Comentário do autor do blog
Beraká: Em sua visita a A.L, o papa
Francisco citou o termo Pátria Grande, mas não detalhou por qual dos modelos é
mais viável,(ALCA ou MERCOSUL), pois como ele já vive em um continente onde se
experimenta a realidade da UNIÃO EUROPÉIA, ele simplesmente pode ter querido
referir-se a este exemplo de união, haja vista não existir nenhum pronunciamento
ou fala sua, contra esta euro união.
A PÁTRIA GRANDE
por *Paulo Roberto de Almeida
A
Patria Grande (pronunciação espanhola: [patɾja ɣɾande],é uma ideia política de
integração da América hispânica, que rejeita a balcanização que se seguiu às
Independência da América Espanhola, e prevê uma região unida em seu lugar. O
termo também pode ser usado para falar especificamente sobre projetos de
unidade da América “hispânica” queridas
por Simón Bolívar e José de San Martín.
Origem do termo:
O
nome "Pátria Grande" foi cunhado pelo argentino Manuel Ugarte, em seu
livro de 1922 "la Patria Grande". Ele deu palestras em muitos países
hispano-americanos defendendo sua unificação.
História:
A
invasão e colonização espanhola da América começou em 1492 e, finalmente, foi
parte de um processo histórico mais amplo do colonialismo no mundo, através do
qual várias potências européias incorporaram uma quantidade considerável de
território e os povos das Américas, Ásia e África, entre 15 e 20 séculos. A
América hispânica se tornou a parte principal do vasto império espanhol. Aquisição
da Espanha por Napoleão em 1808 e o consequente caos, iniciou o desmembramento
do Império espanhol em paralelo aos territórios americanos que começaram a sua
luta pela emancipação. Em 1830, o único remanescente das colônias
hispano-americanas foram as ilhas de Cuba e Porto Rico. Estes foram,
posteriormente, perdido no 1.898 na Guerra Hispano-Americana.
O uso atual do termo
PÁTRIA GRANDE:
O
ex-presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva considera que o Mercosul
ajuda a integração social, política e econômica da América Latina, e que a
Pátria Grande não pode ser conseguida por fechamento de portas, mas sim pela simples
abertura.As
ambições do atual governo do Brasil pode ser visto como diferente da idéia
original de Pátria Grande, no entanto, como muitas vezes é argumentado que a
política externa histórica do país é moldada pela exclusão do México e da
América Central e do Caribe vistos como importantes aliados dos Estados Unidos
da América, com os seus caminhos na direção oposta dos interesses centrais à
seu alegado projeto de uma forma mais soberana, pós-neoliberal, não-periférica da
América do Sul ou, pelo menos, a dos seus aliados esquerdistas, contando
partidos políticos e intelectuais.O
conceito é bem conhecido e usado por militantes políticos de esquerda e líderes
em toda a América do Sul como uma parte importante de sua agenda, como a da
presidente da Argentina, Cristina Fernández
Kirchner, e o ex-presidente da Venezuela, Hugo Chávez, e é reconhecido
como o "principal projeto internacional sobre as Américas".
ALCA E MERCOSUL
-ALCA
é uma Associação de Livre Comercio das Américas (englobaria de forma mais ampla
as três américas: Norte central e Sul) é liderada pelos Estados Unidos, e
parece não ter sido bem aceita pelos países da América do Sul, principalmente
pela Venezuela. É um acordo comercial idealizado pelos EUA. A ALCA seria composta por 33
países, na prática os mesmos que integram a Organização dos Estados Americanos,
exceto Cuba. A ALCA tem uma certa dificuldade de ser implantada, devido às
grandes desigualdades entre os países membros.
-MERCOSUL:
Mercado Comum do Sul, é a União Aduaneira e política comercial de apenas cinco
países da América do Sul. Em sua formação original o bloco era composto por
quatro países: Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, aderindo a Venezuela por último,
em julho de 2006.É uma Organização de livre comercio dos países do cone
sul , liderado inicialmente pelo Brasil e Argentina, hoje, com a entrada da
Venezuela a liderança do Brasil ou Argentina é, diria, um tanto quanto
instável.
São dois tipos de
integração diferentes:
O
Mercosul é uma Zona de Livre Comércio e uma União Aduaneira (ainda incompleta),
desde o Protocolo de Ouro Preto (17.12.1994).Já a Alca é uma proposta
americana para a criação de uma Zona de Livre Comércio entre todas as Américas,
do Alasca à Patagônia. (Tem um outro tratado na américa latina que é o
pacto andino, composto pelos países costados pela cordilheiras dos andes). Eu
particularmente acho que é possível sim a convivência de um modelo em outro, ou
seja, o Mercosul pode coexistir com a Alca, basta que se convencione a
respeito. Enquanto um grupo acreditava que a eleição de um democrata iria
salvar o Brasil, a Dilma tratava de acabar com a soberania nacional do nosso
país. O golpe foi dado pela UNASUL em uma reunião na nova sede do órgão
bolivariano em quito, Equador. Resoluções já foram tomadas pelos comunistas
para concretizarem o antigo sonho das esquerdas marxistas: Tornar a América do Sul
uma grande pátria comunista.A Integração da América Latina cria a URSAL,
a nova república socialista das Américas. Cria também um novo Estado Comunista,
uma Nova Pátria Grande. Enquanto o povo brasileiro está preocupado com suas
tradições cristãs, “que serão abolidas pelo Estado Comunista”, os traidores da
Pátria tomam as rédeas do poder e decidem a vida e o destino de 400 milhões de
Sul Americanos.
