*Rodrigo Constantino
A burguesia socialista não ama o pobre. A burguesia socialista ama a
pobreza do indivíduo. Deseja e cobra que o Estado e que a sociedade ofereçam
dignidade ao pobre, porém, não aceita que o indivíduo se liberte da pobreza e
se torne independente; repudia a possibilidade do pobre se tornar um agente
capitalista e acabar se tornando seu vizinho. Em sua perversão ideológica,
ignora que o desejo do pobre é fazer parte do sistema capitalista, ser patrão,
ficar rico para poder comprar o que quiser e na quantidade que desejar, viver
num bairro nobre e fazer compras em Miami.
O burguês socialista
adora viajar para as praias nordestinas onde a cerveja, a comida, a maconha e a
pousadinha na praia são quase de graça. Ele pode pagar muito mais por tudo o
que consome no paraíso, mas faz questão de pagar pouco. De vez em quando até dá
uma gorjeta, mas sempre em tom de esmola. O burguês socialista ama o povão, mas
fica feliz mesmo é com uma praia deserta, só para ele. O burguês socialista
passa uma ou duas semanas em alguma vila miseravelmente paradisíaca tecendo
longas poesias sobre a pobreza ao redor. “Quanta dignidade!”, não cansam de
exclamar. Sim… todos eles querem que aquele bichinho (o pobre) tenha um pouco
mais de conforto, um banheiro melhor, um posto de saúde melhor, uma escola
melhor, mas nada além disso. Asfaltamento da estrada que leva ao paraíso?
Nunca! A construção de uma fábrica? Jamais!!!! O burguês socialista não admite
que nada ameace acabar com pobreza daqueles que lhe servem tão bem de bucha de
canhão para suas elucubrações quixotescas, por tão pouco. Não quer saber das
dificuldades dos dias de chuva, quando estradas de terra são interditadas. Não
quer saber da falta de opções de trabalho. Não quer saber da baixa renda da
população. O burguês socialista quer ter a certeza de que todos os anos
encontrará aquela vila de pescadores do mesmo jeito, com sua economia resumida
à meia dúzia de quitandas, pousadas e botecos, com a metade da população
sobrevivendo à custa do governo e com a outra metade trabalhando duro para
oferecer peixe fresco e barato para os turistas.
O burguês socialista se posiciona contra a construção de resorts
simplesmente porque cada resort remete à sua própria vida burguesa,
burguesíssima! O quarto do hotel é igual ao seu quarto. Auge de uma aventura
entre os pobres: ser convidado por uma Dona Maria qualquer a tomar um cafezinho
em seu barraco, comendo aquela broa de milho que ele nunca compraria se fosse
vendida na padaria da rua onde mora.Apesar de gostarem mesmo é de gastar
dinheiro na Europa esnobe e liberal, o burguês socialista também vai, de vez em
quando, a paraísos de pobreza mais distantes como Bolívia e Índia, onde repetem
os mesmos suspiros de prazer diante da pobreza dos outros. Assim como muitos
muçulmanos sentem-se obrigados a ir a Meca pelo menos uma vez na vida, alguns
representantes da esquerda caviar vão à Cuba sentir os ares socialistas, mas
sempre voltam rapidinho para o conforto capitalista.
De volta a sua
cidade, o burguês socialista junta os amigos num bar bacana para esnobar o
quanto “se deu bem” nas férias. Saboreando maravilhosas cervejas importadas,
relembra das cervejas vagabundas que tomou junto com pobres num boteco. Para
comprovar, tira seu Iphone do bolso e mostra as fotos: o lugar lindo, as coisas
baratas e as pessoas… Pessoas humildes! O burguês socialista ama a humildade
alheia.
O burguês socialista
também ama a cultura popular, desde que seus artistas não se libertem da
pobreza. Sua perversão ideológica cobra que o artista popular passe a vida na
favela, morando no mesmo barraco, vestindo as mesmas roupas, pegando os mesmos
ônibus lotados. O burguês socialista ama o samba e odeia pagode. O burguês
socialista respeita o gosto do povo, menos seu interesse por novela, por
programa de auditório, por programa de fofoca e de comédia da… Rede Globo,
claro. “Artista vendido”, é como se refere a todos os artistas que permitem a
divulgação de seus trabalhos em programas de televisão. As exceções: artistas
que, mesmo sob os confortos e sob as mídias capitalistas, adotam discursos
socialistas e que manifestam apoio a partidos de esquerda.O burguês socialista
também apoia os movimentos de afirmação afrodescendente. Ele até transa com uma
ou outra neguinha de vez em quando, mas por puro fetiche. Sua masturbação
cotidiana é pelas eslavas dos sites pornôs americanos; e só se junta com
branquinhas, tão burguesas quanto, claro, ou alguém já viu algum burguês
socialista se casando com favelada e indo morar na favela?
A burguesia
socialista carioca é a que, de longe, melhor representa esse “amor” ao pobre.
Nascidos e criados ao nível do mar da zona sul do Rio de Janeiro, enxergam as
favelas penduradas nos morros ao redor como zoológicos. Cobram respeito ao
favelado assim como cobramos respeito aos animais. Cobram melhoria de vida para
os favelados, assim como cobramos melhores condições de cativeiro para os
macacos.
Agora, que algumas
comunidades têm seus imóveis valorizados por causa da implantação das UPPs, a
burguesia socialista carioca está preocupadíssima diante da possibilidade da “burguesiação”
do morro! Vejam que absurdo: Empresários capitalistas estão seduzindo os
humildes moradores das favelas a venderem seus imóveis para transformá-los em
pousadas para os gringos! “Não pode!”. Gritam. Aquela favela tem que ser
preservada em toda sua pobreza. Seus moradores não podem vender seus imóveis
para tentarem a vida noutro lugar. A cerveja, a maconha e a cocaína vão
disparar de preço! A roda de samba, antes apreciada apenas por moradores e pela
burguesia socialista, passará a contar com a presença de alemães, suecos,
franceses e até de americanos! As pousadas e os bares que os gringos pretendem
montar acabarão se parecendo, vejam só:com qualquer apartamento ou bar da zona
sul do Rio! Que absurdo!
A cretinice ganha
novos desenhos quando alguns urbanistas cobram políticas públicas que preservem
as favelas como favelas, a despeito do que viram na faculdade: que as cidades
são organismos mutáveis, que se constroem e se reconstroem sobre suas próprias
histórias, ou alguém acha que Paris surgiu linda e chique do dia para a noite,
após um estalar de dedos de um Deus bom vivant.
A verdade: Enquanto a
burguesia capitalista deseja que o indivíduo saia da pobreza para poder
consumir seus produtos e serviços, a burguesia socialista deseja que o
indivíduo permaneça pobre por toda a vida, assim lhe servindo como a principal
inspiração para suas elucubrações filosóficas.
*Economista pela PUC com MBA de Finanças pelo IBMEC, trabalhou por
vários anos no mercado financeiro. É autor de vários livros, entre eles o
best-seller “Esquerda Caviar” e a coletânea “Contra a maré vermelha”.
Contribuiu para veículos como Veja.com, jornal O Globo e Gazeta do Povo.
Preside o Conselho Deliberativo do Instituto Liberal.
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Texto fantástico, elucidou muito bem o que esses cretinos exercem na prática. Entre o discurso do burguês socialista e o que repousa em seu âmago existe um abismo.
Curtíssimo e verdadeiro.
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