1º)-ELES
PERTENCEM AO MUNDO!
2º)-DANÇAS: “Seja um
religioso, ou seja um condenado”
3º)-NÃO SOMOS
NADA POR NÓS MESMOS (Sobre as
Tentações)
4º)-A PUREZA: “Bem-aventurados
os puros de coração, porque eles verão a Deus” (Mt 5, 8):
I - Quanto a
pureza nos torna agradáveis a Deus
II - O amor
que os Santos tinham por esta virtude
III - Como
esta virtude é pouco conhecida e apreciada no mundo.
5º)- EU VENHO
EM NOME DE DEUS! (O Purgatório)
1º)-ELES PERTENCEM AO MUNDO
“Uma parte, e talvez a maior parte das pessoas, está
totalmente envolvida com as coisas deste mundo. E neste largo número, existem
aqueles que se julgam felizes por terem suprimido todo e qual-quer sentimento
de religiosidade, todo e qualquer pensamento sobre a vida eterna, aqueles que
fizeram de tudo que estava em seu poder, para apagar da memória, a terrível
recordação do Julgamento, no qual um dia, todos nós teremos que nos apresentar
e prestar contas. Durante o curso de suas vidas, eles usam de tudo quanto é
artimanha, e freqüentemente até suas posses, para atraírem para o seu modo de
vida, tantos quanto puderem. Eles já não acreditam em mais nada. Aliás, eles
até sentem um certo orgulho em se exibirem mais ímpios e incrédulos do que
realmente são, para poderem convencer os outros a acredi-tarem, não em
verdades, mas sim em falsidades, que vão fincando raízes nos corações daqueles
que são influenciados por eles.Durante um jantar que
Voltaire deu num certo dia para seus amigos, – um bando de ímpios– ele
rejubilou-se porque entre todos os presentes não havia um sequer que acreditava
em religião. Embora no fundo, ele próprio ainda acreditava. Tanto é verdade,
que ele demonstrou isso claramente na hora de sua morte. Naquele momento
crucial, ele ordenou com grande pressa que um sacerdote fosse levado à sua
presença para reconciliar-lhe com Deus. Mas foi tarde demais!Deus, contra Quem ele havia lutado e falado mal com tanta
fúria, durante toda a sua vida, agiu com ele do mesmo modo como agiu com
Antíoco. Deus simplesmente o abandonou à fúria dos demô-nios.Naquele momento de
pavor, Voltaire tinha apenas o desespero e o pensamento da condenação eterna
que lhe estava destinada.O Espírito Santo nos diz: "O tolo diz em seu coração:
não existe Deus". Mas é apenas a corrupção de seu coração que o leva a
cometer tais excessos. No fundo, no fundo, ele não acredita nisso. Ou seja,
aquelas palavras: "Deus existe", nunca desaparecerão inteiramente de
seu coração. O pior dos pecadores sempre proferirá o nome de Deus, mesmo sem
pensar no que está dizen-do! Mas deixemos esses blasfemos de lado. Felizmente,
apesar de vocês não serem tão bons cristãos como deveriam ser, graças a Deus,
vocês não estão entre esse tipo de gente.Mas então vocês me
perguntarão, afinal quem são essas pessoas que estão parcialmente do lado de
Deus e parcialmente do lado do mundo?Bem, meus caros filhos, permita-me descrevê-los.
Eu vou
compará-los, se me permitirem usar o termo, com cachorros que correm atrás do
primeiro que os chamar ou lhes acenar. Vocês podem segui-los do amanhecer até o
fim do dia, do início do ano até o final. Estas pessoas vêem o Domingo,
simplesmente como um dia de descanso ou de lazer. Nesse dia, eles ficam mais
tempo na cama do que nos dias-de-semana, e ao invés de se entregarem a Deus de
todo o seu cora-ção, eles nem sequer pensam no Altíssimo. Alguns deles estarão
o tempo todo pensando em como será o seu "dia de lazer", outros
estarão pensando nas pessoas que eles irão encontrar e ainda outros, nas
ven-das que eles irão fazer, ou no dinheiro que eles esperam gastar ou receber.
É com grande dificuldade queessas pessoas fazem o Sinal da Cruz, e quando o
fazem, fazem de um modo desleixado. Por outro lado, já que elas irão à Missa
mais tarde, elas simplesmente negligenciam as orações que todos os dias
deveri-am fazer, dizendo como desculpa: – Oh! Eu terei tempo de sobra para
fazê-las antes da Missa! Essas pessoas sempre têm algo mais importante a fazer
antes de se prepararem para ir à Missa e apesar de te-rem planejado orar um
pouco antes de saírem para a Igreja, dificilmente conseguem chegar a tempo para
o início da Missa. Se encontram um amigo ao longo do caminho, não tem o menor
escrúpulo em voltar para casa com o tal amigo e deixarem a Missa para outra
ocasião.Mas porque ainda querem
se parecer "bons cristãos", tais pessoas acabarão por irem à Missa
tal-vez algum tempo mais tarde, embora sempre o fazendo com relutância e
achando um infinito aborreci-mento. Durante a Missa, o único pensamento que
lhes ocorre é aquele: "Ó meu Deus, será que essa Missa não acaba
nunca?!"Você pode também observá-los dentro da Ig3reja,
especialmente durante a homi-lia, olhando sempre de um lado para outro,
perguntando à pessoa do lado pelas horas e assim por diante. Uma boa parte
delas, fica folheando o Missal como se estivessem procurando por algum erro de
impres-são. Há outras que podemos ver dormindo e até mesmo roncando como se
estivessem confortavelmente deitadas numa cama. Quando acordam assustadas, o primeiro
pensamento que lhes vem em mente, não é aquele de terem profanado um local
santo, mas sim este:– Oh meu Deus! Esse padre ainda está falando? Será que esse
sermão não termina mais? Desse jeito eu não volto mais!E finalmente existe também aqueles para quem a Palavra de
Deus (que tem convertido tantos pe-cadores) é verdadeiramente nauseante. Eles
não tem vergonha de dizer que são obrigados a sair pelo menos por alguns
minutos da Igreja," para poderem respirar um pouco ", caso contrário
eles morreriam! Você sempre os verá desinteressados e tristes durante as
Missas. Mas espere pra ver Quando a celebra-ção terminar! Freqüentemente, mesmo
antes do sacerdote deixar o altar, eles já estarão com um pé pra fora da porta
de entrada. Serão sempre os primeiros a abandonar a assembléia e qualquer um
perceberá que toda aquela alegria que haviam perdido durante a Missa,
subitamente voltou!Geralmente essas pessoas
estão sempre tão cansadas, que nunca terão forças para retornarem pa-ra
qualquer outra atividade durante a noite: Vigílias, Adoração Solene do
Santíssimo Sacramento... etc. E se você lhes perguntar, por que elas não
compareceram, elas simplesmente responderão:– "Ah! Você também
não quer que eu passe o dia inteiro na Igreja, não é? Afinal, tenho outras
coisas mais importantes para fazer!" Para tais pessoas, não existe nada que se aproveite nas
homilias, nem no Rosário ou nas Orações Noturnas. Elas vêem essas coisas como
simples conseqüências. Se você lhes perguntar o que foi dito durante a homilia,
elas sempre responderão: – Ah! O Padre não fez outra coisa a não ser gritar
muito durante o sermão... foi enjoativo demais... eu não consigo me lembrar de
absolutamente nada.... Ah! se ele não tivesse sido tão demorado, eu ainda
poderia me lembrar de alguma coisa... tá vendo porque todo o mundo não gosta de
ir à Missa? É porque ela é comprida demais!Pelo menos uma coisa esta pessoa disse certo: "todo o
mundo", porque tais pessoas pertencem à classe dos "mundanos",
embora eles próprios não saibam disso. Mas agora vou tentar fazê-los
compreender as coisas um pouquinho melhor, pelo menos se eles quiserem... Mas
sendo eles, surdos e cegos como são, é muito difícil fazê-los entender as
Palavras de Vida Eterna ou o seu estado tão infeliz. Só pra começar, eles nunca
fazem o Sinal da Cruz antes de uma refeição e nem tampouco fazem Ação de
Gra-ças depois das mesmas, e muito menos recitam o Ângelus. Se por acaso ainda
observarem esses precei-tos, devido à força do hábito ou apenas por costume,
eles o farão de um modo tão superficial que qual-quer um ficaria decepcionado
ao vê-los: as mulheres o farão, ao mesmo tempo em que gritam com os demais
membros da casa ou chamam as crianças para a mesa, os homens o farão
distraidamente enquan-to rodam o chapéu de uma mão para outra como se
estivessem procurando por algum buraco. O modo como eles pensam em Deus, e o
modo como se comportam nos leva facilmente a pensar que eles não tem nenhuma fé
e que tudo que fazem, o fazem apenas por brincadeira. Tais pessoas não têm o
menor escrúpulo em comprar ou vender nos dias santos e domingos, muito embora
saibam que quando não se tem um motivo razoável para isso, é sempre um pecado
mortal. Tais pessoas vêem todos esses fatos como bobagens. Alguns chegam a
freqüentar a Igreja nos dias santos apenas para recrutarem trabalhado-res e se
você disser que o que estão fazendo é errado, elas simplesmente responderão:– Nós temos que ir é onde as pessoas se reúnem e quando elas
podem ser encontradas! Elas tam-bém não se importam nem um pouco em pagar suas
contas aos domingos, afinal durante a semana preci-sarão de todo o tempo
disponível para adiantar seus trabalhos.Você então me dirá: – Nenhum de nós se preocupa muito com
essas coisas!E eu lhes digo, vocês não se preocupam, meu caro povo,
porque vocês também são todos mun-danos. Vocês querem servir a Deus e ao mesmo
tempo satisfazerem aos padrões deste mundo. Vocês percebem, meus filhos, quem
são esse tipo de gente? São pessoas que ainda não perderam completa-mente a Fé
e que de alguma maneira ainda permanecem ligados ao serviço de Deus, são
pessoas que ainda não abandonaram de vez todas as práticas religiosas e que
chegam inclusive a achar falta naqueles que não freqüentam a Igreja de jeito
nenhum, mas elas próprias não têm coragem de romper com o mundo para passarem
exclusivamente para o lado de Deus.Tais pessoas não desejam ir para a condenação eterna, mas
também não querem se meter em si-tuações muito inconvenientes. Elas acham que
serão salvas sem ter que fazer muita violência contra si próprias. Elas têm uma
idéia de que Deus sendo tão bom, não criou ninguém para a perdição e que no
final, apesar de tudo, Ele perdoará a tudo e a todos; que no tempo propício
todos se voltarão para Deus, que corrigirão suas faltas e abandonarão seus maus
hábitos. No caso de em algum momento de reflexão, chegarem a dar uma repassada
em suas vidas mesquinhas, talvez eles até se lamentem por seus pecados e
algumas vezes pode até ser que chorem por causa deles...Meu filho, quão trágico
é a vida daqueles que querem seguir os caminhos do mundo sem, no en-tanto
deixarem de ser filhos de Deus! Vamos um pouquinho mais adiante e vocês serão
capazes de compreender mais claramente e ver com os seus próprios olhos o quão
estúpido esse estilo de vida pode ser. Num determinado momento você chegará a
ouvir tais pessoas rezando ou fazendo um ato de contri-ção. Pouco depois se
alguma coisa acontece, do modo contrário ao que eles esperavam, você poderá
ouvi-los fazendo imprecações e até mesmo usando o Santo Nome de Deus em vão.
