Um dos
problemas capitais da Filosofia é aquele que tem por objeto a própria essência
do homem: “em que consiste o ser humano?”
As soluções deste problema trazidas pelos filósofos terão graves implicações. Os filósofos sensualistas, pelo menos enquanto são lógicos consigo mesmos, negam ou que exista a alma (materialistas) ou que possamos conhecer sua existência (fenomenologistas). Os filósofos chamados inatistas, pelo contrário, tenderão a encarar o homem como um puro espírito que estaria acidentalmente unido a um corpo. De que maneira? Muito lhes custa explicá-lo (dualismo ou espiritualismo exagerado). A escola de Aristóteles e Santo Tomás ensina que o homem é um ser composto de dois princípios substanciais incompletos cada um, e complementares, sendo um deles uma alma espiritual e imortal, assim podemos apresentar as posições filosóficas sobre a existência da alma e a sua união com o corpo da seguinte forma:
Doutrina Católica - Filosofia de Aristóteles e de Santo Tomás:
Dois princípios incompletos cada um, dos quais um (alma racional) é espiritual, e que formam uma única substância (indivíduo humano).
Em
contraposição a doutrina católica temos duas correntes:
-A primeira nega a existência da alma: a alma humana não existe (materialismo) ou
não é cognoscível (fenomenismo).
-A segunda apresenta uma separação radical
entre corpo e alma: o homem é um espírito acidentalmente unido a um corpo
(espiritualismo exagerado); a alma e o corpo são duas substâncias completas
cada uma (dualismo).
Essa união substancial de ambos explica as recíprocas influências que observamos entre a alma e o corpo: assim, por exemplo, os assuntos que estão em nossa inteligência chegam a alma por meio dos sentidos; a atividade digestiva pode estimular ou prejudicar as atividades racionais; em geral a vontade domina as ações humanas, mas há casos em que este domínio fica muito diminuído ou se perde completamente; a tristeza e a alegria podem causar diversas alterações orgânicas e as lesões orgânicas podem, por sua vez, produzir a loucura. Tudo isso se explica perfeitamente pela união substancial da alma com o corpo. Consequentemente, conclui-se que o estado de separação da alma e do corpo é um estado antinatural, de violência e, portanto, só pode existir sendo sustentado por Deus. Tal estado não pode permanecer para sempre. Por isso, no fim do mundo, haverá a ressurreição dos mortos, onde novamente as almas se unirão aos corpos, permanecendo assim para sempre.
Quanto à
morte, ela não é senão a separação da alma e do o corpo!
São duas as propriedades da morte, afirmadas pela Igreja: sua unicidade e sua universalidade. Que é única, todos estão convencidos. Ninguém morreu uma segunda vez, e os casos milagrosos de ressurreições narrados no Evangelho e na vida de muitos santos não podem ser julgados conforme à lei ordinária. Pelo mesmo fato de serem milagrosos, são casos que escapam à atual ordenação das coisas, e que Deus pode querer para algum de seus fins providenciais: provar a divina missão de Cristo, a santidade de algum servo seu, etc. Com relação à sua universalidade, todos os homens, procedentes de Adão estão condenados a morrer. E esta obrigação é vigente em virtude da lei imposta por Deus ao gênero humano como castigo do pecado original. Alguns fisiologistas, antigamente, acreditavam que as atividades mais complexas do ser humano desapareciam antes que aquelas resultantes de uma existência vegetativa. Assim, a inteligência desapareceria antes que a respiração e a circulação. Mas os adeptos a essa teoria se veem obrigados a fazer algumas reservas diante de numerosos fatos nos quais a inteligência se manifesta apesar de um decaimento físico intenso. Não são raros os casos de pessoas que apresentam um aumento da atividade intelectual e uma compreensão mais elevada dos fatos um período antes da morte. A morte não oferece, pois, de modo algum, a simplicidade que muitas vezes lhe atribuem.
Há casos interessantes na vida dos santos!
No curso da agonia de Santa Verônica Giuliani, esta olhou para seu confessor, o padre Guelfi, com um ar suplicante. O padre Guelfi não a compreendeu, e só após algum tempo recordou que a santa havia declarado querer morrer em um ato de suprema obediência. Então o padre Guelfi disse: “Eu, ministro do Senhor, se tal é o vosso desejo, vos ordeno que saiais deste mundo”. A santa dirigiu um olhar às suas religiosas e expirou.
Com a Bem-aventurada Luisa de Sabóia parece, pelo contrário, que houve morte retardada por obediência. Sem dúvida, nestes casos, há uma intervenção divina que os faz acontecer.
Há vezes em que a pessoa se dirige para a morte mantendo plenamente suas funções intelectuais. Santa Catarina de Sena, na hora da morte, disse: “Pai meu, remeto meu espírito em vossas mãos”, e expirou.
O padre Francisco Suárez, jesuíta, disse no momento de expirar: “Não acreditava que fosse tão doce nem tão agradável o morrer!”
Os teólogos discutem quando ocorre realmente a separação da alma e do corpo!
No século XVIII, o padre Feijóo, sábio beneditino, escrevia:
“Ninguém
sabe qual é a última operação que a alma exerce sobre o corpo, nem qual é, da
parte do corpo, a disposição essencialmente requerida para conservar a união da
alma com ele; e se isto é ignorado, é impossível saber em que momento o homem
morre”.
É assim
que se distingue morte aparente de morte real
Há um período após a parada das funções corporais em que o retorno á vida pode ser provocado, por exemplo, pela massagem cardíaca: é o período de morte relativa. A morte real ocorre somente após a real separação da alma e do corpo. O tempo transcorrido entre a parada das funções orgânicas e a real separação da alma e do corpo é variável, indo de meia hora até aproximadamente 3 horas (podendo chegar até mais). As células do corpo têm, cada uma, sua vida própria. A alma faz com que elas atuem ordenadamente. Se a alma deixa o corpo, as células mais resistentes continuam realizando suas funções próprias. Entretanto, estas funções já não estão ordenadas para o bem de todo o corpo. São ações realizadas “às cegas”. Daí ser possível extrair tecidos humanos, separando-os do corpo, e cultivá-los em laboratório. Algumas células ósseas, por exemplo, continuam em atividade muitos dias após o corpo já ter sido enterrado. Noto que não nos parece inútil e ridículo tratar deste tema, como se fosse um delírio de sonhadores. Muitos episódios impressionantes e até comuns na prática médica nos oferecem dados bem sólidos sobre os quais nos basear.
