Ludwig Wittgenstein só escreveu um livro! Mas foi o suficiente para impactar todas as ciências! Hoje em dia, ele é considerado um
dos filósofos mais influentes do século XX. Ainda que seu pensamento tenha
ganhado muito destaque, sua vida pessoal não é menos impressionante. As
vivências e voltas que o filósofo deu, muitas vezes assustadoras, formam um
conteúdo necessário para compreender melhor o seu pensamento. Esse filósofo nascido em Viena, e
posteriormente nacionalizado britânico, também era matemático, linguista, lógico
e jardineiro. Ele foi discípulo de Bertrand Russel na Universidade de
Cambridge, onde também atuou como professor. Sua grande
obra Tractatus logico-philosophicus teve uma enorme repercussão. No
entanto, em suas publicações posteriores, como Os cadernos azul e marrom e
Investigações filosóficas, ambas póstumas, como todo gênio que sabe fazer uma
autocrítica, ele criticou duramente o seu primeiro trabalho.
Wittgenstein era o mais
jovem de nove irmãos, nascido em uma das famílias mais ricas do império. Ele
cresceu em um lar que lhe proporcionou um ambiente excepcionalmente intenso
para a realização artística e intelectual. Dessa forma, a casa dos
Wittgenstein atraía gente culta, especialmente músicos. Isso contribuiu muito
para que Ludwig desenvolvesse suas habilidades musicais. Wittgenstein estudou na escola
secundária de Linz, onde, naquela época, também estudava Adolf Hitler. Ainda
que isso não tenha sido comprovado, existe uma teoria que defende que Hitler
menciona Wittgenstein em seu livro Mein Kampf. Mais especificamente, ele
escreve sobre um menino judeu que não lhe era confiável. Algumas hipóteses
indicam que este seria o início do antissemitismo de Hitler. Apesar de
sua alma mater sempre ter sido a filosofia, Wittgenstein começou estudando
engenharia aeronáutica. Inclusive, ele chegou a apresentar a patente de um
motor, que posteriormente seria usada como base para os futuros motores dos
helicópteros. Apesar disso, quando ele estava na Inglaterra, começou a se
interessar pela filosofia da matemática. Após a morte de seu pai, Ludwig
Wittgenstein renunciou à sua herança e foi viver na Noruega. Lá, ele construiu
uma cabana para viver isolado. Passou um ano até que começou a Primeira Guerra
Mundial, quando ele se alistou para a artilharia austríaca. Depois de quatro
anos, ele foi capturado pelo exército italiano. Sua estadia na prisão teve a
duração de um ano e, quando foi libertado no fim da guerra, ele voltou para
Viena para finalizar sua tese com Bertrand Russell.Seu
interesse pela filosofia o levou a conhecer Bertrand Russell, um dos filósofos
mais famosos da época. Russell orientou seus estudos, ainda que ambos tenham
mantido uma relação conturbada. No início dessa relação, Wittgenstein perguntou
a Russell se ele era um idiota ou não. Porque se fosse um idiota, seguiria
fazendo o que fazia, engenharia aeronáutica, mas se não fosse, se dedicaria à
filosofia. Russell pediu a ele que escrevesse algo e, quando o leu, disse:
“Você não deve se dedicar à engenharia aeronáutica”.
Sua obra: “Tractatus logico-philosophicus”
O Tractatus Lógico
Philosophicus foi sua grande obra. Nela, ele explicou, de forma detalhada, sua
visão de mundo e das coisas que existem nele. Além disso, ele também
analisou os problemas de linguagem e da lógica, e defendia que os limites do
mundo são definidos pelos limites da linguagem.
No entanto, Wittgenstein foi muito polêmico!
Dizem que depois que
Russell e Moore, dois dos lógicos mais importantes, o felicitaram por sua obra,
ele lhes deu um tapa nas costas dizendo: “Vocês não entendem, e nem poderiam entender
nada”. Sua personalidade se manteve no tempo. Ele inclusive jogou um
acessório de lareira em Karl Popper em uma conferência.
