A Sociologia Compreensiva de Max Weber: A ética protestante (Puritanismo Calvinista) e o espirito do capitalismo
Karl Emil
Maximilian Weber nasceu em 1864, em Munique, Alemanha. Durante
esse período, o autor vivenciou importantes acontecimentos históricos como a
segunda revolução industrial; o processo de unificação até o fim do Império
Alemão; Pela Dinastia Bismark; e pela 1º Guerra
Mundial. Durante sua vida, o
autor teve que ir para um sanatório devido a um colapso mental em 1897, quando
seu pai faleceu, acabou sofrendo de depressão, ansiedade e insônia. Após
esse colapso, o jovem Weber acaba afastando-se da faculdade em que trabalhava
para cuidar de sua saúde até seu retorno em 1903 (Max Weber Biography, 2014). Um ano após seu retorno ao ensino
universitário, em 1904, ele realiza
palestras sobre seus artigos, que logo em
seguida serão compilados no livro “A Ética Protestante e O Espirito
do Capitalismo”. A obra aborda as
influências específicas Puritanismo Calvinista Protestante no capitalismo
moderno. Um tempo depois da publicação, Weber estava
produzindo obras para dar continuidade a essa pesquisa para outras vertentes e
religiões. Porém, ele
contraiu uma gripe e acabou morrendo em Munique em 1920(Max Weber
Biography, 2014). Durante sua vida,
Weber foi economista, jurista e considerado um dos fundadores da sociologia que
o ocidente conhece atualmente. Ele influenciou
diversos campos de estudo, como administração, filosofia, economia e ciências
políticas. Pioneiro de uma abordagem diferente da sociologia, Weber acreditava que
o sociólogo precisava entender os “tipos ideais” e as “ações sociais” presentes
na sociedade (Sociologia Compreensiva).
Em sua obra inacabada Economia e
Sociedade, o autor apresenta para o leitor essa interpretação:
1)-Tipos ideais: A
definição simples de “tipos ideais” seria semelhante a uma
“caricatura” ou um “exagero da realidade”. Tentando entender a sociedade, o
sociólogo precisava “caricaturar” seu recorte de pesquisa ou seja, seu objeto
de estudo, para que as características principais destaquem-se,enquanto as
partes menos importantes fossem completamente invisíveis. Assim
facilitaria o papel do sociólogo para a compreensão da sociedade(BODART, 2010).
2)-Ação
social: Um outro conceito importante para o entendimento do
pensamento de Weber é o de “ação social”. Em
sua visão, o indivíduo possui uma capacidade de agir, e suas ações seriam
determinadas por sua visão de mundo que surgiam por um entendimento
coletivo(CABRAL, 2016). Segundo o
autor, o sociólogo precisa entender essas ações sociais que é orientada por essa
estrutura coletiva de entendimento.
A Sociologia Compreensiva de Max Weber e os 04 "tipos
ideais" de AÇÃO SOCIAL (para entender como a sociedade funciona):
Max Weber vai se contrapor a linha
sociológica de Émile Durkheim, porque Max Weber não olha para a sociedade, mas para o
INDIVÍDUO. Quer entender a sociedade
observando como o indivíduo se comporta, como ele participa e interage nesta
engrenagem social, ao invés de olhar para o todo, ou seja, para o produto
final. Prefere olhar para a AÇÃO DO INDIVÍDUO de acordo com as demandas sociais
que lhe chegam. Para Max Weber não é o todo que faz as
pessoas serem como são, mas a é INDIVIDUALIDADE que faz com que a Sociedade
aquilo que ela é. Para Max Weber portanto, todo e qualquer indivíduo
age com um destes tipos de AÇÃO SOCIAL:
a)-A ação social
racional legal com relação a fins, onde a ação é
racional que determinando um objetivo, ou seja, um fim, toma as atitudes
racionalmente mais eficientes. Exemplo: Levantar-se todos os dias para
ir trabalhar ou estudar – Objetiva: Sustento e formação para enfretar
o mercado de trabalho, respectivamente.
b)-A ação racional
com relação a valores, na qual esta ação é guiada
por um valor, seja ele, religioso, político, moral, ético, etc. Exemplo:
Evangelização/propagação religiosa e ou doutrinação ideológica materialista/ateia.
c)-A ação social
afetiva, em que é movida por uma
emoção, sentimento ou paixão: Exemplo: Pessoa que depois de muito
tempo por vingança mata outra pessoa. Pessoa apaixonada que faz uma serenata a
noite para sua amada se arriscando a ser assaltado ou preso pela polícia por
infringir a lei do silêncio. Um torcedor que provoca a torcida contrária antes,
durante e depois de sair do estádio.
d)-Ação social
tradicional que é
motivada por um costumes ou hábitos antigos(CABRAL, 2016).Pode ser chamado de
inconsciente Coletivo. Exemplo: Este trabalho sempre foi feito
assim, não vemos motivos para mudanças.
