A Nova
Evangelização e a Renovação Carismática
Por: Mário Pinto
1.
Na história da experiência cristã, vivemos uma nova época:
Foi o próprio Concílio que declarou, na Constituição Pastoral sobre a Igreja e
o Mundo: «as condições de vida do homem moderno sofreram tão profunda
transformação no campo social e cultural, que é lícito falar duma nova era da
história humana» (GS 54; cfr. ainda 4-10). Um grande teólogo dos tempos do
Concílio Vaticano II, Heribert Mühlen, iniciou um dos seus melhores livros,
dedicado à «renovação da fé cristã», precisamente com uma importante reflexão
sobre o que vem a ser «o início de uma nova época na história da fé» ?
2. Uma nova época, uma renovação, uma Nova Evangelização!
Dentro da Igreja, a nossa época manifesta-se em movimentos de renovação. O
próprio Concílio foi o maior destes movimentos, colocado pelo Papa João XXIII
sob a súplica de «um Novo Pentecostes sobre a Igreja e o Mundo». Os chamados
"novos movimentos e as novas comunidades eclesiais", alguns
anteriores e outros posteriores ao Concílio, são sinais de renovação. E a Nova
Evangelização é, de certo modo, uma recapitulação do anseio de renovação
espiritual e apostólica. A esta luz, a presente Meditação será feita pela leitura de alguns
excertos do já citado livro de Heribert Mühlen; a que apenas se acrescentar
breves referências extraídas das lições do Padre Jesus Castellano Cervera O.C.D.,
professor na Pontifícia Faculdade Teológica Teresianum, onde rege duas
importantes cadeiras:
-A
primeira, intitulada: "Espiritualidade Contemporânea. O dinamismo do
Espírito na Igreja e no mundo do século XX antes e depois do Concílio Vaticano
II".
-E a segunda, intitulada: "Movimentos Eclesiais Contemporâneos.
Atualidade, características, discernimento".
3. Aspecto da mudança epocal: do "Eu"
para o "Nós"
Procurando identificar aspectos desta mudança epocal, no respeitante à história
da fé, o teólogo católico Mühlen escreve:
«Numerosos
movimentos, no nosso século XX, indicam claramente que, e em que sentido,
terminou certa época. Todos eles têm em comum a passagem do "eu" para
o "nós", de uma espiritualidade individualista, centrada no sujeito,
para a descoberta da comunidade eclesial, da Igreja como grandeza social (e já
não, meramente, como sociedade composta de muitos indivíduos). (...) Se o
início do chamado "tempo moderno" se caracterizou pela centração no
sujeito, no "eu", os movimentos do nosso século XX anunciam uma
orientação para o "nós". - Esta sofreu certamente a influência do processo
universal da socialização... Daí brotou, por sua vez, um novo interesse pelas
formas de comunidade da Igreja primitiva, e particularmente pela estrutura
fundamental carismática das primeiras comunidades e pelas suas formas de
oração. Em alguns desses movimentos, irrompe assim, novamente, a vitalidade
pentecostal da Igreja, e isso de um modo imprevisto: a força missionária de
comunhão espiritual manifesta-se sob uma forma que já se pode chamar de
característica epocal» .
4. Associações eclesiais e movimentos espirituais:
Heribert Mühlen continua a sua apreciação da espiritualidade do nosso tempo de
mudança epocal, chamando a atenção para uma importante distinção. Escreve ele: «De um
ponto de vista de sociologia religiosa, devemos distinguir entre, por um lado,
associações eclesiásticas e, por outro lado, verdadeiros movimentos, que põem
algo em acção até se chegar efectivamente à "segunda conversão" do
indivíduo, capaz de libertá-lo para um testemunho intensivo da fé. Estas duas
formas de socialização eclesial são estruturalmente distintas, muito embora
sejam possíveis coincidências mútuas. As
associações eclesiais apelam para o direito natural do homem e, de acordo com
regras que são constitucionais para o funcionamento da vida global da
sociedade, pretendem intervir para servir os interesses religiosos ou
eclesiásticos. (...) Nos movimentos, pelo contrário, trata-se de uma renovação
que vai além do que existe e que rejeita mais ou menos claramente o que já
era». Ora hoje são inegáveis a evidência e a relevância
dos novos movimentos eclesiais que precisamente correspondem a uma acentuação
do segundo dos dois tipos daquela distinção.
5. Os movimentos espirituais de renovação
«Seja qual for a classificação que se dê à mensagem pentecostal de Lucas (como
"tradição particular", como ilustração simbólica de uma experiência
fundamental, etc.), o conteúdo doutrinal é sempre este: a Igreja Cristã é um
movimento que se baseia no testemunho missionário. Por isso, os movimentos de
renovação que surgem em tempos de estagnação e decadência, ou também em tempos
de transformações conjunturais, pertencem constitutivamente ao ser mais íntimo
da Igreja como Igreja. A origem pentecostal da Igreja deve reactualizar-se
sempre através de movimentos, se ela não quiser vir a ser mera associação de
defesa do estabelecido» .
«Logo na segunda e terceira gerações cristãs, já os profetas ambulantes são
expressão dessa estrutura fundamental. Igualmente, na Antiguidade cristã e na
Idade Média, os grandes pregadores da penitência. Aqui se deve mencionar o
apostolado da pregação das Ordens Mendicantes e a pregação da reforma da
Renascença, bem como as Missões populares que nasceram depois do Concílio
Tridentino. Foi principalmente S. Vicente de Paula (cerca de 1650), que lhes
deu a forma que elas conservaram até ao século XX. Em 1918, foram até
prescritas pelo direito canónico da Igreja Católica (ao menos de dez em dez
anos: CIC, c. 1349)» .
«Certamente, a Missão Popular tradicional tinha um cunho pronunciadamente
individualista ("salva a tua alma"). No nosso século XX, porém, ela
centra-se nas mudanças estruturais, internas e externas, da Igreja actual, e
procura também ressaltar certas coisas que estão ausentes da vida da Igreja.
Cuida, por conseguinte, de chegar a uma "liturgia missionária" mais
conforme a 1Cor 14,23. (...) essa liturgia missionária vive hoje, de modo
espantoso, na renovação carismática católica. (...)
Tal renovação pressupõe que cada cristão esteja consciente dos carismas que,
segundo a doutrina unânime do Novo Testamento, lhe são dados para o serviço e
edificação da Igreja; e pressupõe, também, que se ultrapasse o individualismo
da salvação, tendo em vista uma experiência eclesial do "nós". Ora,
estas condições realizam-se ambas em grande escala na renovação carismática
católica, e podem ser compreendidas como uma continuação da Missão Popular
tradicional. Mas (...) também em outros movimentos se anuncia a transição do "eu"
para o "nós"; e assim se torna possível a experiência da presença do
Espírito Santo na "assembleia", sob uma nova forma» .
Nesta linha de
espiritualidade renovadora, Heribert Mühlen refere alguns exemplos, desde os
anos 30:
-Opus Deis (santificação pelo trabalho na Santa discrição).
-Depois os Focolares
-Movimento dos
Casais de Nossa Senhora
-Os Cursilhos de Cristandade
-Schoenstatt
-Caminho Neocatecumenal
-Renovamento Carismático Católico (que surgiu de membros dos Cursilhos).
-Novas Comunidades (depois da RCC).
6. O fenómeno da renovação: o reavivamento do Batismo do Espírito Santo (nova efusão)!
«O fenómeno muito complexo desta renovação [que se pode verificar desde os anos
pré-Concílio e irrompe nos chamados "novos movimentos e comunidades
eclesiais"], não pode ser descrito em algumas poucas proposições: abrange,
com efeito, a Igreja inteira em todas as suas dimensões. As
finalidades e os elementos essenciais dos [novos] movimentos (...) estão
igualmente agindo nessa renovação. Mas o que nela se destaca mais é o apelo a
cada um em particular para que se entregue nova e totalmente a Deus, num ato
de fé inteiramente pessoal, e numa decisão de fé amadurecida num longo processo
de preparação. Este ato e este processo pode-se também chamar de
"baptismo do Espírito Santo", no sentido de Act 1,8; 11,16; Mt 3, 11.
A pessoa abre-se para todos os dons de Espírito que Deus lhe queira conceder e
que depois deverá usar ao serviço da Igreja» .
