EXISTE SENTIDO NA DEPRESSÃO ?
Juliana Lemos
(Consagrada na Comunidade de Aliança Shalom)
“O que faz a vida parecer tão freqüentemente sem sentido a uma pessoa?”
Esta é uma pergunta que você já pode ter se feito durante
algum tempo, ou que esteja se fazendo agora.O que para os pássaros é a muda ,época
em que trocam de plumagem, os tempos difíceis , a depressão é para os seres
humanos.
Talvez tenhamos um
conceito muito negativo desta que se tornou a doença do século XX.
Por isso, gostaria de propor-lhes uma visão diferenciada, um
outro modo de encarar o que para nós possa ser sinônimo apenas de fracasso.
Acredito que muitos frutos podem ser colhidos nesse tempo; lembro-me agora de
algumas frutas próprias do inverno e de como alegram os dias chuvosos e
sombrios. Passada essa época, permanece a lembrança, não das chuvas e do frio,
mas dos frutos da estação.
Porém, antes de falarmos mais sobre este assunto, é imprescindível estabelecer a diferença entre a depressão de caráter endógeno e a depressão decorrente de lutas e angústias, que também podemos chamar de psico-espiritual. Esta definição é necessária, pois o nosso objetivo é tratar apenas desta:
As depressões endógenas, podem ser desencadeadas por um fator psicológico, mas são condicionadas bioquimicamente e até hereditariamente alicerçadas. Nesse caso, é preciso uma farmacoterapia adequada e acompanhamento médico.
Pode acontecer, inclusive, que esse tipo de depressão não esteja
vinculado a nenhuma crise pessoal ou estressor social. Por exemplo, uma pessoa depressiva que traz em sua história
familiar a depressão em gerações anteriores, ou que apresenta um déficit de
serotonina, quando está livre da crise, consegue dedicar-se ao seu sentido de
vida. Mas existem também os casos em que os dois tipos de depressão vêm juntos.
Vejamos agora o que é a depressão psico-espiritual, que tem acometido tantas pessoas, independentemente de faixa etária, nível sócio-econômico, profissional e religioso:
Segundo Victor Frankl, psicoterapeuta existencialista, essa
depressão é causada por um vazio existencial, decorrente de uma falta de
sentido de vida, podendo ser encontrado por trás de uma vida profissional
excessiva, no refúgio de uma atividade desportiva, na fuga para o mundo dos
romances ou televisão, nos fenômenos psicológicos de massa, no decaimento
psicofísico dos aposentados, na necessidade de nunca se deixar descansar ou na
febre de novas ações e novas experiências.
Esse vazio não chega
a ser uma enfermidade, salvo quando acompanhado por sintomas na dimensão
psicofísica, mas provoca um quadro depressivo:
Apatia, desânimo generalizado, desinteresse por tudo ao
redor, podendo causar inclusive o suicídio; adição,desespero frente ao tempo,
corre-se atrás de um relógio, sem nunca parar, com receio de enfrentar seu próprio
vazio; e agressividade, (que ser pode ser explícita, como a que vemos tomar as
manchetes de jornais de todo o mundo, e implícita, presente nos
relacionamentos, nas discussões no trânsito etc.).
Pronto! agora que você já sabe do que se trata a depressão, podemos voltar a falar de um assunto mais interessante: do inverno e dos frutos, dos pássaros e suas plumagens.Você já havia pensado na depressão como algo assim? Olhando-a desta maneira, não nos parece tão terrível, não é mesmo?
Muitos de nós consideramos a depressão um tempo sombrio, uma página vergonhosa de nossa história, uma doença que aleija a alma. Difícil considerá-la um tempo de crescimento, de maturidade, de transformação.
Será por causa da
pergunta que se faz? Aquela acerca do sentido da vida?
Afinal, reconhecer-se confuso, admitir que o mundo não lhe
satisfaz, que a felicidade é simples, que o trabalho não lhe preenche, não é lá
muito fácil! É preferível não mexer nisso, vestir o luto e ver no que vai dar.
Sim ou não?!
