Atenção! 👉 Isso não quer dizer que o texto está
incorreto, NÃO! A bíblia é um texto aprovado inclusive
com "imprimatur". O problema não está nos textos, mas nas notas
explicativas de rodapé, que fazem uma interpretação meramente sociológica,
terrestre, ou seja imanente, e não transcendente, querendo construir a "utopia socialista da terra sem males". A impressão que se tem, é como se
Jesus na cruz, tivesse morrido apenas por uma classe social, os pobres, e não
por todos pecadores, sejam eles pobres ou ricos! A interpretação sociológica é
apenas uma das interpretações, não é a única (como veremos abaixo), nessa perspectiva se
reduz e condiciona o texto bíblico numa chave de leitura, ou categoria
ideológica, empobrecendo e limitando toda extensão da revelação, que passa sim
pela dimensão sociológica, mas não para aí, vai além.
O mito da terra sem males nos fala do profundo anseio humano por um mundo melhor, mais pleno e feliz para todos. Essa
ideia está presente em diversas culturas e é registrada em muitos mitos
diferentes que, no fundo, apontam para esse mesmo anseio humano. Até ai tudo
bem, são “sementes da verdade” (não em plenitude) mas, porém, contudo, entretanto e todavia, nos manifestos da TdL trata-se de habitação, transporte,
emprego, moradia, desenvolvimento material, etc. Deus, o Céu, as virtudes e os
pecados, nada disso existe para a Teologia da Libertação marxistóide de Genésio
Boff, inspiradora dos manifestos, longos, prolixos, indigestos dos vários
setores da igreja Boffenta. Em vez de falar de Cristo e de seu plano de Salvação, falam de Chê Guevara, um comunista cruel e assassino. Em vez do Reino dos Céus que está demorando muito, querem imediatamente o modelo do reino soviet da terra. O racionalismo os faz esperar o impossível. O delírio
os faz sonhar com a utopia, que se tornou pesadelo para muitos povos. Sonham com o Reino de Deus na
terra, construído com a ciência, a técnica, trator, fuzil, vigilância, ditaduras que põe fim às liberdades fundamentais de ir e vir e de expressar-se. Acrecente ao kit: a mentira,
cobiça, violência e até crimes contra os bens alheios e mesmo contra suas
vidas (só importam vidas da esquerda). Os fins justificam os meios para realizar a terra sem males, o Reino de Deus na terra, com muros, cercas de arame farpado, e eletrificado, além dos paredons, para que ninguem possa fugir desse paraíso. Essas são as únicas cercas admitidas por
certos "bispos e padres" que hipocritamente, odeiam apenas as cercas dos outros, não as suas (as cercas Cubanas, Coreanas e Chinesas, contra as quais os teólogos da Libertação nunca falam). A
Utopia, o Éden do Futuro, para eles, será guardada por torres cheias de metralhadoras e fuzis apontados para quem ousar fugir desses muros, ou melhor, ninhos de “amor” de solidariedade e igualdade. A utopia se chama corretamente de "Gulag". Todas as tentativas de construir o paraíso na terra,
invariavelmente produziram o inferno, disse o insuspeito Karl Popper. Sonham com um “reino de Deus” na terra,
que seria uma espécie de retorno ao Éden da felicidade primeva. Pensam ser
possível retornar ao passado por meios meramente humanos, sem a graça de Deus, num pelagianismo já nem mais encoberto, mas explícito. Esquecem-se de que toda
tentativa de retornar ao Éden terminou normalmente na orgia sanguinária e criminosa. A
Modernidade repeliu a doutrina do Reino de Deus para adotar a Utopia, o sonho
de realizar, na terra, uma era sem miséria e sem males. O sonho de reconstruir
o Éden perdido. A
Modernidade adotou a preocupação de vencer, com as meras forças do homem, os
problemas do comer e do vestir, das doenças e da morte, da dor e da guerra,
que, segundo ensinou Nosso Senhor Jesus Cristo, eram as preocupações dos
pagãos. Nosso Senhor nos mandou buscar antes de tudo o Reino de Deus e sua
justiça, e que tudo o mais nos seria dado por acréscimo. A
modernidade recusou a recomendação de Cristo e repeliu a cruz. Ela julgou que
seria capaz de acabar com os efeitos do pecado original, coisa que nem Deus fez
com o Batismo e com sua morte na cruz. A Morte de Jesus na Cruz apagou a culpa
original, mas permitiu que permanecessem conseqüências do pecado de Adão. Eis como
Bento XVI (odiado visceralmente pelos boffentos), condena esse sonho da Modernidade fundado na utopia de Bacon e nas
mentiras de Descartes:
“Equivocaram-se
Francisco Bacon e os adeptos da corrente de pensamento da idade moderna nele
inspirada, ao considerar que o homem teria sido redimido através da ciência.
Com uma tal expectativa, está-se a pedir demasiado à ciência; esta espécie de
esperança é falaz”... Não é a ciência que redime o homem. O homem
é redimido pelo amor. Isto vale já no âmbito deste mundo” ». (Bento
XVI, Spe salvi, n0s 25 e
26).
E se Jesus está demorando para chegar e aprovar esse reino humano, talvez seja pelo engarrafamento do trânsito, na marginal do Tietê, já que tudo é imanente nessa cidade dos homens...
ANÁLISE SOBRE A BÍBLIA SAGRADA DA EDIÇÃO PASTORAL
(Ed.Vozes)
Revista: “PERGUNTE E RESPONDEREMOS” - Nº 342 – Ano 1990 –
Pág. 514
*Por Dom
Estêvão Bettencourt, OSB
A “Bíblia. Edição Pastoral”, em tradução e notas de Ivo
Storniolo e Euclides Balancin, inspirada
por ideologia marxista, deturpa as concepções da história sagrada e da
teologia; a leitura materialista aplicada ao texto sagrado torna a mensagem
imanentista, fazendo-a perder o seu caráter transcendental. O Vocabulário
do fim do volume e as notas de rodapé dão as chaves de interpretação dos livros
bíblicos; a própria tradução portuguesa, num ou noutro ponto, deturpa o sentido
do texto sagrado. Em conseqüência,
deve-se lamentar a difusão de tal obra nos ambientes eclesiásticos do Brasil.
A Pastoral verdadeiramente Católica, não motiva o incitamento à luta de classes
e às divisões entre os homens. As Edições Paulinas publicaram uma nova tradução
da Bíblia dita “Pastoral” (BP), acompanhada de notas de rodapé e Vocabulário,
que vêm suscitando perplexidade: há os que defendem tal edição, devida a Ivo
Storniolo e Euclides Martins Balancin, como sendo “o livro ideal” (ver “Jornal
de Opinião”, 1-7/7/90, p. 3).Mas há
também os que a impugnam com argumentos sérios, mostrando graves falhas na
inspiração básica e na confecção de tal tarefa. O assunto já foi abordado
em PR 337/1990, pp. 285s.Voltamos ao problema, aduzindo novas observações, provenientes,
em grande parte, de D. João Evangelista Martins Terra S. J., Bispo Auxiliar de Olinda-Recife, Membro da Equipe Teológica do CELAM e principalmente, da
Pontifícia Comissão Bíblica.
Algumas observações básicas:
A tradução do
texto bíblico da Edição Pastoral é aceitável com algumas ressalvas, que
indicaremos à p. 523s deste artigo. Todavia, as notas de pé de página e o
Vocabulário, encontrado às pp. 1616-23, pretendendo dar a chave de leitura e
interpretação da Bíblia, são alheios à Tradição bíblica judeo-cristã e
distorcem a mensagem sagrada para o setor da ideologia
sócio-político-econômica. Sem o perceber, o leitor desprevenido vai absorvendo
uma concepção filosófica não cristã sob a capa de Palavra de Deus. Isto
se depreende facilmente desde que se dê um pouco de atenção ao Vocabulário
dessa Edição.