7. Os carismas extraordinários de serviço ao bem comum da igreja
«O dom carismático primordial é, segundo Paulo, a caridade (1Cor 13). Porém, o
primeiro é a eclosão exuberante de um novo louvor a Deus, por causa d'Ele
mesmo, o qual tem simultaneamente - por ser proclamado em público e perante
testemunhas - o carácter de uma anunciação, possuindo assim uma dimensão
essencialmente social (Act 2,4; 11,33).O que mais caracteriza essa renovação é a
experiência da poderosa presença de Deus na assembleia dos fiéis e,
consequentemente, também na vida quotidiana (cfr. 1Cor 14,25).O abismo entre fé
e experiência, característica da crise universal da fé, é aqui transposto de um
modo que tem todos os indícios do começo de uma nova época. A finalidade última
é uma Igreja carismaticamente renovada. Já o disse o Concílio Vaticano II,
certamente com bastante reserva porém com clareza suficiente:O Espírito
Santo não apenas santifica e conduz o povo de Deus, mas além disso distribui,
entre os fiéis de todas as classes, dons especiais que os tornam aptos e dispostos
a tomar diversas obras e encargos proveitosos para a renovação e edificação da
Igreja (cfr. Lumen Gentium, 12)» .
8. Necessidade de renovação dos carismas, apesar dos perigos
Ainda se não reflectiu suficientemente sobre a relação entre a "auto-experiência"
e a "experiência do Espírito". Muitas inspirações, acontecimentos e
casos cotidianos são atribuídos, por vezes com exagerada facilidade, à
actividade directa e imediata do Espírito Santo de Cristo (desta maneira,
nasceram historicamente muitas seitas).No
entanto, não se pode pôr em dúvida que se impõe urgentemente uma renovação dos
carismas.
No projeto "Ministérios e Serviços
Pastorais na Comunidade", preparado para o Sínodo das Dioceses alemãs,
lemos o seguinte:
"Comunidades vivas em que colaboram multiformes dons do Espírito
e em que todos os membros juntos são portadores da responsabilidade pela
salvação, eis o que constitui uma das finalidades principais da renovação
eclesial".
E o Papa Paulo VI disse, por sua vez, numa alocução profética de 23 de Maio de 1973, que:
"Devia nascer na humanidade fiel um movimento
verdadeiramente pneumático e, portanto, carismático...o Renovamento
Carismático está reativando formas de oração e de vida que tinham morrido
desde o século IV, ou se haviam mantido insuladas dentro de uma tradição
mística isolada» .
9. A Nova Evangelização e os novos movimentos
Nas suas múltiplas manifestações, a Nova Evangelização só pode visar uma
renovação; mas, por sua vez, tem de partir de uma renovação. Esta renovação não
é exclusivo dos novos movimentos; pelo contrário, é o movimento de renovação
que, tudo renovando, também se exprime por «novos movimentos e
comunidades». Apesar de tudo, sobre a renovação e os novos movimentos tem havido uma questão
em que, reconheça-se claramente, se manifestou alguma divergência. Talvez o
Congresso Internacional para a Nova Evangelização tenha contribuído para
minorar dificuldades a este respeito. No seu conhecido curso, na Pontifícia Faculdade de Teologia Teresianum, sobre
«Movimentos eclesiais contemporâneos. Actualidade, características,
discernimento», o Padre Jesus Castellano Cervera O.C.D. ensina: «Numa Igreja
sempre em movimento, existem necessariamente movimentos sob a acção do Espírito
Santo» .
Para isso contribuiu
muito o histórico discurso do Papa João Paulo II aos participantes do 1º
Encontro Internacional dos Movimentos, em 1981. Disse o Papa João Paulo II:«Os
Movimentos no seio da Igreja, Povo de Deus, exprimem aquele múltiplice
movimento que é a resposta do homem à Revelação, ao Evangelho; o movimento em
direcção ao próprio Deus vivo, que tanto se aproximou do homem; o movimento em
direcção ao próprio íntimo, à própria consciência e ao próprio coração, o qual,
no encontro com Deus, desvela a profundidade que lhe é própria; o movimento em
direcção aos homens, nossos irmãos e irmãs, que Cristo coloca na estrada da
nossa vida; o movimento dos filhos de Deus» .
Ainda de acordo com o Padre Jesus Castellano Cervera:
"Uma primeira
característica que nos permite caracterizar o significado do fenómeno (dos
movimentos eclesiais contemporâneos) é a prevalência da experiência espiritual,
a vida vivida quer pessoalmente quer em grupo com um sério empenhamento
apostólico.
Um segundo aspecto é o da agregação, ou formação de grupo ou
grupos, com acento sobre a comunidade e a comunhão, que é característica da
espiritualidade contemporânea na Igreja.
Uma terceira nota é o fato da sua
contemporaneidade, a sua experiência na vida da Igreja hoje, enquanto se trata
de movimentos ou grupos nascidos no nosso tempo".
Ao terminar a sua introdução ao Curso dos Novos Movimentos, escreve o Padre Jesus
Castellano Cervera:
«No caminho da Igreja de hoje, com as novas
necessidades missionárias e com a necessidade de uma qualificada presença
laical, não há dúvidas de que os movimentos, chamados a viver intensamente a
comunhão e a missão da Igreja, e a maturar dentro da Igreja os caminhos da
história, são uma providencial presença do Espírito, que sempre vem em auxílio
da sua Igreja, segundo as necessidades do momento histórico para a plenitude do
Evangelho» .
E ao terminar o seu Curso sobre a Espiritualidade
Contemporânea, escreveu:
«além disso, a Igreja deve, em toda as suas instâncias
e realizações, ser mais agressiva e ofensiva, como o próprio Jesus na sua
humildade e mansidão, na proposta dos valores essenciais do Evangelho. E isso
exige uma Igreja mais mistagógica, mais plasmada no Espírito da palavra vivida
no quotidiano, mais em comunhão, mais dependente nos projetos e nas suas
realizações do mistério que tem dentro de si, sem ceder à tentação de se
adequar às modas e aos princípios deste mundo» .
Fonte:https://pneuma-rc.pt/nova-evangelizacao-e-renovacao-carismatica/
Renovamento Carismático Católico: movimento ou espiritualidade ?
Por Pe. Alírio Pedrini
Vamos refletir sobre o que é o
Renovamento e a que é chamado pelo Espírito Santo hoje, na Igreja? O Renovamento Carismático Católico não é uma inovação, ou reforma - é uma
renovação, como bem definiu o Papa Paulo VI:"O Renovamento é uma graça
do Espírito de renovação da Igreja, na Igreja". É uma espiritualidade
original da Igreja, para favorecer a renovação da vida cristã em todas as suas
dimensões, dentro desta mesma Igreja. Fazendo com que os corações se renovem profundamente, na sua vida
cristã, no seu sacerdócio, na sua vida consagrada, no seu episcopado, vai se
renovando a Igreja, porque ela é composta de pessoas. À medida que os membros
da Igreja se renovam numa vida cristã mais sólida, forte, radical, profunda,
iluminada, movida pelo Espírito, a Igreja vai se renovando. Dado que existem muitos movimentos, a dificuldade está em compreender que o
Renovamento não é um movimento na Igreja, mas sim uma espiritualidade renovadora. Alguns Bispos, mesmo alguns de maior autoridade na Igreja Católica, e
sacerdotes, usaram o termo "movimento". O Cardeal Suenens, da
Bélgica, foi uma grande autoridade e fez uma importante intervenção no Concílio
Vaticano II sobre a teologia dos carismas. Logo que ouviu dizer que nos Estados
Unidos havia um jorro do Espírito, foi ver para conhecer. Sentiu que o que
estava a acontecer ali era o início de uma resposta que o Espírito Santo estava
a dar à oração de João XXIII. João XXIII orava para que houvesse um novo
Pentecostes na Igreja, para renovar a Igreja na força do Espírito e torná-la ao
modo da Igreja primitiva (não em termos históricos), que era essencialmente
carismática. Não carismática por causa dos carismas, mas carismática porque
movida e dirigida vigorosamente pelo Espírito. O Cardeal Suenens escreveu que se considerarmos o Renovamento como
mais um movimento como outros que existem na Igreja, estamos a tirar-lhe todo o
significado, estamos a quebrar a espinha dorsal, estamos a mudar a sua essência.
O Renovamento não é para ser melhor nem pior, porque não é um movimento, não se
pode comparar.
O Renovamento é uma
espiritualidade renovadora na força do Espírito, para renovar a vida cristã em
todas as suas dimensões:
-Em relação a Deus
-Ao próximo
-A si mesmo
-E ao mundo.
A finalidade
do Renovamento é renovar a vida cristã, que está no fundamento do papado, do
episcopado, do sacerdócio, da vida religiosa, da consagração, de todas as
formas de vida. A partir do momento em que se renova vigorosamente a vida
cristã, renova-se o episcopado, o sacerdócio, a vida religiosa e a vida dos
leigos.
