Comentário do Blog Berakash: O jornalismo hoje em dia, não serve mais como meio de transmissão de informações, mas sim como construtor de narrativas militantes politicamente engajadas, ou fomentando o assassinato de reputações.Na segunda metade de 2000, um executivo da revista VEJA demitiu um de seus repórteres por ele ter publicado um erro em uma nota de poucas linhas. Diante do subordinado desconcertado, o chefe disse: “Você é pago para fazer três coisas. 1º apurar, 2º escrever e 3º checar. Uma delas você não fez direito”. A checagem tem um limite natural. Uma pergunta clássica dos checadores resume isso: “Não acho a informação em lugar nenhum”. Este é o momento crucial no qual os três pilares (apuração, redação e checagem) precisam estar bem alinhados. Esse limite natural dos checadores pode ser exemplificado com casos de nossa história recente. As informações apresentadas pelo então presidente do PTB Roberto Jefferson em uma entrevista que revelou a existência do Mensalão, em 2005, era algo impossível de ser verificado. Mas o caso ganhou corpo. Virou o tema principal de uma CPI e levou à condenação de 40 envolvidos naquele que chegou a ser o maior escândalo de corrupção do país. O mesmo critério se aplica à reportagem que apresentou aos brasileiros o sítio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em Atibaia. O excelente trabalho dos repórteres “colocou de pé” uma história a partir do zero. Algo que ninguém sem ter tido o acesso as informações que eles tiveram, poderia dizer se tratar de mentira ou verdade. A Polícia Federal e o Ministério Público entraram no caso e o ex-presidente se transformou em réu. Há, ainda, casos nos quais reportagens são desprovidas de qualquer fonte verificável ou documentação. Uma delas, sem dúvida, se tornou a mais importante do segundo turno da eleição presidencial de 2018: a denúncia de que o então candidato Jair Bolsonaro teria se beneficiado de financiamento irregular de campanha para a distribuição em massa de mensagens de WhatsApp, em matéria de Patrícia Campos Mello para a Folha de S.Paulo. Não há documentos. Não há provas que sustentem a narrativa. Não há fontes identificadas que possam ser inqueridas de forma independente. A sua repercussão se deu no calor da campanha pelo potencial de dano que tinha em relação ao candidato líder nas pesquisas. Nenhum jornalista foi capaz de comprovar, ou, pelo menos, verificar o que foi dito. Tudo se limitou à convicção. De um lado ficaram aqueles que acreditaram na reportagem. De outros os incrédulos que se dividiram entre aqueles que ficaram em silêncio e aqueles que partiram para um tipo de violência intolerável perseguindo e atacando os autores. A checagem é uma atividade do jornalismo. Fundamental e complementar. Em tempos de crise de credibilidade e da invasão de falsas notícias no mundo online, é imperativo que a atividade seja apoiada e fortalecida. Mas deve ser compreendida e dimensionada. A tentação de sobrepô-la à reportagem, como algo com credibilidade ou validade superiores, é um equívoco que pode levar o jornalismo a estar contra o jornalismo. Vejam essa excelente análise desse nosso momento, feita pelo padre João Medeiros.
“A urgência da
credibilidade”
*Por: Padre João
Medeiros Filho
Atualmente, uma das perguntas frequentes é a seguinte: “Em quem posso acreditar? Oxalá, houvesse a mesma certeza do apóstolo Paulo, quando se dirigiu a seu discípulo Timóteo: “Sei em quem acreditei.” (2Tm 1, 12). Diante de tantas notícias veiculadas nas redes sociais e na mídia tradicional, é cada vez mais difícil identificar palavras credíveis. No entanto, trata-se de uma urgência, diante de inúmeras inverdades que circulam em vários setores da sociedade brasileira contemporânea.
