Antes de falar sobre o que é leigo consagrado é
preciso entender que, além do batismo, através do qual o homem entra na vida
cristã e assume o seu chamado na Igreja como leigo, existem outras TRÊS formas de consagração a Deus na Igreja:
1)-A consagração ministerial, a qual insere a pessoa no sacramento da ordem, ou
seja, no diaconato ou no sacerdócio.
2)-A consagração religiosa, que insere a pessoa na vida consagrada geralmente
em um instituto religioso, com a profissão solene e na vivência plena dos Votos
de Pobreza, Castidade e Obediência.
3)-O leigo(a) Consagrado – A princípio ligado(a) a algum Ordem Terceira,
também, com a profissão solene e no compromisso da vivência plena dos
Votos de Pobreza, Castidade e Obediência. E hoje às Novas Comunidades! (Leigo - Do latim laicus:
Secular, comum, ordinário, não eclesiástico), com a profissão solene perante a autoridade
da Igreja, e no compromisso público e estatutário de viver os Conselhos
evangélicos da Pobreza, Castidade e Obediência, para alguns de forma plena, e
para os casados conforme as exigências de seu estado.
Essas três formas de consagração são como que um
aprofundamento da consagração batismal (batismo), levando o cristão a assumir
uma radicalidade evangélica e carismática (de serviço), para desempenhar uma missão
específica na Igreja.
A Consagração Laical nas Novas Comunidades (Pós
Vaticano II)
As Novas Comunidades, (como Shalom,
Canção Nova, Recado, Pantokrator, Face de Cristo, dentre outras) vivem uma nova forma de consagração a Deus que também aprofunda a
vivência da consagração que todo cristão realiza em seu batismo. Essa
consagração não se enquadra totalmente na consagração religiosa, mas essa
realidade das Novas Comunidades nos faz entender claramente esse outro modo de
consagração: a Consagração de Vida. As Novas Comunidades são uma Novidade do Espírito
pós Concílio vaticano II, adequadas aos desafios do nosso tempo, que foram fundadas sobre os elementos teológicos e canônicos essenciais
próprios da vida consagrada, mas com características originais próprias em relação às suas formas
tradicionais.
O leigo consagrado
A consagração vivida de modo secular ocorre no caso
de leigos(as) que se consagram a Deus pela profissão dos conselhos evangélicos
(pobreza, castidade e obediência), mas que permanecem atuando no mundo dentro das realidades comuns. Tendem
à perfeição da caridade (amor) e procuram cooperar para a santificação do
mundo, principalmente a partir de dentro, como fermento. O apostolado do leigo
consagrado é vivido na sua realidade externa de vida (fora do Instituto) e nas
suas profissões não se distinguem normalmente dos fieis comuns. Nesses casos o leigo consagrado vive uma
consagração total a Deus pela profissão dos conselhos evangélicos,
semelhantemente aos religiosos, mas também vive a secularidade pelo fato de viver no mundo, inserido nas
realidades temporais, assim como os leigos, santificando-as a partir de dentro
com seu anúncio e testemunho Cristão!
Como vivem os leigos(as) consagrados(as) nas Novas
Comunidades?
Nós que vivemos nas Novas Comunidades também somos
leigos que consagramos nossas vidas a Deus, assumimos formalmente e
estatutariamente, em nossa promessas de consagração, obrigações (segundo a
Regra de Vida e os Estatutos) com vínculo estável e reconhecido pelo Bispo, ou
pelo Papa como já é caso das Comunidades Shalom e Canção Nova - Devemos permanecer como leigos empenhados nos valores seculares próprios
e peculiares do laicato através da nossa consagração. A consagração de vida nos
ajuda a viver mais perfeitamente o nosso chamado batismal como leigos e dá
autenticidade profética para testemunharmos no mundo os valores do Reino e da
caridade cristã. Vivemos
como consagrados no mundo, estamos no mundo, mas não somos do mundo,
pertencemos a Deus.
Na Consagração de Vida buscamos hoje reproduzir o
modelo Cristão das primeiras Comunidades Cristãs, de forma mais livre e
desprendida. Esse desprendimento de todas as coisas para uma especial acolhida
do Reino também faz parte da consagração de vida e do testemunho laical que deve dar
ao mundo. Porém, a característica
deste desprendimento depende do Carisma da Comunidade, do estado de vida
próprio (solteiros(as) em discernimento de estado de vida, casados e celibatários) e da forma de vida em que a pessoa vive
a sua consagração (vida comum ou aliança externa). Em função disso, esse desprendimento
em alguns casos pode ser Perfeito(pleno) ou imperfeito(parcial) - Por exemplo:
uma pessoa casada não tem como fazer os votos ou promessas dos Conselhos
Evangélicos próprios da Vida Religiosa de forma plena, ou seja, viver a Pobreza
e a Castidade de forma absoluta, mas relativa ao seu estado matrimonial, ou seja, sendo casto nas suas relações com
seu cônjuge, e vivendo a pobreza de forma desprendida sem apegos aos bens
materiais, mas não vive um total desprendimento como um religioso ou sacerdote,
porque precisa usar dos bens para o sustento da família e da própria Comunidade
a qual está vinculado estatutariamente, na devolução de sua Comunhão de Bens
(ou dízimo).
MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II AOS PARTICIPANTES NO
SEMINÁRIO DE ESTUDOS SOBRE OS MOVIMENTOS ECLESIAIS E AS NOVAS COMUNIDADES
"Se no dia 30 de Maio de 1998 na Praça de São Pedro, ao aludir ao florescimento de carismas e movimentos que se verificou na Igreja após o Concílio Vaticano II, falei de «um novo Pentecostes», quis com esta expressão reconhecer no desenvolvimento dos Movimentos e das novas Comunidades um motivo de esperança para a ação missionária da Igreja..."
Senhores Cardeais - Venerados Irmãos no
Episcopado!
1. Viestes a Roma, provindos de países de todos os
continentes, para refletir juntos sobre a vossa solicitude de Pastores para
com os Movimentos eclesiais e as novas Comunidades. É a primeira vez que o Pontifício Conselho para os Leigos, em
colaboração com as Congregações para a Doutrina da Fé e para os Bispos, reúne
um grupo tão considerável e qualificado de Bispos para juntos examinarem
realidades eclesiais, que não hesitei em definir «providenciais» (cf. Discurso
no Encontro com os Movimentos eclesiais e as novas Comunidades, n. 7, em
L'Osserv. Rom., ed. port. de 6/6/1998, pág. 1) devido aos seus estimulantes contributos oferecidos
à vida do Povo de Deus. Agradeço-vos a presença e o empenho neste importante
setor pastoral. Manifesto, além disso, aos promotores, ao Pontifício Conselho
para os Leigos e às Congregações para a Doutrina da Fé e para os Bispos a minha
viva satisfação por esta iniciativa de incontestável utilidade para a missão da
Igreja no mundo contemporâneo. O Seminário que vos ocupou nestes dias
inscreve-se de fato, felizmente, num projeto apostólico a mim muito querido,
que brotou do meu encontro com os membros de mais de cinquenta destes
Movimentos e Comunidades, ocorrido a 30 de Maio do ano passado na Praça de São
Pedro. Estou certo de que os
efeitos da vossa reflexão não deixarão de ser sentidos, contribuindo a fim de
fazer com que aquele projeto e encontro dêem frutos ainda mais abundantes para
o bem de toda a Igreja.
2. O Decreto conciliar sobre o serviço pastoral dos
Bispos assim indica o núcleo mesmo do ministério episcopal: «No exercício do
seu múnus de ensinar, anunciem o Evangelho de Cristo aos homens, que é um dos
principais deveres dos Bispos, chamando-os à fé com a fortaleza do Espírito ou
confirmando-os na fé viva. Proponham-lhes na sua integridade o mistério de
Cristo, isto é, aquelas verdades que não se podem ignorar sem ignorar o mesmo
Cristo» (Christus Dominus, 12). O anseio de todo o Pastor de alcançar os homens e de falar ao seu
coração, à sua inteligência, à sua liberdade, à sua sede de felicidade nasce do
próprio anseio de Cristo pelo homem, da sua compaixão por aqueles que Ele
comparava a um rebanho sem pastor (cf. Mc 6, 34 e Mt 9, 36) e faz eco do zelo
apostólico de Paulo: «Ai de mim se não evangelizar!» (1 Cor 9, 16). No nosso tempo os desafios da nova
evangelização apresentam-se não raro em termos dramáticos e impelem a Igreja, e
em particular os seus Pastores, à busca de novas formas de anúncio e de ação
missionária, mais conforme às necessidades da nossa época. Entre as tarefas
pastorais hoje mais urgentes quereria indicar, em primeiro lugar, a atenção às
comunidades em que é mais profunda a consciência da graça conexa com os
sacramentos da iniciação cristã, da qual brota a vocação a ser testemunha do
Evangelho em todos os âmbitos da vida. A dramaticidade do nosso tempo incentiva os crentes a uma essencialidade
de experiência e de proposta cristã, nos encontros e nas amizades de cada dia,
para um caminho de fé iluminado pela alegria da comunicação. Uma ulterior
urgência pastoral que não se pode subestimar é constituída pela formação de
comunidades cristãs, que sejam autênticos lugares de acolhimento para todos, na
constante atenção às necessidades específicas de cada pessoa. Sem essas comunidades resulta sempre mais
difícil crescer na fé e cai-se na tentação de reduzir à experiência
fragmentária e ocasional precisamente aquela fé que, ao contrário, deveria
vivificar a inteira experiência humana.
3. É neste contexto que se situa o tema do vosso
Seminário sobre os Movimentos eclesiais. Se no dia 30 de Maio de 1998 na Praça de São Pedro, ao aludir ao
florescimento de carismas e movimentos que se verificou na Igreja após o
Concílio Vaticano II, falei de «um novo Pentecostes», quis com esta expressão
reconhecer no desenvolvimento dos Movimentos e das novas Comunidades um motivo
de esperança para a ação missionária da Igreja. De fato, por causa da
secularização que em muitas almas enfraqueceu ou até mesmo extinguiu a fé e
abriu o caminho a crenças irracionais, em muitas regiões do mundo - Ela tem que enfrentar um ambiente
semelhante ao das suas origens. Estou bem consciente de que os Movimentos e as novas Comunidades, como
toda a obra que, embora sob o impulso divino, se desenvolve no interior da
história humana, nestes anos não despertaram só considerações positivas. Como
eu dizia a 30 de Maio de 1998, a sua «novidade inesperada e por vezes até
explosiva [...] não deixou de suscitar interrogativos, dificuldades e tensões;
às vezes comportou, por um lado, presunções e intemperanças e, por outro, não
poucos preconceitos e reservas» (Ibid., n. 6). Mas, no testemunho comum por eles dado
naquele dia à volta do Sucessor de Pedro e de numerosos Bispos, eu via e vejo o
sobrevir de uma «etapa nova: a da maturidade eclesial», embora na plena
consciência de que «isto não quer dizer que todos os problemas tenham sido
resolvidos», uma vez que esta maturidade «é, antes, um desafio. Uma via a
percorrer» (Ibidem).Este
itinerário exige da parte dos movimentos uma comunhão sempre mais sólida com os
Pastores que Deus escolheu e consagrou para reunir e santificar o seu povo no
fulgor da fé, da esperança e da caridade, porque «nenhum carisma dispensa da
referência e da submissão aos Pastores da Igreja» (Christifideles laici, 24). Portanto, o compromisso dos Movimentos é
compartilhar, no âmbito da comunhão e missão das Igrejas locais, as suas
riquezas carismáticas de modo humilde e generoso. Caríssimos Irmãos no Episcopado! A vós, a quem pertence a tarefa de
discernir a autenticidade dos carismas para dispor o seu justo exercício no
âmbito da Igreja, peço magnanimidade na paternidade e caridade clarividente
(cf. 1 Cor 13, 4), para com estas realidades, porque qualquer obra dos homens necessita
de tempo e paciência para a sua devida e indispensável purificação. Com
palavras claras o Concílio Vaticano II escreve: «O juízo acerca da sua (dos
carismas) autenticidade e do seu uso reto pertence àqueles que presidem na
Igreja, aos quais compete de modo especial não extinguir o Espírito mas julgar
tudo e conservar o que é bom (cf. 1 Ts 5, 12 e 19-21)» (Lumen gentium, 12), a fim de que todos os
carismas cooperem, na sua diversidade e complementaridade, para o bem comum
(cf. ibid., 30).Estou convicto, venerados Irmãos, de que a vossa
disponibilidade atenta e cordial, graças também a oportunos encontros de
oração, de reflexão e de amizade, tornará não só mais amável mas ainda mais
exigente a vossa autoridade, mais eficazes e incisivas as vossas indicações,
mais fecundo o ministério que vos foi confiado para a valorização dos carismas
em ordem à «utilidade comum». Com
efeito, é vossa primeira tarefa abrir os olhos do coração e da mente, para
reconhecer as múltiplas formas da presença do Espírito na Igreja, as examinar e levar todas a unidade na verdade e
na caridade.
