A propriedade privada é uma implicação natural e
necessária da dignidade da pessoa humana, porque
a riqueza é resultado do trabalho humano combinado de forma inteligente com a
generosidade da natureza. Esta definição de riqueza, que parece ser senso
comum para a maioria das pessoas, foi memoravelmente
afirmada pelo filósofo político John Locke e posteriormente endossada pelo papa
Leão XIII. Mas é uma descrição resultante de milhares de anos de reflexão e
debate.
No mundo antigo, filósofos e
teólogos concebiam a riqueza de forma bastante diferente disso:
Eles viam os frutos da terra e os recursos naturais, em grande parte, como uma
fonte permanente de satisfação das necessidades da vida, que o homem
essencialmente coletaria sem aumentá-las nem melhorá-las.Assim, a tarefa de sábios e santos foi a de nos
encorajar a distribuir com sabedoria e justiça essa quantidade finita de
riquezas, doada por Deus, levando em conta as necessidades do Estado e dos
pobres. No jogo de soma zero que aqueles pensadores
acreditavam que a humanidade estivesse condenada a jogar, o acúmulo de bens por
um único homem só poderia ocorrer em detrimento do vizinho. De
fato, a economia antiga se baseava amplamente na produção agrícola, que, por
sua vez, era feita em grande medida pelos escravos. O
valor agregado por comerciantes e banqueiros, que realizam o trabalho vital de
distribuição de bens e capitais a partir de lugares onde eles não são
necessários para levá-los a lugares onde possam ser usados mais produtivamente,
foi mal compreendido e muitas vezes rejeitado: os comerciantes e banqueiros,
assim, foram condenados como parasitas econômicos. De
Aristóteles a São João Crisóstomo, você procuraria em vão por pensadores influentes
que reconhecessem o quanto as trocas econômicas poderiam render benefícios
mútuos e aumentar os níveis gerais de riqueza, através da sua alocação mais
eficiente e do seu uso focado em atender as necessidades humanas com mais
eficácia. Escolásticos medievais tardios, em especial
um grupo de frades dominicanos da Espanha, avançariam na compreensão da riquezaao
estudarem empiricamente a natureza das trocas econômicas e os benefícios mútuos
que elas conferem a ambas as partes, em qualquer comércio honesto. Aqueles
frades, com seus votos de pobreza, fizeram esse esforço em meio à explosão de
riqueza que marcou a Alta Idade Média, impulsionada tanto por avanços
tecnológicos na agricultura (como arados mais eficazes e rotação de culturas)
quanto pela explosão do comércio com o Oriente Médio, na esteira das Cruzadas. As guildas medievais, compostas por
produtores e comerciantes que tinham se organizado em linhas religiosas sob
santos padroeiros, formaram grupos de interesses que defendiam a legitimidade moral de
empreendimentos com fins lucrativos e a utilidade social do comércio, apesar de
usarem as suas alianças privilegiadas para sufocar a concorrência. O poder econômico das elites urbanas começou a ameaçar o
domínio da aristocracia, permitindo que os burgueses comprassem isenções e que as
cidades se estabelecessem como santuários livres de servidão: ali as pessoas
comuns poderiam obter sucesso ou fracasso de acordo com os seus méritos, em vez
de permanecerem imobilizadas na casta em que tinham nascido.
A expansão da liberdade econômica ajudou a criar uma base de apoio
para a liberdade política!
Cresceram
as demandas por representação dos cidadãos no governo, como no caso, por
exemplo, da Casa dos Comuns, na Inglaterra. Esse impulso em direção a um
governo representativo colidiria com os esforços de príncipes, em sua busca
pela monarquia "absoluta", para subjugar os nobres e os plebeus.
