O Início da Ordem do Templo
(Tradução de matéria
extraída de: http://www.osmtj.org/Secciones/Historia/orden.htm)
O início da Ordem do
Templo é incerto e não nos chegou suficiente documentação para determinar com
exatidão quando foi fundada a Ordem, como e quais são todos os seus fundadores.É
desconhecida a identidade de todos os cavaleiros que deram início à Ordem dos
Templários, embora entre seus fundadores se mencione Hugo de Paganis (figura
associada pela historiografia oficial a um nobre da Casa dos Condes de
Champanha, chamado Hugo de Payns), assim como o flamengo Godofridus de Sancto
Audemaro (conhecido por Godofredo de San Omer, da família dos Castellans de San
Omer em Flandres), Godofredo Bisol, Payen de Montdidier, Rossal e Archibaldo de
Saint-Amand. Uma carta do Rei Balduíno nos permite conhecer outros dois
cavaleiros cujos nomes são André e Gondemaro.
Em torno de 1.118 se
reuniram em Jerusalém para se consagrarem a serviço de Deus, como canônicos
juramentados, seguindo a regra de Santo Agostinho e fazendo ante o Patriarca
Gormondo os três votos comuns de obediência, pobreza e castidade, mais um
quarto voto de defender e preservar os Santos Lugares, assim como proteger os
peregrinos. O rei Balduíno II lhes cedeu a ala de seu palácio situado na antiga
mesquita de Al-Aqsa, no Monte do Templo, daí seu nome posterior, templários.
Não se sabe de quem partiu a idéia de organizar uma força armada para a
proteção e defesa dos peregrinos que chegavam à Terra Santa. No caso de que
Hugo de Paganis fosse como se disse Hugo de Payns, cabe pensar que chegara à
Terra Santa no ano de 1.114 em companhia do Conde de champanha. A ser assim, a
idéia de criar a Ordem do Templo teria partido diretamente dele, testemunho das
vexações e crimes que tinham que sofrer os peregrinos, ou melhor do próprio
conde de Champanha, que não teria podido encabeçar pessoalmente a fundação e
aprovação da Ordem por ter que regressar à Europa por pedido de sua esposa.
Diz-se também que a iniciativa partiu de do rei Baluíno, do Patriarca de
Jerusalém, de alguns dos companheiros de Hugo de Paganis, ou do jovem abade
cisterciense São Bernardo de Claraval.
Muito se tem
especulado sobre as atividades que teriam desenvolvido os primeiros templários
de 1118 a 1127. O certo é que durante esses nove anos os freires templários
conservaram o hábito secular, mas muito pouco se sabe do que fizeram nas ruínas
do Templo de Salomão e de suas atividades de proteção aos peregrinos na Terra
Santa.Quando finalmente os cavaleiros pediram a regra, o patriarca Esteban de
la Fierte pediu ao papa Honório II que se lha concedesse. Este deu a
responsabilidade do importante assunto a Bernardo, abade de Claraval, sobrinho
do templário fundador, André de Montbard.
Foi Godofredo de de
San Omer quem junto com outros cavaleiros templários acompanhou em 1128 Hugo de
Paganis, eleito primeiro Mestre da comunidade nascente, e ao patriarca de
Jerusalém ao concílio de Troyes, onde a Ordem do Templo receberia A Regra.A
partir desse momento começaram a receber incontáveis doações e petições de
ingresso de novos irmãos na Ordem. Isso levaria a que, em poucos anos, aqueles
pobres Soldados de Cristo, que iniciaram sua história residindo nas ruínas do
Templo de Salomão, fossem se convertendo paulatinamente na ordem militar mais
poderosa, rica e influente da Idade Média.
A Regra Primitiva dos Templários
(Trad. Monserrat
Robrenyo, Barcelona, 2000. Trad. Mrs. Judith Upton-Ward - Reimpressa com a
amável permissão do autor)
Esta tradução do
original, ou primitiva, Regra dos Templários está baseada na edição de 1886 de
Henri de Curzon, A Regra do Templo como Manual Militar, ou Como Desempenhar um
Posto de Cavalaria. Representa a Regra dada aos recém originados Cavaleiros do
Templo pelo Concílio de Troyes, 1129, embora "não se deva esquecer que a
Ordem já existia durante vários anos e desenvolvido suas próprias tradições e
costumes antes da aparição de Hugues de Payens no Concílio de Troyes. Portanto,
até certo ponto, a Regra Primitiva é baseada em práticas já existentes".(Upton-Ward,
p.11)Esta tradução é cópia da "A Regra dos Templários" de Judith
Upton-Ward, Woodbridge: The Boydell Press, 1992, e foi reeditada com sua
permissão. A Regra dos Templários inclui uma introdução de Upton-Ward; também a
Regra dos Templários Primitiva e seus estatutos hierárquicos, castigos sobre
normas de conduta, vida conventual, capítulos ordinários, admissão na Ordem e
um apêndice por Matthew Bennett, "A Regra do Templo como um Manual
Militar, ou Como desempenhar um Posto de Cavalaria".
O livro é
extremamente recomendável para aqueles interessados nos Templários ou em
qualquer ordem militar. Agora também em formato econômico.As notas para a Regra
Primitiva, facilitada por Mrs. Upton-Ward na Regra dos Templários, não se
incluem neste texto. São de considerável interesse e deveriam ser consultadas
por aqueles que desejam estudar a Regra com mais detalhe.
Nota do tradutor para o Português:Toda a matéria relativa à Regra Primitiva dos Templários, inclusive a
que antecede a presente Nota, foi extraída do texto original em Espanhol
constante do site www.osmtj.org - Espanha.
A Regra Primitiva
Aqui começa o prólogo à Regra do Templo
1. Dirigimo-nos, em
primeiro lugar, a todos aqueles que com discernimento rechaçam sua própria
vontade e desejam de todo o coração servir a seu rei soberano como cavaleiro;
levar com supremo afã, e permanentemente, a mui nobre armadura da obediência.
E, portanto, nós os convidamos a seguir os escolhidos por Deus entre a massa
perdida aos quais propiciou, em virtude de sua sutil misericórdia, defender a
Santa Igreja, e que vós ansiais abraçar para sempre.
2. Sobre todas as
coisas, quem quer ser um cavaleiro de Cristo escolhendo essas sagradas ordens
em sua profissão de fé, deve unir simples diligência e firme perseverança, que
é tão valiosa e sagrada e se revela tão nobre, que se se mantém impoluta para
sempre, merecerá acompanhar os mártires que deram suas almas por Cristo Jesus.
Nesta ordem religiosa floresceu e se revitaliza a ordem de cavalaria. A
cavalaria, apesar do amor pela justiça que constitui seu dever, não cumpriu com
seus deveres para com os pobres, viúvas, órfãos e igrejas defendendo-os, antes
se aparelharam para destruir, despojar e matar. Deus, que atua conforme para
conosco, e nosso salvador Cristo Jesus, enviou seus seguidores, desde a cidade
Santa de Jerusalém aos quartéis da França e Borgonha, para nossa salvação e
exemplo da verdadeira fé, pois não cessam de oferecer suas vidas por Deus em
piedoso sacrifício.
3. Ante isso nós, em
deleite e irmanados, por requerimento do Mestre Hugues de Payens, por quem a
mencionada ordem de cavalaria foi fundada com a graça do Espírito Santo, nos
reunimos em Troyes, dentre as provícias mais além das montanhas, na festa de
São Hilário, no ano da encarnação de Cristo Jesus de 1128, no nono ano após a
fundação da anteriormente mencionada ordem de cavalaria. Da conduta nos
princípios da Ordem de Cavalaria escutamos em capítulo comum dos lábios do
anteriormente citado Mestre, Irmão Hugues de Payens, e de acordo com as limitações
de nosso entendimento, o que nos pareceu correto e benéfico elogiamos, e o que
nos pareceu errôneo rechaçamos.
4. E tudo o que
aconteceu naquele Conselho não pode ser contado nem recontado e para que não
seja tomado por precipitação nossa, senão considerado com sábia prudência,
desejamos a discrição de ambos, nosso honorável padre o Senhor Honório e do
nobre Patriarca de Jerusalém, Esteban, que conhece os problemas do Leste e dos
Pobres Cavaleiros de Cristo; por conselho do concilio comum o aprovamos
unanimemente. Embora um grande número de padres religiosos reunidos em capítulo
aprovou a veracidade de nossas palavras, não obstante não devemos silenciar os
verdadeiros pronunciamentos e juízos que emitiram.
5. Portanto, eu, Jean
Michel, a quem foi encomendado e confiado tão divino serviço, pela graça de
Deus, serví de humilde escriba do presente documento por ordem do conselho e do
venerável padre Bernardo, abade de Clairvaux.
O nome dos Padres que compareceram ao Concílio
6. Primeiro foi
Mateo, bispo de Albano, pela graça de Deus, legado da Santa Igreja de Roma;
R[enaud], arcebispo de Reims; H[enri}, arcebispo de Sens; e seus clérigos:
G[ocelin], bispo de Soissons; o bispo de Paris; o bispo de Troyes; o bispo de
Orlèans; o bispo de Auxerre; o bispo de Meaux; o bispo de Chalons; o bispo de
Laon; o bispo de Beauvais; o abade de Vèzelay, que posteriormente foi arcebispo
de Lyon e legado da Igreja de Roma; o abade Citeaux; o abade de Pontigny; o
abade de Trois-Fontaines; o abade de St. Denis de Reims; o abade de St-Etienne
de Dijon; o abade de Molesmes; ao anteriormente mencionado B[ernard], abade de
Clairvaux: cujas palavras o anteriormente citado elogiou abertamente. Também
estiveram presentes o mestre Aubri de Reims; mestre Fulcher e vários outros que
seria tedioso mencionar. E dos outros que não se mencionaram, é importante
assentar, neste assunto, de que são amantes da verdade: eles são o conde
Theobald; o conde de Nevers; Andrè de Baudemant. Estiveram no concílio e
atuaram com perfeito e cuidadoso estudo selecionando o correto e descartando o
que não lhes parecia justo.
7. E também estava
presente o Irmão Hugues de Payens, Mestre de Cavalaria, com alguns dos irmãos
que o acompanharam. Estes eram Irmão Roland, Irmão Godefroy, e Irmão Geoffroi
Bisot, Irmão Payens de Montdidier, Irmão Archambaut de Saint-Amand. O próprio
Mestre Hugues com seus seguidores anteriormente citados, expuseram os costumes
e observâncias de seus humildes começos e um deles disse: 'Ego principium qui
est loquor vobis', que significa "Eu que falo a vós sou o princípio"
segundo minha lembrança pessoal.
8. Agradou ao
concílio ordinário que as deliberações e o estudo das Sagradas Escrituras, que
se examinaram profundamente com a sabedoria de meu senhor H[onorius], papa da
Santa Igreja de Roma, e do Patriarca de Jerusalém, se fizessem ali em
conformidade com o capítulo. Juntos, e de acordo com os Pobres Cavaleiros de
Cristo do Templo que está em Jerusalém, deve-se pôr por escrito e não
esquecido, zelosamente guardado, de tal forma que para uma vida de observância
possam se referir a seu criador como mais doce que mel e em conformidade com
Deus, cuja piedade parece óleo e nos permite ir a Ele a quem desejamos servir
'Per infinita saecula saeculorum.Amen'.
Aqui começa a Regra dos Pobres Cavaleiros do Templo
9. Vós, os que
renunciais à vossa vontade, e vós, os outros, os que servís a um rei soberano
com cavalos e armas para salvação de vossas almas e por tempo estabelecido,
atendereis com desejo virtuoso ao ouvir as matinas e ao serviço completo,
segundo a lei canônica e aos costumes dos mestres da Cidade Santa de Jerusalém.
Oh vós, veneráveis irmãos, que Deus esteja convosco, se prometeis desprezar o
mundo por perpétuo amor a Deus, desterrar as tentações de vosso corpo,
sustentado pelos alimentos de Deus, beber e ser instruído nos mandamentos de
Nosso Senhor, ao final do ofício divino nenhum deve temer entrar em batalha se,
por fim, usais a tonsura.
10. Mas se qualquer
irmão for enviado para o trabalho da casa e pela Cristandade no Leste - algo
que cremos ocorrerá frequentemente - e não puder ouvir o divino ofício, deverá
dizer em lugar das matinas treze pai-nossos; sete por hora e nove às vésperas.
E todos juntos ordenamos que assim o faça. Mas aqueles que foram enviados e não
puderem voltar para assistir ao divino ofício, se lhes for possível às horas
estabelecidas, que não deverão ser omitidas, render a Deus sua homenagem.
A Forma em que devem ser recebidos os Irmãos
11. Se qualquer
cavaleiro secular, ou qualquer outro homem, deseja deixar a massa de perdição e
abandonar a vida secular escolhendo a vossa comunidade, não consintais em
recebê-lo imediatamente, porque segundo disse meu Senhor São Paulo: 'Probate
spiritus si ex Deo sunt'. Que quer dizer: "Prove-lhe a alma para ver se
vem de Deus". Sem embargo, se a companhia de seus irmãos lhe deve ser
concedida, deixai que a ele seja lida a Regra, e se deseja explicitamente
obedecer os mandamentos da Regra, e compraz tanto ao Mestre quanto aos irmãos o
receber-lhe, deixai-o revelar seu desejo perante todos os irmãos reunidos em
capítulo e fazer sua solicitação com coração digno.
