Por AFP - Agence
France-Presse
O primeiro-ministro francês, Manuel Valls, declarou
nesta sexta-feira que a França está em guerra "contra o terrorismo, não
contra uma religião", e estimou que serão necessárias novas medidas
"para responder à ameaça".
"Estamos em uma guerra contra o terrorismo. Não estamos em uma guerra
contra uma religião, contra uma civilização", declarou Valls.
Já o presidente François Hollande pediu para que as estigmatizações e as
caricaturas mais lamentáveis sejam rejeitadas."Tranquilizar a população é dizer a ela que vive em um Estado de direito e
com o desejo de conviver juntos, de recusar (...) o estigma, as caricaturas
mais lamentáveis", disse o presidente em uma reunião com os prefeitos no
ministério do Interior.
OPINIÃO: "O
problema não é a religião"
Os ataques brutais de terroristas islâmicos na
França chocaram a Europa. Mas não é por isso que o islã e todo tipo de crença
religiosa devem ser desacreditados.
Opina
Felix Steiner, da redação alemã da DW:
“É hora de fazer uma
confissão: sou católico. E gosto de sê-lo. Minha fé me dá forças. E a sensação
boa de ser mais do que apenas uma aberração da natureza, mais do que apenas um
acaso biológico que surgiu do nada e que algum dia desaparecerá no nada
novamente.Sou um reflexo de Deus, que os judeus chamam de Jeová e os muçulmanos
de Alá. Isso está no Gênesis, sagrado para judeus e cristãos. E por causa da minha fé tenho dignidade,
assim como todos os seres humanos. Uma dignidade que é inviolável, que deveria
ser respeitada e protegida. Não é coincidência que exatamente isso conste na
primeira frase do Artigo 1º da Constituição alemã.Aqueles que não querem ter na fé um ponto de apoio fiquem à vontade.As
sociedades livres do Ocidente não obrigam ninguém a acreditar em algo específico
ou sequer a acreditar em algo. Mas mesmo que minha fé não importe ao Estado
alemão, ele está do lado de todos os que creem, pois garante a "prática
imperturbável da religião". Isso também está no topo da Constituição.Por
esse motivo, não preciso aceitar, por exemplo, quando durante a missa de Natal
uma jovem pula nua no altar da catedral de Colônia e grita: "Eu sou
Deus". Em vez disso, posso ficar contente com o fato de ela ter sido
condenada a pagar uma multa.Mas há
outras coisas que preciso aceitar, mesmo que me irritem profundamente. Porque
maculam minha religião, maculam coisas que são importantes e até sagradas para
mim. Por exemplo, quando Cristo crucificado é ridicularizado. Ou quando o papa,
o líder da Igreja Católica, é retratado com uma mancha de urina na batina e o
título: "Vazamento encontrado no Vaticano".Mas nenhum comediante ou
cartunista de uma revista satírica está preso na Alemanha por causa disso.
Porque provocações desse tipo são contempladas pela liberdade de expressão e de
imprensa. E eu, como cristão, posso escolher evitá-las. Não preciso frequentar
shows de comédia nem ler ou comprar revistas do gênero. Como cristão
letrado, encontro consolo numa citação de Goethe: "Nada descreve melhor o caráter dos homens do que aquilo que eles
acham ridículo".Tudo isso é herança da época que os historiadores
chamam de "Iluminismo". Para
simplificar, trata-se do princípio de reciprocidade: recebo a liberdade para
acreditar no que quero e aceito a liberdade dos outros de dizerem o que quiserem
a respeito. Ou, ainda mais curto: meus direitos existem porque tolero
dissidentes. Somente a ofensa pessoal não é permitida. E locais de culto, sejam
igrejas, sinagogas, mesquitas ou templos budistas, são espaços protegidos. Há
cerca de 300 anos a Europa e os Estados Unidos convivem muito bem com esse
princípio.O "Ocidente iluminado" não pode fazer concessões quanto a
isso. Ou seja, quem quiser viver aqui precisa aceitar as regras. Isso não é
uma imposição, mesmo que às vezes faça cristãos conservadores parecerem ser
exatamente como muçulmanos radicais. E
quem fizer uso da violência para alcançar objetivos religiosos ou eliminar
inimigos da própria fé não tem espaço na civilização no ano de 2015.Tal visão
não é compartilhada somente por quase todos os cristãos da Europa, mas também
por 90% dos muçulmanos que vivem aqui. Muçulmanos que perceberam há muito tempo
que, sob as regras vigentes em muitos países islâmicos, seria impossível
praticar abertamente sua fé na Europa. E, por isso, aprenderam a valorizar a
tolerância europeia.Mas há algo que fere muçulmanos tanto quanto me fere:
quando os atos brutais de poucos fazem toda uma religião e a religiosidade em
si serem desacreditadas. Quando em dias como esse se afirma que um mundo sem a
fé em Deus seria um mundo melhor, porque a religiosidade sempre acaba em
radicalismo. Não, eu me oponho! Minha fé tem muito valor para mim e não
deixarei que ninguém a tire de mim. Aliás, meu vizinho muçulmano compartilha da
mesma opinião.”