4. No decurso dos encontros que tive com os
Movimentos eclesiais e as novas Comunidades, ressaltei em várias ocasiões a
íntima conexão entre a sua experiência e a realidade das Igrejas locais e da
Igreja universal das quais são fruto e, ao mesmo tempo, expressão
missionária. No
ano passado, diante dos participantes no Congresso mundial dos Movimentos
eclesiais, organizado pelo Pontifício Conselho para os Leigos, constatei
publicamente «a sua disponibilidade para pôr as próprias energias ao serviço da
Sé de Pedro e das Igrejas locais» (Mensagem ao Congresso mundial dos Movimentos
eclesiais, n. 2, em L'Osserv. Rom., ed. port. de 6/6/1998, pág. 2). Com efeito,
um dos frutos mais importantes gerados pelos movimentos é precisamente o de
saber libertar em tantos fiéis leigos, homens e mulheres, adultos e jovens, um
vivo impulso missionário, indispensável à Igreja que se prepara para cruzar o
limiar do terceiro milénio. Este
objetivo, porém, só se alcança lá onde eles «se inserem com humildade na vida
das Igrejas locais e são acolhidos cordialmente por Bispos e sacerdotes nas
estruturas diocesanas e paroquiais» (Redemptoris missio, 72).O que isto significa em termos concretos de apostolado e de ação
pastoral? Foi esta, precisamente, uma das questões-chave do vosso Seminário.
Como acolher este dom particular que o Espírito oferece à Igreja no nosso
momento histórico? Como o acolher em todo o seu alcance, em toda a sua
plenitude, em todo o dinamismo que lhe é próprio? Responder de modo adequado a
esses interrogativos faz parte da vossa responsabilidade de Pastores. A vossa grande responsabilidade é não tornar
vão o dom do Espírito mas, ao contrário, fazê-lo frutificar sempre mais no
serviço ao inteiro Povo cristão. Faço votos de coração por que o vosso
Seminário seja fonte de encorajamento e de inspiração para tantos Bispos no seu
ministério pastoral. Maria, Esposa do Espírito Santo, vos ajude a escutar
aquilo que hoje o Espírito diz à Igreja (cf. Ap 2, 7). Estou perto de vós com a minha solidariedade fraterna, acompanho-vos com
a oração, enquanto de bom grado vos abençoo a vós e a quantos a Providência
divina confiou aos vossos cuidados pastorais.
Vaticano, 18 de Junho de 1999.
PAPA JOÃO PAULO II
MENSAGEM DO PAPA BENTO XVI AOS PARTICIPANTES NO II
CONGRESSO MUNDIAL DOS MOVIMENTOS ECLESIAIS E DAS NOVAS COMUNIDADES
"Os Movimentos eclesiais e as novas Comunidades são hoje sinal luminoso da beleza de Cristo e da Igreja, sua Esposa. Vós pertenceis à estrutura viva da Igreja, Ela agradece-vos pelo vosso compromisso missionário, pela ação formativa que desempenhais de modo crescente sobre as famílias cristãs, para a promoção das vocações ao sacerdócio ministerial e à vida consagrada que desenvolveis no vosso âmbito..."
Queridos irmãos e irmãs!
Na expectativa do encontro previsto para sábado, 3
de Junho na Praça de São Pedro com os membros de mais de 100 Movimentos
eclesiais e novas Comunidades, sinto-me feliz por vos enviar, representantes de
todas estas realidades eclesiais, reunidos em Rocca di Papa no Congresso
Mundial, uma calorosa saudação com as palavras do Apóstolo: "Que o Deus da
esperança vos encha de toda a alegria e paz na fé, para que transbordeis de
esperança, pela força do Espírito Santo" (Rm 15, 13). Ainda está viva, na minha memória e no meu coração, a recordação do
precedente Congresso Mundial dos Movimentos eclesiais, realizado em Roma de 26
a 29 de Maio de 1998, ao qual fui convidado a dar o meu contributo, então na
qualidade de Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, com uma conferência
sobre a posição teológica dos Movimentos. Aquele Congresso teve o seu coroamento no memorável
encontro com o amado Papa João Paulo II a 30 de Maio de 1998 na Praça de São
Pedro, durante o qual o meu Predecessor confirmou o seu apreço pelos Movimentos
eclesiais e as novas Comunidades, que definiu "sinais de esperança"
para o bem da Igreja e dos homens.
Hoje, consciente dos passos feitos a partir de
então pelo caminho traçado pela solicitude pastoral, pelo afecto e pelos
ensinamentos de João Paulo II, gostaria de me congratular com o Pontifício
Conselho para os Leigos, nas pessoas do seu Presidente, D. Stanislaw Rylko, do
Secretário, D. Joseph Clemens e dos seus colaboradores, pela importante e
válida iniciativa deste Congresso Mundial, cujo tema "A beleza de ser cristão e a alegria de o comunicar" se inspira numa
afirmação minha da homilia de início do ministério petrino. É um tema que
convida a reflectir sobre o que caracteriza essencialmente o acontecimento
cristão: de facto, nele vem ao nosso encontro Aquele que em carne e sangue,
visível e historicamente trouxe o esplendor da glória de Deus à terra. A Ele aplicam-se as palavras do Salmo 44:
"Tu és o mais belo dos filhos dos homens!". E a Ele, paradoxalmente,
fazem referência também as palavras do profeta: "...sem figura nem beleza.
Vimo-lo sem aspecto atraente" (Is 53, 2). Em Cristo encontram-se a beleza
da verdade e a beleza do amor; mas o amor, sabemo-lo, requer também a
disponibilidade para sofrer, uma disponibilidade que pode chegar até à doação
da vida por quem se ama (cf. Jo 15, 13)! Cristo, que é "a beleza de
qualquer beleza", como costumava dizer São Boaventura (Sermones
dominicales 1, 7), torna-se presente no coração do homem e atrai-o à sua
vocação que é amor. É graças a esta extraordinária força de atracção que a
razão é subtraída ao seu entorpecimento e se abre ao Mistério. Revela-se assim
a beleza suprema do homem que, criado à imagem de Deus, é regenerado pela graça
e destinado à glória eterna. Ao
longo dos séculos, o cristianismo foi comunicado e difundiu-se graças à
novidade de vida de pessoas e de comunidades capazes de dar um testemunho incisivo
de amor, de unidade e de alegria. Precisamente esta força pôs tantas pessoas em
"movimento" no suceder-se das gerações. Não foi porventura a beleza
que a fé gerou no rosto dos santos a estimular muitos homens e mulheres a
seguir as suas pegadas? No fundo, isto é válido também para vós: através dos
fundadores e dos iniciadores dos vossos Movimentos e Comunidades individuastes
com singular luminosidade o rosto de Cristo e pusestes-vos a caminho. Também hoje Cristo continua a fazer ressoar
no coração de muitos aquele "vem e segue-me" que pode decidir o seu
destino. Isto acontece normalmente através do testemunho de quem fez uma
experiência pessoal da presença de Cristo. No rosto e na palavra destas
"criaturas novas" torna-se visível a sua luz e ouve-se o seu
convite. Portanto digo-vos, queridos amigos dos Movimentos: fazei com que eles
sejam sempre escolas de comunhão, companheiros a caminho nos quais se aprende a
viver na verdade e no amor que Cristo nos revelou e comunicou por meio do
testemunho dos Apóstolos, no seio da grande família dos seus discípulos. Ressoe sempre no vosso coração a exortação de Jesus: "Assim brilhe
a vossa luz diante dos homens, de modo que, vendo as vossas boas obras,
glorifiquem o vosso Pai que está no céu" (Mt 5, 16). Levai a luz de Cristo
a todos os ambientes sociais e culturais em que viveis. O impulso missionário é comprovação da
radicalidade de uma experiência de fidelidade sempre renovada ao próprio
carisma, que leva além de qualquer fechamento cansado e egoísta em si. Iluminai
a obscuridade de um mundo transtornado pelas mensagens contraditórias das
ideologias! Não há beleza que tenha valor se não há uma verdade a ser
reconhecida e seguida, se o amor se limita a sentimento passageiro, se a
felicidade se torna miragem inalcançável, se a liberdade degenera em
instintividade. Quanto
mal é capaz de produzir na vida do homem e das nações a vontade do poder, da
posse, do prazer! Levai a este mundo perturbado o testemunho da liberdade com
que Cristo nos libertou (cf. Gl 5, 1). A extraordinária fusão entre o amor de
Deus e o amor do próximo torna a vida bela e faz florescer o deserto no qual
com frequência vivemos. Onde a caridade se manifesta como paixão pela vida e
pelo destino do próximo, irradiando-se nos afetos e no trabalho e tornando-se
força de construção de uma ordem social mais justa, ali constrói-se a
civilização capaz de enfrentar o avanço da barbaridade. Tornai-vos construtores de um mundo melhor
segundo a ordo amoris na qual se manifeste a beleza da vida humana. Os
Movimentos eclesiais e as novas Comunidades são hoje sinal luminoso da beleza
de Cristo e da Igreja, sua Esposa. Vós pertenceis à estrutura viva da Igreja,
Ela agradece-vos pelo vosso compromisso missionário, pela ação formativa que
desempenhais de modo crescente sobre as famílias cristãs, para a promoção das
vocações ao sacerdócio ministerial e à vida consagrada que desenvolveis no
vosso âmbito. Agradece-vos
também pela disponibilidade que demonstrais ao receber as indicações operativas
não só do Sucessor de Pedro, mas também dos Bispos das diversas Igrejas locais,
que são, juntamente com o Papa, guardas da verdade e da caridade na unidade.