Existem diversas espiritualidades católicas, no sentido de "espiritualidades
universais" - Por exemplo:
-Espiritualidades Eucarística
-Mariana
-Litúrgica
-Bíblico-Catequética
-Ecumênica.
-A espiritualidade Mariana é para todos os católicos e, mesmo que
muitos não a cheguem a viver, é também para eles.
-A espiritualidade Eucarística
é para todos os católicos, mesmo que muitos não venham a vivê-la.
-O mesmo se
passa com a espiritualidade Bíblico-catequética, a espiritualidade Litúrgica e a caritativa, voltada para obras sociais no socorro material.
-E aqui se
situa a espiritualidade do Renovamento no Espírito Santo, é uma espiritualidade
católica, universal, para toda a Igreja, porque toda a Igreja precisa de estar
em permanente e constante renovação no Espírito, pois não podemos extinguir o
Espírito ( I Tessal 5,19).
Mesmo que não seja no estilo do Renovamento que nós vivemos. Hoje,
na nossa Igreja, sentimos que há uma tremenda necessidade de renovação da vida
cristã.
Existem espiritualidades que chamaríamos parciais (vocacionais) que são para uma parcela da Igreja:
-As espiritualidades do
Coração de Jesus
-Franciscana,
-Dominicana,
-Beneditina,
-Jesuíta,
-Inaciana ou Comboniana,
-Folcolarina,
-Carmelita...
Cada uma é para uma parte dos distinta de cristãos! O Senhor Jesus, ao chamar
para o sacerdócio pelo Espírito, dá um carisma de acordo com a Sua vontade,
para uma espiritualidade. ATENÇÃO! Não se pode viver e estar engajada, na espiritualidade do Coração de Jesus e ao mesmo
tempo a espiritualidade Franciscana ou a espiritualidade Beneditina. Mas pode e deve viver-se, como Dehoniano, Franciscano ou Beneditino, a espiritualidade
Bíblica, a Litúrgica, a Mariana, a Eucarística e a do Renovamento Carismático. Religiosos e superiores de
religiosos dizem, por vezes, que já têm a sua espiritualidade, que não precisam
dessa outra espiritualidade.
Acontece que a "espiritualidade do Renovamento" é uma
espiritualidade eclesial, é uma renovação da Igreja, na Igreja e para a Igreja, ou seja, e ela é
universal!
-O Beneditino torna-se mais Beneditino com a espiritualidade do
renovamento.
-O Jesuíta torna-se ainda mais Jesuíta com a espiritualidade do renovamento.
-O Franciscano torna-se
ainda mais Franciscano com a espiritualidade do renovamento.
-O (a) Carmelita, torna-se ainda mais Carmelita com a espiritualidade do renovamento.
-O irmã do Coração de Jesus torna-se ainda mais do
Coração de Jesus, pelo Renovamento.
-O Agente de Pastoral das CEB's se torna mais autenticamente agente com a espiritualidade do renovamento.
Porque o mesmo Espírito Santo que suscitou
o Renovamento para fazer um sopro na Igreja, para renovar a vida cristã em
todas as dimensões, é o mesmo Espírito que deu o carisma fundacional e que dá o
carisma específico(de serviço), a quem Ele chama para uma determinada Congregação. Não há nenhuma contradição,
pelo contrário, há uma complementaridade maravilhosa. Assim como se produz um
enriquecimento através das espiritualidades Litúrgica, Bíblica e Mariana,
também a espiritualidade do Renovamento enriquece tremendamente.Só se compreende bem o carisma,
a espiritualidade da nossa Congregação, depois da graça da Efusão no Espírito! Porque o mesmo Espírito que chama para a vida cristã, é o mesmo Espírito
que nos chama para uma Congregação e é o mesmo que dá a graça do Renovamento no
coração. O renovamento é o fermento na massa e esse fermento forte é o Espírito.
O verdadeiro carismático!
Quando usamos o termo carismático não se deve essencialmente aos carismas. Uma
pessoa pode ter carismas e não ser carismática! Alguém pode ter carismas, orar
em línguas, até ter palavras de ciência, discernimento dos espíritos e não se
deixar conduzir pelo Espírito!
Quem é o verdadeiro
carismático? Aquele que é movido e dirigido pelo Espírito Santo. ATENÇÃO! Movido e dirigido!
-Primeiro: Movido como um motor do carro. De que adianta um carro
sem motor ou com o motor avariado? Na vida cristã, na vida no Espírito, o motor
que impulsiona é o Espírito. E, ao mesmo tempo, Ele é o motorista. Um carro que
tenha um motor forte mas não tenha motorista, é um desastre, vai bater noutro
carro e atropelar pessoas! O verdadeiro carismático (e aí entra o Renovamento
Carismático) é-o, em primeiro lugar, no sentido em que é o Espírito Santo quem
o move e dirige;
-Em segundo lugar: é carismático no sentido de desenvolver
carismas infusos (de santificação pessoal) e carismas efusos (de serviço na vinha do Senhor).
O Renovamento
Carismático não e um movimento para simplesmente fazer grupos de oração e
trazer todo mundo para dentro deles!
Os grupos de
oração são necessários e importantes para que as pessoas que estavam totalmente afastadas da vida eclesial e da busca pela santidade, e despertadas para
esse renovamento, tenham um local, um ambiente onde possam viver essa
espiritualidade, crescer e amadurecer para depois servir a Igreja!
-Feliz o dia em que a paróquia não precise de grupo de oração. Feliz o dia em
que nas paróquias as missas sejam tão vividas, tão ungidas, tão profundas, que
as pessoas saiam da missa cheias de Deus, com força para viver santamente a sua
semana.
-Feliz o dia em que os batismos sejam feitos com tanta unção, que as
pessoas (os pais, os padrinhos, os parentes) saiam daquela cerimónia com o seu
batismo renovado, com vontade de ir viver a vida cristã com radicalidade.
-Feliz o dia em que os casamentos nas igrejas não sejam aquele acontecimento de
vaidade que se verifica tantas vezes, que é uma profanação do Santíssimo, mas
que sejam celebrados de tal maneira que os noivos, os parentes, toda a gente
esteja ali com uma fé profunda, e que todos os casais saiam da igreja renovados
no seu matrimónio, com vontade de viver a santidade do seu casamento!
No dia em que as coisas
acontecerem assim, não precisaremos mais de grupos de oração!
Os grupos de oração são importantes neste momento e necessários
para que as pessoas que estão a despertar para a vida nova no Espírito, essa
vida cristã vivida em profundidade, tenham um local, um ninho quente onde se
possam encontrar uma vez por semana para ao seu modo rezarem, cantarem, louvarem
a Deus, ouvirem a palavra de Deus, crescerem na sua conversão, buscarem a cura
dos seus problemas, para poderem viver melhor a sua vida. Portanto, o
Renovamento é, antes de tudo, a renovação da vida cristã em todas as vertentes, não é um fim em si mesmos.
ATENÇÃO! Os(as) dirigentes de grupos de oração não devem ficar decepcionados(as) quando seus membros estiverem saindo dos grupos para servirem a Igreja de sua paróquia ou diocese, nos mais diversos serviços e nas pastorais! Serão pessoas renovadas a servirem mais e melhor!
-Os casais que estão verdadeiramente no Renovamento precisam de se renovar na
vida matrimonial. A sua vida matrimonial tem de ser transformada para ser
vivida na santidade do sacramento do matrimónio.
-Os jovens do Renovamento são chamados a renovarem-se para viverem uma vida cristã
e de juventude como autênticos cristãos, vivendo a beleza, a grandeza e os seus
ideais de juventude em santidade. Sendo aqueles santos de calças Jeans que tanto São João Paulo II anciava.
O Renovamento existe para fazer acontecer a ressurreição interior das pessoas,
de modo que passem a viver a vida cristã com radicalidade, com profundidade, na
unção do Espírito, no poder da graça do Espírito. Mas, claro, em relação
profunda com o Pai, com Jesus Ressuscitado, com o Espírito, com Maria, em
grande amor e comunhão como todos os irmãos e vivendo uma vida santa. Se as pessoas que estão no Renovamento não entrarem nesse processo de renovação
permanente das suas vidas, é inútil a sua participação em grupos de oração, pois ficaram "obesos" de tanta formação biíblico-catequetica, mas sem aplicação prática na vida eclesial.
É fundamental fazer uma
distinção entre estar" NO Renovamento" e estar "EM renovamento"!
