Por que o
Papa Francisco apoia uma intervenção limitada contra o Estado Islâmico (Assim
como no passado outros Papas também o fizeram nas Cruzadas) ?
Quando se trata de uso da força
militar, os americanos tendem a se dividir em dois grupos: aqueles que querem
usar uma força esmagadora para derrotar os inimigos e aqueles que se opõem ao
uso da força por alguma ou outra razão.Os beligerantes conservadores e Hollywood estão no primeiro grupo – quanto maiores
forem as bombas, melhor. Estes apoiariam o pedido do presidente Franklin D. Roosevelt por uma rendição
incondicional durante a Segunda Guerra Mundial.No segundo grupo estão os que se
opõem a qualquer ação militar (os pacifistas) e os que acham que nenhum
americano deveria morrer ajudando algum país estrangeiro (os isolacionistas).
Os dois não acham que o governo faça um bom uso da força.
O
comentário é de Thomas Reese,
jornalista e padre jesuíta, em artigo publicado por National Catholic Reporter,
22-08-2014. A tradução é de Isaque
Gomes Correa:
O uso limitado da força é evitado por ambos os
lados. Os realistas da política externa, por outro lado, consideram a força
militar como simplesmente uma entre muitas ferramentas de se fazer política.
Portanto, o presidente John F. Kennedy poderia
ameaçar os russos durante a crise dos mísseis cubana a partir da Turquia em troca da retirada dos mísseis russos do
país caribenho.
Os beligerantes criticaram o presidente George H.W. Bush, outro realista, por não permitir que
nossas tropas tomassem Bagdá. Queriam a
vitória total, enquanto que os pacifistas se oponham a toda violência. Bush, por outro lado, tinha objetivos limitados:
desfazer as intenções do Iraque quanto
ao Kuwait.O uso limitado da força é uma venda forçada
dentro da democracia. As pessoas não querem que seus filhos morram por
objetivos limitados de política externa.
Estas mortes só têm
significado se as pessoas estiverem defendendo o nosso país ou morrendo por
princípios nobres (liberdade, etc.).
Os franceses resolveram este problema ao ter a Legião Estrangeira Francesa, um exército composto de
estrangeiros dispensáveis. Os EUA tentaram uma solução para este problema
enchendo o exército com pobres e minorias com baixa escolaridade.
É este
contexto o que torna tão difícil para os americanos compreenderem a posição do
Vaticano sobre o uso da força militar, que se baseia na teoria da guerra justa.O
Vaticano parte de uma pressuposição a respeito da guerra: a guerra só pode ser
o último recurso, depois que todas as outras possibilidades se esgotaram.
Primeiro deve-se tentar a diplomacia e reconciliação. Mas o “último recurso”
não significa “nunca”.
Fazer guerra exige uma causa justa, tal como defender-se ou defender alguém
de uma agressão injusta:
Mas nem toda a causa justa é
desculpa para o uso do poder militar. Além de uma causa justa, a intervenção
militar deve causar menos danos do que uma não intervenção. Não devemos
destruir uma aldeia para salvá-la. O uso da força militar deve ser
proporcional, e todo o possível deve ser feito para evitar casualidades civis.Os
papas João Paulo II e Bento XVI se
opuseram às duas guerras do Golfo, e o Papa Francisco se opôs a qualquer intervenção
americana na Síria porque não acharam que
estas ações preenchiam os critérios exigidos pela doutrina da guerra justa.
Pediram um cessar fogo, negociações, diplomacia e reconciliação. Os papas
acreditavam que a intervenção militar iria apenas tornar as coisas piores do
que já estavam.Os papas estavam claramente certos com relação à invasão do Iraque. É difícil sustentar que as milhares de mortes e
os bilhões de dólares gastos tornaram este país melhor.
Quanto à Síria, Hillary Clinton, ex-secretária de Estado, diz que teria
dado mais apoio aos “moderados” do que deu o presidente Barack Obama, enquanto
o papa se opôs a qualquer intervenção militar. Concordo com o papa e com Obama. Não há prova alguma de que faremos algo melhor
na Síria do que fizemos no Iraque, especialmente com um investimento muito menor
de recursos. Os moderados iriam fracassar, independentemente de quantas armas
lhes déssemos.A teoria da guerra justa diz que não devemos promover uma guerra que
não possamos vencer.