Confio na vossa obediência imediata. Além da afirmação do direito à própria
existência, deve prevalecer sempre, com indiscutível prioridade, a edificação
do Corpo de Cristo no meio dos homens. Qualquer problema deve ser enfrentado pelos
Movimentos com sentimentos de profunda comunhão, em espírito de adesão aos
Pastores legítimos. Ampare-vos a participação na oração da Igreja, cuja
liturgia é a mais alta expressão da beleza da glória de Deus, e constitui de
certa forma um aproximar-se do Céu à terra.
Confio-vos à intercessão daquela que invocamos como a Tota pulchra, a "Toda bela", um ideal de
beleza que os artistas sempre procuraram reproduzir nas suas obras, a
"Mulher vestida de sol" (Ap 12, 1) na qual a beleza humana se
encontra com a beleza de Deus. Com
estes sentimentos envio-vos a todos, como penhor de afecto constante, uma
especial Bênção Apostólica.
Vaticano, 22 de Maio de 2006.
PAPA BENTO XVI
DISCURSO DO PAPA FRANCISCO AOS PARTICIPANTES NO III
CONGRESSO DOS MOVIMENTOS ECLESIAIS E DAS NOVAS COMUNIDADES
"Por conseguinte, desejo oferecer-vos algumas sugestões para o vosso caminho de fé e de vida eclesial. Antes de tudo, é necessário preservar o vigor do carisma: que aquele vigor não esmoreça! Vigor do carisma! Renovando sempre o «primeiro amor» (cf.Ap2, 4). De fato, com o tempo aumenta a tentação de se contentar, de adormecer em esquemas tranquilizadores, mas estéreis. A tentação de aprisionar o Espírito: esta é uma tentação! Contudo, «a realidade é mais importante que a ideia» (cf. Exort. ap. Evangelii gaudium, 231-233); se é necessária uma certa institucionalização do carisma para a sua sobrevivência, não devemos iludir-nos que as estruturas possam garantir a ação do Espírito Santo. A novidade das vossas experiências não consiste nos métodos nem nas formas, que contudo são importantes; a novidade consiste na predisposição para responder com renovado entusiasmo à chamada do Senhor; foi esta coragem evangélica que permitiu o nascimento dos vossos movimentos e novas comunidades..."
Sala Clementina - Sábado, 22 de Novembro de 2014
Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
É com prazer que vos recebo por ocasião do
Congresso que estais a celebrar com o apoio do Pontifício Conselho para os
Leigos. Agradeço ao Cardeal Ryłko, também as suas palavras, e a Mons.
Clemens. Nestes dias, estão no
centro da vossa atenção dois elementos essenciais da vida cristã: a conversão e
a missão. Eles estão intimamente ligados entre si. Com efeito, sem uma
conversão autêntica do coração e da mente não se anuncia o Evangelho, mas se
não nos abrirmos à missão não é possível a conversão e a fé torna-se estéril.
Os Movimentos e as Novas Comunidades que representais já estão projetados para
a fase da maturidade eclesial, que exige uma atitude vigilante de conversão
permanente, a fim de tornar cada vez mais vivo e fecundo o impulso
evangelizador. Por conseguinte,
desejo oferecer-vos algumas sugestões para o vosso caminho de fé e de vida
eclesial. Antes de tudo, é necessário preservar o
vigor do carisma: que aquele vigor não esmoreça! Vigor do carisma! Renovando
sempre o «primeiro amor» (cf.Ap2, 4). De fato, com o tempo aumenta a tentação
de se contentar, de adormecer em esquemas tranquilizadores, mas estéreis. A
tentação de aprisionar o Espírito: esta é uma tentação! Contudo, «a realidade é
mais importante que a ideia» (cf. Exort. ap. Evangelii gaudium, 231-233); se é
necessária uma certa institucionalização do carisma para a sua sobrevivência,
não devemos iludir-nos que as estruturas possam garantir a ação do Espírito
Santo. A novidade das
vossas experiências não consiste nos métodos nem nas formas, que contudo são
importantes; a novidade consiste na predisposição para responder com renovado
entusiasmo à chamada do Senhor; foi esta coragem evangélica que permitiu o
nascimento dos vossos movimentos e novas comunidades. Se formas e métodos são defendidos por si mesmos tornam-se ideológicos,
distantes da realidade que está em evolução contínua; fechados às novidades do
Espírito, acabam por sufocar o próprio carisma que os gerou. É preciso voltar
sempre à nascente dos carismas e reencontrareis o impulso para enfrentar os
desafios. Não fizestes uma escola de espiritualidade assim; não fizestes uma
instituição de espiritualidade assim; não tendes um pequeno grupo... Não!
Movimento! Sempre a caminho, sempre em movimento, sempre abertos às surpresas
de Deus, que estão em
sintonia com a primeira chamada do movimento, com o carisma
fundamental. Outra questão diz respeito ao modo de acolher e acompanhar os
homens do nosso tempo, em especial os jovens (cf. Exort. ap. Evangelli gaudium,
105-106). Fazemos parte de uma humanidade
ferida — devemos dizer isto — onde todas as instituições educativas,
especialmente a mais importante, a família, têm graves dificuldades um pouco em
todo o mundo. O homem de hoje vive sérios problemas de identidade e tem
dificuldade em fazer as suas opções; por isso tem uma tendência a deixar-se
condicionar, a delegar a outros as decisões importantes da vida. É preciso
resistir à tentação de se substituir à liberdade das pessoas e a dirigi-las sem
esperar que amadureçam realmente. Cada pessoa tem o seu tempo, caminha à sua
maneira e devemos acompanhar este caminho. Um progresso moral ou espiritual obtido
mediante a imaturidade das pessoas é um sucesso aparente, destinado a
naufragar. Melhor poucos, mas sempre sem procurar o espectáculo! A educação cristã, ao contrário, exige um acompanhamento paciente que
sabe esperar os tempos de cada indivíduo, como o Senhor faz com cada um de nós:
o Senhor tem paciência connosco! A paciência é o único caminho para amar
deveras e levar as pessoas a uma relação sincera com o Senhor.Outra indicação é a de não esquecer que o bem mais
precioso, o selo do Espírito Santo, é a comunhão. Trata-se da graça suprema que
Jesus nos conquistou na cruz, a graça que de ressuscitado pede para nós
incessantemente, mostrando as suas chagas gloriosas ao Pai: «Como Tu, ó Pai,
estás em Mim e Eu em Ti, que também eles estejam em nós, para que o mundo creia
que Tu Me envias-te» (Jo17, 21). Para que o mundo creia que Jesus é o Senhor é preciso que veja a
comunhão entre os cristãos, mas se se vêem divisões, rivalidades e difamações,
o terrorismo dos mexericos, por favor... se se vêem estas coisas, seja qual for
a causa, como se pode evangelizar? Recordai também este princípio: «A unidade
prevalece sobre o conflito» (cf. Exort. Evangelii gaudium, 226-230), porque o
irmão vale muito mais do que as nossas posições pessoais: por ele Cristo
derramou o seu sangue (cf.1 Pd 1, 18-19), pelas minhas ideias nada derramou! Depois, a verdadeira comunhão não pode
existir num movimento ou numa nova comunidade, se não se integra na comunhão
maior que é a nossa Santa Mãe Igreja Hierárquica. O todo é superior à parte
(cf. Exort. ap. Evangelii gaudium, 234-237) e a parte tem sentido em relação ao
todo. Além disso, a comunhão consiste também em
enfrentar juntos e unidos as questões mais importantes, como a vida, a família,
a paz, a luta à pobreza em todas as suas formas, a liberdade religiosa e
educativa. Em particular, os movimentos e as comunidades estão chamados a
colaborar a fim de contribuir para curar as feridas causadas por uma
mentalidade globalizada que põe no centro o consumo, esquecendo Deus e os
valores essenciais da existência.Por
conseguinte, para alcançar a maturidade eclesial mantende — repito — o vigor do
carisma, respeitai a liberdade das pessoas e procurai sempre a comunhão. Mas
não vos esqueçais de que para alcançar a meta a conversão deve ser missionária:
a força de superar tentações e insuficiências vem da alegria profunda do
anúncio do Evangelho, que está na base de todos os vossos carismas. Com efeito, «quando a Igreja chama ao compromisso evangelizador, mais
não faz do que indicar o verdadeiro dinamismo da realização pessoal» (Exort.
ap. Evangelii gaudium, 10), a verdadeira motivação para renovar a própria vida,
porque a missão é participação na missão de Cristo que sempre nos precede e
acompanha na evangelização.Queridos
irmãos e irmãs, vós já destes muitos frutos à Igreja e ao mundo inteiro, mas
dareis outros ainda maiores com a ajuda do Espírito Santo, que suscita sempre e
renova dons e carismas, e com a intercessão de Maria, que não deixa de socorrer
e acompanhar os seus filhos. Ide em frente: sempre em movimento... Nunca vos
detendes! Sempre em movimento! Garanto-vos a minha oração e peço-vos que rezeis
por mim — tenho deveras necessidade disso — e de coração abençoo-vos.
[Aplausos...]
Agora peço-vos, a todos, que rezeis a Nossa Senhora, que experimentou esta
experiência de conservar sempre o vigor do primeiro encontro com Deus, de ir em
frente com humildade, mas sempre a caminho, respeitando o tempo das
pessoas. E depois também
nunca vos canseis de ter este coração missionário.
[Ave Maria... Bênção...]
SAUDAÇÃO DO PAPA FRANCISCO AOS
PARTICIPANTES NO ENCONTRO DAS ASSOCIAÇÕES DE FIÉIS, DOS MOVIMENTOS ECLESIAIS E
DAS NOVAS COMUNIDADES
Sala do Sínodo - Quinta-feira, 16 de setembro de 2021
Saúdo
cordialmente Sua Eminência o Cardeal Kevin Farrell e agradeço-lhe as palavras
que me dirigiu. E obrigado a todos
vós, por estardes presentes não obstante as dificuldades devidas à pandemia — e
às vezes à “falta de bom humor” que talvez este decreto tenha semeado no
coração de alguns! Mas em frente, juntos. Saúdo e
agradeço também a quantos participam através de ligação em vídeo, muitos dos
quais não puderam viajar por causa das restrições ainda em vigor em muitos
países. Não sei como o Secretário conseguiu voltar do Brasil! Depois deverá
explicar-me!
