Baseado
em livro de autor anônimo do Século XIX, publicado em 1975 pela EDICIONES RIALP
- Madrid,
NIHIL OBSTAT de D. José Larrabe Orbegozo, Madrid, 27 de outubro de 1975
IMPRIMA-SE: Dr. D. José Maria Martim Patino, Pro-Vigário Geral
Apresentação de Angel Garcia Y Garcia
LITURGIA: palavra grega composta de leiton, que
significa público, e de ergon, que significa obra ou ato público, o que em
português chamamos de serviço divino. Os livros que contêm o modo de celebrar
os santos mistérios denominam-se liturgias.
Litúrgico:
que pertence ou se refere às liturgias.
Liturgistas:
escritores ouestudiosos de liturgia.
RITO: em latim ritus, significa um uso ou uma
cerimônia que segue uma ordem determinada. Diz-se também rite ou recte para
indicar o que está bem feito, com ordem, segundo o costume. Assim se diz rito
romano ou milanês conforme prescrito em Roma ou Milão.
Ritual:
livro que prescreve o modo de administrar os sacramentos.
RITO
MOÇÁRABE: rito utilizado nas igrejas de
Espanha desde o início do século VIII até o final do século XI. A palavra
moçárabe se refere aos espanhóis que subsistiram ao domínio dos árabes quando
estes se apoderaram da Espanha em 712, e significa árabes externos,
diferenciando-os dos de origem árabe. Este rito chamava-se normalmente de rito
gótico, por ter sido seguido pelos godos cristianizados.
SACRAMENTAL: livro que continha as orações e as palavras
que os bispos ou sacerdotes recitavam quando celebravam a Missa ou
administravam os sacramentos. Posteriormente o específico dos bispos
denominou-se pontifical, enquanto que o dos sacerdotes passou a ser sacerdotal,
ritual ou manual.
MISSAL: livro que contem tudo o que se diz na Missa
no decorrer do ano.
ANTIFONÁRIO: assim era chamado o livro que continha tudo o
que se devia cantar no coro durante a Missa devido aos intróitos que tinham por
título Antiphona ad introitum; mas há tempo se utiliza esse termo para indicar
o livro que contem as antífonas das matinas, laudes e demais horas canônicas.
ORDO
ROMANO: livro que continha a maneira de
celebrar as missas e os ofícios dos principais dias do ano, em especial os dos
4 dias da Semana Santa e da oitava da Páscoa. Este ORDO posteriormente foi
aumentado e denominado cerimonial.
ORDINÁRIO: assim é chamado há 600 anos o livro que
determina o que se diz e se faz, cada dia, no altar e no coro.
ORDINÁRIO
DA MISSA: reúne o que se diz na Missa
comum, para distingui-lo do que é próprio para as festas e demais dias do ano.
MICRÓLOGO: palavra grega, composta de microse de logos;
significa breve discurso. Um escritor do século XI compôs um tratado sobre a
Missa e demais ofícios litúrgicos com este título: Micrologos de ecclesiasticis
observationibus, e como se ignora quem seja ele, diz-se o nome Micrólogo ou o
Micrólogo. Sabe-se que ele foi contemporâneo do papa Gregório VII; mas o
tratado foi escrito após a morte deste Pontífice, motivo pelo qual a obra é
colocada no ano 1090.
1
- Definição
P1. Que é a Santa Missa?R.
A Santa Missa é a renovação incruenta do Sacrifício do Calvário. É o mesmo e
único sacrifício infinito de Cristo na Cruz, que foi solenemente instituído na
Última Ceia. Nesta cerimônia ímpar, Cristo é ao mesmo tempo vítima e sacerdote,
se oferecendo a Deus para pagamento dos pecados, e aplicando a cada fiel seus
méritos infinitos.
P2. Por que dizemos que a Missa é a renovação incruenta
do Sacrifício do Calvário?R.
Porque na Missa Nosso Senhor Jesus Cristo se imola novamente para nossa
salvação, como Ele fizera no Calvário, embora na Missa seja sem sofrimento
físico.
P3. Por que a Missa é chamada de "Santa"?R. Porque nela é o próprio autor da santidade que
se oferece como vítima, num sacrifício perfeito a Deus, e como alimento
espiritual aos fiéis na Eucaristia, ou seja, a transubstanciação real do pão e
do vinho no corpo e sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo
P4. Em que momento da Missa se realiza a
transubstanciação das espécies de pão e vinho no corpo e sangue de Nosso Senhor
Jesus Cristo?R. A transubstanciação se realiza no
momento da consagração, quando o celebrante repete as palavras que Nosso Senhor
pronunciou na última Ceia, ao consagrar o pão e o vinho, instituindo, assim, o
sacramento da Eucaristia.
2
- Prática freqüente do Santo Sacrifício da Missa
P5. Qual é a cerimônia religiosa e solene mais comum
entre os católicos?R. É a santa Missa.
P6.
Por que a santa Missa é a cerimônia mais comum entre os católicos?R. Porque, além de ser celebrada nos domingos e
dias santos, quando há obrigação rigorosa de assisti-la, ela é celebrada
diariamente e fortalece a piedade do cristão zeloso, em especial quando ele tem
a graça de comungar.
P7.
Além dos domingos e dias santos, podemos assistir a Missa em outras ocasiões?R. Sim, e é proveitoso à alma também assisti-la em
certas ocasiões especiais tais como:a - nos aniversários de graças importantes
recebidas;b - nos dias da quaresma;c - na quinzena pascal.
P8.
Podemos assistir Missa diariamente?R.
Sim. Sempre que o fiel tiver a possibilidade e principalmente aqueles que
receberam mais bênçãos dos céus e favores terrenos devem entender que seria até
uma ingratidão não participar do oferecimento diário da grande vítima de ação
de graças.
P9.
Por que é conveniente e salutar assistir a Missa sempre que possível?R. Porque todo o cristão, desejoso de ordenar sábia
e piedosamente sua conduta, encontra na Missa o meio de consagrar pela oblação
do corpo e do sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo os trabalhos e fadigas de
cada dia, sem esquecer as obrigações do próprio estado. Além disto, a
assistência freqüente implica em maior aproveitamento dos méritos de Cristo.
P10.
Além da piedade e do fervor, que outros motivos nos levam a assistir a Missa?R. Além da piedade e do fervor os cristãos se
reúnem com prazer ao redor do altar do sacrifício por muitos motivos, como: a -
no início de cada ano, para agradecer e renovar os votos desta época;b - em
certas festas religiosas, para estreitar os laços de família e a piedade
filial;c - no dia dos mortos, para resgatar os pecados do passado com as
esperanças de melhor porvir;d - para conseguir êxito em determinado
empreendimento;e - para a saúde de uma pessoa;f - para que se difunde a graça
de Deus na união dos esposos;g - para oferecer ao Senhor uma criança que acaba
de nascer e a mãe que deu a luz;h - para acompanhar diante dos altares os
despojos mortais de nossos irmãos, antes de sepultá-los.
P11.
A Missa, então, é motivo para tudo?R.
Sim. Resumindo, podemos dizer que a Missa é a consagração e santificação de
todos os momentos graves, solenes e importantes da nossa vida.
3
- Necessidade de se entender as orações e as cerimônias da Santa Missa
P12.
É necessário conhecer profundamente a Missa?R.
Um ato de religião praticado com tanta freqüência, tão precioso em suas graças,
e tão consolador em seus frutos, é desejoso que se conheça o mais possível, na
medida das nossas capacidades.
P13.
Como podemos conhecer mais profundamente a Santa Missa?R. Podemos conhece-la mais profundamente estudando
seus mistérios, seus dogmas, a moral que ela encerra, e até os menores detalhes
de suas cerimônias e orações.
P14.
Para que devemos conhecer tudo isto?R.
Para que a Missa, que é o centro do culto católico, desperte os mais vivos
sentimentos de religião e de piedade.
P15.
Que mais devemos conhecer da Missa?R.
Devemos conhecer suas palavras sagradas em que encontramos todo o sabor da
unção de que estão repletas; cada ação e cada movimento do sacerdote; cada
palavra que ele pronuncia para lembrar nossa alma e nosso coração que um Deus
se imola para nós, e que nós também devemos nos imolar com Ele e por Ele.
P16.
Com que estado de espírito devemos assistir a Santa Missa?R. Devemos deixar fora do santuário a indiferença e
o tédio, a dissipação e o escândalo, e sermos, no templo, adoradores em
espírito e verdade. (Ioh 1 - 4)
P17.
Deus exige de todos os fiéis uma instrução profunda e detalhada da Missa?R. Não. Deus supre a sensibilidade da fé ao
conhecimento que não foi possível adquirir e jamais irá desprezar o sacrifício
de um coração arrependido e humilhado. (Sl 50, 19)
P18.
Quais as disposições essenciais e suficientes para aproveitarmos do santo
sacrifício da Missa?R. Devemos assistir a Santa Missa com a
alma penetrada de dor pelas faltas cometidas, e nos aproximarmos confiadamente
deste trono da graça, unindo-nos à vítima, Nosso Senhor Jesus Cristo, e à
intenção da Igreja, na pessoa do sacerdote, e por seu ministério.
P19.
Que mais é salutar conhecer?R.
Devemos saber as grandes vantagens espirituais que um conhecimento mais íntimo
da Santa Missa proporciona aos fiéis, com a explicação literal de suas orações
e cerimônias.
P20.
A Igreja, acaso, ocultaria aos fiéis algum mistério da Santa Missa?R. Não. Na Igreja nada há de oculto e ela jamais
pretendeu ocultar qualquer mistério aos fiéis, seja da Santa Missa, como de qualquer
outra cerimônia litúrgica, como será demonstrado neste Catecismo.
P21.
Qual a principal preocupação da Igreja quanto aos mistérios da Missa?R. A Igreja somente teme que o pouco discernimento
sobre os mistérios possa causar má interpretação às palavras neles contidas.
P22.
Como a Igreja procura evitar possíveis más interpretações?R. Apresentando sempre explicações claras dos
mistérios aos fiéis.
P23.
Há orientação explícita da Igreja para explicar os mistérios da Missa aos
fiéis?R. Sim. Os Concílios de Mogúncia,de
Colônia e de Trento, como mais adiante veremos, ordenaram claramente que se
prestassem aos fiéis as explicações necessárias para o melhor entendimento
possível dos mistérios da Santa Missa, evitando, assim, más interpretações.
P24.
Que outras medidas tomou a Igreja para facilitar o entendimento dos mistérios
da Missa?R. A Igreja colocou à disposição de
todos os fiéis o ordinário da Missa, e impôs como dever dos sacerdotes a
explicação das orações e das cerimônias da Santa Missa.
P25.
Além do ordinário da Missa, há outras obras específicas sobre o Santo
Sacrifício?R. Sim; há inúmeras obras ao alcance
dos fiéis sobre a Santa Missa, publicadas através dos séculos.
P26.
A explicação da Missa é dever somente dos sacerdotes?R. Não. Além dos sacerdotes é dever também dos
fiéis, e seremos felizes mesmo se, com pouco conhecimento, colocarmos algumas
pedras nos muros de Jerusalém, enquanto outros manejam com mão hábil a espada
da palavra santa para cuidar da sua defesa.
P27.
Qual o melhor método para nos aprofundarmos no conhecimento da Santa Missa?R. Para compreendermos exatamente o verdadeiro
sentido das orações da Santa Missa, é necessário conhecermos todas, palavra por
palavra, o significado de cada termo, dos dogmas e dos mistérios nelas
contidos.
P28.
Que mais é necessário conhecer sobre as orações?R.
É preciso, também, conhecer os objetivos da Igreja ao estabelecer as orações,
bem como deduzir ao máximo possível as intenções dos santos padres, dos antigos
escritos eclesiásticos e da tradição. Para isto torna-se necessária também uma
explicação histórica, literal e dogmática de tudo o que constitui a Missa.
P29.
A que se propõe este Catecismo?R.
Este Catecismo se propõe a colocar em prática os mesmos objetivos da Igreja, de
alimentar os mesmos sentimentos que ela quer infundir nos nossos corações para
que possamos orar e oferecer com ela, e não perder o fruto produzido pelo reto
conhecimento das palavras repletas de sentimento e de mistérios que ela nos
coloca nos lábios.