Pelo fato de que os papas e o Vaticano se colocavam contra a guerra de forma tão firme, muitos se surpreenderam quando o Vaticano apoiou uma intervenção para deter o abate de minorias religiosas pelo Estado Islâmico. Estas pessoas não deveriam se surpreender. O Vaticano igualmente apoiou uma intervenção internacional no começo da década de 1990 para parar com a limpeza étnica na Bósnia-Herzegovina.
Na semana passada o Catholic
News Service informou que Dom Giorgio Lingua,
núncio apostólico no Iraque, disse à Rádio Vaticano quando lhe perguntaram sobre
os ataques aéreos militares americanos: “Isso é algo que precisou ser feito, de
outro modo [o Estado Islâmico] não poderia ser parado”.Nesse sentido, Dom Silvano Tomasi, representante vaticano nas agências da ONU
em Genebra, disse:
“Quando todos os outros
meios se esgotarem, a comunidade internacional deve agir a fim de salvar a vida
de seres humanos. Isso pode incluir o desarmamento de um agressor”.
Para Tomasi, este foi o
caso da “intervenção humanitária”, porém ela deveria ser feita pela comunidade
internacional – e não de forma unilateral de um único país.O papa disse algo
semelhante durante a sua coletiva de imprensa no caminho
de volta da Coreia do Sul. Em resposta a uma pergunta de um
jornalista, ele falou:
“Nesses
casos, em que há uma agressão injusta, só posso dizer o seguinte: é lícito
deter o agressor. Ressalto o verbo ‘deter’. Eu não estou dizendo ‘bombardeiem’
ou ‘façam a guerra’, mas apenas ‘detenham’. E os meios que podem ser usados
para detê-los devem ser avaliados. Deter o agressor injusto é lícito, mas
precisamos, todavia, nos lembrar de quantas vezes, usando a desculpa de parar
um agressor injusto, os países poderosos dominaram outros povos, fizeram uma
verdadeira guerra de conquista. Um único país não pode julgar como deter um
agressor. Depois da Segunda Guerra Mundial, surgiu a ideia das Nações Unidas. É
aqui onde devemos debater: ‘Há um agressor injusto? Parece que sim. Como
podemos detê-lo?’ Mas somente isso e nada mais”.
Francisco foi bastante cuidadoso no que disse e no que
não disse. Ao falar que “é lícito deter o agressor injusto”, disse deter, e não
destruir, conquistar ou derrotar. Deter, “somente isso e nada mais”. Este
objetivo limitado não irá satisfazer os beligerantes.Tampouco o papa disse como
deter um agressor injusto:
“Eu não estou dizendo
bombardeiem ou façam a guerra, mas apenas detenham”. Para isso, “os meios que
podem ser usados para detê-los devem ser avaliados”.
E, assim como Tomasi, o papa
defende que esta decisão deveria ser feita pela comunidade internacional, ou
seja, as Nações Unidas.Aqui, os realistas das políticas
externas vão dizer que o papa está sendo ingênuo. A única forma de parar o Estado Islâmico é com o uso da força, incluindo
bombardeios. E se tivéssemos esperado até que a ONU agisse, seria tarde demais
para salvar a vida de alguém.Eu diria que os diplomatas do papa (Lingua e Tomasi) estão
articulando a posição do Vaticano de forma mais incisiva do que ele mesmo.
O papa está sendo
extremamente cauteloso porque não quer que os beligerantes americanos digam que
ele está abençoando a intervenção militar americana para uma destruição do Estado Islâmico. Tampouco quer
que extremistas islâmicos digam que ele está convocando uma cruzada contra o Islã. De forma prudente, acerta
ao ser cauteloso deixando que seus diplomatas completem com o que for preciso.O
que o papa realmente fez em sua coletiva de imprensa foi enfatizar a palavra
“deter”.
