Por *Francisco José Barros Araújo
Afinal, devemos ou não fazer comparações para fazermos as escolhas corretas?
Comparar não é pecado: o valor moral e espiritual da comparação
Muitos reclamam: “Fulano vive comparando tudo e todos!” — como se o ato de comparar fosse um vício capital e não uma virtude que caminha lado a lado com a prudência.Mas, afinal, como distinguir o que é bom ou mau, certo ou errado, belo ou feio, moral, imoral ou amoral, se não temos um critério de comparação? A comparação é uma faculdade natural da inteligência humana. É por meio dela que discernimos, avaliamos e aprendemos. Sem comparação, não há julgamento moral, nem crescimento pessoal. O próprio Jesus estabeleceu o critério supremo da comparação:
“Pelos frutos conhecereis a árvore” (Mateus 7,16-18).
E São Paulo reforça esse princípio com o chamado “critério paulino de discernimento”, ainda vigente na Igreja:
“Examinai tudo e guardai o que é bom” (1 Tessalonicenses 5,21).
Portanto, comparar é uma atitude inerente à razão e à fé. Ao observarmos os outros, aprendemos modelos de comportamento, identificamos virtudes e reconhecemos falhas a evitar. Esse processo é essencial ao crescimento moral e espiritual. Contudo, há um limite perigoso. O “sinal vermelho” acende quando a comparação deixa de ser instrumento de sabedoria e se transforma em fonte de inveja, vaidade e autodepreciação. Quando alguém vive em permanente estado de comparação para sentir-se superior ou inferior aos demais, transforma um ato natural em veneno psicológico e espiritual.
Comparar-se para provar valor, exibir conquistas ou medir-se pela régua alheia é um comportamento tóxico, que alimenta orgulho, inveja e frustração. Cria-se, assim, uma ilusão: um espelho distorcido da própria vida, onde nada parece suficiente e a felicidade se torna inatingível.
Quem se prende a esse ciclo perde a capacidade de reconhecer seus dons e a singularidade da própria missão. Em vez de florescer segundo o desígnio de Deus, passa a viver sob a sombra da aprovação alheia. Daí nascem sentimentos que adoecem a alma: ansiedade, depressão, sentimento de inadequação e vazio existencial.
Por outro lado, a comparação saudável — aquela que inspira, motiva e orienta — é parte do aprendizado humano. As crianças aprendem observando os pais; os discípulos crescem olhando para os mestres; os fiéis amadurecem imitando os santos. Assim, comparar-se com o bem é caminho de crescimento, não de inveja.
O desafio está, portanto, em transformar a comparação em discernimento — e não em competição. Comparar não é pecado quando o objetivo é melhorar-se, aprender e amar mais. A prudência e a humildade convertem o ato de comparar em virtude; o orgulho e a vaidade o transformam em pecado.Comparar-se é inevitável; o importante é com quem e para quê nos comparamos. O verdadeiro cristão mede sua vida não pela régua dos homens, mas pelo exemplo de Cristo. E diante desse espelho perfeito, aprende que toda comparação que conduz à humildade, à conversão e ao amor… é santa.
Como não comparar, se vivemos no mundo de constantes comparações?
Bom, alguém pode dizer que não é correto, nem conveniente, fazer comparações. Mas, pessoas e suas atitudes estão como produtos expostos em lojas, nos diferentes setores da nossa sociedade. Pessoas são submetidas a provas e comparadas em colégios, universidades, concursos, programas de TV, escolha de miss,nos esportes, na escolha para presidente, governador, prefeito, prêmio nobel, etc...
Vivemos em um mundo onde a comparação é inevitável - Como não
fazer comparação?
Fazer comparação é uma lei imposta por nossa sociedade, não se sai de casa sem ela! Esta lei é ambígua, pois causa tristeza, desalento, inveja, ciume, violência, ansiedade, depressão e morte. Mas, também, causa: desejo de mudanças, sucesso, sentido, alegria e vida!
Abolindo essa lei, nossa mente sossegará, e a paz reinará no mundo?