Eis os
principais verbetes que interessam aos estudos e ao linguajar bíblicos ou os
principais vocábulos da mensagem bíblica tomada como tal: Aarão, Abel,
Abraão, Ação de graças, Adão, Adoração, Adultério, Água Viva, Alma, Anjo,Arrependimento, Conversão, Salvação. Bem diferentes são os verbetes do Léxico da Edição
Pastoral dispostos segundo a ordem alfabética: Aliança,
Alienação, Amor, Autoridade, Auto-suficiência, Campo, Celebração, Cidade,
Comércio, Compaixão, Comunidade, Conflito, Consciência, Conversão, Corrupção,
Dinheiro, Direito, Discernimento, Dominação, Educação, Encarnação, Escravidão,
Esperança, Exploração, Fé, Fraternidade, Gratidão, Herança, História,
Idolatria, Igualdade, Injustiça, Integridade, Javé, Jesus, Julgamento, Justiça social, Lei,
Liberdade, Libertação, Liderança, Lucro, Luta, Memória, Moisés, Poder, Pobres, Poderosos, Produção, Projeto de
Deus, Prosperidade, Repressão, Revolucionário, Riqueza, Roubo, Terra, Tributo, Violência… Estes
vocábulos têm sua repercussão nas notas de rodapé, inspirando uma doutrina que
já não é bíblica, mas preponderantemente marxista.
Os próprios vocábulos tipicamente bíblicos que
ocorrem no Léxico Pastoral, são esvaziados de seu conteúdo próprio e
característico para assumir significação ideológica. Assim, por exemplo:
a)- “Aliança: É o centro
da Bíblia. Deus se alia com os pobres e oprimidos para construir uma sociedade
e uma história voltadas para a vida”. Ora é de notar
que a Aliança de Deus com os homens não começa na época dos pobres e oprimidos,
mas é universal ou destinada a todos desde o início; o segundo Adão, Jesus
Cristo, Mediador da nova e definitiva Aliança, tem sua imagem ou seu esboço no
primeiro Adão, pai de toda a humanidade, conforme Rm 5, 14; é com os primeiros
pais que Deus trava a primeira Aliança, voltada para todos os homens, conforme
Eclo 17, 10.
b)- “Amor: Mistério de
Deus e do homem. Gera a relação de onde brotam a liberdade e a vida”.
c)- “Celebração:
Reunião do povo para comemorar os fatos
centrais da vida e conservar a lembrança dos acontecimentos que marcaram a
caminhada do povo”. Este conceito
se aplica às celebrações cívicas, não, porém, às celebrações litúrgicas, nas
quais se torna presente e atuante a Páscoa (morte e Ressurreição) de Jesus
Cristo para fazer que os homens participem da obra da Redenção.
d)- “Esperança:
Dinamismo que mantém o povo aberto para realizar plenamente o projeto de Deus.
A esperança leva o povo a buscar transformações econômicas, políticas, sociais
e religiosas”. Silencia-se o
objeto supremo da verdadeira esperança cristã, que é a vida eterna com a visão
de Deus face-à-face.
e)- “Fraternidade: Relação
igualitária, onde todos, como irmãos, podem participar das decisões que constroem
a sociedade, e juntos usufruir dos bens que cada um produz”.
f)- “Javé: É o
misterioso Deus vivo que se manifesta respondendo ao clamor dos pobres e
oprimidos para os libertar dos exploradores e opressores. Ele é a fonte e a
meta da liberdade e da vida. Por isto é aliado daqueles que buscam liberdade e vida, opondo-se a todas as
pessoas e estruturas que produzem escravidão e morte”.
g)- “Justiça: Realização
do projeto de Deus. A justiça se concretiza na partilha e na fraternidade,
dirigindo-se a sociedade para a solidariedade e a paz. Exige, para todos, a
distribuição igualitária dos bens e a possibilidade de participar das decisões
que regem a vida e a história do povo. Na Bíblia a justiça é eminentemente
partidária, visando a defender a causa dos indefesos”. Como se vê, os
conceitos bíblicos são todos analisados em chave sócio-política, que supõe a
luta de classes na sociedade.
Duas noções merecem especial atenção!
1ª)- A Revelação - Eis como a apresenta o
Vocabulário:
“Revelação: Manifestação
de Deus através das realidades da vida e dos acontecimentos da história. Mostra
o caminho que o povo deve seguir. Exige a atenção do homem, pois Deus está
continuamente se revelando (?)"
O
conceito de Revelação que se desenrola, "é ambíguo". A fé católica o
distingue claramente "sem ambiguidades"!
a)- A Revelação de Deus
normativa que manifesta o desígnio de
Deus e os meios de salvação; encerra-se com Jesus Cristo, como diz a própria S.
Escritura: “Outrora muitas vezes e de muitos modos Deus falou aos pais pelos Profetas. No período final, em que
estamos, falou-nos por meio do Filho” (Hb 1,1s).
b)- Após Jesus Cristo,
não há Revelação normativa; Deus proporciona “os sinais dos tempos” que
reavivam no homem a consciência das verdades da fé, mas nada acrescentam de novo; estamos nos últimos
tempos relativamente à doutrina (cf. 1Jo 2, 18).
O Papa Pio X "condenou explicitamente" a proposição da ideologia modernista que dizia:
“A Revelação
que constitui o objeto da fé católica, não se encerrou com os Apóstolos”
(Denzinger-Schönmetzer, Enchiridion n.º 3421 [2021]).
O Concílio do Vaticano II reafirmou a
clássica doutrina:
“Jesus Cristo aperfeiçoa e completa a Revelação e a
confirma com o testemunho divino de que Deus está conosco. A economia cristã,
como aliança nova e definitiva, jamais passará, e não há que esperar nova
revelação pública antes da gloriosa manifestação de Nosso Senhor Jesus Cristo
(cf. 1Tm 6,14 e Tt 2,13)” (Const. Dei
Verbum n.º 4).Vê-se pois,
que o Vocabulário da Bíblia Pastoral está longe do genuíno pensamento católico.
Todo o
Vocabulário e as notas de rodapé são perpassadas pela noção de projeto de Deus, que dá o sentido aos demais verbetes.
Ocorre mais de seiscentas vezes na Edição Pastoral, e até mesmo cinco ou seis
vezes na mesma frase. Ora “projeto de Deus” no contexto dessa obra não é uma
noção teológica; não significa nem Providência nem desígnio de Deus, mas, sim,
algo de tipicamente marxista, como se depreende a seguir: “Projeto de Deus:
Aliando-se aos que são marginalizados pelo sistema injusto. Deus entra na
história com novo caminho: promover a liberdade e a vida para todos. Todavia
esse projeto está sempre em conflito com o projeto das nações que alicerçam sua
riqueza e poder sobre a escravidão e a morte do povo. A luta para manter vivo
dentro da história o projeto de Deus, é o ponto de honra do povo de Deus”.
Como
dito, a expressão “projeto de Deus” entra na composição de muitos outros
verbetes do Vocabulário como um chavão ideológico - Eis alguns espécimens:
a)- “Comércio: Atividade econômica fundamental da cidade, destinada… a
gerar lucro, exploração e riqueza. No projeto de Deus, o comércio é superado
pela partilha e gratuidade”.
b)- “Conflito: Choque entre grupos que têm objetivos e interesses
diferentes. Na Bíblia, o principal conflito aparece entre o projeto de Deus
para a vida e os projetos da auto-suficiência, que geram a morte”.
c)- “Consciência: Compreensão que o povo tem da realidade, a partir doprojeto
de Deus. Ela demitiza a ideologia da classe dominante, e cria discernimento
para se construir uma sociedade fundada na justiça e na fraternidade”.
d)- “Educação: Relação entre gerações (pais-filhos), na qual se transmite
a memória das lutas do povo, a fim de que a nova geração aprenda com os erros e acertos de
seus pais. Dessa forma, a nova geração poderá criar caminhos novos e
alternativos para realizar o projeto de Deus na história. As tradições da
Bíblia se conservaram graças a esse processo”.
e)- “Encarnação: Deus encarna-se na vida e na história humanas, mostrando o
valor inestimável que elas têm diante dele. A coerência com a fé exige que nos
encarnemos também para que o projeto de Deus transforme as estruturas políticas
e econômicas, dirigindo a história para a liberdade e a vida”.
f)- “Propriedade: O direito de propriedade é sagrado, e o mundo deve ser
igualitariamente distribuído entre todos. A acumulação de propriedade, formando
latifúndios, e a especulação imobiliária são contrárias ao projeto de Deus”.
g)- “Ressurreição: Passagem da morte para a vida. Não se refere apenas à morte
física, mas a todas as mortes geradas por projetos contráriosao projeto de
Deus”.
h)- “Sociedade: Grupo humano que realiza um projeto em comum, organizado em
nível econômico, político, social e ideológico. Nem sempre a sociedade vive o
seu projeto de acordo com o projeto de Deus, que provoca transformações profundas nas relações sociais”.