Experiências científicas e fatos médicos rigorosamente comprovados
parecem demonstrar que, entre o momento chamado de morte aparente e o instante
em que esta realmente acontece, existe sempre um período mais ou menos largo de
vida latente.
Nos casos de morte repentina, o período provável de vida latente dura até que se inicie a putrefação. Nos casos de morte por longa enfermidade, que vai consumindo lentamente o organismo, o período de morte aparente seria por volta de meia hora e, às vezes, muito mais.
Daí os teólogos moralistas afirmarem que o sacerdote pode e deve
administrar condicionalmente os sacramentos da penitência e da extrema-unção
(e, nos casos necessários, do batismo) aos aparentemente mortos, enquanto não
conste com certeza sua morte real (Cf. Catecismo Romano, Biblioteca de Autores
Cristianos, Madrid, 1956, pág. 610, nota 2).
Após a
separação da alma e do corpo segue-se imediatamente o juízo particular!
A apreciação dos méritos e deméritos contraídos durante a vida terrestre. Em virtude deles Deus, o supremo Juiz, pronunciará a sentença que decidirá nossos destinos eternos. Sempre existiram os que propagaram erros com relação ao que acontece com a alma após a separação dela e do corpo. Frente a todos estes erros, a Igreja Católica ensina (como verdade de fé, segundo muitos teólogos), que a alma humana (de católicos ou pagãos, justos e pecadores, de adultos ou crianças, de homem ou mulher, sem exceção), ao separar-se do corpo (no momento em que ocorre a morte real, e não no momento da morte aparente), será julgada por Deus (submetida a um ato de justiça, pelo qual, em vista de suas boas ou más obras, Deus pronunciará a sentença que merece), imediatamente, sem demora alguma.
São muitas as passagens da Sagrada
Escritura a nos dizer que o justo e o pecador recebem imediatamente depois da
morte o prêmio ou o castigo por seus atos, e a Igreja definiu como verdade de
fé esta retribuição imediata. O magistério eclesiástico não formulou nenhuma
declaração dogmática sobre esta matéria, mas é uma verdade que se encontra
implícita em outras verdades definidas e se encontra explícita em muitos textos
do magistério ordinário. O Concílio Vaticano I tinha preparada para ser
definida a seguinte proposição (que não chegou a ser definida pela necessidade
de suspender as sessões do Concílio antes de ser examinada): “Depois da morte,
que é o término de nossa vida, comparecemos imediatamente diante do tribunal de
Deus, para cada um dar conta das coisas que fez com seu corpo”.
Este juízo realiza-se no mesmo lugar onde ocorreu a morte. Ali a
alma conhece sua sorte final e prontamente se dirige ao lugar designado pela
sentença do perfeito e justo Juiz!
Além disso, segundo a doutrina católica expressamente definida como dogma de fé pelo papa Bento XII na constituição apostólica Benedictus Deus, a sentença do Juiz se executará imediatamente, sem um só instante de demora (P. Royo, Teología de la salvación, Biblioteca de Autores Cristianos, 1956, pág. 280-298). Quanto ao Céu, o Purgatório e o Inferno, eles não são estados. Esta é uma idéia que se propagou com a Teologia moderna. Isto é um erro. Os três são lugares reais, os quais, entretanto, não se sabe onde ficam. Prova disso é que Nosso Senhor Jesus Cristo, a Bem-Aventurada Virgem Maria, Enoc, Moisés, e Elias, estão em corpo e alma nesse lugar. Portanto, o Céu é um lugar, e conseqüentemente, o Purgatório e o Inferno (apesar de não existir pronunciamento dogmático nesse sentido, ou seja, se estado, ou lugar, até o momento, mas apenas posições teológicas, sendo portanto, uma questão em aberto).
Purgatório é um "fogo interior", esclarece o Papa Bento XVI
O papa Bento XVI declarou nesta quarta-feira (12/ jan/2011) que "o purgatório não é um lugar do espaço, do universo, mas um fogo interior, que purifica a alma do pecado". O Pontífice fez estas manifestações perante 9 mil pessoas que assistiram à audiência pública das quartas-feiras, cuja catequese dedicou à figura de santa Catarina de Gênova (1447-1510), conhecida por sua visão sobre o purgatório.
Bento XVI assinalou que "Catarina de Gênova em sua experiência mística jamais fez revelações específicas sobre o purgatório ou sobre as almas que estão sendo purificadas, frente à imagem da época sempre ligada ao espaço. O purgatório não é um elemento das entranhas da Terra, não é um fogo exterior, mas interno. É o fogo que purifica as almas no caminho da plena união com Deus", afirmou o Papa. O papa acrescentou que "a santa não parte do além para contar os tormentos do purgatório e indicar depois o caminho da purificação ou a conversão, mas parte da experiência interior do homem em seu caminho rumo à eternidade".
O paraíso, o purgatório e o inferno preocuparam ao longo da história tanto os fiéis como os papas e assim Bento XVI, que afirmou em 2007 que:
"O inferno, do que se fala pouco neste tempo, existe e é eterno para os que fecham seu coração ao amor de Deus".
Seu antecessor, João Paulo II, concordou com Ratzinger ao afirmar que:
"O purgatório existe, mas que, não é um lugar depois da morte, mas sim, o caminho em direção à plenitude através de uma purificação completa".
Quanto às experiências de quase-morte, há algumas teorias
científicas baseadas na fisiologia cerebral que poderiam explicá-las.