4
- Regras para a celebração do Santo Sacrifício da Missa
P30. Por que é necessário conhecermos as ações e as
cerimônias da Missa?R. Porque, por meio das ações e das
cerimônias expressam-se mais vivamente as idéias do que por palavras. Além
disso, elas foram estabelecidas pela Igreja para nos edificar, nos instruir e
despertar nossa atenção, bem como Deus lhes atribuiu graças particulares.
P31. Há exemplos bíblicos de atitudes que Deus
atribuiu algum favor especial?R.
Sim; por exemplo, a Escritura nos diz que Moisés rogou com as mãos erguidas ao
céu, e, nesta cerimônia, o Senhor estabeleceu a vitória dos judeus. (Ex 17, 11)
P32.
Em que se fundamentam as cerimônias da Missa?R.
As cerimônias da Missa se fundamentam ora na necessidade, ora na comodidade ou
em outros motivos simbólicos e místicos. Na pesquisa de todas elas, precisamos
recorrer a uma infinidade de escritos em que se acham espalhados, procurando
sempre suas origens.
P33.
Poderia esclarecer com um exemplo?R.
Sim. Todos sabemos que lavamos com água as mãos e o corpo, por asseio; mas, a
água usada no batismo não é para lavar o corpo pois, como diz S. Paulo: Non
carnis depositio sordium (1 Ped 3, 21). A origem da água no batismo é puramente
simbólica, ou seja, emprega-se aquele elemento tão próprio para lavar todas as
coisas, para mostrar que, por meio do seu contato com o corpo, Deus purifica a
alma de todas as manchas.
P34.
Que é preciso fazer para se pesquisar devidamente a origem das cerimônias?R. É preciso investigar também os tempos e os
lugares em que elas passaram a ser usadas, verificar seus escritores
contemporâneos e, nas orações contidas nos livros eclesiásticos mais antigos,
analisar os objetivos da Igreja naquelas cerimônias, porque muitas vezes as
próprias orações revelam seu verdadeiro sentido.
P35.
Que mais devemos levar em conta para conhecer os motivos da Igreja no uso de
determinadas ações que vemos na Santa Missa?P.
Além da pesquisa aludida anteriormente, devemos levar em conta o discernimento
e bom senso que a Igreja empregou para estabelecer as razões das ações e das
cerimônias da Missa.
P36.
Como se classificam as razões em que a Igreja se baseou para estabelecer as
ações e cerimônias da Missa?R.
Podemos classificar em seis razões.
P37.
Qual é a primeira razão? Exemplifique. R. A primeira razão
é de conveniência ou comodidade. Há costumes que só podem ter como causa, estes
fatores.
Exemplo:
o motivo pelo qual se cobre o cálice depois da oblação é por pura precaução,
para que nele não caia nada; e se o Micrólogo, que reconhece este motivo,
acrescenta outros, é mais por sua conta que da Igreja.
P38.
Qual é a segunda? Exemplifique.R. Há usos que se
fundamentam em duas causas: comodidade e simbolismo.
Exemplo:
A primeira razão do uso do cíngulo sobre a alba é para impedir que esta caia e
se arraste pelo chão; e esta razão física não impede a Igreja de determinar aos
sacerdotes de cingirem-se como símbolo da pureza, pois S. Pedro nos recomenda a
nos cingirmos espiritualmente: Succinti lumbos mentis vestrae (1 Pet 1, 13).
Outro
exemplo: a fração da Hóstia se faz também, naturalmente, para imitar a Nosso
Senhor Jesus Cristo que partiu o pão, e porque é preciso distribuí-la; mas,
algumas Igrejas deram a esta fração um sentido espiritual, dividindo a Hóstia
em três partes (Itália e França), em quatro partes (Grécia), e em nove partes
(rito moçárabe).
P39.
Qual a terceira causa? Exemplifique.R. Às vezes uma
causa de necessidade física foi substituída por uma razão mística.
Exemplo:
o manípulo, inicialmente, era um paninho utilizado pelos que trabalhavam na
igreja para enxugar as mãos. Há seis ou sete séculos que não se o utiliza mais
para aquele fim original; no entanto, a Igreja continua a usa-lo para lembrar
seus ministros que devem trabalhar e sofrer para merecer a devida recompensa
(Ut recipiant mercedem laboris).
P40.
Qual a quarta razão? Exemplifique.R. Às vezes um uso
estabelecido anteriormente por uma razão de conveniência foi substituído por
razão simbólica.
Exemplo:
até o final do século IX, quando o diácono cantava o Evangelho, voltava-se para
o Norte, onde se encontravam os homens, porque convinha anunciar-lhes a palavra
santa preferivelmente às mulheres, que se achavam no lado oposto. Porém, desde
o final daquele século, em algumas igrejas, o diácono voltava-se ao Norte,
mesmo sem a presença masculina, por uma razão puramente espiritual, que será
exposta mais adiante.
P41.
Qual a quinta razão? Exemplifique.R. As vezes uma
razão baseada no asseio fez desaparecer um costume introduzido anteriormente,
como um símbolo de pureza interior.
Exemplo:
Na Igreja grega o sacerdote lava as mãos no início da Missa, enquanto que na Igreja
latina ele as lava também antes da oblação. "Este uso havia desaparecido,
diz S. Cirilo de Jerusalém, não por necessidade, pois os sacerdotes se lavam
antes de entrar na Igreja, mas para salientar a pureza interior que convém aos
santos mistérios".Posteriormente, segundo S. Amalrico e a Sexta Ordem
Romana, o bispo e o sacerdote lavavam as mãos entre a oferenda dos fiéis e a
oblação do altar pois poderiam conter vestígios de pão comum distribuído aos
leigos; e, como segundo esta ordem se incensavam as oblações, estabeleceu-se em
fim a ablução dos dedos, após esta operação para maior asseio, sem abandonar,
porém, a razão espiritual primitiva.
P42.
Qual a sexta razão? Exemplifique.R. Há usos que
sempre tiveram razões simbólicas e místicas. Alguns põem em dúvida que elas
tenham sido assim desde o princípio; porém será fácil nos persuadirmos disto,
se considerarmos que os primeiros cristãos tinham sempre por objetivo elevar
suas almas e seu pensamento aos céus, que neles tudo era simbólico, e que, como
os sacramentos foram instituídos sob símbolos, eles se acostumaram a
espiritualizar todas as coisas, como vemos nas epístolas de S. Paulo, nos
escritos de S. Bernardo, de S. Clemente, de Justino, de Tertuliano, de
Orígines, etc.
Exemplo:
S. Paulo dá razões místicas ao povo, quanto ao costume seguido pelos homens nas
igrejas, de rezar com a cabeça descoberta; o mesmo acontece com as explicações
dos santos padres sobre as razões de S. Paulo.
Outro
exemplo: Por razão simbólica, também, durante muitos séculos os novos batizados
se trajavam de branco, indicando a inocência. Assim aconteceu com Constantino
que cobriu seu leito e revestiu seu quarto de branco depois de ter recebido o
batismo.
Mais
um exemplo: quando os primeiros cristãos se voltavam para o Oriente para rezar,
era porque viam o Oriente como a figura de Nosso Senhor Jesus Cristo; e, quando
rezavam em lugares elevados e bem iluminados, era porque a luz exterior
representava o Espírito Santo, como nos diz Tertuliano (Lib. adv. Valent, c.
3).
Ainda:
Todas as cerimônias que precedem ao batismo são outros tantos atos simbólicos.
S. Ambrósio, que as explica para os que se preparavam para receber o
sacramento, diz que se faz com que os catecúmenos se voltem para o Ocidente,
para indicar que renunciam as obras de Satanás e as resistem de frente, e que,
em seguida, voltam-se ao Oriente para olhar a Jesus Cristo, a verdadeira luz.
P43.
Qual a postura recomendada para a oração na Missa durante os quatro primeiros
séculos?R. Recomendava-se a rezar em pé nos
domingos e em todo o tempo pascal, e Tertuliano diz que era uma espécie de
falta rezar de joelhos e jejuar em tais dias (Die dominico jejunium nefas
ducimos vel de geniculis adorare, Tertuliano, Lib. de Cor., c. 3).
P44.
Houve alguma recomendação conciliar sobre tal postura?R. Sim. Sobre tal postura o primeiro Concílio geral
estabeleceu até uma lei no cânon 25, e S. Jeronimo e Sto. Agostinho, apesar de
ignorarem este cânon, falavam do referido costume sempre com muita veneração.
Para S. Jeronimo, tratava-se de tradição com força de lei e Sto. Agostinho
somente colocava em dúvida, se ele era seguido em todo o orbe católico.
P45.
Qual a origem desse costume segundo alguns doutores?R. Sto. Hilário, S. Basílio, Sto. Ambrósio, e
muitos outros doutores, julgavam que o costume de rezar em pé nos domingos e no
tempo pascal provinha dos apóstolos; porém os cânones e os Concílios, e todas as
obras antigas que encontramos sobre isso, apresentam razões místicas.
P46.
Que razão mais adequada podemos encontrar naquele costume?R. Segundo S. Jeronimo, os fiéis assim procediam
para honrar a ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo pois, eretos, demostravam
a esperança que tinham de participar da sua ressurreição e ascensão (Nec
curvamur, sed cum Domino coelorum alta sustullimur, S. Jeronimo, Prol. In Ep.
Ad Ephes.).
P47.
Por que devemos penetrar nas razões e origens misteriosas dos costumes que
envolvem as cerimônias da Missa? R.
Porque afastarmo-nos de tais razões e origens seria um afastamento do espírito
e dos objetivos da Igreja, que claramente pede aos seus filhos que se apliquem
a penetrar nos mistérios que envolvem as cerimônias.
P48.
Há algum exemplo concreto desse desejo da Igreja?R.
Sim, como prova a oração que se lê nos antigos sacramentais, repetida todos os
anos na cerimônia da benção das palmas: "Fazei, Senhor, que os corações
piedosos dos vossos fiéis compreendam com fruto o que significa misteriosamente
esta cerimônia".
5
- Objetivos e Esquema deste Catecismo
P49. Quais são os objetivos deste
Catecismo?R. O objetivo deste Catecismo é de
formar um conjunto de ensinamentos que conserve o texto da liturgia, que
explique suas cerimônias e que auxilie os fiéis a saborear por si próprios o
sentido da oração pública, a amar sua majestosa sensibilidade, e fazer brotar
dela todos os princípios e sentimentos que ela encerra.
P50.
Qual é o esquema geral deste Catecismo para atingir seus objetivos?R. Para melhor conseguir seus objetivos, este
Catecismo seguirá um plano geral dividido em duas partes, como segue:
A
- Primeira Parte: Instruções Preliminares sobre o Santo Sacrifício da Missa e
as Preparações Prescritas para oferecê-lo.
B
- Segunda Parte: Explicação das Orações e Cerimônias da Santa Missa.
P51.
Em linhas gerais, de que trata a Primeira Parte deste Catecismo? R. A Primeira Parte é constituída de onze
Capítulos, apresentando:
A
sublimidade e a excelência do sacrifício da nova lei e suas relações com todo o
culto público;
A
necessidade, o valor e os frutos da Santa Missa;
A
celebração da santa liturgia através dos séculos, desde Jesus Cristo até a o
Novo Ordo Missalis Romani* (imposto por Paulo VI em 1970), verificando tanto a
tradição como os documentos oficiais promulgados pela Igreja;
O
material utilizado no serviço divino;
A
imensa preparação que o precede;
Os
sentimentos que a Igreja exige do sacerdote que o celebra e dos fiéis que o
acompanham.
* O
caráter histórico da obra em que se baseia este Catecismo exime qualquer
adaptação ao Novo Ordo de 1970.
P52.
De que trata a Segunda Parte?R.
A Segunda Parte deste Catecismo, constituída de seis Capítulos, expõe:
Palavra
por palavra e rito por rito de todo o conteúdo do Ordinário da Missa;
Explicação
própria para instruir os fiéis bem como para nutrir sua piedade;
A
relação palpável entre as orações e as cerimônias do altar com o que aconteceu
no Cenáculo e no Calvário, e o que se verifica no sublime altar do Céu.