Estes poucos
espécimens mostram que a mensagem bíblica é toda repensada e posta estritamente a
serviço de transformações sócio-político-econômicas imanentes, sem que haja
acenos à transcendência para a qual devem caminhar o homem e a história. A
justiça e a reta ordem social neste mundo são germens do Reino de Deus, que só
estará consumado no fim dos tempos ou no Além, jamais no decorrer da história.
O materialismo marxista é que julga poder prometer a plena realização das
aspirações dos homens no decurso da história mediante a redistribuição dos
meios de produção material.
Quem lê
atentamente os verbetes do Vocabulário e as notas de rodapé da BP verifica que
são devedores ao que se chama “a leitura materialista da Bíblia”. Esta
não nega Deus e os valores espirituais,
mas julga que são “super-estrutura” ou derivados da “infra-estrutura” ou do
jogo dos bens materiais no curso da história. Com outras palavras: supõe que os
fatores decisivos da história sejam de ordem material (econômica) e política;
a procura de posse dos bens materiais e
do poder moveria todos os acontecimentos da história e condicionaria a crença
em Deus, o culto religioso e a definição das normas morais.
Adotando teses do marxismo, os fautores
da leitura materialista da Bíblia contrapõem entre si campo e cidade, como,
aliás, fazem I. Storniolo e E. Balancin:
a)-“Campo: É o polo
fundamental da produção que sustenta a
vida. É explorado pela cidade”.
b)-“Cidade: Lugar da
riqueza e do poder, que se concentram na mão de poucos, produzindo conflitos,
principalmente com o campo” (p. 1616).
Partindo
destes conceitos, os autores das notas da BP comentam o texto bíblico de maneira
artificial e deformante. Assim, por exemplo, o livro do Gênesis refere que Lot se separou de Abraão, ficando aquele com as cidades, e este com os campos. A
nota a Gn 13,1-18 diz então o seguinte: “Ló escolhe a região
onde estão as cidades; assim ele entra no âmbito de uma estrutura que se
sustenta graças à exploração e opressão do povo. Abraão, ao invés, fica aberto
para uma história nova, fundada unicamente no projeto de Deus” (p. 26).
O *comentário de Josué 4,1-24 justifica a partilha da terra de Canaã pelos filhos de
Israel nos seguintes termos:
"¹ Sucedeu que, acabando todo o povo de passar o Jordão, falou o SENHOR a Josué, dizendo: ² Tomai do povo doze homens, de cada tribo um homem; ³ E mandai-lhes, dizendo: Tirai daqui, do meio do Jordão, do lugar onde estavam firmes os pés dos sacerdotes, doze pedras; e levai-as convosco à outra margem e depositai-as no alojamento em que haveis de passar esta noite. ⁴ Chamou, pois, Josué os doze homens, que escolhera dos filhos de Israel; de cada tribo um homem; ⁵ E disse-lhes Josué: Passai adiante da arca do Senhor vosso Deus, ao meio do Jordão; e cada um levante uma pedra sobre o ombro, segundo o número das tribos dos filhos de Israel; ⁶ Para que isto seja por sinal entre vós; e quando vossos filhos no futuro perguntarem, dizendo: Que significam estas pedras? ⁷ Então lhes direis que as águas do Jordão se separaram diante da arca da aliança do Senhor; passando ela pelo Jordão, separaram-se as águas do Jordão; assim estas pedras serão para sempre por memorial aos filhos de Israel. ⁸ Fizeram, pois, os filhos de Israel assim como Josué tinha ordenado, e levantaram doze pedras do meio do Jordão como o Senhor dissera a Josué, segundo o número das tribos dos filhos de Israel; e levaram-nas consigo ao alojamento, e as depositaram ali. ⁹ Levantou Josué também doze pedras no meio do Jordão, no lugar onde estiveram parados os pés dos sacerdotes, que levavam a arca da aliança; e ali estão até ao dia de hoje. ¹⁰ Pararam, pois, os sacerdotes, que levavam a arca, no meio do Jordão, em pé, até que se cumpriu tudo quanto o Senhor mandara Josué dizer ao povo, conforme a tudo quanto Moisés tinha ordenado a Josué; e apressou-se o povo, e passou. ¹¹ E sucedeu que, assim que todo o povo acabou de passar, então passou a arca do Senhor, e os sacerdotes, à vista do povo. ¹² E passaram os filhos de Rúben, e os filhos de Gade, e a meia tribo de Manassés, armados na frente dos filhos de Israel, como Moisés lhes tinha falado; ¹³ Uns quarenta mil homens de guerra, armados, passaram diante do Senhor para batalha, às campinas de Jericó. ¹⁴ Naquele dia o Senhor engrandeceu a Josué diante dos olhos de todo o Israel; e temeram-no, como haviam temido a Moisés, todos os dias da sua vida. ¹⁵ Falou, pois, o Senhor a Josué, dizendo: ¹⁶ Dá ordem aos sacerdotes, que levam a arca do testemunho, que subam do Jordão. ¹⁷ E deu Josué ordem aos sacerdotes, dizendo: Subi do Jordão. ¹⁸ E aconteceu que, como os sacerdotes, que levavam a arca da aliança do Senhor, subiram do meio do Jordão, e as plantas dos pés dos sacerdotes se puseram em seco, as águas do Jordão se tornaram ao seu lugar, e corriam, como antes, sobre todas as suas ribanceiras. ¹⁹ Subiu, pois, o povo, do Jordão no dia dez do mês primeiro; e alojaram-se em Gilgal, do lado oriental de Jericó. ²⁰ E as doze pedras, que tinham tomado do Jordão, levantou-as Josué em Gilgal. ²¹ E falou aos filhos de Israel, dizendo: Quando no futuro vossos filhos perguntarem a seus pais, dizendo: Que significam estas pedras? ²² Fareis saber a vossos filhos, dizendo: Israel passou em seco este Jordão. ²³ Porque o Senhor vosso Deus fez secar as águas do Jordão diante de vós, até que passásseis, como o Senhor vosso Deus fez ao Mar Vermelho que fez secar perante nós, até que passássemos. ²⁴ Para que todos os povos da terra conheçam a mão do Senhor, que é forte, para que temais ao Senhor vosso Deus todos os dias. (Josué 4,1-24)
*COMENTÁRIO DE RODAPÉ NA BÍBLIA PASTORAL: “Antes da instalação de
Israel, Canaã era um conjunto de cidades-Estado que oprimiam e empobreciam a
população camponesa, através do sistema tributário. A conquista realizada por
Israel derrotou esse sistema e implantou o sistema das doze tribos…, visando construir uma sociedade
justa e igualitária… A nova geração deve ser educada a não voltar para trás,
reproduzindo o sistema social injusto” (p. 244).
Veja-se as "notas paralelas"
a)- “Só existe verdadeira paz quando se erradica completamente o sistema injusto que explora e oprime
o povo” (p. 253).
b)- “A conquista da terra destrói um sistema classista
injusto” (p. 255).
c)- “As
Cidades-Estado de Canaã justificavam a política opressora e exploradora
dos seus reis” (p. 272).
d)- “Sem poder mais explorar os camponeses e suas terras,
tais cidades não conseguiram oferecer sacrifício; seus armazéns ficaram vazios
por falta de trigo. Enquanto isso, os camponeses vitoriosos conseguiram
livrar-se dos tributos e puderam gozar da fartura” (p. 274).
e)- “Para uma volta
ao projeto de Javé, é necessário romper o sistema opressor das cidades” (p.
276).
A leitura
materialista da Bíblia, julgando que as cidades se enriquecem mediante o
tributo cobrado dos camponeses, afirma que os tempos religiosos vêm a ser meramente centros econômicos e políticos, nos quais se deposita o lucro resultante da
exploração comercial e tributária.
Vemos notadamente, na explicação de rodapé acima, a mais pura "Eisegese", que significa ler o texto com uma noção preconcebida que
possamos ter (injeto um entendimento preconcebido e estranho). Isso muitas
vezes pode significar chegar às Escrituras com uma lente cultural tendenciosa
que não existia durante o tempo em que a Bíblia foi escrita. É claro que os
teólogos desaprovam essa abordagem porque ela não está enraizada nas Escrituras.Na
pior das hipóteses, pode ser usado para distorcer as Escrituras para afirmar
uma certa crença. Lideranças ideologizadas podem tirar um versículo da
Bíblia fora de contexto e interpretá-lo usando sua própria perspectiva
tendenciosa para justificar a implementação de uma ideologia. Na bíblia, a
exegese é o estudo da interpretação gramatical e sistemática das Escrituras
Sagradas (onde extraio o verdadeiro entendimento do texto). Para que uma pessoa
possa estar apta a fazer uma exegese bíblica, esta deve ser especialista nos
idiomas originais bíblicos, como o grego e o hebraico.