Após a Reunião de
Cúpula da Unasul, a presidenta Dilma elencou as principais propostas em estudo
e a aprovação de duas delas:
1) Fim das fronteiras
entre os países da América do Sul ( criação da cidadania sul americana ).
2) Fim dos limites
dos espaços aéreos.
3) A criação da
Escola Sul-Americana de Defesa (unindo nossas forças Armadas as Forças dos
demais Países que agora fazem parte da Unasul ).
4) Criação da unidade
técnica de coordenação eleitoral.
5) Criação de um
Fundo para bolsas de estudo.
6) Criação de um banco
de Compra de medicamentos.
7)- A criação da Escola
Sul-Americana de Defesa e uma unidade técnica de coordenação eleitoral foram
duas das propostas aprovadas pela Cúpula
da UNASUL que ocorreu no Equador.
RESUMO DAS MEDIDAS:
1)-
As medidas da UNASUL bolivariana legalizam o “entra e sai de Sul Americanos” no
Brasil. Nosso país certamente será invadido por bolivianos, chilenos,
colombianos, peruanos e venezuelanos que virão para cá em busca de empregos,
bolsas assistenciais, moradia, comida e etc. As favelas e comunidades já
abarrotadas de gente, serão inchadas ao extremo e a vida nestes lugares se
tornará insuportável.
2)-
Quem paga impostos e trabalha, vai ter que sustentar estrangeiros e um bando de
vagabundos, acostumados a viverem das benesses bajuladoras do Estado Comunista.
3)-
Em Fortaleza-CE, já há favelas abarrotadas de colombianos, especialmente de
milícias e de traficantes ex líderes guerrilheiros em seus países de origem,que
já dominam comunidades e pequenas cidades do interior cearense. Com a medida
bolivariana de eliminar as fronteiras, a violência nas grandes cidades do
Brasil com certeza aumentará.
4)-
Com esta GRANDE PÁTRIA aos moldes ditatoriais Comunistas,a verdade é que o
Brasil não será mais um país, e se tornará um aglomerado latino americano.
Projeção internacional do Mercosul e desafio da Alca:
-O Mercosul, com todos os seus problemas de união
aduaneira imperfeita e de zona de livre comércio inacabada, apresenta-se como
um dado da realidade econômica e política da América do Sul, ao mesmo tempo em
que representa um processo real de aproximação de posições entre países que já
partilham de uma história comum. O Mercosul é uma decisão fundamentalmente
política que se realiza apoiado em decisões de caráter econômico. O
Mercosul emerge como um exercício de convergência de interesses entre países
situados a grosso modo, num mesmo patamar de desenvolvimento econômico e
social, a despeito de diferenças de tamanho entre eles. Em suma, o Mercosul é uma modesta
construção integracionista que funciona em regime de condomínio, com relativa
permeabilidade e associativismo entre os seus, até agora, poucos membros.
Ele poderia também caminhar para a erosão e ser reduzido a um mero arranjo para
consultas políticas de fachada, sem maiores efeitos comerciais efetivos, já que
hipoteticamente absorvido ou diluído numa Alca bem mais ambiciosa do que os
exemplos tradicionais de zonas de livre comércio.
-A Alca, por sua vez, é uma hipótese de
trabalho, ao mesmo tempo em que a expressão de um processo negociador que se
apresenta como de difícil realização, por envolver nações de tradições diversas
e que seguiram itinerários contrastantes ao longo do tempo. A
Alca é uma proposta essencialmente econômica que seus proponentes originais
tentam implementar de forma política. A Alca tenciona nivelar o terreno
de jogo " level the playing field " entre economias e sociedades
ostentando enormes diferenças estruturais entre si, uma vez que confronta a
principal potência planetária, de fato a única superpotência existente, a três
dezenas de outros países que não chegam a perfazer um quinto de sua própria
"massa atômica". A Alca deveria normalmente ostentar
instâncias resolutivas dos conflitos comerciais marcadas pela sua relativa
automaticidade e independência dos governos, com efeitos econômicos mais ou
menos imediatos. O desempenho comercial do Mercosul pode tornar-se francamente
medíocre, a depender da profundidade e extensão da Alca, assim como sua saúde
econômica pode retroceder significativamente em relação aos prognósticos
realizados no início dos anos 1990. Ele poderá, obviamente, sair fortalecido e
confirmar o acertado da decisão original de se construir progressivamente um
mercado comum com base numa metodologia inovadora em relação às experiências
existentes no gênero, na verdade restritas ao precedente da União Européia.
No caso da Alca, subsistiam, na primeira metade de 2001, incertezas quanto ao
desenvolvimento do próprio processo negociador, como a ausência e a indefinição
de conteúdo em relação ao necessário mandato a ser atribuído pelo Congresso ao
Executivo dos EUA. Outras limitações de natureza política " como a
ausência de consultas regulares entre os líderes dos países membros, como ocorre
hoje a cada semestre no Mercosul " e alguns fatores condicionantes "
como a desproporção de peso comercial entre os países participantes "
atuavam para converter a implementação efetiva da Alca em um cenário de
incertezas. Se o processo negociador não resultar em acordo até o final de 2004
ou o início de 2005, o cenário hemisférico não será muito diferente do atual,
com a proliferação quase anárquica de esquemas subregionais, convivendo com as
tentativas multilateralistas de "convivência pacífica" ao abrigo da ALADI
ou da OMC. Se por acaso as negociações se revelarem exitosas, o Mercosul terá
de adaptar sua arquitetura institucional e sua agenda interna à nova realidade
da Alca. A Alca pode ser complementar aos arranjos subregionais já existentes no
Cone Sul, dependendo de seu grau de aprofundamento e dos compromissos
específicos contraídos pelos países participantes. Ela não é, portanto,
necessariamente excludente em relação ao Mercosul.
