Já vi muitos especialistas em liturgia dizendo não ser necessário
fazer ação de graças depois de ter recebido a comunhão. Se a celebração
eucarística já é, como indica a palavra grega εὐχαριστία, uma
"ação de graças", não seria essa prática repetir o que já foi feito
na Missa?
O que
está em questão, na verdade, mais do que um "jogo de palavras", são a
natureza do sacramento da Eucaristia e como ele age na alma dos que o recebem.
Segundo Santo Tomás de Aquino, "este sacramento produz em relação à vida
espiritual o efeito que a comida e a bebida materiais produzem a respeito da
vida corporal" (S. Th., III, q. 79, a. 1).
Um dos pontos defendidos pela chamada "nutrição
funcional" é que as pessoas não são simplesmente o que comem, mas o que
conseguem absorver dos alimentos que ingerem. Assim, de nada adianta consumir
produtos nutritivos, se não se aproveitam as substâncias que eles contêm.Por exemplo:É sabido que a feijoada contém ferro,porém, para que este PERMANEÇA no organismo produzindo seus efeitos, é necessário ser acompanhada de vitamina C, portanto, ela mesmo contendo ferro, precisa ser acompanhada de uma laranja durante ou após a ingestão da feijoada, para ser ter um melhor aproveitamento nutricional desta substancia.
Analogamente, há muitas pessoas participando da mesa
eucarística, sem todavia aproveitar de seus frutos: embora realmente recebam
Jesus – porque é Ele quem está presente na hóstia consagrada, com Seu corpo,
sangue, alma e divindade, o divino hóspede passa por suas almas sem deixar
rastro, porque elas não se abrem à Sua ação. Infeliz e desgraçadamente, são
muitas as comunhões, mas poucas as almas comungantes; muitos que recebem Nosso
Senhor, mas poucos que verdadeiramente se unem a Ele.
A Teologia nos ensina que a
presença de Cristo na Eucaristia "perdura enquanto subsistirem as espécies
do pão e do vinho" [1]. Isso quer dizer que, nos poucos
minutos em que as aparências do pão permanecem indigeridas, logo após a
comunhão, Jesus Cristo está fisicamente unido a quem comunga, tocando todo o
seu ser com a Sua divina humanidade. Essa ação acontece ex opere operato,
isto é, por força do próprio sacramento: Deus verdadeiramente envia a Sua
graça, bastando que nos disponhamos a recebê-la.
Não é
suficiente, portanto, que a pessoa se ponha em contato com Cristo, se não
reconhece, com a fé, a grandeza de quem o visita, e não trata com amor este
esposo que vem chamá-la à união Consigo. Assim como eram muitos os que
circundavam Jesus, mas somente a hemorroíssa foi curada, porque tocou com
confiança na fímbria de Seu manto (cf. Jo 5,
25-34). Se o problema de alguns é com a linguagem, se a expressão "ação de
graças" gera incômodos, procure-se um outro termo ou mesmo que não se use
nenhum, contanto que seja dada a devida atenção ao divino hóspede das almas.
Ao receber o corpo puríssimo e mansuetíssimo de Cristo, peçamos a
Ele que nos cure de nossa impureza e irascibilidade, e nos ajude a viver a
castidade e a mansidão de coração. Ao ver a Sua sapientíssima e amorosíssima
alma unida à nossa, supliquemo-Lhe que nos cure de nossa ignorância e de nossa má
vontade, iluminando a nossa inteligência com a Sua luz e fortalecendo a nossa
vontade com o Seu ardentíssimo amor.
Só não
desperdicemos esse tempo oportuno, em que Deus nos visita maravilhosamente na
humanidade de Seu divino Filho.
Referências:
1.
Papa São João Paulo II, Carta Encíclica Ecclesia de Eucharistia (17 de abril de 2003), n. 25
(DH 5092).
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