A teologia retributiva
diz que todo sofrimento é resultado de algum pecado. Elifaz, Bildade e Zofar,
os amigos de Jó, enquanto se assentaram calados estavam corretos. Mas, quando
começaram a falar afirmaram erroneamente: Se Jó sofre, é porque cometeu algum
pecado grave.
Alguém disse que os amigos de Jó estavam “mais preocupados em salvar a
doutrina da retribuição do que em sofrer junto com Jó”.
Entretanto, quando
Deus responde, ele não o faz para explicar a razão do sofrimento, mas onde
nossa esperança deve descansar em meio ao sofrimento.No texto base da
meditação, Jó amadurecido diante das respostas de Deus, faz afirmações que
podem abrilhantar a nossa fé e nos aproximar daquele em quem podemos descansar
nossos anseios e sofrimentos:
A Soberania de Deus (vs.2-3)
Primeiramente Jó
afirma a soberania divina, mesmo sem compreender seu agir. Ele diz no v.2:
“Sei que podes fazer todas as coisas; nenhum dos teus planos pode ser
frustrado.”
A palavra ‘sei’ no
original significa ‘compreender’. Assim Jó entende que ele não compreendeu.Isso
porque no v.3, lemos:
“Quem é esse que obscurece o meu conselho sem conhecimento? Certo é que
falei de coisas que eu não entendia, coisas tão maravilhosas que eu não poderia
saber.”
Frente à grandiosa
soberania divina, Jó apresenta sua incompetência de compreensão. O final do v.3
poderia até ser traduzido assim:
“Eu não entendia aquele que faz maravilhas diante de mim, e não
compreenderei jamais a sua lógica...”
O Conselho de Deus (v.4)
Agora, Jó afirma estar
pronto não mais para perguntar, mas para aprender. No v.4, Jó cita as palavras de
Deus para ele: “Agora escute, e eu falarei; vou fazer-lhe perguntas, e você me
responderá.”Jó jogou fora o espírito inquiridor, que falava e
perguntava coisas sem sentido, e o substituiu por um coração quebrantado, disposto
a ser ensinado pelo Senhor.Por mais que o caminho no qual trilhamos seja
obscuro, e de imediato não consigamos ver o seu fim, precisamos nos apegar nas
mãos do nosso Pai, e confiar na direção Dele, tal qual uma criança que confia
piamente na segurança das mãos de seus pais.
A manifestação de Deus (v.5)
Jó afirma ter uma
nova percepção de Deus. Quando estava nas cinzas, Jó desejou ver Deus (Jó 19,25-26).
Entretanto, agora ele pode dizer com segurança no v.5:
“Meus ouvidos já tinham ouvido a teu respeito, mas agora os meus olhos
te viram...”Veja que Jó não precisou receber tudo de volta para enxergar a
manifestação de Deus. Ele ainda estava nas cinzas, mas seus olhos viam a Deus.
Sua restauração só aconteceria depois (Jó 42,10-17). Ele ainda sentia a dor
física; suas feridas ainda estavam abertas. Ele ainda estava abandonado por
seus amigos e sofria a discriminação de pessoas que feriam seu emocional. Mesmo
assim, ele pôde dizer: agora eu vejo a Deus! Não devemos esperar a reabilitação
para sentirmos a manifestação de Deus em nossas vidas. Deus está conosco em
meio ao sofrimento.
A graça de Deus (v.6)
Finalmente, Jó afirma
estar arrependido: “Por isso menosprezo a mim mesmo e me arrependo no pó e na cinza.”
(v.6).É importante entender que Jó não se arrependeu de nenhum pecado,
mas abandonou seu juramento firme de inocência, parou de advogar em causa
própria contra Deus. Agora já não são mais dois oponentes. Jó se afasta da
beira da arrogância. A reconciliação está a caminho.É evidente que a graça
conforme Jesus manifestaria em sua vinda estava muito longe de acontecer.
Porém, foi a graça de Deus que acompanhou Jó durante sua história e é a mesma
graça que quer nos conduzir a um relacionamento íntimo com o Senhor, despido de
qualquer interesse nosso para com Ele.
Deus ou investimento de renda fixa?
Ultimamente, tenho
ficado impressionada com uma certa atitude conhecida por alguns como “teoria”
ou mesmo “teologia retributiva” no relacionamento com Deus, também entre os
católicos. A cada pregação, nos mais diversos locais do Brasil – nos
outros países não sinto tão forte este fenômeno – alguém apresenta, de uma
forma ou de outra, a seguinte pergunta: “Mas porque aconteceu isso comigo se eu
procuro fazer tudo o que Deus quer?” e, a seguir, descreve como vai à
missa e reza o terço diariamente, como socorre os pobres, como vai regularmente
às reuniões da paróquia, como se confessa uma vez por mês, etc.