A Sociologia Compreensiva de Max Weber
e os três tipos de dominação que é diferente de Poder:
O que se entende por poder a partir de
Marx Weber? O centro da atividade política é a busca pelo poder. Para
Marx Weber, existem dois tipos exemplares de poder:
1º)-Uma pessoa sai de casa para fazer
compras numa padaria ou numa farmácia, e ao longo do caminho é abordada por um
assaltante a mão armada que lhe ordena a entregar tudo que você tem: Dinheiro,
celular joias, além de sua carteira com cartões e seus documentos. E você é
obrigado(a) a obedecer. Neste momento o assaltante está exercendo sobre você um
poder, ou seja, ele está impondo a vontade dele sobre você. Porém, é
um poder ILEGÍTIMO e ILEGAL.
2º)-Durante este assalto, por sorte sua, aparece a polícia, que detem o PODER LEGÍTIMO de DOMINAR o assaltante e exigir dele a devolução de tudo que lhe fora roubado e ainda prendê-lo contra a vontade dele, pois ninguém quer ser preso. Neste caso, sobre o assaltante foi imposto um PODER LEGÍTIMO e LEGAL.
Para Max Weber, poder é a possibilidade de impor sua própria vontade mesmo contra a vontade dos outros. Porém, não se pode manter por muito tempo o povo por meio deste poder. Até porque sob a mira de uma arma só se pode alcançar um número limitado de pessoas. É um poder passageiro, limitado e de pouca extensão. Procurar meios para que as pessoas achem correto obedecer, é onde entra o conceito de DOMINAÇÃO, que é a possibilidade de encontrar obediência em uma sociedade ou grupo de pessoas. Porém, para convencer as pessoas, a dominação TEM QUE SER LEGÍTIMA. Encontrar formas de convencer as pessoas que o melhor para ela e para todos é obedecer, pois não dar para você ficar apontando o tempo todo uma arma obrigando as pessoas o tempo todo a lhe obedecerem, é necessário convencê-las de alguma maneira, que a melhor coisa para todos é realmente obedecer, submeter-se à aquele governo, dominador ou líder.
As ordens de ação da Dominação segundo
Max Weber são de TRÊS TIPOS:
1)-DOMINAÇÃO TRADICIONAL: É aquela que se
impõe pelos costumes arraigados por gerações. Não se pensa em uma outra forma de
viver a não ser obedecendo a esta tradição recebida, vivida, e mantida de forma
inquestionável. Obedeço
porque sempre foi assim: Eles mandam e nós obedecemos. O certo é obedecer.
Encontramos esta dominação nas Culturas indígenas, na política, religião,
governos, etc.
2)- DOMINAÇÃO RACIONAL (LEGAL):É aquela que se
baseia na lei e estão convencidos de que a lei deve ser cumprida já que é fruto
de um consenso. Exemplo: Funcionário Públicos (Juízes,
promotores e executores da lei)aplicam a lei independente de a quem
estão aplicando (parentes,
conhecidos e estranhos)pois está convencido de que o correto e aplicar a lei e
demais se submeterem a ela.
3)-DOMINAÇÃO CARISMÁTICA (não confundir
com simpatia):Baseia-se
na CRENÇA de que o líder tem qualidades EXCEPCIONAIS, dons
extraordinários. É um líder inspirado, que está imbuído na
capacidade de cumprir uma MISSÃO. Vai na frente desbravando, abrindo caminhos,
enfrentando obstáculos. Esclarecendo e mostrando caminhos, explicando como as
coisas devem ser. Passa confiança, inspiração, convicção, sendo extremamente
persuasivo. Nem sempre é
simpático do tipo que sai sorrindo e abraçando todo mundo. O simpático não vai
te nada em troca, o Carismático vai te pede tudo: Fidelidade, negação de outras
coisas em seu seguimento; pede que você der o seu sangue pela causa, e que você
unido a ele, vá a luta para atingir seus objetivos.
RESENHA SOBRE A ÉTICA PROTESTANTE E O “ESPIRITO” DO CAPITALISMO
A Ética Protestante e O
Espirito do Capitalismo é a obra mais famosa de Weber. Pulicada
em 1905, essa obra é a compilação de dois artigos independentes que foram
escritos no ano anterior da sua publicação, em 1904, enquanto o jovem Weber
fazia uma viagem aos EUA(Max Weber Biography, 2014). No livro, o autor tenta compreender o capitalismo moderno do
âmbito cultural religioso. Ou
seja, em suas análises, ele consegue estabelecer uma relação e suas
influências entre a cultura capitalista moderna e o puritanismo adotado pelas
igrejas e seitas protestantes dos séculos XVI e XVII(WEBER, 2007). Enquanto Weber coletava dados sobre a sua região, Alemanha,
ele percebeu uma característica interessante entre a posição econômica das
pessoas e as suas religiões. Ele descobriu que a maioria dos
“homens de negócio”, os bem sucedidos, eram protestantes. Em contrapartida, os
que não eram tão sucedidos em comparação, eram católicos. Além
disso, as regiões que mais “desenvolveram” culturalmente também eram
concentradas em ambientes de maioria protestante. Para delimitar até
que ponto essa relação atingia, Weber realiza uma análise macro da
Europa, que ele considera como a mesma trajetória
histórica que a Alemanha.O resultado foi o mesmo:
Regiões com predominância protestante como Alemanha
e Inglaterra tinham o capitalismo mais difundido e “desenvolvido”. Enquanto
isso, regiões de maioria católica como é o exemplo de Portugal e Espanha, não
eram tão “desenvolvidos”. Assim, ele percebe que a reforma protestante
não eliminou o controle da igreja sobre a vida cotidiana, mas trouxe uma nova
forma de controle, mais opressiva e imposta(WEBER, 2007).