Em 1988 um cardiologista holandês chamado Pim von Lommel iniciou um estudo tratando do tema. Neste estudo, que duraria 4 anos (de 1998 até 1992), ele entrevistou todos os pacientes reanimados de paradas cardíacas em dez hospitais holandeses. Dos 344 pacientes entrevistados, 62 (18%) referiram ao menos alguma lembrança do momento de morte clínica, ou seja, do momento em que o eletrocardiograma deixou de registrar atividade elétrica cardíaca, sendo que 23 deles declararam ter passado por experiências profundas de quase-morte. Estas experiências variavam: ter ciência de estar morto, sentir-se avançando por um túnel, ter uma experiência fora do corpo, observar uma paisagem celestial, visão de luzes, rever fatos da vida ou encontrar com pessoas conhecidas (Cf. van Lommel P, van Wees R, Meyers V, Elfferich I, Near-death experience in survivors of cardiac arrest: a prospective study in the Netherlands, The Lancet 358, 2039-2045). Alguns defendem que tais experiências seriam conseqüência da falta de glicose e oxigênio no cérebro devido à parada cardíaca. O fato de ficarem lembranças das experiências indica que a região do cérebro responsável pala formação da memória – o hipocampo – ainda funcionava suficientemente. Do mesmo modo, a sensação de luz, a visão de rostos familiares, a percepção de desligamento do corpo e as emoções boas indicam que outras regiões do cérebro (o córtex visual, o córtex parietal e o núcleo acumbente – para dar nome aos bois) estariam também ativadas. Além do mais, todas estas regiões têm em comum o fato de serem irrigadas pela Artéria cerebral posterior.No cérebro temos neurônios cuja função é inibir a atividade de outros. Estes “neurônios-freios”, além de serem em maior número, são muito sensíveis à falta de oxigênio. Portanto, em uma parada cardíaca, deixariam de funcionar antes dos demais neurônios. Momentaneamente sem freios, os outros neurônios seriam agora ativados como se estivessem cumprindo suas funções normais, sinalizando a presença de luz, rostos familiares, deslocamento do corpo e sensações agradáveis. (Cf. site http://www.cerebronosso.bio.br/paginas/NDE.html). Vale ainda dizer que muitos dos relatos coletados por van Lommel em seu artigo também são referidos por pacientes que fizeram uso de determinados fármacos (como, por exemplo, o fentanil) e que passaram por procedimentos anestésicos. Muitos dos pacientes entrevistados por van Lommel fizeram uso destas substâncias enquanto estavam internados (Cf. John M. Evans, Near-death experiences, The Lancet 2002; 359:2116). O fato de somente uma porcentagem das pessoas que passaram por uma reanimação relatarem uma experiência de quase-morte é mais um indicativo de que não se trata de algo místico (que deveria acontecer com todos os que morrem), mas de algo consequente a determinadas alterações fisiológicas que ocorreram com uns e não com outros (existem variações bioquímicas e fisiológicas muitas vezes consideráveis entre as pessoas). Além disso, alguns deles podem ter passado por essas experiências, mas não as lembraram após a reanimação por um comprometimento das áreas relacionadas à memória. É uma teoria razoável, embora haja outras. Apelar para uma explicação mística destes casos, quando é possível explicá-los de modo científico, é um erro. Um fato não-natural deve ser sempre provado, nunca suposto. E a Igreja sempre toma esta posição quando afirma o milagre de algum santo, por exemplo. Além disso, toda vez que um evento pode ser explicado naturalmente, devemos escolher essa explicação, em detrimento de outras explicações não-naturais. Uma explicação completa do assunto sobre a união da alma e do corpo, pode ser encontrada no livro Introdução Geral à Filosofia, de Jacques Maritain, Editora Agir. A morte, sem dúvida, é algo que inquieta a todos. Mas devemos trazer sempre em mente que morrem bem os que vivem bem, ou seja, conforme a Lei de Deus.
"A vida é uma escola de honra, onde se aprende a sofrer para saber
como se deve morrer!"
O corpo de cada homem é transmitido por
meio da geração. Mas como se dá a origem da alma?
Os seguidores de Orígenes e de Prisciliano ensinavam a preexistência das alma, isto é, as almas são por si espíritos incorpóreos e foram todas criadas por Deus no início da criação, sendo posteriormente unidas aos corpos como punição por uma falta que teriam cometido. Esta tese é conhecida com o nome de preexistencialismo. Para Orígenes as almas de todos os homens teriam sido criadas juntamente com os anjos, antes de seus corpos. Ele pensava que todas as substâncias espirituais, tanto as almas quanto os anjos, são iguais em sua condição natural, diferindo somente quanto ao mérito. Isso porque para ele as almas teriam cometido alguma falta contra Deus, sendo punidas com a união a um corpo. Esta explicação considera a matéria como punição, tendo forte influência gnóstica. Orígenes foi condenado pelo papa Virgílio, no ano 543:
“Se
alguém diz ou sente que as almas dos homens preexistem, como se antes fossem
potencias santas e inteligentes; que se fartaram da contemplação divina e se
tornaram piores e que por isso se esfriaram no amor de Deus, de onde lhes vem o
nome de frias, e que por castigo foram lançadas nos corpos, seja anátema”
(Liber adversus Origenem, can. 1).
Outros diziam que a alma humana era produzida a partir da substância dos pais. Ela seria, como o corpo, transmitida por meio da geração. Esta tese é conhecida com o nome de "generacionismo".
O papa
Anastácio II reprovou como herética a defesa de que as almas são transmitidas
pelos pais aos filhos de modo semelhante à transmissão do corpo (Carta Bonum
atque iucundum, aos bispos da França, de 23 de agosto de 498).
A Igreja
ensina que a "alma racional é criada por Deus, e no mesmo instante de sua criação" é infundida no corpo!
E esta afirmação é tida como sentença comuníssima e certa entre os
filósofos e teólogos católicos. Esta tese é conhecida pelo nome de "criacionismo". Primeiramente pelo fato de estar conforme com a Sagrada
Escritura: “... e o pó volte à terra donde saiu, e o espírito volte para Deus
que o deu” (Ecle. XII, 7).
Além disso, os Padres da Igreja sustentaram em comum esta tese. Assim, entre outros, Lactâncio, S. Ambrósio, S. Jerônimo, S. Hilário, S. Gregório Nazianzeno, S. Cirilo de Alexandria. Santo Tomás de Aquino, após expor as três teses colocadas acima, diz: “As duas primeiras, após o juízo da Igreja, são condenadas e a terceira aprovada” (De Pot. q. 3, a. 9; cf. Sum. theol. I p., q. 118, a. 2). As dúvidas relativas ao surgimento da alma humana são tratadas por Santo Tomás na Suma Teológica, primeira parte, questão 118. Até o século XVII os escolásticos abraçaram a teoria de Aristóteles com respeito à animação do embrião humano. Esta teoria dizia que a animação só ocorria depois que o embrião adquiria uma certa organização, tornando-se assim apto para receber a alma. A partir do século XVII um número cada vez maior de teólogos passou a defender a animação do embrião no momento em que é concebido. Assim, entre os filósofos e teólogos católicos é comuníssima a sentença de que a alma racional é criada por Deus e infundida no corpo no mesmo instante da concepção.