Instruções
preliminares sobre o Santo Sacrifício da Missae as preparações prescritas para
oferecê-lo
Da excelência do Sacrifício da Missa, e suas relações com toda a religião e
com o culto
P53.
Qual é o maior e o mais central culto da Igreja católica?P. O maior e o mais central culto da Igreja
católica é a oblação do corpo e do sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, sob as
espécies do pão e do vinho, que constituem o sacrifício da Missa.
P54. Por que a Missa é o maior e o
mais central culto da Igreja católica?R.
Porque na Missa, não só imolamos a Deus eterno, vivo e verdadeiro, que a
revelação nos fez conhecer e adorar perfeitamente, mas também porque neste
sacrifício temos o próprio Deus por sacerdote e por vítima.
P55. Que mais encontramos reunidas no
santo sacrifício da Missa?
R.
Encontramos reunidas todas as grandezas da pessoa de Jesus Cristo:
· seu poder como Deus;
· seu estado de imolação como homem;
· vivo, para interceder por nós;
· sob os símbolos da morte para nos aplicar o preço dos seus padecimentos;
· pontífice santo e sem mancha, mais elevado que os céus;
· cordeiro imolado, cujo sangue correrá até a consumação dos séculos, para
lavar todos os pecados;
· sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque com um sacerdócio eterno;
· oblação pura oferecida desde o ocaso até a aurora;
· pontífice e vítima convenientes à santidade de Deus.
P56.
Além das grandezas da pessoa de Cristo, que outros benefícios relativos a Nosso
Senhor a Missa nos propicia?
R.
A Missa, já tão excelsa por quem a oferece e a quem é oferecida, renova todos
os prodígios da vida do Salvador e revive a história solene dos seus mistérios
e da sua doutrina, todos os dias.
P57. Como a Missa nos apresenta o
mistério da encarnação do Verbo?R.
Através da Fé contemplamos o Filho de Deus no altar, concebido no segredo do
santuário pela mesma potestade, como nos esplendores da eternidade, encarnado
pela sua fecunda palavra nas mãos do sacerdote, como no seio de Maria.
P58. Que virtudes de Nosso Senhor a
Missa nos lembra, seguindo sua vida?R.
A Missa nos renova as seguintes virtudes que acompanharam a vida de Nosso
Senhor:
1 - a obediência e as virtudes de sua vida oculta;2 - a misericórdia e toda a
bondade do seu ministério público;
P59. Que méritos a Missa aplica aos
fiéis dos últimos acontecimentos da vida de Cristo?
R. A Missa aplica aos fiéis:
1 - o preço do seu sangue derramado na sua paixão e morte;2 - a glória e a vida
nova da sua ressurreição, por meio da oferenda do seu corpo imortal e a benção
da sua ascensão.
P60. Que relação há entre a Missa e a
ascensão de Nosso Senhor?R. Assim como Nosso Senhor subiu da
Terra aos céus, assim também do altar sublime da Igreja sobe ao altar sublime
do céu a oferenda santa, que é o próprio corpo e sangue de Cristo. Do alto dos
céus, e na Missa, Nosso Salvador difunde graças, luz (entendimento da verdade)
força e santidade em nossas almas.
P61. A Missa nos lembra também o
juízo final?R. Sim, trazendo-nos as primeiras
palavras da sentença do último dia pela separação antecipada do fiel e do
infiel, apresentando um pão que dá a vida eterna ao justo, e o juízo e
condenação ao pecador.
P62. Em resumo, o que nos deixou
Cristo na Missa?R. Aos que o temem, Cristo deixou uma
lembrança das suas maravilhas cheia de misericórdia e bondade (Sl 110)
P63. Que contemplamos no santo
sacrifício da Missa?R. Neste santo sacrifício contemplamos,
com o sacerdote mais santo e a vítima mais digna, com a renovação de todos os
mistérios e a contínua pregação da doutrina de Cristo, o livro mais perfeito da
moral evangélica, e a lição mais sublime da santidade necessária a um cristão.
P64. Que vemos na Missa?R. Na Missa vemos um Deus infinitamente adorável a
quem devemos o sacrifício, e formamos do Senhor a idéia mais justa que se possa
conceber, pela excelência do dom que a Ele se apresenta.
P65. Há na Missa referências ao
Antigo Testamento?R. Sim. O segredo de quatro mil anos de
promessas e de profecias se revela aos nossos olhos; a verdade sucede à sombra,
a plenitude dos tempos se desenvolve com a abundância da graça, um manancial
puro que, reluzindo da cruz, atinge a vida eterna, dando nascimento e
ressurreição, força e alento, saúde e santidade aos cristãos de todas as
idades.
P66. Esta fonte de graças vindas da
cruz só se aplica ao Novo Testamento?R.
Não. Esta fonte de graças surgida da cruz, como um sol, alcança os primeiros
dias do mundo para santificar todos os eleitos, e da cruz ainda estende sua luz
e calor até a consumação dos séculos, para salvar todos os filhos de Deus.
P67. Que afirmou Tertuliano sobre a
Missa?R. Tertuliano, um dos padres da Igreja,
disse que a Missa, mais que um banquete de religião, é uma escola de todas as
virtudes, apresentando aos fiéis o grande exemplo de imolação contínua de um
Deus, para incentivá-los em todos os deveres e ampará-los em todos os
sacrifícios, ainda com a participação da vítima que neles se incorpora pela
comunhão.
P68. Em que culto da Igreja
encontramos a união mais íntima com Deus?R.
Na celebração do santo sacrifício da Missa, porque nela encontramos a mesa onde
todos podemos comer ( Heb 13) o alimento que é o próprio Deus, e nela há,
ainda, a união mais desejada pelos homens entre si, pois todos, sem distinção,
podem sentar-se à mesma mesa, como filhos de um mesmo pai.
P69. Haveria algum outro sacrifício
equivalente?R. Não, porque não há outro sacrifício
tão sublime como a Missa em que, com Deus, se oferece a um Deus por um
sacerdote Deus; em que cada ato da oblação recorda a doutrina de um Deus e a
santidade que ela exige, bem como a religião deste Deus em toda a sua extensão
com todos os meios de santificação.
P70. Que visão do Antigo Testamento é
figura da Missa?R. A Missa é, na realidade, aquela
escada misteriosa que Jacó viu em sonhos (Gen 28, 12), em que uma extremidade
tocava a terra e a outra atingia o céu, na qual subiam e desciam os anjos e,
principalmente, o Santo de Deus, o Anjo de Deus por excelência, o Mediador
Supremo, para levar ao Senhor nossos votos e sacrifícios, e para nos trazer sua
graça e sua benção.
P71. Que representa ainda a Missa?R. A Missa é uma imagem antecipada do céu; nela se
adora o mesmo Deus; em seu santuário se reúnem seus filhos: nela vemos o mesmo
que é visto no céu, as orações, os cânticos, os perfumes; anjos circundando o
altar, santos que o sustentam, toda a Igreja, toda a cidade de Deus oferecida
por Jesus Cristo e unindo-se a Deus. Numa palavra, Deus presente ainda que
coberto por véus, o mesmo Deus que veremos face a face, Deus convertido em
manjar sob a aparência de um pão que já não mais existe, o mesmo que nos
confortará eternamente com sua glória pela verdade e felicidade.
P72. Podemos, então, dizer que o
santo sacrifício da Missa transforma nossas igrejas em céu?R. Sim, porque nele o divino cordeiro é imolado e
adorado no templo como no-lo apresenta S. João no meio do santuário celestial.
P73. Os anjos também participam da
adoração do cordeiro imolado na Missa, como eles o adoram no céu?R. Sim; os espíritos bem aventurados, sabedores do
que se opera em nossos altares, deles se aproximam para assisti-los com o temor
inspirado pelo mais profundo respeito.
P74. A Igreja admite a presença dos
anjos na Missa?R. Sim, a Igreja admitiu sempre e tanto
esta verdade que S. Crisóstomo não duvidava em dizer: "Que fiel poderá
duvidar que, à voz do sacerdote no momento da consagração, o céu se abre e os
coros dos anjos descem para assistir ao mistério de Jesus Cristo, e as
criaturas celestes e terrestres, visíveis e invisíveis, se reúnem em tão solene
instante?".
P75. Então, fazemos nas igrejas, o
mesmo que os santos fazem continuamente no céu?R.
Sim, nós adoramos a vítima santa e imolada nas mãos do sacerdote, e todos os
santos adoram no céu esta mesma vítima, o Cordeiro sem mancha representado em
pé, porém como sacrificado*, em sinal da sua imolação e da sua vida gloriosa.
* Agnum stantem quasi occisum (Apoc. 5, 6).
P76. Rezamos na Missa como os santos
rezam nos céus?R. Sim. Todas as orações e todos os
méritos dos santos se elevam dos altares das igrejas ao trono de Deus, como um
suave e agradável perfume; assim expressou-se S. João no Apocalípse (8, 3-4) ao
descrever um anjo, com um turíbulo de ouro na mão e junto ao altar, de onde se
elevavam a Deus as orações dos santos.
P77. Por que incensa-se o altar?R. Incensa-se o altar como um sinal visível das
adorações e súplicas a Deus, feitas por todos os santos que estão na terra ou
na glória eterna.
P78. Que conclusões deduzimos destas
verdades da Missa?R. Entendendo estas verdades da Missa,
podemos concluir que a Missa é:
a - o centro do culto religioso da Igreja, pois reúne tudo o que se relaciona
com a religião;b - o ponto de apoio em que se unena cruz o homem com seus
destinos gloriosos;c - o ponto de partida de onde nos vêm, como da cruz, a
graça com todos os meios de salvação.
P79. Que considerações piedosas nos
vêm à alma ao passarmos diante de inúmeras igrejas?R. Ao passarmos diante de majestosas catedrais ou
basílicas, ou mesmo diante de simples igrejas e capelas, lembramos que todas
elas foram erguidas pela fé católica através dos séculos, para nelas se
oferecer o santo sacrifício da Missa. A cruz que as encima é o sinal da
imolação que nelas se perpetua, e os altares nelas erigidos são para depositar
a vítima sagrada.
P80. Tudo o que vemos nas igrejas se
relaciona ao santo sacrifício do altar?R.
Sim, tudo que há nas igrejas se relaciona à Missa. Assim, por exemplo:
1 - a pia batismal e de água benta e os confessionários nos lembram que devemos
lavar nossas mãos com os justos ( Sl 20, ...) para entrar no santuário;2 - a
cátedra e o púlpito nos instruem e exortam ao sacrifício;3 - a mesa da
comunhão, que separa o presbitério da nave, onde recebemos a Hóstia Santa;4 -
os tecidos que revestem o altar, os paramentos dos sacerdotes, a luz das velas,
o incenso que se eleva, a disposição dos bancos e genuflexórios, tudo fala do
sacrifício, tudo é para o sacrifício.
P81. Os Sacramentos também se
relacionam com a Missa?R. Sim e do seguinte modo:
1 - o Batismo: dá o direito de assistir a Missa e de receber a sagrada Hóstia;2
- a Penitência ou Confissão: repara aquele direito perdido ou debilitado;3 - a
Eucaristia: se realiza e é distribuída na Missa;4 - o Crisma ou Confirmação:
fortifica o fiel para a união misteriosa da comunhão e o fortalece para sua
imolação moral e contínua;5 - a Extrema Unção: durante a celebração da Missa o
sacerdote benze o Óleo Santo para os enfermos e para outras unções;6 - a Ordem:
perpetua o sacerdócio;7 - o Matrimônio: recebe na Missa sua ratificação e
benção particular.
P82. Há relação entre os Ofícios
Litúrgicos e a Missa?R. Sim, os três Ofícios se relacionam à
Missa. Assim :
1 - o Ofício da Noite: serve de preparação remota para o sacrifício;2 - o
Ofício da Manhã: serve de preparação imediata;3 - o Ofício da Tarde: serve de
conclusão e de ação de graças.
