(sociólogo francês Jean-Pierre Le Goff)
Para o sociólogo francês Jean-Pierre Le
Goff, pesquisador do Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS) e autor de
diversos livros desde a década de 80: "Correntes da esquerda francesa têm sido
condescendentes com o avanço do islamismo extremista pelo medo de ser acusada
de racista!"
1)- Quais são os efeitos imediatos do
atentado?
A unidade do país é incontornável! Não
vejo quem possa ser contra, num primeiro momento, ao ataque, que foi feito pelo
terrorismo islâmico. Não foi a maioria dos muçulmanos que vivem no país e que
condenaram o atentado. Uma minoria, mas há um medo de se atacar o problema
dos extremistas para não ser tachado como islamofóbico. Perdemos um certo bom
senso. O espírito francês foi atingido no seu âmago que é o humor, a liberdade
de expressão, a democracia! Seja de direita ou de esquerda, sabe-se que houve
um ataque contra o pensamento. É altamente simbólico porque atacaram a
caricatura, que é uma paixão nacional.
2)-Não era esperado um atentado de
maior porte depois de uma série de ataques recentes?
É verdade que há uma série de ataques
desde 2012, quando em Toulouse (sudoeste da França), um atirador matou três
crianças franco-israelenses e um rabino numa escola judaica. Como conseguir
combater isso é um desafio porque a França recebe muitos muçulmanos. Ao
se negar esse problema, é o extremismo que vence.
3)-Onde será preciso atuar?
Nesse primeiro momento, é preciso atuar
com a polícia, contraespionagem na França. Precisa-se de uma repressão porque a
democracia foi atacada. Ainda há um medo de falar em islamofobia, de se
estigmatizar. [Michel] Houellebecq teve dificuldades ao lançar um romance
[“Soumission”, que mostra a França dirigida por um muçulmano em 2022 depois do
fim do segundo mandato de Hollande e numa coalizão republicana que bate Marine
le Pen] em que mostra um presidente muçulmano que não é um terrorista, mas um
moderado. Ele foi criticado como se não pudesse falar nisso. Desde que o livro
saiu, foi visto como islamofóbico por muitos.
4)-O presidente François Hollande
experimenta níveis baixíssimos de popularidade. Quais os efeitos políticos
desse atentado?
Em um primeiro momento, haverá a união
de todos, e isso favorece Hollande. Mesmo Sarkozy e Marine le Pen disseram que
foi o atentado foi obra do movimento jihadista e não muçulmano, mas isso não
vai durar muito. Se os problemas não forem atacados,
mesquitas vão ser incendiadas. Nas próximas eleições, o Front Nacional [extrema
direita] vai ter um ótimo desempenho, com certeza vai chegar ao segundo turno
das eleições presidenciais. Depois, se não houver uma resposta clara sobre a
situação do islamismo e a laicidade, a extrema direita será mais favorecida.
5)-O extremismo muçulmano é um problema
francês ou europeu?
Da Europa como um todo e da França, em
particular. Aqui na França, vimos uma clara escalada da influência extremista
muçulmana em alguns subúrbios de Paris. Muitas pessoas dizem que não querem se
integrar. Houve recentes manifestações contra judeus. Há uma inquietude na
sociedade francesa e na Europa. Existem hoje cerca de mil franceses que foram
arregimentados e partiram para a Síria para serem treinados como jihadistas.
Relaxamos em vários aspectos. Nos anos 80, correntes dentro do Partido
Socialista hesitaram sobre se deviam permitir que as meninas usassem véus em
escolas [polêmica conhecida como caso de Creil]. Na década de 90, vimos
pregadores de um Islã fundamentalista virem para a França e instalarem
mesquitas sem que nada fosse feito. Há cerca de dez anos, quando Martine Aubry
era prefeita de Lille-Sud, houve uma grande polêmica porque grupos extremistas
passaram a controlar a hora de homens e de mulheres entrarem em uma piscina
pública e houve demora das autoridades de pôr fim ao caso.O Front Nacional
(extrema direita) explorou esse medo que já existia, mas não o criou. Ou o Islã
se integra à França, à Europa, com uma islamização republicana europeizante, ou
islamiza-se a Europa.
Fonte: Jornal O Globo
Abaixo
algumas perguntas a título de reflexão, não significa que temos todas as
respostas, mas, precisamos tratar sobre esta tendência que está se alastrando:
1ª)- Limitar a
liberdade de expressão é ou não, uma forma de censura?
2ª)- Qualquer pessoa pode, em nome dessa liberdade, falar TUDO o que quiser, sem
medir as consequências?
3ª)- O direito de
expressão é um direito a desrespeitar o outro?
4ª)- A liberdade de expressão é um direito
absoluto, ou relativo?
5ª)-Pode se falar de direito absoluto sem isso implicar na
imposição desse direito a todos, de forma indiscriminada, passando por cima
inclusive do direito do outro de não ser desrespeitado pela expressão do outro?
6ª)- Posso expressar qualquer coisa em nome do meu
direito de expressão e o outro pode fazer qualquer coisa em nome do seu direito
de indignação?
7ª)- Existe algum tipo de ética dentro do direto à
liberdade de expressão, ou a ética fica subjugada à liberdade individual de
dizer o que eu penso?
8ª)- Existem assuntos tabus que nunca podem ser
abordados dentro da liberdade de expressão, dentre eles a religião?
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