Conflitos como a Guerra Civil Inglesa e a "Revolução Gloriosa", além
das guerras suíças de independência contra as absolutistas França e Áustria,
asseguraram a sobrevivência do princípio do governo representativo e a expansão
do tipo de liberdade econômica e política que os líderes cívicos
norte-americanos se uniriam para defender em 1776. As
implicações da propriedade privada não são essencialmente
políticas nem econômicas, mas morais. Quando aceitamos este princípio, vemos
que a diferença entre um pedaço de terra fértil e um pedaço de pão é vencida
apenas por meio do trabalho de seres humanos, cada um dos quais é uma criação
única e insubstituível. Cada pessoa na cadeia de produção, do agricultor que
planta as sementes até os investidores da John Deere, cujas fábricas produzem o
trator, tem o direito de dispor do seu próprio trabalho e riqueza e de ser o
seu principal beneficiário. Cada hora de trabalho que uma pessoa realiza
e cujos frutos são arrancados dela pela força equivale a trabalho forçado.
“Assim, quando tiramos a riqueza de uma pessoa para gastá-la com outra
pessoa, devemos admitir para nós mesmos o que estamos fazendo: estamos
obrigando pessoas a trabalharem contra a sua vontade em benefício de um
terceiro.”
O QUE SERIA O CONCEITO DE UMA SOCIEDADE
JUSTA?
Uma
sociedade justa deve evitar sequestrar o trabalho das pessoas ou parte da sua
riqueza, em primeiro lugar por deferência à sua dignidade humana e à sua
liberdade de ação.Os impostos que retiram parte da riqueza de uma pessoa só podem ser cobrados se
a sua utilização for exigida por um dos princípios essenciais do
desenvolvimento humano, como a sacralidade da vida ou a ordem moral
transcendente.A
riqueza dos cidadãos deve ser vista não como uma piscina comum em que os
governantes mergulham a seu bel-prazer, mas como uma extensão da liberdade dos
cidadãos, que não pode ser agredida nem sequer de leve. Por fim,a palavra “conceito” tem um
sentido mais americano e pragmatista do que greco-latino. Em vez de designar
apenas a fórmula verbal de uma essência ou ente, significava o esquema mental
de um plano a ser realizado. Portanto, resta-nos entender a “sociedade justa”
em seu conceito no sentido greco-latino. Partindo destes pressupostos, os atributos de
justiça e injustiça só se aplicam aos entes reais capazes de agir. Um ser
humano pode agir, uma empresa pode agir, um grupo político pode agir, mas “a
sociedade”, como um todo, não pode. Toda ação subentende a unidade da intenção
que a determina, e nenhuma sociedade chega a ter jamais uma unidade de
intenções que justifique apontá-la como sujeito concreto de uma ação
determinada. A sociedade, como tal, não
é um agente: é o terreno, a moldura onde as ações de milhares de agentes,
movidos por intenções diversas, produzem resultados que não correspondem
integralmente nem mesmo às intenções deles, quanto mais às de um ente genérico
chamado “a sociedade”.
“Sociedade justa” não
é portanto um conceito descritivo. É uma figura de linguagem, uma metonímia.
Por isso mesmo, tem necessariamente uma multiplicidade de sentidos que se
superpõem e se mesclam numa confusão indeslindável, que basta para explicar por
que os maiores crimes e injustiças do mundo foram praticados, precisamente, em
nome da “sociedade justa”.
Quando você adota como meta das suas ações
uma figura de linguagem imaginando que é um conceito, isto é, quando você se
propõe realizar uma coisa que não consegue nem mesmo definir, é fatal que acabe
realizando algo de totalmente diverso do que imaginava. Quando isso acontece há
choro e ranger de dentes, mas quase sempre o autor da encrenca se esquiva de
arcar com suas culpas, apegando-se com tenacidade de caranguejo a uma alegação
de boas intenções que, justamente por não corresponderem a nenhuma realidade
identificável, são o melhor analgésico para as consciências pouco exigentes. Se a sociedade, em
si, não pode ser justa ou injusta, toda sociedade abrange uma variedade de
agentes conscientes que, estes sim, podem praticar ações justas ou injustas. Se
algum significado substantivo pode ter a expressão “sociedade justa”, é o de
uma sociedade onde os diversos agentes têm meios e disposição para ajudar uns
aos outros a evitar atos injustos ou a repará-los quando não puderam ser
evitados. Sociedade justa, no fim das contas, significa apenas uma sociedade
onde a luta pela justiça é possível. “Meios” quer dizer: poder. Poder legal,
decerto, mas não só isso: se você não tem meios econômicos, políticos e
culturais de fazer valer a justiça, pouco adianta a lei estar do seu lado. Para haver aquele mínimo de justiça sem o
qual a expressão “sociedade justa” seria apenas um belo adorno de crimes
nefandos, é preciso que haja uma certa variedade e abundância de meios de poder
espalhados pela população em vez de concentrados nas mãos de uma elite
iluminada ou sortuda. Porém, se a população mesma não é capaz de criar esses
meios e, em vez disso, confia num grupo revolucionário que promete tomá-los de
seus atuais detentores e distribuí-los democraticamente, aí é que o reino da
injustiça se instala de uma vez por todas. Para distribuir poderes, é preciso
primeiro possuí-los: o futuro distribuidor de poderes tem de tornar-se, antes,
o detentor monopolístico de todo o poder. E mesmo que depois venha a tentar
cumprir sua promessa, a mera condição de distribuidor de poderes continuará
fazendo dele, cada vez mais, o senhor absoluto do poder supremo. Poderes, meios de
agir, não podem ser tomados, nem dados, nem emprestados: têm de ser criados.