Estar no Renovamento não é importante, pode não significar nada! Se uma pessoa está no Renovamento mas a sua vida cristã não está a melhorar,
então não adianta estar no Renovamento. Cada um de nós precisa de se renovar
cada dia mais e mais! O Renovamento é um sopro do Espírito, é uma graça para a Igreja de hoje, na
tentativa do Espírito ajudar a Igreja a renovar-se na vida cristã, a todos os
níveis. É para renovar a vivência dos sacramentos, a vivência dos sacramentais,
para melhorar a vida de oração, com maior amor à palavra de Deus, para
experiências cada vez mais maravilhosas com Deus Pai, com Jesus Ressuscitado,
com o Espírito, com Maria; para que os casados vivam mais maravilhosamente o
seu matrimónio, a vida familiar e a educação dos filhos, para que os jovens
vivam a sua juventude em santidade e na castidade, para que nós os sacerdotes
vibremos mais com o nosso sacerdócio, com espiritualidade profunda, para
realmente sermos pastores e levarmos esse sopro para os nossos irmãos, para que
as religiosas se renovem cada vez mais na vivência do seu carisma, da sua vida
em comunidade, dos seus votos, no entusiasmo da missão. Este é o projeto, esta é a finalidade do Renovamento carismático, esta é a
vontade do Espírito. E vemos que em todo o mundo está a acontecer assim. Com
muitas dificuldades, tropeços e abusos! Mas o Renovamento foi chamado a existir
na Igreja Católica para renovar a vida cristã, em todas as dimensões, em todos
os relacionamentos. Há muitos anos que viajo pelo Brasil inteiro e fico impressionado
com o que acontece na vida de casais e adultos do Renovamento. Como tudo se
transforma nas suas vidas. Continuam a ter dificuldades, problemas, sem dúvida
nenhuma! Mas tudo se renova nas suas vidas. Passam a viver uma vida diferente,
uma vida de Fé impressionante, com uma enorme abertura aos irmãos e trabalho
para os outros. Os jovens impressionam-me! Pela quantidade de jovens que vejo nos encontros,
nos cenáculos, nos grandes encontros, imagino que no Brasil, dos seis milhões
de católicos do Renovamento1, pelo menos um milhão são jovens. Há jovens nas
grandes cidades que abrem um bar/café com música ao vivo. Atrás da sala do café
têm uma ou duas salinhas, uma capelinha, e ficam ali, eles próprios a servir, a
tocar para atrair os jovens, e sentam-se nas mesas a evangelizar. E quando um
jovem começa a vacilar, vão com ele para trás e vão evangelizar, impõem as mãos
e oram por ele, e há conversões impressionantes. Nunca vi tantos jovens e
namorados fazerem voto de castidade até ao casamento como estou a ver hoje! É
impressionante! Quantos me têm procurado, perguntando-me como devem fazer? É o
Espírito que revela todas as coisas!
Num encontro com 1680 jovens,
no qual preguei durante três dias, pediram-me que falasse sobre afetividade e
sexualidade:
Quando comecei a colocar as coisas claras sobre a sexualidade
cristã que deveria ser assumida por eles, fiquei impressionado! Quando dizia as
coisas mais sérias eles começavam a bater palmas, porque o Espírito, que
despertou neles, revela toda a verdade sobre a beleza da sexualidade, da
virgindade, da castidade e do matrimónio. No Brasil há uma explosão de
vocações. É pena que muitos seminários Diocesanos, e nas Congregações, as portas
estejam quase fechadas. O Espírito está a fazer uma obra incrível. Temos dez congregações
masculinas e femininas que estão a nascer nesta espiritualidade carismática! Um
cónego diocesano recebeu inspiração para fazer uma fraternidade com quatro ramos:
sacerdotes, religiosas, leigos consagrados e casais de aliança. Quando abriu o seminário no 1º ano tinha 75 rapazes para fazer
Filosofia e Teologia. No 2º ano não conseguiu receber ninguém porque já não
tinha lugar! É o Espírito que se está a manifestar ali. Há uma comunidade de
leigos consagrados, no Nordeste do Brasil, da qual a última notícia que possuo
é que já existem seiscentos jovens consagrados que fazem dois anos de noviciado
para entrarem na comunidade. O Espírito está a renovar a Igreja! Padres e irmãos, temos de estar atentos a
isso. Não podemos bloquear o Espírito. Procuremos, sim, compreender essa
maravilha do Espírito. Reparem que, ao falar em Renovamento, não falei de que renovamento era. Orar em
línguas, levantar os braços, ter palavras de ciência; é isso também, mas tudo
isso, sendo importante, é periférico. O essencial do Renovamento e a
sua finalidade é uma vida cristã que se renove até à medula dos ossos, para ser
vívida realmente com radicalidade. É uma espiritualidade renovadora. E se essa
renovação não estiver a acontecer, não adianta estar no Renovamento. Estar no Renovamento
ou estar em renovamento, aí está a diferença. Num seminário de aprofundamento de
fim-de-semana onde estavam 700 pessoas, quando comecei a explicar o que era
estar no Renovamento e estar em renovamento,
uma senhora começou a chorar. Quando terminou, consegui chegar junto dela e
perguntei-lhe. "A senhora teve uma gripe muito forte nestes dias, não
foi?" Ela sorriu e depois disse: "Padre, quando o senhor começou a falar
em estar em renovação, eu caí do cavalo. Estou há seis anos no Renovamento mas
percebi, agora, que não estou em renovação. Na minha vida ainda não mudou
nada". Só então ela compreendeu! E foi uma grande graça porque a
partir daí, com certeza, tudo começou a mudar. Porque se alguém está no Renovamento e a
sua vida não se está a renovar, não adianta estar lá. A finalidade é exatamente ser esse
poder vigoroso de renovação do coração, da interioridade e da espiritualidade
para que, renovando-se as pessoas, se renovem as comunidades, as paróquias, as
dioceses e toda a Igreja.É um processo de renovação permanente que só se concluirá na glória celeste!
FONTE: Extrato do livro: "Espírito Santo, Sopro de Vida Nova" - Pe. Alírio Pedrini - Edições Pneuma
O
Renovamento Carismático Católico no Pensamento do Cardeal Leon Joseph Suenens:
Por Matteo Calisi
Este pequeno artigo tenta realçar os aspectos do
ministério pastoral do Cardeal Suenens directamente relacionados com o seu
papel de elo de ligação do Papa com o Renovamento Carismático Católico a nível
mundial, quer no tempo de Paulo VI, quer no de João Paulo II.Entre outras iniciativas nesta área, o Cardeal
Suenens começou por criar uma Consultoria Teológica e Pastoral que foi o ponto
de partida para incremento dos famosos documentos de Malines, por nós já
referidos em números anteriores do Boletim do ICCRS. Recentemente, tive a honra e a alegria de conhecer,
em Buenos Aires, o Pe. Carlos Aldunate, jesuíta, um dos famosos teólogos que
trabalharam nos documentos de Malines. Informou-me que, nessa época, uma das principais
preocupações do Cardeal Suenens era que o Renovamento se arriscava a não ser
visto de acordo com a sua verdadeira identidade e natureza, isto é, como um
impulso do Espírito Santo capaz de renovar múltiplos aspectos da Igreja. O Cardeal advertia aqueles
responsáveis da Igreja contra a tentação de transformar o Renovamento
Carismático num “movimento” entre tantos outros (cf “Memórias e Esperanças”,
Card. Suenens).As palavras do Pe. Aldunate voltaram a trazer à
minha mente outra convicção que o Padre Jesuíta Paul Lebeau, teólogo particular
do Cardeal Suenens, atribuía ao Cardeal: o Renovamento Carismático Católico não
é um “movimento entre outros movimentos”, não é “uma manifestação exclusiva,
que substitui tudo o mais”, mas sim “uma corrente de graça que passa, levando a
uma consciência muito mais profunda da dimensão carismática inerente à Igreja”
(cf “Um Novo Pentecostes”, Card. Suenens, e “Carta Pastoral do Episcopado
Belga”).A sua própria força dinâmica leva
o Renovamento a dissolver-se “como as águas de um rio que perde o seu nome
quando desagua no mar” (“Memórias e Esperanças”).À luz de tais afirmações, talvez não seja demasiado
arriscado pensar num Renovamento Carismático da Igreja, não apenas referido a
um “movimento eclesial” específico. Melhor, designaria uma corrente espiritual
ou “movimento” da Igreja Católica análogo àqueles “ecuménicos”, “bíblicos”,
“litúrgicos”, “monásticos” e outros movimentos que propõem de novo, nos nossos
dias, a redescoberta da pessoa do Espírito Santo e a actualidade da doutrina e
do uso dos carismas como se indicava no Concílio Vaticano II (Lumen Gentium 12).