1. Eu
quis estar aqui hoje, antes de mais, para vos agradecer! Obrigado pela vossa presença como leigos, homens e mulheres,
jovens e idosos, comprometidos em viver e testemunhar o Evangelho nas
realidades comuns da vida, no vosso trabalho, em muitos contextos diferentes,
educativos, de compromisso social, e assim por diante, nas ruas, nos terminais
ferroviários, ali estáveis todos vós: este é o vasto campo do vosso apostolado,
é a vossa evangelização. Devemos compreender
que a evangelização é um mandato que advém do Batismo; Batismo que nos faz
juntos sacerdotes, no sacerdócio de Cristo: o povo sacerdotal. E não devemos esperar que venha o sacerdote, o padre para
evangelizar, o missionário... Sim, fazem-no muito bem, mas quem recebeu o
Batismo tem a tarefa de evangelizar. Foi o que despertastes com os vossos
movimentos, e isto é muito bom. Obrigado! Nos
últimos meses, vistes com os vossos olhos e tocastes com as mãos os sofrimentos
e as angústias de numerosos homens e mulheres, devido à pandemia, sobretudo nos
países mais pobres, onde muitos de vós estão presentes. Um de vós falou-me
sobre isto. Muita pobreza, miséria... Penso em nós que, aqui no Vaticano, nos
queixamos quando a refeição não está bem preparada, enquanto há pessoas que não
têm o que comer. Estou-vos grato porque não parastes: não deixastes de levar a
vossa solidariedade, a vossa ajuda, o testemunho evangélico, até nos meses mais
difíceis, quando os contágios eram muito elevados. Apesar das restrições devidas às necessárias medidas de
prevenção, não vos rendestes, mas, pelo contrário, sei que muitos de vós
multiplicaram o próprio esforço, adaptando-se às situações concretas que
estavam e estão a enfrentar, com aquela criatividade que provém do amor, pois
quem se sente amado pelo Senhor, ama sem medida. Este “sem medida” é o que se
manifesta nestes momentos críticos. E vimos
este “sem medida” também em muitas religiosas, em tantas consagradas, em
numerosos sacerdotes e bispos. Penso num bispo que acabou por ser entubado, por
estar sempre com o povo. Agora está a restabelecer-se lentamente. Vós e todo o
povo de Deus estais comprometidos nisto, e vós estivestes lá. Nenhum de vós disse: “Não, não posso ir, porque o meu
fundador pensa de outro modo”. Então, nada de fundador: aqui era o Evangelho
que chamava, e todos partiram. Muito obrigado! Fostes testemunhas «daquela
(abençoada) pertença comum, a que não nos podemos subtrair: a pertença como
irmãos» (Meditação em tempo de pandemia,
27 de março de 2020). Ou somos
irmãos, ou inimigos! “Não, não! Afasto-me: ou irmãos ou inimigos”. Não há
meia-medida.
2. Como
membros de associações de fiéis, de movimentos eclesiais internacionais e de
outras comunidades, desempenhais uma
verdadeira missão eclesial. Com dedicação,
procurais viver e fazer frutificar aqueles carismas que o Espírito Santo,
através dos fundadores, confiou a todos os membros das vossas realidades
agregativas, em benefício da Igreja e dos numerosos homens e mulheres a quem
vos dedicais no apostolado. Penso especialmente naqueles que, encontrando-se
nas periferias existenciais das nossas sociedades, experimentam na própria
carne o abandono e a solidão, e padecem muitas necessidades materiais e formas
de pobreza moral e espiritual. Fará bem a todos nós recordar diariamente não só
a pobreza do próximo mas também, e sobretudo, a nossa. Existe algo sobre Madre Teresa que me vem frequentemente ao
pensamento. Sim, ela era religiosa, mas isto acontece a todos, quando estamos a
caminho. Quando vamos rezar e não sentimos nada. Chamo-lhe, “ateísmo
espiritual”, onde tudo é escuro, tudo parece dizer: “Falhei, este não é o
caminho, esta é uma bonita ilusão!”. A tentação do ateísmo, quando chega
durante a oração. A pobre Madre Teresa sofreu muito, porque é a vingança do
diabo quando vamos ali, às periferias, onde Jesus está presente, exatamente
onde Jesus nasceu. Preferimos um Evangelho sofisticado, um Evangelho destilado,
mas não é Evangelho, o Evangelho é este. Obrigado! Fará bem a todos nós pensar
nestas pobrezas. Vós sois também, não
obstante os limites e os pecados de todos os dias — graças a Deus somos
pecadores e Deus concede-nos a graça de reconhecer os nossos pecados e
inclusive a graça de pedir ou procurar um confessor: trata-se de uma grande
graça, não a percais! — apesar destes limites, sois um sinal claro da
vitalidade da Igreja: representais uma força missionária e uma presença
profética que nos dá esperança para o futuro. Também vós, com os Pastores e com
todos os outros fiéis leigos, tendes a responsabilidade de construir o futuro
do santo povo fiel de Deus. Mas lembrai-vos sempre
que construir o futuro não significa abandonar o presente que vivemos! Pelo
contrário, o futuro deve ser preparado aqui e agora, “na cozinha”, aprendendo a
ouvir e discernir o tempo presente com honestidade, coragem e a disponibilidade
a um encontro constante com o Senhor, uma perene conversão pessoal. Caso contrário, corre-se o risco de viver num “mundo
paralelo”, destilado, longe dos desafios reais da sociedade, da cultura e de
todas as pessoas que vivem ao vosso lado e que aguardam o vosso testemunho
cristão. Com efeito, pertencer a uma associação, a um movimento ou a uma
comunidade, especialmente se se referem a um carisma, não nos deve fechar numa
“zona de segurança”, fazer-nos sentir seguros, como se não houvesse necessidade
de resposta alguma aos desafios e às mudanças. Todos nós, cristãos, estamos sempre a caminho, sempre em conversão,
sempre em discernimento. Muitas vezes encontramos os chamados “agentes
pastorais”, quer sejam bispos, presbíteros, religiosas ou leigos comprometidos.
Não gosto desta palavra: o leigo, ou está comprometido ou não está
comprometido. Os leigos são ativos em algo. Mas encontramos alguns que
confundem o caminho com uma excursão turística ou confundem o caminho com uma
volta sempre ao redor de si mesmo, sem poder progredir. O caminho do Evangelho
não é uma excursão turística. É um desafio: cada passo é um desafio, cada passo
é uma chamada de Deus, cada passo é — como dizemos na nossa terra — “pôr carne
na grelha”. Ir sempre em frente! Estejamos sempre a caminho, sempre em
conversão, sempre em discernimento para cumprir a vontade de Deus.Pensar que se é “a novidade” na Igreja — é uma tentação que
muitas vezes ocorre com as novas congregações ou os novos movimentos — e,
portanto, sem necessidade de mudanças, pode tornar-se uma falsa segurança. Até as novidades envelhecem rapidamente! Por isso, temos que
aprofundar cada vez mais também o carisma a que pertencemos, refletindo sempre
em conjunto para o encarnar nas novas situações em que vivemos. Para fazer isto, exige-se de nós grande docilidade e
humildade, para reconhecer os nossos limites e aceitar mudar modos superados de
agir e de pensar, ou métodos de apostolado que deixaram de ser eficazes, ou ainda
formas de organização da vida interna que se revelaram inadequadas ou até
perniciosas. Por exemplo, este é um
dos serviços que sempre nos prestam os Capítulos Gerais. Quando não são bons
[os modos e os métodos], devem ser revistos em assembleia.
Mas agora vamos ao ponto que
esperáveis!
3. O
Decreto As associações
internacionais de fiéis, promulgado a 11
de junho deste ano, é um passo nessa direção. Mas será que este Decreto nos
coloca na prisão? Tira-nos a liberdade? Não,
este Decreto impele-nos a aceitar algumas mudanças e a preparar o futuro a
partir do presente. Na origem deste Decreto não há uma certa teoria sobre a
Igreja ou sobre associações laicais que se pretende aplicar ou impor. Não, não
há! Foi a própria realidade das últimas décadas que nos demonstrou a
necessidade das mudanças que o Decreto nos pede.E digo-vos algo sobre esta
experiência das últimas décadas do período pós-Concílio. Na Congregação para os religiosos estão a estudar as
congregações religiosas, as associações que surgiram neste período. É curioso,
é muito curioso! Muitas, tantas, com uma grande novidade, acabaram em situações
muito difíceis: acabaram sob visita apostólica, acabaram em pecados torpes,
comissariadas... E faz-se um estudo. Não sei se isto pode ser publicado, mas das
bisbilhotices clericais vós sabeis melhor do que eu quais são estas situações.
Há muitas, e não só as grandes, que conhecemos e que são escandalosas — o que
fizeram para se sentir uma Igreja à parte, pareciam os redentores! — mas também
as pequenas. Por exemplo, no meu país três delas já foram dissolvidas e todas
porque acabaram nas situações mais indecorosas. Eram a salvação, não é verdade? Pareciam... Sempre com
aquele fio [condutor] da rigidez disciplinar. Isto é importante! E isto
levou-me... Esta realidade das últimas décadas mostrou-nos uma série de
mudanças para ajudar, mudanças que o Decreto nos pede. Hoje, portanto, precisamente a partir deste Decreto, refletis
sobre um tema importante não só para cada um de vós, mas para toda a Igreja: «A
responsabilidade de governo nas agregações laicais. Um serviço eclesial». Governar é servir. O exercício do governo no
seio das associações e dos movimentos constitui um tema que aprecio de modo
particular, especialmente considerando — o que eu disse antes — os casos de
abuso de vários tipos que se verificaram inclusive nestas realidades e que
encontram sempre a sua raiz no abuso de poder. Eis a origem: o abuso de poder. Não raro a Santa Sé, nestes
anos, teve que intervir, iniciando difíceis processos de reabilitação. E penso não apenas nas situações tão desagradáveis, que fazem
muito barulho; mas também nas doenças que derivam do enfraquecimento do carisma
fundador, que se torna morno e perde a sua capacidade de atração.
4. As
posições de governo que vos são confiadas nas agregações laicais a que
pertenceis são apenas uma chamada a servir . Mas, para o cristão, que significa
servir? Em várias ocasiões tive a oportunidade de indicar dois obstáculos que o
cristão pode encontrar no seu caminho e que o impedem de se tornar um
verdadeiro servidor de Deus e do próximo (cf. Meditação matutina em Santa Marta
, 8 de novembro de 2016).
5. O
primeiro é o “desejo de poder”: quando este desejo de poder te faz mudar a
natureza do serviço de governo. Quantas
vezes fizemos com que os outros sentissem o nosso “desejo de poder”? Jesus
ensinou-nos que quem manda deve tornar-se como aquele que serve (cf. Lc 22, 24-26) e que «se alguém quiser ser o
primeiro, seja o servo de todos» (Mc 9,
35). Ou seja, Jesus inverte os valores da mundanidade, do
mundo. O nosso desejo de poder exprime-se de muitos modos na vida da Igreja;
por exemplo, quando pensamos, em virtude do papel que desempenhamos, que
devemos tomar decisões sobre todos os aspetos da vida da nossa associação, da
diocese, da paróquia, da congregação. Delegam-se aos outros tarefas e
responsabilidades para determinados âmbitos, mas só teoricamente! Na prática, a delegação aos outros é esvaziada pela avidez de
estar em toda a parte. E este desejo de poder anula todas as formas de subsidiariedade.
Esta atitude é terrível e acaba por esvaziar da sua força o corpo eclesial. É
um modo errado de “disciplinar”, como já vimos. Muitos — e penso nas
congregações que conheço melhor — superiores, superiores-gerais que se
eternizam no poder e fazem mil coisas para ser reeleitos e reeleitos, mudando
até as constituições. E por detrás disto há um desejo de poder. Isto não ajuda; este é o início do fim de uma associação,
de uma congregação. Talvez alguém pense que este “desejo” não lhe diz respeito,
que isto não acontece na sua associação. Tenhamos
em mente que o Decreto As associações internacionais de fiéis não visa apenas algumas das realidades aqui
presentes, mas todas, sem exceção. Todas! Não há melhores ou piores, perfeitos
ou não: todas as realidades eclesiais são chamadas à conversão, a compreender e
atuar o espírito que anima as disposições que o Decreto nos dá. Vêm-me à mente duas imagens sobre isto. Duas imagens
históricas. Aquela religiosa que,
ao entrar em Capítulo, dizia: “Se votardes em mim, farei isto...”. Compram o
poder. E depois, um caso
que me parece estranho, por exemplo, “o espírito do fundador desceu sobre mim”.