P83. Como podemos resumir a relação
entre a Santa Missa e a igreja, local da sua celebração?R. Assim como na Missa se reúnem as maravilhas e as
graças de Deus, assim a igreja reúne na Missa todo o objeto e fruto da sua
celebração.
P84. Que prescrição impôs o Concílio
de Trento aos sacerdotes quanto ao ensinamento da Missa aos fiéis?R. O Concílio de Trento, com alta sabedoria,
ordenou aos sacerdotes a explicar com freqüência os mistérios da Missa e o que
nela se lê, para que os fiéis sejam instruídos na verdade dos seus mistérios e
no sentido das suas orações e cerimônias, objetivo deste Catecismo.
Instruções preliminares sobre o Santo
Sacrifício da Missae as preparações prescritas para oferecê-lo
CAPÍTULO
II
Do
sacrifício da Missa em geral e da sua necessidade
P85.
Que laços unem os homens a Deus?R.
Dois laços nos unem a Deus:1 - o ser criatura de Deus;2 - a religião.
P86. Explique o primeiro laço que nos
liga a Deus.R. O primeiro fator que nos liga a Deus
é o de sermos criatura ¾ e isto é um fator necessário e sem nosso mérito:
trata-se da relação de causa e efeito, ou seja do Criador e de sua criatura.
Neste sentido, todo o universo está incluído e tudo canta a glória do Criador,
tudo proclama sua sabedoria, seu poder e sua bondade.]
P87. Explique o segundo laço que nos
liga a Deus.R. O segundo fator que nos liga a Deus
é a religião. Dentre todas as criaturas, o homem é a única dotada de corpo com
alma imortal, com inteligência e livre arbítrio, que pode se oferecer a Deus
por meio da oblação voluntária de seus pensamentos e da sua vontade.
P88. Que é religião?Denominamos religião a determinação da vontade
livre do homem, iluminada pela sua inteligência, do reconhecimento dos seus
deveres de criatura para com seu Criador, de fé e de obediência às suas leis,
de adoração e amor a Ele devidos, do agradecimento a todos os benefícios
recebidos e do arrependimento pelos pecados cometidos. O homem manifesta toda
esta disposição de união com Deus através de atos íntimos ou públicos,
denominados cultos religiosos.
P89. Que é culto religioso?R. É a expressão pública da religião através de
cerimônias instituídas e celebradas pela Igreja, instituição fundada pelo
próprio Cristo Nosso Senhor.
P90. Como o homem manifesta sua
determinação religiosa? R. O homem manifesta sua
determinação religiosa principalmente através do sacrifício. Como o homem é
composto de corpo e alma, o sacrifício individual pode ser pode ser interior ou
exterior, e manifestado publicamente através de ação pública.
P91. Em que consiste o sacrifício
espiritual ou interior?R. O sacrifício espiritual, ou
interior, consiste no oferecimento e imolação da própria alma a Deus, pois Deus
é puro espírito e quer ser adorado em espírito.
P92. Em que consiste o sacrifício
material ou exterior?R. O sacrifício material, ou exterior,
consiste no oferecimento e imolação do próprio corpo a Deus, como
reconhecimento e homenagem da criatura ao Criador, demonstrando, assim, as
disposições interiores de gratidão e dependência para com a Divina Majestade.
P93. Por que é necessária a oblação,
ou oferenda, material ou externa?R.
Porque o sacrifício exterior do corpo ou dos bens que a providência nos colocou
à nossa disposição é um sinal sensível da oblação íntima de nós mesmos. Sem
esta imolação íntima ele seria um sacrifício vazio e inútil. Assim, através do
sacrifício exterior, manifestamos a íntima união do corpo e da alma, penetrados
do espírito de adoração devido ao nosso Criador.
P94. Em que consiste a ação pública
do sacrifício?R. É a demonstração pública dos
sacrifícios internos e externos que a sociedade presta a Deus. Como o homem
vive em sociedade é natural que esta também manifeste este sacrifício interior
e exterior dos seus membros, unidos na mesma ação pública.
P95. Qual é a finalidade desta ação
pública?R. A finalidade da ação pública,como
manifestação de sacrifício ao Criador, é de reunir os homens nos testemunhos
que prestam a Deus, da sua servidão e do seu amor, em nome da sociedade.
P96. O que é sacrifício?R. Sacrifício é a oblação exterior de uma coisa
sensível, feita somente a Deus por um ministro legítimo ( sacerdote), com
destruição, consumação ou mudança da mesma, como reconhecimento do soberano
domínio de Deus, e para as demais finalidades ao que o mesmo sacrifício é
oferecido.
P97. Explique esta definição.R. Para haver sacrifício é necessário:1 -
sacerdote: celebrante legítimo, consagrado a Deus, como intermediário entre
Deus e os homens;2 - feito a Deus : a quem se deve adoração e toda a
dependência;3 - a oblação: ato de renúncia ao domínio de um determinado bem
relativo, que podemos normalmente usufruir;4 - destruição, consumação, ou
mudança da matéria oferecida: como a imolação de um animal, a efusão de um
licor, a evaporação de um perfume, para:5 - reconhecer, atestar e publicar por
meio desta renúncia exterior do domínio do uso, o domínio soberano de Deus, a
quem pertence a propriedade real.
P98. O que significa destruição ou
mudança da vítima?R. Por destruição ou mudança da vítima
reconhecemos o direito de vida ou morte que Deus tem sobre nós, ou seja, a
morte que merecemos pelo pecado, e a obrigação de nos imolarmos e de nos
dedicarmos totalmente ao seu amor e ao seu serviço.
P99. Qual é a finalidade primordial
da oblação?R. A finalidade primordial da oblação é
o reconhecimento da absoluta dependência da criatura ao Criador, denominada
sacrifício de adoração ou de latria.
P100. Quais as finalidades
secundárias da oblação?R. As finalidades secundárias, embora
de grande utilidade e importância, da oblação são:1 - agradecer a Deus pelos
benefícios dele recebidos;2 - pedir perdão pelas nossas culpas;3 - implorar as
graças de que necessitamos. Sob estes diversos aspectos, há o sacrifício
eucarístico, ou de ação de graças, propiciatório (aplacar a justiça divina) e
impetratório (súplica a Deus).
P101.
Há outras formas de sacrifício?R.
Sim; por extensão, chamamos também de sacrifício, as orações, as esmolas, a
obediência, as boas obras, a dor pelos pecados cometidos porque, de certa forma
através delas, fazemos uma oblação a Deus por todos estes atos de religião.
P102. Há nas Sagradas Escrituras
alguma referência a estas formas de sacrifício?R.
Sim, nas Sagradas Escrituras encontramos inúmeras referências a estas formas de
sacrifício, tais como:1 - "Oferece ao Senhor sacrifícios de justiça"
(Sl 4, 6);2 - "Oferece a Deus um sacrifício de louvore paga ao Altíssimo
os teus votos" (Sl, 49, 14);3 - "Um coração despedaçado pelo arrependimento
é o sacrifício que agrada a Deus e que Ele jamais desprezará"(Sl, 50, 19
);4 - "É um sacrifício saudável observar os mandamentos" (Eccl. 35,
2);5 - "A obediência é melhor que as vítimas dos insensatos" (Eccl.
4, 17 );6 - "Não esqueceis a esmola e a beneficência porque Deus se aplaca
com estas hóstias" (Heb. 13, 16).
PRIMEIRA
PARTE
Instruções preliminares sobre o Santo Sacrifício da Missae as preparações
prescritas para oferecê-lo
CAPÍTULO III
Os
sacrifícios antigos no tempo dos Patriarcas, na Lei Mosaica e os sacrifícios
dos pagãos
P103.
Quais seriam os deveres religiosos do homem no estado de inocência, antes do
pecado de Adão?R. Os deveres religiosos do homem
naquele estado seriam:1 - Adorar a Deus como seu Senhor, soberano e absoluto;2
- Manifestar seu reconhecimento a Deus como seu Criador e autor absoluto de
todos os seus bens, e manter sua vida numa perpétua ação de graças, para que
Ele conserve e aumente seus benefícios, a cada dia; 3 - Implorar a Deus graças
e auxílio com oração humilde, fervorosa e perseverante.
P104.
Que afirmou Sto. Agostinho sobre os deveres religiosos dos homens se tivessem
perseverado naquele estado de inocência?R.
Nesta hipótese, sem mancha de pecado, Sto. Agostinho afirmou que os homens
deveriam se oferecer a Deus, como vítimas puras (Cidade de Deus, 1. I, c. 26).
P105.
Que conseqüências derivaram do pecado original sobre aqueles deveres religiosos
dos homens para Deus?R. Desde que o pecado nos despojou dos
nossos privilégios originais, tornou-se necessário acrescentar, àquelas grandes
obrigações religiosas, a obrigação de apaziguar a justiça divina, ultrajada por
nosso orgulho e nossa ingratidão, bem como de conhecer mais profundamente nossa
miséria e nossa contínua dependência dos socorros celestes, em todas as nossas
necessidades espirituais e materiais.
P106.
Quais são, portanto, as finalidades do sacrifício após a queda do homem?R. Após o pecado original, as finalidades do
sacrifício a Deus são:1 - adorá-lo;2 - agradecer as graças recebidas;3 -
implorar a remissão dos pecados;4 - implorar sua benção.
P107.
Por que o homem, após a queda, edificou templos para imolar as vítimas do
sacrifício?R. Porque, no estado de degradação e
de miséria em que se encontrou devido ao pecado original, o coração do homem
não podia mais servir de altar e vítima. Assim, incapaz de reparar o pecado,
apesar da penitência feita, foi preciso pedir à natureza um templo, ou
edificá-lo mediante ordem expressa, para sacrificar suas vítimas.
P108.
Por que a vítima era imolada sobre uma pedra?R.
Porque uma pedra fria, e sem adornos, era menos indigna que o coração do homem,
para sustentar a hóstia de propiciação.
P109.
Por que se utilizavam outros elementos materiais nos sacrifícios?R. Simples elementos da natureza, como o sangue de
animais, deviam substituir, exteriormente no holocausto, os pensamentos e os
afetos do homem culpável, e extrair o mérito da grande vítima do mundo que
representavam, bem como a fé dos sacrificadores, elevada à esperança do
cordeiro de Deus.
P110.
Que nos diz S. Paulo sobre o holocausto destas hóstias ineficazes pela sua
própria natureza?R. S. Paulo nos diz que tais hóstias
eram utilizadas como perpétua lembrança da impotência e da nulidade dos homens,
imposta até o tempo fixado para o grande restabelecimento, e abolido na
plenitude dos tempos, quando apareceu Jesus Cristo oferecendo-se, a si mesmo,
em sacrifício, dando ao homem o direito de unir-se a Deus, não somente com um
coração puro, como no dia da inocência, como também com um coração redimido,
que apresenta um Deus como vítima de adoração, de expiação e de ação de graças.
P111.
Antes da vinda de Cristo, que era oferecido a Deus como vítima do sacrifício a
Ele devido?R. Como conseqüência da degradação do
homem, que não podia oferecer seu coração no altar, a não ser unindo-o a rudes
e impotentes símbolos da natureza, até que viesse o cordeiro de Deus, imolado
em promessa e em figura (Apoc. 13), desde a origem do mundo, houve as seguintes
ofertas: 1 - Abel oferece o melhor cordeiro do seu rebanho e, Caim, os frutos
da terra que cultiva;2 - Noé, ao sair da arca, oferece pássaros e animais;3 -
Melquisedeque, sacerdote e rei de justiça e de paz, oferece ao Senhor pão e
vinho no altar de Deus dos exércitos, para distribuí-lo aos soldados
vitoriosos;4 - Abraão e os patriarcas imolam hóstias solenes, conforme o número
de famílias e das tribos.
P112.
Por que Deus mandou que Abraão sacrificasse seu próprio filho?R. Para mostrar, de uma vez por todas, até onde vai
o Seu direito nos sacrifícios que Ele exige das suas criaturas, e até onde
chegará um dia a misericórdia divina, o Senhor manda Abraão imolar Isaac, seu
único filho, se bem que se contente com a obediência do santo patriarca, e
aceita a imolação de um cordeiro em seu lugar.