atenção! Esta dimensão carismática também existe, e muito notavelmente, fora dos
limites visíveis da Igreja Católica, na maioria das confissões cristãs:
É um acontecimento espiritual muito prometedor em
termos de um maior avanço para a unidade cristã. Hoje, mais de 600 milhões de
crentes de todas as denominações cristãs experimentaram a graça da Efusão do
Espírito Santo (cf “Ecumenismo e Renovamento Carismático”, Card. Suenens).Por esta razão, o Renovamento
Carismático não é e nunca será prorrogativa de uma elite ou propriedade
exclusiva de um “movimento apostólico” específico. É uma graça (fonte) que se encontra
na Igreja e é, sem qualquer exceção, para todo o mundo que deseje recebê-la de
coração sincero. Esta preocupação encorajou recentemente outros
dirigentes da Igreja a evitar a tentação de institucionalizar a experiência
carismática da “Efusão do Espírito” em movimento específico da Igreja,
tornando-a assim acessível a qualquer cristão, o que está de acordo com o
pensamento original do Cardeal Suenens. Algumas destas considerações foram reunidas num
livro intitulado “Reavivar a Chama”, elaborado em 1990 pela Comissão de
Teólogos e Operários Pastorais “The Heart of the Church” (“O Coração da
Igreja”) em Techny, Illinois, com o apoio do Comité “ad hoc”de Bispos para o
Renovamento Carismático; também aparecem num livro (escrito pelo Pe. Kilian
McDonnell, beneditino, e pelo Pe. George T. Montague) chamado “Iniciação Cristã
e Efusão do Espírito Santo: Testemunhos dos Primeiros Oito Séculos” (The
Liturgical Press, Collegeville, Minnesota, A Michael Glazier Book, 1991). Durante a minha estadia na Argentiva, o Pe.
Aldunate também me deu uma cópia de um discurso do Pe. Peter-Hans Kolvenbach,
Superior Geral da Companhia de Jesus, dirigido aos jesuítas do Renovamento
Carismático.
Em determinada passagem, o Pe.
Kolvenbach diz que:
"Para o Cardeal Suenens, o seu principal desejo para o
Terceiro Mundo, era que se deixasse de falar do Renovamento como um movimento ao
lado de outros movimentos e se começasse a mostrar como a Igreja encontra no
sopro do Espírito a sua fonte inesgotável de luz e de vida, de verdade e de
amor. Se alguns em Igreja vivem esta realidade de um modo
mais explícito, não é para constituirem, à parte, uma organização paralela, mas
sim para manifestarem o que a Igreja é na sua essência e estarem inteiramente
ao seu serviço".
Muitas vezes o Cardeal chamou a minha atenção para a maneira de pensar
dos altos responsáveis da Igreja:
Segundo estes, tudo deve articular-se e
organizar-se em “movimentos”. Para melhor sublinhar que a efusão do Espírito
tem necessidade de irradiar em e para toda a Igreja, ele preferia usar, em vez
da palavra “carismático” (em sua opinião, demasiado estreita e um pouco
ambígua), a palavra “pentecostal”, que evoca e promete a actualização do
Espírito na Igreja como um todo, carismas incluídos. Pouco importa se o encontro
internacional dos carismáticos é, todavia, considerado e tratado como um
movimento entre outros. Mais importante é o facto de que cristãos, entre eles
jesuítas, dão testemunho de que este dom foi feito para todos: a experiências
de reviver o Pentecostes com todo o seu vigor e gratuidade, de receber como
novo este baptismo no Espírito Santo, que não cessou de construir e vivificar a
Igreja e de lhe dar a verdadeira vida em abundância, Ele, o Vivificador” (3 de
Maio de 2000). O perigo da institucionalização excessiva do
“movimento” carismático foi discutido durante a última Reunião de Dirigentes
Carismáticos, realizada perto de Roma no passado mês de Setembro (e cujos
documentos vão ser publicados). O recentemente criado Comité Teológico
Internacional do ICCRS não deixará de refletir sobre este tema, para bem e
para futuro do Renovamento Carismático.
Os dirigentes carismáticos têm a mesma preocupação do papa Paulo VI quando
disse:
“Sendo assim, como é que esta “renovação espiritual” pode ser outra
coisa senão uma oportunidade para a Igreja a para o mundo? E neste caso, como
podemos deixar de fazer tudo o que pudermos para que o continue a ser?”
(Discurso do Papa Paulo VI ao RCC por ocasião da Terceira Assembleia
Internacional de Dirigentes, Roma, 19 de Maio de 1975).A experiência mundial de hoje demonstra que o RCC
é, desde logo, um “movimento da Igreja” mas um movimento especial. Não pode
associar-se com as origens, a natureza, as estruturas que são próprias de
outros movimentos apostólicos na Igreja Católica, como se costuma fazer.
Um documento pastoral recente dos bispos do Canadá deixou isto muito claro
quando diz:
“O que é especialmente notável na história e rápido crescimento do
Renovamento Carismático é a maneira, ao mesmo tempo espontânea e sistemática,
como surgiu entre os fiéis para muito depressa se transformar num fenómeno
espiritual nacional da Igreja Católica do Canadá. Isto é muito mais notável
porque o Renovamento Carismático não deve a sua origem a qualquer fundador
inspirado ou figura carismática. Não tem listas de membros e não está amarrada
a estruturas internas ou a regras. O Renovamento Carismático é, sobretudo, uma
assembleia diversificada de fiéis, grupos de oração, comunidades e atividades.
Contudo, todos eles partilham e perseguem as mesmas metas, isto é, uma
conversão pessoal e contínua a Jesus Cristo, uma receptividade à presença,
poder e dons do Espírito Santo, um amor profundo pela Igreja e pela sua obra de
evangelização, uma fraternidade forte e um zelo gozoso pelo Evangelho. Pode
dizer-se que o Renovamento Carismático foi e continua a ser obra soberana de
Deus, realizada através do Espírito Santo. Toca as vidas de homens e mulheres
de todos os estratos sociais, renova a sua fé e reaviva neles um amor e um zelo
gozosos pelo serviço a Deus e ao Seu povo. Estes fiéis laicos, sacerdotes e
religiosos deixaram-se surpreender por Deus, conhecendo a experiência e a ação
do Espírito Santo nas suas vidas. Ao rever a nossa história de trinta e cinco
anos de Renovamento Carismático, temos de elevar os nossos corações em ação de
graças pelos muitos dons espirituais e bençãos que o Renovamento trouxe para a
vida da Igreja no Canadá” (Pentecostes 1993).
Para além de qualquer explicação, o que importa
realmente é constatar que as pessoas neste “movimento”, e muito especialmente
os seus dirigentes, têm um equilíbrio espiritual são, avançam num caminho
autêntico de santidade e manifestam os dons do Espírito (cf Gal 5, 22): isto é
maturidade eclesial! (cf Christifideles laici 1997). Estamos agradecidos ao Cardeal Suenens por mostrar ao RCC o verdadeiro
caminho para o seu apostolado eclesial.A herança de discernimento espiritual, sabedoria
pastoral e autoridade teológica que nos legou (e que o ICCRS incluiu, como um
tesouro, nos seus Estatutos aprovados pela Santa Sé em 1993) será sempre
relevante.
FONTE: Publicado no Boletim do ICCRS de Novembro/Dezembro 2003- Traduzido e adaptado por Isabel Moraes Marques (Pneumavita)
Natureza,
Essência, Vocação e Missão da RCC
Por Pe. Alírio Pedrini, SCJ
Não é fácil de se compreender, em profundidade e com propriedade,
o Renovamento Carismático Católico. Existem
dois motivos principais que dificultam uma boa compreensão:
1)-Primeiro: a existência de muitos e bons
movimentos de Igreja, como o Encontro de Casais com Cristo, o Cursilho de
Cristandade, o Emaús, o Shalom e muitos outros. Por causa da existência e atuação
abençoada dos movimentos, a tendência natural e simplista é de se classificar o
Renovamento como mais um “movimento eclesial”.
2)- Segundo motivo: a pouca
intimidade ou, até mesmo, a ausência de conhecimentos a respeito de
“espiritualidades eclesiais”. Não passa de forma alguma, pela mente das
pessoas, que o Renovamento possa ser uma espiritualidade e não um movimento.
Para clarificar,
perguntamos: O que é um movimento de Igreja? O que é uma espiritualidade?