Parece uma profecia de Isaías! “Deu-o a mim! Devo ir em frente sozinha ou
sozinho, porque o fundador me deu o seu manto, como Elias a Eliseu. E vós, sim,
fazei a votação, mas sou eu que comando”. E isto acontece! Não falo de
fantasias. Isto acontece hoje na Igreja! A
experiência de estar próximo das vossas realidades ensinou que é benéfico e
necessário prever uma rotação nos cargos de governo e uma representatividade de
todos os membros nas vossas eleições. Até no
contexto da vida consagrada existem institutos religiosos que, mantendo sempre
as mesmas pessoas nas funções de governo, não prepararam o futuro; permitiram
que se insinuassem abusos e agora passam por grandes dificuldades. Penso, não o conheceis, mas existe um instituto cuja líder se
chamava Amabilia. O instituto acabou por se chamar “odiobilia” porque os
membros se deram conta de que aquela mulher era um “Hitler” de hábito.
6. Além
disso, há outro obstáculo ao verdadeiro serviço cristão, e este é muito subtil:
a deslealdade. Encontramo-lo quando alguém quer servir o Senhor, mas serve
também outras coisas que não são o Senhor (e por detrás de outras coisas, há
sempre dinheiro). É um pouco como fazer
jogo duplo! Com palavras dizemos que queremos servir a Deus e ao próximo, mas
nas ações servimos o nosso ego e cedemos ao nosso desejo de aparecer, de obter
reconhecimentos, apreços... Não esqueçamos que o verdadeiro serviço é gratuito
e incondicional, não conhece cálculos nem pretensões. Além disso, o verdadeiro
serviço habitualmente esquece o que fez para servir os outros. Acontece, todos fizestes a experiência, quando vos
agradecem [e dizeis], “Porquê?”. — “Por aquilo que que fez...” — “Mas o que
fiz?”... E depois vem à memória. É um serviço, ponto! E caímos na armadilha da
deslealdade quando nos apresentamos aos outros como os únicos intérpretes do carisma, os únicos herdeiros da nossa
associação ou movimento — aquele caso que mencionei antes — ou quando,
considerando-nos indispensáveis, fazemos de tudo para desempenhar cargos por
toda a vida; ou ainda quando temos a pretensão de decidir a priori quem deve
ser o nosso sucessor. Será que isto
acontece? Sim, acontece! E com mais frequência do que pensamos. Ninguém é o
senhor dos dons recebidos para o bem da Igreja — somos administradores —
ninguém deve sufocá-los, mas deixá-los crescer, comigo ou com quem vier depois
de mim. Cada um, onde é
posto pelo Senhor, é chamado a fazê-los crescer, a fazê-los frutificar,
confiante que é Deus quem opera tudo em todos (cf. 1 Cor 12, 6) e que o nosso verdadeiro bem dá frutos
na comunhão eclesial.
7. Caros
amigos, no desempenho do papel de governo que nos foi confiado, aprendamos a ser verdadeiros servidores do Senhor e dos
irmãos, aprendamos a dizer «somos servos inúteis» (Lc 17, 10). Tenhamos presente esta expressão de
humildade, de docilidade à vontade de Deus, que faz tanto bem à Igreja, evocando a atitude correta para trabalhar nela: o serviço
humilde, do qual Jesus nos deu o exemplo, lavando os pés dos discípulos (cf.
Jo 13, 3-17; Angelus , 6 de outubro de
2019).
8. O
documento do Dicastério refere-se aos fundadores. Parece-me muito sábio. O fundador não deve ser mudado, continua, vai em frente.
Simplificando um pouco, diria que devemos distinguir, nos movimentos eclesiais
(e também nas congregações religiosas), entre aqueles que estão em processo de
formação e os que já adquiriram uma certa estabilidade orgânica e jurídica. São
duas realidades diferentes. Os primeiros, os institutos, têm o fundador ou a
fundadora vivos. Embora todos os institutos — quer sejam religiosos ou
movimentos laicais — tenham o dever de averiguar, nas assembleias ou nos
capítulos, o estado do carisma fundacional e fazer as mudanças necessárias nas
próprias legislações (que depois serão aprovadas pelo respetivo Dicastério); ao
contrário, nos institutos em formação — e digo em formação no sentido mais
lato: os institutos que têm um fundador ainda vivo, e é por isso que o Decreto
fala do fundador vitalício — que estão em fase fundacional, esta averiguação do
carisma é, por assim dizer, mais contínua. Portanto,
no documento fala-se de uma certa estabilidade dos superiores durante esta
fase. É importante fazer tal distinção a fim de poder mover-se com mais
liberdade no discernimento. Somos membros vivos da Igreja e por isso devemos
confiar no Espírito Santo, que age na vida de cada associação, de cada membro,
atua em cada um de nós. Daqui deriva a
confiança no discernimento dos carismas, confiado à autoridade da Igreja. Estai
conscientes da força apostólica e do dom profético que hoje vos são confiados
de maneira renovada. Obrigado pela vossa escuta! E uma coisa: quando li o
esboço do Decreto, que depois assinei — o primeiro esboço — pensei: “Mas é
demasiado rígido! Falta-lhe vida, falta-lhe...”. Mas caros, esta é a linguagem
do Direito Canónico! E aqui é uma questão de direito, uma questão de linguagem.
Mas, como procurei fazer, devemos ver o que significa esta
linguagem, o direito. Foi por isso que eu quis explicá-lo bem. E também
explicar as tentações que estão por detrás, que vimos e que tanto prejudicam os
movimentos e também os institutos religiosos e laicais.
Obrigado
pela vossa escuta e obrigado ao Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida,
por ter organizado este encontro. Desejo a
todos vós bom trabalho, bom caminho e boa reunião. Nele dizei de coração tudo o
que quiserdes. Perguntai o que quiserdes, esclarecei as situações. Trata-se de
um encontro para fazer isto, para fazer Igreja, para nós. E não vos esqueçais de rezar por mim, pois preciso disto.
Não é fácil ser Papa, mas Deus ajuda. Deus ajuda sempre!
Fonte: Vatican.va
AS NOVAS COMUNIDADES NO ÂMBITO
DA IGREJA E O CARISMA FUNDACIONAL DAS MESMAS
Por* Julio
César Lopes Serpa
O
Concílio Vaticano II deu uma contribuição fundamental à
revalorização da “vida fraterna em comum” e a compreensão da comunidade
religiosa, afirmando que a vida religiosa pertence à vida e a santidade da
Igreja.A comunidade religiosa é célula de comunão fraterna, chamada a
viver animada pelo carisma fundacional, sendo parte orgânica de toda a igreja,
sempre enriquecida pelo Espírito Santo com variedades de ministérios, dons e
carismas.Ressalta-se também, que o
Concílio Vaticano II, faz-se uma profunda reflexão sobre a Igreja, mostrando a
face laical e seus aspectos no contexto eclesial.
A Constituição Dogmática Lumen Gentium, descreve que:
O sentido da fé e dos carismas no povo
cristão
12. “O
Povo santo de Deus participa também da função profética de Cristo, difundindo o
seu testemunho vivo, sobretudo pela vida de fé e de caridade oferecendo a Deus
o sacrifício de louvor, fruto dos lábios que confessam o Seu nome (cfr. Hebr.
13,15). A totalidade dos fiéis que receberam a unção do
Santo (cfr. Jo. 2, 20 e 27), não pode enganar-se na fé; e esta sua propriedade
peculiar manifesta-se por meio do sentir sobrenatural da fé do povo todo,
quando este, «desde os Bispos até ao último dos leigos fiéis» (22), manifesta
consenso universal em matéria de fé e costumes. Com este sentido da fé, que se
desperta e sustenta pela acção do Espírito de verdade, o Povo de Deus, sob a
direcção do sagrado magistério que fielmente acata, já não recebe
simples palavra de homens mas a verdadeira palavra de Deus (cfr. 1 Tess. 2,13),
adere indefectivelmente à fé uma vez confiada aos santos (cfr. Jud. 3),
penetra-a mais profundamente com juízo acertado e aplica-a mais totalmente na
vida.”
Tudo
isso é confirmado na Exortação Apostólica Christifideles Laici, pelo Santo
Padre à época, e hoje São João Paulo II, onde reitera a participação do fiel
leigo no múnus sacerdotal, real e profético de Cristo, enquanto membro da
Igreja, como ramo da única videira, em corresponsabilidade na comunhão orgânica
e missionária, tendo recebido carismas do Espírito Santo para produzir frutos.Nesse contexto, o “povo de Deus”, são os leigos, maioria dos
membros das novas comunidades, que, impulsionados pelo Espírito Santo e com o
aval legal da Santa Igreja, estão cada vez mais buscando o seu lugar ao sol (na
igreja). Para o Apóstolo Paulo, a comunidade é obra de Deus e da Sua
graça, que se manifesta visivelmente nos carismas e dons, aí compreendido o
ministério apostólico (Rm 12, 3-5; 1 Cor 12, 12-31a; Ef 4, 13-16), por obra do
Espírito Santo e de Sua livre vontade, para a utilidade e conveniência do único
corpo de que são membros os cristãos.Papa Bento XVI
disse: “Os movimentos eclesiais e as novas comunidades são uma das novidades
mais importantes suscitadas pelo Espírito Santo à Igreja pela atuação do Concílio
Vaticano II.” Portanto, as Novas Comunidades (associações, fundações,
etc) são uma nova primazia à igreja, trazidas pelo Espírito Santo, como forma
de inovação, com carismas particulares dentro universalidade do mistério
eclesial.Canonicamente falando, às realidades
associativas de fiéis leigos, hoje costuma-se utilizar os termos “associações”,
“movimentos eclesiais” e “novas comunidades”.O Concílio Vaticano II
assegurou o direito de associação dos fiéis àqueles que, em função do batismo e participando na missão da Igreja, o
façam com fins espirituais e apostólicos.Este direito de associação
legitima os fiéis para constituir e dirigir associações dentro da Igreja e para
aderir-se às já existentes.As “novas comunidades”, criadas sob a forma de Associação
de Fiéis, Institutos de Vida Consagrada, etc, na grande maioria são oriundas da
Renovação Carismática Católica (por exemplo, Comunidade Canção Nova, Comunidade
Católica Shalom, Comunidade Consolação Misericordiosa, etc.), podem
distinguir-se bem pelo forte sentido de comunidade, reunindo
sacerdotes, homens e mulheres leigos – celibatários ou casados – que
compartilham um estilo de vida comunitário.Um ponto basilar é o “carisma
fundacional”, pois, as “novas comunidades” possuem semelhanças entre si, como a
vontade de servir Jesus Cristo. Ao mesmo tempo, vivem uma diversidade de
carismas, ou seja, cada comunidade evangeliza de uma forma, sempre determinada
por inspiração do Espírito Santo.Nesse sentido, vale citar as sábias palavras
de Dom Roberto Lopes, no Congresso Nacional das Novas Comunidades em 2012, onde
disse que:“A beleza da diversidade dos carismas é que
se completam segundo as necessidades de cada Igreja particular, a maneira como
isso vai se expressar, seja no meio da comunicação, como na Canção Nova, ou a
questão também da maneira como a Comunidade Shalom faz, dentro dos seus
serviços diversificados, dentro da comunidade”. O carisma fundacional nasce
a partir do coração de Deus, que, por meio do seu Espírito Santo, inspira e
inquieta uma pessoa, fazendo-a buscar vivenciar aquela inspiração. Essa pessoa é chamada, “Fundador”, onde, numa mistura de
oração, desejo pessoal e obediência, busca materializar o sonho de Deus para
aquele tempo, momento ou para sempre.São João Paulo II, em seu discurso
para os participantes do Congresso Mundial dos Movimentos Eclesiais em 1998,
esclarece que a passagem do carisma originário acontece pela atração misteriosa
exercida pelo fundador sobre quantos se deixam envolver na sua experiência
espiritual sob a ação do Espírito. Esses membros caminham para a realização de
uma missão dentro da evangelização, graças ao vigor missionário proveniente do
carisma original e da vivência da comunhão, convergindo com o fim apostólico da
Igreja toda.