O pontífice não está dando aos militares americanos
um cheque em branco. Deter o avanço do Estado Islâmico permite
que a diplomacia e as negociações aconteçam. O papa compreende que o uso do
poderio americano para retomar o controle da cidade de Mosul seria um desastre. Foguetes e bombas só
podem libertar uma cidade destruindo-a.Do ponto de vista do presidente Obama, a intervenção militar limitada dá tempo para que
o novo governo iraquiano entre junto na ação, especialmente trazendo sunitas a
bordo. Obama compreende, e isso não acontece com os
beligerantes, que não há solução militar americana alguma para o conflito no
Iraque. Somente os sunitas podem derrotar o Estado Islâmico.
Afinal de contas, foi o despertar dos sunitas o que derrotou a al-Qaeda, e não a presença americana.
Neste sentido, o papa e o presidente americano
concordam:
“somente as negociações
e o comprometimento do Iraque podem
trazer paz ao seu povo.”
Fonte: Unisinos
Nestes momentos em que o mundo fica estarrecido diante das atrocidades praticadas pelos radicais islâmicos,sem querer fazer apologia das Cruzadas, mas da pra entendermos olhando para o passado porque na época ela foi um mal necessário contra estas barbáries, pois se fazem isto hoje, imaginemos no passado...
No séc.
VII a expansão árabe fez perecer as numerosas comunidades cristãs esparsas pela
Síria, a Palestina, o Egito, o norte da Africa. Jerusalém em 638 foi ocupada e,
em parte, transformada em cidade Árabe muçulmana.
As
condições dos cristãos.que lá viviam ou que lá iam ter a fim de visitar os
lugares santos, tornaram´se difíceis, embora oscilantes segundo as épocas; a
tensão do ambiente foi as vezes abrandada por acordos, como, por exemplo, os de
Carlos Magno († 814) com o califa Haroun al´Rachid; esses pactos, porém, nem
sempre foram respeitados, como no caso do califa Hakim, fundador da religião
drusa, que em 1009 mandou destruir a basílica do S.Sepulcro em Jerusalém e
durante dez anos moveu perseguição a cristãos e judeus.
Pouco
depois, ou seja, a partir de 1055, os Turcos seleucidas entraram no próximo
Oriente. Em 1071, Jerusalém caia em suas mãos. Os cristãos, em conseqüência,
sofreram opressão. Os peregrinos que voltavam da Terra Santa, narravam no
Ocidente a ingrata situação em que se achavam os irmãos e os santuários na
Terra Santa de Cristo.
As
condições de peregrinação eram extremamente penosas. Os relatos falam de
peregrinos colocados no cárcere, seqüestrados em troca de dinheiro, torturados,
durante a viagem para a Terra Santa. Uma das crônicas mais impressionantes era
a da peregrinação de Bünther, bispo de Bamberga (Alemanha), que, com milhares
de companheiros, a pequena distância de Jerusalém, sofreu duro ataque dos
beduínos da região durante três dias. Certamente muitos episódios e casos particulares
circulavam de boca em boca na Europa a respeito do que ocorria em Jerusalém e
nos arredores; tais episódios constituiam o teor do que o cristão podia
conhecer a respeito da Terra Santa.
Dessas informações temos um espécimen ainda
hoje numa crônica de Guilherme de Tiro, historiador do século XII:
Aconteceu,
por permissão de Nosso Senhor e para provação do povo, que um homem desleal e
cruél se tornou senhor e califa do Egito. Tinha por nome Hakim e quis
ultrapassar toda a malícia e a crueldade que tinham estado em seus ancestrais.
Ele foi tal que os homens da sua lei o tinham também na conta de eivado de
orgulho, de furor e de deslealdade. Entre outras deslealdades, mandou abater
santa igreja do sepulcro de Jesus Cristo, que fora construída anteriormente por
ordem de Constantino Imperador, pelo patriarca de jerusalém chamado Máximo e
que fora refeita por Modesto, outro patriarca do tempo de Heráclio.
Então
começou a situação de nossa gente a ser muito mais dura e dolorosa do que fora,
pois grande luta lhes entrara no coração por causa da lgreja da Ressurreição de
Nosso Senhor, que eles viam assim destruída .Doutra parte eram dolorosamente
sobrecarregados de impostos e tarefas, contra os costumes e os privilégios que
eles haviam recebido dos príncipes incrédulos.