Ao colocar esta questão, não se quer fazer qualquer comparação de qualidade,
como por exemplo: a espiritualidade é melhor do que o movimento, ou vice-versa.
São duas realidades tão diversas, e ao mesmo tempo tão interactivas, que é
preciso distingui-las com toda a clareza, a fim de não macular nem os
movimentos, nem as espiritualidades.Já foram referidos acima alguns dos muitos e bons movimentos que o
Espírito Santo suscitou na Igreja. Refiro, agora, algumas espiritualidades.
Possuímos, no tesouro da Igreja, espiritualidades universais, isto é,
destinadas a todos os católicos, e espiritualidades particulares, destinadas a
uma parcela maior ou menor de fiéis.
Dentre as
espiritualidades universais, citamos:
A litúrgica, a bíblica, a eucarística, a mariana, a trinitária, a do
Sagrado Coração de Jesus, e por última agora a Ecumênica. Estas destinam-se a todos
os católicos. Mesmo que nem todos venham a assumi-las, a encarná-las e a
vivê-las, destinam-se a todos. São ótimas para todos, e a todos enriquecem. Se prestarmos atenção, perceberemos que as espiritualidades universais
enriquecem as particulares! Por exemplo: as espiritualidades litúrgica,
eucarística ,bíblica e ecumênica enriquecem a espiritualidade franciscana, ou a
teresiana, ou a redentorista.
Eis agora as perguntas que mais nos interessam:
-Onde devemos colocar o Renovamento Carismático?
-Entre
os movimentos?
-Entre as espiritualidades particulares?
-Entre as
espiritualidades universais?
Eis a questão. Aliás, questão importantíssima, se quisermos compreender
e conhecer o Renovamento Carismático. Ou então, se não quisermos desfigurá-lo,
descaracterizá-lo, empobrecê-lo. O Renovamento Carismático deve ser colocado entre as espiritualidades
universais. Por ser “um sopro renovador do Espírito Santo na Igreja”; por ser
“um novo Pentecostes” para a Igreja; por ser “uma corrente de força espiritual”
dinamizada pelo Espírito de Deus na Igreja, como aliás o definiram teólogos que
o estudaram; ou mais ainda, sendo uma renovação “da” Igreja “na” Igreja, como o
definiu o nosso Papa, o Renovamento Carismático é, por vontade divina, por
determinação do Espírito Santo, uma espiritualidade universal. Portanto,
destinada a todos: hierarquia, religiosos e leigos.
O grande comandante
mundial do Renovamento Carismático Católico, Cardeal Suenens, exatamente para
nos auxiliar na compreensão desta espiritualidade, escreveu:
“Esta graça de renovação espiritual não é restrita, pois é destinada e
dirigida a toda a Igreja. O Espírito Santo não é monopólio de ninguém. Nem de
uma pessoa, nem de grupos. E classificar o Renovamento Pentecostal como se
fosse um daqueles movimentos especiais que existem na Igreja, seria o mesmo que
negar o seu significado”. Percebamos a forma como o Cardeal define o
Renovamento: “graça de renovação espiritual...destinada e dirigida a toda a
Igreja”. Depois chama-lhe “Renovamento Pentecostal”. É claríssimo como ele o
compreende e o define como uma “espiritualidade”. Trata-se de uma “graça” de
renovação, dada e incrementada pelo Espírito Santo no coração dos fiéis, para
os renovar na sua vida cristã. Renovando os corações, o Espírito renova a
própria Igreja. Atenção: trata-se de uma “graça” renovadora e não de uma
estrutura ou organização!
Precisamos perceber quando o Cardeal Suenens diz que:
“O Espírito Santo não é monopólio de ninguém! Nem de
uma pessoa e nem de grupos!"
Com isso, ele está a demonstrar que esta
renovação, por ser dinamizada pelo próprio Espírito Santo, é uma
espiritualidade universal, para todos os fiéis na Igreja: hierarquia,
religiosos e leigos! Percebamos, ainda, como
o Cardeal Suenens faz questão de salientar, que não se trata de mais um
movimento. Ele escreve:
“Classificar o Renovamento
Pentecostal como se fosse um daqueles movimentos especiais que existem na
Igreja, seria o mesmo que negar o seu significado. Considerá-lo um movimento,
tratá-lo como tal, seria descaracterizá-lo; seria quebrar a sua espinha dorsal;
seria negar e trair a sua natureza e essência, a sua vocação e missão".
Alguém poderia
perguntar: "Mas o que muda se o Renovamento for considerado um movimento eclesial?"
Muda tudo! Tudo mesmo!
Deixa de ser o Renovamento Carismático. Muda a sua natureza e essência.
Deixa de ser fermento para tornar-se massa. Deixa de ser sal para tornar-se
carne que precisa do sabor do sal. Pergunto: Qual a
diferença entre massa e fermento? Qual a diferença entre sal e carne? Estão a
perceber? Movimento eclesial é massa, é carne. Espiritualidade é fermento para a
massa, é sal para o alimento. Na prática, sabemos que qualquer movimento eclesial precisa de uma
espiritualidade, assim como a massa precisa de fermento. Por sua vez, a
espiritualidade suscita, dá origem, faz nascer movimentos. Basta analisar a
vida eclesial para se perceber quão verdadeiro é isto que aqui afirmamos. O Renovamento Carismático, portanto, é uma torrente de espiritualidade;
é um sopro renovador perene do Espírito Santo; é um novo Pentecostes, destinado
a renovar a vida cristã católica em todos os seus níveis e manifestações, quer
em relação ao Deus vivo, quer em relação aos irmãos, quer em relação a si
mesmo, quer em relação a toda a criação. O Renovamento é uma espiritualidade “do” Espírito Santo. O Renovamento
tem, como fonte da energia renovadora, como centro de convergência e como meta,
a Pessoa do Espírito Santo.
Penetrando no íntimo do
Renovamento, percebemos que:
A sua “natureza” constitutiva é ser espiritualidade universal;a sua “essência” é ser graça
renovadora do Espírito Santo;a
sua “vocação” é tornar presente a acção poderosa do Espírito, a fim de tudo
renovar: “Eis que faço novas todas as coisas”;a sua “missão” é desencadear a efusão do Espírito Santo, é levar os
corações ao Baptismo no Espírito Santo, é fazer acontecer um pentecostes
pessoal nos corações, a fim de que a vida cristã se renove vigorosamente e,
desta forma, toda a Igreja se renove.
Para uma correta
definição do Renovamento, podemos dizer que:
Não é apenas um “movimento de renovação de oração”. Essa tarefa é
somente uma pequeníssima parte da sua missão. Não
é apenas uma tentativa de renovação dos carismas. Renovar os carismas também é
somente uma pequena parcela da sua missão.Não
é apenas um movimento para formar grupos de oração. Os grupos são ninhos de
crescimento.Não tem fundadores
humanos. O seu fundador é o Espírito Santo.
Por ser uma
espiritualidade, não tem hierarquia própria! A sua hierarquia é a da Igreja.
Os organismos criados para o fazer acontecer, difundir ou firmar são
organismos ou equipes de “serviço”. Jamais hierarquias. Por ser espiritualidade, não pode ser manietado, aprisionado ou sufocado
por estruturas. O Espírito sopra onde quer...Não onde nós queremos e na hora marcada que queremos. Menos
ainda, onde pretensos “donos” do RCC querem que Ele sopre.Náo é uma espiritualidade nem um movimento exclusivamente laical, só
para leigos. O Espírito Santo é a alma da Igreja. Para a renovar, precisa de
renovar todos: hierarquia, religiosos e leigos. Mas o RCC só terá cumprido
integralmente a sua missão se acontecer a renovação da hierarquia.A condução do RCC não pode levar a fazer uma caminhada pastoral paralela
à acção pastoral da Igreja. Porque é fermento, porque é sal, o RCC precisa de
permear, penetrar, fermentar, salgar toda a acção pastoral da Igreja,
levando-lhe a força da graça e da acção do Espírito Santo com todas as Suas
manifestações renovadoras.