Os mais otimistas acreditam que
quaisquer que sejam os resultados do processo negociador da Alca, o Mercosul
irá necessariamente sobreviver, ainda que não se saiba exatamente como e em que
condições.
Uma avaliação
política sobre estratégias de atuação para o Brasil:
Admitindo-se
que a opção pelo estabelecimento de um espaço integrado em seu imediato entorno
geográfico, tal como evidenciado na experiência do Mercosul, constitui uma das
principais vertentes da estratégia brasileira de inserção econômica
internacional na atualidade, pode-se perguntar em que o desenvolvimento dessa
modalidade restrita de interdependência econômica contribui para o
fortalecimento de sua economia e como a irrupção da proposta da Alca pode, ao
contrário, enfraquecer a "soberania" econômica do Brasil e colocar em
perigo as fundações do Mercosul. Registre-se que as questões acima já
comportam uma opção de princípio pelo Mercosul e uma recusa apriorística da
Alca, como parece ocorrer com a maior parte dos atuais comentaristas da
economia brasileira.Com efeito, muitas das questões
que cercam o debate sobre as vantagens e desvantagens da Alca para o Brasil e o
Mercosul vem sendo contaminadas por uma espécie de parti pris ideológico, ou
seja, uma posição de princípio que, por um lado, tende a recusar, em caráter
absoluto, os fundamentos e as implicações econômicas da zona de livre-comércio
hemisférica, aceitando, por outro lado, a estratégia política de "menor
custo" do Mercosul para a economia brasileira ou a opção pela associação
deste bloco com a supostamente mais benigna União Européia. São politicamente
realistas ou economicamente racionais tais pontos de vista e correspondem eles
aos interesses bem pensados da sociedade brasileira, que parece ter chegado a
uma nova etapa de sua transição para a modernidade?
Esta não é a postura
assumida por mim, que propugno um exame ponderado de cada um dos elementos em
jogo, tendo em vista exclusivamente a formulação da melhor estratégia possível
de inserção econômica internacional do Brasil. Assim poderíamos elencar:
1)-
Discutir de forma racional e sem revanchismos,cada um dos argumentos favoráveis
ou contrários à Alca, tentando separar o que se apresenta como realidade
econômica decorrente da liberalização, ou seu possível desdobramento, daquilo
que se poderia classificar como posicionamento político em relação ao projeto
proposto pelos EUA para o continente.
2)-
Outra distinção importante a ser feita é aquela que se refere ao que se poderia
chamar de "componentes estruturais da Alca" - " seus elementos
"imanentes", em linguagem kantiana " e a simples mecânica do
processo negociador, que vem se desenvolvendo desde a segunda metade dos anos
90, segundo o que foi acordado em nível ministerial em Buenos Aires e
ratificado na cimeira de Québec, em abril de 2001.
3)-
Com efeito, até a conclusão dessas negociações, cujos contornos específicos
dependem muito do conteúdo do mandato negociador a ser atribuído pelo Congresso
ao Executivo dos Estados Unidos, torna-se difícil especular sobre os benefícios e ameaças da Alca para a economia
do Brasil e para o esquema do Mercosul.
4)-
Pode-se no entanto antecipar, com base nas evidências até aqui demonstradas,
que o legislativo e os negociadores americanos tendem a ver a construção da
Alca como um mero resultado da derrubada de barreiras latino-americanas aos
produtos e serviços dos EUA, cabendo-lhes muito pouco fazer em termos de suas
próprias barreiras, senão a eliminação geral, com as exceções de praxe, das
tarifas normalmente baixas aplicadas na importação de produtos. Essa não tem
sido a visão da diplomacia brasileira, que vem buscando colocar na mesa de
negociações outros elementos importantes com vistas a lograr um acordo final
mais equilibrado, não apenas em termos de acesso a mercados " onde são
evidentes diversos focos setoriais de protecionismo americano " mas também
no que se refere a normas e disciplinas de política comercial, terreno no qual
são igualmente claras as restrições aplicadas a produtos estrangeiros no
mercado americano.
Cenário econômico e
político do debate hemisférico - Dois pontos precisam
ficar claro no debate que se vai seguir:
1)-
A compreensão do que seja um "acordo de livre-comércio" varia muito de
perspectiva.
2)-
Segundo, se faça uma análise acadêmica dos resultados da abertura econômica e da
liberalização dos mercados ou se parta de evidências mais empíricas resultantes
de um processo negociador concreto.
Na
primeira visão, geralmente de cunho economicista, a liberalização comercial,
quaisquer que tenham sido sua amplitude e distribuição entre os parceiros, é
vista como positiva, pois que conduzindo a uma alocação ótima de recursos e uma
utilização mais eficiente da dotação em fatores. Na segunda perspectiva, pode-se
dizer que não existe, para a maior parte dos negociadores, essa figura utópica
do "livre-comércio", um conceito puramente imaginário que só se
materializa nos escritos dos teóricos acadêmicos, mas na verdade dotado de
pouco embasamento prático; para eles, se trata de lograr a melhor situação
possível de reciprocidade no processo de abertura comercial, administrando
áreas de liberalização progressiva em função das vantagens percebidas ou
aparentes.
A
discussão pode ser organizada em torno de algumas perguntas fundamentais, as
mesmas que vêm sendo repetidamente colocadas pelos representantes dos meios de
comunicação aos negociadores e estudiosos acadêmicos do processo hemisférico:
1ª) A ALCA
pode fazer mal à saúde do Brasil, ou é desejável, benéfica ao Brasil, funcional
para seus objetivos de desenvolvimento econômico e social?