Até mesmo o que jamais lhes fora imposto,
chegou a ser lhes proibido:
a
celebração das suas festas. No dia que soubessem ser a maior festa dos
cristãos, eles (os drusos) os obrigavam a trabalhar mais sob o jugo e a força;
proibiam´lhes (aos cristãos) sair das portas de suas casas, em que eles eram
encerrados para que não pudessem celebrar festa alguma.
Em suas
casas mesmas não gozavam de paz nem segurança, pois se atiravam sobre elas
grandes pedras e pelas janelas lançavam excrementos, lama e toda espécie de
lixo. Se acontecesse que alguns cristãos dissesse uma só palavra capaz de
desagradar a esses incrédulos, logo, como se tivesse cometido um morticínio,era
arrastado à prisão e Ihe cortavam o pé ou a mão, ou podiam todos os seus bens
ser confiscados pelo califa ...
Muitas
vezes, os incrédulos tomavam os filhos e as filhas dos cristãos em suas casas e
com eles faziam o que queriam;ora mediante adulação os incrédulos constrangiam
muitos jovens a renegar a fé...Os bons cristãos esforçavam´se por sustentar
tanto mais firmemente a sua fé quanto mais eram maltratados. Seria longo contar
todos os vexames e as desgraças em que o povo de Nosso Senhor se encontrava
então.
Eu vos contarei um episódio, para que
mediante esse possais compreender muitos outros:
Um dos
incrédulos, malicioso e desleal, que odiava cruelmente os cristãos, procurava
certa vez um meio de os fazer morrer. Viu que a cidade inteira (Jerusalém)
tinha grande honra e reverência pelo Templo que fora refeito54... Diante do
Templo há uma praça que se chama a esplanada do Templo, que eles (os
muçulmanos) guardavam e mantinham limpa, como os cristãos mantém limpas as suas
igrejas e os seus altares. Esse incrédulo desleal tomou de noite, sem que
alguém o visse, um cão morto, pútrido e fétido, e colocou´o nessa esplanada,
diante do Templo. De manhã, quando os homens da cidade foram ao Templo para
orar, encontraram esse cão. Fez´se então um grande grito, rumor e clamor por
toda a cidade, a ponto que só se falava do ocorrido. Reuniram´se e não tiveram dúvida
em dizer que os cristãos haviam feito isto. Todos concordaram em passar ao fio
da espada todos os cristãos; já estavam mesmo desembainhadas as espadas que a
todos deviam cortar a cabeça. Entre os cristãos havia um jovem de coração
generoso e de grande piedade. Falou ao povo e disse: ‘Meus senhores, verdade é
que não tenho culpa alguma no que aconteceu, como aliás nenhum de nós a tem;
isto, eu o dou por certo. Mas será extremamente doloroso se morrerdes todos
assim e se todo o Cristianismo se extinguir nesta terra. Por isto pensei em vos
libertar a todos com o auxílio de Nosso Senhor. Apenas vos peço duas coisas
pelo amor de Deus: que oreis por minha alma em vossas preces e que tomeis sob
os vossos cuidados e reverência a minha pobre família. Pois eu assumirei a
causa sobre mim e direi que fui eu que fiz aquilo de que acusam a todos nós!’
Os que lamentavam morrer, tiveram grande alegria então e prometeram ao jovem
fazer orações e honrar os seus familiares de tal modo que estes, no domingo de
Ramos, trouxessem sempre a oliveira, que significa o Cristo, e a colocassem em
Jerusalém. ´ O jovem, portanto, foi ao encontro dos injustos e disse que os
outros cristãos não tinham culpa alguma no ocorrido e que ele era o autor da
façanha.
Quando
os incrédulos ouviram isto, puseram em liberdade todos os outros, e somente ele
teve a cabeça talhada. “ Faça´se o desconto devido possivelmente ao estilo
panegirista do cronista... É certo, porém, que ainda no séc. XII havia em
Jerusalém uma família encarregada de fornecer aos fiéis as palmas para o
domingo de Ramos, em memória (diziam) da dedicação desse antepassado generoso,
que se teria sacrificado em prol da comunidade.
Dom Estêvão Bettencourt - OSB
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