Pela manhã você talvez os encontre na Missa cantando ou louvando a Deus. E no
mesmíssimo dia você poderá ouvi-los espalhando aos quatro ventos as conversas
mais escandalosas.Ao entrar na Igreja, eles molham as suas mãos na água benta
pedindo a Deus que os purifique dos seus pecados. Um poucochinho mais adiante
estará usando essas mesmas mãos em atos impuros contra eles próprios ou contra
o seu próximo. Os mesmos olhos que pela manhã derramavam lágrimas de emoção ao
contemplar Jesus Cristo no Santíssimo Sacramento, durante o resto do dia se
concentrarão em observar as cenas mais imodestas. Ontem você viu um determinado
homem fazendo um ato de cari-dade ou prestando um serviço ao seu próximo, hoje
esse mesmo homem dá o melhor de si para trair seu vizinho, buscando seu próprio
lucro. Há poucos momentos atrás, aquela mãe desejava todo o tipo de bênçãos
para seus filhos, e agora, só porque eles a aborrecem com suas travessuras, ela
roga uma verda-deira chuva de pragas sobre eles: diz que desejaria nunca mais
vê-los em sua presença e acaba até os mandando para o Diabo! Num dado momento,
ela os envia para a Missa ou para a Confissão, já em ou-tro momento, ela os
envia para os bailes, ou pelo menos faz de contas que não sabe que eles se
encon-tram lá, ou até mesmo se chegar a proibir, sempre o fará com um sorriso
nos lábios, deixando perceber que mais aprova do que condena. Numa determinada
ocasião, essa mesma mãe dirá à sua filha para ser recatada e não se misturar
com as más companhias e dali a pouco, estará permitindo que sua filha passe
horas a sós com um rapaz sem dizer uma só palavra. Não preciso dizer mais nada,
minha pobre mãe! Vê-se claramente que você está do lado do mundo! Você até acha
que está servindo a Deus por causa das práticas exteriores de religiosidade que
você pratica. Mas você está enganada; você pertence àquela classe de gente da
qual o próprio Jesus Cristo disse: "Ai do mundo!...”.Observe bem essas pessoas que pensam estar servindo a Deus,
mas que estão vivendo verdadei-ramente segundo as máximas do mundo. Elas não
têm o menor escrúpulo em tomar as coisas do seu vizinho, quer seja alguns
pedaços de lenha ou frutas, ou mesmo milhares de outras coisas. Sempre que
forem lisonjeadas ou elogiadas pelo que fazem em termos de religião, sentirão
um grande orgulho por suas ações. Tais pessoas são sempre muito entusiasmadas
em dar bons conselhos aos outros. Mas deixe que elas sejam submetidas a algum
contratempo ou calúnia e vocês verão como elas se comportam por terem sido
tratadas de tal modo! Ontem estavam dispostas a fazer todo o bem desse mundo
àquele que as ofendeu, hoje mal conseguem tolerar tal pessoa e freqüentemente
não conseguem sequer vê-la ou falar com ela.Pobres mundanos! Quão
infelizes vocês são! Sigam em frente com esse modo de vida e vocês não terão
nada a ganhar a não ser o Inferno! Alguns de vocês até gostariam de freqüentar
o Sacramento da Confissão, pelo menos uma vez no ano, mas para isso,
primeiramente teriam que encontrar um con-fessor daqueles bem condescendentes.
Imagine... até gostariam... se isso fosse todo o problema! Supo-nhamos que
encontrem um confessor que perceba que suas disposições não são boas, ou seja,
falta-lhes o arrependimento e a contrição, e que, portanto se recuse a dar-lhes
a absolvição! Imediatamente se põem a falar mal do confessor, procurando se
justificarem a si próprias pelo fato de terem tentado e falhado em obter o
Sacramento. Com certeza, elas falarão muito mal daquele confessor, apesar de
terem pleno conhecimento de seu estado pecaminoso e de saberem muito bem porque
o confessor recusou a dar-lhes a absolvição. De todo modo, eles sabem bem, que
o confessor não pode fazer nada para conce-der aquilo que eles querem, ainda
assim elas não se dão por satisfeitas em sair espalhando suas mentiras!
Continuem assim, filhos deste mundo! Continuem nessa rotina;
vocês vão ver um dia aquilo que jamais desejariam ver! Eu sei que vocês
gostariam de repartir seus corações em dois! Mas não tem jeito, meus amigos: ou
é tudo pra Deus ou é tudo para o mundo. Vocês querem receber com freqüência os
Sacramentos? Muito bem, pois então, abram mão das danças, dos cabarés e das
diversões pecaminosas! Hoje vocês possuem a graça em grau suficiente para virem
até aqui, apresentarem-se voluntariamente no Tribunal da Penitência,
ajoelhar-se diante da Mesa Sagrada e partilhar do Pão dos Anjos. Daqui há três
ou quatro semanas, talvez até menos, vocês já serão vistos passando as noites
ao lado dos bêbados, e o que é pior, se entregando aos mais horríveis atos de
impureza! Pois continuem assim, filhos deste mun-do! Logo, logo vocês estarão
no Inferno! Lá eles ensinarão a vocês tudo que deveriam ter feito para
con-seguir o Céu, que vocês acabaram perdendo inteiramente por sua própria
culpa!
Ai de vocês, filhos
deste mundo! Continuem assim; sigam o mestre que vocês tem seguido até agora!
Muito cedo vocês perceberão o quão errado vocês foram ao seguir esses caminhos.
Mas será que isso os fará mais sábios? Infelizmente não. Se alguém nos trai uma vez, nós logo
dizemos: –Nunca mais voltarei a confiar nele novamente! E com razão! Mas o
mundo nos trai continuamente e mesmo assim continuamos a amá-lo. São João nos
adverte em sua Primeira Epístola: "Não ameis o mundo nem as coisas do
mundo. Se alguém ama o mundo não está nele o amor do Pai”. Ah! Meus caros
filhos, se nós tivéssemos a menor idéia do que é o mundo, passaríamos nossas
vidas em dar-lhe adeus. Quando uma pessoa atinge a idade de quinze anos, ela dá
adeus aos tempos de sua infância, ela olha para trás e vê como efêmeras e bobas
eram as brincadeiras de crianças, como construir castelinhos de areia. Aos
trinta, a pessoa começa a deixar de lado os prazeres consumistas da juventude leviana.
Aquilo que dava tanto prazer nos dias de juventude, começa a tornar-se
aborrecido. Se formos pensar bem, meus amigos, todos os dias estamos dando
adeus a este mundo. Somos como viajantes que desfrutam da beleza da paisagem
apenas enquanto estão viajando. Mais cedo do que esperamos, veremos o tempo que
deixamos para trás. E é exatamente a mesma coisa com os prazeres e bens dos
quais nos tornamos tão apegados. Chegará o dia em que a Eternidade jogará todas
essas coisas num profundo abismo. E então, meus caros irmãos, o mundo
desaparecerá para sempre dos nossos olhos e reconheceremos a nossa loucura em
termos sido tão apegados a ele. E a respeito de tudo o que nos foi dito sobre o
pecado? Só então veremos que era tudo verdade! Coitado daquele que tiver vivido
somente para o mundo! Aquele que não buscou outra coisa senão o mundo em tudo
aquilo que fez... De repente todos os prazeres e alegrias do mundo já não mais
existem! Tudo estará escapulindo de suas mãos: o mundo, suas alegrias, todos os
prazeres que ocupavam seu coração e o que é pior: também sua alma!
2º)- DANÇAS MUNDANAS - Seja um
religioso ou seja um condenado
Há sempre alguém que vem me dizer:"Padre, que mal
existe em uma pessoa se divertir um pou-co? Eu não faço mal a ninguém... Eu não
sou um religioso e nem pretendo sê-lo! Se eu não puder sequer dançar um pouco,
eu estarei passando a minha vida nesse mundo como se fosse um morto!"
Meu caro amigo, você está muito errado! Ou você se torna uma pessoa religiosa, ou você será um condenado(a). E o que é ser uma pessoa religiosa? Nada
mais é do que uma pessoa que cumpre com todos os seus deveres como Cristão.
Você me diz que eu não vou conseguir nada tentando convencê-lo a respeito do
mal que existe nas danças e que você não vai se tornar por isso, nem mais e nem
menos indulgente a esse respeito.
Mas eu lhe digo: você está errado novamente, pois ao ignorar
e desprezar as instruções do seu pastor, você atrai sobre si a ira e os
castigos de Deus, e eu pelo meu lado, serei recompensado por ter cumprido com
os meus deveres. Na hora da minha morte, Deus não vai me perguntar se você
cumpriu ou não com as suas obrigações, mas sim, se eu lhe ensinei ou não o que
você deveria fazer para cumprir com seus deveres.Você também me diz, que eu nunca conseguirei quebrar a sua
resistência, a ponto de fazê-lo acreditar que existe algum mal em divertir-se
dançando. Você não quer mesmo acreditar que existe al-gum mal nisso, não é
verdade? Bem, isso é problema seu. Que eu saiba, é suficiente pra mim,
falar-lhe num modo, que me assegure que ao fazê-lo, estarei fazendo aquilo que
como pastor eu deveria fazê-lo. Portanto, que isso não lhe irrite! Seu pastor
está apenas cumprindo com o dever.Mas você me dirá: Nem os
10 Mandamentos e nem tampouco toda a Sagrada Escritura proíbe alguém de dançar!
Talvez você diga isso porque não os examinou atentamente. Siga o meu raciocínio
por um momento e eu lhe mostrarei que não existe um só mandamento, ao qual as
danças não levem à transgressão e não existe um só sacramento que não seja
profanado por causa das danças.Você sabe tão bem quanto eu, que essas folias e
extravagâncias selvagens, acontecem principal-mente nos domingos e feriados.