Não! Vejamos o
porquê:
A depressão enquanto condição humana, se bem orientada, deve
conduzir o ser humano à tomada de consciência da sua própria vida e do seu
sentido último (nada de fugir de si mesmo!).
Quando isso acontece, estamos falando de maturidade
espiritual, uma vez que é reconhecida a necessidade de orientar-se para Alguém
que o transcende e para quem fomos criados, e a quem precisamos conhecer e
amar. Isso é próprio do ser humano, é uma lei inscrita em seu coração, não dá
para negar esta verdade!
Temos desejo de
Deus!!!
Consideremos, então, a depressão uma prova que o Senhor nos envia:
“Não são todos os que o Senhor decide provar desta maneira, mas,
permito-me dizer, que os escolhidos por Ele são dotados de muita coragem, pois
a crise consiste em admitir que se está vazio e que é preciso encher-se; que se
tem sede e precisa-se de água, e para isso é preciso romper com muitas coisas,
como fez a samaritana. “Deus tem sede que tenhamos sede dele”, já dizia Santo
Agostinho.”
Se conseguirmos entender a depressão desta forma, aceitaremos
este meio que o Senhor escolheu para nos amar, e todo o vazio será ocupado por
sua Presença que se encarregará de dar sentido à nossa vida.
Mas, se buscamos um motivo fora de nós e fora do plano de Deus para
tamanha tristeza e melancolia, muito pouco Deus poderá fazer por nós, uma vez
que nos recusamos aceitar que temos sede d’Ele.
Termino com uma citação de Santa Teresinha, intercedendo a Deus por você que passa hoje por esta dor:
“É preciso que Deus nos ame com um amor todo particular para provar-nos desta maneira. Não percamos a provação que o Senhor nos envia, ela é uma mina de ouro a ser explorada, será que vamos perder a ocasião...?”
Não esqueça: Ele não nos prova acima de nossas forças!
Shalom Maná !!!
Um deprimido, um amigo-luz, janela para o
Céu
(Por *Emmir Nogueira)
“Das profundezas eu clamo a vós,
Senhor!
Gritando, eu imploro! Eu suplico!
derramo meu lamento,
diante do Senhor exponho a minha
angústia,
enquanto meu alento desfalece.
Ergo os olhos para os montes,de onde
virá o meu socorro?...”
Essas passagens do livro dos Salmos
resumem à perfeição os sentimentos de um coração em depressão, e isto quando ele consegue orar!!! Pois sua solidão
é tão vasta, sua tristeza tão profunda, sua prostração física tão esmagadora
que o mais comum é sequer conseguir pensar em Deus ou experimentar sua
presença.
Restam-lhe poucos referenciais exteriores e
praticamente nenhuma razão para continuar a viver. Nada, ninguém, nem ele mesmo
fazem sentido. E isso, não por vontade própria ou “birra”; não por carência ou
desejo de chamar atenção.
Independe de sua vontade a ligação à
realidade, a relação com a objetividade. Sua vontade, aliás, está anestesiada e
centrada no escuro mundo do não querer.
Tarefas corriqueiras exigem forças semelhantes a
subir o Everest: banho, escovação de dentes, comida, cabelo penteado, tudo
parece custoso demais.
Quanto menos luz externa, melhor. Seu
interior, desmoronado, deserto e sombrio, anseia por um ambiente que se adeque
a ele.
Algumas pessoas em seu redor dividem-se
em sentimentos insanos de acusação, cobrança, falsas expectativas, busca de
soluções imediatas. Acusam-no de “se entregar”, cobram-lhe reação e força,
submetem-no a diversões que não deseja, filmes que abomina, música que lhe fere
o ouvido: “Precisa sair, divertir-se, descansar. Isso o fará melhor”.