É raro ter conhecimento de relatos que inspirem credibilidade, sem embustes. Necessita-se de pronunciamentos que efetivamente sejam alicerçados na confiabilidade. Deve-se nutrir a sociedade com debates verdadeiros, indispensáveis à recomposição do tecido sociopolítico. Não basta somente dizer o que se pensa, nem opinar a partir de visões parciais, atreladas a grupos e ideologias. É imprescindível revitalizar o protagonismo de discursos críveis. Isto é uma obrigação cidadã e um dever cristão, impreteríveis para que se possa responder a opiniões polarizadas e falas que desagregam. Uma cidadania verdadeiramente qualificada sabe reconhecer a coerência e veracidade do que é propagado. Portanto, representa uma necessidade para o autêntico diálogo, capaz de edificar uma nação. Infelizmente, há um entendimento equivocado por parte de certos políticos e dignitários brasileiros, impondo cerceamento e distorções, subjugando e atrasando inadiáveis transformações civilizatórias. Tais imposições são fortalecidas por equívocos partidários e contextos ideológicos.
Estes são responsáveis pela inadequada concepção do bem-estar social e vêm neutralizando a configuração de uma cidadania propiciadora de novos rumos ao Brasil. É mister que tal aconteça, desde o âmbito da representatividade parlamentar e governamental à consciência participativa dos cidadãos, necessária ao bem coletivo.
Urge reconstruir a civilização, a partir do impostergável
compromisso de se promover a credibilidade!
Na Encíclica “Fratelli tutti”, o Papa Francisco insiste sobre a urgência da inegociável cultura do encontro para superar dialéticas que resultam em desavenças, inimizades e divisões. Note-se que no Brasil de hoje certos líderes políticos e autoridades dos diferentes poderes agem como promotores de polarizações, bloqueando e anulando possíveis avanços que dependem da capacidade de diálogo.Por isso mesmo, é necessário priorizar a confiabilidade, “deixando de lado toda mentira e dizendo somente a verdade”, como recomenda o apostolo Paulo (cf. Ef 4, 25). Por mais que se fale hoje em direitos, liberdade, democracia, diversidade e pluralidade, a prática e os resultados sociais mostram-se cada vez mais unilaterais, desrespeitosos, impositivos e radicais.
Deseja-se um estilo de vida, em que as autênticas
diferenças humanas possam conviver integradas, iluminadas e enriquecidas
reciprocamente!
A fragmentação da sociedade é altamente deletéria. No Brasil hodierno, contaminado por tantos arrogantes e presunçosos, pressiona-se o trânsito da mentira ou meia verdade. Há os que deliram, como se deuses fossem, ditando normas e regras, à base de sofismas e equívocos. A consequência é o descrédito e a recusa. E não falta quem lute para impingir o falso como verdade, o desonesto ou “jeitinho”, como padrão ético. Torna-se urgente uma cultura renovada, fruto de dinâmicas oriundas de diálogos autênticos.
Estes devem buscar alternativas e respostas inovadoras,
qualificando escolhas!
Importa renunciar à sede de querer impor ideias e opiniões obsoletas. Estas resultam, não raro, de cristalizações subjetivas ou interesses balizados na mesquinhez e ganância. Nesse importante processo de reconstrução social, necessita-se de posturas confiáveis, capazes de promover a paz, superando radicalismos delineados em contendas partidárias com interesses escusos. Certa feita, ouvimos do senador Affonso Arinos, falando à comunidade do Colégio Santo Inácio de Loyola (RJ):“Se os partidos políticos carregarem em suas entranhas interesses mesquinhos, as campanhas eleitorais tornar-se-ão falaciosas e patranheiros ou ilusórios serão os parlamentos e governos.”
As manifestações sinceras e transparentes são indissociáveis
da capacidade de dialogar!
Deve-se exigir no
trato social a confiabilidade e a verdade, bem diferentes dos discursos
populistas e manipuladores. Vale ainda lembrar o eminente acadêmico pernambucano,
Dom
José Pereira Alves, terceiro bispo diocesano de Natal, em sermão
proferido, na antiga catedral, perorando com estas palavras:
*Padre João Medeiros
Filho:
É natural de Jucurutu – RN, foi ordenado
em 25/08/1965 – Atualmente exerce seu ministério na Arquidiocese de Natal-RN. É
membro da Academia Norte-Riograndense de Letras, é uma referência no Estado
quando falamos em intelectualidade e educação. Padre João tem mestrado e
doutorado nas áreas de Teologia, Filosofia e Comunicação, tendo mais de
vinte obras publicadas, além de artigos para jornais e revistas.
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