Investigações filosóficas
Posteriormente, Ludwig
Wittgenstein passou vários anos dando aulas em colégios até que
se retirou para um monastério, onde trabalhou como jardineiro. Depois de 5 anos, ele voltou a se interessar pela
filosofia após conhecer Moritz Schlick. Como consequência, retomou
seu trabalho no Tractatus, o qual ele considerava inacabado, começou a dar aulas na universidade e escreveu o
Investigações Filosóficas. Em
Investigações Filosóficas ele deu a entender que a filosofia não era uma
teoria, mas sim uma atividade constante. Além disso, ele se retratou do escrito
em Tractatus, já que mudou sua visão de mundo e expôs novos problemas sobre os
jogos da linguagem. Essa obra marcaria o seio da filosofia da linguagem,
chegando até os dias de hoje.Finalmente, quando
começou a Segunda Guerra Mundial, ele colaborou como enfermeiro para tentar ir
para a União Soviética. No entanto, desistiu pois lhe foi permitido apenas ser
professor, e ele desejava trabalhar com obras. Mais tarde, ele renunciou ao seu
cargo na universidade, se mudou para a Irlanda e depois foi para Londres, onde
faleceu de câncer de próstata.Seu único livro,
Tratado Lógico-Filosófico, de 1921, se tornou um dos principais textos da
história da filosofia e impactou todas as ciências ao impulsionar o movimento
conhecido como positivismo lógico.O austríaco escreveu o livro enquanto era
soldado, durante a 1ª Guerra. Nas 70 páginas de sua obra, empenha-se em
definir os limites da linguagem e, consequentemente, de todo o pensamento. Ao
concluí-lo, julgou ter resolvido todos os problemas da filosofia. Por
considerar que não tinha nada mais a aportar à disciplina, resolveu se dedicar
a outras atividades. Passados alguns anos, porém, começou a rever seu próprio
pensamento, tornando-se um de seus principais críticos. Foi então que voltou a
Cambridge, onde lecionou de 1929 a 1939.
O filósofo austríaco Ludwig Wittgenstein (1889-1951) faz da
linguagem uma abordagem lógica!
As suas ideias
desenvolvidas no Tratado foram usadas pelos filósofos do Circulo de Viena e desembocaram no positivismo lógico. Para
Wittgenstein, a Linguagem é composta por "proposições", em particular
por proposições
que constituem frases declarativas sobre coisas e que, como tal, possuem valor
de verdade, isto é, podem ser verdadeiras ou falsas. Paralelamente, o Mundo é composto por
"factos", por coisas que são de um certo modo. Assim sendo, segundo
Wittgenstein as proposições são "quadros ou fotografias de fatos", do
mesmo modo que os mapas são quadros representativos do mundo.Qualquer proposição que
não represente fatos é uma proposição sem sentido. Por conseguinte, a minha
linguagem é limitada às declarações sobre fatos do mundo e os limites da minha
linguagem são os limites do meu mundo.Um
dos muitos aforismos famosos que foram extraídos do Tractatus
Logico-Philosophicus de Wittgenstein é: “Os limites da minha linguagem são os
limites do meu mundo” (Seção 5.6). Como muito no Tractatus, este aforismo
gnômico convida à interpretação e nunca pode ser esgotado.Uma maneira de
interpretar esse Wittgensteinismo de maneira muito ampla seria pensar nele como
os limites do meu idioma são os limites do meu mundo, com o “idioma”
interpretado amplamente para incluir qualquer maneira de falar sobre o mundo e
não apenas uma linguagem particular.
Se você é de uma persuasão continental,
pode dizer que os limites do meu discurso são os limites do meu mundo. Isso equivale
praticamente à mesma coisa:
a)-Teorias particulares sobre o mundo são expressões
idiomáticas para falar sobre o mundo, formas de discurso, se você quiser.
b)-Teorias científicas são expressões científicas para falar
sobre o mundo. Agora, as teorias científicas frequentemente ampliam nossos
horizontes e nos permitem ver e entender coisas que antes não sabíamos. Mas
uma teoria científica, sendo um idioma particular como é, também pode nos
limitar e limitar a maneira como vemos o mundo.
As limitações que
tomamos sobre nós mesmos, pensando em termos de teorias particulares ou falando
de maneiras particulares, são limites humanos que escolhemos para nós mesmos;
elas não são limitações intrínsecas impostas a nós pelo mundo, e isso, é claro,
é algo que Wittgenstein queria conduzir a nossa atenção explícita. Frequentemente
confundimos os idiomas que empregamos e as maneiras particulares pelas quais
entendemos esses idiomas para constituir a própria estrutura do mundo. Quando,
nesse estado de espírito, reivindicamos nossas teorias que não são apoiadas
pelas próprias teorias, mas refletimos nossa compreensão particular e limitada
de assuntos muito difíceis, percebemos então nossas limitações.Como vemos na biografia
de Ludwig Wittgenstein, ele foi uma pessoa controversa durante toda a sua vida.