P113.
A noção da necessidade de sacrifício a Deus era prerrogativa só dos judeus?R. Não; mesmo os povos que se esqueceram de Deus,
da sua fé e do seu culto, para prostituir seus corações na idolatria,
conservaram sempre, e por toda parte, a oblação dos sacrifícios, como um dogma
primitivo.
P114.
Que diz Sto. Agostinho sobre o sacrifício dos pagãos?R. Sto. Agostinho diz que, se os homens puderam se
enganar sobre a unidade e natureza de Deus, não se enganaram neste ponto da
religião; se suas falsas divindades exigiam, com orgulho, uma profusão de
vítimas, era porque o demônio sabia que se devia oferecê-las ao verdadeiro
Deus; e se as imolações dos gentios foram ridículas e bárbaras, como os
sacrifícios humanos, foi porque era necessário acomodá-las às extravagâncias e
às desordens da teogonia pagã.
P115.
O sacrifício físico da vida do homem poderia aplacar a justiça divina?R. Não, porque, como a ofensa é proporcional ao
ofendido, o homem sendo criatura, portanto contingente, jamais poderia aplacar
a ofensa feita ao seu Criador, eterno e infinito.
P116.
Então, só Deus poderia aplacar sua justiça devida ao pecado do homem?R. Sim; através da morte de Nosso Senhor Jesus
Cristo, Homem Deus, Cordeiro de Deus, como canta a Igreja, contenta-se Deus com
a imolação moral do homem, e das suas paixões, aceitando-a com misericórdia
quando unida ao sacrifício do seu Deus.
P117.
Deus exigiu explicitamente sacrifícios do povo eleito?R. Sim, quando o Senhor, elegendo para seu povo os
filhos de Israel, os separou das nações idólatras, para conservar sua aliança e
suas promessas, estabeleceu, nos mandamentos ditados a Moisés, a sucessão e a
perpetuidade do sacerdócio de Aarão, a forma do seu tabernáculo, o lugar do seu
templo, o número de vítimas e os ritos de cada oblação.
P118.
Que ordenou Deus ao seu povo, durante a caminhada no deserto em direção à terra
prometida, após o jugo egípcio?R.
Deus ordenou que cada família imolasse e comesse um cordeiro, observando várias
cerimônias simbólicas, e que assinalassem suas moradas com o sangue do cordeiro
pascal, e renovassem esta imolação solene de ano em ano.
P119.
Até quando durou este rito?R.
Este rito vingou até a última páscoa, quando Jesus ceou com seus discípulos, e
em que instituiu o verdadeiro Cordeiro Pascal, ou seja, seu sangue e seu corpo,
cuja aplicação por nossas almas, nos livra da escravidão do pecado, e nos faz
obter o céu, verdadeira terra prometida aos filhos de Deus.
P120.
Quando começou o sacerdócio da tribo de Levi, escolhida por Deus, para oferecer
os sacrifícios?R. Desde o sacrifício geral da nação
ordenado por Deus, em que Ele estabeleceu que se multiplicasse o número de
vítimas, devido à própria imperfeição das oblações, para atender, quanto
possível, os fins do sacrifício, e para representar os méritos super abundantes
da hóstia única que deveria, posteriormente, substituí-las.
P121.
Quais eram os sacrifícios sangrentos da lei mosaica?R. Na lei mosaica havia os seguintes sacrifícios
sangrentos:1 - O sacrifício de latria, ou holocausto: nesta imolação a vítima
era totalmente consumida no fogo, como reconhecimento do absoluto domínio de
Deus, prestando-lhe, assim, o culto de latria ou de adoração e dependência;2 -
O sacrifício de impetração ou hóstias pacíficas: esta hóstia eucarística, ou
impetratória, era oferecida para agradecer a Deus por todos os bens recebidos
ou pedir-lhe graças, para a vida, a saúde, a paz, etc.3 - O sacrifício de
propiciação pelo pecado: instituído para expiar as faltas cometidas e obter o
correspondente perdão. Era oferecido por particulares, pelos sacerdotes, ou por
todo o povo; e, quando oferecido por toda a nação, como sacrifício único, além
de se retirar o sangue das vítimas no Santo, sobre o altar dos perfumes e dos
holocaustos, faziam-no no Santo dos Santos, como figura que o sangue de Cristo
se apresentaria ao céu, abrindo-nos, assim, suas portas.Cada uma destas
oblações eram cheias de símbolos e de esperanças.
P122.
Que era o Santo dos Santos?R.
Assim era denominado o local do Templo dos judeus, onde se encontravam o altar
de ouro para o incenso, e a arca da aliança, toda recoberta de ouro, na qual havia
uma urna de ouro que continha o maná, o bastão de Aarão, que tinha brotado, e
as tábuas da aliança. Nesse local entrava somente o sumo sacerdote, uma vez por
ano, levando o sangue que ele oferecia por si mesmo e pelos pecados que o povo
cometera por ignorância (Heb 9, 3-7).
P123.
Havia sacrifícios incruentos na Antiga Lei?R.
Sim, havia, também, os seguintes sacrifícios incruentos na Antiga Lei:1 - A
oferenda da flor de farinha, misturada ao azeite e incenso, queimada no altar
dos holocaustos;2 - O sacrifício do bode expiatório: na festa da expiação
solene o povo apresentava dois bodes, embora um fosse degolado, o outro era
oferecido vivo. O sacerdote impunha suas mãos na cabeça da vítima, confessava
os pecados da nação, carregava-os no animal imundo e lançava-o no deserto.3 - O
sacrifício do pássaro posto em liberdade: para purificar uma casa infestada
pela lepra, tomavam-se dois pássaros puros; imolava-se um num vaso cheio de
água, no qual se vertia seu sangue, e, o outro, era imerso até a cabeça na água
misturada com sangue, com um madeiro de cedro, hissopo e púrpura; após espargir
a água, soltava-se o pássaro puro, livremente.
P124.
Que significavam estes sacrifícios da lei mosaica?R. Facilmente se compreenderá que todas estes
sacrifícios e cerimônias da lei mosaica eram figuras vivas do sacrifício de
Jesus Cristo e dos frutos que deles resultariam aos homens para sua salvação.
P125.
Que méritos havia naquelas oferendas imperfeitas?R.
Embora imperfeitas, todo o mérito daquelas oferendas se baseava na obediência à
ordem divina que as havia prescrito, e na fé e nas disposições interiores dos
que as ofereciam, principalmente na esperança de hóstia perfeita, que tira os
pecados do mundo (Jo 1, 29).
P126.
Como Deus sustentava a fé e a esperança do sacrifício futuro do Seu Filho em
tais oblações?R. Por meio de fortes e expressivas
figuras como a do sacrifício de Isaac, de Melquisedeque, do cordeiro pascal, do
bode expiatório sobre o qual se descarregavam os pecados de todos, e da ave
pura, cujo sangue libertava a outra.
P127.
Que papel tiveram os profetas na expectativa da futura oblação?R. Todos os profetas solenemente anunciavam, de
século em século, a grande vítima que deveria chegar, e clamavam, sem cessar,
contra a impotência das hóstias representativas.
P128.
Que dizia o profeta Davi sobre os sacerdotes do Antigo Testamento?R. Nossos sacerdotes, dizia Davi, são conforme a
ordem de Aarão; sucedem-se e substituem-se quando a morte os arrebata; porém
virá outro pontífice que é o meu Senhor, a quem disse Deus: "Tu és
sacerdote eterno, segundo a ordem de Melquisedeque" (Sl 109, 4).
P129.
Que disse Davi sobre os holocaustos?R.
"Escuta Israel e entende o que diz este celeste pontífice pela boca de um
dos seus enviados: os holocaustos, ainda que ordenados por Vós, Senhor, não
lhes são agradáveis, mas Vós me destes um corpo para Vos oferecer e eu disse:
"eis que eu venho" (Sl, 39, 8).
P130.
Que disse o profeta Malaquias sobre o sacrifício prometido?R. Disse Malaquias: 1 - "A glória do segundo
templo apagará o esplendor do templo erigido por Salomão" porque eu nele
aparecerei para começar meu sacrifício. 2 - Finalmente, eu "não receberei
mais vítimas de vossas mãos; meu nome não só será conhecido na Judéia, mas será
grande entre todos os povos da terra, porque desde o "ocaso até a aurora,
e em todo lugar se sacrifica e se oferece uma oblação pura em meu nome. Parece
que já vejo esta oblação, e os tempos em que ela será oferecida não estão distantes
(Mal 1, 10 -11).
PRIMEIRA
PARTE
Instruções preliminares sobre o Santo Sacrifício da Missae as preparações
prescritas para oferecê-lo
CAPÍTULO IV
Do
sacrifício da Nova Lei, instituído e oferecido por Nosso Senhor Jesus Cristo
P131.
Que significa a expressão "plenitude dos tempos" encontrada nas
Sagradas Escrituras?R. "Plenitude dos tempos"
significa a época em que a espera e a preparação da salvação dos homens fixada
por Deus, está totalmente cumprida. Assim, depois de 4.000 anos de promessas,
de figuras e de profecias, a terra ouviu este feliz anuncio de S. João Batista:
"Eis o cordeiro de Deus, que tira os pecados do mundo" (Jo 1, 29).
P132.
Quando se iniciou o sacrifício da nova lei?R.
Podemos dizer que o sacrifício da nova lei começou no mesmo instante da
Encarnação do Verbo em Maria, ou seja, na Anunciação feita pelo anjo Gabriel,
quando ela lhe respondeu: "Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim
segundo a tua palavra" (Luc. 1, 38).
P133.
Que nos ensina S. Paulo sobre inicio do sacrifício de Cristo?R. Segundo S. Paulo (Heb 10, 5 - 6) Jesus Cristo ao
vir ao mundo aplicou a si as palavras do Salmo 39 e disse a Deus seu Pai:
"Não quisestes hóstias nem oblações. Em vez disso, me destes um corpo. Os
holocaustos não vos agradam, mas unistes à minha natureza divina um corpo no
qual posso padecer e imolar-me à vossa santa vontade, que pede semelhante
vítima; e eu disse: Eis que venho cumprir esta grande vontade, que não só esta
escrita no livro da vossa aliança, com também desde este momento está gravado
no meio do meu coração".
P134.
O nascimento de Cristo foi um prelúdio do seu grande sacrifício?R. Sim. No nascimento do Homem Deus, hóstia já
oferecida para a nossa salvação, ao nada a que se reduz, a privação por que
passa, as lágrimas que derrama, são prelúdios do seu sacrifício final.
P135.
Que figuram o estábulo de Belém e o presépio?R.
O estábulo de Belém figura um templo, e o presépio, um altar; e as lágrimas
deste Deus Menino já teriam sido oblação suficiente para salvar o universo, se
o que bastava para o nosso resgate teria bastado à caridade e à misericórdia do
nosso Deus.
P136.
Quando o Menino Jesus recebe o nome de Salvador, referência direta ao seu
sacrifício?R. Oito dias depois do venturoso
nascimento, o Menino Jesus recebe o nome de Salvador: começa a exercer suas
funções aos olhos dos homens, e, derramando as primeiras gotas do seu sangue,
se obriga, por estas sagradas primícias, a derramá-las abundantemente no altar
da Cruz.
P137.
Que relação há entre a "Apresentação de Jesus no Templo" e o
sacrifício do Calvário?R. O Menino Jesus é conduzido ao Templo
nos braços de Maria, em obediência à Lei; lá é colocado no altar do Deus
verdadeiro e renova a solene promessa de morrer para a salvação do mundo. Eis
aqui a oferenda do sacrifício cuja imolação irá se realizar no Calvário, e sua
participação no Cenáculo e na Missa.
P138.
A vida inteira de Nosso Senhor Jesus Cristo é considerada como oblação?R. Sim. Toda a vida do Salvador, tanto no período
obscuro de Nazaré, como no esplendor do seu ministério, foi uma seqüência desta
oblação: os desejos do seu coração ansiavam, sem cessar, a consagração da
vítima, até que se cumprisse o batismo de dor e de sangue em que devia ser
imerso, para consumar o holocausto e abrasar as almas que se uniram ao seu
sacrifício.