Que você me diz então daquele jovem ou daquela jovem que decidiram ir a um
baile ou a uma festa dançante? Qual o amor que eles tem por Deus? Suas mentes
estarão total-mente ocupadas com os preparativos para chamar a atenção daqueles
com os quais eles estarão mistura-dos.Suponhamos que eles já tenham feito suas orações. Com que
espírito essas orações foram feitas? Só Deus sabe! Por outro lado, que tipo de
amor a Deus uma pessoa pode sentir, quando seu coração está suspirando e
pensando somente nos prazeres e nas criaturas? Nesse ponto você terá que
admitir que é impossível agradar a Deus e ao mundo ao mesmo tempo. Aliás, isso nunca
será possível!Deus também proíbe
"juras" - Sabe Deus, quantas querelas, quantas juras e blasfêmias são
profe-ridas como resultado das ciumeiras que se levantam entre a juventude,
quando eles estão reunidos nesses encontros! Vai me dizer que não acontecem
freqüentemente, disputas e brigas nesses locais? Quem po-deria contar quantos
crimes são cometidos nesses encontros diabólicos? O Terceiro Mandamento, manda-nos guardar os dias santos e
nesse caso, o Domingo em particu-lar. Será que alguém poderia realmente
acreditar, que um rapaz que passou várias horas do Domingo com uma garota, com
o coração aceso como uma fornalha, estaria realmente satisfazendo esse
preceito? Santo Agostinho tem boas razões em dizer que um homem faria melhor
coisa em passar o dia inteiro trabalhando na terra e as garotas, tecendo, do
que irem para esses encontros dançantes. O mal seria bem menor. O Quarto
Mandamento diz que os filhos devem honrar seus pais. Esses jovens que
freqüentam bailes, será que possuem o respeito e a submissão que eles devem a seus
pais? Não, certamente que não. Eles causam a seus pais maior preocupação e
desgosto do que você pode imaginar! Tanto pelo modo com o qual eles ignoram
seus desejos e pelo mal uso que fazem do dinheiro, como também por critica-rem
e zombarem de seus pais chamando-os de "fora-de-moda". Quanta dor tais pais devem sentir!– isto é, se a fé deles
ainda não se extinguiu por completo–, ao verem seus filhos se lançarem em tais
prazeres, ou pra dizer de um modo mais claro, nesses caminhos licenciosos!
Esses filhos não são mais abençoados por Deus, mas estão sendo engordados para
o Infer-no. Mas suponhamos que esses pais já tenham perdido a fé... Coitados...
eu sequer ouso ir mais adiante... Quão cegos são esses pais! Quão perdidos são
esses filhos! Pode por acaso existir algum outro lugar, ou tempo ou ocasião em
que tantos pecados são cometidos contra a pureza, do que nos salões de bailes e
danças? Não seriam nesses encontros que as pessoas são incitadas mais
violentamente contra a santa virtude da pureza? Onde mais os sentidos são tão
fortemente impulsionados em direção da excitação dos prazeres? Se formos aprofundarmos ainda mais,
deveríamos morrer de horror diante dos muitos crimes que são cometidos ali! E
não são nesses encontros, que o demônio furiosamente acende o fogo da impu-reza
no coração dos jovens, de modo a aniquilar neles a graça do Batismo? E não são
nesses locais que o Inferno escraviza tantas almas quanto deseja?
Imagine então: Apesar da ausência de ocasiões de pecado e do
auxílio de tantas orações já é tão difícil perseverar na virtude da pureza de
coração, como poderia então ser possível preservar tal virtude no meio de
tantas fontes de corrupção?São João Crisóstomo diz: "– Olhe aquela jovem mundana e
leviana, ou melhor, olhe para aquela pequena chama do fogo diabólico, que com
sua beleza e gestos "flamboyants", acende no coração da-quele jovem,
o fogo da concupiscência. Você não os vê? Um mais do que o outro, buscando
atrair-se mutuamente pelos seus charmes e toda a sorte de truques e ardis? Se
você puder, pode contar, Ó infeliz pecador: o número de seus maus pensamentos,
ou maus desejos e suas ações pecaminosas! Não é nesses lugares que você ouve
aquilo que agrada aos seus ouvidos, que inflama e queima os corações, fazendo
dessas assembléias fornalhas de "falta-de-vergonha"? E não é por
acaso ali, meus caros irmãos, que os rapazes e moças, bebem diretamente na
fonte do crime, a qual logo, logo, se transforma num rio que transborda o seu
leito, arruinando e envenenando tudo à sua volta? Pois eu digo; continuem!
Sigam em frente, pais e mães desavergonhados! Sigam para o Inferno, onde a
justiça e a fúria de Deus os aguarda com todas as ações que vocês praticaram,
permitindo aos seus filhos correrem tais riscos.
Pois sigam em frente,
porque eles não demorarão muito a se reunirem com vocês, já que vocês deixaram
a estrada pa-vimentada para eles. Sigam em frente e contem o número de anos que seus filhos e
filhas perderam! Apresentem-se diante do Supremo Juiz para prestarem contas de
suas vidas e ali vocês verão que o seu pastor tinha toda a razão ao proibir
essa espécie de prazer diabólico! Você me dirá: –Ah! Você está apresentando as
coisas maiores do que elas são realmente! Pois bem, você acha que eu estou
falando demais? Então ouça o que os Santos Padres da Igreja dizem a esse
respeito! São Efraim diz-nos que a dança é a perdição de moças e mulheres, a
cegueira dos homens, o lamento dos anjos e a alegria dos demônios. Meu Deus!
Será que alguém possui olhos tão enfeitiçados a ponto de acreditar que não existe
mal nenhum nisso, enquanto essa é a corda com a qual o demônio arrasta a
maioria das almas para o Inferno? Então continuem, sigam em frente pobres pais,
cegos e perdidos! Sigam desprezando o que o seu pastor está dizendo para vocês!
Continuem no caminho que vocês estão seguindo! Ouçam tudo e não tirem proveito
de nada! Deixem entrar por um ouvido e sair pelo outro!
Quer dizer que não
existe mal algum nisso, não é? Digam-me então o que foi que vocês renunci-aram
no dia do seu Batismo? Ou sob que condições o Batismo lhes foi concedido? Será
que não foi sob a condição de que ao fazerem seus votos diante do Céu e da
Terra, na presença de Cristo sobre o Altar, vocês renunciariam a Satanás e
todas as suas pompas e obras por todo o tempo de suas vidas?Em outras palavras, que vocês renunciariam a todos os
prazeres e vaidades deste mundo? Não foi sob a condição de abandonarem tudo
para seguirem ao Cristo Crucificado que vocês foram batizados? Sendo assim, não
é verdade que vocês estão violando as promessas de seu Batismo e profanando
este Sacramento da Mi-sericórdia? Vocês não estariam também profanando o
Sacramento da Confirmação, ao trocar a Cruz de Cristo que vocês receberam, por
vaidades e roupas obscenas, envergonhando-se ao invés, da Cruz, a qual deveria
ser para vocês, glória e felicidade?Santo Agostinho diz-nos que aqueles que freqüentam bailes,
verdadeiramente renunciam a Jesus Cristo para poderem se entregar ao demônio.
Como isso é horrível! Expulsar Jesus depois que vocês O receberam em
seus corações! São Efraim nos diz: – Hoje vocês se unem a Jesus Cristo, para
logo depois, amanhã, se reunirem a Satanás! Comporta-se exatamen-te como Judas
Iscariotes, aquela pessoa que logo depois de receber Nosso Senhor Jesus Cristo,
vai ven-dê-lo a Satanás nesses encontros, onde ela se reúne com tudo que existe
de mais pecaminoso!
E quando se trata do Sacramento da Penitência? Oh! Quanta
contradição em tais vidas! Um Cris-tão que depois de um único pecado, deveria
passar o resto de sua vida no arrependimento, pensa apenas em se atirar nesses
prazeres mundanos! Uma grande maioria profana o Sacramento da Extrema Unção que
receberam num momento de dor, entregando-se depois a tudo quanto é movimento
indecente com os pés, as mãos e o corpo inteiro que um dia foi santificado com
os Santos Óleos.Por outro lado, o Sacramento das Sagradas Ordens também é
insultado pelo desacato e desprezo com os quais as instruções dos pastores são
consideradas. Mas quando chegamos ao Sacramento do Ma-trimônio, que Deus nos
ajude!Quantas infidelidades
podemos contemplar nessas assembléias? Parece que tudo é admissível. Quão cego
é aquele que ainda pensa que não existe mal algum nisso!O Conselho Municipal de Aix-la-Chapelle, proíbe danças,
mesmo nos casamentos. E São Carlos Borromeo, o Arcebispo de Milão, dizia que
deveriam ser dados 3 anos de penitência àqueles cristãos que freqüentassem
bailes e mais, que se voltassem atrás, deveriam ser ameaçados com a excomunhão.
Então, se é verdade que não existe nenhum mal nisso, será que a Igreja e os
Santos Padres é que estari-am errados?Mas quem é que diz que não existe mal algum nisso? Só pode
ser um libertino, ou uma mulher leviana e mundana que está tentando aliviar seu
remorso de consciência do modo mais conveniente pos-sível.Bem, você poderia me dizer que há sacerdotes que não falam
muito sobre isso durante a Confis-são ou que embora admitam ser pecado, nunca
se recusam em dar logo a absolvição para tal delito. Ah! Eu não saberia dizer
se tais sacerdotes são ou não tão cegos, mas eu posso assegurar-lhes que todos
aqueles que estão procurando por sacerdotes tão condescendentes, estão buscando
um passaporte que os leve diretamente para o Inferno. Da minha parte, se eu
mesmo tivesse freqüentado bailes, sei que não deveria receber absolvição a não
ser depois de ter uma firme resolução de não voltar mais a freqüentar tais
salões.Veja bem o que diz Santo
Agostinho e depois você me dirá se as danças são ou não uma boa ação:Ele nos diz que "as danças são a ruína das almas, o
inverso da decência, um espetáculo desavergo-nhoso e uma profissão pública do
crime".São Efraim chama as danças de: "ruína da boa moral e
ali-mento do vício".Já São João Crisóstomo: "Uma escola pública da falta de
castidade".Para Tertuliano, a dança era considerada: "O Templo de
Vênus, O Consistório da Falta de Vergonha e a Cidadela de toda a
depravação".Santo Ambrósio disse uma vez:– Eis aqui uma moça que
dança! Mas não se esqueçam de que ela é filha de uma adúltera, porque uma mãe
verdadeiramente cristã, ensinaria à sua filha; a modéstia, um sentido adequado
de vergonha e absolutamente nada a respeito de danças!
E agora eu lhes pergunto; quantos jovens existem aqui, que
desde que começaram a freqüentar esses bailes, não freqüentam mais os
Sacramentos?Ou quando o fazem, fazem apenas para profaná-los? Quantas
pobres almas existem que perderam sua religião e sua fé! E quantos mais, nunca
conseguirão abrir os olhos para ver o estado infeliz em que se encontram, a não
ser depois que já tiverem caído no Inferno!...
3º)-NÃO SOMOS NADA POR NÓS MESMOS - Sobre as
Tentações
As tentações são necessárias para que possamos perceber que
não somos nada por nós mesmos. Santo Agostinho diz-nos que deveríamos agradecer
a Deus tanto pelos pecados dos quais Ele nos pre-servou como pelos pecados que
Ele por caridade nos perdoou. Caso venhamos a cair nas ciladas do de-mônio, nós
pensamos que somos capazes de nos levantarmos novamente, confiando muito mais
nas nossas promessas e resoluções do que na força de Deus. Isto é uma grande
verdade!
Quando nós não temos
nada do que nos envergonhar, quando todas as coisas estão correndo bem e de
acordo com os nossos desejos, nós ousamos pensar que nada poderia nos derrubar.