É por
isto que na p. 1237 se lê em rodapé:
“No tempo de Jesus o
templo (de Jerusalém) possui imensas riquezas e toda a cúpula governamental age
a partir daí. Desse modo a casa de oração e ofertas a Deus se torna um imenso
Banco e lugar de poder político. Em outras palavras, a religião se torna
instrumento de exploração e opressão do povo”.
Desnecessário
é dizer que esta descrição fantástica
do Templo no tempo de Jesus "carece de toda base histórica!"
Esse Templo, devido ao
rei Herodes, ainda estava em fase de acabamento na época de Jesus; as obras
de decoração demoravam por falta de
recursos, como descreve pormenorizadamente o historiador judeu contemporâneo de
Jesus, Flávio José (Antigüidades Judaicas 15, 380-425).
Pelos
mesmos motivos é despropositado o comentário feito em rodapé a Mc 11,15
(expulsão dos vendilhões do Templo):
“Acusando e atacando o
comércio existente dentro do Templo, Jesus retira as bases sobre as quais se
apoiava toda uma sociedade. Com efeito, era com esse comércio que se sustentava
grande parte da economia do país. O gesto de Jesus mexe não só com um modo de
vida religiosa, mas com toda uma estrutura que usa a religião para estabelecer
e assegurar privilégios de uma classe e sustentar uma visão mesquinha de
salvação. Por isso, os que se favorecem desse sistema, pensam em matar Jesus,
mas temem o povo” (p. 1298).
Entende-se que
Jesus tenha reagido sim, contra esses abusos; tal reação, porém, não teve, em
absoluto, as proporções que a Bíblia Pastoral lhe atribui:
“Acusando e atacando o comércio existente no Templo, Jesus
retira as bases sobre as quais toda uma sociedade se apoiava. De fato, era com
esse comércio que se sustentava grande parte da economia do país. O gesto de
Jesus abala não apenas um sistema de vida religiosa, mas toda uma estrutura que
usa da religião para estabelecer e assegurar privilégios de uma classe e para
sustentar uma visão mesquinha de salvação. Jesus é apresentado como o rei
legítimo, centro de nova aliança: ele é aclamado pelas crianças como o Messias.
Aqueles que são privados de apoio oficial e de poder, estão prontos para
receber Jesus, enquanto as autoridades o rejeitam” (p. 1267). Estes são alguns espécimes da leitura materialista realizada pelos responsáveis da BP. Não se
encontra nesta alguma alusão aos Santos Padres, à Tradição e ao Magistério da
Igreja; o que aí se incute, é a perspectiva de uma sociedade estruturada
segundo o marxismo e não a imagem do Reino de Deus em demanda de sua consumação
escatológica.
Este comentário fica longe da "realidade histórica". O que ocorria no tempo de Jesus, era o seguinte:
Como em todos os santuários (ou mesmo como em todos os lugares onde se aglomera muita gente), no Templo de Jerusalém acorriam, nos dias de festa, camelôs e vendedores ambulantes que armavam suas bancas para vender alimentos, objetos para o culto (vítimas), lembranças, ou para fazer o câmbio das moedas estrangeiras. Esses pequenos comerciantes prestavam serviço aos milhares de peregrinos que afluíam ao Templo nas grande solenidades; mas o acúmulo de gente, com suas necessidades, "dava ocasião propícia à ganância e à exploração" (Grifo nosso: Toda real hermenêutica central desse episódio está nas palavras no próprio Jesus em Mateus 21, 13: “Ele lhes disse: — Nas Escrituras Sagradas está escrito que Deus disse o seguinte: A minha casa será chamada de Casa de Oração...” - Jesus em momento algum nessa perícope, disse ou deu a entender outra coisa, como por exemplo, não disse: “casa da igualdade, dos pobres, dos excluídos", ou coisa semelhante, portanto, dizer qualquer coisa nesse sentido é fazer malabarismo achológico e não teológico, deturpando o real sentido histórico e literal).
Veja outro espécimens desta "leitura
materialista" e meramente sociológica:
Marcos 8,27-33: ²⁷ "E saiu Jesus, e os seus discípulos, para as aldeias de Cesaréia de Filipe; e no caminho perguntou aos seus discípulos, dizendo: Quem dizem os homens que eu sou?²⁸ E eles responderam: João o Batista; e outros: Elias; mas outros: Um dos profetas.²⁹ E ele lhes disse: Mas vós, quem dizeis que eu sou? E, respondendo Pedro, lhe disse: Tu és o Cristo.³⁰ E admoestou-os, para que a ninguém dissessem aquilo dele.³¹ E começou a ensinar-lhes que importava que o Filho do homem padecesse muito, e que fosse rejeitado pelos anciãos e príncipes dos sacerdotes, e pelos escribas, e que fosse morto, mas que depois de três dias ressuscitaria.³² E dizia abertamente estas palavras. E Pedro o tomou à parte, e começou a repreendê-lo.³³ Mas Ele, virando-se, e olhando para os seus discípulos, repreendeu a Pedro, dizendo: Retira-te de diante de mim, Satanás; porque não compreendes as coisas que são de Deus, mas as que são dos homens."
NOTA DE RODAPÉ NA BÍBLIA PASTORAL: “Mc 8,27-33: A ação messiânica de Jesus consiste em criar um mundo
plenamente humano, onde tudo é de todos e repartido entre todos. Esse
messianismo destrói a estrutura de uma sociedade injusta, onde há ricos à custa
de pobres, e poderosos à custa de fracos. Por isto, essa sociedade vai matar
Jesus antes que ele a destrua”.
REFUTAÇÃO: É este o comentário a uma passagem evangélica que fala da missão e do messianismo da morte e ressurreição de Jesus. As dimensões espirituais são simplesmente silenciadas pelos comentadores, como se não tivessem mais importância transcendental, como se os mártires tivessem dado suas vidas por um projeto meramente socialista?
Além
de se ressentir de inspiração ideológica marxista, a Edição Pastoral comete erros teológicos e exegéticos, como se verá a seguir ESSES DOIS:
Com efeito, eis o que se lê à p. 1476: “Em Corinto alguns
pensam que, depois da morte, a alma imortal continua vivendo sozinha. Outros
pensam que tudo termina com a morte. Paulo mostra que ambas as opiniões são
contrárias ao núcleo da fé cristã” (?).
REFUTAÇÃO: No tocante à vida póstuma, os autores das notas "parecem professar a ressurreição dos corpos" logo após a morte do indivíduo, em desacordo com a doutrina oficial da Igreja e dos textos da própria Bíblia.
Na
verdade, a própria S. Escritura (ou o próprio São Paulo) professa a
sobrevivência da alma sem o corpo, ficando a
ressurreição da carne reservada para o fim dos tempos. Ver por exemplo:
a)- 1Cor 15, 22-24a :
“Assim como todos morrem em Adão, em Cristo todos receberão a vida. Cada um,
porém, em sua ordem: como primícias, Cristo; aqueles que pertencem a Cristo,
por ocasião da sua vinda (parusia). A seguir, haverá o fim”.
b)- 1Ts 4,16s: “Quando o
Senhor, ao sinal dado, à voz do arcanjo e ao som da trombeta divina, descer do
céu, então os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro; em seguida, nós, os
vivos que estivermos lá, seremos arrebatados com eles nas nuvens para o encontro
com o Senhor nos ares”.
Estes dois
textos situam a ressurreição dos mortos no momento da parusia ou da segunda
vinda de Cristo. Entre a morte do corpo
e a ressurreição no fim dos tempos, a alma separada do corpo já goza da sua sorte
eterna (bem-aventurada, se a pessoa morreu em graça):
-2Cor 5,8: “Estamos
cheios de confiança, e preferimos deixar a mansão deste corpo para ir morar
junto do Senhor”.
-Fl 1,23: “Meu desejo é
partir e estar com Cristo, pois isto me é muito melhor”.