P139.
Como manifestou Nosso Senhor seu desejo pela consumação do seu sacrifício?R. Quando chegou a hora tão ansiada por Ele para
passar deste mundo à mansão de seu Pai celestial, Jesus declara aos seus
apóstolos: "Tenho desejado ardentemente comer convosco esta Páscoa, antes
da paixão"(Lc. 22, 15), porque aquela Páscoa devia ser a última de Israel
segundo a carne, bem como o verdadeiro cordeiro pascal seria substituído para
os verdadeiros filhos de Abraão.
P140.
Por que a última Páscoa, ou última Ceia de Nosso Senhor é marco entre a Antiga
e a Nova Lei?R. Porque na última Ceia, estando à
mesa com seus discípulos, Nosso Senhor observa totalmente o preceito legal
imposto por Moisés, quanto aos alimentos a serem consumidos naquela celebração,
e, após cumprir plenamente ao estabelecido pela Antiga Aliança, institui o
excelso sacrifício da Nova Aliança, ou da Nova Lei.
P141.
Que fez Nosso Senhor, porém, na última Páscoa, pouco antes da instituição do
Novo Sacrifício?R. Nosso Senhor, cingindo-se com uma
toalha derramou água numa bacia, e lavou os pés dos seus discípulos,
enxugando-os com a toalha com que estava cingido. Esta cerimônia ficou para
sempre conhecida como "Lava-pés".
P142.
Que significado tem a cerimônia do Lava-pés, antes da instituição do Novo
Sacrifício?R. O Lava-pés é a preparação próxima e
pública do sacrifício que estava preste a ser instituído, e as palavras
empregadas por Nosso Senhor, cheias de afeto e força, são a instrução que o
precede.
P143.
Que fez Jesus após o Lava-pés?R.
Após o Lava-pés, Nosso Senhor tomou em suas santas e veneráveis mãos o pão e o
vinho:eis aqui a oferenda.
P144.
Como Nosso Senhor instituiu o sacrifício da Nova Lei?R. Segurando o pão e o vinho abençoou-os, deu
graças ao seu Pai Celeste e, com suas bênçãos eucarísticas, ouvem-se estas
palavras pronunciadas pelos lábios de quem criou o céu e a terra: ISTO É O MEU
CORPO, meu corpo dado, entregue e morto por vós; ISTO É O MEU SANGUE, o sangue
da Nova Aliança, derramado para a remissão dos pecados. TOMAI E COMEI; TOMAI E
BEBEI. Eis as palavras da consagração!
P145.
Que fez Nosso Senhor em seguida?R.
Nosso Senhor partiu o pão da vida eterna e o distribui; apresentou o cálice da
salvação e o deu de beber aos seus discípulos. Eis a COMUNHÃO no SACRIFÍCIO.
P146.
Que disse Nosso Senhor após aquelas sagradas palavras?R. Nosso Senhor disse: FAZEI ISTO EM MEMÓRIA DE MIM
(Lc. 22, 19).
P147.
Que afirmou Cristo com tais palavras?R.
Ao pronunciar Fazei isto em memória de mim, Nosso Senhor transmitiu seu próprio
poder aos apóstolos e sucessores, instituindo e estabelecendo a ordem do novo
sacerdócio.
P148.
Em suma, que cerimônias Cristo estabeleceu na última Ceia?R. Na Última Ceia, Nosso Senhor estabeleceu a s
cerimônias da Nova Aliança, ou Nova Lei, também denominada Santa Missa, ou
seja:1 - Com o Lava-pés,a preparação para a consagração;2 - Com a benção do pão
e do vinho, a própria consagração da oferenda;3 - Com a distribuição do pão da
vida e do sangue da salvação, a comunhão.
P149.
Que Sacramentos Cristo instituiu na última Ceia?R.
Na última Ceia Nosso Senhor instituiu dois sacramentos:1 - a Eucaristia; e 2 -
a Ordem.
P150.
Por que a Eucaristia precedeu a imolação de Cristo na Cruz?R. A Eucaristia, sob as espécies de pão e de vinho,
precedeu a imolação de Cristo na Cruz para sustentar a fé dos discípulos.
P151.
Qual a relação entre o sacrifício da Missa e o do Calvário?R. Assim como a Eucaristia precedeu a imolação de
Cristo na Cruz, assim o sacrifício da Missa devia seguir e perpetuar a imolação
do Calvário, como sinal de que o sacrifício de Cristo foi, e sempre será, o
único sacrifício propiciatório, instituído no Cenáculo, consumado no Calvário e
perpetuado nos nossos altares.
P152.
Que nos revela a oblação da Cruz?R.
Na oblação da Cruz, tudo nos é sensível e patente: a escolha da vítima, sua
oferta a Deus pelas mãos do sacerdote eterno e sua imolação sangrenta.
P153.
Que encontramos, ainda, na oblação da Cruz?R.
Esta oblação encerra, ainda, o holocausto de adoração, a hóstia dos pacíficos e
a expiação dos pecados.
P154.
Podemos também ver a realização das figuras dos antigos holocaustos?R. Sim, neste holocausto vemos a verdade das
figuras antigas, como a do pássaro ou ave pura sacrificada para libertar a
outra ave com seu sangue; a do bode expiatóriolançado fora de Jerusalém, com as
prevaricações de todo o povo; o sangue da hóstia levada ao céu, verdadeiro Santo
dos Santos, não feito pelas mãos dos homens; e, no lugar das vítimas prescritas
pela lei, que somente figuravam a salvação sem nunca poder nos dar, temos na
Cruz a única oblação de um Deus que, numa única hóstia, estabelece para sempre
a santificação dos homens (Heb 10, 14), pelo precioso manancial que dela
emanaaté a consumação dos séculos.
P155.
Que conclui S. Paulo sobre este sacrifício da Cruz?R. S. Paulo conclui não ser mais necessário que
Jesus Cristo reitere seu sacrifício sangrento para a remissão dos pecados, como
se reiteravam os sacrifícios da lei mosaica, bastando somente que os atos
repetidos desta oblação, perpetuada na Missa, apliquem seu valor e seus méritos
a cada fiel em particular.
P156.
Que nos ensina, sobre isto, o Concílio de Trento?R.
Baseado na doutrina de S. Paulo, o Concílio de Trento claramente nos ensina:
"Ainda que bastasse Nosso Senhor se oferecer uma só vez ao seu Pai,
unindo-se no altar da Cruz para realizar a redenção eterna, Ele quis deixar à
sua Igreja um sacrifício visível, tal como requer a natureza dos homens, pelo
qual se aplicasse, de geração em geração, para a remissão dos pecados, a
virtude deste sangrento sacrifício, que devia cumprir-se somente uma vez na
Cruz; na última ceia, na mesma noite em que foi entregue, declarando-se
sacerdote eterno, conforme a ordem de Melquisedeque, Ele ofereceu, a Deus Pai,
seu corpo e seu sangue, sob as espécies de pão e de vinho, os deu aos seus
apóstolos, a quem os tornou, então, sacerdotes do Novo Testamento, com estas
palavras: Fazei isto em memória de mim, investindo-os, assim, e aos seus
sucessores, no sacerdócio, para que oferecessem a mesma hóstia" (Sessão
XXII, I).
P157.
Portanto, porque se instituiu o sacrifício da Missa?R. O sacrifício da Missa foi instituído, portanto, para
nos aplicar o preço do sangue derramado na Cruz, para tornar a oblação única de
Jesus Cristo, eficaz e proveitosa para cada um de nós, e para nos comunicar,
pela sua própria virtude, o mérito geral e superabundante da fé e da penitência
que conduzem aos sacramentos, nos quais aperfeiçoamos a justificação que a
graça do altar começou.
PRIMEIRA
PARTE
Instruções preliminares sobre o Santo Sacrifício da Missae as preparações
prescritas para oferecê-lo
CAPÍTULO V
Da
celebração da Missa: da sua instituição aos nossos dias
P158.
Quando foi celebrada a primeira Missa?R.
Ainda que o Filho de Deus seja sacerdote eterno, por decisão que se impôs como
vítima dos homens, tornando-se para sempre pontífice da Nova e Eterna Aliança;
ainda que, de fato, tenha começado o sacrifício com o primeiro batimento do seu
coração, no instante da Encarnação, para cumprir-se na Ceia e no Calvário e
receber sua perfeição nos mistérios da ressurreição e ascensão e na efusão do
Espírito Santo, pode-se e deve-se crer que a primeira Missa foi celebrada no
Cenáculo, à véspera da morte do Salvador.
P159.
Que nos diz a Igreja sobre isto, no prefácio da Missa de Quinta-feira Santa?R. A Igreja nos diz: "Jesus Cristo, verdadeiro
e eterno pontífice, único sacerdote puro e sem mancha, ao estabelecer na última
ceia, com seus discípulos, seu sacrifício verdadeiro e permanente, se ofereceu
primeiro como vítima, ensinando aos seus apóstolos o modo de oferecê-lo".
Eis a idéia que se pode formar desta primeira Missa.
P160.
Que paralelo podemos estabelecer entre o Cenáculo e a Santa Missa?R. Podemos estabelecer o seguinte paralelo:
Cenáculo
Santa Missa
1 - Jesus dirige-se ao Cenáculo: acompanhado dos seus discípulos, chega ao
Cenáculo, onde estava preparada a mesa do sacrifício e da comunhão;
1 - O sacerdote dirige-se ao altar: precedido dos seus ministros, onde tudo
está disposto para o sacrifício da Santa Missa;
2 - Jesus deixa a mesa depois da ceia prescrita pela lei, humilha -se, ao lavar
os pés dos apóstolos, e os manda que se os lavem mutuamente, voltando, depois,
a ocupar o seu lugar à mesa;
2 - O sacerdote desce ao pé do altar: mesmo purificado de faltas graves, para
lavar-se e purificar-se das faltas mais leves, o sacerdote faz a confissão
mútua com os assistentes, subindo, depois, ao altar;
3 - Jesus senta-se à mesa eucarística: instrui seus apóstolos, e lhes dá o
resumo da sua doutrina, dizendo: "Eu vos dei o exemplo para que façais
como eu fiz" (Jo, 13...)
3 - O sacerdote faz no altar a instrução pública e preparatória, com o objetivo
de explanar estes dizeres profundos de S. Justino ( Apol. 2 ...): "Só pode
participar da eucaristia aquele que crê que nossa doutrina é verdadeira, que
recebeu a remissão dos pecados e que vive como Jesus ensina".
4 - Jesus toma o pão e o vinho num cálice, e os abençoa;
4 - O sacerdote toma o pão e o vinho num cálice: eis a oblação, as orações e
bênçãos que a acompanham;
5 - Jesus deu graças, elevando os olhos aos céus: embora os evangelistas não
registrem as palavras de que Jesus se serviu nesta ação de graças, sabemos,
pela tradição, que Ele enumerou os benefícios da criação, da providência e da
redenção, que iriam se concentrar nesta vítima adorável; depois, o Senhor
partiu o pão e o deu aos seus discípulos, dizendo: "isto é o meu
corpo"; em seguido os deu também o cálice, dizendo: "isto é o meu
sangue". Eis a fórmula da consagração: "Tomai e comei, tomai e
bebei"; esta é a Comunhão do Cenáculo.
5 - O sacerdote emprega as mesmas palavras e gestos no Cânon da Missa,
repetindo a fórmula da Consagração.:"Tomai e comei, tomai e bebei".
Esta é a comunhão na Missa.
6 - Jesus pronuncia um hino de reconhecimento.
6 - O sacerdote termina o sacrifício com a ação de graças.
P161. Que fizeram Jesus e os
apóstolos após a Ceia?R. Os apóstolos saíram do Cenáculo com
seu Mestre, e se dirigiram ao Horto das Oliveiras, para serem testemunhas da
renovação e da consumação do grande sacrifício da Cruz, da mesma forma que o
sacerdote se dirige ao santuário, subindo ao altar.