Nós esquecemos facilmente do nosso próprio nada e de nossa fraqueza interior.
Chegamos mesmo a protestar, que esta-mos prontos a morrer do que permitirmos
sermos vencidos. Nós vemos o esplêndido exemplo de São Pedro, que disse ao
Senhor que ainda que todos se escandalizassem Dele, ele não se escandalizaria.
Coi-tado! Para mostrar-lhe, como o homem entregue às suas próprias forças, não
é absolutamente nada, Deus fez uso, não de reis, príncipes ou armas, mas sim da
voz de uma simples empregada na noite da prisão de Jesus, que confrontou Pedro
com um monte de interrogações. E nesse momento Pedro protesta dizendo que nem
sequer conhecia o Senhor, e fez de contas que nem sabia do que ela estava
falando. Para assegurar aos presentes, de um modo ainda mais veemente de que
ele não conhecia Jesus, ele che-gou mesmo a jurar! Ó Senhor, o que não somos
capazes de fazer quando nós estamos entregues a nós mesmos!Existem pessoas, que fazem questão de dizer, o quanto eles
invejam os santos que fizeram gran-des penitências! Eles chegam a acreditar que
poderiam fazer o mesmo! Às vezes quando lemos sobre a vida de alguns mártires,
nós gostaríamos, nós pensamos, estarmos prontos para sofrer tudo que eles
so-freram por amor a Deus. Chegamos ao ponto de pensar: é um momento de
sofrimento muito curto para a recompensa que vamos receber no Céu! Mas o que faz
Deus para nos ensinar a nos conhecermos, ou melhor, para reconhecermos que não
somos absolutamente nada? Eis o que Ele faz: Ele permite que o demônio se
aproxime um pouquinho mais de nós. E nesse momento, veja o que acontece com os
cris-tãos que há apenas uns minutos atrás invejavam aquele eremita que vive
retirado no deserto, alimentan-do-se somente de ervas e raízes e que fez a
firme resolução de submeter seu corpo a duras penitências. Coitado!Uma leve dor de cabeça,
a simples espetada de um espinho, o faz se condoer todo por si pró-prio! Não
importando o quão grande e forte ele possa aparentar. Ele se aborrece, reclama
da dor.A poucos momentos atrás, estava disposto a fazer todas as
penitências dos anacoretas (monges do deserto) e agora, o menor contratempo o
faz cair no desespero! Agora vejamos esse outro cristão, que parece que-rer
entregar toda sua vida a Deus. Que possui um ardor que tormento algum poderia
apagar! Um peque-no escândalo... uma palavra de calúnia... e até mesmo uma fria
receptividade ou pequena injustiça come-tida contra ele... uma gentileza
retribuída com ingratidão... imediatamente desperta nele todos os senti-mentos
de ódio, vingança e descontentamento, a ponto de freqüentemente, ele desejar
nunca mais ver o seu próximo ou pelo menos tratá-lo de um modo frio, de forma a
demonstrar o quanto aquela pessoa o ofendeu. E quantas vezes, isso se torna o
seu primeiro pensamento ao acordar, assim como o pensamen-to que sempre o
impede de dormir em paz?Coitado!Meus caros amigos, nós
somos umas coisas pobres, e por isso deveríamos contar muito pouco com nossas
próprias resoluções.Cuidado se você não
sofre tentações! A quem o demônio mais persegue? Talvez você ache que as
pessoas que são mais tentadas, são indubitavelmente, os beberrões, os
provocadores de escândalos, as pessoas imodestas e sem vergonha que deitam e
rolam na sujeira e na miséria do pecado mortal, que se enveredam por toda
espécie de maus caminhos. Não, meu caro irmão! Não são essas pessoas! Ao
contrário, o demônio os deixa de la-do, ou seja ele se apóia nelas enquanto
elas vivem, porque do contrário ele não teria tanto tempo para fazer o mal.
Isso porque, quanto mais tempo essas pessoas viverem, mais seus maus exemplos
arrastarão outras almas para o Inferno. De fato, se o demônio tivesse
perseguido esse velho companheiro obsceno e sem-vergonha, ele teria encurtado a
duração de sua vida em 15 ou 20 anos, de forma que ele não teria destruído a
virgindade daquela garota ali, seduzindo-a para a inominável mira de suas indecências.
Ele não teria novamente seduzido aquela mulher casada e nem ensinado suas más
lições àqueles rapazinhos, que talvez as continue a praticar até o final de
suas vidas. Se o demônio tivesse incitado a este ladrão ali na frente, a roubar
em tudo quanto é ocasião, ele teria ido acabar na forca e não teria tempo pra
induzir seu vizinho a seguir seu mau exemplo. Se o demônio tivesse encorajado
esse beberrão ali, a se embebe-dar incessantemente com o vinho, ele já teria
morrido a muito tempo atrás nas suas libertinagens, e não teria tempo de fazer
com que outros seguissem seu mesmo caminho. Se o demônio tivesse tirado a vida
deste músico ali, ou daquele organizador de bailes, ou daquele dono de cabaré,
em algum tipo de tumul-to ou assalto, ou em qualquer outra ocasião, quantas
almas não seriam poupadas da danação eterna! San-to Agostinho nos ensina que o
demônio não importuna muito essas pessoas; pelo contrário, ele até as despreza
e cospe sobre elas.Assim, você me
perguntaria: então quem são as pessoas mais tentadas?São estas meus caros amigos, observem-nas atentamente. As
pessoas mais tentadas são aquelas que estão prontas, com a graça de Deus, a
sacrificar tudo pela salvação de suas pobres almas, que renunciam a todas as
coisas que a maioria das pessoas buscam ansiosamente. E não é um demônio só que
as tenta, mas milhões de demônios procuram armar-lhes ciladas. Uma vez, São
Francisco de Assis e todos os seus religiosos estavam reunidos numa área plana
e aberta, onde eles tinham erguido algumas choupanas de palha.
Buscando um meio
de fazer com que todos fizessem penitências extraordinárias, São Francis-co
ordenou que fossem trazidos todos os instrumentos de penitência, e seus religiosos
os trouxeram aos feixes.Nesse momento, havia um jovem homem a quem Deus concedeu
a graça de poder ver o seu An-jo da Guarda. De um lado, ele viu todos esses
bons religiosos que buscavam satisfazer sua sede por mais penitências e do
outro, o Anjo permitiu-lhe ver uma legião de 18 mil demônios, que estavam se
reunin-do em conselho para ver de que modo eles poderiam subverter esses
religiosos pela tentação. Um dos demônios disse: "Vocês não percebem
mesmo! Esses religiosos são tão humildes; Ah! que virtude es-pantosa! são tão
desapegados de si próprios, tão apegados a Deus! Eles possuem um superior que
os guia, de forma que é impossível ser bem sucedido em qualquer ataque que
façamos a eles. Vamos espe-rar até que o superior deles morra e então
introduziremos entre eles jovens sem nenhuma vocação que trarão um certo
relaxamento de espírito para a ordem, e aí sim, nós os venceremos.Mais tarde,
quando esse homem entrou na cidade, ele viu um demônio sentado sozinho no
portão de entrada da cidade e que tinha a tarefa de tentar todos os habitantes
daquele lugar. Esse santo pergun-tou ao seu Anjo da Guarda porque motivo, para
tentar apenas aquele grupo de religiosos, haviam tantos demônios, ao passo que
para toda aquela cidade havia apenas um sentado à sua entrada. Seu bom Anjo
respondeu-lhe então, que aquelas pessoas não precisavam de tentação, uma vez
que já estavam entre-gues aos seus próprios pecados, ao passo que aqueles
religiosos buscavam fazer tudo que era bom, ape-sar de todas as ciladas que os
demônios podiam armar para eles.Meus caros irmãos, a
primeira tentação com a qual o demônio tenta qualquer um que começou a servir
melhor a Deus chama-se "respeito humano!"Aquela pessoa acometida pelo respeito humano, não ousará
mais a ser vista em todo lugar, passará a se esconder de todos aqueles com os
quais ela andava misturada na busca de uma vida de prazeres. Se alguém lhe
disser que ela está muito mudada, imedia-tamente ela ficará envergonhada!
Aliás, o que as pessoas vão dizer dela, é a sua contínua preocupação. Chega a
um ponto de perder a coragem de fazer qualquer boa ação diante dos olhos
alheios.Se o demô-nio não consegue fazê-la retroceder na caminhada
espiritual através do respeito humano, ele infundirá nela um extraordinário
medo, dizendo-lhe que suas confissões não servem pra nada, que seu confessor
não a entende, que seja lá o que ela fizer, será sempre em vão, que ela irá pra
condenação eterna do mesmo modo ou que ela obteria o mesmo resultado (a
salvação) no final, deixando tudo correr solto aoinvés de continuar a lutar,
afinal as ocasiões de pecado já demonstraram ser demais para ela!Por que será, meus
irmãos, que quando alguém não dá a mínima importância à salvação de sua alma,
ele parece não sofrer a menor tentação? Mas assim que ele resolve mudar de
vida, em outras pala-vras, assim que ele deseja reformar sua vida para que Deus
venha morar nele, imediatamente todo o inferno cai encima dele?Ouçamos o que nos diz
Santo Agostinho a esse respeito:"Do modo como o
demônio se compor-ta em relação ao pecador: Ele atua como um carcereiro que
possui muitos prisioneiros trancados em sua prisão, mas como ele não carrega ou
não possui a chave que poderia libertá-los dali, ele tranqüilamente pode sair
sossegado, certo de que nenhum deles tem como fugir. Este é o modo como ele age
com aque-les pecadores que nem sequer consideram a possibilidade de deixar o
pecado para trás. Ele nem sequer se dá ao trabalho de tentá-los. Ele vê tais
pessoas como perda de tempo, não apenas porque elas não pensam em deixá-lo, mas
também porque ele não deseja multiplicar suas cadeias. Por outro lado, seria
inútil tentá-los. Ele permite que eles vivam em paz enquanto estiverem vivendo
no pecado mortal. Ele esconde do pecador a situação em que ele se encontra, o
mais que ele pode, até a morte, e quando acon-tece dele pintar um quadro da
vida daquele pecador, ele o faz de uma maneira tão aterrorizante, que o infeliz
pecador súbito cai no desespero. Mas com qualquer um que se decidiu a mudar de
vida, que se decidiu a entregar-se completamente à Deus, é toda uma outra
história!"Enquanto Santo Agostinho
vivia no pecado e na maldade, ele não tinha porque se preocupar com as
tentações.Ele acreditava se encontrar em paz, como ele mesmo nos
conta. Mas no momento que ele resolveu a dar as costas para o demônio, ele teve
que travar um combate contra ele a ponto de perder sua respiração na luta. E
isso durou cinco anos! Ele chorou as lágrimas mais amargas e fez as mais
severas penitências: Ele chega ao ponto de dizer: "Eu discutia com ele em
minhas cadeias! Um dia eu achei que tinha sido vitorioso, no próximo dia lá
estava eu de novo, prostrado no chão. Esta guerra cruel e obsti-nada durou cinco
anos. No final, Deus me concedeu a graça de vencer o combate contra o meu
inimigo".Você pode ver também, a
luta que São Jerônimo teve que empreender, quando ele se decidiu a viver apenas
para Deus e também quando planejou visitar a Terra Santa. Quando ele ainda
estava em Roma, concebeu um desejo novo de trabalhar pela sua salvação:Ao sair de Roma, ele se retirou para um deserto para se
entregar a todos os exercícios que o amor por Deus o inspirasse a fazer. Então
o demô-nio, prevendo como sua conversão iria influenciar tantas outras pessoas,
se encheu de fúria e desespero. São Jerônimo não foi
poupado da menor tentação. Eu não acredito que exista um santo que foi mais
tentado do que ele. Isto foi o que ele escreveu a um de seus amigos:"Meu caro amigo, eu quero confidenciar-lhe sobre minhas
aflições e o estado ao qual o demônio procura reduzir-me. Quantas vezes nessa
vasta solidão, na qual o calor do sol se faz insuportável, quan-tas vezes os
prazeres de Roma parecem me assaltar! A dor e a amargura, das quais minh'alma
se encon-tra repleta, fazem me derramar rios de lágrimas dia e noite sem parar.