Sobre Cavaleiros excomungados
12. Onde saibais que
se concentram cavaleiros excomungados, aí os obrigamos a ir; e se alguém deseja
se unir à ordem de cavalaria proveniente de regiões distantes, não devereis
considerar tanto o valor terrenal como o valor da eterna salvação de sua alma.
Nós ordenamos que seja recebido condicionalmente, que se apresente perante o
bispo da província e o comunique de sua intenção. E, quando o bispo o houver
escutado e absolvido, o enviará ao Mestre e irmãos do Templo, e se sua vida for
honesta e merecedora de sua companhia, se parece justo ao Mestre e irmãos,
deixai que seja piedosamente recebido; e se morrer durante esse tempo, pela angústia
e tormento que sofreu, deixai que se lhe outorguem todos os favores da
irmandade, dados a cada um dos Pobres Cavaleiros do Templo.
13. Sob nenhuma outra
circunstância deverão os irmãos do Templo compartilhar da companhia dos
indiscutivelmente excomungados, nem que se fiquem com seus pertences; e isso
deve ser encarecidamente proibido porque seria terrível que fossem assim mesmo
repudiados. Mas, se só lhe foi proibido escutar o Divino Ofício, é certamente
possível permanecer em sua companhia, assim como ficar com seus pertences,
entregando-os à caridade com a permissão de seu comandante.
Sobre não aceitar meninos
14. Embora a regra
dos santos padres permita receber meninos na vida religiosa, nós o
desaconselhamos. Porque aquele que deseje entregar seu filho eternamente na
ordem de cavalaria deverá educá-lo até que seja capaz de usar as armas com
vigor e liberar a terra dos inimigos de Cristo Jesus. Então, que sua mãe e pai
o levem à casa e que sua petição seja conhecida pelos irmãos; e é muito melhor
que não tome os votos quando menino, senão ao ser maior, pois é conveniente que
não se arrependa disso, do que o faça. E em seguida que seja posto à prova de
acordo com a sabedoria do Mestre e irmãos, conforme a honestidade de sua vida
ao solicitar ser admitido na irmandade.
Sobre os que estão demasiado tempo de pé na Capela
15. Foi-nos feito
saber, e o escutamos de testemunhas presenciais, que de forma imoderada e sem
restrição alguma, vós escutais o divino ofício de pé. Nós não ordenamos que
comportais dessa forma, ao contrário o desaprovamos. Dispomos que, tanto os
fortes quanto os debilitados, para evitar desordens, cantem o salmo chamado
Venite com a invitatória e o hino sentados, e digam suas orações em silêncio,
em voz baixa não vociferando, para não perturbar as orações dos outros irmãos.
16. Mas ao final dos
salmos, quando se canta o 'Gloria Patri' em reverência à Santíssima Trindade,
vos poreis de pé e vos inclinareis frente ao altar, enquanto os debilitados ou
enfermos só inclinarão a cabeça. Portanto, mandamos que, quando a explicação
dos Evangelhos seja lida, e se cante o 'Te Deum laudamus', e enquanto se cantem
os louvores, e as matinas terminam, vós estejais de pé. Desta mesma forma
determinamos que permaneceis de pé durante as matinas e em todas as horas de
Nossa Senhora.
Sobre a vestimenta dos Irmãos
17. Dispomos que
todos os hábitos dos irmãos sejam de uma só cor, quer seja branco, negro ou
marrom. E sugerimos que tanto no inverno como no verão, se for possível, usem
capas brancas; e a ninguém que não pertença à mencionada cavalaria de Cristo
lhe será permitido ter uma capa branca para que aqueles que hajam abandonado a
vida em obscuridade se reconheçam uns aos outros como seres reconciliados com
seu criador pelo símbolo de seus hábitos brancos: que significa pureza e
completa castidade. A Castidade é certeza no coração e saúde no corpo. Porque
se um irmão não toma votos de castidade não pode aceder ao eterno descanso nem
ver a Deus, pela promessa do apóstolo que disse: 'sectamini cum omnibus et
castimoniam sine qua nemo Deum videbit'. Que significa: "Luta para levar a
paz a todos, mantem-te casto, sem o qual ninguém pode ver a Deus".
18. Mas essas
vestimentas deverão se manter sem riquezas e sem nenhum símbolo de orgulho. E
assim, nós exigimos que nenhum irmão use pele em suas vestimentas, nem qualquer
outra coisa que não pertença ao uso do corpo, nem tão sequer uma manta que não
seja de lã or cordeiro. Concordamos em que todos tenham o mesmo, de tal forma
que possam se vestir e se despir, e por e tirar as botas com facilidade. E o
alfaiate, ou quem faça suas funções, deverá se mostrar minucioso e cuidar que
se mantenha a aprovação de Deus em todas as coisas mencionadas, para que os
olhos dos invejosos e mal intencionados não possam observar que as vestimentas
sejam demasiado compridas ou curtas; deverá distribuí-las de tal maneira que
sejam da medida de quem as há de usar, segundo a corpulência de cada um.
19. E se algum por
orgulho ou arrogância deseja ter para ele um melhor e mais fino hábito, dái-lhe
o pior. E aqueles que recebam vestimentas novas deverão imediatamente devolver
as velhas para que sejam entregues a escudeiros e sargentos, e com frequencia
aos pobres, segundo o que considere conveniente o encarregado desse mister.
Sobre as Camisas
20. Entre outros
assuntos sobre os que regulamos, devido ao intenso calor existente no Leste,
desde a Páscoa até Todos os Santos, graças à compaixão e de nenhuma forma como
de direito, uma camisa de linho será entregue ao irmão que assim o solicite.
Sobre a Roupa de Cama
21. Ordenamos por
unanimidade que cada homem tenha a roupa e lençóis de acordo com o juízo de seu
Mestre. É nosso propósito que um colchão, um almofadão e uma colcha são
suficientes para cada um; e àquele que lhe falte um desses pode usar uma
coberta e uma colcha de linho que seja sempre de fio fino, e dormirão sempre
vestidos com camisa e calça, sapatos e cinturões, e onde repousem deverá sempre
haver uma luz acesa até a manhã. E o Alfaiate se assegurará que os irmãos
estejam tão bem tonsurados que possam ser examinados tanto de frente como de
costas; e nós ordenamos que vós adirais a essa mesma conduta no tocante a
barbas e bigodes para que nenhum excesso se mostre em seus corpos.
Sobre Sapatos pontiagudos e Cadarços
22. proibimos os
sapatos pontiagudos e os cadarços e condenamos que um irmão os usem; nem os
permitimos àqueles que servem na casa por tempo determinado; melhor, proibimos
que os usem em qualquer circunstância. Porque é manifesto e bem sabido que
essas coisas abomináveis pertencem aos pagãos. Também não deverão usar nem o
cabelo nem o hábito demasiado compridos. Porque aqueles que servem ao soberano
Criador devem surgir da necessidade dentro e fora mediante a promessa do
próprio Deus que disse: 'Estote mundi quia ego mundus sum'. Que quer dizer:
"Nasça como eu nasço".
Como devem comer
23. No palácio, ou o
que deveria se chamar refeitório, devereis comer juntos. Porém, se estais
necessitado de algo, pois não estais acostumados aos utilizados pelos
religiosos, em voz baixa e em particular devereis pedir o que necessitais na
mesa com toda a humildade e submissão. Porque o Apósotolo disse: 'Manduca panem
tuo cum silentio'. Que significa: "Come teu pão em silêncio". E o
Salmista: 'Posui ore meo custodiam'. Que quer dizer: "Eu reprimi minha
língua". Que significa que "Eu creio que minha língua me
trairia" o que vem a ser "Calei para não falar mal".Sobre a
Leitura da Lição 24. Sempre, durante a refeição e ceia no convento, que se
leiam as Sagradas Escituras, se isso for possível. Se amamos a Deus, suas
Santas palavras e seus Santos Mandamentos desejaremos escutar atentamente; e o
leitor do texto exigirá silêncio antes de começar a ler.
Sobre Recipientes e Cálices
25. Devido à escassez
de recipientes os irmãos comerão aos pares, de tal forma que um possa observar
de mais perto o outro para que nem a austeridade nem a abstinência em segredo
sejam introduzidas na refeição da comunidade. E nos parece justo que cada irmão
tenha a mesma quantidade de vinho em sua taça.
Sobre comer Carne
26. Deverá ser
suficiente comer carne três vezes por semana, exceto no Natal, Todos os Santos,
Assunção e na festividade dos doze apóstolos. Porque se entende que o costume
de comer carne corrompe o corpo. Porém, se num jejum em que se deve suprimir a
carne cair numa terça-feira, no dia seguinte será dada uma grande porção aos
irmãos. E nos Domingos todos os irmãos do Templo, os capelães e clérigos
receberão dois ágapes de carne em honra à santa ressurreição de Cristo Jesus. E
os demais da casa, que inclui os escudeiros e sargentos, deverão se contentar
com uma refeição e ser agradecidos ao Senhor por ela.
Sobre as refeições
durante a Semana 27. Sobre os outros dias da semana, que são segunda-feira,
quarta-feira e inclusive Sábados, os irmãos tenham duas ou três refeições de
vegetais ou outros pratos comidos com pão; e nós cremos que seja suficiente e
ordenamos que assim seja, de tal maneira que aquele que não comer em uma
refeição o faça na outra.
Sobre a refeição de Sexta-feira
28. Às Sextas-feiras,
que se ofereça à toda a congregação refeição quaresmal, oriunda da reverência
pela paixão de Cristo Jesus; e fareis abstinência desde a festividade de Todos
os Santos até a Páscoa, exceto no dia de Natal, da Assunção e da festividade
dos doze apóstolos. Porém, os irmãos debilitados ou enfermos não deverão ser
obrigados a isso. Desde a Páscoa até a festa de Todos os Santos podem comer
duas vezes, conquanto não seja abstinência geral.
Sobre dar Graças
29. Sempre depois de
cada refeição ou ceia todos os irmãos deverão dar graças a Deus na igreja e em
silêncio se essa se encontra no lugar onde fazem a refeição, e se não estiver
no mesmo lugar onde hajam tomado a refeição, com humildade deverão dar graças a
Cristo Jesus, que é o Senhor que Provê. Deixai que os pedaços de pão rompido
sejam dados aos pobres, e os que estejam em rodelas inteiras sejam guardados.
Embora a recompensa dos pobres seja o reino dos céus, se oferecerá aos pobres
sem qualquer dúvida, e a fé Cristã os reconhecerá entre os seus; portanto,
concordemos que uma décima parte do pão seja entregue a vosso Esmoleiro.
Sobre a Merenda
30. Quando cai o sol
e começa a noite escutais o sinal do sino ou a chamada à oração, segundo os
costumes do país, e acudís todos ao capítulo. Porém, dispomos que primeiro
merendeis, se bem que deixamos a tomada desse refrigério ao arbítrio e
discrição do Mestre. Quando quiserdes água ou ordenais, por caridade, vinho
aguado, que se lhes dê com comedimento. Certamente, não deverá ser em excesso,
senão com moderação. Porque Salomão disse: 'Quia vinunfacit apostatare
sapientes'. Que quer dizer: "que o vinho corrompe os sábios".
Sobre se manter em Silêncio
31. Quando os irmãos
saírem do capítulo não devem falar abertamente, exceto em uma emergência.
Deixai que cada um vá para sua cama tranquilo e em silêncio, e se necessita
falar a seu escudeiro, deverá dizer em voz baixa. Mas, se por casualidade, à
saída do capítulo, a cavalaria ou a casa tem um sério problema que deve ser
resolvido antes da manhã, entendemos que o Mestre ou o grupo de irmãos maiores
que governam a Ordem pelo Mestre, podem falar apropriadamente. E por esta razão
obrigamos que seja feita desta maneira.
32. Porque está
escrito: 'In multiloquio non effugies peccatum'. Que quer dizer: "O falar
em demasia não está livre de pecado". E em algum outro lugar: 'Mors et
vita in manibus lingue'. Que significa: "A vida e a morte estão sob o
poder da língua". E dentro desse entendimento nós conjuntamente proibimos
palavras vãs e ataques estrondosos de riso. E se algo se disse durante essa
conversa que não deveria ter sido dito, ordenamos que ao recostar-vos rezeis um
pai-nosso com bastante humildade e sincera devoção.
Sobre os Irmãos Convalescentes
33. Os irmãos que,
devido aos trabalhos da casa, padeçam de enfermidade, podem se levantar às
matinas com o consentimento e permissão do Mestre ou daqueles que se
encarreguem desse mister. Deverão dizer em lugar das matinas treze pai-nossos,
assim fica estabelecido, de tal forma e maneira que suas palavras reflitam seu
coração. Assim o disse David: 'Psallite sapienter'. Que significa: "Canta
com sabedoria". E igualmente disse David: 'In conspectu Angelorum psallam
tibi'. Que significa: "Eu cantarei para ti ante os anjos". E deixai
que isso seja sempre assim e à discrição do Mestre ou daqueles encarregados de
tal mister.