-Lc 23, 43: Disse Jesus
ao bom ladrão pouco antes de morrer: “Em verdade eu te digo: Hoje estarás
comigo no paraíso”.
ATENÇÃO! A Congregação para a Doutrina da Fé explicitou esta doutrina
numa Instrução datada de 17/05/1979, onde se lê:
“A Igreja afirma a
sobrevivência e a subsistência, depois da morte, de um elemento espiritual,
dotado de consciência e de vontade, de tal modo que o “eu humano” subsista,
mesmo sem corpo. Para designar esse elemento, a Igreja emprega a palavra “alma”, consagrada pelo uso que dela fazem a
Sagrada Escritura e a Tradição. Sem
ignorar que este termo é tomado na Bíblia em diversos significados, Ela julga,
não obstante, que não existe qualquer razão séria para o rejeitar e considera
mesmo ser absolutamente indispensável um instrumento verbal para sustentar a fé
dos cristãos. A Igreja, em conformidade com a Sagrada Escritura, espera a
gloriosa manifestação de nosso Senhor Jesus Cristo, que Ela considera como
distinta e diferida em relação àquela condição própria do homem imediatamente
depois da morte.A Igreja, ao expor a sua doutrina sobre a sorte do homem após a
morte, exclui qualquer explicação que tirasse o sentido à Assunção de Nossa
Senhora naquilo que ela tem de único; ou seja, o fato de ser a glorificação
corporal da Virgem Santíssima uma antecipação da glorificação que está destinada
a todos os outros eleitos”. - Algumas vezes
as notas de rodapé da BP, de índole histórica, são derivadas da Bíblia de
Jerusalém. Mas nem sempre de modo inteligente. Assim, por exemplo, no
comentário de Ex 23, 14-19 a Bíblia Pastoral repete o mesmo erro que já ocorria
na Bíblia de Jerusalém em português, afirmando que a festa das Semanas era
celebrada durante sete semanas ou cinqüenta dias (p. 96). Ora a Festa das
Semanas, chamada Pentecostes em grego, era celebrada cinqüenta dias após o
começo da colheita, como explicam Dt 16,9 e Lv 23,16, mas não durava cinqüenta dias;
durava um dia apenas!
2) UM SEGUNDO "ERRO GRAVÍSSIMO” ENCONTRADO NA BP:
A BP
traduz 1Cor 7, 36-38 nos seguintes termos:
“Se alguém,
transbordando de paixão, acha que não conseguirá respeitar a noiva, e que as coisas devem seguir o seu curso,
faça o que quiser. Não peca; que se casem. Ao contrário, se alguém, por
firme convicção, sem constrangimento e no plano uso de sua vontade, resolve
respeitar a sua noiva, está agindo bem. Portanto, quem se casa com sua noiva
faz bem; e quem não se casa, procede
melhor ainda”.
ATENÇÃO! Ora, o texto grego original fala de virgem (parthénos), e não de noiva (nymphe).
A tradução clássica é CORRETAMENTE apresentada pela Bíblia de Jerusalém:
“Se alguém julga agir de modo inconveniente para com a sua
virgem, deixando-a passar da flor da idade, e que portanto deve casá-la, faça o
que quiser; não peca. Que se realize o casamento! Mas aquele que, no seu coração, tomou firme propósito, sem coação e no
pleno uso da própria vontade, e em seu íntimo decidiu conservar a sua virgem,
esse procede bem. Portanto procede bem aquele que casa a sua virgem; e aquele
que não a casa, procede melhor ainda”.
*Em nota a
Bíblia de Jerusalém alude à tradução adotada pela BP como sendo realmente pouco habitual. A
BP prefere a nova maneira de traduzir, sem dar informações sobre o seu caráter
muito hipotético.
Conclusão de D. Estevão Bettencourt:
É louvável a
intenção de tornar o texto bíblico acessível e compreensível ao maior número possível de leitores. Isto,
porém, não significa incutir determinada opção ideológica, de mais a mais que a
ideologia marxista se apresenta ao mundo de hoje como fracassada e
ultrapassada. A Justiça Social é sumamente desejável, sim; ela decorre
da própria mensagem bíblica que a Doutrina Social da Igreja, através das
encíclicas papais, vem desenvolvendo e aplicando aos nossos tempos. A Igreja não
precisa de recorrer a sistemas heterogêneos para propor aos homens a autêntica
mensagem da salvação. Notemos a grande responsabilidade que toca a
tradutores e editores da Bíblia: a linguagem do texto sagrado penetra e forma a
mentalidade do povo que a lê. A tradução de Lutero plasmou a língua
alemã. Permita Deus que a sua santa Palavra não sirva de instrumento para levar
o povo cristão à deterioração e a desvios da fé!
Fonte: D.
Estevão Bettencourt, OSB.- Revista: “PERGUNTE E RESPONDEREMOS” - Nº 342 – Ano
1990 – Pág. 514
(Dom Estêvão Bettencourt, OSB)
*Dom Estêvão
Bettencourt, OSB (Rio de Janeiro, 16 de setembro de 1919 - 14 de abril de
2008), batizado Flávio Tavares Bettencourt, foi um dos
mais destacados teólogos brasileiros do século XX. Foi também monge da Ordem de
São Bento do Mosteiro de São Bento, na cidade do Rio de Janeiro, Brasil.Em
novembro de 1937, o abade do Rio de Janeiro, Dom Tomás Keller, considerando a
sua inteligência destacada, enviou-o a Roma, para estudar Filosofia no
Pontifício Ateneu de Santo Anselmo, onde obteve o grau de bacharel, em 7 de
novembro de 1939; e o de doutor, em novembro de 1944, com a defesa de
sua tese sobre Orígenes: "Doctrina Ascetica Origenis seu quid docuerit de
Ratione animæ humanæ cum dæmonibus". Voltou ao Brasil em 1945.Graduação:Licenciatura em Filosofia – Pontifício
Ateneo S. Anselmo (Roma), tendo concluído em 18/05/1942. Pós-Graduação/Doutorados: Doutorado em
Estudos Bíblicos – Pontifício Instituto Bíblico (Roma), concluído em 21/01/1945 – Doutorado em Teologia – Pontifício
Ateneo S. Anselmo (Roma), tendo concluído em 28/01/1946. Especializações: Aperfeiçoamento em Arqueologia
Bíblica – Escola Bíblica Franciscana de Jerusalém, concluído em 15/06/1973 – Especialização em Exegese Bíblica –
Escola Bíblica dos Dominicanos de Jerusalém, concluída em 15/06/1973 – Curso de Extensão Universitária: “Introdução e crítica a Lacan”, concluído em 29/06/1977
ANÁLISE
DO DOCUMENTO DA PONTIFÍCIA COMISSÃO BÍBLICA: “A INTERPRETAÇÃO DA BÍBLIA NA
IGREJA”, SOBRE AS ABORDAGENS HISTÓRICO-CRÍTICA E CONTEXTUAIS:
TIPOS DE “ABORDAGENS/ANÁLISE
INTERPRETATIVAS” DAS EXCRITURAS USADAS PELO SAGRADO MAGISTÉRIO CATÓLICO (ALÉM
DA SOCIOLÓGICA, HISTÓRICA-CRÍTICA e libertadora):
1)-Análise narrativa
2)-Análise semiótica
3)-Abordagens baseadas na Tradição
4)-Abordagem canônica
5)-Abordagem com recurso às tradições judaicas
de interpretação
6)-Abordagem através da história dos efeitos do texto
7)-"Abordagem sociológica" (ATENÇÃO! Não é a única!)
8)-Abordagem
através da antropologia cultural
9)- Abordagens
psicológicas e psicanalíticas
10)- Abordagem da libertação
11)- Hermenêuticas filosóficas
12)- Sentido da Escritura inspirada (literal,espiritual e pleno)
13)-Releituras
14)- Exegese patrística
15)-Teologias
dogmáticas e Moral
O problema da
interpretação da Bíblia não é uma invenção moderna como algumas vezes se quer
fazer crer. A Bíblia mesma atesta que sua interpretação apresenta dificuldades.