E mais ainda disse o São João Paulo II:
“Os
verdadeiros carismas não podem senão tender para o encontro com Cristo nos
Sacramentos. As verdades eclesiais a que aderis ajudaram-vos
a redescobrir a vocação baptismal, a valorizar os dons do Espírito recebidos na
Confirmação, a confiar-vos à misericórdia de Deus no Sacramento da
Reconciliação e a reconhecer na Eucaristia a fonte e o ápice da inteira vida
cristã. E de igual modo, graças a essa forte experiência eclesial,
surgiram esplêndidas famílias cristãs abertas à vida, verdadeiras «igrejas
domésticas», desabrocharam muitas vocações ao sacerdócio ministerial e à vida
religiosa, assim como novas formas de vida laical
inspiradas nos conselhos evangélicos. Nos movimentos e nas novas
comunidades aprendestes que a fé não é questão abstracta, nem vago sentimento
religioso, mas vida nova em Cristo, suscitada pelo Espírito Santo.”(http://www.vatican.va/roman_curia/pontifical_councils/laity/documents/rc_pc_laity_doc_27051998_movements-speech-hf_po.html)
- Nesse diapasão, tanto para o fundador como para os seguidores,
acontece um kairós, um encontro pessoal com Cristo, que pode ser uma primeira
ou segunda conversão. E a convivência comunitária é experiência
concreta da comunhão que conduz à maturidade na fé e deve ser acompanhada pelo
fundador. Não obstante, essa
nova realidade da igreja católica, com as “novas comunidades”, onde tem trazido
“de volta” os fiéis e arrebanhado outros tantos, a santa igreja tem buscado ter
o máximo de cuidado com esse “novo”, e, sobre o tema, foi tornado público agora
no dia 11 de Maio de 2016, um Rescrito de S. S. o Papa Francisco, concedido ao
Card. Pietro Parolin, Secretário de Estado, com o qual o Romano Pontífice
determina que a consulta prévia à Santa Sé para erigir um novo Instituto de
Vida Consagrada, por parte do Bispo de uma Diocese e previsto no cân. 579 do
Código de Direito Canónico, se torna obrigatória ad validitatem. Esta
determinação entrou em vigor no dia 1 de Junho de 2016. Destarte,
em que pese o desejo concreto do fundador, dos membros consagrados, do povo e o
apoio do Clero local, qualquer Bispo Diocesano que
deseje erigir um novo Instituto de Vida Consagrada na sua Diocese deverá,
obrigatoriamente, consultar previamente a Congregação para os Institutos de
Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica antes de poder emanar o
Decreto de criação desse Instituto diocesano. A omissão dessa consulta
prévia torna nulo esse Decreto de criação.
CONCLUSÃO
A
Igreja tem um papel de extrema importância na sociedade, entretanto, necessita
de um Direito próprio, um conjunto de normas, para harmonizar sua missão.Dentre outros documentos normativos, a igreja católica mantém
o Código de Direito Canônico como arcabouço legal principal para regular a sua
vida comunitária eclesial.As “novas comunidades” surgiram no seio da
igreja como um sopro advindo do coração de Deus, por meio do Espírito Santo,
para oxigenar a instituição e disseminar carismas que espelham e transmitem o
Evangelho nas mais diversas formas.
*Julio César Lopes Serpa - Advogado e Perito Contador; Doutor em
Ciências Jurídicas; Especialista em Direito Tributário, Auditoria e Perícia
Contábil; Sócio do Di Lorenzo Serpa Advogados Associados; Coordenador Jurídico
da Controladoria Geral do Estado da Paraíba.
SÍNTESE DAS ORIENTAÇÕES DA COMISSÃO DAS NOVAS
COMUNIDADES - Diocese de São José dos Campos
CARISMA DE FUNDAÇÃO
Deus estabeleceu a
Igreja não só como instituição, mas também como carisma. Sendo assim não existe
oposição entre os dons hierárquicos e os dons carismáticos, pois ambos têm a
sua fonte na Trindade. “Os dons de Deus implicam sempre
todo o horizonte trinitário, como sempre foi afirmado pela teologia desde os
seus inícios, tanto no ocidente como no oriente (IE 4). Tendo como
fundamento a teologia do Novo Testamento, se tem claro que o Espírito Santo,
não só mantém vivo aquilo que Cristo instituiu, garantindo a sucessão
apostólica e assistindo a hierarquia no exercício da sua função, mas também
concede à Igreja carismas que fazem nascer nela iniciativas novas de vivência
de santidade e apostolado. Por isso “A antítese entre
uma Igreja institucional de tipo judeo-cristão e uma Igreja carismática de tipo
paulino, afirmada por algumas interpretações eclesiológicas redutoras,
na verdade não encontra um fundamento adequado nos textos do Novo Testamento”
(IE 7). Mas os dons carismáticos que são dados a
indivíduos “podem ser partilhados por outros e de tal modo perseveram no tempo
como uma herança preciosa e viva, que gera uma afinidade espiritual entre as
pessoas” (ChL 24). Ao longo da história não faltaram intervenções do
Espírito que fizeram surgir na Igreja carismas que foram partilhados por
muitos, dando origem a famílias religiosas e agregações eclesiais que tem
atravessado séculos. Uma Nova Comunidade autêntica
também supõe um carisma partilhado ou de fundação que é um dom do Espírito
Santo concedido a uma ou mais pessoas que se caracteriza como um estilo próprio
de se viver a vida cristã e que atrai outras que se sentem chamadas a
participar daquela experiência espiritual. “O carisma autêntico trará sempre
uma dose genuína de novidade na vida espiritual da Igreja, com operosidade
peculiar e reveladora de fidelidade ao Senhor e de docilidade ao Espírito
Santo” (cf. IPMNC 60). Ao bispo diocesano cabe também a tarefa da
vigilância em relação aos carismas fundacionais na diocese ou seja, a ele é reservado
o direito, por motivo grave, de interferir ou suprimir novas comunidades,
inclusive as que já tenham recebido reconhecimento no âmbito do direito
diocesano (cf. CIC can 305 & 2).
CRITÉRIOS PARA O DISCERNIMENTO DOS CARISMAS
FUNDACIONAIS
No processo de
discernimento, acompanhamento e orientação às Novas Comunidades, a diocese de
São José dos Campos assume os critérios deeclesialidade apresentados pela
Iuvenescit Eccesiae 18:
a) Primado da
vocação de cada cristão à santidade. Cada realidade que nasce da participação de um
carisma autêntico deve ser sempre instrumento de santidade na Igreja e,
consequentemente, de incremento da caridade e de autêntica tensão rumo à
perfeição do amor.
b) Empenho na
difusão missionária do Evangelho. As realidades carismáticas autênticas são
“presentes do Espírito integrados no corpo eclesial, atraídos para o centro que
é Cristo, donde são canalizados num impulso evangelizador” (EG 130). Para tal, devem realizar «a conformidade e a participação na
finalidade apostólica da Igreja», manifestando um claro «entusiasmo missionário
que as torne, sempre e cada vez mais, sujeitos de uma nova evangelização (ChL 30).
c) Confissão
da fé católica. Cada realidade carismática deve ser um lugar de educação
para a fé na sua integralidade, “acolhendo e proclamando a verdade sobre
Cristo, sobre a Igreja e sobre o homem, em obediência ao magistério da Igreja
que autenticamente a interpreta” (ChL 30).
d) Testemunho
de uma comunhão ativa com toda a Igreja. Isto comporta uma “relação filial com o Papa,
centro perpétuo e visível da unidade da Igreja universal, e com o Bispo,
“princípio visível e fundamento da unidade da Igreja particular” (ChL 30; EN
58). Esta relação implica a “disponibilidade leal em aceitar os seus ensinamentos
doutrinais e orientações pastorais” (ChL 30), assim como “a disponibilidade em
participar nos programas e nas atividades da Igreja, tanto a nível local como
nacional ou internacional; o empenhamento catequético e a capacidade pedagógica
de formar os cristãos” (Ibidem).
e)
Reconhecimento e estima da complementaridade recíproca de outras realidades
carismáticas na Igreja. Daqui deriva também a “disponibilidade para uma colaboração
recíproca” (Ibidem). De fato, “um sinal claro da autenticidade de um carisma é
a sua eclesialidade, a sua capacidade de se integrar harmoniosamente na vida do
Povo santo de Deus para o bem de todos. Uma verdadeira novidade, suscitada pelo
Espírito, não precisa de fazer sombra sobre outras espiritualidades e dons,
para se afirmar a si mesma” (EG 130).
f) Aceitação
dos momentos de prova no discernimento dos carismas. Uma vez que o dom
carismático pode possuir “uma dose de novidade de vida espiritual para toda a
Igreja, que, num primeiro momento, pode aparentar ser incómoda”, um critério de
autenticidade manifesta-se na “humildade em suportar os contratempos: a relação
justa entre carisma genuíno, perspectiva de novidade e sofrimento interior
comporta uma constante histórica de ligação entre carisma e cruz” (São João
Paulo II – Discurso aos Movimentos e Novas Comunidades – Vigília de Pentecostes
– 1998).
g) Presença de
frutos espirituais, tais como caridade, alegria, humanidade e paz (cf. Gal 5,
22). “viver
ainda mais intensamente a vida da Igreja” (EN 58)], um zelo mais intenso pela
“escuta e meditação da Palavra de Deus” (EG 174-175); “um gosto renovado pela
oração, a contemplação, a vida litúrgica e sacramental;3 a animação pelo
florescimento de vocações ao matrimónio cristão, ao sacerdócio ministerial, à
vida consagrada” (ChL 30).
h) Dimensão
social da evangelização. É necessário reconhecer que, graças ao impulso da caridade,
“o querigma possui um conteúdo inevitavelmente social: no próprio coração do
Evangelho, aparece a vida comunitária e o compromisso com os outros” (EG 177).
Neste critério de discernimento, referido não exclusivamente às realidades
laicais na Igreja, sublinha-se a necessidade de ser “correntes vivas de
participação e de solidariedade para construir condições mais justas e
fraternas no seio da sociedade” (ChL 30).
COMUNHÃO ECLESIAL
A gênese e o perfil das
Novas Comunidades são muito variadas, mas entre elas
existe uma identidade comum, elas são fruto da eclesiologia de comunhão e da
ênfase na dimensão carismática da Igreja, próprias do Concílio Vaticano II.