Sobre a Vida em Comunidade
34. Lemos nas
Sagradas Escrituras: 'Dividebatur singulis prout cuique opus erat'. Que
significa: "A cada um lhe será dado segundo sua necessidade". Por
essa razão nós decidimos que nenhum estará acima de vós, senão que todos
cuidareis dos enfermos; e aquele que está menos enfermo dará graças a Deus e
não se preocupará; e permitireis que aquele que estiver pior se humilhe
mediante sua debilidade e não se orgulhe pela piedade. Desse modo todos os
membros viverão em paz. E proibimos a todos que abracem a excessiva
abstinência, antes que firmemente mantenham a vida em comunidade.
Sobre o Mestre
35. O Mestre pode, a
quem lhe apraza, entregar o cavalo e a armadura e o que deseje de outro irmão,
e o irmão cuja coisa pertencia não se sentirá vexado nem aborrecido: por que se
se aborrece irá contra Deus.
Sobre dar Conselhos
36. Permitir só
àqueles irmãos que o Mestre reconhece que darão sábios e bons conselhos sejam
chamados para a reunião; e assim os ordenamos, e que de nenhuma outra forma
alguém possa ser escolhido. Porque quando ocorrer que se deseje tratar de
materias serias como a entrega de terra comunal, ou falar dos assuntos da casa,
ou receber a um irmão, então, se o Mestre o desejar, ser apropriado reunir a
congregação inteira para escutar o conselho de todo o capítulo; e o que
considere o Mestre melhor e mais benéfico, deixar que assim se faça.
Sobre os Irmãos enviados a Ultramar
37. Os Irmãos que
sejam enviados a diversos países do mundo deverão observar os mandatos da Regra
segundo sua habilidade e viver sem desaprovação no que diz respeito a carne e o
vinho, etc, para que recebam elogios de estranhos e não macular por feitos e
palavras os preceitos da Ordem, e para ser um exemplo de boas obras e
sabedoria; acima de tudo, para que aqueles com os quais se associem e em cuja
pousadas repousem, sejam recebidos com honra. E a ser possível, a casa onde
durmam e se hospedem que não fique sem luz durante a noite, para que os tenebrosos
inimigos não os conduzam à maldade, dado que Deus assim o proibe.
Sobre Manter a Paz
38. Cada irmão deve
se assegurar de não incitar outro à ira ou aborrecimento, porque a soberana
piedade de Deus vê o irmão forte de forma igual que a um debilitado, em nome da
Caridade.
Como devem atuar os Irmãos
39. A fim de levar a
cabo seus santos deveres, merecer a Glória do Senhor e escapar do temível fogo
do inferno, é concorde que todos os irmãos professos obedeçam estritamente a
seu Mestre. Porque nada é mais agradável a Cristo Jesus que a obediência. Por
esta razão, tão logo seja ordenado pelo pelo Mestre ou em quem haja delegado
sua autoridade, deverá ser obedecido sem dilação como se o Cristo o tivesse
imposto. Por isso Cristo Jesus pela boca de David disse e é certo: 'Ob auditu
auris obdevit mihi'. Que quer dizer: "Me obedeceu tão pronto me
escutou".
40. Por esta razão
rezamos e firmemente damos como ditame aos irmãos cavaleiros que abandonaram
sua ambição pessoal e a todos aqueles que servem por um período determinado, a
não sair por povoados ou cidades sem a permissão do Mestre ou de quem o haja
delegado, exceto pela noite ao Sepulcro e outros lugares de oração dentro dos
muros da cidade de Jerusalém.
41. Lá, os irmãos
irão aos pares, e de outra forma não poderão sair nem de dia nem de noite; e
quando se detiverem em uma pousada, nenhum irmão, escudeiro ou sargento pode
acudir aos aposentos de outro para ve-lo ou falar com ele sem permissão, tal
como foi dito. Ordenamos, por unânime consentimento, que nesta Ordem regida por
Deus, nenhum irmão deverá lutar ou descansar segundo sua vontade, senão
seguindo as ordens do Mestre, a quem todos devem se submeter, para que sigam as
indicações de Cristo Jesus, que disse: 'Non veni facere voluntatem meam, sed ejus
qui meset me Patris'. Que significa: "Eu não vim para fazer minha própria
vontade, senão a vontade de meu pai, quem me enviou".
Como devem Possuir e Intercambiar
42. Sem a permissão
do Mestre ou de quem em seu lugar ostente o cargo, que nenhum irmão intercambie
coisa alguma com outro, nem mesmo peça, a menos que seja de escasso valor ou
nulo.
Sobre Fechos
43. Sem permissão do
Mestre ou quem o represente, nenhum irmão terá uma bolsa ou sacola que possa
ser fechada; mas os diretores de casas ou províncias e o Mestre não observarão
isso. Sem o consentimento do Mestre ou seu comandante, que nenhum irmão tenha
carta de seus parentes ou outras pessoas; mas se tem permissão, e assim o quer
o Mestre ou comandante, essas cartas podem ser lidas.
Sobre Presentes de leigos
44. Se algo que não
se pode conservar, como a carne, for presenteado em agradecimento a um irmão
por um leigo, este o apresentará ao Mestre ou ao Comandante de gêneros alimentícios.
Porém se ocorre que algum de seus amigos ou parentes deseje presentear só a
ele, que não se aceite sem a permissão do Mestre ou seu delegado. E
mais, se o irmão recebe qualquer outra coisa de seus parentes, que não o aceite
sem permissão do Mestre ou de quem ostenta o cargo. Especificamos que os
comandantes ou mordomos, que estão a cargo desses ofícios, que não se atenham à
citada regra.
Sobre Faltas
45. Se algum irmão,
falando ou em tropa indisciplinada, ou de algum outro modo comete um pecado
venial, deverá voluntariamente dize-lo ao Mestre para se redimir com o coração
limpo. Se não costuma a se redimir desse modo, que receba uma penitência leve,
mas se a falta é muito séria, que se alije da companhia de seus irmãos de tal
forma que não coma nem beba na mesa com eles, senão sozinho; e se submeterá à
piedade e juízo do Mestre e irmãos, para que seja salvo do Juízo Final.
Sobre faltas Graves
46. Acima de tudo,
devemos nos assegurar que nenhum irmão, poderoso ou não, forte ou debilitado,
que deseje promover gradualmente reinvindicações orgulhosas, que defenda seu
próprio crime e permaneça sem castigo. Porém, se não quiser se submeter por
isso, que receba um castigo maior. E se misericordiosas orações do conselho se
rezam por ele a Deus, e ele não quiser se emendar, senão que se orgulha mais e
mais disso, que seja erradicado do rebanho piedoso, segundo o que o apóstolo
disse: 'Auferte malum ex vobis'. Que quer dizer: "Aparta os malvados
dentre os teus". É necessário para vós separar as ovelhas perversas da
companhia dos irmãos piedosos.
47. E mais, o Mestre,
que deve levar em suas mãos o báculo - e bastão de mando que sustenta as
debilidades e fortaleza dos demais, deverá se ocupar disso. Mas também, como
meu senhor St. Maxime disse:"Que a misericórdia não seja maior que a
falta, nem que o excessivo castigo conduza o pecador a regressar às suas más
ações".
Sobre a Maledicência
48. Mandamos, por
divino conselho, o evitar as pragas da inveja, maledicência, despeito e
calúnia. Portanto, cada um deve guardar zelosamente o que o apóstolo disse: 'No
sis criminator et susurro in populu'. Que significa: "Não acuses ou
prejudique o povo de Deus". Mas quando um irmão saiba com certeza que seu
companheiro pecou, em privado e com fraternal misericórdia, que seja ele mesmo
quem o admoeste secretamente, e, se não quiser escutar, outro irmão deverá ser
chamado, e se os recusa a ambos, deverão dizê-lo publicamente perante o
capítulo. Aqueles que depreciam seus semelhantes sofrem de terrível cegueira e
muitos estão cheios de grande tristeza já que não desarraigam a inveja que
sentem dos outros; e por isso, serão arremessados para a imemorável
perversidade do demônio.
Que ninguém se orgulhe de suas faltas
49. As palavras vãs
se sabe serem pecaminosas, e as dizem aqueles que se orgulham de seu próprio
pecado frente ao justo juiz Cristo Jesus, o que fica demonstrado pelas palavras
de David: 'Obmutui est silui a bonis'. Que significa: "Deveria inclusive
refrear-se de falar bem e observar o silêncio". Também prevenis falar mal
para evitar a desgraça do pecado. Ordenamos e firmemente proibimos que um irmão
conte a outro irmão, ou a qualquer outro, as ações de valentia que desempenhou
em sua vida secular e os prazeres da carne que manteve com mulheres imorais.
Deverão ser consideradas faltas cometidas durante sua vida anterior e se sabe
que foi expressa por algum outro irmão, deverá silenciá-lo imediatamente; e se
não consegue, abandonará o lugar sem permitir que seu coração seja maculado por
essas palavras.
Que Ninguém Peça
50. A este costume,
entre outros, ordenamos que adotais firmemente: que nenhum irmão explícitamente
peça o cavalo ou a armadura de outro. Será feito da seguinte maneira: se a
enfermidade de um irmão ou a fragilidade de seus animais ou a armadura for
conhecida e portanto não puder fazer o trabalho da casa sem perigo, que vá ao
Mestre e exponha a situação a respeito, solicite fé e fraternidade, e se atenha
à disposição do Mestre ou de quem ostente seu cargo.
Sobre animais e escudeiros
51. Cada irmão pode
ter três cavalos e nenhum mais sem a permissão do Mestre devido a grande
pobreza que existe na atualidade na casa de Deus e no Templo de Salomão. A cada
irmão permitimos três cavalos e um escudeiro; e se este último serve por
caridade, o irmão não deveria castigá-lo pelos pecados que cometa.
Que nenhum Irmão possa ter um bridão ornado
52. Nós proibimos
enfaticamente a qualquer irmão que lustre o ouro ou prata de seus bridões,
estribos e esporas. Isso se aplica se forem comprados. Porém, se forem
presenteados por caridade, os arreios de prata e o ouro, que fiquem tão velhos
que não reluzam, que sua beleza não possa ser vista por outros nem ser sinal de
orgulho; então se poderá ficar com eles. Porém, se são presenteados novos, que
seja o Mestre quem disponha deles como creia oportuno.
Sobre aljavas de Lança
53. Que nenhum irmão
traga uma aljava nem para sua lança nem para seu escudo, pois não traz nenhum
benefício, ao contrário, pode ser muito prejudicial.
Sobre bolsas de comida
54. Este mandato que
estabelecemos é conveniente para todos e por esta razão exigimos seja observado
de agora em diante, e que nenhum irmão possa portar uma bolsa para comida de
linho ou lã, ou de qualquer outro material que não seja de
"profinel".
Sobre a Caça
55. Proibimos
coletivamente. Que nenhum irmão cace uma ave com outra. Não é adequado para um
religioso sucumbir aos prazeres, senão escutar voluntariamente os mandamentos
de Deus, estar frequentemente orando e confessar diariamente implorando a Deus
em suas orações o perdão dos pecados que haja cometido. Nenhum irmão pode ter a
presunção de ser um homem que caça uma ave com outra. Ao contrário, é
apropriado para um religioso agir de modo simples e humildemente, sem rir e
falar em demasia, com ponderação e sem levantar a voz. E por esta razão
dispomos especialmente a todos os irmãos que não adentrem os bosques com lanças
nem arcos para caçar animais, nem que o façam em companhia de caçadores, exceto
movidos pelo amor de preservá-los dos pagãos infiéis. Nem devereis ir com
cachorros, nem gritar, nem conversar, nem esporear vosso cavalo só pelo desejo
de capturar um animal selvagem.
Sobre o Leão
56. É verdade que
haveis entregue vossas almas por vossos irmãos, tal como o fez Cristo Jesus, e
defender a terra dos incrédulos pagãos, inimigos do filho da Virgem Maria. Esta
célebre proibição de caça não inclui de forma alguma o leão. Dado que vem
sorrateiro e envolvente para capturar sua presa com suas garras contra o homem,
ide com vossas mãos contra ele.
Como podem ter propriedades e homens
57. Esta bondosa nova
ordem a cremos emanar das Sagradas Escrituras e da divina providência na
Sagrada Terra do Leste. O que significa que esta companhia armada de cavaleiros
pode matar os inimigos da cruz sem pecar. Por esta razão julgamos que deveis
ser chamados Cavaleiros do Templo, com o duplo mérito e o garbo da honestidade;
que podeis possuir terras e mantê-las, vilarejos e campos e os governais com
justiça, e imponhais vosso direito tal e como está especificamente
estabelecido.