Até hoje existem disputas tentando concluir se ele era um gênio ou um louco. O
certo é que tanto sua obra quanto sua vida não deixam ninguém indiferente.
A importância
da Literatura
[1] “O domínio da língua e da literatura é a
condição prévia para TODOS os estudos superiores, inclusive os estudos da área
cientifica. Se você não tem a sensibilidade literária suficientemente aguçada,
dificilmente entenderá o que quer que seja.”
[2] “Conselho urgente: Pare de ler livros em
inglês por algum tempo e leia tudo o que puder da melhor literatura em
português. Depois leia o que puder em línguas aparentadas ao português:
francês, italiano, espanhol. Sem um agudo senso da linguagem literária, você
nunca vai entender em profundidade nada do que lê, por mais que estude
filosofia, ciências sociais, direito ou o que quer que seja. Nenhum
filósofo jamais escreveu uma só linha que fosse para um público sem cultura
literária ou treinado somente em academês vulgar. E ninguém jamais
adquiriu sensibilidade literária lendo predominantemente livros escritos numa
língua muito diferente da sua própria.”
[3] “Quem não consegue interpretar uma obra de
literatura corretamente não conseguirá jamais entender os fatos da história e
da sociedade, ou mesmo os da sua própria vida. A cultura literária é a
condição mais básica do entendimento. Mas estou com o saco cheio de ver pessoas
que não sabem ler “Batatinha quando nasce” interpretando nada menos que a
Bíblia.”
[4] “Pessoas que escrevem mal percebem mal,
retêm mal, e com a maior facilidade se enganam a si mesmas quanto às suas
intenções simplesmente trocando os nomes dos sentimentos que as movem.
A literatura e o conhecimento da alma humana sempre andaram juntos. Ninguém
pode apreender nuances e sutilezas da vida emocional com uma linguagem tosca,
mesmo que gramaticalmente correta.”
[5] “A imaginação tem que ser treinada para
ela se tornar um instrumento de compreensão da Realidade e não uma atividade
ociosa que vai fazer você ficar especulando sobre coisas que não vão acontecer
jamais, que não têm a menor possibilidade e que são somente um jogo. A Grande Literatura do mundo contém um material que, para o
estudante de Filosofia, é absolutamente precioso. A Literatura é uma maneira de
você amadurecer na sua visão da Realidade. Claro que, pelos
processos atuais de ensino da Literatura nas universidades, a experiência
imaginativa pode se tornar totalmente impossível. Impossível. Porque, vamos dizer, quando você lê Dostoievski, Tolstoi,
Shakespeare, você está tendo acesso ao que essas grandes mentalidades
conceberam sobre as possibilidades da vida humana. Agora, se
você começa a encarar aquilo apenas como estrutura textual, começa a encarar
aquilo sob o ponto de vista estruturalista ou desconstrucionista etc., o
elemento de experiência sumiu. Então aquilo não é mais um espelho da vida.”
[6] ”A literatura não é
compreensão das ciências, nem da sociedade, nem de nenhuma coisa em particular,
mas simplesmente experiência acumulada e narrada da vida. É
assim porque em nossa individualidade não podemos viver todas as experiências. Noventa
e nove por cento das nossas experiências são experiências acumuladas dos
outros, que nós ouvimos falar, que nós lemos. E a literatura é o
núcleo, é o que tem de melhor sobre a experiência humana. São aspectos
altamente significativos da experiência humana condensados em símbolos e que
você toma como se fossem pílulas. A literatura de ficção é isto: a aquisição
de experiências humanas e dos meios de simbolizá-las, de narrá-las, pois ter a
experiência apenas não basta. Nós precisamos narrar a experiência não apenas
para os outros, mas também para que a experiência torne-se pensável para nós,
com o objetivo de dominá-la intelectualmente. O indivíduo que leu dez,
vinte, cem, mil narrativas ficcionais como romances, peças de teatro etc narrará as suas experiências para os outros e para ele mesmo
de um modo muito mais claro e direto. Por
outro lado, uma pessoa inculta não sabe narrar precisamente as suas
experiências. A pessoa inculta toma a sua história e a reduz
a uma história parecida e mais simples, mas nunca a toma com a devida precisão.