A alma humana possui três potências - e não partes - três
capacidades: a de conhecer, ou inteligência, a de querer, ou vontade, e a de
sentir, ou sensibilidade. A alma então "não é composta". Ela é simples. Por isso
ela é imortal!
Também, não separa-se a alma de espírito, como se fossem duas coisas substancialmente distintas. A alma é espiritual. Não existe, no homem um espírito substancialmente distinto da alma. O que se afirma é que as potências superiores da alma: a inteligência e a vontade - são aquelas que nos fazem ser à imagem de Deus, porque Deus também tem Inteligência e Vontade, que, em Deus, são infinitas, e em nós finitas. A sensibilidade é a potência pela qual sentimos alegria, tristeza, raiva, amor, tédio, etc. Toda a alma está ligada a nosso corpo, como a forma está ligada à matéria. Somos unos, embora compostos de alma e corpo. A sensibilidade é a potência de nossa alma mais ligada ao corpo. O que não significa que a inteligência e a vontade não estejam ligadas ao corpo. Toda nossa alma é ligada a nosso corpo, senão não teríamos unidade de ser. Só conhecemos com nossa inteligência aquilo que passou, até ela, através dos cinco sentidos do corpo. E só podemos querer o que conhecemos. Também só podemos sentir com a sensibilidade, porque temos corpo.
Os anjos
não tem corpo, e, por isso, o espírito angélico não tem sensibilidade!
A sensibilidade deve ser
orientada pela inteligência e pela vontade, no sentido de que não devemos
consentir em sentimentos que a inteligência mostra serem irracionais,
sentimentos que contrariam a reta razão. Quando a vontade consente num
sentimento que a razão mostra ser injusto, tal sentimento é pecaminoso. Por
isso, Cristo nos disse que não basta não cometer adultério, pois quem olha consentidamente,
com mau sentimento, para a mulher do próximo, já cometeu adultério em seu
coração. Já cometeu adultério pela vontade, ou por consentir num sentimento
errado. A distinção entre espírito e alma é feita por São Paulo, quando afirma
que a palavra de Deus penetra, como uma espada, entre o espírito e a alma,
querendo dizer que a inteligência e a vontade - potências que nos fazem ser a
imagem de Deus, o qual é só espírito - são menos influenciadas pelo corpo do
que a sensibilidade. Mas note, que se São Paulo compara a palavra de Deus a uma
espada penetrante, ele que dizer com isso que não há distinção substancial
entre nosso espírito e nossas alma, que são uma coisa só. Ele apenas distingue
a sensibilidade da inteligência e da vontade, por ser a sensibilidade mais
ligada ao corpo do que as outras duas potências de nossa alma espiritual.
A Beleza das almas
1 - As maravilhas de Deus
"Quão magníficas são, Senhor, as tuas obras! Quão profundos são os teus pensamentos!" (Ps. XCI, 6), exclama o salmista, enlevado pela beleza do universo material, e, mais ainda, pelos pensamentos profundos que seus símbolos revelam. Com efeito, o olhar humano não se cansa de admirar a imensidão dos céus, a grandeza do mar, a majestade das montanhas. Ele se deslumbra com o brilho das estrelas, com o resplendor do fogo e com o faiscar dos vagalumes. E a variedade das flores, e a graça dos lagos, e a doçura do vento lhe são amáveis.Todavia, mais do que a beleza de todas as criaturas, o homem admira os símbolos que nelas existem, símbolos que são como vozes que lhe falam dos pensamentos profundos de Deus. Símbolos que são como ecos ou como espelhos das belezas espirituais das almas, dos anjos, e até mesmo de Deus.
Deter-se na mera beleza material é apreciar mal a beleza da criação, desprezando o que ela tem de melhor e mais santo!
"Guarda-te contudo, minha Alma, de injuriar o Criador, e de esposa que és de te tornares adúltera, amando mais os dons do que o afeto do Amante. Ai de ti - exclama Santo Agostinho nas "Confissões" - ai de ti, se andas vagueando por suas pegadas, se ama seus sinais pelo lucro temporal, mas não atendes ao que te está insinuando aquela luz beatíssima, a inteligência da mente purificada - Deus - cujos vestígios e sinais são o ornamento e o decoro de todas as criaturas" (São Boaventura, "Solilóquio", I, 7).
Com efeito, diz São Boaventura que Deus colocou na natureza criada vestígios, imagem e semelhança com Ele. Vestígios são marcas deixadas por um ser. Por exemplo, as marcas dos passos de um homem na areia de uma praia são vestígios dele, e não sua imagem. Assim, em toda a criação podemos encontrar vestígios de Deus, na ordem existente em todas as criaturas. A ordem atômica e a ordem celular são vestígios da Sabedoria de Deus nos seres inferiores ao homem. Assim também, o bem existente em todo ser é um vestígio da infinita bondade de Deus.Mas nos anjos e nos homens há, além de vestígio de Deus, imagem dEle, porque assim como em Deus há inteligência e vontade, também nos homens e nos anjos há inteligência e vontade.Entretanto, pondera São Boaventura que nos demônios e nos pecadores, embora permaneça a imagem de Deus, já não há semelhança, porque esta consiste no ter a vida de Deus, pela graça santificante. Verdadeiramente semelhantes a Deus são apenas os anjos do céu e os homens que estão em estado de graça.Nesta semelhança é que consiste propriamente a beleza das almas. Não há então, na terra, maior beleza do que a da alma dos santos!