Ao lado de textos límpidos, ela comporta passagens obscuras. Lendo certos
oráculos de Jeremias, Daniel se interrogava longamente sobre o sentido deles
(Dn 9,2). Segundo os Atos dos Apóstolos, um etíope do primeiro século
encontrava-se na mesma situação a propósito de uma passagem do livro de Isaías
(Is 53,7-8) e reconhecia ter necessidade de um intérprete (At 8,30-35). A
segunda carta de Pedro declara que « nenhuma profecia da Escritura resulta de
uma interpretação particular » (2 Pd 1,20) e ela observa, de outro
lado, que as cartas do apóstolo Paulo contêm « alguns pontos difíceis de
entender, que os ignorantes e vacilantes torcem, como fazem com as demais
Escrituras, para sua própria perdição » (2 Pd 3,16).A influência da Bíblia
sobre a teologia se aprofundou e contribuiu à renovação teológica. O interesse
pela Bíblia aumentou entre os católicos e favoreceu o progresso da vida cristã.
Todos aqueles que adquiriram uma formação séria nesse campo estimam doravante
impossível retornar a um estado de interpretação pré-crítica, pois o julgam,
com razão, claramente insuficiente.Mas, ao mesmo tempo em que o método
científico mais divulgado — o método « histórico-crítico » — é praticado
correntemente em exegese, inclusive na exegese católica, ele mesmo encontra-se
em discussão: de um lado, no próprio mundo científico, pela aparição de outros
métodos e abordagens, e, de outro lado, pelas críticas de numerosos cristãos
que o julgam deficiente do ponto de vista da fé. Particularmente
atento, como seu nome o indica, à evolução histórica dos textos ou das
tradições através do tempo — ou diacronia — o método histórico-crítico
encontra-se atualmente em concorrência, em alguns ambientes, com métodos que
insistem na compreensão sincrônica dos textos, tratando-se da língua, da
composição, da trama narrativa ou do esforço de persuasão deles. Além disso, o
cuidado que os métodos diacrônicos têm em reconstituir o passado, para muitos é
substituído pela tendência de interrogar os textos colocando-os em perspectivas
do tempo presente, seja de ordem filosófica, psicanalítica, sociológica,
política, etc. Esse pluralismo de métodos e abordagens é apreciado por alguns
como um indício de riqueza, mas a outros ele dá a impressão de uma grande
confusão.Real ou aparente, essa confusão traz novos argumentos aos adversários
da exegese científica.O conflito das
interpretações manifesta, segundo eles, que não se ganha nada submetendo os
textos bíblicos às exigências dos métodos científicos, mas, ao contrário,
perde-se bastante.Eles sublinham que a exegese científica obtém como resultado
o provocar perplexidade e dúvida sobre inumeráveis pontos que, até então, eram
admitidos pacificamente; que ele força alguns exegetas a tomar posições
contrárias à fé da Igreja sobre questões de grande importância, como a
concepção virginal de Jesus e seus milagres, e até mesmo sua ressurreição e sua
divindade.
O PIOR
DAS CONSEQUÊNCIAS DO MÉTODO HISTÓRICO-CRÍTICO, SEGUNDO A COMISSÃO:
Mesmo quando
não finaliza em tais negações, a exegese científica se caracteriza, segundo
eles, pela sua esterilidade no que concerne o progresso da vida cristã. Ao
invés de permitir um acesso mais fácil e mais seguro às fontes vivas da Palavra
de Deus, ela faz da Bíblia um livro fechado, cuja interpretação sempre
problemática exige técnicas refinadas fazendo dela um domínio reservado a
alguns especialistas. A estes, alguns aplicam a frase do Evangelho: « Tomastes
a chave da ciência! Vós mesmos não entrastes e impedistes os que queriam
entrar! » (Lc 11,52; cf Mt 23,13).
O
MÉTODO "HISTÓRICO-CRÍTICO" (NÃO É O "SUPRA-SUMO DA EXEGESE", MAS É APENAS UM ENTRE TANTAS OUTRAS PERSPECTIVAS DE ABORDAGENS PARA A INTERPRETAÇÃO DAS ESCRITURAS).
A
história deste método (Histórico-Crítico):
Para apreciar
corretamente este método em seu estado atual, convém dar uma olhada em sua
história. Certos elementos deste método de interpretação são muito antigos. Eles
foram utilizados na antiguidade por comentadores gregos da literatura clássica
e, mais tarde, durante o período patrístico, por autores como Orígenes,
Jerônimo e Agostinho.O método era, então, menos elaborado. Suas formas modernas
são o resultado de aperfeiçoamentos, trazidos sobretudo desde os humanistas da
Renascença e o recursus ad fontesdeles. Enquanto que a crítica textual
do Novo Testamento só pôde se desenvolver como disciplina científica a partir
de 1800, depois que se desligou do Textus receptus, os primórdios da crítica
literária remontam ao século XVII, com a obra de Richard Simon, que chamou a
atenção sobre as repetições, as divergências no conteúdo e as diferenças de
estilo observáveis no Pentatêuco, constatações dificilmente conciliáveis com a
atribuição de todo o texto a um autor único, Moisés.No século
XVIII, Jean Astruc contentou-se ainda em dar como explicação que Moisés tinha
se servido de várias fontes (sobretudo de duas fontes principais) para compor o
Livro do Gênesis, mas, em seguida, a crítica contesta cada vez mais
resolutamente a atribuição da composição do Pentatêuco a Moisés. A crítica
literária identificou-se muito tempo com um esforço para discernir diversas
fontes nos textos.É assim que se
desenvolveu, no século XIX, a hipótese dos « documentos », que procura explicar
a redação do Pentatêuco. Quatro documentos, em parte paralelos entre si, mas
provenientes de épocas diferentes, teriam sido incorporados: o yahvista (J), o
elohista (E), o deuteronomista (D) e o sacerdotal (P: do alemão « Priester »);
é deste último que o redator final teria se servido para estruturar o conjunto.De
maneira análoga, para explicar ao mesmo tempo as convergências e as
divergências constatadas entre os três Evangelhos sinóticos, recorreram à
hipótese das « duas fontes », segundo a qual os Evangelhos de Mateus e o de
Lucas teriam sido compostos a partir de duas fontes principais: o Evangelho de
Marcos de um lado e, de outro lado, uma compilação das palavras de Jesus
(chamada Q, do alemão « Quelle », «fonte »). Essencialmente estas duas
hipóteses são ainda aceitas atualmente na exegese científica, mas elas são
objeto de contestações.No desejo de
estabelecer a cronologia dos textos bíblicos, esse gênero de crítica literária
se limitava a um trabalho de cortes e de decomposição para distinguir as
diversas fontes e não dava uma atenção suficiente à estrutura final do texto
bíblico e à mensagem que ele exprime em seu estado atual (mostrava-se pouca estima
pela obra dos redatores). Dessa maneira a exegese histórico-crítica
podia aparecer como fragmentária e destrutora, ainda mais que certos exegetas
sob a influência da história comparada das religiões, tal como ela se praticava
então, ou partindo de concepções filosóficas, emitiam contra a Bíblia
julgamentos negativos.
AVALIAÇÃO
DO MÉTODO EM SEIS SENTENÇAS DADAS PELA COMISSÃO TEOLÓGICA
INTERNACIONAL:
1ª)-É um
método que, utilizado de maneira objetiva, não implica em si nenhum a priori:
Se sua utilização é acompanhada de tais a priori, isto não é devido ao método
em si mas a opiniões hermenêuticas que orientam a interpretação e podem ser
tendenciosas.
2ª)-O
confronto da exegese tradicional com uma abordagem científica que em seu início
fazia conscientemente abstração da fé e algumas vezes mesmo se opunha a ela,
foi seguramente dolorosa; depois, no entanto, ela se revelou salutar: uma vez
que o método foi liberado dos preconceitos extrínsecos, ele conduziu a uma
compreensão mais exata da verdade da Santa Escritura (cf Dei Verbum, 12).
Segundo a Divino afflante Spiritu, a procura do sentido literal da Escritura é
uma tarefa essencial da exegese e, para cumprir esta tarefa, é necessário
determinar o gênero literário dos textos (cf E.B., 560), o que se
realiza com a ajuda do método histórico-crítico.
3ª)-Com
certeza o uso clássico do método histórico-crítico manifesta limites, pois ele
se restringe à procura do sentido do texto bíblico nas circunstâncias
históricas de sua produção e não se interessa pelas outras potencialidades de
sentido que se manifestaram no decorrer das épocas posteriores da
revelação bíblica e da história da Igreja.