FONTE: Adaptado por Isabel
Moraes Marques - "O Renovamento
Carismático e a Igreja"
O
POTENCIAL EVANGELIZADOR DA ESPIRITUALIDADE DA RCC NA IGREJA
Por: D. Murilo Krieger, SCJ - Arcebispo de Maringá/PR
“Estamos sumamente interessados no que estais a fazer. Regozijamo-nos
com o muito que ouvimos falar sobre o que acontece entre vós. Alegramo-nos
convosco, queridos amigos, pela renovação da vida espiritual que hoje em dia se
manifesta na Igreja, sob diferentes formas e em diferentes ambientes”.Foi com estas palavras que o Papa Paulo VI acolheu um grupo de coordenadores do
Renovamento Carismático Católico (RCC) em Outubro de 1973. Mais tarde, por
ocasião do III Congresso Internacional do RCC, afirmou: “Para um mundo assim,
cada vez mais secularizado, é fundamental o testemunho desta renovação
espiritual que o Espírito Santo suscita hoje nas regiões e ambientes mais
diversos”. Na verdade, “sem Deus” o homem nada pode e, com Ele, pelo contrário,
tudo é possível. Daí essa necessidade de O louvarmos, de Lhe darmos graças, de
celebrarmos as maravilhas que Ele realiza por toda a parte, em torno de nós e
em nós mesmos. Na mesma linha, o Papa João Paulo II observou: “Nós sabemos que devemos à
efusão do Espírito Santo uma experiência cada vez mais profunda da presença de
Cristo, graças à qual podemos crescer cada dia no conhecimento amoroso do
Pai.(...) O Renovamento Carismático presta particular atenção à ação
misteriosa, mas real, que a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade desenvolve
na vida do cristão” (Outubro de 1980). Poderíamos lembrar outras observações papais ou de conferências
episcopais a respeito do RCC que, no início da sua atuação, foi visto por
muitos sectores da Igreja com certa desconfiança. Aos poucos, à medida que se
integrou nas organizações pastorais diocesanas, foi conquistando a simpatia e o
apoio de bispos e padres.“É função da hierarquia discernir as verdadeiras moções do Espírito,
incentivando tudo aquilo que contribui para o crescimento da Igreja e a
realização da sua missão” ( Conferência Nacional dos Bispos Brasileiros - Orientações Pastorais sobre o RCC, Documento 53, 2). Por isso, também a CNBB
julgou oportuno dar orientações ao RCC, constatando, por um lado, que: “Tem
trazido novo dinamismo e entusiasmo para a vida de muitos cristãos e
comunidades” (id., 2); por outro lado, que é preciso evitar deturpações e
atitudes parciais que dificultam a comunhão eclesial. Para atingir os seus
objetivos, essas orientações precisam de ser lidas, aprofundadas e aceites com
um “ponto de referência” no diálogo dos pastores com os fieis nos vários
níveis da vida da Igreja” (nº 6).O RCC tem um grande
potencial evangelizador na medida em que: Se inserir na caminhada pastoral de cada diocese; contribuir
para a busca do dom mais importante, que é a caridade (cf. 1 Cor 13);acentuar a dimensão social da fé, à
luz da Doutrina Social da Igreja; assumir
projetos de promoção humana e social, especialmente dos pobres e
marginalizados (cf. Doc. 53, 50).Por sinal, é inegável que já deu passos significativos no campo social,
passos que nem sempre são devidamente conhecidos.No restante, o RCC não foge aos problemas enfrentados por pastorais e
movimentos, tanto assim que as orientações que a CNBB lhe deu “são válidas e
necessárias também... para os demais movimentos e organismos da Igreja” (Doc.
53, 4).Quem participa do RCC precisa de conhecer, sempre mais e melhor, a
doutrina cristã (e aí está o Catecismo da Igreja Católica para isso); precisa
de superar a tentação da vaidade (o ciúme, a discórdia e a divisão, por
exemplo, são filhos da vaidade); finalmente, precisa de ter a ousadia de
enfrentar os modernos “areópagos” que desafiam a missão do povo de Deus: o
mundo das comunicações, a promoção do menor, o mundo da cultura, o meio
universitário, etc. (cf. João Paulo II, Rmi, 37).Como pastor de uma Igreja Particular, tendo diante de mim os trabalhos
do RCC na Arquidiocese de Maringá/PR, faço minha a oração que o Papa João XXIII
compôs no início dos anos sessenta, para ser rezada em preparação do Concílio
Vaticano II:“Digne-se o divino Espírito
escutar de forma mais consoladora a oração que a Ele sobe de todas as partes da
terra. Que Ele renove no nosso tempo os prodígios como de um novo Pentecostes e
conceda que a Santa Igreja, permanecendo unânime na oração com Maria, a Mãe de
Jesus, e sob a direção de Pedro, dilate o Reino do Divino Salvador, Reino de
Verdade e de Justiça, Reino de Amor e de Paz!”
D. Murilo Krieger, SCJ - Arcebispo de Maringá/PR
Palavras
de São João Paulo II sobre o Renovamento Carismático Católico:
Por: Pe. Vicente Borragán Mata, OP
Por ocasião
do 4º Congresso Internacional de responsáveis do Renovamento, celebrado em Roma
de 4 a 10 de Maio de 1981, o Papa recebeu alguns dos seus membros e,
inclusivamente, participou na Assembleia de oração que teve lugar nos jardins
do Vaticano, na quinta-feira 7 de Maio, das oito às nove e meia da noite - Ali o Papa disse muitas coisas aos delegados de quase cem países: “O Papa Paulo VI descreveu o movimento para a Renovação como ‘uma sorte
para a Igreja e para o mundo’ e os seis anos que passaram desde aquele
congresso vieram confirmar a esperança do vosso zelo pela oração num
compromisso de santidade e de amor pela palavra de Deus. Temos constatado com
alegria a forma como os dirigentes do Renovamento têm desenvolvido uma cada vez
mais ampla visão eclesial, esforçando-se ao mesmo tempo por fazer desta visão
uma realidade crescente para quantos dependem da sua orientação. Igualmente
temos visto os sinais da vossa generosidade na comunicação dos dons recebidos
de Deus com os desamparados deste mundo, na justiça e na caridade, de maneira
que todos podem descobrir a excelsa dignidade que têm em Cristo. Oxalá esta
obra de amor começada já em vós consiga ser levada à sua plenitude! A propósito
disto, recordai-vos sempre das palavras dirigidas por Paulo VI ao vosso
congresso no Ano Santo: “Não há limites para o reto do amor: os pobres, os
necessitados, os aflitos e os que sofrem no mundo e ao vosso lado, todos
dirigem o seu clamor como irmãos e irmãs de Cristo, pedindo-vos a prova do
vosso amor, pedindo a palavra de Deus, pedindo pão, pedindo vida...” - Noutros momentos e perante outros auditórios, o
Papa expressou-se também sobre o Renovamento: “Através do Espírito a Igreja conserva uma vitalidade sempre jovem. E o
Renovamento é a manifestação eloquente desta vitalidade hoje, é uma expressão
vigorosa do que o Espírito está a dizer às Igrejas. Por outro lado, o dinamismo
e a generosidade destes grupos não deveria impedir outras iniciativas na
animação das comunidades paroquiais. Mas, com o discernimento que convém,
pode-se falar de uma graça destinada a santificar a Igreja, a renovar nela o
gosto pela oração, a fazer redescobrir, com o Espírito Santo, o sentido da
gratuidade, do louvor alegre, da confiança na intercessão, e a converter-se
numa nova fonte de evangelização...” - O Papa tem dirigido palavras de incentivo ao
Renovamento, mas também indicou alguns perigos que podem rodeá-lo. Em 23 de
Novembro de 1980, João Paulo II recebeu 18 000 membros do Renovamento italiano
e, entre muitas outras coisas, pronunciou as seguintes palavras:“Que perspectivas tão amplas se abrem, filhos queridos, diante dos
nossos olhos! Certamente não faltam perigos, porque a ação do Espírito Santo
se desenrola em vasos de barro (2Cor 4,7), que podem reprimir a sua livre
expansão. Vós conheceis quais são: uma excessiva importância dada, por exemplo,
à experiência emocional do divino; a busca desmedida do “espetacular” e do
“extraordinário”; a cedência a interpretações apressadas e desviadas da
Escritura; uma viragem intimista que evita o compromisso apostólico, a
complacência narcisista que se isola e se fecha. Estes e outros são os perigos
que assomam ao vosso caminho, e não só ao vosso. Digo-vos como S. Paulo:
‘Examinai tudo e retende apenas o que for bom’ (1Tes 5,21)” - João Paulo
II insistiu muito para que os dirigentes do Renovamento tomem iniciativas para
criar laços de confiança e de cooperação com os bispos, a quem incumbe a
responsabilidade pastoral de guiar o corpo de Cristo, incluindo o Renovamento.
E incentivou os sacerdotes a prestar os seus serviços aos grupos do Renovamento.