O Concílio Vaticano II recuperou a eclesiologia de comunhão do Novo Testamento
e dos Santos Padres. Neste sentido as Novas Comunidades sendo expressão de uma
eclesiologia de comunhão, são chamadas a viverem a unidade em nível ad intra,
isto é, entre os seus próprios membros e em nível ad extra, com as outras
instâncias eclesiais. Esta comunhão deve ser vivida
também no contexto da Igreja Particular. Aqui pode surgir tentações no
caminho das Novas Comunidades. O Documento de
Aparecida afirma que nem sempre elas “se integram adequadamente na pastoral paroquial e diocesana” (DAp 100e). Também o
Sínodo Diocesano alertava “para um maior cuidado
por parte da Diocese diante do surgimento de Novas
Comunidades, acompanhamento de seu desenvolvimento, para não se correr o risco de uma interferência negativa na
unidade eclesial” (DCSD 204).Se uma Nova Comunidade se
fecha à necessidade da comunhão com a Igreja local, ela fere a própria natureza
da Igreja, pois a Igreja foi fundada sobre o fundamento dos Apóstolos, cujos
sucessores são os bispos. É em torno deles, em comunhão
com o sucessor de Pedro, que a unidade da Igreja é garantida. Por isso, nenhum segmento eclesial pode prescindir do seu
serviço de unidade. Esta comunhão com a Igreja
Particular, no caso da diocese de São José dos Campos,
deve se expressar também mediante a unidade com a Comissão das Novas Comunidades que, segundo a determinação do
Bispo diocesano, foi constituída como um serviço
às Novas Comunidades.
OBEDIÊNCIA
A obediência cristã
encontra o seu fundamento no Batismo. Quando o catecúmeno de forma direta ou no
caso de crianças, através dos seus pais e padrinhos, expressa os compromissos
do batismo, ele deve passar de uma 4 existência autônoma em relação à vontade de
Deus para uma vida de filial submissão ao Pai, em Cristo (cf. Rom 6,16; I Ped
1,2). A obediência é uma virtude que deve ser vivida por todo cristão. Como uma
virtude intrínseca à vida cristã, ela coloca o cristão em atitude de seguimento
de Cristo, que se fez obediente ao Pai até a morte (cf. Fl 2, 8).No caso de um membro de uma Nova Comunidade que pela
descoberta da sua vocação sentiu ainda mais
forte o chamado a ser discípulo missionário de Jesus Cristo, a sua obediência se dá também através do projeto
evangélico-carismático, suscitado pelo Espírito
Santo, através do seu fundador. Neste sentido a sua vivência da
obediência evangélica deve ter sempre como referência a regra de vida e/ou o
estatuto da sua respectiva Comunidade (cf. ISAO 9). A obediência deve ser
vivida também em relação àqueles que exercem a autoridade na Comunidade. Isto
exige que os membros das Novas Comunidades sejam formados para ver na
autoridade a mediação da vontade de Deus.
AUTORIDADE
Se dá parte do membro da Comunidade deve haver uma disponibilidade para a obediência evangélica, da parte da autoridade se espera uma capacidade de escuta e abertura ao diálogo que caracterize o exercício da autoridade como expressão de paternidade ou maternidade espiritual. A autoridade no Evangelho, só se justifica como serviço, por isso todos os que tem alguma função de governo nas Novas Comunidades devem realizar esta função com humildade e alteridade. Para superar uma autoridade meramente formal, é necessário que o seu exercício seja acompanhado do testemunho de vida. Por isso todos os que exercem função de governo nas Novas Comunidades devem buscar uma vida de santidade, dando exemplo de comunhão e obediência eclesial.As Novas Comunidades devem dar exemplo de eclesiologia de comunhão, estabelecendo normas precisas de participação nas decisões (cf. NMI 44 -45).Nenhuma Nova Comunidade deve prescindir de ter um conselho que ajude o fundador nas tomadas de decisão. Mesmo sendo consultivo, o conselho em geral ajuda o fundador no discernimento da vontade de Deus, evitando que ele cometa erros, caindo na tentação do iluminismo ou do autoritarismo. O fundador ou aquele que exerce autoridade nas Novas Comunidades não deve se colocar acima da regra de vida, como se não precisasse segui-la. Se isto acontecer, ele estará caindo na tentação de se elitizar ou se “sacralizar”, dando a falsa impressão de que não necessita de normas de prudência e disciplina, por se considerar num nível espiritual acima dos membros da sua comunidade.5
VIDA ESPIRITUAL
As Novas Comunidades
devem orientar os seus membros a uma profunda vida espiritual, alimentada pela
espiritualidade da Comunidade e fundamentada nos meios de perseverança que a
Igreja recebeu do próprio Cristo e dispõe aos fiéis (cf. At 2,42). Como a espiritualidade engloba todas as dimensões da vida cristã,
ela exige uma formação integral (e permanente) que possibilite que todos os
aspectos da vida do membro da Comunidade estejam marcados por sua opção em
seguir Jesus. Isto exige a formação da consciência moral como uma
dimensão intrínseca da pessoa humana. Através
desta formação os membros das Novas Comunidades
serão ensinados a conjugar a sensibilidade de consciência com a norma objetiva, superando a tentação do relativismo
que está muito presente na cultura atual.Na medida em que as Novas Comunidades têm a percepção do
carisma, devem também ir estruturando os traços próprios da sua
espiritualidade. Na definição e transmissão
da espiritualidade que emerge do carisma, as Novas Comunidades
evitem abordagens reducionistas acerca da vida espiritual, tais como a fuga do mundo, o descompromisso com o social,
a negação da corporeidade etc.
FORMAÇÃO
A perpetuação do Carisma
de fundação depende da formação comunitária e pessoal. A formação leva as
pessoas ao encontro do carisma, fazendo uma experiência concreta com ele. Ela
garante a fidelidade ao carisma, como obra e graça de Deus. A formação é o ventre
que suscita o carisma naqueles a quem Deus escolheu para aquela fundação.
Quando Deus cria uma obra, Ele a cria por completo: carisma, missão, pessoas. A
formação tem a missão de ajudar a reconhecer as pessoas que foram criadas para
viver este carisma, e isso vai além da história de vida de cada um.A formação se dá por meio de um processo que tem como
objetivo o acompanhamento ensino e prática que
leva o membro da Comunidade a configurar-se com
a pessoa de Jesus, homem perfeito. As Novas Comunidades devem ter um tempo
mais intensivo e básico de formação que se denomina formação inicial. A formação inicial precede e prepara o vocacionado para
expressar o seu compromisso com Deus, como membro da Comunidade. Depois desta
fase inicial a formação se denomina permanente e deve se estender ao longo da
vida, durante todo o período de pertença à Comunidade.O formador por
excelência é o próprio Espírito Santo, que plasma no ser humano a pessoa de Cristo. Mas Ele quer se servir também de
membros maduros da Comunidade que se coloquem à
disposição desta tarefa tão transcendente para a
vida da Comunidade. 6 O
formador precisa ter uma forte identificação com o carisma, para transmiti-lo com fidelidade, ajudando o formando a
dar o seu sim. Para isso o formador precisa conviver
com o fundador e se ele já tem algo escrito, se debruçar sobre os textos de fundação, a fim de conhecê-los profundamente,
para aprofundar a sua identificação com o
carisma.A formação deve levar em conta também processos
pessoais (cf. DAp 281), daí a importância também do acompanhamento pessoal (cf.
DAp 282). A formação pessoal é dom do
Espírito Santo que deve ser acolhido através de um sério
e permanente empenho da Comunidade. O formador
pessoal acompanha o formando num nível mais profundo e direto.
O formador pessoal lida com o mistério da pessoa
humana, por isso deve respeitar a situação concreta do formando. Neste sentido
ele é chamado a exercer uma maternidade (paternidade) que gera para Cristo,
e participa da paternidade de Deus.
MISSÃO
“A tarefa de evangelizar todos os homens constitui a missão essencial da Igreja (...) sua vocação própria (...) e sua mais profunda identidade. Ela existe para evangelizar” (EN 14). Como agregação eclesial, as Novas Comunidades possuem também este imperativo intrínseco. “No nosso mundo, com frequência dominado por uma cultura secularizada que fomenta e difunde modelos de vida sem Deus, a fé de muitos é posta à dura prova e, não raro, é sufocada e extinta. Percebe-se então com urgência a necessidade de um anúncio forte e de uma sólida e aprofundada formação cristã” (Vigília de oração durante o encontro de Movimentos eclesiais e novas comunidades, 20.05.98. Citado em AFMCNC 2), por isso ninguém deve buscar ser membro de uma Nova Comunidade, apenas como um espaço agradável de convivência ou como um mero meio de conhecimento da fé, prescindindo do direito-dever de evangelizar. Uma Nova Comunidade também não é apenas uma escola, mas um espaço de comunhão e formação de discípulos missionários, chamados a viver e a transmitir a fé. Neste sentido, as Novas Comunidades têm dado a sua contribuição na nova evangelização, proporcionando a muitos que se encontravam distantes do convívio eclesial, a graça do encontro com Cristo. Isto se deve ao fato delas se colocarem “em fronteiras geográficas e existenciais nas quais a Igreja e a vida consagrada instituída dificilmente chegam” (AFMCNC 5).Mas sendo um fenômeno novo as Novas Comunidades necessitam de orientação no cumprimento da missão evangelizadora. Em primeiro lugar, elas devem cuidar em não adulterar o conteúdo da fé, mas anuncia-lo na sua integralidade, sem confusão nem reducionismos. “Insistimos também na grave responsabilidade (...) de manter inalterável o conteúdo da fé católica que o Senhor confiou aos Apóstolos: traduzido em todas as linguagens, este conteúdo nunca 7 há de sofrer amputações ou ser mutilado. (...) Ele deve permanecer o conteúdo da fé católica tal como o Magistério eclesial o recebeu e o transmite” - Os formadores internos das Novas Comunidades, bem como aqueles que desempenham o serviço de pregação ou ensino e atuam até fora de nossa diocese, munidos de carta de apresentação, devem considerar que a evangelização comporta uma grande responsabilidade. O Papa Paulo VI enfatizou que todo aquele que de alguma forma exerce alguma função evangelizadora, exerce um ato eclesial, pois desempenha tal função em nome da Igreja (cf. EN 60).