Ninguém vai considerar algo, ou alguem, bonito ou feio, bom ou mal, se não tem com o que comparar! Essa vida utópica, em completa paz, sem a corrida maluca da comparação, pode perder o sentido da existência e da pluralidade. A comparação, como ferramenta para a construção do conhecimento não é um dado nem um processo meramente técnico-cartesiano. Envolve a consideração de toda uma série de questões que é necessário levar em conta na hora de definir a realização dos estudos indispensáveis que possam aportar efetivamente para esse processo nato da comparação. Se a comparação não consiste na simples justaposição de casos, senão no reconhecimento de traços comuns e especificidades próprias, no conhecimento do outro enquanto tal, e de nós a partir do outro, ela permitiria, ainda no caso de evoluções diferentes, e talvez precisamente por isso, um grande enriquecimento na compreensão de cada um dos casos estudados. Por isso, frente aos discursos da globalização do mundo, da uniformização das soluções e da imposição de "modelos únicos de desenvolvimento". Em outras palavras, a pesquisa comparativa nos permite re-conhecer a diversidade. Mas, aqui é preciso perguntar (e tentar responder), quê diversidade é essa? Para dar conta dessa questão precisamos, primeiro, determo-nos em alguns conceitos-chave na atual conjuntura.
RISCOs DAS COMPARAÇÕES EQUIVOCADAS:
Em um chat com uma protestante, foi
levantada a seguinte acusação contra o catolicismo (e, ao mesmo tempo, uma
apologia do protestantismo):
"O protestantismo é um dos responsáveis pela riqueza dos
países da Europa Setentrional e dos Estados Unidos, ao passo que o catolicismo,
predominante no sul da Europa e na América Latina, levou ao empobrecimento, ao
subdesenvolvimento".
Podemos responder ao argumento protestante da seguinte forma:
a. A posição de Max Weber consiste em afirmar que para o calvinismo a riqueza é uma bem-aventurança e um sinal de predestinação. Essa crença teria levado os calvinistas a procurarem o sucesso comercial e influenciado a gênese do capitalismo.Embora seja uma posição tremendamente simplista, há algo de verdadeiro nisso.Ainda que se admitisse ser essa tese totalmente verdadeira, ela mostra apenas como para o calvinista a caridade é inútil, pois os pobres, além da miséria desta vida, já são predestinados ao inferno. Isso está bem de acordo com a mentalidade capitalista bruta, de só valorizar o lucro comercial.
b. Quanto ao resultado histórico desse
processo, o argumento é grosseiramente falso: o Brasil no período colonial era
muito mais rico que os EUA. A França Católica, era a nação mais rica do mundo. Os países
de forte influência colonial católica são todos hoje, senão ricos, pelo menos
culturalmente avançados (Brasil, Argentina, México, Filipinas, etc.) enquanto
muitos países de colonização protestante continuam na semi-barbárie (Nigéria,
Botswana, Ruanda, etc.). Tome-se como exemplo a comparação entre o Equador e a
Guiana Holandesa.
c. Alguns dos países protestantes que se
tornaram ricos, é preciso não desconsiderar um fato importante: a grande
riqueza desses países pode ser explicada também pelo fato de que os grandes
banqueiros do mundo nos séculos XVI e XVII eram judeus, e seus bancos se
situavam em Londres e Amsterdam. Nesses casos, a riqueza dos protestantes não é
proprimente protestante, e sim judaica!
d. De qualquer forma, ainda que se
admitisse que o argumento da protestante fosse verdadeiro, o que ele provaria?
Que o protestantismo é uma forma melhor de produzir dinheiro que o Catolicismo.
Mas é esse o objetivo da religião? Esse espírito está de acordo com o
Evangelho?
Não temos a "nossa" verdade! É completamente equivocado dizer, que cada um tem a sua verdade!
A verdade é uma só, e ela não depende da opinião e nem da sinceridade de ninguém!
"Verdade é a adequação da idéia do sujeito conhecedor ao objeto conhecido. Quando a idéia que temos de uma coisa corresponde a essa coisa, temos a verdade!"
Se cada um tivesse uma idéia diferente da realidade que conhecemos pelos sentidos e pela inteligência, você não poderia ter certeza de nada! Nem teria certeza se, de fato, tem diante de si, tem um computador ou celular, ao qual no lê.
"Imagine se cada um tivesse uma
idéia particular da realidade, sem ter certeza de que os outros tivessem a
mesma idéia? Imagine, por exemplo, dois jogadores de xadrez disputando um
partida, ou dois engenheiros tendo conclusões diferentes sobre o resultado da soma de 2+2? Que confusão haveria!"
A confusão de nosso dias, advém exatamente da idéia de que cada um tem a sua verdade!
Essa idéia, bem espalhada em nosso tempo, torna o século XX parecido a um hospício, pois é nos manicômios que cada um pensa o que quer de cada coisa! Cada um vive uma realidade diferente! Eu não tenho fé que estou usando meu computador: sei que o estou usando! Eu não tenho Fé que o quadrado da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos catetos. Eu compreendo essa verdade pela minha razão natural. Eu não tenho Fé que Deus existe. Eu sei que Ele existe pelo uso de minha razão, porque a existência de Deus se prova racionalmente, e , então, sua existência não é de Fé, e isto está nas escrituras e na doutrina Católica (conforme Romanos 1, 19-21).