Sobre os Dízimos
58. Vós haveis
abandonado as sedutoras riquezas deste mundo e vos haveis submetido
voluntariamante à pobreza; e por isso resolvemos que vós que viveis em
comunidade possais receber dízimos. Se o bispo da localidade, a quem o dízimo
deveria ser entregue por direito, deseja dá-lo por caridade com o consentimento
do capítulo, pode doar esses dízimos que possui sua igreja. E mais, se um
plebeu guarda os dízimos de seu patrimonio para si, em desfavor da igreja, e
deseja cede-los a vós, o podeis aceitar com a permissão do prelado e seu
capítulo.
Sobre fazer juízos
59. Sabemos, já que o
vimos, que os perseguidores e amantes de lutas e dedicados cruelmente a
atormentar os fiéis da Sagrada Igreja e seus amigos, são incontáveis. Pelo
claro juízo do conselho, ordenamos que se alguém, nos lugares do Leste ou em
qualquer outro sítio, os solicita parecer, porque crentes e amantes da verdade,
deveis julgar o fato se a outra parte concorda. Este mesmo mandato se aplicará
sempre que algo lhes seja roubado.
Sobre os Irmãos Idosos
60. Dispomos, por se
tratar de um conselho compassivo, que os irmãos idosos e debilitados sejam
honrados com diligência e recebam a atenção de acordo com sua fragilidade, e
cuidados pela autoridade naqueles ofícios necessários para seu bem-estar
físico, e que de forma alguma se sintam aflitos.
Sobre os Irmãos Enfermos
61. Que os irmãos
enfermos recebam a consideração e os cuidados e sejam servidos segundo os
ensinamentos do evangelhista e de Cristo Jesus: 'Infirmus fui et visitastis
me'. Que significa: "Estive enfermo e visitastes", e que isso não
seja esquecido. Porque aqueles irmãos que estão doentes deverão ser tratados
com doçura e cuidado, porque por tal serviço, levado a cabo sem titubear,
ganhareis o reino dos céus. Portanto, pedimos ao Enfermeiro que sábia e
fervorosamente proveja o necessário aos diversos irmãos enfermos, como carne,
legumes, aves e outros manjares, que o devolvam à saúde, segundo os meios e
possibilidades da casa.
Sobre os Irmãos Falecidos
62. Quando um irmão
passar da vida à morte, algo de que ninguém está excluído, digais missa por sua
alma com misericordioso coração, e que o divino ofício seja executado pelos
curas que servem ao rei. Vós que servis a caridade por um tempo determinado e
todos os irmãos que estiverem presentes frente ao cadáver rezareis cem
pai-nossos durante os sete dias seguintes. E todos os irmãos que estão sob a
ordem da casa do irmão falecido, depois de tomarem conhecimento da morte,
rezarão os cem pai-nossos, como se falou anteriormente, pela misericórdia de
Deus. Também pedimos e rogamos, por nossa autoridade pastoral, que um mendigo
seja alimentado com carne e vinho durante quarenta dias em memória do finado
irmão, tal como o fizesse se estivesse vivo. Nós explicitamente proibimos todos
os anteriores oferecimentos que costumavam fazer por vontade própria e sem
sensatez os Pobres Cavaleiros do Templo frente a morte de irmãos na celebração
da Páscoa ou outras festas.
63. E mais, deveis
professar vossa fé com pureza de coração de dia e de noite para que possam se
comparar, nesse aspecto, com o mais sábio dos profetas, que disse: 'Calicem
salutaris accipiam'. Que quer dizer: "Eu beberei do cálice da
salvação". O que significa: "Vingarei a morte de Cristo com minha
morte. Porque da mesma maneira que Cristo Jesus deu seu corpo por mim, da mesma
forma estou preparado para dar minha alma por meus irmãos". esta é uma
oferenda apropriada, um sacrifício vivente e do agrado de Deus.
Sobre os Sacerdotes e clérigos que servem a Caridade
64. A totalidade do
concílio em conselho os ordena prestar oferendas e todas as classes de esmola,
sem importar o modo que possam ser dadas, aos capelães e clérigos e aos demais
na caridade por um tempo deteminado. Seguindo os mandatos de Deus nosso Senhor,
os que servem a Igreja só podem receber roupa e comida, e não podem ter a
presunção de possuir nada, a menos que o Mestre deseje dar-lhes por caridade.
Sobre os Cavaleiros seculares
65. Aqueles que por
piedade servem e permanecem convosco por um tempo determinado são cavaleiros da
casa de Deus e do Templo de Salomão. Portanto, com piedade rezamos e assim
dispomos finalmente que se durante sua permanência o poder de Deus se manifesta
a algum deles, por amor a Deus e próprio da fraternal misericórdia, um mendigo
seja alimentado durante sete dias para a salvação de sua alma, e cada irmão nessa
casa deverá rezar trinta pai-nossos.
Sobre os Cavaleiros Seculares que servem por tempo
determinado
66. Ordenamos que
todos os cavaleiros seculares que desejem com pureza de coração servir a Cristo
Jesus e à casa do Templo de Salomão por um período determinado, que adquiram,
cumprindo a norma, um cavalo e armas adequadas e tudo o necessário para a
tarefa. E mais, que ambas as partes deem um preço ao cavalo e que esse preço
fique por escrito para não ser esquecido, e deixai que tudo o que o cavaleiro, seu
escudeiro e seu cavalo necessitem provenha da caridade fraterna segundo os
meios da casa. Se durante esse tempo determinado ocorrer que o cavalo morra a
serviço da casa, se a casa o puder custear, o Mestre o responderá. Se ao final
de sua permanência o cavaleiro deseja regressar a seu país, deverá deixar na
casa, por caridade, a metade do preço do cavalo e a outra metade pode, se o
desejar, recebe-la das esmolas da casa.
Sobre a Promessa dos Sargentos
67. Dado que os
escudeiros e sargentos que desejam caritativamente servir na casa do Templo
pela salvação de sua alma e por um período determinado venham de regiões muito
diversas, é prudente que suas promessas sejam recebidas para que o inimigo
invejoso não os faça se arrepender e renunciar a suas boas intenções.
Sobre as Capas Brancas
68. Por unânime
consenso da totalidade do capítulo, proibimos e ordenamos a expulsão, por
vicioso, a qualquer que sem discrição haja estado na casa de Deus e dos
Cavaleiros do Templo. Também, que os sargentos e escudeiros não tenham hábitos
brancos, dado que esse costume trouxe grande desonra à casa, pois nas regiões
além das montanhas falsos irmãos, homens casados e outros, que fingiam ser
irmãos do Templo, as usaram para jurar sobre elas sobre assuntos mundanos.
Trouxeram tanta vergonha e prejuízo à Ordem de Cavalaria que até seus
escudeiros riram; e por esta razão sugiram muitos escândalos. Portanto, que se
lhes entregue hábitos negros, mas se esses não se pode encontrar, lhes deverá
ser dado o que se encontre nessa província ou que seja mais econômico que o
burel.
Sobre irmãos Casados
69. Se homens casados
pedirem para ser admitidos na fraternidade, prestar favores e ser devotos da
casa, permitimos que os recebais sob as seguintes condições; ao morrer deverão
deixar uma parte de suas propriedades e tudo que tiverem obtido desde o dia de
seu ingresso. Durante sua permanência, deverão levar uma vida honesta e
comprometerem-se a agir em favor de seus irmãos, porém, não deverão levar
hábitos brancos nem mandil. E mais, se o senhor falecer antes de sua esposa, os
irmãos ficarão só com uma parte de seus bens, deixando para a dama o resto a
fim de que possa viver sozinha durante o resto de sua existência, posto que não
é correto perante nós, que ela viva como confrade em uma casa junto a irmãos
que prometeram castidade a Deus.
Sobre Irmãs
70. A companhia das
mulheres é assunto perigoso porque por sua culpa o experimentado diabo
desencaminhou a muitos do reto caminho do Paraíso. Portanto, que as mulheres não
sejam admitidas como irmãs na casa do Templo. Por isso, queridos
irmãos, que não consideramos apropriado seguir esse costume para que a flor da
castidade permaneça sempre impoluta entre vós.
Que não tenham intimidades com mulheres
71. Cremos imprudente
para um religioso olhar muito o rosto de uma mulher. Por esta razão ninguém
deve se atrever a beijar uma mulher, seja viúva, menina, mãe, irmã, tia ou
outro qualquer parentesco, e recomendamos que a cavalaria de Cristo Jesus evite
a todo custo os abraços de mulheres, pelos quais muitos homens pereceram, para
que se mantenham eternamente perante Deus com a consciência pura e a vida
inviolável.
Não ser Padrinhos
72. Proibimos que os
irmãos, de agora em diante, levem crianças à pia batismal. Ninguém deverá se
envergonhar de recusar a ser padrinho ou madrinha, já que esta vergonha traz
consigo mais glória que pecado.
Sobre os Mandatos
73. Todos os mandatos
que se mencionaram e escreveram aqui nesta presente Regra estão sujeitos ao
juízo do Mestre.
Estes são os Dias
Festivos e de Jejum que todos os Irmãos devem Celebrar e Observar
74. Que saibam todos
os presentes e futuros irmãos do templo que devem jejuar nas vigílias dos doze
apóstolos, que são: São Pedro, São Paulo, Santo André, São Thiago, São Felipe,
São Tomé, São Bartolomeu, São Simão, São Judas Tadeu, São Mateus. A vigília de
São João Batista, a vigília da Ascenção e os dois dias anteriores, os dias de
rogativas, a vigília de Pesntecostes, as quatro Temporas, a vigília de São
Lurenço, a vigília de Nossa Senhora da Ascenção, a vigília de Todos os Santos,
a Vigília da Epifania. E deverão jejuar em tosos os dias citados segundo
disposição do Papa Inocêncio no Concílio da cidade de Pisa. E se alguns dos
dias de jejum cai numa Segunda-feira, deverão jejuar no Sábado anterior. Se o
Natal de Nosso Senhor cai numa Sexta-feira, os irmãos comerão carne em honra da
fessta, mas deverão jejuar no dia de São Marcos devido às Litanias, porque
assim foi estabelecido por Roma para os homens mortais. Noão obstante, se cai
durante a oitava da Páscoa, não deverão jejuar.
Estes são os Dias de Jejum que deverão ser observados na
Casa do Templo
75. Natal de Nosso
Senhor; a festa de Santo Estevão; São João Evangelista; os Santos Inocentes; o
oitavo dia depois do Natal, que é o dia de Ano Novo; a Epifania; Santa Maria
Candelária; São Matias Apóstolo; a Anunciação de Nossa Senhora em Março; Páscoa
e os três dias seguintes ao dia de São Jorge; os Santos Felipe e Thiago, dois
apóstolos; o encontro da Vera Cruz; a Ascenção do Senhor; Pentecostes e os seguintes:
São João Batista; São Pedro e São Paulo, dois apóstolos; Sant Maria Madalena;
São Thiago Apóstolo; São Lourenço; a Ascenção de Nossa Senhora; a natividade de
Nossa Senhora; a Exaltação da Cruz; São Mateus Apóstolo, São Miguel; Os Santos
Simão e Judas; a festa de Todos os Santos; São Martinho no inverno; Santa
Catarina no inverno; Santo André; São Nicolau no inverno; São Tomé Apóstolo.
76. Nenhuma das
festas menore se deve observar na casa do Templo e desejamos e aconselhamos que
se cumpra estritamente: todos os irmãos do Templo deverão jejuar desde o
Domingo anterior a São Martinho até o Natal de Nosso Senhor, a menos que a
enfermidade o impeça. Se ocorrer que a festa de São Martinho caia num Domingo,
os irmãos não comeram carne no Domingo anterior.
Cronologia Histórica da Ordem
(Tradução de matéria
extraída de: http://www.osmtj.org/Secciones/Historia/cronologia.htm)
Guillermo, Bispo de
Tiro, fala de 1119 como o ano onde, em Jerusalém, "certos" nobres
cavaleiros fizeram profissão por Cristo. Outros historiadores da época citam o
ano de começo da Ordem em 1118.Mil cento e dezoito ou mil cento e dezenove,
hoje ninguém duvida de que as atividades dos Pobres Cavaleiros de Cristo
começaram muito antes. Esta é a história da Ordem do Templo.
1118 - Criação da
Ordem por nove cavaleiros que recebem o apoio do Rei de Jerusalém Balduíno II,
quem lhes cede uma parte de seu palácio, sobre as ruínas do Templo de Salomão.
1127 - Hugo de Payens
e cinco de seus cavaleiros, portando uma carta de apresentação de Balduíno II a
Bernardo de Claraval e financiando o rei de Jerusalém a viagem, regressam a
Europa para conseguir apoios e obter a autorização eclesiástica para a fundação
da Ordem e a aprovação de sua "regra" de vida.
1128 - Contando com o
apoio de São Bernardo, o Mestre consegue que o Papa Honório II convoque o
Concílio de Troyes que autorizará eclesiasticamente a ordem já fundada.