2 - A Beleza das almas
O homem, por ter uma alma espiritual num corpo material, tem uma posição intermediária entre os seres materiais e os espirituais: Deus e os anjos. Como Deus e os anjos, a alma é espiritual, embora deva estar unida a um corpo material. Como espírito, porém, ela supera metafisicamente todos os seres materiais, e daí seu bem e sua beleza não terem igual nas coisas sensíveis. Nada há na natureza visível, por mais maravilhosa que seja, que se equipare à beleza de uma alma. Porque, sendo a realidade sempre superior ao símbolo, e sendo as belezas materiais meros símbolos das belezas espirituais da alma, esta possui uma beleza superior à de seus símbolos.
"Na medida em que o espírito é mais nobre do que o corpo, assim, o espelho da alma, que reflete a beleza da arte eterna, é mais formoso que qualquer outro espelho e que qualquer outra beleza corporal" (São Boaventura, "Discursos ascético-místicos", Santa Inês, discurso 2, IV).
A beleza das criaturas é causada pelos sinais e vestígios de Deus, mas a beleza da alma humana provém de ser feita à imagem de Deus, Beleza absoluta.
"A meu ver - diz São Boaventura falando do valor da alma - tua maior nobreza e excelência se estriba em que, para tua honra e formosura, tens impressa em ti a imagem da Trindade beatíssima" (São Boaventura, "Solilóquio", I, 3).
Além disso, Deus fez a alma imortal, e para enaltecer esse valor São Boaventura cita uma passagem de Santo Agostinho no "De Trinitate": "Oh alma, adverte que teu Criador, além do ser, formoso ser, eterno ser, e o viver, e o sentir, e o discernir, Ele te dotou de sentidos e te ilustrou com a sabedoria. Olha, pois, tua formosura, e entenderás que formosura tens de amar. E se por ti mesma não és capaz de contemplar-te como convém, porque pelo menos não aprendes a estimar-te como mereces pelo julgamento alheio? Tu tens um Esposo, e se não duvidares de sua formosura, claramente verás que, sendo tão formoso, tão gracioso, tão único Filho de Deus, nunca se agradaria da tua vista, se não o arrebatasse tua singular beleza, mais admirável que toda beleza criada".
E a seguir diz o próprio São Boaventura:
"O Rei cuja formosura o sol e a lua admiram", cuja grandeza céus e terras reverenciam, com cuja sabedoria são iluminados os exércitos dos espíritos celestiais, de cuja bondade se saciam os coros dos bem-aventurados, este mesmo (Rei) deseja hospedar -se em ti, minha Alma, e deseja e apetece mais o teu cenáculo do que o palácio do céu. Porque "suas delícias consistem em estar com os filhos dos homens" (Prov., VIII, 32) (São Boaventura, "Solilóquio", I, 4 e 5). Tão grande é a beleza das almas que Deus morreu na cruz por amor delas!
3 - A beleza moral
Se a alma é bela por natureza, ela pode se embelezar ainda mais pela virtude sobrenatural, ou então ficar monstruosa pelo pecado. São Tomás, na Suma Teológica (II, IIae, q. 145, a. 2) explica, com Santo Agostinho, que a verdadeira formosura existe mais propriamente nos seres espirituais, e pela virtude, do que nas coisas materiais. Vejamos: Na beleza ou formosura, escreve Dionísio, concorrem duas qualidades: claridade e proporção, pois Deus se diz formoso "como causa da proporção e do esplendor dos seres". Assim, a beleza do corpo depende da proporção dos membros com certa luz que os ilumina, e a beleza espiritual consiste em que a conversa e as obras sejam proporcionadas à claridade espiritual. Como isso mesmo é o que integra a razão de honestidade - identificando-se com a virtude - segue-se que é a mesma coisa o ser honesto e o ser belo. Poderíamos pois dizer com S. Agostinho: "Chamo honesto à beleza espiritual; às coisas revestidas de beleza sensível se aplica de modo muito menos próprio o epíteto de formosas".
a) A luz da virtude
Já tivemos ocasião, em outro trabalho, de citar a aplicação da definição de beleza, à beleza moral: "a beleza moral consiste no resplendor da razão sobre os atos perfeitamente proporcionados" (apud E. de Bruyne, "Estudios", vol. III, pag. 328).Na beleza moral, o caráter formal é dado pela luz da razão, e o caráter "material" pela proporção dos atos. São Tomás afirma que a própria bondade das ações tem raiz na sapiencialidade, isto é, na sua razoabilidade. É a luz da sabedoria e da verdade que ilumina e ordena as ações virtuosas, dando-lhes o brilho da beleza (II-IIae, q. 142, a. 4).
E ainda diz o aquinate:
"A beleza das ações humanas depende de sua conformidade com a ordem da inteligência como ensinou Túlio: É belo tudo quanto diz bem da excelência do homem no aspecto que ele difere dos outros seres" (São Tomás, Suma Teológica, II-IIae,q. 142, a. 2). É, pois, a luz da inteligência que dá resplendor da forma aos atos virtuosos. E é por isso que a beleza moral se encontra essencialmente na vida contemplativa, enquanto nas virtudes morais a beleza existe por participação (cf. São Tomás, "Suma Teológica", II IIae, q180, a. 3 ad 3m). Portanto, a contemplação dá à alma uma beleza luminosa. São Boaventura trata largamente desse tema e afirma que "alma contemplativa, que vê Deus, na contemplação, fica toda embelezada". Ele explica que a contemplação tem quatro graus:
1) - serena: quando a alma considera serenamente as coisas exteriores.
2) - secreta: quando a alma considera sua própria beleza interior.
3) - excelsa: quando a alma contempla os bens celestiais eternos.
4) - jucunda: quando a alma em êxtase contempla a Deus.
Esses quatro graus de contemplação tornam a alma formosa de tal modo, que a ela São Boaventura aplica as palavras do Cântico dos Cânticos:
"És toda bela, minha amiga, és toda bela, e não há mancha em ti"
"Quem é esta que avança comoa aurora que surge, bela como a Lua,
eleita como o Sol, terrível como um exército em ordem de batalha?