A
Alca representa uma espécie particular no gênero integracionista, tratando-se
de um processo de liberalização controlada dos mercados e de abertura
administrada da economia que já vem sendo aplicado pelo Brasil desde que ele
assumiu compromissos negociais nesse sentido em princípios dos anos 60 (criação
da Alalc) e, com maior ênfase, a partir dos esquemas bilaterais de integração
com a Argentina (1986-88) e, de forma quadrilateral, com os demais parceiros do
Mercosul (1991). Os cálculos sobre custos e benefícios desse gênero de abertura
foram conduzidos de forma mais ou menos empírica pelos responsáveis políticos e
econômicos em cada uma dessas oportunidades e julgados compatíveis com as
necessidades de desenvolvimento do Brasil, ainda que em nenhum dos casos se
tenha alcançado a liberalização total e a integração completa dos mercados.Do
ponto de vista estrito da otimização das oportunidades econômicas, toda
experiência de integração, ainda que na forma simplificada da eliminação de
barreiras aduaneiras sob um regime de livre-comércio, é desejável,
relativamente a uma situação de plena autonomia econômica, pois que
correspondendo a uma etapa inicial de liberalização de mercados e de inserção
nos circuitos da interdependência mundial, mesmo num âmbito geográfico mais
restrito.Os economistas, procedendo a uma
simulação teórica de caráter extremo, recomendariam aliás uma liberalização
unilateral erga omnes, isto é, conduzindo à plena integração com o mundo, pois
que permitindo nesse caso o livre fluxo de fatores e uma alocação ótima das
dotações econômicas. Esse tipo de exercício ricardiano não foi contudo tentado
por nenhum país da era moderna, tendo apenas se manifestado de maneira mais ou
menos abrangente sob o capitalismo de vanguarda da Inglaterra vitoriana.Desde
então, as experiências de liberalização tem sido conduzidas sob forma
condicional e restrita, tendo alcançado maior desenvolvimento na Europa
ocidental, nos diversos esquemas ali conhecidos desde o final dos anos 1940 (no
Benelux, na Ceca, na Comunidade Européia, na Aelc, na União Européia,
notadamente). Todos esses exemplos têm confirmado empiricamente os pressupostos
teóricos traçados pelos economistas sobre os benefícios da liberalização
ampliada.Não
deveria, portanto, ser diferente para o Brasil, tanto no formato mais restrito
do Mercosul como no esquema ampliado de uma futura Alca, ainda que não se possa
arriscar previsões mais positivas quanto a seu caráter funcional, ou não, para
seus objetivos de desenvolvimento econômico e social.Em princípio, a resposta é
positiva, ainda que de forma indireta, uma vez que a integração e a
liberalização produzem situações de maior eficiência alocativa, conduzindo ipso
facto ao aumento da produtividade, à expansão do emprego e à elevação dos níveis
de remuneração.Deve-se
no entanto observar que o processo de liberalização comercial, estrito senso,
não tem como missão histórica "produzir" desenvolvimento, isto é,
provocar transformações estruturais na formação social que envolve o sistema
econômico, mas tão somente produzir uma maior eficiência produtiva, o que por
si só não gera distribuição de riqueza ou justiça social. A agenda
desenvolvimentista é algo mais ampla que a forma de organização social da
produção, implicando em um complexo jogo de fatores políticos e sociais que
ultrapassam em muito as possibilidades transformadoras da abertura econômica e
comercial.
Resumindo:
A
Alca pode ser benéfica para o Brasil sim! Mas, não se deve esperar que ela
resolva todos os nossos problemas de desenvolvimento econômico e social no
curto ou médio prazo; estes só podem ser encaminhados
internamente, com a mobilização de outros vetores de transformação estrutural
" educação, capacitação profissional, investimentos em ciência e
tecnologia, modernização institucional etc. ", não de maneira
exógena a partir de um impulso originado no entorno econômico externo.
2ª)- Mercosul
e Alca são compatíveis entre si?; a Alca não pode simplesmente dissolver o
Mercosul e condená-lo ao desaparecimento enquanto experimento subregional?