É por isso que quanto mais inculta é a pessoa mais letais são para ela os
problemas psicológicos. Dramas que um homem
culto consideraria como ridículos levam um homem inculto ao suicídio. Por
que os crimes passionais são em muito maior número nas classes incultas? Porque essas pessoas não sabem lidar com o problema, não
possuem meios de elaborar intelectualmente o drama. Nem elas e nem o seu meio
social. Então tudo vira tragédia”.
[7] “Cultura pessoal
não é você ler um monte de livros, não é ser capaz de falar sobre arte, sobre
filosofia, sobre história, etc., mas é você ter um
conjunto de equipamentos que permita a você olhar a situação real, tanto a
situação pessoal quanto a da comunidade imediata, quanto a de um
país, quanto a do mundo inteiro com uma multiplicidade de perspectivas que
validem a sua visão perante a consciência de outras épocas e de outras
civilizações.”
[8] “Cultura literária
não é ler muitas obras de literatura. É absorver delas, e incorporar na nossa
própria alma as inumeráveis superfícies refletoras com que, pela imaginação de muitas vidas possíveis, elas nos ajudam a
perceber e compreender a alma alheia. Quem não quer fazer o esforço para
adquirir essa capacidade não tem NENHUM interesse em compreender o seu próximo, e toda a sua presunção de “amá-lo” é pura pose.”
[9] “A aquisição da
alta cultura é o único meio que você tem para ter uma conduta moral que preste.
Fora disso, você está no mundo da irresponsabilidade moral.
Por exemplo, existe um escritor inglês Frank Raymond Leavis, que dedicou sua
vida a mostrar para as pessoas que a literatura de ficção é uma meditação sobre
as possibilidades da vida moral humana. Na medida em que concebe enredos e situações
possíveis, você está pesando um nível de responsabilidade moral que está
presente na infinidade das situações humanas mais particulares e até
indescritíveis. Ora, São Tomás de
Aquino dizia que o «grande problema da moral é que a regra é a mesma, mas as
situações são infinitamente variadas». Então,
você não sabe como entender a regra geral em relação a cada situação. Ao mesmo
tempo, você não pode viver todas as situações humanas, mas pode imaginá-las.
Você pode ampliar o seu imaginário até ser capaz de compreender as situações
humanas, as mais diferentes possíveis, e as mais afastadas da sua experiência
imediata. Como é que nós fazemos isso? Por imaginação e pela literatura de
ficção. Sem isso você simplesmente não compreende as situações. Não compreende
a delicadeza e a subtileza das situações. Se você não compreende a delicadeza e a
subtileza das situações, você vai julgar os seres humanos mediante uma projeção
ingênua da sua própria pessoa sobre eles, sem entender exatamente o que está se
passando com eles. Vivenciar imaginativamente as mais variadas
possibilidades de vida humanas, de situações humanas, de dramas humanos, de
conflitos humanos, é o aprimoramento da sua imaginação moral, e não há outro
instrumento para isso. Portanto, a grande
literatura tem uma função eminentemente educativa e, pior: só ela tem essa
função educativa. O simples raciocínio lógico, moral, não serve para isso.
Mesmo as obras de filosofia moral e de teologia moral mais sublimes que
existem, não servem para isso; por exemplo, uma grande obra-prima como a
“Teologia Moral” de Santo Afonso de Ligório, são oito volumes onde ele vai
estudando as mais diferentes situações. Santo Afonso de Ligório era bastante
detalhado, mas em comparação com a variedade real das situações humanas, aquilo
é nada. Ou seja: o pensamento lógico jamais poderia abranger a totalidade da
situações, é necessário uma imaginação poderosa, porque através da imaginação
você se identifica com os outros.Porém, o tempo que eu vejo as
pessoas perdendo, fazendo julgamentos morais sobre coisas que não entendem, é
um negócio terrível. Então, por que em vez de fazer julgamentos morais, se tem
tanto interesse em moralidade, você não tenta ampliar a sua percepção moral
através da leitura ds grandes obras de literatura? Não há
uma grande narrativa, romance, conto, novela, peça de teatro que não seja
baseada num conflito moral. Pelo número de romances, contos,
novelas e peças de teatro existentes, você imagina o número de conflitos morais
diferentes que podem existir.Você tem a
solução de todos eles na cabeça? Não.”