ESTADOS DE VIDA
As Novas Comunidades se caracterizam, em geral, por serem constituídas de membros com diferentes estados de vida. Solteiros, viúvos e casados, cada um, segundo o seu respectivo estado de vida, buscam responder ao chamado de Deus, servindo à Comunidade. Isto constitui uma grande riqueza para as Novas Comunidades, mas inspiram também preocupações e cuidados, exigindo orientações específicas para cada estado de vida. É ideal que os solteiros vivam em casas separadas, para homens e para mulheres. No caso da Comunidade de Vida ter poucos membros e estar no início da sua estruturação, cuidem, pelo menos, que haja uma certa separação que garanta a privacidade dos membros do sexo masculino e do sexo feminino. No relacionamento entre homens e mulheres nas Novas Comunidades, cultivem a virtude da prudência, para que as relações sejam vividas em sadia convivência. O surgimento de vocações ao estado de vida celibatário, deverá ter um acompanhamento especial pelos formadores e fundadores das novas comunidades. Se algum membro se despertar para a vocação sacerdotal ou religiosa dentro das novas comunidades, é necessário um acompanhamento mais apurado por parte dos fundadores e formadores, utilizando um caminho essencial para o devido discernimento que são os retiros vocacionais que a Diocese oferece. No caso de membros das Novas Comunidades ingressarem no Seminário da diocese de São José dos Campos, eles terão a liberdade de continuar mantendo um vínculo de comunhão e cultivo da espiritualidade da Comunidade que gerou a sua vocação, contanto que isto não prejudique a sua vida no seminário e não se constitua como obstáculo para a sua formação como um futuro padre diocesano.Às famílias na comunidade de vida necessitam ter um espaço de moradia específico para elas, pois se trata de realidades distintas. Por isso a Nova Comunidade que acolhe casais, deve se empenhar em não negar a elas este espaço de privacidade que lhe permita cultivar a vida em família, sem a interferência da comunidade. Os esposos, são chamados à plenitude na vivência em comunidade conforme este estado de vida, descobrindo na vida comunitária e no carisma uma autêntica graça para o pleno desenvolvimento familiar. Para isso é importante que 8 eles saibam acolher a graça do seu carisma, que se derrama não somente sobre eles, mas também sobre toda a sua família.O carisma contribui para que os esposos encontrem a essência da sua oblatividade vivendo a doação recíproca como atitude constante de quem escolheu optar pelo bem do outro, mesmo diante das maiores adversidades.Os pais devem assumir a responsabilidade do cuidado de seus filhos, não transferindo tal responsabilidade para a comunidade, devendo eles mesmos buscar junto à comunidade e a outros meios de providência o atendimento as necessidades de seus filhos. Aos casais que são admitidos na forma de vida, não deve ser negado a eles o direito de manter a propriedade dos seus bens e administra-los. Da parte dos casais que tem boas condições financeiras e optam pela forma de vida, é importante compreender que abraçando este nível de vida comunitária, devem alimentar o espírito de partilha a exemplo dos primeiros cristãos para que não falte a uns o que sobra a outros (cf. At 2, 44-47; 4, 32-35).No caso da Nova Comunidade admitir membros de vida que se dedicam integralmente aos trabalhos de evangelização e por isso não dispõem de um salário, é necessário que ela garanta para eles as condições básicas da subsistência. Será oportuno também, mesmo que considerando que os membros vivam em espírito de pobreza e sob a dependência da Providência, que a comunidade ofereça uma ajuda de custo para os membros, para prove-los das necessidades mais imediatas e urgentes.Em relação aos filhos dos membros tanto de vida como de aliança, é importante que a Nova Comunidade crie espaços de convivência e formação cristã para os filhos, a fim de contribuir também a seu modo, com a evangelização dos filhos. Quanto aos pais, é necessário que tanto eles como o governo da Nova Comunidade, cuidem que a sua dedicação às atividades da comunidade não os prive da necessária presença junto à família, pois esta é a primeira vocação e missão dos cônjuges.
VESTES E SÍMBOLOS
Os membros das Novas
Comunidades busquem vestir-se sempre de maneira digna expressando a decência
que é uma exigência do testemunho cristão. A maneira de se vestir, deve ser
iluminada pela virtude do pudor, expressando sempre a caridade. Neste sentido
os membros das Novas Comunidades devem evitar, na sua forma de se vestir, tudo
o que contradiz a pureza, a beleza do seu corpo, evitando expressar a rebeldia
e, especialmente, a sensualidade. No zelo com as vestimentas, os membros da
Novas Comunidades cuidem para vestir-se adequadamente conforme as situações e
ambientes, lembrando sempre que através do modo de se vestir comunicamos os
nossos valores.9Mas na reta intenção de vivência da
modéstia, muitos leigos e leigas das Novas Comunidades
tem confundido santidade com separação, ou seja, têm entendido erradamente que a vivência da modéstia exigiria se vestir de
forma totalmente diferente. É necessário
compreender a vocação secular das Novas Comunidades. Elas, sejam de vida ou de
aliança, são chamadas a impregnar o mundo com o Evangelho, para isso elas devem
assumir na evangelização o imperativo da inculturação, valorizando tudo o que é
lícito na cultura atual e purificando aquilo que não se conjuga com o
Evangelho.Também com referência aos símbolos, como
sinais que a comunidade adota ou os membros
individualmente escolhem usar, recomenda-se a prudência, pois o equilíbrio na vida cristã supõe utilizar os símbolos e sinais
religiosos de forma sóbria. As Novas
Comunidades ou os membros que cultivam a Consagração à Nossa Senhora, segundo o
método de São Luís Maria Grignion de Montfort, evitem o
uso de correntes, por não ser um símbolo cristão. Embora a sugestão de se usar uma pequena corrente, apareça no livro do Tratado da
Verdadeira Devoção, tal prática foi
desencomendada já a tempo pela Igreja, através do Santo Ofício, hoje, Congregação da Doutrina da Fé.
PROMOÇÃO VOCACIONAL
O formador geral, em
comunhão com o fundador ou responsável local e seu conselho, é responsável por
desenvolver os conteúdos, os meios, a aplicação e a animação da formação
vocacional na comunidade. Cabe a formação vocacional manter acesa, nos membros
da comunidade, a chama do carisma e da vocação à vida comunitária para que
possam ser testemunho e sinal profético do carisma na qual Deus os chamou.A
promoção vocacional deve ser realizada sobretudo através do testemunho de vida
e testemunho apostólico, bem como mediante a oração: “A messe é grande, mas os
operários são poucos, rogai ao Senhor da messe que envie operários para a
messe” (Lc 10,2).Na promoção vocacional da Comunidade, é necessário ter o
cuidado para não desrespeitar o processo de discernimento do vocacionado,
proporcionando que o seu discernimento seja maduro e consciente.
ASPECTOS JURÍDICOS E PASTORAIS
“Na Igreja existem associações, distintas dos institutos de vida
consagrada e das sociedades de vida apostólica, nas quais os fiéis, clérigos ou
leigos, ou conjuntamente clérigos e leigos, se empenham, mediante esforço
comum, para fomentar uma vida mais perfeita, ou para promover o culto
público ou a doutrina 10 cristã, ou para outras obras de apostolado, isto é,
iniciativas de evangelização, exercício de obras de piedade ou caridade, e
animação da ordem temporal com espírito cristão” (CIC - can. 298).
É na legislação canônica destas associações que
as Novas Comunidades encontram o seu lugar!
As Associações de fiéis são agrupações eclesiais permanentes, unidas por objetivos
comuns e com uma organização reconhecida pelo direito. Elas se distinguem
essencialmente em dois tipos: públicas e privadas.
-Associação
pública de fieis, no âmbito do território da diocese, são aquelas erigidas
exclusivamente pelo bispo diocesano e que se propõe a transmitir a doutrina cristã
em nome da Igreja, promover o culto público ou as que buscam outras finalidades
reservadas por natureza a autoridade eclesiástica (cf. CIC –can. 301 & 1 e
3).
-Associação
privada de fieis, são fundadas por acordo privado entre os fiéis e por livre
iniciativa dos mesmos. A natureza da Associação privada está em profunda relação
com o princípio fundamental do direito de associação dos fiéis que foi
proclamado solenemente para toda a Igreja, no Concílio Vaticano II (cf. AA19) e
reafirmado no Código de Direito Canônico (cf. Can. 215).
Para uma Associação ser
reconhecida, é necessário que ela tenha os seus estatutos aprovados pelo bispo
diocesano, podendo consultar o conselho de presbíteros. “Nenhuma Associação privada de fiéis é reconhecida na Igreja, a não ser
que seus estatutos sejam revisados pela autoridade competente” (cf. CIC – can.
299 & 3). Quando uma Nova Comunidade recebe o reconhecimento no
âmbito diocesano e se constitui como Associação
de fiéis de direito diocesano, ela já pode existir em
qualquer diocese do mundo, contanto que o bispo diocesano daquela respectiva
diocese, a receba. Os Estatutos são importantes para uma Nova
Comunidade, não só como condição para o seu
reconhecimento, mas também porque, mesmo com linguagem
jurídica, ele codifica o carisma, ajudando os membros da Nova Comunidade a compreender a sua identidade.Considerando então que o Estatuto é expressão do carisma, é
necessário que a Nova Comunidade, para elaborar o seu Estatuto, tenha já uma
percepção relativamente clara acerca do carisma. Quem tem a incumbência
de escrever o Estatuto é o fundador. Ele não pode cair
na tentação de delegar esta tarefa ou de copiar algum Estatuto pronto,pois isto
comprometeria a objetividade do Estatuto, na sua relação com o carisma. Isto
não significa que ele não possa ter a ajuda de alguns membros ou não possa contar com alguma assessoria canônica, mas ele, em
profunda dependência da graça, é o autor do
estatuto, por vocação e por direito.
Geralmente as Associações tem dois Estatutos,
um para responder as exigências canônicas e outro para responder as exigências
civis.
No entanto é perfeitamente
possível e conveniente responder a ambas as exigências, com um único Estatuto. “11Compete ao bispo discernir sobre os novos carismas que
surjam na diocese, de forma a acolher os autênticos com gratidão e júbilo, e
evitar que surjam instituições supérfluas e carecidas de vigor. Deverá,
pois, cuidar e avaliar os frutos do seu trabalho (cf. Mt 7,16), o que lhe
permitirá descobrir, a ação do Espírito Santo nas pessoas” (PG 107).O
reconhecimento diocesano requer um certo tempo de existência da Comunidade,
para se verificar a sua consistência eclesial. Verificando que as comunidades
ainda não preenchem as condições para receber personalidade jurídica com
estatuto aprovado, mas foram consideradas pelo conselho das novas comunidades
como comunidade estruturada (cf. n. 11. 46-53), o bispo
“poderá dar-lhes um possível primeiro reconhecimento chamado de rescrito de reconhecimento
e incentivo” (AFMENC 46.II; CIC & can 59). O rescrito é um
discernimento básico com o qual se expressa à Nova Comunidade
um voto de confiança, incentivando-a a continuar no seu processo de fundação, até ela chegar a uma estruturação que
lhe permita apresentar ao bispo o pedido de
reconhecimento como associação de fiéis, obtendo a aprovação dos seus estatutos.
ABREVIATURAS
AFMENC – Associação de
fiéis, movimentos eclesiais e novas comunidades
AA – Apostolicam
Actuositatem
CIC – Codex Iuris
Canonici
ChL – Christifidelis
Laici
DAp – Documento de
Aparecida
DCSD – Documento
Conclusivo do Sínodo Diocesano
EG - Evangelii Gaudium
EN – Evangelii Nuntiandi
IE – Iuvenescit Ecclesia
IPMNC – Igreja
Particular, Movimentos Eclesiais e Novas Comunidades
PG – Pastores Gregis
SAO – O Serviço da
Autoridade e a Obediência
Fonte:https://diocese-sjc.org.br/wp-content/uploads/2018/05/S%C3%8DNTESE-DAS-ORIENTA%C3%87%C3%95ES-DA-COMISS%C3%83O-DAS-NOVAS-COMUNIDADES.pdf
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
-CIFUENTES, Rafael
Llano, Curso de Direito Canônico. São Paulo, Saraiva, 1971;
-SATARLINO, Roberto
Natali, Direito eclesial instrumento da justiça do Reino, Ed. Paulinas, 2004;
-Código de Direito
Canônico da Igreja Católica de 1983;
-Lumen Gentium -
http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_const_19641121_lumen-gentium_po.html;
-Exortação
Apostólica Christifideles Laici,
http://w2.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/apost_exhortations/documents/hf_jp-ii_exh_30121988_christifideles-laici.html;
-https://canonicum.org/2016/05/20/rescrito-sobre-o-can-579-do-codigo-de-direito-canonico/;
https://www.vatican.va/content/francesco/pt/speeches/2021/september/documents/20210916-associazioni-fedeli.html
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