Parece um mundo
diferente esse em que os católicos começam a se indignar com absurdos ocorridos
na Igreja do Brasil. Há apenas poucos anos, essa indignação era coisa de nicho:
ficávamos ali, uns poucos, perplexos e só.
É gratificante ver
que muitos leigos acordaram!
Durante um tempão, a
Igreja Católica no Brasil disse que era "o tempo dos leigos". Era
leigo pra cá, leigo pra lá; leigo pra cima e leigo pra baixo:
"Os leigos
precisam assumir sua posição na Igreja!"
"Tragam o leigo
para o centro!"
"Está na hora de
a Igreja absorver os valores da democracia!"
Então, os leigos
responderam. E ninguém gostou. Porque o leigo parece não ser como os
"padres de passeata" e os "sindicalistas de comunidade” de
antigamente. O leigo, esse misterioso ser que é "a alma do novo milênio",
bem... o leigo é católico. Simples e assustadoramente católico. Dir-se-ia até
que ele é cruamente católico. E o leigo tomou posição, ele começou a pedir que
a Igreja também voltasse a ser Católica. Se o leigo levantasse um manifesto,
poderia ser assim:
-Basta de igrejas
fechadas! Queremos de novo a Eucaristia, a confissão e os sacramentos.
-Basta de
"celebrações virtuais"! Queremos outra vez ajoelhar, comungar e
adorar.
-Basta de comícios
políticos e de shows barulhentos! Queremos a Missa - tão-somente a Missa.
-Basta de doutrina
rasa, auto-ajuda barata, politicagem rasteira! Queremos a doutrina, a boa e
verdadeira doutrina, com seus dogmas e seus doutores.
-Basta da última
folha do jornalzinho! Queremos o Evangelho - leiam-nos o Evangelho!
-Basta de Campanha da
Fraternidade! Voltem logo com a nossa Quaresma.
-Basta de submissão
aos poderes políticos! Importa servir antes a Deus que aos homens.
-Basta, mil vezes
basta, de renegar a Cristo pelo mundo! Queremos Deus, homens ingratos, ao Pai
Supremo, ao Redentor! O leigo grita: devolvam-nos a Igreja! Parem de privatizá-la!
E os outros correm:
"Escondam o leigo! Ele não serve para nós! O leigo causa
divisão!"
Mas o leigo acordou -
e ele não vai descansar enquanto não recuperar Cristo Santo, Crucificado e
Ressuscitado, que está sentado à direita de Deus Pai, donde há de vir julgar os
vivos e os mortos. E o seu reino não terá fim.
*Taiguara Fernandes
de Sousa:
Advogado e jornalista. Foi colunista e editor da Revista Vila Nova. Articulista
para o Senso Incomum, Gazeta do Povo, Homem Eterno, Sul Connection e outros.
Qual o papel do leigo na Igreja Católica?
Em 2018, a CNBB
instituiu o ano do laicato, ou seja, o ano de pensar o papel do leigo dentro da
igreja, esse chamado de participar da vida eclesial. O estudo nº 107 da CNBB,
“Cristãos leigos e leigas na Igreja e na sociedade”, sai ao encontro desse tema
e busca esclarecer um pouco melhor qual é esse papel.
Qual é, então, a vocação do leigo na Igreja? O que ele
está chamado a fazer?
Entender por que se
faz essa pergunta atualmente já é um bom caminho andado na direção da resposta
que buscamos. Parece existir na Igreja uma noção errada de que os clérigos
(bispos, padres e diáconos, em oposição aos leigos, que são todos os demais
fiéis) são os “mais importantes e os protagonistas” da Igreja, enquanto os
leigos são “os que escutam”, que passivamente se alimentam daquilo que os
clérigos possuem para dar. A esse clericalismo, o Concílio Vaticano II
respondeu, voltando a afirmar a dignidade e a missão fundamental dos leigos na
Igreja.Por sua realidade de batizados, todos os leigos não apenas estão
na Igreja, mas são Igreja, são parte do corpo que tem Cristo por cabeça, assim
como os clérigos. Como tais, estão também chamados a ser discípulos missionários, participantes
da missão da Igreja de anunciar o Evangelho a todas as nações. E, para
isso, eles precisam experimentar renovadamente que o seu encontro com Jesus é
verdadeiro, a fim de anunciá-lo em primeira pessoa. Isso acontece por meio de
uma vida de oração intensa, onde se saboreia a mensagem de Jesus e se
experimenta a sua graça sempre presente.
A partir desse
encontro renovado, deve-se superar alguns antagonismos que hoje vemos muito
presentes. Um primeiro antagonismo é o que se dá entre a fé e a vida, que faz
referência a uma espécie de separação da vida de fé e da vida prática, como se
as duas realidades não se relacionassem. Muitos vivem uma espécie de
agnosticismo funcional, no qual a fé não interpela mais a vida cotidiana. São
os cristãos de domingo e dias de festa, quando o verdadeiro chamado é a ter uma
vida (completamente) cristã.
Outro antagonismo que precisa ser superado acontece entre a Igreja e o
Mundo. Muitos podem pensar que a Igreja é uma espécie de refúgio, no qual se
pode fugir do mundo hostil. Se bem é verdade que na Igreja encontramos esse
espaço de paz verdadeira, precisamos reconhecer que é essencial que essa paz
chegue aos quatro cantos do mundo.
Cristo, com sua
encarnação, valorizou o mundo e os homens, e é por isso que não nos desentendemos
do mundo, mas buscamos transformá-lo, de acordo com o máximo das nossas
capacidades e possibilidades, fazendo com que seja cada vez mais conformado, de
acordo com Cristo e o Reino de Deus que Ele veio anunciar.
Superados esses (e outros) antagonismos, o leigo
percebe que está chamado a ser o que se dá o nome de Sujeito Eclesial, que
significa reconciliar toda a realidade humana e divina em uma mesma pessoa,
o cristão, à imagem daquele que é Deus e homem, Jesus.
Esse sujeito atua no
mundo como cidadão, mas seu atuar é fruto de seu ser, e o seu ser é católico.
Em outras palavras, o sujeito eclesial está chamado a fazer parte ativa da
missão da Igreja de restaurar tudo em Cristo, sob a proteção e guia de Maria.
Por: João Antônio
Johas Leão - Licenciado
em filosofia, mestre em direito e pedagogo em formação. Pós-graduado em
antropologia cristã e entusiasta de pensar em que significa ser cristão hoje.
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