P162. Que paralelo podemos estabelecer
entre a paixão, morte e ressurreição de Cristo e a Santa Missa?R. Podemos estabelecer o seguinte paralelo:
Cenas da Paixão, morte e ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo
Cenas da Missa
1 - Jesus ora no Horto, com o rosto prostrado na terra;
1 - O sacerdote, ao pé do altar, recita o Confiteor, em humilde postura;
2 - Jesus, amarrado, sobe a Jerusalém;
2 - O sacerdote, cingido com todos os paramentos, sobe ao altar;
3 - Jesus foi, de tribunal em tribunal, instruindo o povo, seus acusadores e seus
juizes;
3 - O sacerdote vai de um ao outro lado do altar, para multiplicar e difundir a
instrução preparatória;
4 - Jesus Cristo, assim que sentenciado e despojado de suas roupas, oferece seu
corpo à flagelação, prelúdio da sua execução e morte;
4 - O sacerdote descobre as oblações, retirando o véu que cobre o cálice e a
hóstia, ainda não consagrados, e faz a oferenda do pão e do vinho, que vão ser
consagrados, e cuja substância vai ser consumida;
5 - Jesus é pregado na cruz;
5 - Da mesma forma como Ele se fixa no altar com as palavras da Consagração;
6 - Jesus é suspenso na Cruz, entre o céu e a terra;
6 - Como no momento da Elevação, na Missa;
7 - Jesus expira na cruz;
7 - O sacerdote parte a Hóstia, indicando, sensivelmente, esta morte;
8 - Jesus é colocado no sepulcro;
8 - Na Comunhão, Jesus é colocado no coração do sacrificador e dos cristãos;
9 - Jesus ressuscita glorioso;
9 - A ressurreição é significada pelo lançamento de um fragmento da hóstia
consagrada ( o corpo de Cristo) no cálice que contém o sangue de Cristo, na
hora em que o sacerdote diz a oração “Pax Domini sit semper vobiscum”, fazendo
cinco cruzes sobre o cálice e fora dele. O sacerdote pede o efeito desta vida
nova através das orações após a Comunhão;
10 - Jesus sobe aos céus, abençoando sua Igreja;
10 - O sacerdote se despede dos fiéis e os abençoa;
11 - Jesus envia seu espírito ao coração dos discípulos;
11 - No final da missa, é lido o início do Evangelho de S. João, que nos exorta
a tornar-nos filhos de Deus (Jo, 1, ...), dirigidos e movidos pelo seu
espírito, conforme estas palavras do apóstolo S. Paulo: "aqueles que são
conduzidos pelo Espírito de Deus, são filhos de Deus" ( Rom 8, 14).
P163. Podemos considerar a Ceia e a
Paixão de Cristo como as duas primeiras Missas?R.
Sim. Podemos considerá-las como as duas primeiras Missas, celebradas pelo
Salvador, cuja oblação Ele renovou com seus discípulos durante os 40 dias que
precederam sua ascensão aos céus, como deduzimos da história dos discípulos de
Emaús e das divinas aparições em que o Senhor era reconhecido pela fração do
pão (Lc 24, 30).
P164.
Que relação há entre a Missa atual e as palavras de Cristo após a última Ceia?R. Nosso Senhor instituiu, após a última Ceia, a
parte essencial das orações e cerimônias da Missa atual.
P165. Quem estabeleceu as orações e as cerimônias das outras partes?R. As
orações e cerimônias das outras partes foram estabelecidas pelos apóstolos,
pela Tradição, e pela Igreja, que acrescentaram o conveniente à dignidade do
sacrifício, em nada alterando o substancial da Instituição Divina.
P166.
Como podemos ter certeza disto?R.
Porque notamos, tanto nas orações como nas cerimônias introduzidas,
transcrições de circunstâncias ocorridas no Cenáculo e no Calvário,
observando-se cuidadosamente o que as felizes testemunhas destas cenas viram e
conservaram, através da tradição.
P167.
A Igreja utilizou a tradição somente para o sacrifício da Missa?R. Não. Também em relação às cerimônias e orações
dos sacramentos, a Igreja faz como fizeram os apóstolos, acrescentando orações
costumeiras. No batismo, por exemplo, Nosso Senhor simplesmente mandou que se
batizasse com água, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo; as orações
acessórias, que expressam seus efeitos e as obrigações que dele derivam, nos
vêm da tradição e da piedade de todos os séculos.
P168.
Quando os apóstolos começaram a celebrar os santos mistérios?R. Os apóstolos começaram a celebrar os santos
mistérios depois da ascensão de Nosso Senhor, como constatamos em muitas
passagens dos Atos, escritos por S. Lucas, como, por exemplo:1 - Os cristãos
perseveravam na doutrina dos apóstolos, na comunhão da fração do pão e na
oração (At 2, 42) enquanto faziam o serviço público do Senhor (At 13, 2);2 - No
primeiro dia depois do sábado (que corresponde ao Domingo), nome já dado por S.
João (Apoc. 1, 10), estando reunidos, diz S. Paulo, para partir o pão (At.
20,7)...
P169.
Destas afirmações, que idéia podemos formar da Missa e da liturgia dos tempos
apostólicos?R. Podemos deduzir:
1
- No primeiro dia da semana, em especial, e o mais freqüente possível, os fiéis
se reuniam, sob a direção dos apóstolos, ou de pastores que eles haviam
eleitos, na casa de algum cristão, ou em lugares bem ocultos, devido à
perseguição dos judeus e dos gentios;
2
- Iniciava-se a oblação com a leitura dos profetas, das epístolas dos
apóstolos, das cartas que dirigiam às igrejas, ou mesmo das cartas que estas
mutuamente trocavam;
3
- É muito provável que, quando se escreveu o Evangelho, este passou a ser lido
nas reuniões cristãs, principalmente para prevenir os fiéis contra a grande
quantidade de Evangelhos apócrifos, que muitos se apressavam em escrever, para
confundir a doutrina que Cristo nos deixara com seus apóstolos. Estas leituras
eram explicadas, conforme se lê em S. João, que, sendo conduzido a Éfeso em
avançada idade, e não podendo mais discursar, limitou-se a esta curta
exortação, digna do discípulo mais amado: "Meus filhos, amai-vos uns aos
outros".
4
- Em seguida benzia- se o pão e o vinho; esta oferenda era seguida de orações e
de súplicas, por todos os homens, pelas necessidades públicas e particulares, e
de ações de graças.
5
- No momento mais solene destas ações de graças, se consagravam o pão e o
vinho, com as mesmas palavras usadas por Nosso Senhor.
6
- Seguia-se a oração dominical e o ósculo da paz, que todos trocavam
mutuamente, partindo-se os dons sagrados para comunhão, depois da qual, sob
juramento, se obrigavam a evitar todo o crime, a fugir de todo o pecado, e a
morrer com Jesus Cristo e pela fé de Jesus Cristo. Finalmente, os fiéis eram
despedidos com a saudação da paz de Deus e da graça de Nosso Senhor.
P170.
Que outras testemunhas temos da oblação da Eucaristia nos primeiros séculos?R. Temos diversas, tais como:1 - S. Inácio,
terceiro bispo de Antioquía, sucessor de S. Pedro e de Evódio, nesta cátedra,
contemporâneo dos apóstolos, e que declarou ter visto Nosso Senhor
ressuscitado, nos apresenta alguns detalhes sobre a oblação da Eucaristia, na
sua primeira carta aos cristãos de Esmirna.2 - Nos meados do segundo século, e
pouco depois da morte do último apóstolo, S. Justino, célebre filósofo pagão
que se convertera aos trinta anos de idade, tornando-se sacerdote e mártir,
contemporâneo de Simeão (que havia ouvido Nosso Senhor), de S. Inácio, de
Clemente, companheiro de S. Paulo na pregação, de Potino e de Irineu,
discípulos de Policarpo, dirigiu uma apologia a Antônio , o Piedoso, para
justificar as reuniões cristãs. É um antigo e precioso monumento da tradição
dos primeiros séculos.
P171.
Que nos diz, este precioso documento de S. Justino?R. S. Justino, na sua famosa Apologia 2,
escreve:"No chamado dia do Sol (primeiro dia da semana, que corresponde ao
nosso Domingo; o segundo dia era o dia da Lua, dies lunae, etc) todos os fiéis
das vilas e do campo se reúnem num mesmo lugar: em todas as oblações que
fazemos, bendizemos e louvamos o Criador de todas as coisas, por Jesus Cristo,
seu Filho, e pelo Espírito Santo"."Lêem-se os escritos dos profetas e
os comentários dos apóstolos. Concluídas as leituras, o sacerdote faz um
discurso em que instrui e exorta o povo a imitar tão belos
exemplos"."Em seguida, nos erguemos, recitamos várias orações, e
oferecemos pão, vinho e água"."O sacerdote pronuncia claramente
várias orações e ações de graças, que são acompanhadas pelo povo, com a
aclamação Amem!"."Distribui-se os dons oferecidos, comunga-se desta
oferenda, sobre a qual pronunciara-se a ação de graças, e os diáconos levam
esta comunhão aos ausentes"."Os que possuem bens e riquezas, dão uma
esmola, conforme sua vontade, que é coletada e levada ao sacerdote que, com
ela, socorre órfãos, viúvas, prisioneiros e forasteiros, pois ele é o
encarregado de aliviar todas as necessidades"."Celebramos nossas
reuniões no dia do Sol, porque ele é o primeiro dia da criação em que Deus
separou a luz das trevas, e em que Jesus Cristo ressuscitou dos mortos".
P172.
Que notamos neste documento que conta 18 séculos de existência?R. Nesta descrição do Santo Sacrifício da Missa,
feita por S. Justino em meados do século II, notamos claramente os principais
traços do serviço divino, tal como se conserva nos nossos dias, e como é
praticado em todas as igrejas.
P173.
Por que a liturgia da Missa resplandece hoje com tanto brilho?R. Porque, se acrescentarmos àquela descrição de S.
Justino, em si já tão luminosa contendo o corpo principal da Missa, os
brilhantes escritos de Sto. Irineu, dos Clementes, dos Tertulianos, dos
Cirilos, dos Ciprianos e Agostinhos, só com acréscimos acidentais, teremos a
resplandecente liturgia da Santa Missa de hoje, sempre enriquecida, mas nunca
alterada, através dos séculos, renovando sempre, e em todas as partes do mundo,
na mesma forma e na mesma língua, o mesmo sacrifício propiciatório do Calvário.
P174.
Por que até a fase da paz, concedida por Constantino à Igreja, havia poucas
orações e cerimônias no sacrifício da Missa?R.
Porque assim exigia o perigo vivido pelos cristãos naqueles tempos. Porém,
tanto as orações como as cerimônias estabelecidas, deviam ser observadas
religiosamente e com muito mais cuidado, visto serem tradições orais referentes
a uma prática rigorosa e solene.
P175.
Quando foram introduzidas outras orações e a majestade do culto?R. Quando foi possível erigir grandes basílicas e
oficiar publicamente, com grande afluência do povo.
P176.
Quando surgiram as primeiras redações litúrgicas?R.
No final do século IV, e início do século V, redigiu-se o corpo das tradições
litúrgicas existentes.
P177.
Quais foram as primeiras redações litúrgicas referidas ao santo sacrifício da
Missa?R. As primeiras redações litúrgicas
relativas ao santo sacrifício da Missa foram:
1
– Liturgia de Jerusalém: também denominada de S. Tiago, visto esta igreja ter
recebido e conservado a liturgia daquele seu primeiro bispo.
2
– Liturgia de Alexandria: conhecida também como de S. Marcos, cuja tradição
fora deixada por este santo bispo àquela cidade.
3
– Constituições apostólicas: atribuídas ao Papa S. Clemente I, se bem que os
autores destas diferentes obras compostas no século V, foram testemunhas e
redatores dos veneráveis usos das igrejas mais antigas.
4
- Liturgia de S. Basílio, no Oriente, conhecida sob o nome de S. João
Crisóstomo, e ainda hoje utilizada pelos orientais.
R. A liturgia no Ocidente foi ordenada por Sto. Ambrósio e por outros
escritores.
P179.