Em
princípio, Alca e Mercosul são plenamente compatíveis entre si e até complementares,
uma vez que os esquemas de livre-comércio, mesmo baseados em processos
negociais autônomos e independentes, tendem a se reforçar mutuamente e a
produzir eficiências dinâmicas que potencializam os ganhos alocativos. No que
se refere especificamente ao caso desses dois esquemas americanos, pode-se
argumentar que uma zona de livre-comércio maior tende a absorver e a diluir a
menor, que foi o que ocorreu, comparativamente (no gênero união aduaneira),
entre o Benelux e a Comunidade Européia no decorrer dos anos 70 e 80.Este
não deveria ser o destino, porém, do Mercosul, que corresponde a uma etapa
superior da família integracionista, suplementando seu compromisso de
livre-comércio com as obrigações de uma união aduaneira (tarifa externa comum,
política comercial comum) e visando alcançar, num horizonte histórico ainda
indeterminado, uma situação de mercado plenamente unificado.Em
outros termos, o Mercosul sobreviveria e até poderia aumentar seu grau de
coesão interna ao enfrentar o desafio de uma zona de livre-comércio envolvente,
mesmo se no caso da Alca se trata, potencialmente, de uma "super"
zona de livre-comércio, compreendendo aspectos pouco usuais nesse gênero de
exercício (como compromissos em matéria de propriedade intelectual, política da
concorrência, compras governamentais e outros compromissos setoriais não
estritamente comerciais).Na prática, é evidente que o
"mercado comum do Sul" não passa, atualmente de uma zona de
livre-comércio deficiente e incompleta, pois que prejudicada pela existência de
alguns setores restritos à abertura interna recíproca e de outros funcionando
sob regime de comércio administrado.Sua
união aduaneira "em fase de implementação" tampouco é consistente com
os pressupostos teóricos e empíricos desse tipo de esquema, pois que tendo de
conviver com exceções nacionais à tarifa externa comum, regimes comerciais
específicos a algumas situações nacionais "temporárias e
excepcionais" e de fato carente de uma administração aduaneira uniforme e
dotada de regras claras (falta de um código aduaneiro ou disposições quanto à
arrecadação fiscal, por exemplo).Ainda
assim, mesmo que o comércio intra-Mercosul seja absorvido e dissolvido no
esquema mais amplo da Alca, o Mercosul tenderá a sobreviver enquanto construção
institucional, pois que resultando de uma decisão política no mais alto nível,
que aponta no sentido de sua progressão contínua, ainda que lenta e por vezes
intermitente, em direção de um mercado comum e talvez até mesmo de uma união
econômica, a exemplo da Europa de Maastricht (pelo menos no que se refere à
união monetária). Os perigos que cercam sua evolução comercial derivam mais dos
desafios competitivos associados ao polo econômico dominante e da força
centrífuga do dólar dos EUA, do que da Alca em si, que seria pouco relevante se
fosse hipoteticamente subtraída a potência hegemônica. Mas, mesmo nessa
situação extrema de eventual inoperância econômica do Mercosul em razão da
preeminência absoluta dos EUA no esquema hemisférico, o projeto subregional do
Cone sul tende a sobreviver, pois que ele compreende bem mais do que simples
compromissos liberalizadores, estendendo-se a entendimentos sociais,
administrativos e de políticas setoriais outras que as meramente econômicas
(justiça, turismo e cultura, ciência e educação, previdência social, entre
várias outras), o que justificaria a continuidade desse projeto político e
societal.
Resumindo:
A
Alca representa um enorme desafio para a continuidade e para a afirmação da
personalidade do Mercosul, mas a dissolução deste só se daria por expressa
decisão e vontade dos dirigentes políticos dos países membros, não em função da
criação e implementação plena de uma zona de livre-comércio hemisférica, que
forma alguma eliminará, ao contrário até estimulará, o desenvolvimento de outras
vertentes integrativas entre os países membros e associados do Mercosul. Este
tem um capital político e uma cultura própria que jamais serão alcançados no
plano hemisférico, por mais poderosa e abrangente que venha a ser a Alca no
domínio econômico e comercial.
3ª)- O
projeto da Alca não representa uma ameaça fundamental às economias do Brasil e
do Mercosul, pelo fato de que sua vocação liberalizadora vai além da agenda
tradicional de uma zona de livre-comércio, ou devido a que os elementos de
assimetria estrutural são extremamente relevantes quando confrontados ao
cenário mais homogêneo da América do Sul ou à dimensão mais modesta de todas as
outras economias hemisféricas, à exceção dos EUA?
Sem
dúvida que a pauta negociadora da Alca vai muito além do que vinha sendo aceito
como a agenda "normal" de uma zona de livre-comércio "
compreendendo apenas liberalização do intercâmbio de bens, mais algumas
disposições de caráter aduaneiro para evitar triangulação indevida ",
abrangendo serviços, propriedade intelectual, compras governamentais,
investimentos e outros aspectos menos relevantes, segundo um programa de
abertura e de regulação que já se convencionou chamar de "OMC plus".
Pode-se no entanto argumentar que a Alca apenas antecipa, ou acelera, esses
aspectos pouco usuais das "velhas" zonas de livre-comércio e que
tanto o Brasil como o Mercosul encontrariam a mesma pauta de reivindicações
liberalizantes numa próxima rodada de negociações comerciais multilaterais ou
se decidissem empreender esforço similar com outros esquemas regionais (como a
CAN, a UE ou outros grupos de países).Nem
tudo porém é tão somente uma questão de tempo, já que a ambiciosa agenda da
Alca certamente coloca desafios de monta aos países do Cone Sul, em especial no
que se refere aos diferenciais de competitividade nos diferentes setores que
serão presumivelmente incorporados ao esforço liberalizador hemisférico