4ª)-Recentemente
uma
tendência exegética orientou o método insistindo predominantemente sobre a
forma do texto, com menor atenção ao seu conteúdo, mas esta tendência
foi corrigida graças à contribuição de uma semântica diferenciada (semântica
das palavras, das frases, do texto) e ao estudo do aspecto pragmático dos
textos.
5ª)-À
tendência de reduzir tudo ao aspecto histórico, que se pôde repreender na
antiga exegese histórico-crítica, seria o caso que não sucedesse o excesso
inverso: o de um esquecimento da história, por parte de uma exegese
exclusivamente sincrônica. Em definitivo, o objetivo do método
histórico-crítico é de colocar em evidência, de maneira sobretudo diacrônica, o
sentido expresso pelos autores e redatores. Com a ajuda de outros métodos e
abordagens, ele abre ao leitor moderno o acesso ao significado do texto da
Bíblia, tal como o temos.
6ª)-ATENÇÃO! Nenhum
método científico para o estudo da Bíblia (por si só) está à altura de corresponder à
riqueza total dos textos bíblicos. Qualquer que seja sua validade, o método
histórico-crítico não pode pretender ser suficiente a tudo. Ele deixa
forçosamente obscuros numerosos aspectos dos escritos que estuda. Que não seja
surpresa a constatação de que atualmente outros métodos e abordagens são
propostos para aprofundar um ou outro aspecto digno de atenção.
DAS
ABORDAGENS "CONTEXTUAIS":
A
interpretação de um texto é sempre dependente da mentalidade e das preocupações
de seus leitores. Estes últimos dão uma atenção privilegiada a certos aspectos
e, sem mesmo pensar, negligenciam outros. É então inevitável que
exegetas adotem, em seus trabalhos, novos pontos de vista que correspondam a
correntes de pensamento contemporâneas que não obtiveram, até aqui, uma
importância suficiente. Convém que eles o façam com discernimento crítico.
Abordagem
da libertação (ou libertadora):
A teologia da
libertação é um fenômeno complexo que é preciso não simplificar indevidamente.
Como movimento teológico ele se consolida no início dos anos 70. Seu ponto de
partida, além das circunstâncias econômicas, sociais e politicas dos países da
América Latina, encontra-se em dois grandes acontecimentos eclesiais: o
Concilio Vaticano II, com sua vontade declarada de aggiornamento e de
orientação do trabalho pastoral da Igreja em direção às necessidades do mundo
atual, e a 2ª Assembléia plenária do CELAM (Conselho Episcopal
Latino-americano) em Medellin em 1968, que aplicou os ensinamentos do Concilio
às necessidades da América Latina.
PERGUNTA
QUE NÃO CALA: “LIBERTAÇÃO APENAS SOCIAL, OU "INTEGRAL?" DO PECADO, DA CULPA,OPRESSÃO E CEGUEIRA?
É difícil
discernir se existe « uma » teologia da libertação e definir seu método. É tão
difícil quanto determinar adequadamente sua maneira de ler a Bíblia para
indicar em seguida as contribuições e os limites. Pode-se dizer que ela não adota
um método especial. Mas, partindo de pontos de vista sócio-culturais e
políticos próprios, ela pratica uma leitura bíblica orientada em função das
necessidades do povo, que procura na Bíblia o alimento da sua fé e da
sua vida.Ao invés de se contentar com uma interpretação objetivante, que se
concentra sobre aquilo que diz o texto em seu contexto de origem, procura-se
uma leitura que nasça da situação vivida pelo povo. Se este último vive em
circunstâncias de opressão, é preciso recorrer à Bíblia para nela procurar o
alimento capaz de sustentá-lo em suas lutas e suas esperanças. A realidade
presente não deve ser ignorada, mas, ao contrário, afrontada em vista de
iluminá-la à luz da Palavra. Desta luz resultará a práxis cristã autêntica,
tendendo à transformação da sociedade por meio da justiça e do amor. Na fé, a
Escritura se transforma em fator de dinamismo de libertação integral. Como a
libertação dos oprimidos é um processo coletivo, a comunidade dos pobres é a
melhor destinatária para receber a Bíblia como palavra de libertação. Além
disso, os textos bíblicos tendo sido escritos para comunidades, é a comunidades
que em primeiro lugar a leitura da Bíblia é confiada. A Palavra de Deus é
plenamente atual, graças sobretudo à capacidade que possuem os « acontecimentos
fundadores » (a saída do Egito, a paixão e a ressurreição de Jesus) de suscitar
novas realizações no curso da história. A teologia da libertação compreende
elementos cujo valor é indubitável: o sentido profundo da presença de Deus que
salva; a insistência sobre a dimensão comunitária da fé; a urgência de uma
práxis libertadora enraizada na justiça e no amor; uma releitura da Bíblia que
procura fazer da Palavra de Deus a luz e o alimento do povo de Deus em meio a
suas lutas e suas esperanças. Assim é sublinhada a plena atualidade do texto
inspirado. Mas a leitura tão engajada da Bíblia comporta riscos. Como ela é ligada
a um movimento novo e em plena evolução e em constante construção e reconstrução,
todos hão de convir que as observações, leituras e interpretações que a seguem
só podem ser provisórias e não definitivas.
RELEITURAS
MUTILADORAS E FORÇADAS DE uma IMANÊNCIA SEM TRANSCENDÊNCIA?
Querendo
inserir a mensagem bíblica no contexto sócio-político, teólogos e exegetas foram levados
ao recurso de instrumentos de análise da realidade social. Nesta
perspectiva, algumas correntes da teologia da libertação fizeram uma análise
inspirada em doutrinas materialistas e é nesse quadro também que elas leram a
Bíblia, o que não deixou de provocar questões, notadamente no que concerne o
princípio marxista da luta de classes. Sob a pressão de enormes problemas
sociais, o acento foi colocado principalmente sobre uma escatologia terrestre,
muitas vezes em detrimento da dimensão escatológica transcendente da Escritura.
As
mudanças sociais e políticas conduzem esta abordagem a se propôr novas questões
e a procurar novas orientações. Para seu desenvolvimento ulterior e sua
fecundidade na Igreja, um fator decisivo será o esclarecimento de seus pressupostos
hermenêuticos, de seus métodos e de sua coerência com a fé e a Tradição do
conjunto da Igreja.
DUPLA
RECUSA: AO "SIMPLISMO" E "ABSOLUTISMO INTERPRETATIVO" DE CORRENTES TEOLÓGICAS:
No interior da
Bíblia cristã as relações entre Novo e Antigo Testamento não deixam de ser
complexas. Quando se trata da utilização de textos particulares, os autores do
Novo Testamento recorrem naturalmente aos conhecimentos e aos procedimentos de
interpretação da época deles. Exigir que se conformem aos métodos científicos
modernos seria um anacronismo. O exegeta deve antes de tudo adquirir o
conhecimento dos procedimentos antigos para poder interpretar corretamente o
uso que é feito deles. É verdade, de outro lado, que ele não deve
dar um valor absoluto àquilo que é conhecimento humano limitado. Convém,
enfim, acrescentar que no interior do Novo Testamento, como já no interior do
Antigo, observa-se a justaposição de perspectivas diferentes e algumas vezes em
tensão umas com as outras, por exemplo, sobre a situação de Jesus (Jo 8,29;
16,32 e Mc 15,34) ou sobre o valor da Lei mosaica (Mt 5,17-19 e Rm 6,14) ou
sobre a necessidade das obras para ser justificado (Tg 2,24 eRm 3,28; Ef
2,8-9). Uma das características da Bíblia é precisamente a ausência do espírito
de sistema e a presença, ao contrário, de tensões dinamizantes. A Bíblia
acolheu várias maneiras de interpretar os mesmos acontecimentos ou de pensar os
mesmos problemas. Assim ela convida a recusar o simplismo e a estreiteza de
espírito.
ALGUMAS
OBSERVAÇÕES DA COMISSÃO internacional
1ª)-A Bíblia é
efetivamente, desde o início, ela mesma uma interpretação (releitura). Seus textos
foram reconhecidos pelas comunidades da Antiga Aliança e do tempo apostólico
como expressão válida da fé que elas tinham. É segundo a interpretação das
comunidades e em relação àquela que foram reconhecidos como Santa Escritura
(assim, por exemplo, o Cântico dos Cânticos foi reconhecido como Santa
Escritura enquanto aplicado à relação entre Deus e Israel). No decorrer
da formação da Bíblia, os escritos que a compõem foram, em muitos casos,
retrabalhados e reinterpretados para responderem a situações novas,
desconhecidas anteriormente.