1130 - Depois do
concílio dedicam-se a percorrer a Europa em busca de cavaleiros e doações para
a Ordem. Conseguem importantes dádivas da maioria das casas reinantes e
estabelecem as bases das províncias templárias no continente, Inglaterra e
Escócia.Nesse mesmo ano, escreve Bernardo de Claraval sua "De laude novae
militiae" onde tenta conciliar a idéia do monge e do guerreiro em uma só
pessoa e por sua vez e de forma muito audaz, cruza o umbral da chamada
"guerra justa" na qual se combate pelo bem comum a "guerra
santa" na qual se combate em nome de Deus.
1136 - Em 24 de maio
falece Hugo de Payens. Sucede-o Roberto de Craón, chamado "O
Borgonhez", um nobre proveniente de Anjou. Cria-se uma base sólida e
estrutura para poder governá-la com eficiência.
1139 - (29-03) É
promulgada a bula "OMNE DATUM OPTIMUM" que foi a "carta
magna" da Ordem. Nela, Inocêncio II liber o Temple de toda a sujeição à
autoridade eclesiástica, exceto a do Papa e concede além disso outros
importantes privilégios.
1140 - É
provavelmente o ano que se produz a tradução da regra Latina para o francês.
Essa tradução se realizou com algumas modificações substanciais. Os templários
obtem a cidade de Gaza e a fortaleza de Safed, na Galiléia.
1144 - A bula
"MILITES DEI" lhes concede o benefício de fazer coleta uma vez por
ano em cada igreja secular. Cai nas mãos do Islam o condade de Edesa, na Terra
Santa. É o fato que desencadeia a II cruzada.
1145 - A bula
"MILITIA DEI", dirigida aos bispos, lhes notifica a autorização ao
Templo para construir seus oratórios.
1147 - O Papa Eugênio
III concede ao Templo o uso da cruz no manto.
1149 - Falece Roberto
de Craon. Sucede-o Everardo de Barres, o qual parte para a França em companhia
de Luis VII que também regressa da cruzada.
1150 - De Barres
preside um capítulo em Paris (14-05-1150). Andrés de Montbar, Senescal da
Ordem, escreve-lhe uma carta anunciando a morte de Raimundo de Antióquia e o
reclama em Jerusalém.
1151 - Em lugar de
regressar à Terra Santa, De Barres decide buscar uma vida mais tranquila e se
retira para o monastério cistercience de Citeaux. Bernarde de Tremelay é o
Mestre do Templo. Diversas fontes citam também Hugo Jofre como Mestre.
1153 - No sítio à
fortaleza de Ascalón, falece Tremelay. O novo Mestre é André de Montbard, da
família de Bernardo de Claraval.
1156 - (17-01) Falece
André de Montabard. Sucede-o Bertrand de Blanquefort.
1160 - A bula
"DILECTI FILII" obriga o clero secular a aceitar a quarta parte da
doação testamentária (em lugar da terça, com vinha sendo habitual), por parte
daqueles que desejavam ser enterrados em cemitérios templários.
1163 - Fica estruturada
a organização da Ordem, através dos "Retraits". Constavam de 675
artigos e se agregaram à "Regra" da Ordem. Definiam a vida conventual
e o estado hierárquico, regulavam os capítulos, a eleição de Mestre, e os
castigos e penitências para as violações da regra. Também fixavam a forma de
admissão dos aspirantes.
1169 - É eleito
Mestre Felipe de Mailli (ou de Naplusia).
1171 - Verifica-se a
renúncia do Mestre F. De Milli. É eleito Odón de Saint Amand, que havia sido
mariscal do Reino de Jerusalém. Este último foi feito prisioneiro por Saladino,
en Sidón e morre no cativeiro, em Damasco em 1.179.
1179 - É Mestre,
Arnoldo de Torroja. Que havia sido Mestre da Cataluña e Aragón.
1185 - Falece Arnoldo
de Torroja e khe sucede Gerard de Ridefort. É possível que entre os dois
tivesse sido Mestre Frai Terrico.
1187 - O sultão
Saladino derrota os cruzados na batalha de Hattin. Perde-se a cidade de
Jerusalém. Cai São João de Acre. O Templo se instala em Chipre. Gregório VIII
convoca III Cruzada.
1189 - (04-10) Morre
G. de Ridefort tentando reconquistar Acre.
1190 - É Mestre
Robert de Sable, natural de Anjou.
1191 - Reconquista de
Acre. Os Templários voltam a seu estabelecimento principal.
1192 - (05-04) O
Templo abandona o castelo de Nicósia e toda a ilha de Chipre.
1193 - Morre R. de
Sablé. Gilbert Erail lhe sucede.
1197 - Ponce Rigaldo
é Mestre.
1200 - A rede de
estabelecimentos dentro da Europa proporciona serviços financeiros confiáveis,
honrados e eficazes aos governantes, inclusive aos reis da Inglaterra e França.
1201 - Felipe de
Plaissiez é Mestre.
1208 - Inocêncio III
faz advertências ao Templo.
1209 - Guilaume de
Chartres, Mestre.
1210 - O Templo ataca
o castelo de Khawabi, da seita dos assasins.
1218 - É entregue à
Ordem o Castelo Pélegrin.
1219 - Morre Chartres
em Damieta. O sucede Pierre de Montaigú, que foi preceptor de Jaime I, em
Monzón.
1229 - A Ordem
enfrenta Frederico II que tenta sem êxito tomar Acre.
1230 - Estatutos
hierárquicos (usos e costumes).
1232 - Armand de
Perigoud, Mestre. Negocia com o sultão de Damasco a restauração do culto
cristão em Jerusalém.
1244 - Richard de
Bues, Mestre. Morre Armand de Perigoud e 312 cavaleiros na batalha de Herbiya.
Perda definitiva de Jerusalém.
1247 - Guillaume de
Sonnac, Mestre.
1249 - (06-06)
Batalha de Damieta.
1250 - Batalha de
"Mansurah". Luis IX e o Templo sofrem uma impressionante derrota. Na
retirada morre de Sonnac (05-04). O sucede Reinaldo de Vichiers, preceptor da
França e Mariscal da Ordem.
1256 - Morre Vichiers. Thomas Berard, Mestre.
1257 - Considerações
(cerimônias).
1267 -
Professa Jacobo de Molay.
1271 - O sultão do
Egito, Baibars captura o melhor dos Cavaleiros, da Ordem dos Hospitalários.
1272 - Morre Bérard.
O sucede Guillaume de Beaujeu. Entre os dois é possível que fosse Mestre
Wilfredo de Salvaing.
1274 - O
concílio de Lión tenta a união entre templários e hospitalários.
1285 - É coroado
Felipe IV, rei da França.
1287 - Perde-se
Trípoli.
1291 - Perde-se São
João de Acre, última cidade cristã na Terra Santa. De Beaujeu morre no combate.
Thibau Gaudin o sucede.
1294 -
(1292/1296)? Jacques de Molay é Mestre.
1299 - Expedição
templária ao Egito.
1303 - Perde-se a
ilha de Rodhes, frente à fortaleza de Tortosa.
1304 -
Conclave de Perusa (Agen). Primeiras acusações contra o Templo.
1305 - (14-11)
Clemente V (Beltran de Got) é coroado Papa em Lyón.
1306 - Clemente V
ordena J. de Molay vir de Chipre.
1307 - No início do
ano de Molay chega a Paris. (14/09) O Rei da França envia aos juízes cartas
lacradas com a ordem de prisão dos templários por "presunções e fortes
suspeitas" originadas pela "denúncia" de Esquieu de Floryan.
(14/10) Divulga-se em Paris o manifesto real e se executa a ordem de prisão. A
acusação é de apostasia, ultraje a Cristo, ritos obscenos, sodomia e idolatria.
(19/10 a 24/11). Procede-se aos interrogatórios. Dos 138 interrogados, 36
morrem por torturas. (27/10). Clemente V protesta frente Felipe de França pela
prisão (22/11). A bula PASTORALIS PRAEMINENTIAE, de Clemente V ordena aos
príncipes cristãos que prendam os templários. Á mudança de atitude se deve a
falsas acusações criadas por ele em torno do Rei francês.
1308 - (25/3) O rei
da França convoca seu Estado Maior e exige que os templários sejam condenados.
(25/5) Felipe O Belo se desloca até Poitiers para se entrevistar com o Papa.
(27/6 a 1/7) 72 templários comparecem perante Clemente V. O Rei mantém a
custódia dos bens, mas a [custódia] das pessoas passa para a Igreja. (12/8) São
nomeadas comissões eclesiásticas sob a autoridade do bispo de cada diocese.
1309 - (8/8) Abre as
sessões a comissão eclesiástica de Paris, um ano depois de sua constituição.
(26/11) Comparece frente a comissão J. de Molay.
1310 - (11 de maio)
Concílio provincial em Sens. 45 templários revogam suas confissões, são acusados
de "relapsos". São executados no dia seguinte.
1311 - (5 de junho) A
comissão episcopal dá por terminados seus trabalhos, concedendo que não se pode
condenar à Ordem sem ter ouvido publicamente sua defesa. (16/10) Abertura do
concílio de Viena.
1312 - (20-03) Felipe
se apresenta no Concílio de Viena. (22/3) Supressão sem condenação. Vox in
excelso. Na Escócia não se promulga dado que o Rei Robert de Bruce estava
excomungado. (2-5) A bula Ad Providam distribui os bens do Templo.
1313 - Bulas papais
para que os reconciliados fossem recebidos em monastérios.
1314 - (18/03)
Sentença contra Molay e dignitários (19/03) Morre na fogueira Molay e Charnay.
Do Elogio à Nova Milícia - São Bernardo
Eis aqui outro
orientador espiritual, este para uso dos Cavaleiros Templários, meio monges,
meio guerreiros.
PRÓLOGO
A Hugo, Soldado de
Cristo e Mestre de sua Milícia,
Bernardo Abade, só no
nome, de Claraval,
Saudações e que lutes
o bom combate.
Uma, e depois outra,
e até três vezes, se não me engano, havias me pedido, caríssimo Hugo, que
dirigisse a ti e a teus companheiros algumas palavras de alento que, se não
prejudicassem a lança, vibrassem pelo menos a pena contra o inimigo tirano. E
que sempre me afirmavas que tinham de ser um grande estímulo, para que, por não
ser possível ajudarmos com as armas, os exortasse e animasse com meus escritos.
Demorei algum tempo
em satisfazer teus desejos, não porque desdenhasse teu pedido, antes temendo
que, se o aceitasse, me culpassem de precipitado e rápido, posto que, podendo
fazê-lo qualquer outro melhor, presumia eu de poder sair airoso de tal empresa,
e assim, prejudicava o fruto que podia se obter de coisa tão necessária. Mas ao
ver que ,minha grande demora de nada me servia, pois insistias uma e outra vez,
ainda que incompetente, decidi-me a fazer o que estava em mim. O leitor julgará
se satisfiz seus desejos. Embora certamente, como escrevi este opúsculo senão
para contentar-te e aceder ao que me pedias, não me preocupa muito que agrade
àqueles que o lerem.
CAPÍTULO I
Elogio à Nova Milícia
Ouve-se dizer que um
novo gênero de milícia acaba de nascer na terra, e precisamente naquela região
onde antigamente viera nos visitar em carne o Sol Oriente, para que alí mesmo
onde expulsou com o poder de seu robusto braço os príncipes das trevas, expulse
agora os satélites daqueles, filhos da infidelidade e da confusão, por meio
desses seus fortes, resgatando também o povo de Deus e suscitando um poderoso
Salvador na casa de David seu servo.
Sim, um novo gênero
de milícia nasceu, desconhecido em séculos passados, destinado a lutar sem
trégua um duplo combate contra a carne e sangue e contra os espíritos malignos
que povoam os ares. Sem dúvida, quando vejo combater só com as forças corporais
um inimigo também corporal, não só o tenho por caso maravilhoso, porém sequer o
julgo raro. Quando igualmente observo como as forças da alma guerream contra os
demônios, tampouco me parece isso assombroso, embora seja muito digno de
elogio, pois cheio está o mundo de monges, e todos costumam manter essas lutas.
Mas quando se vê que um só homem carrega em seu flanco com ardor e coragem sua
dupla espada e cinge os quadrís com um duplo cíngulo, quem não julgará caso
insólito e digno de grandíssima admiração? Intrépido e bravo soldado aquele
que, enquanto reveste seu corpo com a couraça de aço, guarnece sua alma sob a
loriga da fé; pode gozar de completa segurança, porque equipado com essas
duplas armas defensivas, não tem que temer aos homens nem aos demônios. E mais,
nem sequer teme a morte, antes a deseja. O que poderia assustá-lo vivo ou
morto, quando seu viver é Cristo? Ao contrário, desejaria melhor acabar de se
soltar do corpo para estar com Cristo, sendo isso o melhor.
Marchai, pois,
soldados, ao combate com passo firme e marcial e carregado de valoroso ânimo
contra os inimigos de Cristo, bem seguros de que nem a morte nem a vida poderão
separá-los da caridade de Deus, que está em Cristo Jesus. No fragor do combate
proclamai: Quer vivamos, quer morramos, somos do Senhor. Quão gloriosos se
tornam ao regresso triunfal da batalha! Por quão ditosos se teem quando morrem
como mártires no campo de combate! Alegra-te, fortíssimo atleta, se vives e
vences no Senhor; porém, regozija-te mais e dê saltos de alegria se morres e te
unes ao Senhor. A vida te é certamente proveitosa e de grande utilidade, e o
triunfo te acarreta a verdadeira glória; mas não sem grande razão se antepóe a
tudo isso uma santa morte. Porque se são bem-aventurados os que morrem no
Senhor, quanto mais o serão os que sucumbem por Ele!