(serviços, compras governamentais, investimentos, por exemplo). Mas, deve-se
observar que os mesmos temas encontram-se previstos no exercício interno ao
Mercosul, processo extremamente complexo e tematicamente diversificado, a
despeito mesmo do pequeno número de países engajados e da dimensão mais modesta
de seus aparelhos produtivos e de serviços, em grande medida voltados para os
próprios mercados nacionais.Mais uma vez neste caso, a Alca
coloca ao Mercosul o desafio de seu próprio aprofundamento interno, preservando
áreas de preferência subregional num cenário mais amplo de liberalização
progressiva no plano hemisférico. A homogeneidade cultural e a intensidade de
vínculos intra-Mercosul deve atuar em seu benefício, estimulando negócios no
âmbito subregional mesmo em face de oportunidades ou desafios potenciais no
cenário continental mais vasto.Alternativamente,
os perigos presumidos ou efetivos para o Mercosul derivados do esquema da Alca
poderiam ser pressentidos a partir das assimetrias fundamentais que
caracterizam as economias do hemisfério, não apenas em termos de dimensão bruta
(a chamada economia de escala), mas essencialmente em razão dos diferenciais
intrínsecos de produtividade e de capacidade de penetração mercadológica. Ainda
aqui, os perigos são mais supostos do que reais, uma vez que algumas vantagens
comparativas naturais e dinâmicas dos países do Mercosul podem servir de
contrapeso ou atuar em seu benefício, no confronto com a potência avassaladora
do gigante do Norte. É de se esperar, por exemplo, que mesmo depois de
empreendido sério esforço de modernização produtiva e de aggiornamento
tecnológico por parte dos países do Mercosul, os diferenciais de produtividade
permanecerão importantes em relação àqueles observados em setores de serviços e
ramos industriais nos quais os EUA já detêm uma liderança incontestável. Mesmo
neste caso, os diferenciais de custos de mão-de-obra para serviços associados,
particularidades dos mercados locais, diferenças ou especificidades culturais,
assim como o simples fator da proximidade geográfica atuarão em benefício do
Brasil e do Mercosul para uma ampla gama de bens e serviços, produzindo
portanto atração de investimentos e transferência de tecnologia num horizonte
de tempo indeterminado depois de começada a implantação da Alca.Numa
análise puramente econômica, aliás, a "ameaça" das assimetrias não
apresenta a mesma relevância estrutural, se pensada fora de um esquema de
capitalismo "nacional". Com efeito, os economistas deduzem uma
situação de maior racionalidade econômica intrínseca quando um país
industrialmente menos desenvolvido se associa, num esquema de livre-comércio, a
um parceiro mais poderoso, não quando dois ou mais países igualmente
"subdesenvolvidos" empreendem a construção de um "mercado
comum".Daí as freqüentes críticas de
economistas "liberais" ao esquema do Mercosul, manifestando eles a
opinião de que o Brasil deveria abrir-se diretamente aos EUA num exercício de
comércio preferencial, pois tal situação conferiria mais vantagens a sua
economia menos avançada, ademais de permitir o desenvolvimento das especializações
produtivas. Na prática, como já constatamos, as situações de livre-comércio
nunca são perfeitas, persistindo espaços de liberalização restrita e diversos
mecanismos de proteção setorial que inviabilizam o pleno jogo da movimentação
de fatores idealizada pelos economistas teóricos.Não
se trata aqui de uma questão que possa ser resolvida in abstracto, podendo
apenas ser equacionada no terreno concreto das negociações para a definição das
regras da futura zona de livre-comércio hemisférica, assim como no domínio bem
mais prático (e microeconômico) das associações produtivas que serão promovidas
voluntariamente pelas próprias empresas, independentemente da vontade dos
governos. Com efeito, as empresas, conhecendo o cenário ambiental em que terão
de atuar num determinado setor, antecipam-se às medidas governamentais de
"imposição" de novas regras, construindo alianças táticas e acordos
pragmáticos com competidores e parceiros no seu setor de atividade, atuando
assim para reduzir progressivamente tais assimetrias. Esse processo será tão
mais rápido quanto mais desregulado e aberto for o mercado setorial em questão.Não
é certo, por exemplo, que as empresas brasileiras e as do Mercosul sejam
invariavelmente menos performantes do que as dos EUA em todos os setores
abertos à competição, assim como não é seguro que o diferencial mercadológico
em favor das empresas multinacionais seja válido em todas as situações de
acesso e de penetração em novos mercados. Segmentação da demanda,
disponibilidade de fatores, apresentação dos produtos, identificação cultural e
sobretudo capacidade adaptativa e imaginação criadora podem atuar em proveito
de empresas locais em certas áreas de bens e serviços. O Brasil,
historicamente, já demonstrou possuir uma enorme capacidade de "digestão"
de novas tendências e de novas técnicas produtivas, não havendo razão para
acreditar que ele não saberá responder ao desafio que a Alca coloca para o seu
sistema produtivo e para a sua capacidade inovadora. A passividade e o
fatalismo nunca foram traços da personalidade brasileira.
Resumindo:
Sem
embargo, os perigos são mais aparentes do que reais, na medida em que o próprio
setor privado encontrará soluções pragmáticas a tais assimetrias, que
representam outras tantas oportunidades para ganhos temporários antes que a
liberalização regional se converta em verdadeiro processo de globalização.
Neste caso, o excesso, ou a tentativa, de regulação governamental pode
dificultar, mais do que facilitar, o processo de superação das assimetrias
existentes.
4ª)- Meio
ambiente e normas laborais são fatores limitantes e negativos no esquema de
negociações hemisféricas; tais cláusulas vão bloquear a expansão do comércio
ou o livre fluxo dos investimentos?