Há os que ferem profundamente com frases viperinas:
“Isso
é preguiça!”, “Ai, meu Deus, outra vez, não, por favor!”, “Que bicho te mordeu
dessa vez?”, “Aprende a reagir, criatura!”, “Cadê tua fé? Tanto que você prega
por aí! Tanto que fala em Deus! Cadê Ele? Recorre a Ele agora!”, “Faça um ato
de fé! Vai ser feito conforme a tua fé!”, “Ore em línguas 10 minutos por dia
que você sai dessa!”, “Viva os Estatutos de sua religião e comunidade,
espelhe-se na fé de seu fundador, do santo de sua devoção”,“O segredo é fazer
de conta que nada está acontecendo e continuar em suas atividades de cada dia.
Se der atenção a isso, vai ser pior!”
Outros apresentam pacotes espirituais:
“Reze
mais, isso é falta de oração!”, “Reze o terço e ficará bon-zi-nho!”, “Olha, é
só rezar o Salmo 190 todos os dias, o Salmo 140, o 40...”, “Venha comigo à
igreja, lá o obreiro expulsa a depressão e ela vai embora”, “Te garanto que se
você passar uma manhã em adoração todos os dias fica bonzinho”.
Aparecem, ainda, os pragmáticos que
logo providenciam uma “escala” de pessoas “para fazer companhia, para sair com
ele/ela, para puxar assunto, para alimentar e cuidar”.
Não percebem quão grande tortura essa
invasão indiscreta representa para alguém que busca paz. Não há como dar uma
moeda ao estalajadeiro e prosseguir o próprio caminho, quando se trata de uma
pessoa enferma desse tipo de tristeza.
Um deprimido não é enfermo que aguente
rodízio de enfermeiros e médicos, de visitas e cuidadores em suas técnicas e
abordagens diversas.
Seu coração acolhe poucos, pouquíssimos, um ou
dois, amigos-luz.
“Ao
perceberem que suas tentativas dão em nada ou só pioram a situação, as pessoas
tendem a afastar-se, talvez a pensar mais em si do que na pessoa em depressão,
pois não há retribuição imediata ou gratificação emocional no convívio com uma
pessoa deprimida. A voz dos poucos que persistem parece não encontrar eco, como
um grito em meio a paredes acústicas. Muitos acabam desistindo.”
Entretanto, veja bem, entretanto, repito:
A presença constante, fiel, amiga,
acolhedora de uma ou duas pessoas é a única réstea de luz que, a princípio
tênue, mas, por fim luminosa e plena, tem o poder de paciente e ternamente,
amorosa e persistentemente, penetrar na escuridão do deprimido, qual uma janela
que muitíssimo lentamente se abre para o céu.
Os Salmos, mais uma vez, nos ajudam a
entender o coração da pessoa em depressão:
“Olho para a direita e vejo:
ninguém mais me reconhece,
nenhum lugar de refúgio,
ninguém que olhe por mim...”
O deprimido precisa de alguém que seja
luz. Alguém que, discretamente, sem impor o que considera soluções mágicas,
simplesmente esteja ao seu lado, em sua escuridão, ainda que não a abranja
totalmente. Alguém que expresse, mais com atitude que palavras:
“Não
desisto de você. Jamais desistirei, ainda que todos o abandonem. Ainda que você
mesmo tenha desistido, eu mantenho acesa a chama de sua vida diante de Deus.
Não desistirei de você, pois o amo. Eu estou aqui. Eu estou aqui”.
No começo, a pessoa deprimida não vai
dizer nada. Pode até ser grosseira, violenta com quem quer permanecer com ela.
Ainda não reconhece em seu amigo-luz seu lugar de refúgio. Precisa testá-lo,
ver se realmente aguenta alguém tão abominável como uma pessoa em depressão
como ele.
Não aguentaria mais uma dor, mais uma separação,
mais uma perda, mais alguém querido que tenta e desiste.
Precisa, desesperadamente, “ser
reconhecido”, ter alguém “que olhe por ele”, como diz o Salmo. Entretanto, não
tem forças para arriscar a mais ínfima decepção, a mais milimétrica perda.
Perdeu-se de si mesmo e isso é preciso ser levado em conta pelo amigo-luz.