"Bela és, minha amiga, suave e adornada como Jerusalém"
"Quanto és bela e como és adornada, caríssima em minhas delícias"
(Cfr. São Boaventura, "Discursos ascético-mistícos" Santa Inês, disc. 2, IV).
b) A proporção das virtudes
Conforme Guilherme de Auvergne, temos por natureza, em nós, amar aquilo que nos é conveniente ou decoroso. Sempre que o homem se encontra com algo que por natureza lhe é conveniente, ele sente prazer, quer a coisa conveniente seja uma criatura, quer seja uma ação.Nas coisas sensíveis, encontra-se o decoro como causa da beleza, pois que algo é belo quando possui tudo que lhe convém, na proporção devida.Da mesma forma, nas ações virtuosas, o decoro é a causa da beleza. Praticamos essas ações porque compreendemos que elas são convenientes e que elas devem ser feitas de certa forma, isto é, conforme uma certa proporção, pois que nos atos virtuosos deve sempre haver uma proporção entre o fim e os meios.Portanto, é a conveniência (decoro) da própria ação, e a conveniente proporção com que ela é feita, que dá beleza "material" ao ato virtuoso.
c) O belo moral e a ordem
O que é moralmente feio chama-se pecado! Ninguém pode fazer o mal moral pelo próprio mal, mas sempre se pratica o mal visando um bem relativo. Agir mal é romper a ordem dos bens, colocando um bem menor acima do bem maior. O feio, moralmente, consiste no desordenamento das coisas belas em si mesmas. Todas as coisas são, pelo menos metafisicamente, belas; mas, postas fora de seu lugar conveniente, ou fora de proporção, elas se tornam destruidoras da beleza: olhos, belos em si mesmos, fora do lugar conveniente, tornar-se-iam monstruosos. Portanto, assim como a ordem conveniente dos elementos é essencial para a beleza de um conjunto, assim também o é a ordem sapiencial, que torna belas as ações humanas porque leva a fazer tudo com conveniência e proporção, isto é, com decoro. Por isso, assim como a beleza visível agrada, por si mesma, à vista, assim também a beleza moral é aquilo que, por si mesma, agrada à reta razão.
4 - A Beleza da alma e a beleza do corpo
A suma beleza é encontrada pelo homem naquilo que lhe é mais conveniente, naquilo que é sua razão primeira e última de existir, isto é, em Deus.O Criador de todas as coisas, é Ele o sumo Bem e a suma Beleza que deve ser amado, e que nos convém absolutamente. É a Beleza infinita de Deus o modelo, imitando a qual, todas as coisas foram criadas. E as criaturas são como que espelhos dessa divina Beleza: conforme o grau de perfeição do espelho, tal será a perfeição da imagem refletida.Como os seres espirituais são mais perfeitos que os materiais, neles a Beleza divina é mais clara e mais nitidamente refletida. Por isso, a beleza espiritual é incomparavelmente superior à material.Sabemos que Deus é bom e que ele faz o bem. Para que o homem seja uma imagem mais perfeita do Criador, não basta que ele seja bom - todo homem é bom por natureza - é preciso ainda que ele faça o bem. É, pois, a virtude que permite que haja no homem uma imagem mais completa de Deus (cf. São Tomás, "Suma Contra Gentiles" Livro II cap. XLV e "Suma Teológica", I q.50 ª 4). Ora, em Deus, Bem e Beleza se identificam, de modo que se poderia parafrasear o raciocínio de São Tomás, dizendo que Deus é a Beleza, e que Ele faz todas as coisas belas. O homem só terá em si uma imagem mais perfeita do Criador, caso não só ele seja belo - e metafisicamente toda criatura é bela - mas também se fizer coisas belas, se ele se embelezar pela virtude. O homem pode fazer, ou coisas belas - e então será um artista - ou ações belas - e então será virtuoso. É pela prática da virtude que o homem embeleza a própria alma, e embeleza os outros pelo exemplo - o bom perfume dos atos virtuosos - levando-os a amar a beleza e a virtude, e a querer possuí-la também. A beleza da alma virtuosa se reflete no próprio corpo, especialmente no rosto. Pois a alma é a forma do corpo. Deus faz com que o semblante do homem seja um reflexo de sua alma. Como poderia não ser assim? Se toda ordem material é símbolo da espiritual, como é que o rosto de alguém não seria imagem da sua própria alma? Por isso é que está nas Sagradas Letras:
"Pelo semblante se conhece o homem, e pelos traços do rosto se conhece o homem sensato" (Ecl. XIX, 26). E ainda: "A Sabedoria do homem reluz no seu rosto, e o Todo Poderoso mudará sua face" (Ecl. VIII, 1).
Evidentemente, a beleza das almas que se reflete na face nada tem a ver com a mera beleza material, proveniente de proporções. Uma pessoa de rosto proporcionado, porém má, refletiria em sua face, de alguma forma, a feiura de sua alma.Quando dizemos que a beleza da alma se reflete na face das pessoas, referimo-nos, evidentemente, à beleza moral e não física. Por exemplo, os rostos dos profetas do Aleijadinho são materialmente desproporcionados, com narizes e queixos exagerados, porém, com altíssima beleza moral. É neste sentido, então que afirmamos, que a beleza das almas - beleza moral - se espelha nos rostos! Por isso, se alguém quiser que a luz da beleza brilhe em sua face, é preciso fazer antes que a chama do verdadeiro amor arda no coração, porque a luz da beleza provém da chama do amor!
BIBLIOGRAFIA:
-SÃO BOAVENTURA - Solilóquio.
-SÃO BOAVENTURA - Discursos ascético-místicos.
-SÃO TOMÁS - Suma Teológica.
-SÃO TOMÁS - Suma contra gentiles.
-E. DE BRUYNE - Estudios.
Por Professor Orlando Fedeli - Montfort
Jesus vai pregar na Mansão dos Mortos com a alma humana ou divina?
