental – ela acreditava que Hemingway teria
dado um tiro sem querer, enquanto limpava a arma. Só meses depois ela conseguiu
aceitar que o marido tinha se suicidado.Em Por Quem os
Sinos Dobram, Robert Jordan se desfaz de uma arma que tinha sido de seu avô, que
lutara na Guerra Civil Americana, e com a qual seu pai havia se matado.
História parecida com a do autor, que recebeu pelo correio, enviada pela mãe, a
arma com que seu pai tinha se matado e que antes pertencera a seu avô, que
também lutou numa guerra.Hemingway sempre escreveu sobre a morte e sobre
a vida, mas é em Por Quem os Sinos Dobram que aprendemos que cada perda, mesmo
que distante, é uma pequena morte para cada um de nós.
O texto é de uma beleza rara, que
transporta o homem em um universo que o coloca no centro de um oceano, mas que
o revela a fazer parte do mundo, que a grandiosidade da saga humana está na
quebra da solidão, porque somos os nossos amigos, o rompimento da nossa
solidão. Somos o gênero humano, exaltado pela vida e
diminuído apenas pela morte.Poucas pessoas souberam escrever a ideia de
humanidade partilhada como John Donne o fez nos idos do século XVI. Diz-nos
Donne: por quem os sinos dobram? Ou, em outras palavras, quem morreu? O poema
de John Donne, ao mostrar a conexão entre tudo que existe, deixa claro que quem
morreu foi você:
“Nenhum
homem é uma ilha, inteiramente isolado, todo homem é um pedaço de um
continente, uma parte de um todo. Se um torrão de terra for levado pelas águas
até o mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse
o solar de teus amigos ou o teu próprio; a morte de qualquer homem me diminui,
porque sou parte do gênero humano. E por isso não perguntai: Por quem os sinos
dobram; eles dobram por vós”
Este hino à humanidade faz de cada um de nós espectadores comprometidos (com) da
existência de cada outro, numa solidariedade reforçada pelo encurtamento do
mundo que é imagem de marca da nossa época.Por isso, quando ouvirem os
ventos oriundos de algum lugar, não se esqueçam que os sinos dobram por nós
também! Com o grande número de catástrofes naturais ocorridas em sequência:
-Tsunami com milhares de mortos no Índico
(2004),em Sumatra (2009), Nova Zelândia e Japão(2011).
-Terremotos com várias mortes no Haiti e no Chile
(2010)
-Enchentes e deslizamentos na região serrana
do Rio de Janeiro com várias mortes (2011).
-Covid 19 matando milhões de pessoas mundo
afora.
O texto em referência é mais que pertinente para estes tempos! Há sempre alguém assistindo à notícia de um desses acontecimentos com o coração distante, sem imaginar que há a possibilidade de participar como personagem de uma próxima ocorrência. Necessitamos uns dos outros. A compaixão deve estar sempre conosco!
BIBLIOGRAFIA:
-John Donne, “Meditações”. [tradução Fabio
Cyrino]. Edição bilíngue, São Paulo: Editora Landamark, 2007.
-GHIRARDI, José Garcez. “John Donne e a
crítica brasileira: três momentos, três olhares”. Porto Alegre: Editora, Age, 2000.
-VIZIOLI, Paulo. “O Poeta do Amor e da
Morte”. (John Donne). São Paulo: J.C. Ismael Editor, 1986.
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