É verdade certa é
que, quer os visite no leito, que os surpreenda no fragor do combate, sempre
será preciosa no acatamento do Senhor a morte de seus santos. Mas no ardor da
refrega será tanto mais preciosa quanto mais gloriosa Oh, vida segura, quando
vai acompanhada de boa consciência! Oh vida seguríssima, repito, quando nem
sequer a morte se espera com receio, antes, se a deseja com amorosas ansias e
se a recebe com doce devoção. Oh verdadeiramente santa e segura milícia, livre
daquele duplo perigo que com frequencia costuma assustar aos homens quando não
é Cristo quem os põem na luta!
Quantas vezes, ao
travar combate com teu inimigo, tu, que militas nos exércitos do século, temes
que, matando-lhe no corpo, matas também sua alma. Ou que, sendo tu morto pelo
aço de teu rival, percas juntamente a vida da alma e a vida do corpo!
Porque não é pelo
resultado material da luta, antes pelos sentimentos do coração pelo que
julgamos os Cristãos acerca do risco corrido em uma guerra ou da vitória ganha;
porque se a causa é boa, não poderá ser nunca mau o resultado, seja qual for o
êxito , assim como não poderá se ter por boa a vitória ao final da campanha,
quando a causa pela qual se iniciou não o foi e os que a provocaram não tiveram
reta intenção. Se querendo matar a outro, és tu o morto, morres já homicida. E
se prevaleces sobre teu contrário e, levado pelo desejo de vencer-lhe, mata-o,
embora vivas, és também homicida. Infausta vitória na que, triunfando do homem,
sucumbes ao pecado! E se a ira ou a soberba te avassalam, vãmente te jactas por
haver dominado a teu oponente.
Dá-se outro caso, à
exceção dos ditos, e é o de quem mata, não por zêlo de vingança, nem pela
perversidade de gozar do triunfo, senão para evitar o mesmo a morte. Porém
tampouco direi seja boa tal vitória; porque dentre dois males, como são a morte
da alma ou a morte do corpo, preferível é a segunda; não porque morra o corpo
morre também na alma, antes a alma que pecar, ela morrerá.
CAPÍTULO II
Da Milícia Secular
Qual será, pois, o
fino fruto do que não chamo de milícia, senão de milícia secular, se o que mata
peca mortalmente e o que cai morto perece para sempre? Porque se a esperança
faz arar ao que ara, para usar as palavras do Apóstolo, e o que separa o faz
esperando receber o fruto, que estranho erro é esse em que viveis, soldados do
século? Que fúria frenética e intolerável os arrebata para que de tal modo
guerreais passando grandes sofrimentos e gastando toda vossa economia, sem mais
resultado que vir a parar no pecado ou na morte? Vestis vossos cavalos com
sedas; aplicam em vossas couraças e lorigas não sei que plumas de diversos
tecidos; pintais as ponteiras dos escudos, as capas dos escudos, as selas de
montar, mandais fazer de ouro e prata os freio e as esporas, adornando-os de
pedrarias, e assim, com toda a pompa, cheios de vergonhoso furor e imprudente
estupor, cavalgais a passo ligeiro para a morte. São essas insígnias militares
ou melhor enfeites de mulheres? Acaso a adaga inimiga retrocederá ante o brilho
do ouro? Respeitará as ricas pedras? Não se atreverá a cortar e rasgar as
sedas? Enfim, não vos foi ensinado a vós mesmos a experiência diária que para
um soldado em campanha o mais necessário são três coisas, convém saber: valor,
Sagacidade e cautela para parar os golpes do inimigo, soltura e agilidade de
movimentos que vos permita ir ligeiro em vosso avanço e perseguição, e, por
último, que estejais sempre pronto e rápido para feri-lo e derrubá-lo.
A vós vemos, pelo
contrário, cuidar com esmero vossa cabeleira ao jeito feminino, o qual redunda
em prejuízo de vossa visão no estrondo da guerra; vos envolveis com longos
camisões que chegam até os pés e os travam; e, enfim, sepultais em amplas e
complicadas mangas vossas mãos delicadas e ternas. Sobre tudo isso adicionais o
que mais pode amedrontar a consciência de um soldado que sai em campanha, quero
dizer, o motivo leviano e frívolo pelo qual teve a imprudência de se meter em
milícia tão perigosa.
Por certo é que todas
vossas diferenças e guerras nascem só de certos arrebatamentos de ira, ou de
vãos desejos de glória, ou de ambição para conquistar alguma vantagem terrena.
E, por tais motivos, certo que não se pode com segura consciência nem matar nem
ceder.
CAPÍTULO III
Dos Soldados de Cristo
E mais, os soldados
de Cristo lutam com segurança as batalhas do Senhor, sem temor de cometer
pecado por morte do inimigo, nem por desconfiança de sua salvação em caso de
sucumbir. Porque dar ou receber a morte por Cristo não só não implica uma
ofensa a Deus nem culpa alguma, senão que merece muita glória; pois no primeiro
caso, o homem luta por seu Senhor, e no segundo, o Senhor se dá ao homem por
prêmio, olhando Cristo com agrado a vingança que se lhe faz de seu inimigo, e
ainda com agrado maior se oferece o próprio por consolo ao que cai na lida.
Assim, pois, digamos uma e mais vezes que o Cavaleiro de Cristo mata com
segurança de consciência e morre com maior confiança e segurança ainda.
Utilidade tira para
si, se sucumbe, e triunfo para Cristo, se vence. Não sem motivo leva a espada à
cinta. Ministro de Deus é para castigar severamente os que se dizem seus
inimigos; de Sua Divina Majestade recebeu o zero, para castigo dos que agem mal
e exaltação dos que praticam o bem. Quando tira vida de um malfeitor não se lhe
há de chamar homicida, senão "malicida", se vale a palavra, executa
pontualmente as vinganças de Cristo sobre os que praticam a iniquidade, e com
razão adquire o título de defensor dos cristãos. Se o matam, não dizemos que se
perdeu, senão que se salvou. A morte que dá é para a glória de Cristo, e a que
recebe, para sua própria. Na morte de um pagão pode se gloriar um cristão
porque sai glorificado Cristo; morrendo valorosamente por Cristo mostra-se a
liberalidade do Grande Rei, posto que tira seu Cavaleiro da terra para dar-lhe
o galardão. Assim, pois, o justo se alegrará quando o primeiro deles sucumba,
vendo aparecer a divina vingança. Mas se cai o guerreiro do Senhor, dirá: acaso
não haverá recompensa para o justo? Certo que sim, pois há um Deus que julga os
homens sobre a terra.
Claro está que não se
haveria de dar morte aos pagãos se se pudesse refreá-los por outro qualquer
meio, de modo que não acometessem nem perseguissem os fiéis e os oprimissem.Mas
por enquanto vale mais acabar com eles que tirar de suas mãos a vara com que
haviam de escravizar os justos, e que não sejam os justos que afrouxem suas
mãos à iniquidade.
Pois, porque, se não
é lícito em absoluto ao Cristão ferir com a espada, como o Pregoeiro de Cristo
exortava os soldados a se contentar com o soldo, sem proibir-lhes continuar em
sua profissão? Isto suposto, se por particular providência de Deus se permite
ferir com a espada os que abraçam a carreira militar, sem aspirar outro gênero
de vida mais perfeito, a quem, pergunto eu, será mais permitido que os
valentes, por cujo braço esforçado retemos ainda a fortaleza da cidade de Sión,
como baluarte protetor aonde possa se acolher o povo santo, guardião da
verdade, depois de expulsos os violadores da Lei Divina? Dissipai, pois, e
desfazei sem temor a essas pessoas que só respiram guerra; passai à espada aos
que semeiam o medo e a dúvida entre vossas filas; expulsai da cidade do Senhor
todos os que praticam a iniquidade e ardem em desejos de saquear todos os
tesouros do povo cristão guardados dentro dos muros de Jerusalém, que só
cobiçam se apoderar do santuário de Deus e profanar todos nossos santos
mistérios. Desembainhe-se a dupla espada, espiritual e material, dos cristãos,
e descarregue com força sobre a testa dos inimigos, para destruir tudo o que se
ergue contra a ciência de Deus, ou seja, contra a fé dos seguidores de Cristo;
não digam nunca os fiéis 'Onde está seu Deus'?
Quando eles partirem
em fuga e derrotados, voltará então à sua propriedade e à sua casa, da que diz
de forma irada o Evangelho: Eis que vossa casa ficará deserta e um profeta
queixa-se desse modo: Tive que me ausentar de minha casa e templo e deixar
abandonada minha propriedade. Se, então se cumprirá aquele vaticínio profético
que diz: O Senhor redimiu seu povo e o livrou das mãos do poderoso; e virão e
cantarão hinos a Deus no monte Sión, e se juntarão aos bens do Senhor.
Regozija-te,
Jerusalém, porque chegou o tempo da visita de teu Deus. Enche também de júbilo,
desertos de Jerusalém, e prorrompei em celebrações, porque o Senhor aliviou a
aflição de seu povo, redimiu sua cidade santa e levantou poderosamente seu
braço frente aos olhos de todas as nações. Virgem de Israel, havias caído sem
que houvesse quem te desse a mão para te levantar. Ergue-te agora, sacode o pó,
Virgem cativa filha de Sion.
Levanta-te, repito,
suba ao topo de tuas torres e vislumbra dalí os rios caudalosos de gozo e
alegria que o Senhor faz correr para ti. De agora em diante não te chamarão
"a abandonada", nem tua terra se verá por mais tempo desolada, porque
o Senhor se comprouve em ti e voltarás a ter teus campos repovoado. Olhe ao
redor e veja: todos se juntaram para vir a ti. Eis aí o socorro que te foi
enviado do alto. Por eles a ti será cumprida a antiga promessa: te colocarei
para a glória dos séculos e gozo de geração em geração; mamarás o leite das
nações e te criarão o valor dos reis. E também, como a mãe acaricia seus
filhinhos, assim também eu os aliviarei e em Jerusalém serás aliviado. Não ves
com quantos testemunhos antigos fica aprovada vossa milícia e como se cumprem
ante vossos olhos os oráculos alusivos à cidade das virtudes do Senhor? Mas de
forma que o sentido literal não impeça que entendamos e creiamos no espiritual,
e que a interpretação que agora damos na terra às palavras dos profetas não
obste para que esperemos vê-las cumpridas na eternidade gloriosa; não seja pelo
que vemos que se nos desvaneça o que diz a fé, e pelo pouco que temos percamos
a esperança nas copiosas riquezas, e, por fim, pela certeza do presente
esqueçamos o futuro. Quanto ao mais, a glória temporal da Jerusalém terrena não
só se destrói ou diminui os gozos que teremos na celestial, senão que os
aumenta, se temos bastante fé e não duvidemos que esta daquí embaixo só é uma
imagem da dos céus, que é nossa mãe.
CAPÍTULO IV
Do modo de viver dos Soldados de Cristo
Mais para imitação ou
confusão de nossos soldados que não militam com certeza para Deus, senão para o
diabo, digamos brevemente qual há de ser a vida e os feitos dos Cavaleiros de
Cristo e como hão de se haver em tempo de paz e em dias de guerra, para que se
veja claramente quanta é a diferença entre a milícia do século e a de Deus. E
antes de tudo, tanto em uma como na outra dá-se grandíssima importância à
obediência e tem-se em muito alto conceito a disciplina, sabendo todos quanta
verdade se encerra naqueles [ditos] da Escritura: o filho indisciplinado
perecerá. E naquele outro: O desobedecer ao Senhor é como o pecado de magia, e
como crime de idolatria o não querer se submeter. Vão e vem estes estes bons
soldados a um sinal de mando, põem as roupas que ordena o Capitão, não tomam
alimento nem vestem uniforme fora dos estipulados por ele. E o mesmo quanto ao
comer e no que vestir evitam todo o superfluo, satisfeitos com o necessário.
Levam a vida comum dentro de alegre, mas modesta e sóbria camaradagem, sem
esposas e sem filhos. Para que nada falte à perfeição evangélica, não possuem
nada de próprio, pensando só em conservar entre si a união e a paz. Direis que
toda aquela multidão de homens tem um só coração e uma só alma; até tal ponto
que nenhum deles quer se orientar por sua própria vontade, senão seguir em tudo
a daquele que manda. Jamais estão ociosos nem vagam daqui para lá em busca de
curiosidades, senão que durante todo o tempo, em que não estão em campanha, o
que raras vezes ocorre, a fim de comer o pão gratuito, ocupam-se em limpar,
remendar, tirar o môfo, compor e reparar tanto as armas como as vestimentas,
para preservá-los e conservá-los contra os desgastes do tempo e do uso; e
quando não isso, obedecem o que lhes ordena o capitão e trabalham no que é
necessário para todos.