Eu procurei me esconder nos luga-res mais isolados para lutar contra minhas
tentações e chorar pelos meus pecados. Meu corpo está todo desfigurado e coberto
com uma veste rude em trapos. Eu não tenho outra cama a não ser o chão nu e
minha única comida é um cozido de raízes e água, mesmo quando estou doente.
Apesar de todos esses rigores, meu corpo ainda se recorda dos sórdidos prazeres
dos quais Roma inteira está envenenada, meu espírito ainda se encontra no meio
daqueles companheiros de prazer e aventuras com os quais eu tão imensamente
ofendi a Deus. Nesse deserto, ao qual eu mesmo me condenei para evitar o
inferno, junto dessas rochas sombrias, onde eu não tenho outra companhia, a não
ser escorpiões e os animais selva-gens, meu espírito ainda queima dentro do meu
corpo morto, com um fogo de impurezas. O demônio ainda assim, ousa a me
oferecer prazeres para que eu os prove. Eu me contemplo tão humilhado por essas
tentações e o único pensamento que me faz morrer de pavor é não saber quais
austeridades às Quais eu ainda devo submeter o meu corpo para uni-lo com Deus. Eis porque eu me atiro ao chão, aos pés do
meu crucifixo, banhado em minhas próprias lágrimas, e quando eu não posso mais
chorar, eu pego algumas pedras e bato no meu peito com elas, até que o sangue
saia pela minha boca, implorando por misericórdia, até que Deus tenha piedade
de mim.Será que existe alguém, capaz de entender a miséria do meu estado, desejando
tão ardentemente agradar a Deus e amar somente a Ele? Ainda assim, eu estou
sempre pronto a ofendê-lo. Que dor isso representa para mim? Ajude-me, meu caro
amigo, com o auxílio de suas orações, de forma que eu me torne mais forte para
repelir o demônio, que jurou me levar para a condenação eterna".Meus caros amigos, são
esses os combates a que são submetidos os grandes santos de Deus. Coi-tados de
nós!Como somos dignos de pena por não sermos assaltados
ferozmente pelo demônio! De acordo com todas as aparências, podemos dizer que
somos amigos do Diabo: ele nos faz viver numa falsa paz, ele nos embala no
sono, deixando-nos com a pretensão de que recitamos algumas boas ora-ções,
distribuímos algumas esmolas e que fizemos menos más ações do que os outros. De
acordo com o nosso padrão, meus caros irmãos, se perguntarmos, por exemplo,
àquele sustendador do cabaré ali, se o Demônio o tem tentado, ele simplesmente
dirá que nada o incomoda absolutamente! Pergunta a esta garota ali, esta filha
da vaidade, quais são os combates que ela tem que travar contra o inimigo, e
ela vai responder-lhe sorrindo que ela não tem nenhuma luta e que, aliás, ela
nem sabe o que é ser tentada. As-sim vocês verão, meus caros amigos, que a
tentação mais terrível de todas, é exatamente não ser tentado. E vocês verão
ainda mais! Vocês verão o estado daqueles a quem o demônio está preservando
para o Inferno. Eu ousaria dizer ainda, que ele tem o máximo cuidado em não
atormentar tais pessoas com a recordação de suas vidas no passado. Do
contrário, seus olhos poderiam se abrir para seus pecados!O maior de todos os males não é ser tentado porque há então
motivos para acreditar que o demô-nio está apenas esperando nossas mortes para
nos arrastar para o inferno. Nada poderia ser mais fácil de ser entendido.
Apenas considere o cristão que está tentando, ainda que seja de um modo
pequeno, salvar sua alma. Tudo em volta dele parece incliná-lo para o mal, ele
dificilmente consegue levantar os olhos sem ser tentado, apesar de todas as
orações e penitências! E mesmo assim, um pecador empedernido, que passou uns 20
anos chafurdando na lama do pecado ainda tem a coragem de dizer que não é
tenta-do! Este está num estado muito pior, meus caros amigos, muito pior! Isso
é o que deveria fazer você tremer de pavor: não saber o que são as tentações,
pois dizer que você não é tentado, é o mesmo que dizer que o Demônio não existe
ou que ele perdeu todo seu raio de ação sobre as almas cristãs.São Gregório nos diz:"Se você não sofre tentações é porque o demônio é seu
amigo, seu líder e seu pastor. E ao permitir que você passe sua pobre vida na
tranqüilidade, no final de seus dias, ele lhe arrastará com todos os outros
para as profundezas do abismo". Santo Agostinho diz-nos que a maior
tentação é não sofrer tentações, pois isso apenas significa que uma pessoa
assim, é uma pessoa que foi rejeitada por Deus, abandonada por Deus, e deixada
inteiramente à mercê de suas próprias paixões.
4º)- A PUREZA - “Bem-aventurados
os puros de coração, porque eles verão a Deus” (Mt 5, 8).
Grifos meus (apostolado Berakash): "Não
confundamos pureza, com ingenuidade, se assim o fosse, Maria Santíssima não teria feito a
pergunta: Como se dará? Se não conheço homem algum?...E nem muito menos
Maria Madalena após sua vida de prostituição e pecados teria tido a graça da santidade incluindo a virtude doravante em sua vida".
Nós lemos no Evangelho, que Jesus Cristo, querendo ensinar
ao povo que vinha em massa, aprender Dele o que era preciso fazer para ter a
vida eterna, senta-se e, abrindo a boca, lhes diz: “Bem-aventurados os puros de
coração, porque eles verão a Deus.” Se nós tivéssemos um grande desejo de ver a
Deus, meus irmãos, só estas palavras não seriam acaso suficientes para nos
fazer compreender quanto a pureza nos torna agradáveis a Ele, e quanto ela nos
é necessária? Pois, segundo Jesus Cristo, sem ela, nós não o veremos jamais!
“Bem-aventurados, nos diz Jesus Cristo, os puros de coração, porque eles verão
o bom Deus”. Pode-se acaso esperar maior recompensa que a que Jesus Cristo liga
a esta bela e amável virtude, a saber, a posse das Três Pessoas da Santíssima
Trindade, por toda a eternidade? ... São Paulo, que conhecia bem o preço desta
virtude, escrevendo aos Coríntios, lhes diz:“Glorificai a Deus, pois
vós o levais em vossos corpos; e sede fiéis em conservá-los em grande pureza.
Lembrai-vos bem, meus filhos, de que vossos membros são membros de Jesus
Cristo, e que vossos corações são templos do Espírito Santo. Tomai cuidado de
não os manchar pelo pecado, que é o adultério, a fornicação, e tudo aquilo que
pode desonrar vossos corpos e vosso coração aos olhos de Deus, que a pureza
mesma” (1Cor 6, 15-20).Oh! Meus irmãos, como esta virtude é bela e preciosa, não
somente aos olhos dos homens e dos anjos, mas aos olhos do próprio Deus. Ele
faz tanto caso dela que não cessa de a louvar naqueles que são tão felizes de a
conservar. Também, esta virtude inestimável constitui o mais belo adorno da
Igreja, e, por conseguinte, deveria ser a mais querida dos cristãos. Nós, meus
irmãos, que no Santo Ba-tismo fomos aspergidos com o Sangue adorável de Jesus
Cristo, a pureza mesma; neste Sangue adorável que gerou tantas virgens de um e
outro sexo; nós, a quem Jesus Cristo fez participantes de sua pureza,
tornando-nos seus membros, seu templo...
Mas, ai! Meus irmãos,
neste infeliz século de corrupção em que vivemos, não se conhece mais esta
virtude, esta celeste virtude que nos torna semelhantes aos an-jos!... Sim,
meus irmãos, a pureza é uma virtude que nos é necessária a todos, pois que, sem
ela, nin-guém verá o Bom Deus.Eu queria fazer-vos conceber desta virtude uma idéia digna
de Deus, e vos mostrar, o quanto ela nos torna agradáveis a Seus olhos, dando
um novo grau de santidade a todas as nossas ações, e o que nós devemos fazer
para conservá-la.