Depois, aos poucos, muito aos
poucos, mesmo, começa a falar. Diz coisas sem lógica objetiva. Expressa a
lógica caleidoscópica dos seus sentimentos. Repete-as dez, cem, mil vezes, em
necessidade compulsiva. Ao ouvir, paciente e amorosamente essas mesmas
histórias, o amigo-luz funcionará como âncora em um leito de lama: será
arrastada, atolada, mas encontrará, enfim, lugar firme para servir de
referencial estabilizador ao que fala. Ao ouvir e fazer-se presente, será seu
primeiro encontro com a luz da objetividade. Servirá de primeiro referencial
de sentido.
Sua chegada, antes rejeitada, passará a
ser desejada. Seu telefonema diário, de preferência sempre à mesma hora,
esperado. Aos poucos, sua voz que mais se cala que fala, encontrará eco,
penetrará como água humilde e persistente, na dureza de rocha do coração
deprimido. Contudo, aos poucos, mansamente, será acolhido como lugar de
refúgio, como olhar que reconhece e é reconhecido, como presença que cura.
Terá sido o primeiro degrau em que
pisou o deprimido, mas para isso se terá abaixado até o pó. Terá sido o
primeiro filete de luz acolhido por ele, embora, para isso, tenha sofrido com
suas trevas. Terá sido a primeira brisa fresca que o depressivo admitiu respirar,
embora, ao ouvi-lo, tenha muitas vezes padecido sufocado. Paciente, discreto,
humilde, terno, manso, terá sido amigo-luz. Aquele que jamais desistiu. O
socorro que, em nome de Jesus, é enviado pelo Pai de sua morada sobre os
montes.
Curado o coração
deprimido, não precisará tanto dele. Esquecê-lo-á no dia a dia, talvez. Não
recorrerá mais a ele com voz carregada de angústia. De único refúgio, passará a
ser uma voz dentre muitas.
No fundo do coração agora curado de toda tristeza,
entretanto, haverá, para sempre, um laço, uma dádiva agradecida, uma música
suave de apoio, pois jamais se esquece um amigo-luz.
*Emmir Nogueira, Co-Fundadora da Comunidade Shalom
O
que pode (e deve) fazer a psicologia por um católico que necessita de ajuda na
depressão ?
Uma psicologia enraizada
na visão católica da pessoa humana está em coerência tanto com a ciência como
com Deus, afirma Gladys Sweeney, decana do "Institute for the
Psychological Sciences".
Em seu campo, este centro
universitário americano orienta-se a estender pontes entre ciência e fé.
1)-Que soluções a senhora
proporia aos católicos que sofrem depressão ou outros transtornos mentais?
Gladys Sweeney: Freqüentemente, a
depressão, ou outras formas de transtorno mental, constitui um obstáculo ao
livre arbítrio. Um tratamento psicológico eficaz é muito útil, porque busca
essencialmente libertar a pessoa não só para que veja o "bem de forma mais
realista, mas também para que seja capaz de eleger o "bem".
Tradicionalmente, houve
uma desconfiança mútua entre as ciências psicológicas e os católicos. A
psicologia tende a ver a fé como comportamento supersticioso, enquanto que as
pessoas de fé tendem a ver a psicologia como uma ciência desnecessária para
elas. Uma fé suficiente deveria bastar para se ocupar de todos os problemas,
quaisquer que sejam.
Nenhuma das duas posturas
reflete a verdade. Uma psicologia enraizada na compreensão católica da pessoa
humana não é só verdadeira para a ciência, mas verdadeira com respeito a Deus.
As ciências psicológicas têm muito a oferecer a pessoas cujo livre arbítrio
está afetado.
Tomemos por exemplo o caso
de uma pessoa excessivamente escrupulosa. Tal pessoa poderia de fato sofrer
"neurose obssessivo-compulsiva". Esta desordem psicológica pode
chegar a ser tão grave, se não tratada adequadamente, que impede a pessoa de
funcionar normalmente.
Pessoas católicas, boas e
fiéis, poderiam de fato deixar a confissão para não sentir que fizeram uma
confissão inválida por terem esquecido de confessar "todos" os
pecados. Poderiam deixar de comungar por medo de estar recebendo indignamente o
Senhor. Esta desordem é facilmente diagnosticada e tratada.