[10] “Cada personagem,
cada situação ficcional, cada emoção, cada ambigüidade e cada paradoxo da
narrativa tem de se impregnar na sua mente como possibilidade humana concreta,
reconhecivel na vida real — na sua própria e na das pessoas que você conhece. Tem
de se transformar num ÓRGÃO DE PERCEPÇÃO.Só assim a leitura literária vale a pena e tem verdadeiro
poder educativo. Faça isso com obras da literatura dos dois últimos séculos
durante alguns anos, e depois você lerá a Bíblia com olhos mais penetrantes.É
preciso evitar, naquelas, todo tecnicismo acadêmico e, nesta, toda especulação
teológica. Não ‘analise’ o texto, apenas guarde os conteúdos na memória até que
eles próprios comecem a lhe mostrar o que desejam lhe mostrar.Análises técnicas
e especulações teológicas, só muitos anos depois de ter assimilado muitos
textos dessa maneira. Antes, não.Leia tudo como se fosse narrativa de acontecimentos reais, sentindo
intensamente a presença das situações, personagens, conflitos, etc. Acredite em
tudo como se estivesse vendo com os próprios olhos ou vivenciando você mesmo as
situações.Com essa prática, aos poucos as histórias da Bíblia se tornarão tão
transparentes para você como se fossem notícias de hoje em dia, sem que você
precise “interpretá-las”.
[11]
É preciso ler a Bíblia sem a carga de lições morais e teológicas que geralmente
antecedem e deformam a sua leitura. É preciso lê-la como se você estivesse
VENDO tudo se passar diante dos seus olhos ou mesmo sentindo na carne como se
você fosse um dos personagens. Mas você não conseguirá fazer isso com a Bíblia
se antes não fizer o mesmo com MUITAS histórias da literatura simplesmente
humana.Tem muita gente que discute Bíblia o dia inteiro e até hoje não entendeu
isso.”
Por que o sujeito
que estuda muita literatura é um "homem culto" e o homem que estuda muita
física, muita matemática (ou quaisquer outras disciplinas especializadas) não
é? ter muita inteligência, não significa ter vasta cultura!
1)-Em primeiro lugar, todas as descobertas
científicas se refletem na literatura de algum modo. Então, o sujeito que lê
bastante literatura, algo ele sabe da teoria da relatividade, da teoria
quântica e da influência da física na sociedade. Contudo,
nada da literatura universal está referido nos livros de física. Assim, lendo literatura ele saberá algo de física, mas lendo física ele
não conhecerá a literatura. Essa é a primeira observação de
ordem mais prática e imediata.
2)-Em segundo lugar, a literatura usa a
linguagem corrente entre as pessoas. Ela procura repetir o estado da linguagem
na sociedade. A linguagem que é utilizada pelo escritor é a linguagem da própria
sociedade, ao passo que a linguagem da física não é a
linguagem da sociedade, é somente a linguagem dos físicos. Isso quer dizer que o homem que absorveu cultura
literária tem os instrumentos linguísticos para dialogar com a sociedade. A
literatura lhe dá isso! Mas o estudo da física, da química, não vai lhe dar
isso de maneira alguma.
3)-Em terceiro lugar, os assuntos abordados
pela literatura são assuntos de interesse geral: a vida humana, o destino
humano, os dramas humanos. Todo mundo tem vida,
destino e dramas, incluindo os físicos. Ao passo que os problemas abordados
pelos físicos, ainda que estejam presentes na sociedade, não fazem
necessariamente parte da consciência das pessoas. O teu desconhecimento acerca das partículas
subatômicas não afetará fundamentalmente as tuas decisões na vida. Mas
problemas referentes ao amor, à morte, ao ódio, à tristeza, ao casamento, às
relações humanas todo mundo tem. Então de cara o assunto do qual a literatura
trata é a vida de todo mundo, e não a vida de um grupo especializado.
4)-Em quarto lugar,
repare no seguinte: alguma forma de literatura narrativa é encontrada em todas
as culturas, mesmo nas mais primitivas. Ao passo que outros departamentos do
conhecimento, como, digamos, uma técnica matemática mais avançada, são
encontrados somente em algumas. Mas a cultura narrativa é onipresente. E, sendo
onipresente, nós podemos dizer que ela é a primeira e mais básica forma de
cultura”.
[13] "Na leitura de um
romance ou de uma peça o negócio é você tentar primeiro estabelecer comunicação
com o autor.