I – Quanto a pureza nos
torna agradáveis a Deus
Seria preciso, meus irmãos, para vos fazer compreender bem a
estima que devemos ter desta in-comparável virtude, para vos fazer a descrição
de sua beleza, e vos fazer apreciar bem seu valor junto de Deus, seria preciso,
não um homem mortal, mas um anjo do céu. Ouvindo-o, vós diríeis com admiração:
Como todos os homens não estão dispostos a sacrificar tudo antes que perder uma
virtude que nos une de uma maneira íntima com Deus? Procuremos, contudo,
conceber dela alguma coisa, considerando que dita virtude vem do céu, que ela
faz descer Jesus Cristo sobre a terra, e que eleva o homem até o céu, pela
semelhança que ela dá com os anjos, e com o próprio Jesus Cristo. Dizei-me,
meus irmãos, de acordo com isto, acaso não merece ela o título de preciosa
virtude? Não é ela digna de toda nossa estima e de todos os sacrifícios
necessários para conservá-la? Nós dizemos que a pureza vem do céu, porque só
havia o próprio Jesus Cristo que fosse capaz de no-la ensinar e nos fazer
sentir todo o seu valor. Ele nos deixou o exemplo prodigioso da estima que teve
desta virtude. Tendo resolvido na grandeza de sua mi-sericórdia, resgatar o
mundo, Ele tomou um corpo mortal como o nosso; mas Ele quis escolher uma Virgem
por Mãe. Quem foi esta incomparável criatura, meus irmãos? Foi Maria, a mais
pura entre todas e por uma graça que não foi concedida a ninguém mais, foi
isenta do pecado original. Ela consagrou sua virgindade ao Bom Deus desde a
idade de três anos, e oferecendo-lhe seu corpo, sua alma, ela lhe fez o
sacrifício mais santo, o mais puro e o mais agradável que Deus jamais recebeu
de uma criatura sobre a terra. Ela manteve este sacrifício por uma fidelidade
inviolável em guardar sua pureza e em evitar tudo aquilo que pudesse mesmo de
leve empanar seu brilho. Nós vemos que a Virgem Santa fazia tanto caso desta virtude, que Ela não queria consentir em ser Mãe de
Deus antes que o anjo lhe tivesse assegurado que Ela não a perderia. Mas, tendo
lhe dito o anjo que, tornando-se Mãe de Deus, bem longe de perder ou empanar
sua pureza de que Ela fazia tanta estima, Ela seria ainda mais pura e mais
agradável a Deus, consentiu então de bom grado, a fim de dar um novo brilho a
esta pureza virginal. Nós vemos ainda que Jesus Cristo escolhe um pai nutrício
que era pobre, é verdade; mas ele quis que sua pureza estivesse por sobre a de
todas as outras criaturas, exceto a Virgem Santa. Dentre seus discípulos, Ele
distingue um, a quem Ele testemunhou uma amizade e uma confiança singulares, a
quem Ele fez participante de seus maiores segredos, mas Ele toma o mais puro de
todos, e que estava consagrado a Deus desde sua juventude. Santo Ambrósio nos diz que a pureza nos eleva até o céu e
nos faz deixar a terra, enquanto é pos-sível a uma criatura deixá-la. Ela nos
eleva por sobre a criatura corrompida e, por seus sentimentos e seus desejos,
ela nos faz viver da mesma vida dos anjos. Segundo São João Crisóstomo, a
castidade du-ma alma é de um preço aos olhos de Deus maior que a dos anjos,
pois que os cristãos só podem adquirir esta virtude pelos combates, enquanto
que os anjos a têm por natureza.Os anjos fieis a Deus não têm nada a
comba-ter para conservá-la, enquanto que um cristão é obrigado a fazer uma
guerra contínua a si mesmo.São Cipriano acrescenta que, não somente a castidade nos
torna semelhantes aos anjos, mas nos dá ainda um caráter de semelhança com o
próprio Jesus Cristo. Sim, nos diz este grande santo, uma alma casta é uma
imagem viva de Deus sobre a terra.Quanto mais uma alma se desapega de si mesma pela
resistência às suas paixões, mais ela se une a Deus; e, por um feliz retorno,
mais o bom Deus se une a ela; Ele a olha, Ele a considera com sua espo-sa, como
sua bem-amada; faz dela o objeto de suas mais caras complacências, e fixa nela
sua morada para sempre. “Bem-aventurados, nos diz o Salvador, os puros de
coração, porque eles verão ao bom Deus”.Segundo São Basílio, se
encontramos a castidade numa alma, encontramos aí todas as outras virtudes
cristãs, ela as praticará com uma grande facilidade, “porque” – nos diz ele –
“para ser casto é preciso se impor muitos sacrifícios e fazer-se uma grande
violência.Mas uma vez que alcançou tais vi-tórias sobre o demônio, a
carne e o sangue, todo o resto lhe custa muito pouco, pois uma alma que
sub-juga com autoridade a este corpo sensual, vence facilmente todos os
obstáculos que encontra no cami-nho da virtude”.Vemos também, meus
irmãos, que os cristãos castos são os mais perfeitos.Nós os ve-mos reservados em suas palavras, modestos em todos
os seus passos, sóbrios em suas refeições, respei-tosos no lugar santo e
edificantes em toda sua conduta. Santo Agostinho compara aqueles que têm a
grande alegria de conservar seu coração puro, aos lírios que se elevam
diretamente ao céu e que difun-dem em seu redor um odor muito agradável; só a
vista deles nos faz pensar naquela preciosa virtude.Assim a Virgem Santa
inspirava a pureza a todos aqueles que a olhavam... Bem-aventurada virtude,
meus irmãos, que nos põe entre os anjos, que parece mesmo elevar-nos por sobre
eles!
II – O amor que os
Santos tinham pela virtude da pureza!
Todos os Santos fizeram o maior caso dela e preferiram
perder seus bens, sua reputação e sua própria vida a descorar esta virtude.Nós temos um belo
exemplo disto na pessoa de Santa Inês:Sua formosura e suas riquezas fize-ram com que, à idade de
doze anos, ela fosse procurada pelo filho do prefeito da cidade de Roma. Ela
lhe fez saber que estava consagrada ao bom Deus. Ela foi presa sob o pretexto
de que era cristã, mas em realidade para que consentisse nos desejos do
rapaz... Ela estava de tal modo unida a Deus que nem as promessas, nem as
ameaças, nem a vista dos carrascos e dos instrumentos expostos diante de si
para amedrontá-la, não a fizeram mudar de sentimentos (que não permitia misturas impuras). Não tendo conseguido
nada dela, seus perseguidores a carregaram de cadeias, e quiseram colocar uma
argola e anéis em seu pescoço e em suas mãos; eles não puderam fazê-lo, tão
débeis eram suas pequenas mãos inocentes. Ela permaneceu firme em sua
re-solução, no meio destes lobos enraivecidos, ela ofereceu seu corpinho aos
tormentos com uma coragem que espantou aos carrascos. Arrastam-na aos pés dos
ídolos; mas ela confessa bem alto que só reconhece por Deus a Jesus Cristo, e
que os ídolos deles não são mais que demônios. O juiz, cruel e bárbaro, vendo
que não consegue nada, crê que ela será mais sensível diante da perda daquela
pureza que ela estimava tanto. Ele ameaça expô-la num lugar infame; mas ela
responde com firmeza; “Vós podeis fazer-me mor-rer, mas não podereis jamais me
fazer perder este tesouro: o próprio Jesus Cristo é zeloso deste tesouro.” O
juiz, morrendo de raiva, manda conduzi-la ao lugar das torpezas infernais. Mas
Jesus Cristo, que ve-lava por ela duma maneira particular, inspira um tão
grande respeito aos guardas, que eles só a olhavam com uma espécie de pavor, e
manda a Seus anjos que a protejam. Os jovens que entram naquele quarto,
inflamados de um fogo impuro, vendo um anjo ao lado dela, mais belo que o sol,
saem dali abrasados do amor divino. Mas o filho do prefeito, mais perverso e
mais corrompido que os outros, penetra no quarto onde estava santa Inês. Sem
ter consideração por todas aquelas maravilhas, ele se aproxima dela na
es-perança de contentar seus desejos impuros; mas o anjo que guarda a jovem
mártir fere o libertino que cai morto a seus pés. Rapidamente se espalha em
Roma o boato de que o filho do prefeito tinha sido morto por Inês. O pai,
enfurecido, vem encontrar a santa e se entrega a tudo o que seu desespero lhe
pode ins-pirar. Ele a chama de fúria do inferno, monstro nascido para a
desolação de sua vida, pois tinha feito morrer seu filho. Santa Inês lhe
responde tranqüilamente: “É que ele quis fazer-me violência, então o meu anjo
lhe deu a morte.” O prefeito, um pouco acalmado, lhe diz: “pois bem, pede a teu
Deus para ressuscitá-lo, para que não se diga que foste tu que o mataste”. –
Sem dúvida, diz-lhe a Santa, “vós não mereceis esta graça; mas para que saibais
que os cristãos nunca se vingam, mas, pelo contrário, eles pa-gam o mal com o
bem, saí daqui, e eu vou pedir ao bom Deus por ele”. Então Inês se põe de joelhos,
prostrada com a face em terra. Enquanto ela reza, seu anjo lhe aparece e lhe
diz: “Tenha coragem”. No mesmo instante o corpo inanimado retoma a vida. O
jovem ressuscitado pelas orações da Santa, se retira da casa, corre pelas ruas
de Roma gritando: “Não, não, meus amigos, não há outro Deus que o dos
cris-tãos, todos os deuses que nós adoramos não são mais que demônios que nos
enganam e nos arrastam ao inferno.” Entretanto, apesar de um tão grande
milagre, não deixaram de a condenar. Então o tenente do prefeito manda que se
acenda um grande fogo, e faz lançá-la nele. Mas as chamas entreabrindo-se, não
lhe fazem nenhum mal e queimam os idólatras que acudiram para serem
espectadores de seus combates. O tenente, vendo que o fogo a respeitava e não
lhe fazia nenhum mal, ordena que a firam com um golpe de espada na garganta, a
fim de lhe tirar a vida; mas o carrasco treme como se ele mesmo estivesse
con-denado à morte... Como os pais de Santa Inês chorassem a morte de sua
filha, ela lhes aparece dizendo-lhes: “Não choreis minha morte, pelo contrário,
alegrai-vos de eu ter adquirido uma tão grande glória no céu.” Estais vendo, meus irmãos, o que esta Santa sofreu antes que
perder sua virgindade. Formai ago-ra idéia da estima em que deveis ter a
pureza, e como o bom Deus se compraz em fazer milagres para se mostrar seu
protetor e guardião. Como este exemplo confundirá um dia estes jovens que fazem
tão pou-co caso desta bela virtude! Eles jamais conheceram seu preço. O
Espírito Santo tem, portanto, razão de exclamar: “Ó, como é bela esta geração
casta; sua memória é eterna, e sua glória brilha diante dos ho-mens e dos
anjos!” É certo, meus irmãos, que cada um ama seus semelhantes; também os
anjos, que são espíritos puros, amam e protegem duma maneira particular as
almas que imitam sua pureza. Nós lemos na Sagrada Escritura que o anjo Rafael,
que acompanhou o jovem Tobias, prestou-lhe mil serviços. Pre-servou-o de ser
devorado por um peixe, de ser estrangulado pelo demônio. Se este jovem não
tivesse sido casto, é certíssimo que o anjo não o teria acompanhado, nem lhe
teria prestado tantos serviços. Com que gozo não se alegra o anjo da guarda que
conduz uma alma pura!Não há outra virtude
para conservação da qual Deus faça milagres tão numerosos como os que ele prodiga
em favor duma pessoa que conhece o preço da pureza e que se esforça por
salvaguardá-la.