O
“Espirito” do capitalismo
Para tentar
explicar essa relação,Weber define o que seria o
“espirito” do capitalismo que ele considera como uma espécie de ideias e
hábitos que favorecem uma procura racional individualista de ganho
econômico(WEBER, 2007). Para exemplificar
de maneira mais palpável possível, Weber busca um personagem famoso da época,
Benjamim Franklin, e mostra, através de suas frases como ele representa esse
espírito:
-“A preguiça anda
tão devagar, que a pobreza facilmente a alcança.”
-“Cuidado com as
pequenas despesas: uma fenda diminuta pode fazer afundar um grande navio.”
-“Cedo na cama,
cedo no batente. Faz o homem saudável, próspero e inteligente.”
-“Você pode adiar,
mas o tempo não posterga.”
Essas frases
de Franklin deixam evidente que o sistema capitalista deixa os homens dominados
pela busca de dinheiro(WEBER, 2007). Esse
sistema, requer uma devoção para fazer dinheiro. A
profissão é vista como um dever e da necessidade de se dedicar ao trabalho
produtivo como um fim de si mesmo. Uma
vocação para todo esse modo de vida(WEBER, 2007).
Vocação do
capitalismo e o puritanismo inglês
A vocação que o
capitalismo necessita, é semelhante a interpretação luterana de vocação na
Bíblia, que compõe o pensamento raiz do protestantismo ascético. Para
Lutero, vocação é a valorização da realização do dever nos afazeres seculares
como a mais elevada forma de atividade que o indivíduo pode exercer. Um de seus
seguidores pergunta na época a Lutero:
-O que preciso
fazer para cumprir a Obra de Deus?
Lutero pergunta:
-Qual sua
profissão?
O seguidor de
Lutero:
-Sapateiro!
Lutero o
aconselha:
-“Volte para sua
oficina, der o melhor que você puder para fazer o melhor sapato e cobre o preço
justo.”
Ou seja, o único
modo de vida para Deus segundo este seguimento protestante, é no
desempenho das obrigações impostas pela sua posição no mundo(WEBER, 2007). Essa
interpretação, justifica o estilo de vida de produção, como algo aceitável e
conformado por essa vida de cumprimento do dever individual.
A religião
protestante-ascética subdivide-se em:
1)-Calvinismo.
2)-Pietismo.
3)-Metodismo.
4)-As seitas
(baseadas nos movimentos batistas).
Alguns dogmas
Cristãos sofreram certas alterações no Protestantismo. Todas essas formas
protestantes acima tiveram um papel importante no desenvolvimento do
capitalismo, porém, o calvinismo destacou-se. No calvinismo, a
predestinação, dogma principal, que dizia que uma ínfima parcela os homens
serão escolhidos para a Graça e que ninguém
saberia quem seria, tornou uma
atitude individualista nas relações. Na
Inglaterra, o puritanismo, vertente do calvinismo, confere uma justificação
para a vocação luterana e para a busca de riqueza. Para
o puritano, a acumulação de riqueza é vista como algo positivo, diferente do
catolicismo, e a busca para sempre trabalhar mais e mais uma coisa positiva.
O
tempo na visão capitalista
O tempo torna-se
importante. Em “A mulher maravilha”, filme de super-heroína estreado em 2017,
mostra em uma conversa entre os protagonistas a importância que o tempo tomou
em nossa sociedade. O protagonista mostra para a heroína (que vive em uma ilha
sem contato com a sociedade) um relógio de pulso e explica que ele diz a hora
de dormir, quando acordar, comer. Então a heroína afirma: “não acredito que
você deixa uma coisa desse tamanho controlar a sua vida”. Essa afirmação
demonstra como o tempo, em uma sociedade capitalista, é uma das coisas mais
importantes e que o puritanismo inglês também acredita. Perder
tempo, para um Calvino, dormindo mais que o necessário para a saúde é motivo de
condenação moral (tempo é dinheiro). Nessa visão, Deus quer apenas o
trabalho racional na vocação. Perda de oportunidade de enriquecer é
um conflito com a finalidade da vocação. Atividades
sem propósito racional ou como um meio de diversão, como o esporte, são
abomináveis. Assim, a sociedade torna uma
grande fábrica de produção como o filme, “tempos modernos” de Charles Chaplin em 1936, onde
o homem se torna apenas uma ENGRENAGEM, e que a busca sempre é acumulação de
riquezas.
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*Para citar este texto: Apostolado Berakash – Se você gosta de nossas publicações e caso queira saber mais sobre determinado tema, tirar dúvidas, ou até mesmo agendar palestras e cursos, entre em contato conosco pelo e-mail:
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