Tais
normas, a exemplo das barreiras técnicas e outras medidas não-tarifárias que
limitam ou obstaculizam o pleno acesso aos mercados, podem efetivamente
constituir fatores limitantes a uma verdadeira liberalização hemisférica, pois
que confirmando, se implementadas a partir de uma visão exclusivamente nacional
da questão, o sistema de "arquipélago de economias" que caracterizou,
durante muito tempo, a economia internacional. A dificuldade não está tanto na
fixação de um determinado padrão, supostamente mais elevado, para equacionar
problemas no campo trabalhista e na proteção do meio ambiente " algo
continuamente tentado nos foros multilaterais ", mas em sua utilização
abusiva, de forma unilateral, para bloquear a livre movimentação de bens,
serviços e de capitais e tecnologias, inclusive mediante o recurso a sanções de
natureza comercial. Essa possibilidade deve ser simplesmente vetada na mesa de
negociações, pois que correspondendo a uma reação protecionista daqueles que
desejam "fazer girar para trás a roda da história", ou seja, impedir
que o capital se dissemine pelo planeta, aproveitando as melhores chances de
custo-benefício para uma alocação "ótima" de recursos.Parece
ocorrer, nesse particular, uma curiosa colusão de interesses e de propósitos
entre sindicalistas do Norte e seus contrapartes do Sul, entre ONGs de
ecologistas das duas pontas do continente americano, entre refratários
pragmáticos (por definição de direita) e opositores ideológicos (geralmente de
esquerda) ao livre-comércio, ademais da já conhecida (e pouco santa) aliança
entre anti-globalizadores de todos os quadrantes do hemisfério. Normas laborais
e ambientais converteram-se no terreno comum de luta de todos aqueles que se
posicionam contrariamente à Alca, seja pelos nobres motivos da defesa efetiva
do meio ambiente e dos direitos humanos, seja por aqueles bem mais interessados
(e por vezes mais mesquinhos) da defesa do emprego local ou de uma idílica
produção saudável (e subsidiada), em fazendas familiares supostamente
protegidas da concorrência selvagem introduzida pelas variedades geneticamente
modificadas.O mais estranho, certamente, é
ver sindicalistas do Sul defendendo empregos no Norte " uma vez que a
introdução de normas laborais tem precisamente como objetivo impedir a
"fuga" do capital, e portanto a transferência de empregos ao sul do
Rio Grande " ou ecologistas normalmente contrários à desigualdade inerente
às estruturas econômicas internacionais promovendo o protecionismo agrícola nos
países desenvolvidos ou a manutenção involuntária de populações inteiras de
coletores-extrativistas nas regiões tropicais em níveis próximos da miséria
absoluta.A
formulação tentativa e a promoção ativa de normas e padrões ambientais e
laborais mais avançados, quando combinada aos estímulos adequados para a livre
circulação de fatores, inclusive da mão-de-obra, pode no entanto atuar como
elemento de melhoria nos padrões de vida da maioria da população, sobretudo nos
países ainda em desenvolvimento, servindo para elevar a produtividade do
trabalho e a performance geral das economias mais atrasadas. Sua vinculação a
acordos de comércio tem a virtude, porém, de bloquear a disseminação desses
mesmos padrões que seus promotores querem ver implementados, uma vez que
dificultando a mobilidade do capital e a transferência de tecnologia pela
simples razão de inibir os fluxos de comércio, em lugar de estimulá-los.
Resumindo:
Um
sistema de códigos de conduta, de caráter voluntário mas de adesão progressiva,
para padrões ambientais e laborais pode permitir superar situações de bloqueio
"psicológico" que vêm contribuindo para contaminar o ambiente
negociador da Alca. Quanto ao Brasil, consciente das limitações, mas também dos
enormes progressos realizados nessas áreas, ele não parece ter algo a temer a
partir da fixação de metas mais ambiciosas nos terrenos social e ambiental. A
fixação de metas indicativas para a adesão progressiva dos países, mais do que
a determinação de padrões uniformes para todos numa escala sincrônica de tempo,
pode servir para reconciliar o capital e o trabalho, assim como ecologistas e
empresas.
5ª)- Práticas
abusivas de salvaguardas comerciais e de "antidumping", assim como políticas
deliberadamente distorcivas das condições de comércio, a exemplo das medidas de
apoio interno na área de agricultura, podem falsear os resultados da Alca,
tornando o exercício liberalizador meramente retórico e desequilibrado?
Certamente,
e aqui o Brasil e o Mercosul devem atuar com toda a determinação possível para
eliminar as práticas mais danosas à liberdade de comércio nos terrenos em que
ele apresenta uma competitividade "natural" bastante superior à do
parceiro supostamente mais poderoso. Os EUA, com efeito, já declararam que
pretendem deixar intocada, no processo de negociações da Alca, sua panóplia de medidas
de defesa comercial, numa postura contraditória com o espírito de qualquer
negociação multilateral, na qual todos os elementos possuindo incidência nos
fluxos de comércio devem ser honestamente objeto de exame e eventual discussão
quanto a sua adequação ao novo espaço econômico integrado.Esse
posicionamento tem menos a ver com a suposta consistência desses mecanismos
nacionais de defesa comercial com as regras do GATT do que com o elemento de
chantagem política exercido pelo Congresso contra a liberdade de ação dos
negociadores do Executivo dos EUA. Trata-se de elemento puramente político, não
sustentável em qualquer critério econômico de competição leal e de abertura
negociada de mercados, e inteiramente dependente do exercício de uma efetiva
capacidade negocial que deve poder manifestar-se no caso do Mercosul e do
Brasil em particular.
Resumindo:
Um
acordo de livre-comércio hemisférico no qual determinados componentes da agenda
permanecem unilateralmente inegociáveis " uma reprodução econômica do conhecido
aforismo orwelliano segundo o qual no "socialismo comercial" todos
são iguais, mas alguns são "mais iguais do que outros" " não
parece corresponder aos princípios aprovado em Belo Horizonte, em 1997, quanto
ao equilíbrio de resultados e ao compromisso indivisível em benefício de todos.
6ª)- A Alca
conduzirá à desnacionalização da economia brasileira? Subsistirão políticas
setoriais em nível nacional, diminuirá a margem de liberdade alocada à política
econômica governamental?