Caso contrário, não são poderes: são símbolos de poder, usados para mascarar a
falta de poder efetivo. Quem não tem o poder de criar meios de poder será
sempre, na melhor das hipóteses, o escravo do doador ou distribuidor.
Na medida em que a expressão “sociedade
justa” pode se transmutar de figura de linguagem em conceito descritivo viável,
torna-se claro que uma realidade correspondente a esse conceito só pode
existir como obra de um povo dotado de iniciativa e criatividade – um povo
cujos atos e empreendimentos sejam variados, inéditos e criativos o bastante
para que não possam ser controlados por nenhuma elite, seja de oligarcas
acomodados, seja de revolucionários ávidos de poder. Aquele que deseja sinceramente libertar o seu
povo do jugo de uma elite mandante não promete jamais tomar o poder dessa elite
para distribuí-lo ao povo: trata, em vez disso, de liberar as forças
criativas latentes no espírito do povo, para que este aprenda a gerar seus próprios
meios de poder – muitos, variados e imprevisíveis –, minando e diluindo
os planos da elite – de qualquer elite – antes que esta possa sequer
compreender o que se passou.
Por que o capitalismo venceu?
O capitalismo do século XIX era realmente uma coisa abominável, com um nível de exploração inaceitável. As pessoas com espírito de solidariedade e com sentimento de justiça se revoltaram contra aquilo. O Manifesto Comunista, de Marx, em 1848, e o movimento que se seguiu tiveram um papel importante para mudar a sociedade.A luta dos trabalhadores, o movimento sindical, a tomada de consciência dos direitos, tudo isso fez melhorar a relação capital-trabalho.O que está errado é achar, como Marx diz, que quem produza riqueza é o trabalhador e o capitalista só o explora. É bobagem. Sem a empresa, não existe riqueza. Um depende do outro. O empresário é um intelectual que, em vez de escrever poesias, monta empresas. É um criador, um indivíduo que faz coisas novas.A visão de que só um lado produz riqueza e o outro só explora é radical, sectária, primária. A partir dessa miopia, tudo o mais deu errado para o campo socialista. Mas é um equívoco concluir que a derrocada do socialismo seja a prova de que o capitalismo é inteiramente bom. O capitalismo é a expressão do egoísmo, da voracidade humana, da ganância. O ser humano é isso, com raras exceções.O capitalismo é forte porque é instintivo. O socialismo foi um sonho maravilhoso, uma realidade inventada que tinha como objetivo criar uma sociedade melhor. O capitalismo não é uma teoria. Ele nasceu da necessidade real da sociedade e dos instintos do ser humano. Por isso ele é invencível.A força que torna o capitalismo invencível vem dessa origem natural indiscutível. Agora mesmo, enquanto falamos, há milhões de pessoas inventando maneiras novas de ganhar dinheiro. É óbvio que um governo central com seis burocratas dirigindo um país não vai ter a capacidade de ditar rumos a esses milhões de pessoas. Não tem cabimento.
Adaptado de: Aleteia
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