Não os vereis
favorecer pessoas; respeitam e obedecem sempre ao representante de Deus, sem se
preocupar em se é ou não é o mais nobre. Recatam-se mutuamente de mostras de
honra e deferencias, suportam as obrigações uns dos outros, cumprindo com isso
a Lei de Cristo. Não se estilam entre eles palavras arrogantes, nem ocupações
inúteis, nem risos sem compostura, nem o mais leve murmúrio; e se algum
incorresse nisso, não ficaria sem corretivo.
Tem aversão à
prestidigitação e jogos de azar; tampouco se dedicam à caça e não se permitem à
falconagem, embora tão generalizada. Abominam cômicos, magos e bufões, cujo
trato evitam com cuidado; detestam as toadas engraçadas, as comédias e toda a
linha de espetáculos, como puras vaidades e necessidades enganosas.
Cortam o próprio
cabelo, sabendo pelos ensinamentos do apóstolo que é uma vergonha para os
homens o pentear cabelos compridos. Nunca enfeitam os cabelos, raras vezes
tomam banho, andam com a barba cerrada, geralmente cobertos de poeira e
enegrecidos pelas cotas dde malha e queimados pelo sol.
Ao se aproximar o
combate, armam-se de fé em sua alma e cobrem-se por fora de ferro, não de ouro,
a fim de que assim, bem equipados de armas, não engalanados de jóias, infundam
medo a seus inimigos sem provocar sua cobiça. Procuram cavalos fortes e
velozes, não formosos e bem arreiados, pensando mais em vencer que em ostentar
altivez, e o que desejam não é precisamente causar admiração e pasmo, senão
turbação e medo.
E até começar a luta,
não se lançam a ela impetuosos e de forma turbulenta, como empurrados pela
precipitação, senão com suma prudência e extrema cautela, ordenando-se todos em
coluna cerrada para se apresentar à batalha, segundo lemos, que costumava fazer
o povo de Israel. Mostrando-se em tudo verdadeiros israelitas, se adiantam ao
combate pacífica e sossegadamente. Mas apenas o clarim dá o sinal de ataque,
deixando subitamente sua natural benignidade, parecem gritar com o salmista:
Não odiei, Senhor, àqueles a que tinhas aversão? Não me recriminastes ante a
conduta de teus inimigos? E assim davam carga sobre seus adversários, tal como
entrassem em um rebanho de cordeiros, sem que, apesar de seu escasso número, se
intimidem ante a crudelíssima barbárie e ingente multidão das hostes
contrárias. É que aprenderam a confiar não em suas próprias forças, senão no
poder do Senhor Deus dos exércitos, em quem está a vitória, o qual, segundo se
diz nos Macabeus, pode facilmente por meio de um punhado de valentes acabar com
grandes multidões, e sabe livrar seus soldados com igual arte das mãos de
poucos com de muitos; porque o triunfo não está em que um exército seja
numeroso, senão que a fortaleza provem do céu.
Experiência
frequentíssima tem disto, porque mais de uma vez lhes ocorreu derrotar e
afugentar o inimigo, lutando um contra mil e dois contra dez mil.
Enfim, estes Soldados
de Cristo, de modo maravilhoso e singular, mostram-se tão mansos como cordeiros
e tão ferozes como leões, não se sabendo se lhe hás de chamar monges ou
guerreiros ou dar-lhes outro nome mais apropriado que abarque a ambos, pois
conseguem irmanar a mansidão de uns com o valor e a fortaleza de outros. Acerca
de tudo isso, que dizer, senão que tudo isso é obra de Deus, e obra admirável a
nossos olhos? Eis aqui os homens fortes que o Senhor foi elegendo de um confim
a outro do mundo, entre os mais bravos de Israel para faze-los soldados de sua
escolta, a fim de guardar o leito do verdadeiro Salomão, ou seja o Santo
Sepulcro, em cujo redor os pôs para estar alertas como fiéis sentinelas armados
de espada e habilíssimos na arte da guerra.
Carta de S. Bernardo a Hugo de Payens
Carta de S. Bernardo
de Claraval a Hugo, Conde de Champanha, que se fez soldado do Templo
(Texto extraído do
site www.osmtj.org, Traduzido por Fr. +João Baptista Neto)
Se pela causa de Deus
passastes de conde a soldado e de rico a pobre, felicito-te como é justo, e em
ti glorifico a Deus, porque sei esta mudança se deve à destra do Altíssimo.Quanto
ao mais, confesso-te que não aceito ainda com resignação que Deus me tenha
privado de tua gozosa presença por seu misterioso desígnio, de modo que não
possa te ver de vez em quando; porque se tivesse sido possível, jamais teria
querido que te afastasses de mim.
Poderei acaso
esquecer nossa primeira amizade e os benefícios que tão generosamente
cumulastes sobre nosso monastério? Oxalá Deus, por cujo amor o fizestes,
tampouco se esqueça de ti!De minha parte, nunca serei ingrato para contigo,
guardarei no espírito a lembrança de tua esplêndida caridade e, se tiver
oportunidade, o demonstrarei com as obras. Com que prazer tentaria fazê-las,
tanto no material como no espiritual, se pudéssemos viver próximos! Mas, como
não é assim, só me resta orar sempre pelo ausente, já que careço de tua
presença.
Guardiões da Terra Santa
Círculo Iniciático de Hermes
Entre as atribuições
das ordens de cavalaria, e mais em particular dos Templários, umas das mais
conhecidas, mas nem por isso em geral bem compreendidas, é a de "guardiões
da Terra Santa". Seguramente, se nos prendermos ao sentido mais exterior,
encontraremos uma explicação imediata desse fato na conexão existente entre a
origem dessas ordens e as Cruzadas, pois, tanto para os cristãos, quanto para
os judeus, parece que a "Terra Santa" nada mais designa que a
Palestina. No entanto, á questão torna-se mais complexa quando se sabe que
diversas organizações orientais, cujo caráter iniciático não pode ser colocado
em dúvida, como os Assacis e os Drusos, receberam também o título de
"guardiões da Terra Santa". Aqui, de fato, não mais se trata da
Palestina, mas é no entanto notável que essas organizações apresentem um grande
número de traços comuns com as ordens de cavalaria ocidentais, com as quais
algumas delas chegaram historicamente a estabelecer relações.
Cabe, assim, nos
perguntarmos o que se deve entender, na realidade, por "Terra Santa",
e ao que corresponde exatamente o papel de "guardiões", que parece
ligado a um determinado gênero de iniciação, que se poderia denominar
"cavaleiresco", desde que déssemos a esse termo uma extensão mais
ampla do que se entende comumente, mas que as analogias existentes entre as
diferentes formas bastam para legitimá-lo.
Já demonstramos em
outras partes, em particular no estudo sobre O Rei do Mundo, que a expressão
"Terra Santa" tem um certo número de sinônimos: "Terra
Pura", "Terra dos Santos", "Terra dos Bem- aventurados",
"Terra dos Viventes", "Terra da Imortalidade", e que essas
designações equivalentes são encontradas nas tradições de todos os povos.
Essencialmente, elas sempre se aplicam a um centro espiritual, cuja localização
numa determinada região pode, segundo o caso, ser entendida literal ou
simbolicamente, ou nos dois sentidos ao mesmo tempo. Toda "Terra
Santa" é também designada por expressões como "Centro do Mundo"
ou "Coração do Mundo", o que exige algumas explicações, pois essas
designações uniformes, ainda que diversamente aplicadas, poderiam com
facilidade provocar certas confusões.
Se, por exemplo,
considerarmos a tradição hebraica, veremos que se fala, no Sepher Yetsirah, do
"Santo Palácio" ou "Palácio Interior", que é o verdadeiro
"Centro do Mundo", no sentido cosmogônico do termo. Veremos também
que o "Santo Palácio" tem sua imagem no mundo humano através da
residência, num certo lugar, da Shekinah, que é a "presença real" da
Divindade. Para o povo de Israel, a residência da Shekinah era o Tabernáculo
(Mishkan), que por essa razão era considerado como o "Coração do
Mundo", pois consistia de fato no centro espiritual de sua própria
tradição. Esse centro, aliás, não se encontrava de início num lugar fixo;
quando se trata de um povo nômade, como era o caso, seu centro espiritual
deve-se deslocar com ele, permanecendo contudo sempre o mesmo no decurso de tal
deslocamento. "A residência da Shekinah, diz o Sr. Vulliaud, só foi fixada
na época da construção do Templo, para o qual Davi tinha preparado ouro, prata
e tudo o que era necessário para Salomão concluir a obra. O Tabernáculo da
Santidade de IHVH, a residência da Shekinah, é o Santo dos Santos que constitui
o coração do Templo, que é por sua vez o centro de Sion (Jerusalém), como a
santa Sion é o centro da Terra de Israel, como a Terra de Israel é o “centro do
mundo”. Pode-se notar que existe aí uma série de extensões dada de forma
gradual à idéia de centro nas aplicações que são feitas sucessivamente, de modo
que a denominação "Centro do Mundo" ou "Coração do Mundo" é
finalmente estendida à Terra de Israel inteira, enquanto que esta é considerada
como a "Terra Santa". E é preciso acrescentar que, sob o mesmo ponto
de vista, ela recebe também, entre outras denominações, a de "Terra dos
Viventes". Diz-se que a "Terra dos Viventes compreende sete
terras", e o Sr.
É bom notar que as
expressões aqui empregadas evocam a aproximação muitas vezes estabelecida entre
a construção do Templo, considerada em sua significação ideal, e a “Grande
Obra” dos hermetistas.Vulliaud observa que "essa Terra é Canaã, na qual
havia sete povos", o que é exato no sentido literal, ainda que uma interpretação
simbólica seja também possível.A expressão "Terra dos Viventes" é
sinônima exata de "morada da imortalidade", que a liturgia católica
aplica à morada celeste dos eleitos, representada, com efeito, pela Terra
Prometida, visto que Israel, nela penetrando, devia ver o fim de suas
tribulações. De um outro ponto de vista ainda, a Terra de Israel, enquanto
centro espiritual, era uma imagem do Céu, pois, segundo a tradição judaica,
"tudo o que fazem os israelitas sobre a terra é cumprido de acordo com os
modelos do que se passa no mundo celeste.
O que se diz aqui dos
israelitas vale também para todos os povos possuidores de uma tradição
verdadeiramente ortodoxa. De fato, o povo de Israel não é o único que assimilou
seu país ao "Coração do Mundo" e que o viu como imagem do Céu, duas
idéias que no fundo são idênticas. O uso do mesmo simbolismo é encontrado em
outros povos que possuíam também uma "Terra Santa", isto é, uma
região em que estava estabelecido um centro espiritual, que tinha para eles um
papel comparável ao do Templo de Jerusalém para os hebreus. A esse respeito,
ocorre com a "Terra Santa" o mesmo que se passa com o Omphalos, que
era sempre a imagem visível do "Centro do Mundo" para o povo que
habitava a região em que estava situado.
O simbolismo em
questão encontra-se em particular entre os antigos egípcios. De fato, segundo
Plutarco, "os egípcios dão à sua terra o nome de Chémia, e a comparam ao
coração". A explicação de Plutarco para isso é bastante estranha:
"Esse país, de fato, é quente, úmido, contido nas partes meridionais da
terra habitada, estendido para o sul, do mesmo modo que no corpo do homem o
coração se estende à esquerda", pois "os egípcios consideram o
Oriente como a face do mundo, o norte como estando à direita, e o sul à
esquerda. Tais similaridades são muito superficiais, e a verdadeira razão deve
ser inteiramente outra, pois a mesma comparação com o coração foi também
aplicada a toda terra à qual se atribuía um caráter sa- grado e
"central" no sentido espiritual, independentemente de sua situação
geográfica. Além disso, no próprio relato de Plutarco, o coração representava
tanto o Egito, quanto o Céu: "Os egípcios", diz ele, “representam o
Céu, que não poderia envelhecer por ser eterno, por um coração colocado sobre
um braseiro, cuja chama lhe mantém o ardor”. Desse modo, enquanto que o próprio
coração é figurado por um vaso, aquele mesmo que as lendas da Idade Média
ocidental designariam como o "Santo Graal", ele é por sua vez,
simultaneamente, o hieróglifo do Egito é do Céu.
A conclusão que
podemos extrair dessas considerações é que existem tantas "Terras Santas"
particulares, quantas são as formas tradicionais regulares, pois elas
representam os centros espirituais que correspondem respectivamente a essas
diferentes formas. E se o mesmo simbolismo se aplica de modo uniforme a todas
essas "Terras Santas", é porque os centros espirituais têm todos uma
constituição análoga, muitas vezes até em detalhes muito precisos, pois são
igualmente imagens de um mesmo centro único e supremo, o verdadeiro
"Centro do Mundo", do qual recebem os atributos na medida em que
participam de sua natureza por uma comunicação direta, na qual reside a
ortodoxia tradicional, e que o representam na verdade, de um modo mais ou menos
exterior, para tempos e lugares determinados. Em outros termos, existe uma
"Terra Santa" por excelência, que é o protótipo de todas as outras e
o centro espiritual ao qual todas as demais estão subordinadas; é a sede da
tradição primordial da qual todas as tradições particulares derivaram para se
adaptarem às condições definidas de um povo ou de uma época. Essa "Terra
Santa" por excelência é o "país supremo”, segundo o sentido do termo
sânscrito Paradêsha, do qual os caldeus fizeram Pardes e os ocidentais,
Paraíso. É, de fato, o "Paraíso Terrestre", ponto de partida de toda
tradição, que tem em seu centro a fonte única da qual partem os quatro rios que
correm para os quatro pontos cardeais, e que é também a "morada da
imortalidade", como é fácil notar se nos reportarmos aos primeiros capítulos
do Gênesis.