João Paulo II insistiu muito para que os dirigentes do Renovamento tomem iniciativas para criar laços de confiança e de cooperação com os bispos, a quem incumbe a responsabilidade pastoral de guiar o corpo de Cristo, incluindo o Renovamento. E incentivou os sacerdotes a prestar os seus serviços aos grupos do Renovamento.
FONTE: Pe. Vicente Borragán Mata, OP - in “Como um Vendaval... O Renovamento Carismático”,
ed. Pneuma (www.pneuma-rc.pt)
A
ESPIRITUALIDADE DA TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO E DAS CEB’s
Por:*Emerson Sbardelotti
O objetivo principal deste
texto é explicar, é esclarecer, para a juventude que
participa das Comunidades Eclesiais de Base, o que é a Espiritualidade da
Libertação (EdL) e a Teologia da Libertação (TdL), quem são seus principais teóricos
e pensadores, e como elas e eles ajudam na caminhada e na construção da "Civilização do Amor".A EdL e a TdL se
originaram da e na experiência das primeiras comunidades cristãs na divulgação
do Evangelho do Moreno de Nazaré, passando pela iniciativa da Ação Católica
Geral e Especializada até se tornarem um movimento extraordinário na segunda
metade do século XX na América Latina.Começam a germinar de
fato nos desdobramentos do Concílio Ecumênico Vaticano II (1962 – 1965), com a
abertura da Igreja Católica à modernidade, se afirmavam termos como: a Igreja
dos Pobres, aggiornamento, sinais dos tempos.O grande nome do
Concílio Vaticano II foi o arcebispo de Recife e Olinda: D. Hélder Pessoa
Câmara, que alguns anos antes havia criado a CNBB e o CELAM; o arcebispo não
fez nenhum discurso, seu trabalho era de articulação e organização nos
bastidores, ou melhor, nas catacumbas.
D. Hélder foi um dos mentores do Pacto
das Catacumbas, uma declaração de extrema beleza, ternura e despojamento,
assinado por bispos, que tinham como maior objetivo servirem humildemente, sem
nenhuma pompa, honrarias ou benefícios, o Povo Santo de Deus.
Assim
pensam os Teólogos da Teologia da Libertação:
“Na América Latina, o ateísmo
nunca foi o principal problema. O problema de ontem e de hoje é a pobreza
institucionalizada (econômica e politicamente), que é uma afronta ao Deus Abbá
de Jesus de Nazaré; a vivência religiosa irá exigir nos anos seguintes ao
Concílio uma gradual e radical transformação da sociedade.” - Os novos ares
soprados pelo Concílio chegaram na América Latina e deram frutos saborosos com
a Conferência dos Bispos em Medellín (1968 – Colômbia). Estava jogada no chão
adubado com sangue de Nossa América, as sementes da EdL e da TdL.
Em
1971, o padre Gustavo Gutiérrez escreve a obra fundante:
"Teologia da Libertação
– Perspectivas"; dando início a uma série de novos e intensos escritos a partir
e sobre a EdL e a TdL
Do
lado protestante, os primeiros escritos nesta direção brotam do coração de
Rubem Alves
Rubem Azevedo Alves (Boa Esperança, 15 de setembro de 1933 — Campinas, 19 de julho de 2014): Foi um psicanalista, educador, teólogo, escritor e pastor presbiteriano brasileiro. Foi autor de livros religiosos, educacionais, existenciais e infantis. É considerado um dos principais pedagogos brasileiros da história do Brasil, e junto com Paulo Freire, um dos primeiros propagadores da Teologia da Libertação. Foi um intelectual polivalente nos debates sociais no Brasil. Foi professor da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).Em 1972, o
franciscano Leonardo Boff escreve "Jesus Cristo Libertador", iniciando no Brasil
todo o debate em torno da EdL e de sua TdL.
Em 09 de
abril de 1986, o papa São João Paulo II escreveria a CNBB uma carta com estas
palavras:
“Na
medida em que se empenha por encontrar
aquelas respostas justas, penetradas de compreensão para com a rica experiência
da Igreja neste País, tão eficazes e construtivas quanto possível e ao mesmo
tempo consonantes e coerentes com os ensinamentos do Evangelho, da Tradição
viva e do perene Magistério da Igreja, estamos convencidos, nós e os Senhores, de
que a Teologia da Libertação é não só oportuna mas útil e necessária. Ela deve
constituir uma nova etapa, em estreita conexão com as anteriores ,daquela
reflexão teológica iniciada com a tradição apostólica e continuada com os
grandes padres e doutores, com o magistério ordinário e extraordinário e, na
época mais recente, com o rico patrimônio da Doutrina Social da Igreja,
expressa em documentos que vão da Rerum novarum à Laborens exercens.”
A Teologia da
Libertação é hoje um movimento globalizado. Tem integrantes em todas as partes
do mundo, que se reúnem em grupos de feministas, indígenas, ecologistas,
afro-descendentes e acadêmicos.
À Adital, Francisco de Aquino Júnior, presbítero da diocese de Limoeiro do Norte (Ceará) e doutor em Teologia pela Universidade de Münster (Alemanha), comenta a importância do encontro entre Jon Sobrino e o Papa Francisco:
Segundo Aquino Júnior, o momento reuniu
duas das figuras mais representativas da Igreja dos pobres:"Sobrino é uma das referências mais importantes desse movimento, o
teólogo mais fiel à causa dos pobres, um testemunho da caminhada dos mártires e
uma das memórias mais vivas de Oscar Romero. Não
significa dizer que o Papa Francisco seja um adepto da Teologia da Libertação,
explica o padre Júnior, mas há uma sintonia evangélica grande entre o Papa e a
Igreja da América Latina, relacionada com o projeto da "Igreja em saída”,
para as periferias. Uma Igreja pobre e para os pobres, um projeto de uma
Igreja misericordiosa, que tem no coração os miseráveis do mundo. Igreja que
sai para o mundo e enfrenta os problemas da humanidade sofredora”.Padre Júnior observa
que o encontro entre o Papa e os teólogos da libertação, a exemplo do ocorrido
com Gustavo Gutierrez, durante a 20ª Assembleia Geral da Cáritas Internacional,
em Roma, implica o fortalecimento da Igreja latino-americana e a ampliação dos
horizontes da Teologia da Libertação:“O Papa aborda as diferentes formas de sofrimento – os migrantes, a
questão ambiental, a fome, os conflitos religiosos, a depressão que se instala
na sociedade, as famílias que se veem dilaceradas e com as relações rompidas. Um
conjunto de questões, que obriga a Igreja a alargar os horizontes.”, destaca.Segundo padre Júnior,
o encontro do Papa com os teólogos da libertação, a exemplo de Gustavo
Gutierrez, implica o fortalecimento da Igreja latino-americana e a ampliação
dos horizontes da Teologia da Libertação. O teólogo comenta que:“Francisco tem ajudado a Igreja a recuperar o compromisso com os pobres
e já não é mais tão estranho nas igrejas se falar sobre essa temática, mesmo
que haja uma espécie de "Cisma Branco” contra o Papa, na Cúria Romana. Significa dizer que as propostas do Papa são ouvidas, mas
alguns setores ainda não se vinculam totalmente às suas ideias. Padre
Júnior aponta ainda que estamos vivendo um Kairós, um tempo privilegiado, com
Francisco representando um sinal do Espírito Santo na Igreja e no mundo. Pontua
que o Papa tem a tarefa de impor os processos de renovação da Igreja, mas
adverte que tal conduta é uma tarefa de todos. Devemos
movimentar as paróquias e fazer ecoar o grito de Francisco, comprometendo-nos
com o sofrimento humano e com as lutas da sociedade. Não só admirá-lo, mas
também assumirmos o compromisso, sem medo de nos enlamear, de cairmos e nos acidentarmos
no caminho. Este é o atual desafio, destaca Aquino Júnior, atualizar o
Pacto das Catacumbas e assumir a partir dos contextos sociais que, onde quer
que alguém sofra, nenhum cristão pode dormir em paz”.
Por fim, a Congregação para a Doutrina da Fé publicou dois
documentos sobre a Teologia da Libertação, apontando os riscos e
"desvios"!
-"Libertatis nuntius" ("Instrução sobre alguns aspectos da Teologia da Libertação"), em 1984.
-"Libertatis Conscientia", de 1986, embora nunca tenha condenado formal e definitivamente a Teologia da Libertação.
*Emerson Sbardelotti
- Estudante de Teologia, Historiador, Turismólogo. Coordenador Teológico do
Instituto João Maria Vianney - Teologia para Leigos e Agente de Pastoral Leigo
da Paróquia Nossa Senhora da Conceição Aparecida – Cobilândia, Vila Velha - ES
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