2ª)-Dado que a
Santa Escritura nasceu sobre a base de um consenso de comunidades de fiéis que
reconheceram em seu texto a expressão da fé revelada, sua própria interpretação deve
ser, para a fé viva das comunidades eclesiais, fonte de consenso sobre os
pontos essenciais.
3ª)-Dado que a
expressão da fé, tal como se encontrava reconhecida por todos na Santa
Escritura, teve que se renovar continuamente para fazer face a situações novas — o
que explicam as « releituras » de muitos textos bíblicos — a
interpretação da Bíblia deve igualmente ter um aspecto de criatividade e
afrontar as questões novas, para respondê-las partindo da Bíblia.
4ª)-Conclui-se
que a
interpretação da Escritura faz-se no seio da Igreja, em sua pluralidade, em sua
unidade e em sua tradição de fé, e não fora dela, ou de quem não comunga com
ela.
SOBRE
A INTERPRETAÇÃO DA BÍBLIA NA VIDA DA IGREJA (EVITAR REDUCIONISMO):
A atualização
pressupõe uma exegese correta do texto, que determina o sentido literal dele.
Se a pessoa que atualiza não tem ela mesma uma formação exegética, deve
recorrer a bons guias de leitura que permitam de bem orientar a interpretação. Para
bem conduzir a atualização, a interpretação da Escritura pela Escritura é o
método mais seguro e o mais fecundo, especialmente no caso dos textos do Antigo
Testamento que foram relidos no próprio Antigo Testamento (por exemplo, o maná
de Ex 16 em Sab 16,20-29) e/ou no Novo Testamento (Jo 6).A atualização de um texto bíblico
na existência cristã não pode ser feito corretamente sem se colocar em relação
com o mistério do Cristo e da Igreja. Não seria normal, por exemplo, propor a
cristãos, como modelos para uma luta de libertação, unicamente episódios do
Antigo Testamento (Êxodo; 1-2 Macabeus).
CONCLUSÕES:
1ª)-A Palavra
eterna encarnou-se em uma época precisa da história, em um ambiente social e
cultural bem determinado. Quem deseja entendê-la deve humildemente procurá-la
lá onde ela se tornou perceptível, aceitando a ajuda necessária do saber
humano. Para falar aos homens e às mulheres, desde a época do Antigo
Testamento, Deus explorou todas as possibilidades da linguagem humana, mas ao
mesmo tempo ele teve também que submeter sua palavra a todos os
condicionamentos dessa linguagem. O verdadeiro respeito pela Escritura
inspirada, exige que sejam realizados todos os esforços necessários para que se
possa compreender bem seu sentido. "Seguramente não é possível que cada cristão
faça pessoalmente as pesquisas de todos os gêneros que permitam compreender
melhor os textos bíblicos". Esta tarefa é confiada aos exegetas, responsáveis
nesse setor pelo bem de todos.
2ª)-Uma
segunda conclusão é que a natureza mesma dos textos bíblicos exige que para
interpretá-los, continue-se o emprego do método histórico-crítico, ao menos em
suas operações principais. A Bíblia, efetivamente, não se apresenta
como uma revelação direta de verdades atemporais, mas como a atestação escrita
de uma série de intervenções pelas quais Deus se revela na história humana. A
diferença de doutrinas sagradas de outras religiões, a mensagem bíblica é
solidamente enraizada na história. Conclui-se que os escritos bíblicos não
podem ser corretamente compreendidos sem um exame de seu condicionamento
histórico. As pesquisas « diacrônicas » serão sempre indispensáveis à
exegese. Qualquer que seja o interesse das abordagens « sincrônicas », elas não
estão à altura de substitui-las. Para funcionar de maneira fecunda, estas devem
primeiramente aceitar as conclusões das outras, pelo menos em suas grandes
linhas.
3ª)-O
método histórico-crítico, efetivamente, "não pode pretender o monopólio. Ele
deve ser consciente de seus limites", assim como dos perigos que o espreitam.
Os desenvolvimentos recentes das hermenêuticas filosóficas e, de outro lado, as
observações que pudemos fazer sobre a interpretação na Tradição Bíblica e na
Tradição da Igreja colocaram em evidência vários aspectos do problema da
interpretação que o método histórico-crítico tinha tendência a ignorar.
4ª)-Por
fidelidade à grande Tradição, da qual a própria Bíblia é testemunha, a exegese
católica deve evitar tanto quanto possível esse gênero de deformação
profissional e manter sua identidade dedisciplina teológica, cuja finalidade
principal é o aprofundamento da fé. Isso não significa ter um compromisso menor
com uma pesquisa científica mais rigorosa, nem a deformaçãos dos métodos por
preocupações apologéticas. Cada setor da pesquisa (crítica textual,
estudos linguísticos, análises literárias, etc.) tem suas próprias regras, que
é preciso seguir com toda autonomia. Mas nenhuma dessas especialidades é uma
finalidade em si mesma. Na organização de conjunto da tarefa exegética, a
orientação em direção à finalidade principal deve permanecer efetiva e evitar
os desperdícios de energia. A exegese católica não tem o direito de se parecer
com um curso d'água que se perde nas areias de uma análise hiper-crítica.
Ela deve preencher na Igreja e no mundo uma função vital, isto é, de contribuir
a uma transmissão mais autêntica do conteúdo da Escritura inspirada.
Fonte: Vatican.va
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Fato: O MÉTODO "HISTÓRICO-CRÍTICO" (NÃO É O "SUPRA-SUMO DA EXEGESE", MAS É APENAS UM ENTRE TANTAS OUTRAS PERSPECTIVAS DE ABORDAGENS PARA A INTERPRETAÇÃO DAS ESCRITURAS). Com certeza o uso clássico do método histórico-crítico manifesta limites, pois ele se restringe à procura do sentido do texto bíblico nas circunstâncias históricas de sua produção e não se interessa pelas outras potencialidades de sentido que se manifestaram no decorrer das épocas posteriores da revelação bíblica e da história da Igreja. Nenhum método científico para o estudo da Bíblia (por si só) está à altura de corresponder à riqueza total dos textos bíblicos. Qualquer que seja sua validade, o método histórico-crítico não pode pretender ser suficiente a tudo. Ele deixa forçosamente obscuros numerosos aspectos dos escritos que estuda. Que não seja surpresa a constatação de que atualmente outros métodos e abordagens são propostos para aprofundar um ou outro aspecto digno de atenção.
Santiago Valverde
O mito da terra sem males nos fala do profundo anseio humano por um mundo melhor, mais pleno e feliz para todos. Essa ideia está presente em diversas culturas e é registrada em muitos mitos diferentes que, no fundo, apontam para esse mesmo anseio humano. Até ai tudo bem, são “sementes da verdade” (não em plenitude) mas, porém, contudo, entretanto e todavia, nos manifestos da TdL trata-se de habitação, transporte, emprego, moradia, desenvolvimento material, etc. Deus, o Céu, as virtudes e os pecados, nada disso existe para a Teologia da Libertação marxistóide de Genésio Boff, inspiradora dos manifestos, longos, prolixos, indigestos dos vários setores da igreja Boffenta. Em vez de falar de Cristo e de seu plano de Salvação, falam de Chê Guevara, um comunista cruel e assassino. Em vez do Reino dos Céus que está demorando muito, querem imediatamente o modelo do reino soviet da terra. O racionalismo os faz esperar o impossível. O delírio os faz sonhar com a utopia, que se tornou pesadelo para muitos povos. Sonham com o Reino de Deus na terra, construído com a ciência, a técnica, trator, fuzil, vigilância, ditaduras que põe fim às liberdades fundamentais de ir e vir e de expressar-se. Acrecente ao kit: a mentira, cobiça, violência e até crimes contra os bens alheios e mesmo contra suas vidas (só importam vidas da esquerda). Os fins justificam os meios para realizar a terra sem males, o Reino de Deus na terra, com muros, cercas de arame farpado, e eletrificado, além dos paredons, para que ninguem possa fugir desse paraíso. Essas são as únicas cercas admitidas por certos "bispos e padres" que hipocritamente, odeiam apenas as cercas dos outros, não as suas (as cercas Cubanas, Coreanas e Chinesas, contra as quais os teólogos da Libertação nunca falam).
Um Zé qualquer!
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