A descida de Jesus à chamada “mansão dos mortos” talvez seja um dos artigos mais obscuros e incompreendidos de nossa fé. Fala-se muitíssimo pouco a seu respeito, e no entanto ele consta expressamente no Credo Apostólico, que rezamos todos os domingos na Santa Missa. A fim de sanar essa ignorância — e também para combater certos erros modernos —, tratemos brevemente do assunto. Jesus desceu “aos infernos” No latim, a expressão que se usa no Credo para resumir esse acontecimento é descendit ad ínferos (lit. “desceu aos infernos”). Mas, justamente para não confundir nossa cabeça — e não pensarmos que Jesus desceu ao inferno dos condenados —, é até melhor que usemos a expressão “mansão dos mortos” (com a qual estamos acostumados por causa de nossa tradução litúrgica). De fato, os judeus acreditavam, desde o Antigo Testamento, que, quando uma pessoa morria, a sua alma imortal ia para junto de seus pais, num lugar chamado sheol (cf., v.g., Gn 37, 35, Nm 16, 30-33; Jn 2, 3). Nosso Senhor mesmo aludiu a isso quando profetizou acerca de si mesmo: “Do mesmo modo que Jonas esteve três dias e três noites no ventre do peixe, assim o Filho do Homem ficará três dias e três noites no seio da terra” (Mt 12, 40). Essa expressão (gr. καρδίᾳ τῆς γῆς, lit. “coração da terra”) não é o sepulcro, mas as “regiões inferiores” ou “infernais”, por assim dizer (o prefixo latino infer designa simplesmente algo que está embaixo).
As almas dos mortos, porém, não se misturavam indistintamente nesse lugar!
A parábola do pobre Lázaro e do rico epulão (cf. Lc 16, 19-31) nos
recorda a separação que, mesmo antes de Cristo, havia entre bons e maus:
enquanto estes se condenavam para um lugar de fogo e tormentos eternos, aqueles
iam para o “seio de Abraão”. E foi para este último lugar, especificamente, que
desceu Nosso Senhor Jesus Cristo.
Teologicamente, há quatro infernos:
-O inferno dos condenados (sem salvação).
-O purgatório (já salvos em Cristo, mas precisando de purificação).
-O limbo das crianças (antes de Cristo abrir o paraíso).
-O limbo dos justos ou seio de Abraão (justos, não Cristãos).
O inferno ao qual desceu Cristo não é o dos condenados, mas o lugar onde moravam as almas dos justos que morriam antes de ter-se realizado a redenção — e que recebe o nome de limbo dos justos (limbus Patrum) . Se falamos dos efeitos que produziu, Cristo baixou a todos os infernos que se conhecem, mas com diferente finalidade a cada um:
-E assim, baixou ao inferno dos condenados para convencê-los de sua incredulidade e malícia.
-Ao purgatório, para dar-lhes a esperança de alcançar a glória.
-Ao limbo dos patriarcas, e dos justos, para infundir a luz da glória eterna nos justos que ali estavam retidos unicamente pelo pecado original da natureza humana.
Mas,
"por sua própria presença real" Ele desceu unicamente ao limbo dos
patriarcas, a fim de visitar em sua morada, com a alma, aqueles que pela graça
havia visitado interiormente com sua divindade. E desde ali, estendeu aos demais
infernos sua influência da forma como dizemos, de modo semelhante a como,
padecendo em um só lugar da terra, libertou com sua Paixão o mundo
inteiro.
Quando professamos que Jesus “desceu à mansão dos mortos”, então, estamos falando do que aconteceu à alma de Cristo durante o tempo entre sua morte e ressurreição!
Enquanto o seu divino corpo estava no sepulcro, sua alma santíssima foi para junto dos mortos, a fim de resgatar os que entre eles eram justos e abrir-lhes as portas do Céu, até então fechadas a todos, como consequência do primeiro pecado.
633. A morada dos mortos, a que Cristo morto desceu, é chamada pela Escritura os infernos, Sheol ou Hades (531), porque aqueles que aí se encontravam estavam privados da visão de Deus (532). Tal era o caso de todos os mortos, maus ou justos, enquanto esperavam o Redentor (533), o que não quer dizer que a sua sorte fosse idêntica, como Jesus mostra na parábola do pobre Lázaro, recebido no «seio de Abraão» (534). «Foram precisamente essas almas santas, que esperavam o seu libertador no seio de Abraão, que Jesus Cristo libertou quando desceu à mansão dos mortos» (535). Jesus não desceu à mansão dos mortos para de lá libertar os condenados (536), nem para abolir o inferno da condenação (537), mas para libertar os justos que O tinham precedido (538). Compartilhar
637.
Cristo morto, na sua alma unida à pessoa divina, desceu à morada dos mortos. E
abriu aos justos, que O tinham precedido, as portas do céu.
Jesus, Verdadeiro Deus e verdadeiro homem!
466. A heresia nestoriana via em Cristo uma
pessoa humana unida à pessoa divina do Filho de Deus. Perante esta heresia, São
Cirilo de Alexandria e o terceiro Concilio ecuménico, reunido em Éfeso em
431,confessaram que «o Verbo, unindo na sua pessoa uma carne animada por uma
alma racional, Se fez homem» (91). A humanidade de Cristo não tem outro sujeito
senão a pessoa divina do Filho de Deus, que a assumiu e a fez sua desde que foi
concebida. Por isso, o Concílio de Éfeso proclamou, cm 431, que Maria se
tornou, com toda a verdade, Mãe de Deus, por ter concebido humanamente o Filho de
Deus em seu seio: «Mãe de Deus, não porque o Verbo de Deus dela tenha recebido
a natureza divina, mas porque dela recebeu o corpo sagrado, dotado duma alma
racional, unido ao qual, na sua pessoa, se diz que o Verbo nasceu segundo a
carne» (92).
467. Os monofisitas afirmavam que a natureza humana tinha deixado de existir, como tal, em Cristo, sendo assumida pela sua pessoa divina de Filho de Deus. Confrontando-se com esta heresia, o quarto Concílio ecuménico, em Calcedónia, no ano de 451, confessou: «Na sequência dos santos Padres, ensinamos unanimemente que se confesse um só e mesmo Filho, nosso Senhor Jesus Cristo, igualmente perfeito na divindade e perfeito na humanidade, sendo o mesmo verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem, composto duma alma racional e dum corpo, consubstancial ao Pai pela sua divindade, consubstancial a nós pela sua humanidade, «semelhante a nós em tudo, menos no pecado» (93): gerado do Pai antes de todos os séculos segundo a divindade, e nestes últimos dias, por nós e pela nossa salvação, nascido da Virgem Mãe de Deus segundo a humanidade.
Um só e
mesmo Cristo, Senhor, Filho Único, que devemos reconhecer em duas naturezas,
sem confusão, sem mudança, sem divisão, sem separação!
A diferença das naturezas não é abolida pela sua união;
antes, as propriedades de cada uma são salvaguardadas e reunidas numa só pessoa
e numa só hipóstase» (94).