Outros, que
enfrentam, como a quase totalidade dos brasileiros, desafios financeiros,
colocam as coisas mais claramente:
“Mas, porque é que eu estou com dificuldades se eu sou fiel ao dízimo
todos os meses? A Bíblia não promete que se eu for fiel ao tributo do templo
Deus vai ser fiel a mim?”
Há ainda aqueles que,
servindo a Deus com alegria e fidelidade na paróquia, grupos, encontros,
comunidades, espantam-se e sentem-se inseguros quando morre um parente, a filha
solteira engravida, o filho entra na droga, o cônjuge adultera, os familiares
abandonam a Igreja:
“Mas eu cuidei das coisas de Deus confiando que ele cuidaria das minhas!
Como é que isso pode ter acontecido?” Ao grupo de decepcionados com as
“atitudes” de Deus, somam-se os que exclamam, ressentidos: “Mas eu entreguei
toda a minha vida a Deus! Consagrei-me a Ele! Por que Ele não me liberta deste
pecado? Por que ainda tenho este vício? Por que ainda convivo com esta fobia?
Por que continuo deprimido? O que me falta ainda dar a Deus? Você acha que é
minha pouca fé?”
Cada vez que ouço
algo parecido me vem uma lembrança e uma perplexidade. A lembrança é a de
Maria, aos pés da cruz de Jesus, sustentada pela caridade que a une ao Filho,
pela fé de que Deus é sempre amor e pela esperança da ressurreição que Ele
prometera.
A perplexidade refere-se ao tipo de formação que talvez alguns tenham
recebido. Terá ela sido verdadeiramente católica, ou traz resquícios da tal
teologia retributiva que reduz nosso relacionamento com Deus ao
“dai-e-dar-se-vos-á”, típico de algumas visões não católicas? Será que estamos
ensinando que tudo o que damos a Deus e o que “fazemos por Ele” tem como base
essencial a gratuidade do amor?
Será que estamos
ensinando que o amor é, por essência, gratuito e que, ao nos entregarmos a
Deus, ao servi-Lo, ao devolver o tributo, ao nos consagrarmos não temos nenhuma
garantia de que as coisas vão ser como queremos ou pensamos que seriam? Será
que deixamos claro que Deus, longe de ser um investimento de renda fixa, com
retorno garantido, é Amor que corre todos os riscos por nós? Será que ensinamos
que Deus não dá nenhuma garantia de retorno como nós pensamos que Ele deveria
dar?
Ou, talvez, estejamos ensinando – e crendo! – que, se eu der dinheiro à
paróquia Deus me dará o dobro; se eu servir à Igreja, Deus me servirá; se eu
fizer tudo “certinho” Deus vai fazer com que tudo dê “certo” comigo e com os
meus; se eu consagrar minha vida a Deus, tenho garantia de libertação e
santidade, em uma negociação infindável de fazer inveja ao título mais
promissor do mercado.
Ao olhar a vida dos
santos, de Maria e do próprio Jesus, qualquer um ficaria facilmente
desencantado com as ideias retributivas que empeçonham a mente de um católico,
impedindo-o de ter a mente de Cristo. Tome-se, por exemplo, São Paulo:
perseguições, apedrejamentos, naufrágios, falatórios, julgamentos, calúnias,
prisões e morte. São Pedro não será muito diferente! Nem Jesus. Nem Maria. Nem
Madre Teresa de Calcutá. Nem João Paulo II.
Alguém tem que voltar
a ensinar que o amor a Deus, para ser amor, precisa ser absolutamente gratuito,
sem nenhuma garantia de retorno. Pelo menos, não na nossa moeda, não na nossa
medida. O “dai e dar-se-vos-á”, a
“medida boa, cheia, recalcada, transbordante” são um outro câmbio, uma outra
moeda, a moeda do céu, que é sempre amor.
Pergunta para
reflexão: Diante deste revelação, como será agora sua oração diante de Deus e
de sua santíssima vontade? Como você agora ensinará aos seus mais próximos?
Maria Emmir Oquendo
Nogueira - Cofundadora da Comunidade Católica Shalom
FONTE:http://www.comshalom.org/deus-ou-investimento-de-renda-fixa/
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