As ciências psicológicas
estão ao serviço da Igreja. Ajudando esta pessoa a recuperar um funcionamento
normal, estará liberta da neurose. Mas a liberdade não é só uma "liberdade
desde", é também uma "liberdade para": uma liberdade para chegar
a ser cristãos melhores e para poder-se beneficiar de uma vida sacramental.
Proposta a questão em
termos adequados, então não existe nenhum conflito entre uma psicologia fundada
em uma sã antropologia e os ensinamentos da Igreja. O desafio é encontrar
psicólogos adequadamente formados nesta perspectiva, que respeitem os valores
religiosos de seus pacientes sem miná-los de nenhum modo.
2)- Quais são os
erros mais comuns hoje no tratamento da depressão?
Gladys Sweeney: Um dos maiores erros no
tratamento da depressão é a noção de que a depressão se alivia
"unicamente" através de medicação.
Ainda que é certo que o
uso de antidepressivos ofereceu um tremendo alívio a pacientes que padecem este
transtorno, recorrer exclusivamente ao tratamento farmacológico, excluindo
formas mais tradicionais de psicoterapia, não é o tratamento melhor.
Um dos tratamentos mais
eficazes contra a depressão é o que os psicólogos chamam "reestruturação
cognitiva". Esta modalidade de tratamento tende a reordenar as emoções de
acordo com a razão.
Com freqüência, nos casos
de depressão, a sensação de desespero e impotência toma controle de toda a
pessoa, e o paciente não é capaz de ver a realidade objetivamente. É como se
visse o mundo através de um cristal escuro. Uma pessoa deprimida pode
"interpretar" um acontecimento neutro como algo negativo ou
pessoalmente ofensivo, quando na realidade não é assim.
“O tratamento consiste em ajudar a
pessoa deprimida a reestruturar seu pensamento, orientando-a a reestruturar
seus esquemas distorcidos e negativos. É treinada a ordenar as emoções de
acordo com a razão e a ver as situações de forma mais objetiva. Demonstrou-se
extremamente eficaz para ajudar as pessoas com este diagnóstico.”
É importante observar que
às vezes as pessoas deprimidas inicialmente não respondem bem a esta terapia.
Sobretudo quando a depressão é severa.
Nestes casos, o melhor
tratamento é uma combinação de medicação e terapia cognitiva. Em qualquer caso,
a medicação só raramente é boa solução em longo prazo para o problema.
3)- De que forma
uma vida em Cristo — participando nos sacramentos, tendo oração e procurando
direção espiritual — ajuda a curar as patologias mentais?
Gladys Sweeney: A participação na vida
sacramental, na oração e na direção espiritual constitui meios para receber a
graça divina.
A espiritualidade cristã é
viver em Cristo pela graça do Espírito Santo que nos faz crescer na fé;
significa ter uma esperança fundada na fé e sobretudo no amor como plenitude da
fé no caminho reto para a comunidade da Santíssima Trindade.
Como a graça aperfeiçoa a
natureza, esta espiritualidade é totalmente coerente com a saúde psicologia.
Mas a saúde espiritual e a saúde psicológica não são idênticas, nem sempre
proporcionadas.
Uma pessoa que sofre
neurose obsessivo-compussiva, que não é capaz de confessar e talvez nem sequer
de comungar, necessita de tratamento a fim de poder se valer dos meios com os
quais se recebe a graça santificante. Em qualquer caso, a saúde mental, como a
saúde física, não é uma condição necessária para a santidade.
Uma pessoa que sofre
ansiedade não necessita de ser tratada primeiro desta desordem para desenvolver
as virtudes do valor e da fortaleza ou crescer em sua confiança em Deus.
Certamente ajuda, mas não é uma condição sine qua non para o crescimento nas
virtudes humanas. As dificuldades que se encontram ao lutar com condições
psicológicas podem de fato servir para favorecer determinadas virtudes, ou ser
motivo de momentos de maior graça e de aprofundamento da vida espiritual.