Vede o que Ele fez por
Santa Cecília:
Nascida em Roma de pais muito ricos, ela era muito instruída
na religião cristã, e seguindo a inspiração de Deus, ela lhe consagrou sua
virgindade. Seus pais, que não o sabiam, prometeram-na em casamento a
Valeriano, filho de um senador da Cidade. Era, segundo o mundo, um partido bem
considerado. Ela pediu a seus pais o tempo de pensá-lo. Ela passou este tempo
no jejum, na oração e nas lágrimas, para obter de Deus a graça de não perder a
flor daquela virtude que ela estimava mais que sua vida. O bom Deus lhe
respondeu que não temesse nada e que obedecesse a seus pais; pois, não somente
não perderia esta virtude, mas ainda obteria... Consentiu, pois, no
matrimô-nio. No dia das núpcias, quando Valeriano se apresentou, ela lhe disse:
“Meu caro Valeriano, eu tenho um segredo a lhe comunicar”. Ele lhe respondeu:
“Qual é este segredo?” – Eu consagrei minha virgin-dade a Deus e jamais homem
algum me tocará, pois eu tenho um anjo que vela por minha pureza; se você
atenta contra isto, você será ferido de morte”. Valeriano ficou muito surpreso
com esta linguagem, porque sendo pagão, não compreendia nada de tudo isto. Ele
respondeu: “Mostre-me este anjo que a guarda”. A Santa replicou: “Você não pode
vê-lo porque você é pagão. Vá ter com o Papa Urbano, e peça-lhe o batismo, você
em seguida verá o meu anjo”. Imediatamente ele parte. Depois de ter sido
bati-zado pelo Papa, ele volta a encontrar sua esposa. Entrando no seu quarto,
vê o anjo velando com Santa Cecília. Ele o acha tão bonito, tão brilhante de
glória, que fica encantado e tocado por sua formosura. Não somente permite à
sua esposa permanecer consagrada a Deus, mas ele mesmo faz voto de
virginda-de... Em breve eles tiveram a alegria de morrerem mártires. Estais
vendo como o bom Deus toma cuida-do duma pessoa que ama esta incomparável
virtude e trabalha por conservá-la? Nós lemos na vida de
Santo Edmundo que, estudando em Paris, ele se encontrou com algumas pessoas que
diziam tolices; ele as deixou imediatamente: Esta ação foi tão agradável a Deus, que Ele lhe apareceu sob
a forma de um belo menino e o saudou com um ar muito gracioso, dizendo-lhe que
com satisfação o tinha visto deixar seus companheiros que mantinham conversas
licenciosas; e, para recom-pensá-lo, prometia que estaria sempre com ele. Além
disto, Santo Edmundo teve a grande alegria de conservar sua inocência até a
morte. Quando Santa Luzia foi ao túmulo de Santa Águeda para pedir
ao Bom Deus, por sua intercessão, a cura de sua mãe, Santa Águeda lhe apareceu
e lhe disse que ela podia obter, por si mesma, o que ela pedia, pois que, por
sua pureza, ela tinha preparado em seu coração uma habitação muito agradável ao
seu Criador. Isto nos mostra que o bom Deus não pode recusar nada a quem tem a
alegria de conservar puros seu corpo e sua alma...Escutai a narração do
que aconteceu a Santa Pontamiena que viveu no tempo da perseguição de
Maximiano:Esta jovem era escrava dum dissoluto e libertino, que não
cessava de a solicitar para o mal. Ela preferiu sofrer todas as sortes de
crueldades e de suplícios a consentir nas solicitações de seu senhor infame.
Este, vendo que não podia conseguir nada, em seu furor, entregou-a como cristã
nas mãos do governador, a quem prometeu uma grande recompensa se a pudesse
conquistar. O juiz mandou que a conduzissem ante seu tribunal, e vendo que
todas as ameaças não a faziam mudar de sentimentos, fez a Santa sofrer tudo o
que a raiva pôde lhe inspirar. Mas o bom Deus concedeu à jovem mártir tanta
força que ela parecia ser insensível a todos os tormentos. Aquele juiz iníquo,
não podendo vencer sua resis-tência, faz colocar sobre um fogo bem ardente uma
caldeira cheia de pez, e lhe diz: “Veja o que lhe pre-param se você não obedece
a seu senhor”. A santa jovem responde sem se perturbar: “Eu prefiro sofrer tudo
o que vosso furor puder vos inspirar a obedecer aos infames desejos de meu
senhor; aliás, eu ja-mais teria acreditado que um juiz fosse tão injusto de me
fazer obedecer aos planos de um senhor disso-luto.” O tirano, irritado por esta
resposta, mandou que a lançassem na caldeira. “Ao menos mandai, diz-lhe ela,
que eu seja lançada vestida. Vós vereis a força que o Deus que nós adoramos dá
aos que sofrem por Ele”. Depois de três horas de suplício, Pontamiena entregou
sua bela alma a seu criador, e assim alcançou a dupla palma do martírio e da
virgindade.
III – Como a virtude da pureza é pouco conhecida e apreciada no mundo!
Ai, meus irmãos, como esta virtude é pouco conhecida no
mundo, quão pouco nós a estimamos, quão pouco cuidado nós pomos em conservá-la,
quão pouco zelo temos em pedi-la a Deus, pois que não a podemos ter de nós
mesmos. Não, nós não conhecemos esta bela e amável virtude que ganha tão fa-cilmente
o coração de Deus, que dá um tão belo brilho a todas as nossas outras boas
obras, que nos eleva acima de nós mesmos, que nos faz viver sobre a terra como
os anjos no céu!...Não, meus irmãos, ela não é conhecida por estes velhos
infames impudicos que se arrastam, se rolam e se submergem na lama de suas
torpezas, cujo coração é semelhante àqueles... sobre o alto das montanhas...
queimados e abrasados por estes fogos impuros. Ai!Bem longe de procurar
extinguí-lo, eles não cessam de acendê-lo e abrasá-lo por seus olhares, por
seus pensamentos, seus desejos e suas ações. Em que estado estará esta alma,
quando aparecer diante de Deus, a pureza mesma? Não, meus irmãos, esta bela
virtude não é conhecida por esta pessoa, cujos lábios não são mais que uma abertura
e um tubo de que o inferno se serve para vomitar suas impurezas sobre a terra,
e que se alimenta disto como de um pão quotidiano. Ai! A alma deles não é mais
que um objeto de horror para o céu e para a terra! Não, meus irmãos, esta bela
virtude não é conhecida por estes jovens cujos olhos e mãos estão profanados
por estes olhares e... Ó DEUS, QUANTAS ALMAS ESTE PECADO ARRASTA PARA O
INFERNO!...Não, meus irmãos, esta bela virtude não é conhecida por
estas moças mundanas e corrom-pidas que tomam tantas precauções e cuidados para
atraírem sobre si os olhos do mundo; que por seus enfeites exagerados e
indecentes, anunciam publicamente que são infames instrumentos de que o inferno
se serve para perder as almas; estas almas que custaram tantos trabalhos, lágrimas
e tormentos a Jesus Cristo! ... Vede estas infelizes, e vós vereis que mil
demônios circundam sua cabeça e seu coração. Ó meu Deus, como a terra pode
suportar tais sequazes do inferno? Coisa mais espantosa ainda, como mães as
suportam num estado indigno de uma cristã! Se eu não temesse ir longe demais,
eu diria a estas mães que elas valem o mesmo que suas filhas. Ai, este infeliz
coração e estes olhos impuros não são mais que uma fonte envenenada que dá a
morte a qualquer que os olha e os escuta. Como tais monstros ousam se
apresentar diante de um Deus santo e tão inimigo da impureza! Ai! A vida deles
não é mais que uma acumulação de banha que eles estão juntando para inflamar o
fogo do inferno por toda a eternidade. Mas, meus irmãos, deixemos uma matéria
tão desagradável e tão revoltante para um cristão, cuja pureza deve imitar a de
Jesus Cristo mesmo; e voltemos à nossa bela virtude da pureza que nos eleva até
o céu, que nos abre o coração adorável de Jesus Cristo, e nos atrai todas as
bênçãos espirituais e temporais.
5º)- EU VENHO EM NOME DE DEUS! O Purgatório
Por que será que eu me encontro de pé hoje nesse púlpito,
meus caros irmãos? O que será que eu venho dizer para vocês? Ah! Eu venho em
nome do próprio Deus. Eu venho em nome de seus pobres pais, para despertar em
vocês aquele amor e gratidão que vocês lhes devem. Eu venho pra refrescar nas
suas memórias novamente, toda a ternura e todo o amor que eles deram a vocês
enquanto eles ainda estavam sobre essa terra.Eu venho pra dizer a
vocês que eles sofrem no Purgatório, que eles choram e reclamam com ur-gentes
gritos o auxílio de suas orações e boas-obras. Eu os tenho visto gritando das
profundezas daque-las chamas que os devoram: -"Digam aos nossos amigos, aos
nossos filhos, aos nossos parentes, como é grande o mal que eles estão nos
fazendo sofrer. Nós nos atiramos aos seus pés para implorar o auxílio de suas
orações!Ah! Diga-lhes que desde que nós fomos separados deles, nós
temos estado queimando em cha-mas! Oh! Quem poderia permanecer tão indiferente
diante dos sofrimentos que estamos enfrentando!"Você vê, meu caro irmão, você escuta aquela terna mãe,
aquele pai devotado e todos aqueles parentes que lhe ajudaram e fizeram parte
de sua vida? Meus amigos, eles gritam: -"Livrai-nos dessa dor, você
pode!"Considerem então meus
caros amigos:
1°- A magnitude desses sofrimentos pelos quais passam as
almas do purgatório.
2°- os meios dos quais dispomos para mitigar esses
sofrimentos: nossas boas obras, nossas orações e acima de tudo, o santo
sacrifício da Missa.
Eu não quero parar neste estágio para provar a existência do
Purgatório, pois isso seria uma per-da de tempo. Espero que nenhum de vocês
tenha a menor dúvida a este respeito. A Igreja, à qual Jesus Cristo prometeu a
guia do Espírito Santo e a qual, conseqüentemente, não pode se enganar nem nos
en-ganar, ensina-nos sobre o Purgatório de um modo bem claro e positivo. Isto é
uma certeza mais que cer-ta, de que lá é um lugar onde as almas dos justos
completam a expiação por seus pecados, antes de se-rem finalmente admitidas na
glória do Paraíso, o qual, diga-se de passagem, já está assegurado a elas.Sim meus caros irmãos,
isto é um artigo de Fé:se nós não tivermos feito penitência proporcional à
gravidade de nossos pecados, ainda que tenhamos sido absolvidos no Sagrado
Tribunal da Confissão, nós seremos obrigados a expiar por eles.Nas Sagradas Escrituras
há muitos textos que mostram claramente, que embora nossos pecados possam ser
perdoados, Deus ainda impõe-nos a obrigação de sofrer neste mundo duros
trabalhos tempo-rais ou no próximo através das chamas do Purgatório.Veja o que aconteceu com
Adão:Porque ele se arrependeu logo depois de ter cometido o
pecado original, Deus garantiu a ele que o havia perdoado, mas ainda assim Ele
o condenou a passar nove séculos sobre esta terra fazendo penitência. (quando perdemos a inocência, só nos resta a penitência).Penitências que
ultrapassam qualquer coisa que possamos imagi-nar:"maldita seja a
terra por tua causa. Tirarás dela com trabalhos penosos o teu sustento todos os
dias de sua vida. Ela te produzirá espinhos e tu comerás a erva da terra.
Comerás o teu pão com o suor do teu rosto, até que voltes à terra de que fostes
tirado; porque és pó, e em pó te hás de tornar..." (Gênesis 3, 17).Veja novamente: Davi
ordenou, contrariando a vontade de Deus, que se fizesse o recenseamento de
Israel:Atingido pelo remorso de consciência, ele reconheceu o seu
pecado, atirou-se ao chão supli-cando ao Senhor que o perdoasse.