Nos últimos dez anos,
101 torcedores morreram em brigas de estádio no Brasil !
O
número é cinco vezes o de mortos em ataques de terroristas muçulmanos na França
e o dobro das vítimas da Inglaterra no mesmo período.
Podemos
então dizer que "esporte mata"? Que o futebol provoca violência?
Pois
é exatamente o que fazemos quando culpamos a religião pelo terrorismo.A
crueldade do ataque aos jornalistas do Charlie Hebdo faz muita gente ligar os pontos e
afirmar que religião causa violência. Também
parece haver bons argumentos para essa ideia. As cruzadas, as carnificinas
entre protestantes e católicos nos séculos 16 e 17, os conflitos entre hindus e
muçulmanos na Índia: banhos de sangue em nome da fé são frequentes na história.Mas isso é um mito. Religião não provoca violência,
ou melhor: provoca tanta violência quanto qualquer identidade de grupo
“O homem mata em nome da
fé, mas também em nome de ideologias políticas, da nação, de etnias, da escolha
sexual, do estilo de roupas e músicas (como as gangues de Nova York dos anos
80) ou em nome de times de futebol. O problema não é a religião, mas a
tendência humana à hostilidade entre grupos.”
Para
entender esse padrão é preciso ir longe – até o momento em que violência entrou
para o repertório de comportamentos humanos, há algumas centenas de milhares de
anos.Nas savanas da África, onde o homem passou 90% de sua história evolutiva,
ficar sozinho não era uma boa ideia. Significava estar vulnerável a animais
ferozes e a ataques de tribos vizinhas. A solidão também resultava em fome,
pois a caça de grandes animais da megafauna (o big game)
exigia ação coletiva e coordenada.Para
sobreviver e ter filhos, era preciso pertencer a um grupo. Fechar um “pacto ou
conspiração baseada em interesses mútuos de longo prazo”.Mas pertencer a um
grupo não bastava. Os genes tinham mais chances de se perpetuar
se o indivíduo participasse de uma coalização vencedora. Grupos mais harmônicos
e cooperativos, que armavam emboscadas com maestria, construíam boas
ferramentas e abatiam o inimigo sem piedade, superavam grupos humanos
desunidos.
A evolução de um certo modo favoreceu, assim, a
tendência a dois comportamentos opostos:
1º)- Entre
os membros do grupo, ganhou o páreo o indivíduo capaz de sentir emoções que
possibilitavam a cooperação. É o caso da compaixão, a satisfação em fazer
amigos, a noção de culpa (sentimento que nos empurra para reparação e
conciliação com o grupo), a vontade de castigar quem não coopera, a obsessão
humana com a reputação, o medo de ficar sozinho.
2º)-Ao
mesmo tempo, emergiu a tendência à hostilidade e à violência contra grupos
rivais. É o que os biólogos chamam de “altruísmo paroquial”.Basta uma
olhadela na história mundial para perceber que boa parte dela se resume a
hordas, gangues, tropas, tribos, times, bandos, exércitos – enfim, coalizões de
homens jovens cooperando entre si – lutando contra outras coalizões de homens
jovens. A religião, nessa história, é mais um pretexto para justificar uma
antiga tendência humana ao antagonismo entre grupos.
Não nego
que algumas crenças incitem os fiéis à violência e sejam mais problemáticas que
outras. Mas achar que guerras e atentados diminuiriam se as religiões acabassem
é ser otimista demais com o homem. Como mostrou o século 20, não é preciso
religião para haver massacres e genocídios.
TENHAM
CUIDADO COM A DITADURA DO POLITICAMENTE CORRETO, que dá voz aos melindrados hipócritas
dos ofendidinhos de plantão !