Fé, nós temos somente nas verdades que Deus nos revelou e que nossa razão não pode compreender!
Assim, temos Fé que em Deus há três pessoas
iguais e distintas, porque Nosso Senhor Jesus Cristo, Deus e Homem verdadeiro,
nos revelou isso (conforme Mateus 28,19-20). E sendo Deus, Ele não pode se enganar e nem nos enganar! Por
isso cremos no que Ele nos revelou. E cremos com certeza absoluta!
Alguem ainda pode dizer que: "crer em
si mesmo, em Deus, ou em satanás, e que isto seria apenas questão de escolha..."
-Ora, quem cresse em si mesmo de forma absoluta, como se crer em Deus, seria um louco, porque eu conheço a mim mesmo, e por isso, não posso crer de forma absoluta em mim. Ademais, cada um sabe que não compreende tudo, e por isso, um homem que tivesse "fé" absoluta em si mesmo, seria um louco!
-Crer em satanás seria outra loucura! Como crer de forma absoluta no pai da mentira?
Qual a diferença entre ética, norma, valor, e moral?
-A moral prevê certo e errado; a ética prevê bem e mal.
-A moral é uma conduta específica e normativa; valores éticos são princípios, frutos de reflexão sobre ações e normas de conduta.
-Norma é cultural e temporal; valor é universal e atemporal.
-A norma é a conduta de um determinado valor; o valor justifica a existência de uma norma.
Conclusão: comparar-se para crescer, não para competir
A comparação, quando compreendida em sua dimensão mais profunda, não é um vício, mas um exercício de discernimento. É por meio dela que o ser humano se conhece, amadurece e orienta suas escolhas. O problema não está em comparar, mas em como e por que comparamos.
Quando usada com humildade, a comparação torna-se ferramenta de crescimento: inspira, educa e conduz à virtude. Ao observarmos o bem no outro, somos chamados a imitá-lo; ao reconhecer nossos limites, somos convidados à conversão. Assim, a comparação ilumina o caminho da prudência — virtude que nos ensina a escolher o bem e evitar o mal.
Mas quando a comparação é movida pela soberba, pela inveja ou pela busca incessante por validação, ela se torna uma prisão interior. Quem vive se medindo pelos outros nunca encontra paz, porque seu valor depende de uma régua que está sempre fora de si. A pessoa passa a competir, não a crescer; a invejar, não a aprender. E desse veneno nascem a frustração, a ansiedade e a infelicidade.O Evangelho e a sabedoria cristã nos lembram que o verdadeiro parâmetro de comparação não é o sucesso, a aparência ou o prestígio dos outros, mas Cristo — o modelo perfeito de humanidade e santidade. É diante d’Ele que o coração encontra o seu verdadeiro espelho.Assim, comparar-se à luz de Cristo não gera inveja, mas esperança; não produz vaidade, mas arrependimento; não alimenta rivalidade, mas amor. É a comparação que nos eleva e purifica, porque nos recorda o ideal divino que habita em nós e nos chama a ser melhores a cada dia.Por isso, não temamos comparar — desde que a comparação nos leve à verdade, à humildade e à superação de nós mesmos. O cristão maduro não vive de medir-se contra o outro, mas de medir-se diante de Deus. E quando o olhar se volta para Ele, toda comparação se transforma em convite à santidade.
“Sede, pois, perfeitos, como vosso Pai celeste é perfeito.” (Mateus 5,48)
Comparar-se, portanto, é parte da caminhada espiritual — não para competir, mas para crescer; não para julgar, mas para discernir; não para diminuir o outro, mas para tornar-se a melhor versão de si mesmo diante de Deus.
*Francisco José Barros
Araújo – Bacharel em Teologia pela Faculdade Católica do RN, conforme diploma
Nº 31.636 do Processo Nº 003/17
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-CIAVATTA FRANCO, María A., Estudios comparados en educación en América Latina. Una discusión teórico metodológica a partir de la cuestión del otro, em CIAVATTA FRANCO, María (org.), Estudios comparados en educación en América Latina, Libros del Quirquincho, Buenos Aires, 1992.
-GOERGEN, Pedro, Educação comparada: uma disciplina atual ou obsoleta? Em Pro-posições, vol. 2, nº 3 (6), Campinas, UNICAMP, Cortez Ed., 1991.
-LIPJHART, Arend, A política comparativa e o método comparativo, em Revista Ciência Política, 18(4): 3-19, Rio de Janeiro, out./dez. 1975.
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