O resto vem depois. Mas os convites para você desviar a atenção do essencial
são inúmeros. Porque como você está lidando com uma história que é uma
especulação sobre as possibilidades da vida humana, o autor dessa história,
pensando bem, está falando de uma coisa muito grave e que diz respeito a você.
É o famoso adágio latino ‘De te fabula narratur’, ou seja, a história contada é
a sua. Para entender isso você precisa estar num estado de abertura do próprio
coração, numa abertura de sinceridade. Acontece que essa atitude cria uma
tensão, um nervosismo. E você pode tentar aliviar essa tensão baixando a
qualidade da sua atenção para os aspectos lógicos ou verbais da narrativa para
você sentir que saiu da história, que ela não é mais a seu respeito. Você corta
o fio que te liga à situação real. Daí é evidente que você não está entendendo
mais nada. A contradição e a
tensão são as marcas do personagem real. E se são as marcas do personagem real,
quer dizer que a atitude do leitor também precisa ser de tensão. Essa tensão será a
marca da consciência. E o estudo literário ou é um treinamento da consciência,
para que ela seja capaz de abarcar uma extensão cada vez maior e mais complexa
de dados, ou é uma brincadeira universitária. Isto que eu estou dizendo está a
tantas léguas da preocupação de qualquer ensino universitário no Brasil que eu
nem sei se entenderiam do que eu estou falando. Isto que até os anos 60-70
seria facilmente compreendido em qualquer meio universitário, hoje não dá mais.
Claro que os estudos que não implicam tensão de consciência mas apenas QI podem
ser feitos por qualquer pessoa independentemente do seu grau de consciência e
maturidade. Porque habilidades parciais são uma coisa e
consistência da personalidade é outra. Mas a verdadeira educação visa ao
indivíduo real enquanto sujeito de seus atos, moralmente responsável e
eventualmente culpado. Então não
há educação possível sem a ideia da responsabilidade e da culpa, e sem essa
tensão de consciência da qual estou falando”.
Fonte: Trechos sobre a
importância da Literatura por Olavo de Carvalho
CONCLUSÃO
Narrativas ficcionais
exigem muito mais da memória, por que preciso envolver uma série maior de
elementos no processo da compreensão. Esses bons leitores, ou seja, aqueles(as)
que não se restringem a leitura apenas especializadas, serão melhores
compreendedores de si mesmos, do outro e da realidade circundante, muito mais
do que o leitor ou compreendedor especializado em apenas uma área (Matemática,
física, química, etc).Não se pode educar uma pessoa para a complexa tarefa da
compreensão, apenas com literatura científica, isto é simplesmente impossível,
sendo muito fácil de entender o porque. Ora, o texto científico tem correspondência bionívoca,
ou seja, tem um significado referente e especificamente a...tem um vocabulário
estabilizado, com significados uniformes e permanentes. A linguagem e apreensão
do nosso cotidiano não é assim, pois temos a sutileza, a mudança de
significados conforme o contexto. É justamente neste tipo de compreensão mais
ampla que temos que treinar. Se a pessoa só ler literatura científica e
especializada, você vai ser ou tornar-se um analfabeto funcional para sempre,
ou até que mude e amplie a sua leitura fora da sua especificidade. A
ciência é difícil?sim! Não é para todos, mas a sua linguagem é bem mais simples
que a linguagem corrente ou dos Clássicos, porque a linguagem científica é
sempre de correspondência bionívoca, ou seja, uniforme, convencional, ou seja,
tem sempre o mesmo significado e um sentido só, é estabilizada e igual pra
todos, portanto, não se pode aumentar sua capacidade de compreensão de si o do
mundo com uma linguagem desta. Porém, quando você você se determina a
ler Shakespeare
ou Balzac, a nossa mente faz um exercício
maior, pois cada linha, palavra, pagina e capitulo mudam constantemente. Esta
variedade de intenções e circunstâncias é que nos possibilita verdadeiramente aumentar
nossa capacidade de ler e compreender o mundo. A imaginação é como um projetor,
quando lemos algo ela tenta projetar da forma mais nítida possível para nossa
compreensão, e quanto mais nítida é a imagem, melhor nossa capacidade de
compreensão. A literatura variada exercita a musculatura deste projetor e da
nossa compreensão, estimulando nossa memória e treinando-a para várias circunstâncias.
Os grandes clássicos estreitam esta relação entre a linguagem e nossa
compreensão aprimorando nossas virtudes e competências, por isto realmente:
"Quanto
mais eu sei, mais eu sou!"
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