Já
dissemos aqui e reafirmamos: todas as religiões,inclusive o catolicismo,possuem
eventualmente aspectos passíveis de serem criticados e ironizados. O profeta Elias nos
mostra que o humor é uma arma legítima para a defesa da verdade, e não deve ser
excluído do debate religioso:
“Elias escarnecia-os, dizendo: Gritai com mais força, pois
(seguramente!) ele é deus; mas estará entretido em
alguma conversa, ou ocupado, ou em viagem, ou estará dormindo… e isso quem sabe
o acordará...” (I Reis 18, 27).
É
justo pedir um mínimo de bom senso. Tomara que aqueles que usam do humor
utilizando temas religiosos elevem o nível acima das sátiras abjetas da Reforma
Protestante, do Charlie Hebdo, do Porta dos Fundos e companhia LTDA.Nesses tempos de discussão sobre o respeito às
crenças religiosas alheias, convém mais do que nunca trazer à tona uma faceta
de Martinho Lutero que pouca gente conhece: o de gravurista que não tinha
limites para a baixaria.Bem diferente do que muita gente pensa, não foi por
meio da distribuição de bíblias que a Reforma Protestante difundiu sua doutrina.
A grande arma de propaganda dos “reformadores” eram panfletos com
gravuras ridicularizando o Papa e o clero das formas mais
asquerosas possíveis, no melhor (ou pior) estilo da revista Charlie
Hebdo.
Ânus, cocô e demônios eram elementos quase
onipresentes nos desenhos de Lutero e sua turma. Pudera… a boca fala do que
o coração está cheio!
Vejam que “primor”, por exemplo, o texto que
acompanha a gravura: De Ortu et Origine Monachorum (“A Fonte e a
Origem dos Monges”): diz que o capeta teve uma dor de barriga e, ao se
aliviar sobre uma forca, de seu traseiro saíram os monges. Será que
Luterinho, ex-monge agostiniano, estava então contando sua própria história de
vida?É preciso dar um desconto para Lutero, afinal,
diferente dos cartunistas franceses, ele não usava a imagem de Cristo
para blasfemar, nem tampouco a da Santíssima Virgem, de quem era devoto.Por outro lado, enquanto as charges do jornal
francês nunca incitaram a violência física contra ninguém, Lutero, por sua
vez, pedia em uma gravura que o Papa e os cardeais fossem mortos na forca
e tivessem suas línguas pregadas.A gravura intitulada Digna merces Pape
satanissimi et cardinalium suorum (“A justa recompensa que o Papa
Sataníssimo e seus cardeais merecem”) foi produzida por Lucas Cranach. Por
encomenda de seu amigo Lutero, esse pintor renascentista fez diversas
xilogravuras anticatólicas. Lutero e Lucas formaram assim a dupla LULU; um
bolava o desenho, o outro executava.O mais célebre dos panfletos de Lutero ilustrado
por Lucas Cranach é “Contra o pontificado romano fundado pelo diabo”, de março
de 1545. A gravura “O nascimento e a origem do Papa” apresenta um demônio
feminino “parindo” vários papas pelo traseiro; os bebês são embalados e
amamentados por outros demônios. A
genialidade humorística da dupla LuLu era mesmo ilimitada. Além de muito
cocô e bunda, eles também faziam sátiras com… muito cocô e bundas.Na
gravura cujo título é Adoratus Papas Deus Terrenus, eles sugerem
que o povo deveria usar a tiara papal como penico.
Mas nem tudo o que a propaganda
da Reforma produzia era baixaria!
Há
algumas exceções com conteúdo de crítica genuína, como a ótima gravura que
compara o abuso da venda de indulgências ao crime dos vendilhões do templo
MUITO OPORTUNA PROFETICAMENTE PARA O ATUAL PROTESTANTISMO. A imagem faz parte
de uma série de “quadrinhos” feitos por Lucas Cranach, desta vez em parceria
com o reformador Philip Melancthon.
Veja a matéria completa com as gravuras no
link abaixo:
“Lendo o Corão e
os místicos islâmicos, adquirimos uma visão idealizada do Islam. Quando
estudamos a sua POLÍTICA, vemos que mesmo os textos mais sublimes podem receber
interpretações malignas e transformar-se, pela exploração de ambigüidades, em
pretextos de ações criminosas.” (Olavo
de Carvalho) - E assim caminha
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