Portanto, a menos que os
problemas psicológicos da pessoa dificultem sua participação na vida
sacramental, é de suma importância que a pessoa participe ativamente nela,
ainda que esteja em terapia. É por isto que é tão importante que o terapeuta se
dê conta desta necessidade e alente a pessoa a realizá-la.
Os efeitos da ação da
graça combinados com um são tratamento psicológico são muito eficazes para
conseguir a cura. Qualquer católico que sofra enfermidades mentais deverá
seguir recebendo os sacramentos com freqüência e respeito, além de manter uma
vida de oração habitual e equilibrada.
Um bom diretor espiritual
pode ser muito útil a esse respeito, proporcionando guia no caminho do
crescimento espiritual. Seja através da terapia ou da espiritualidade, é sempre
Cristo quem cura.
4)- Por que é
importante que os católicos com problemas de saúde mental recorram a terapeutas
também católicos?
Gladys Sweeney: Toda teoria psicológica
contém determinados postulados relativos à natureza e ao destino da pessoa
humana. Há teorias seculares por
natureza e às vezes abertamente anti-religiosas. Às vezes negam a existência da
liberdade humana, das verdades morais, e portanto a realidade do pecado.
É pelo que o Santo padre
diz em "Reconciliatio et Paenitentia": "Dilui-se este sentido do
pecado na sociedade contemporânea também por causa dos equívocos nos que se cai
ao aceitar certos resultados da ciência humana. Assim, em base a determinadas
afirmações da psicologia, a preocupação por não culpar ou por não pôr freios à
liberdade leva a não conhecer jamais uma falta".
Assim que os católicos
devem estar muito atentos ao receber a assistência psicológica ou ao permitir
às modas psicológicas influir na própria vida.
Também os psicólogos em
geral tendem a ver a religião de forma mais negativa, coisa que cria ulteriores
dificuldades aos católicos. Durante uma psicoterapia é possível que o terapeuta
influa no paciente de maneiras sutis que lentamente minem suas convicções
religiosas.
“Com
um bom terapeuta católico, em qualquer caso, a fé e a prática religiosa dos
pacientes seria alentada e até poderiam falar de questões religiosas durante as
sessões. Tal terapia trabalha desde uma compreensão autêntica da pessoa humana
baseada nos ensinamentos da Igreja e reforçada por elementos psicológicos sãos.”
Este tipo de aproximação é
absolutamente essencial para qualquer católico que busque ajuda por um problema
de saúde mental.
5)- Que recursos a
Igreja oferece aos membros de seu rebanho que tenham a ver com questões de
saúde mental?
Gladys Sweeney: A Igreja nos oferece
Cristo, que é a revelação do amor do Pai e é a revelação do homem ao homem.
Cristo nos revela o
sentido de nossa existência e a resposta ao anseio de nosso coração. A Igreja,
ao dar-nos Cristo, dá-nos o que mais desejamos e em última instância o único
capaz de satisfazer-nos.
Neste "vale de
lágrimas" haverá inevitavelmente desilusões, tragédias e sofrimentos, e
todo o tempo a Igreja nos orienta mais além deste horizonte, para o seio da
trindade, onde Cristo está preparando uma morada para nós. Cristo nos mostra,
portanto, o sentido redentor do sofrimento. Através dos sacramentos da Igreja,
encontramos Cristo e nos renovamos e transformamos continuamente, na medida em
que cresce nossa união com Ele.
Em todo caso, a Igreja
precisa ter em conta a específica função que a ciência psicológica pode
desempenhar, especialmente se está nas mãos de terapeutas bem formados e
equilibrados que compreendam o ensinamento da Igreja sobre a liberdade e a
dignidade humana.
A colaboração mútua da ciência
humana e do trabalho pastoral é de uma importância, e se se realiza em
harmonia, pode levar almas a Cristo e promover o estabelecimento do Reino de
Deus nesta terra.
ZENIT.org
FONTE: http://www.comshalom.org/formacao/exibir.php?form_id=5588
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