Conseqüentemente, Deus tocado pelo seu arrependimento, o perdoou.Mas apesar disso, ele
enviou Gad para dizer a Davi que ele teria que escolher entre 3 tipos de
punições que Ele havia preparado para Davi reparar pelo seu pecado: a peste,a
fome ou a guerra.Davi então res-pondeu: "Ah! Caia eu nas mãos do Senhor,
porque imensa é a sua misericórdia; mas que eu não caia nas mãos do
homem..." (I Crônicas 21).Ele escolheu a peste e
esta durou apenas 3 dias, mas matou 7 mil pessoas de seu povo.Se o Se-nhor não tivesse detido a mão do Anjo que estava
estendida sobre Israel, Jerusalém inteira teria ficado despovoada! Davi ao ver
todo o mal causado pelo seu pecado, implorou a graça de Deus pedindo que Deus
punisse apenas ele mesmo, mas que poupasse o seu povo que era inocente. Vejam
também as pe-nitências de Santa Maria Madalena! Quem sabe não sirvam para
amolecer um pouco seus corações?Meus caros irmãos, o que
serão então, o número de anos que nós teremos que sofrer no Purgató-rio, nós
que cometemos tantos pecados e que sob o pretexto de já o termos confessado,
não fazemos penitências e nem choramos por eles? Quantos anos de sofrimento nos
esperam na próxima vida?Como poderia eu pintar um quadro dos sofrimentos que essas
pobres almas suportam, quando os santos padres da Igreja dizem-nos que os
tormentos que elas sofrem são comparáveis ao que passou Nosso Senhor Jesus
Cristo durante sua dolorosa paixão?Uma coisa é certa, se o menor sofrimento que Nosso Senhor
suportou tivesse sido compartilhado por toda a humanidade, todos estariam
mortos devi-do à violência de seus sofrimentos.O fogo do Purgatório é o
mesmo que o fogo do Inferno. A diferença entre eles é que o fogo do Purgatório
não é eterno.Oh! Se Deus permitisse que uma daquelas pobres almas que
está mergulhada nas chamas, apare-cesse agora neste lugar, toda envolvida pelas
chamas que a consome e desse ela mesma um recital dos sofrimentos que ela está
suportando! Toda essa Igreja, meus caros irmãos, seria sacudida pelo eco de
seus gritos e soluços e talvez quem sabe isso amoleceria os seus corações? Esta
pobre alma nos diria: - "Como nós sofremos! Ó irmãos, livrai-nos desses
tormentos! Ah, se vocês pudessem experimentar o que é viver separado de
Deus!... Cruel separação! Queimar no fogo aceso pela justiça de Deus!. Sofrer
dores incompreensíveis para a mente humana!... Ser devorado pelo remorso,
sabendo que poderíamos facil-mente ter evitado esses tormentos!... Oh! Meus
filhos!- gritam os pais e as mães- como podem vocês nos abandonar nessas horas,
nós que tanto os amamos quando estávamos sobre essa terra!Como vocês podem ir
dormir tranqüilamente em suas camas, enquanto nós queimamos em uma cama de
fogo?Como vocês têm coragem de se entregar aos prazeres e
alegrias, enquanto nós sofremos e choramos dia e noite? Vocês herdaram nossos
bens, nossas propriedades, vocês se divertem com o fruto de nossos trabalhos,
enquanto nós sofremos males tão indescritíveis e por tantos anos!... E não são
capa-zes de oferecer uma pequena oração em nossa intenção, nem uma simples
Missa que tanto ajudaria para nos livrar dessas chamas!... Vocês podem aliviar
nosso sofrimento, vocês podem abrir nossas prisões e vocês simplesmente nos
abandonam. Oh! Quão cruel são estes sofrimentos!..."Sim meus irmãos, as pessoas julgam de um modo muito
diferente, o que é estar nas chamas do Purgatório por todas essas culpas leves.
Se é que é possível chamar de "leve" algo que nos faz suportar
punição tão rigorosa! Que espanto seria para o homem, grita o profeta real, se
mesmo o mais justo dos homens fosse julgado por Deus sem nenhuma misericórdia!Se Deus achou manchas
até no sol e malícia nos anjos, o que será então do homem pecador?E para nós que cometemos tantos pecados mortais e
praticamente não fazemos nada para satisfazer a justi-ça de Deus. Quantos anos
de Purgatório!Meu Deus! – disse Santa
Tereza de Ávila:"que alma seria
suficientemente pura para entrar di-retamente no Céu sem ter que passar pelas
chamas da justiça?" Em sua última doença, ela de repente gritou: "Oh
Justiça e Poder do meu Deus, quão terrível sois!" Durante sua agonia, Deus permitiu que ela contemplasse por
alguns segundos a Sua Santidade, assim como os anjos e os santos do Céu O
contemplam. E isso causou nela um pavor tão grande, que ela se pôs a tremer e
ficou agitada de um modo tão extraordinário que as irmãs perguntaram-lhe
chorando:-"Ah! Madre, o que está se passando? Certamente que a
senhora não teme a morte depois de tantos anos de penitência e lágrimas
amargas!" - Não, minhas filhas, eu não temo a morte, muito pelo contrário,
eu a desejo porque só assim estarei unida eternamente a Deus. - Oh! Madre,
seriam os teus pecados então, que ainda te aterrorizam depois de tantas
mortificações? - Sim minhas filhas- respondeu Tereza- eu te-mo pelos meus
pecados, mas temo por algo ainda maior! - Seria então, o julgamento? - Sim, eu
temo pela formidável conta que terei que prestar diante de Deus. Principalmente
porque nesse momento se-remos julgados pela justiça e não pela misericórdia.Mas tem algo que ainda
me faz morrer de terror. As pobres irmãs já estavam profundamente angustiadas.
- Madre, seria por acaso o Inferno? -Não -respondeu ela - O inferno, Graças a
Deus não é pra mim. Oh! Minhas filhas, é a Santidade de Deus. Meus Deus, tende
misericórdia de mim! Minha vida será confrontada face a face com o próprio
Cristo! Ai de mim se eu tiver a menor mancha ou falha! Ai de mim, se eu tiver a
menor sombra de pecado! - Ai de nós! - gritaram as pobres irmãs - O que será
então no dia das nossas mortes?O que será então de nós,
meus caros irmãos?Nós que talvez em todas as nossas penitências e boas obras,
talvez nunca tenhamos conseguido satisfazer por um único pecado perdoado no
tribunal da Confissão? Ah! Quantos anos e séculos de tormento para nos
punir?... Vamos pagar muito caro por to-das essas "pequenas falhas"
que nós vemos como algo que não tem a menor importância, como aquelas
"pequenas mentirinhas" que nós falamos para evitar problemas para nós
mesmos, aqueles pequenos es-cândalos, o desprezo pelas graças que Deus nos
concede a cada momento, aquelas pequenas murmura-ções nas dificuldades que Ele
nos envia! Não, meus caros irmãos, nós não teríamos nunca a coragem de cometer
o menor pecado, se pudéssemos entender o quanto isto ultraja a Deus e o quão
merecemos ser rigorosamente punidos, já ainda nesse mundo.Meus irmãos, Deus é justo em tudo que Ele faz. Quando Ele
recompensa-nos até pela menor boa ação que fazemos, Ele nos dá muito mais do
que qualquer um de nós merecemos. Um bom pensamento, uma boa ação, um bom
desejo, ou seja, o desejo de fazer uma boa obra, mesmo quando não somos
ca-pazes de fazê-la, Ele nunca nos deixa sem uma recompensa. Mas também, quando
se trata de uma maté-ria de punição, isto é feito com o maior rigor e ainda que
tenhamos a menor falta seremos enviados para o Purgatório. Isto é verdade
absoluta e nós comprovamos isto pela vida dos santos. Muitos deles não chegaram
ao Céu, sem antes terem passado pelas chamas do Purgatório.São Pedro Damião
conta-nos que sua irmã permaneceu vários anos no Purgatório porque ela ou-viu
com prazer certos tipos de músicas.Conta-se também que dois religiosos fizeram um pacto um com
o outro, acertando que quem morresse primeiro viria contar ao sobrevivente em
que estado ele se encon-trava. Deus permitiu que isso acontecesse e quando um
deles morreu, apareceu ao seu amigo. Ele contou ao seu amigo que tinha
permanecido 15 anos no Purgatório por seu orgulho de sempre querer fazer as
coisas a seu modo. Então seu amigo o cumprimentou por ter permanecido lá por
tão pouco tempo! O morto então respondeu: - Eu teria preferido ser queimado
vivo por 10 mil anos ininterruptos nessa terra, pois esse sofrimento nem
poderia ser comparado com o que eu sofri 15 anos naquelas chamas!Um sacerdote contou a um
de seus amigos que Deus o havia condenado a permanecer no Purga-tório por
vários meses, por ter segurado a execução de uma boa-obra que era Vontade de
Deus que fosse feita.Coitados de nós, meus irmãos! Quantos de nós não temos
faltas semelhantes? Quantos de nós re-cebemos a tarefa de nossos parentes e
amigos de mandarmos celebrar Missas e dar esmolas e simples-mente fazemo-nos de
esquecidos! Quantos de nós evitamos fazer boas-obras apenas por respeito
huma-no? E todas essas almas presas nas chamas, porque não temos coragem de
satisfazer seus desejos! Po-bres pais e pobres mães, vocês agora estão sendo
sacrificados pela felicidade de seus filhos e parentes! Vocês talvez tenham
negligenciado sua própria salvação para construírem suas fortunas. E agora
vocês estão sendo traídos pelas boas-obras que vocês deixaram de fazer enquanto
ainda estavam vivos! Pobres pais!Quanta cegueira é
esquecer de nossa própria salvação!Você talvez me dirá: - Nossos pais eram pessoas boas e
honestas. Eles não fizeram nada de tão grave para merecerem essas chamas! Ah!
Se vocês soubessem que eles precisavam de muito menos do que eles fizeram para
cair nessas chamas! Vejam o que disse a esse respeito, Alberto, o Grande, um
ho-mem cujas virtudes brilharam de modo extraordinário! Ele revelou a um de
seus amigos, que Deus o havia levado ao Purgatório por ter se orgulhado de um
pensamento sobre seu próprio conhecimento. A coisa mais surpreendente foi que
ali haviam verdadeiros santos, muitos que inclusive já tinham sido ca-nonizados
pela Igreja e que estavam passando pelas chamas do Purgatório.São Severino, Arcebispo
de Colônia, apareceu a um de seus amigos muito tempo depois de sua morte e
disse-lhe que ele havia passado um longo tempo no Purgatório por ter adiado pra
de noite, as orações do breviário que ele devia ter recitado pela manhã.Oh! Quantos anos de Purgatório não passarão aqueles cristãos
que não tem o menor escrúpulo em adiar suas orações para uma outra hora, apenas
pela desculpa de terem algo mais importante a fazer!
Se nós realmente desejássemos a felicidade de possuir a
visão beatífica de Deus, nós evitaríamos tanto os pecados mortais como os
veniais, uma vez que a separação de Deus constitui-se um tormento tão terrível
para essas almas!
Traduzido do francês por
Gercione Lima (Toronto-Canada)
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