A
eventual "desnacionalização" " não de setores, mas de frações de
mercados setoriais " a partir da venda ou fusão de empresas brasileiras a
gigantes estrangeiros não será diferente ou em todo caso, maior do que já ocorre
no âmbito do processo de globalização atualmente em curso, que foi
voluntariamente assumido pelo Brasil como um desafio importante a ser vencido,
não como uma ameaça a ser evitada. Em nenhum dos processos conhecidos de ativa
interdependência econômica, como são os existentes no âmbito da OCDE e a
fortiori no seio da UE, diminuiu o papel do Estado ou enfraqueceu-se a economia
nacional, pela simples razão de que o capital estrangeiro passou a participar
com maior intensidade dos esquemas produtivos internos e dos circuitos locais
de produção e distribuição. Ao contrário, as "pequenas"
empresas locais adquirem dimensão nacional e a partir daí passam a atuar no
plano internacional, constituindo um "capitalismo multinacional" que
foi até agora o apanágio dos países mais avançados. Ocorreu assim nos casos de
Portugal e Espanha, assim como da Itália, e não há porque descartar que tais
processos venham a ocorrer igualmente no âmbito do Brasil e do Mercosul.O
Brasil tem, por certo, um crônico problema de déficit em transações correntes e
de desequilíbrio na balança de pagamentos, que acompanharam todo o seu processo
de industrialização. Mas tais fragilidades estão igualmente associadas ao
ambiente geral dos negócios, mais do que à ausência de capacidade reguladora do
Estado, que assumirá formas novas num cenário mais previsível de planejamento
microeconômico. O fato de que parceiros estrangeiros passem a atuar em setores
antes vedados ou mais limitados à presença de multinacionais não se traduz
necessariamente numa desintegração automática das cadeias produtivas, antes
numa integração destas a circuitos mais amplos nos planos hemisférico ou
mundial.É
evidente, por outro lado, que qualquer acordo internacional que se faça em
áreas ainda inéditas de regulação multilateral ou regional, como é o caso da
Alca " que parece apontar para um instrumento relativamente
"intrusivo" em termos de políticas setoriais ou de mecanismos
regulatórios " redunda numa diminuição da esfera da soberania absoluta dos
Estados nacionais e na redução ulterior dos poderes regulatórios dos
legisladores econômicos e, na outra vertente, num aumento do grau de
interdependência das economias e da margem de liberdade alocada aos agentes
econômicos privados. Mas, isso é próprio das tendências atuais tanto do
regionalismo, como do multilateralismo econômico, assim como da própria agenda
negociadora internacional, das quais participa o Brasil em plena consciência de
causa e tendo sempre como critério absoluto de atuação o interesse nacional na
matéria. Entre esses critérios não se situa o de privilegiar o capital
estrangeiro em detrimento do capital nacional, mas sim em atribuir a ambos um
ambiente regulatório relativamente uniforme quanto às regras gerais de
exercício da atividade, o que é conhecido em terminologia "gattiana"
como tratamento nacional.
Resumindo:
A
internacionalização da economia brasileira e a constituição de firmas nacionais
de dimensão internacional " algo
presumivelmente desejado, mesmo pelo mais ferrenho opositor da Alca e do capitalismo
norte-americano " se dará, não no quadro de um suposto processo de
"preparação" da economia brasileira para "enfrentar a
concorrência externa" " período de tempo que é sempre indefinido e
invariavelmente dependente de condições "ótimas" de políticas macroeconômicas,
comercial e industrial, que nunca se realizam na prática ", mas no próprio
bojo da globalização, seja ela restrita ao hemisfério ou ampliada em escala
planetária. Processos de "acumulação primitiva" nunca ocorreram de
fato, a não ser nas análises ex-post que tendem a racionalizar a experiência
histórica e a oferecer como "modelo" o que nunca passou de um
processo único e original em termos de desenvolvimento socioeconômico de uma
determinada formação nacional.
7ª)- O
Brasil estaria isolado se decidisse permanecer fora da Alca?
Trata-se
de uma decisão inteiramente política, a partir de uma hipótese extrema, mas que
será tomada com base numa análise econômica e diplomática no curso do processo
negociador. A Alca não é o único processo negociador de que participam ou
participarão o Brasil e o Mercosul, bastando mencionar o processo
bi-regional com a União Européia, os entendimentos no contexto da África
austral e a opção preferencial no âmbito da América do Sul. As opções para o
Brasil e para o Mercosul não estão fechadas, como alguns cenários mais
pessimistas parecem antecipar. É bem mais provável, aliás, não existir uma
Alca, por razões que não teriam nada a ver com a oposição ou relutância
brasileira (mas, mais provavelmente com a relutância do Congresso e do próprio
Executivo dos EUA), do que ser concluída uma Alca sem a participação do Brasil.Uma
revisão de meio século do multilateralismo econômico e político revela que
nenhum país de dimensões "respeitáveis", seja ele
"atrasado" ou desenvolvido, permanece isolado no cenário
internacional.A
experiência histórica da China, da Índia, da Rússia, e dos próprios países
desenvolvidos ocidentais, a começar pelos EUA e passando pelos grandes da
Europa " hoje unidos no mais exitoso experimento de integração já
conhecido " confirma que o isolamento é uma fase temporária e passageira
de qualquer processo de emergência e consolidação de novas estruturas de poder
econômico e político mundial.A
posição do Brasil em relação ao sucesso " ou fracasso " das
negociações da Alca não deveria fugir a essa regra não escrita da diplomacia
contemporânea. O Congresso dos EUA, aliás, teriam provavelmente maior
responsabilidade nesse eventual fracasso, do que uma suposta
"intransigência" do Itamaraty ou do Governo brasileiro.Muito depende, em todo caso, da
capacidade negociadora da diplomacia brasileira no terreno da barganha concreta
em torno da Alca, bem como de sua capacidade "explicativa" em direção
dos públicos externo e interno. Nesse particular, o Brasil " dotado de uma
diplomacia econômica que deita raízes nas primeiras décadas do século XIX
" pode considerar-se bem servido e dispondo de enormes vantagens
comparativas em relação a vários outros países do continente.
*Paulo Roberto de Almeida - Autor de: "Formação da Diplomacia
Econômica no Brasil: As relações econômicas internacionais no Império" - (São
Paulo: Editora Senac, 2001 - Washington, 798: 6 de agosto de 2001).
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