Kêmi, na língua
egípcia, significa “terra negra”, designação que tem ainda equivalentes entre
outros povos; dessa palavra veio alquimia (sendo al o artigo em árabe), que
designava originariamente a ciência hermética, isto é, a ciência sacerdotal do
Egito.Na Índia, ao contrário, o sul é designado como o “lado da direita”
(dakrishna); mas, apesar das aparências, isso vem a dar no mesmo, pois entender
que se trata do lado direito de quem está olhando voltado para o Oriente, e é
fácil imaginar o lado esquerdo do mundo como se estendendo à direita daquele
que o contempla, e vice-versa, tal como ocorre com duas pessoas colocadas uma
frente à outra. Podemos notar que esse símbolo, com a significação que lhe foi
dada aqui, parece ser comparável ao da Fênix.
Não podemos voltar
aqui a todas as questões referentes ao Centro Supremo e já tratados em outros
momentos: sua conservação de modo mais ou menos oculto segundo os períodos, do
começo ao fim do ciclo, isto é, desde o "Paraíso Terrestre" até a
"Jerusalém Celeste", que representam as suas duas fases extremas; os
múltiplos nomes sob os quais é designado, tais como Tula, Luz, Salém, Agartha;
os diferentes símbolos que o representam, como a montanha, a caverna, a ilha e
muitos outros, ainda, na maioria dos casos em relação imediata com o simbolismo
do "Pólo" ou do "Eixo do Mundo". A essas representações
poderíamos também acrescentar a cidade, a cidadela, o templo ou o palácio,
conforme o aspecto particular pelo qual é considerado. Podemos ainda lembrar
aqui o Templo de Salomão, que se relaciona diretamente com o nosso tema, a
tríplice muralha, da qual falamos recentemente como representando a hierarquia
iniciática de certos centros tradicionais, e também o misterioso labirinto que,
sob uma forma mais complexa refere-se a uma concepção similar, com a diferença
de que neste coloca-se em evidência, principalmente, a idéia de um
"encaminhamento" na direção do centro oculto.
Devemos agora
acrescentar que o simbolismo da "Terra Santa" tem um duplo sentido:
quer esteja relacionado ao Centro Supremo ou a um Centro subordinado,
representa não só o próprio centro, mas também, por uma associação muito
natural, a tradição que dele emana ou que por ele é conservada, ou seja, no
primeiro caso a tradição primordial e, no segundo, uma certa forma tradicional
particular. Esse duplo sentido é encontrado também de um modo muito claro no
simbolismo do "Santo Graal", que é ao mesmo tempo um vaso (grasale) e
um livro (gradale ou graduale). Este último aspecto designa de modo evidente a
tradição, enquanto que o outro diz respeito mais diretamente ao estado que
corresponde à posse efetiva dessa tradição, ou seja, o "estado
edênico" quando se trata da tradição primordial. Aquele que chegou a esse
estado está, por isso mesmo, reintegrado ao Pardes, de tal modo que se pode
dizer que sua morada encontra-se, desde então, no "Centro do Mundo".
Não é sem motivo que
estabelecemos aqui uma aproximação entre os dois simbolismo, pois sua estreita
similaridade mostra que, quando se fala da "cavalaria do Santo Graal"
ou dos "guardiões da Terra Santa", o que se deve entender por essas
duas expressões é exatamente a mesma coisa. Restanos explicar, na medida do
possível, no que consiste propriamente a função desses "guardiões",
representados de modo particular pelos Templários.
Essa fonte é idêntica
à “fonte do ensinamento”, à qual tivemos anteriormente ocasião de fazer, aqui
mesmo, diversas referências.É por isso que a “fonte do ensinamento” é ao mesmo
tempo a “fonte da juventude” (fons juventis), pois quem dela bebe está liberado
da condição temporal; ela está ainda situada ao pé da “Árvore da Vida” e suas
águas se identificam evidentemente ao “elixir da longa vida” dos hermetistas
(tendo aqui a idéia de “longevidade” a mesma significação que nas tradições
orientais) ou à “bebida da imortalidade”, encontrada em todos os lugares sob
diferentes nomes.O labirinto cretense era o palácio de Minos, nome idêntico a
Manu, que também designa o legislador primordial. Por outro lado, pode-se compreender,
pelo que dissemos aqui, a razão pelo qual o percurso do labirinto traçado sobre
o pavimento de certas igrejas da Idade Média era visto como substituto da
peregrinação à Terra Santa por todos aqueles que não podiam realizá-la. É
preciso lembrar que a peregrinação é uma das imagens da iniciação, de modo que
a “peregrinação à Terra Santa”é, no sentido esotérico, a mesma coisa que a
“procura da Palavra Perdida” ou a “demanda do Santo Graal”.Analogicamente, do
ponto de vista cosmogônico, o “Centro do Mundo” é o ponto original em que é
proferido o Verbo Criador, assim como o próprio Verbo.
É importante
recordar, a esse respeito, que em todas as tradições os lugares simbolizam
essencialmente estados. Por outro lado, poderemos notar que existe um
parentesco evidente entre o simbolismo do vaso ou do cálice e o da fonte que
examinávamos mais acima; vimos também que, entre os egípcios, o vaso era o
hieróglifo do coração, centro vital do ser. Relembremos, enfim, o que já
dissemos em outras ocasiões a respeito do vinho como substituto do soma védico
e como símbolo da doutrina oculta. Em tudo isso, de uma forma ou de outra,
trata-se sempre de uma “bebida da imortalidade” e da restauração do “estado
primordial”.
Para compreender bem
do que se trata, é preciso distinguir entre os detentores da tradição, cuja
função é conservá-la e transmiti-la, e os que recebem apenas em certo grau uma
comunicação e, poderíamos dizer, uma participação.Os primeiros, depositários e
distribuidores da doutrina, ligam-se à fonte, que é exatamente o próprio
centro; dali, a doutrina se comunica e se reparte hierarquicamente aos diversos
graus iniciáticos, segundo as correntes representadas pelos diversos rios do
Pardes, ou, se quisermos retomar a representação que estudamos recentemente,
pelos canais que, indo do interior para o exterior, reúnem entre si as muralhas
sucessivas, correspondentes a esses diferentes graus.
Nem todos que
participam da tradição alcançam o mesmo grau e preenchem as mesmas funções.
Poderíamos mesmo fazer uma distinção entre as duas coisas, que, embora
geralmente se correspondam de um certo modo, não são contudo solidárias de
forma estrita, pois pode ocorrer que um homem seja intelectualmente qualificado
para atingir os graus mais elevados, mas não seja apto só por isso para
preencher todas as funções na organização iniciática. Aqui, são apenas as
funções que devemos considerar; e, desse ponto de vista, diremos que os
"guardiões" se mantêm no limite do centro espiritual, tomado em seu
sentido mais amplo, ou no espaço da terceira muralha, que separa o centro do
"mundo exterior" e, ao mesmo tempo, o coloca em contato com este. Por
conseguinte, os "guardiões" têm uma dupla função: de um lado, são
exatamente os defensores da "Terra Santa", na medida em que impedem o
acesso daqueles que não possuem as qualificações requeridas para nela penetrar,
e constituem-se no que denominamos sua "cobertura exterior", ou seja,
ocultam-na dos olhares profanos; por outro lado, asseguram também certas
relações regulares com o exterior, tal como explicaremos a seguir.
É evidente que o
papel de defensor, para falar na linguagem da tradição hindu é uma função dos
chátrias, e, na verdade, toda iniciação "cavaleiresca" está
essencialmente adaptada à natureza própria dos homens que pertencem à casta
guerreira, ou seja, dos chátrias. Vêm daí as características especiais dessa
iniciação, o simbolismo particular que adota e, principalmente, a intervenção
de um elemento afetivo, designado explicitamente pelo termo "Amor".
Já nos detivemos o suficiente neste assunto para não precisar- mos insistir
sobre ele19. Existe porém, no caso dos Templários, mais uma coisa para
considerar: ainda que sua iniciação tenha sido essencialmente
"cavaleiresca", tal como convinha à sua natureza e função, eles
tinham um duplo caráter, ao mesmo tempo militar e religioso. E devia ser assim
mesmo, pois eles estavam, como temos muitas razões para acreditar, entre os
"guardiões" do Centro Supremo, onde a autoridade espiritual e o poder
temporal estão reunidos em seu princípio comum, comunicando a marca dessa
reunião a tudo o que lhe está diretamente ligado.
No mundo ocidental,
em que o espiritual assume a forma especificamente religiosa, os verdadeiros
"guardiões da Terra Santa", na medida em que tiveram uma existência
de certo modo "oficial", deviam ser cavaleiros, mas cavaleiros que,
ao mesmo tempo, seriam monges. E, de fato, os Templários foram exatamente isso.
Essas considerações
nos levam a falar diretamente do segundo papel dos "guardiões" do
Centro Supremo, papel que consiste, como dizíamos há pouco, em assegurar certas
relações exteriores e, principalmente, podemos acrescentar, em manter a ligação
entre a tradição primordial e as tradições secundárias e derivadas. Para que
assim seja, é preciso haver, para cada forma tradicional, uma ou várias
organizações constituídas dessa mesma forma, segundo todas as evidências, mas compostas
de homens conscientes do que está além de todas as formas, ou seja, da doutrina
única que é a fonte de todas as outras, em suma, da tradição primordial.
No mundo da tradição
judaico-cristã, uma tal organização devia naturalmente tomar por símbolo o
Templo de Salomão; tendo este deixado de existir materialmente desde há muito
tempo, só poderia ter então uma significação ideal, como imagem do Centro
Supremo, tal como o é todo centro espiritual subordinado. A própria etimologia
do nome de Jerusalém indica de modo muito claro que ela é uma imagem visível da
misteriosa Salém de Melquisedec. Se foi esse o caráter dos Templários, eles
deviam, para cumprir o papel que lhes estava atribuído e que se referia a uma
determinada tradição, a do Ocidente, permanecer ligados exteriormente à forma
dessa tradição. Mas, ao mesmo tempo, a consciência interior da verdadeira
unidade doutrinária devia torná-los capazes de se comunicarem com os
representantes de outras tradições20: é o que explica suas relações com certas
organizações orientais, e, sobretudo, como é natural, com aquelas que em outras
partes desempenhavam um papel similar ao seu.
Por outro lado,
pode-se compreender, nessas condições, que a destruição da ordem do Templo foi
a causa da ruptura das relações regulares do Ocidente com o "Centro do
Mundo", se bem que remonte ao século XIV o desvio que devia de forma
inevitável resultar nessa ruptura, que foi acentuando-se gradualmente até a
nossa época.
Isso não quer dizer,
contudo, que toda conexão tenha-se rompido de uma só vez. Durante muito tempo
as relações puderam, em certa medida, ser mantidas, só que de uma forma oculta,
por intermédio de organizações como a Fede Santa ou os "Fiéis de
Amor", como a "Massenie du SaintGraal" e, sem dúvida, muitas
outras ainda, todas herdeiras do espírito da ordem do Templo, e na maior parte
ligada a ela por uma filiação mais ou menos direta. Aqueles que conservaram
esse espírito vivo, e que inspiraram essas organizações sem jamais se
constituírem em qualquer agrupamento definido, foram denominados Rosacruzes,
nome essencialmente simbólico. Mas chegou o dia em que os próprios Rosacruzes
tiveram de deixar o Ocidente, pois as condições se tornaram tais que não
puderam mais exercer sua ação e, diz-se, retiraram-se então para a Ásia, sendo
reabsorvidos de algum modo pelo Centro Supremo, do qual eram como que uma
emanação.
Para o mundo ocidental, não há mais "Terra Santa" para
guardar, pois, desde então, perdeu-se o caminho que a ela conduzia. Por quanto
tempo perdurará ainda essa situação? É possível esperar que a comunicação possa
ser restabelecida mais cedo ou mais tarde? Essa é uma questão que não nos
compete responder; além disso, não queremos arriscar qualquer predição. A
solução só depende do próprio Ocidente, pois é apenas retornando às condições
normais e reencontrando o espírito de sua própria tradição, se é que tal
possibilidade ainda lhe resta, que poderá ver abrir-se de novo o caminho que
leva ao "Centro do Mundo".
(por René Guénon em
“Símbolos da Ciência Sagrada”, Editora Pensamento, Brasil tradução: J.
Constantino Kairalla Riemma edição C:.I:.H:.: Fr. Goya)
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