Como é que o Filho de Deus é homem?
470. Uma vez que, na união misteriosa da Encarnação, «a natureza humana foi assumida, não absorvida» (101), a Igreja, no decorrer dos séculos, foi levada a confessar a plena realidade da alma humana, com as suas operações de inteligência e vontade, e do corpo humano de Cristo. Mas, paralelamente, a mesma Igreja teve de lembrar repetidamente que a natureza humana de Cristo pertence, como própria, à pessoa divina do Filho de Deus que a assumiu. Tudo o que Ele fez e faz nela, depende de «um da Trindade». Portanto, o Filho de Deus comunica à sua humanidade o seu próprio modo de existir pessoal na Santíssima Trindade. E assim, tanto na sua alma como no seu corpo, Cristo exprime humanamente os costumes divinos da Trindade (102):
«O Filho
de Deus trabalhou com mãos humanas, pensou com uma inteligência humana, agiu
com uma vontade humana, amou com um coração humano. Nascido da Virgem Maria,
tornou-Se verdadeiramente um de nós, semelhante a nós em tudo, excepto no
pecado» (103).
A ALMA E O CONHECIMENTO HUMANO DE CRISTO
471. Apolinário de Laodiceia afirmava que,
em Cristo, o Verbo tinha ocupado o lugar da alma ou do espírito. Contra este
erro, a Igreja confessou que o Filho eterno assumiu também uma alma racional
humana (104).
472. Esta alma humana, que o Filho de Deus
assumiu, é dotada de um verdadeiro conhecimento humano. Como tal, este não
podia ser por si mesmo ilimitado. Exercia-se nas condições históricas da sua
existência no espaço e no tempo. Foi por isso que o Filho de Deus, fazendo-Se
homem, pôde aceitar «crescer em sabedoria, estatura e graça» (Lc 2, 52) e
também, teve de Se informar sobre o que, na condição humana, deve aprender-se de
modo experimental (105). Isso correspondia à realidade do seu abatimento
voluntário na «condição de servo» (106).
Artigo 4 - «Jesus Cristo Padeceu Sob Pôncio Pilatos Foi
Crucificado, Morto e Sepultado»
630. Durante a permanência de Cristo no
túmulo, a sua pessoa divina continuou a assumir tanto a alma como o corpo,
apesar de separados entre si pela morte. Por isso, o corpo de Cristo morto
«não sofreu a corrupção» (Act 13,37).
Parágrafo 3 - Jesus Cristo Foi Sepultado
624. «Pela graça de Deus, ele experimentou
a morte, para proveito de todos» (Heb 2, 9). No seu plano de salvação, Deus
dispôs que o seu Filho, não só «morresse pelos nossos pecados» (1 Cor 15, 3),
mas também «saboreasse a morte», isto é, conhecesse o estado de morte, o estado
de separação entre a sua alma e o seu corpo, durante o tempo compreendido entre
o momento em que expirou na cruz e o momento em que ressuscitou. Este estado de
Cristo morto é o mistério do sepulcro e da descida à mansão dos mortos. É o
mistério do Sábado Santo, em que Cristo, depositado no túmulo (513), manifesta
o repouso sabático de Deus (514) depois da realização (515) da salvação dos
homens, que pacifica todo o universo (516).
O CORPO DE CRISTO NO SEPULCRO
625. A permanência do corpo de Cristo no túmulo constitui o laço real entre o estado passível de Cristo antes da Páscoa e o seu estado glorioso actual de ressuscitado. É a mesma pessoa do «Vivente» que pode dizer: «Estive morto e eis-Me vivo pelos séculos dos séculos» (Ap 1, 18): «É este o mistério do desígnio de Deus àcerca da morte e da ressurreição dos mortos: se Ele não impediu que a morte separasse a alma do corpo, segundo a ordem necessária da natureza: mas juntou-os de novo um ao outro pela ressurreição, a fim de ser Ele próprio na sua pessoa o ponto de encontro da morte e da vida, suspendendo em Si a decomposição da natureza produzida pela morte e tornando-Se, Ele próprio, princípio de reunião para as partes separadas» (517).
626. Uma vez que o «Príncipe da Vida», a quem deram a morte (518), é precisamente o mesmo «Vivente que ressuscitou» (519), é forçoso que a pessoa divina do Filho de Deus tenha continuado a assumir a alma e o corpo, separados um do outro pela morte: «Embora Cristo, enquanto homem tenha sofrido a morte e a sua santa alma tenha sido separada do seu corpo imaculado, nem por isso a divindade se separou, de nenhum modo, nem da alma nem do corpo: e nem por isso a Pessoa única foi dividida em duas. Tanto o corpo como a alma tiveram existência simultânea, desde o início, na Pessoa do Verbo; e, apesar de na morte terem sido separados, nenhum dos dois deixou de subsistir na Pessoa única do Verbo» (520).
Artigo 5
- «Jesus Cristo Desceu à Mansão dos Mortos, ao Terceiro Dia Ressuscitou dos
Mortos»
632. As frequentes afirmações do Novo
Testamento, segundo as quais Jesus «ressuscitou de entre os mortos» (1 Cor 15,
20) (528), pressupõem que, anteriormente à ressurreição, Ele tenha estado na
mansão dos mortos (529) este o sentido primeiro dado pela pregação apostólica à
descida de Jesus à mansão dos mortos: Jesus conheceu a morte, como todos os
homens, e foi ter com eles à morada dos mortos. Porém, desceu lá como salvador
proclamando a Boa-Nova aos espíritos que ali estavam prisioneiros (530).
637.
Cristo morto, na sua alma unida à pessoa divina, desceu à morada dos mortos. E
abriu aos justos, que O tinham precedido, as portas do céu.
A ressurreição - obra da Santíssima Trindade - ACONTECIMENTO TRANSCENDENTE
650. Os Santos Padres contemplam a
ressurreição a partir da pessoa divina de Cristo, que ficou unida à sua alma e
ao seu corpo, separados entre si pela morte: «Pela unidade da natureza divina,
que continua presente em cada uma das duas partes do homem, estas unem-se de
novo. Assim, a morte é produzida pela separação do composto humano e a
ressurreição pela união das duas partes separadas» (577).
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