A liturgia de Sto. Ambrósio foi totalmente seguida?R. Essencialmente, sim. Porém, entre os latinos,
houve muita variedade tanto nas orações acessórias como nas cerimônias não
essenciais.
P180.
Quem unificou as orações acessórias e as cerimônias não essenciais?R. Foi S. Gregório, no século VI, através do famoso
Sacramental que leva seu nome.
P181.
Que estabeleceu o Sacramental de S. Gregório?R.
O Sacramental de S. Gregório estabeleceu: intróitos, o Kyrie eleison, o Gloria
in excelsis, as coletas, o tema da epístola e do Evangelho, as orações para as
oblações, o prefácio comum e o cânon até o Agnus Dei, exatamente como o
recitamos hoje.
P182.
O Sacramental de S. Gregório permitia ainda alguma variedade nas orações
acessórias?R. Sim. Como cada província tinha
santos bispos que acrescentavam algo ao acessório do sacrifício, por muito
tempo se respeitou esta variedade, pela antigüidade das orações e pela
santidade dos seus autores.
P183.
Que resultou desta variedade acessória ao sacrifício?R. Como conseqüência daquela variedade, surgiram os
diferentes missais e sacramentais da Igreja romana e das Igrejas particulares
do Ocidente. Porém, o essencial do sacrifício para a oblação, a consagração e
comunhão, era rigoroso e invariável em todo o mundo cristão, e a regra
secundária da liturgia manteve sua variedade até o século XIII.
P184.
Que houve nesse século?R. No século XIII foi fixado o
Ordinário da Missa, tal qual permanece em nossos dias.
P185.
O Ordinário da Missa manteve algumas variantes secundárias?P. Sim. O Ordinário da Missa do século XIII manteve
algumas variantes secundárias adotadas pelas diferentes dioceses, como, por
exemplo, a antífona e o salmo do intróito, no rito romano, não é o mesmo
empregado nas outras Igrejas. Porém, esta diferença, tolerada pela autoridade
eclesiástica, não prejudicou em nada a unidade essencial da liturgia.
P186.
Houve, naquele período, alguma assimilação de orações e cerimônias secundárias
entre os diversos ritos?R. Sim; em especial no que de
edificante tinham. Roma, por exemplo, depois de haver extinguido o rito
galicano e o rito gótico, da Espanha, não duvidou em deles tomar algumas
orações e cerimônias secundárias e inseri-las no Ordinário da Missa.
P187.
Naquele tempo, todo o povo dispunha do Ordinário da Missa?R. Do século XIII ao século XV, o Ordinário da
Missa permaneceu em poder do clero. A invenção da imprensa, porém, permitiu
maior difusão entre os fiéis.
P188.
Além da invenção da imprensa, que outro acontecimento colaborou para maior
difusão do Ordinário da Missa entre os fiéis?R.
Foi a Reforma Protestante. A Igreja deu aos seus ritos a mais augusta
publicidade, para auxiliar aos leigos a examinar as orações da Missa, visando
combater as heresias de Lutero e de Calvino, que negavam, em especial, o
caráter propiciatório do divino sacrifício. Ou seja, Lutero e Calvino afirmavam
que a Missa era somente a representação da última Ceia, uma cerimônia só de
agradecimento e louvor ao Senhor, negando seu caráter fundamental de renovação
incruenta do sacrifício do Calvário, estabelecido por Nosso Senhor Jesus Cristo
e sempre ensinado e defendido pela sua Igreja.
P189.
Houve determinação oficial da Igreja para maior divulgação dos textos da Missa?R. Sim. Os Concílios de Magúncia e de Colônia, em
1547, determinaram que as orações do Ordinário da Missa fossem explicadas ao
povo, mostrando sua unidade em relação às suas finalidades, ou seja, de adorar
a Deus, de agradecer-Lhe pelos benefícios recebidos (impetração), e pedir-Lhe o
perdão pelos pecados cometidos (propiciação).
P190.
Que outra determinação oficial houve para isso?P.
O Concílio de Trento (1570) determinou aos párocos que, nos domingos e dias
santos, explicassem aos fiéis as orações da Santa Missa e as fórmulas
sacramentais, para instrui-los, não só na verdade dos seus mistérios, mas
também no significado das suas orações e cerimônias.
P200.
O sacrifício da Missa recitado em nossos dias é o mesmo sacrifício estabelecido
por Jesus Cristo?R. Sim é o mesmo sacrifício de Jesus
Cristo que recebemos dos apóstolos, dos santos doutores e dos nossos pais na
Fé, os Padres Apostólicos.
P201.
Não houve alterações essenciais entre o estabelecido por Cristo e o que é
recitado hoje na Santa Missa?R.
Não. Essencialmente, Cristo tomou o pão e o vinho, nós tomamos a mesma matéria
de oblação; Cristo a abençoou, o sacerdote a abençoa; Cristo deu graças, nós as
damos; Cristo as consagrou pelas palavras onipotentes relatadas no Evangelho, o
padre repete as mesmas palavras por sua ordem, a Ele unido, in persona Christi,
e em Sua memória.
P202.
As orações acessórias da Missa, introduzidas pelos apóstolos e pela Igreja, não
alteraram a ação de Cristo?R.
Não. As orações acessórias, introduzidas no decorrer dos tempos, em nada
alteraram a ação de Cristo porque, em relação a esta, tais orações somente
estabeleceram:
1
- a preparação pública ao santo sacrifício, com a introdução de salmos e do
Kyrie (Senhor, tende piedade);
2
- a entoação, no altar, do hino da redenção (Gloria), cantado pelos anjos no
nascimento de Jesus Cristo;
3
- o preceder e a seqüência das leituras, com orações e reflexões;
4
- o hino cantado pelos serafins (Sanctus), para que ressoe no momento em que a
vítima vai abrir os céus;
5
- o invocar por três vezes o Agnus Deis (Cordeiro de Deus), com sua
misericórdia e paz;
6
- os sinais exteriores de humildade, de esperança, de respeito e de
amor.Trata-se, portanto, do mesmo sacrifício de Jesus Cristo, acompanhado de
orações e ritos para expressar a piedade diante de tão excelsa maravilha.
P203.
Que outros fatores concretos nos certificam daquela verdade?R. Bastaria lembrar que a Igreja recolheu as
orações e cerimônias acessórias da missa:
1
- das lembranças apostólicas e da mais remota tradição do tempo e dos usos
estabelecidos por S. João, testemunha da dupla imolação, a da Ceia e a da Cruz;
2
- das regras e disposições de S. Paulo, instruído neste mistério pelo mesmo
Cristo, Nosso Senhor;
3
- das meditações de Sto. Agostinho, da unção de Sto. Ambrósio, de S. Basílio e
de S. Gregório;
4
- da piedade e sabedoria dos seus santos pontífices e doutores, manifestadas no
decorrer de 13 séculos.A Igreja as reuniu no mais feliz e santo modelo para
regrar definitivamente sua liturgia, cujas palavras são a aplicação maravilhosa
da Sagrada Escritura, nos infundindo admiração e respeito profundos.
P204.
Por que, além das orações e cerimônias acessórias, a Igreja também regulamentou
os templos, os altares, os adornos, os trajes e as atitudes do sacrificador?R. Porque a Missa representa perfeitamente aquela
rainha que está de pé, à direita do trono de Deus, com manto de ouro de Ofir,
realçada pela variedade das mais ricas cores, como diz o Salmo 44. Assim, como
a Igreja não deveria regrar, para o sacrifício, também seus templos, seus
altares e seus adornos, bem como, as vestes e os movimentos do corpo, dos olhos
e das mãos do seu sacrificador?
P205.
Que preocupação teve a Igreja quanto à língua em que os santos mistérios
deveriam ser celebrados?R. Embora a Igreja jamais tivesse
afirmado que o serviço divino fosse celebrado em língua ininteligível ao povo,
tão pouco ela julgou conveniente o emprego de língua vulgar, para não submeter
a Missa às vicissitudes deste. Assim, na celebração da santa Missa, onde estão
consignados a maior parte dos nossos dogmas, a Igreja se preocupou com o uso de
língua vulgar e, genericamente, nunca a recomendou, -- até, no Concíliode
Trento, a proibiu -- para evitar o grave inconveniente do surgimento de erros
doutrinários, que poderiam advir das variações de sentido, comuns na linguagem
viva.
P206.
Inicialmente, que línguas foram empregadas na celebração da santa liturgia?R. Nos tempos apostólicos foi utilizado o siríaco,
idioma de Jerusalém de então, como o grego e o latim, muito divulgadas naquela
época, as quais foram conservados como língua litúrgica, mesmo quando deixaram
de ser utilizadas vulgarmente. Assim como no quirógrafo da Cruz estava escrita
a sentença de morte de Cristo em latim , grego e hebraico -- Jesus Nazareno Rei
dos Judeus -- assim, na Missa, que renova o sacrifício do Calvário, a Igreja
usa palavras em latim, grego e hebraico.
P207.
A Igreja do Oriente e do Ocidente utilizaram a mesma língua na celebração da
santa liturgia?R. Não. A Igreja do Oriente utiliza,
até hoje, tanto o grego antigo como o moderno, enquanto a Igreja do Ocidente
adotou o latim, que era a língua mais usual e mais universal.
P208. Que outros inconvenientes traria o uso da língua vulgar na celebração dos
mistérios litúrgicos?R. Além dos já apontados, quem não compreende que seria
necessário multiplicar a publicação dos livros sagrados, não só para cada povo,
mas para cada idioma de cada nação, e em todos os dialetos de cada língua; que
seria necessário substituir as palavras conforme elas tomassem outro sentido ou
se tornassem ridículas e inconvenientes; que a expressão da doutrina se
alteraria infalivelmente em todas estas correções (lex orandi, lex credendi);
que os fiéis que se deslocassem de uma província, ou de um país para outro, não
entenderiam, absolutamente, nada; que poderiam ser introduzidos costumes e
atitudes locais, quebrando a universalidade de expressão do sacrifício; e que,
si se utilizassem línguas modernas, sem submetê-las às suas alterações e aos
perigos delas provenientes, com o tempo voltaria a surgir a dificuldade que se
pretendia solucionar, pois a própria língua pátria chegaria a ser ininteligível,
como acontece, por exemplo, com o castelhano antigo ? Em suma, o uso do latim
na Liturgia favorece a unidade da Igreja. O uso do vernáculo na Missa, além dos
inconvenientes já apontados, de certo modo, faria da Liturgia da Igreja, uma
torre de Babel.
P209.
Por que a Igreja conserva o uso do latim em seus ofícios litúrgicos?R. A Igreja conserva em seus ofícios, e com suma
prudência, sua antiga linguagem para manter e preservar, não só a unidade e a
universalidade do santo sacrifício em si, mas também a doutrina nele contida e
por ele ensinada, que é uma, invariável e eterna, como o próprio Deus que a
instituiu. Os fiéis, que facilmente dispõem de traduções, e que recebem
explicações em língua vulgar, com o constante e contínuo acompanhamento da liturgia
em latim, irão se familiarizar com os textos sagrados e o entenderão
perfeitamente. Ademais, o culto divino, em língua vulgar, perderia algo de sua
misteriosa dignidade, por cuja única razão não seria, de forma alguma,
conveniente que a Missa fosse celebrada em língua vulgar.
PRIMEIRA
PARTE
Instruções preliminares sobre o Santo Sacrifício da Missae as preparações
prescritas para oferecê-lo
CAPÍTULO VIDos diferentes nomes e da divisão da Missa
P210.
Quem institui o santo sacrifício da Missa?R.
O santo sacrifício da Missa foi instituído por Nosso Senhor Jesus Cristo, como
vimos.
P211.
Ao instituir este santo sacrifício, deu-lhe, Jesus, um nome específico?R. Não. Ao instituir o santo sacrifício, Nosso
Senhor não o designou com nenhum nome específico, pois somente disse aos
apóstolos: «Fazei isto em minha memória».
P212.
Como este santo sacrifício era denominado no início da era cristã?R. Segundo a tradição, o santo sacrifício era
designado com diversos nomes, tais como: sinaxe, ou assembléia; colecta, ou
reunião; sacrifício, oblação, súplica, e eucaristia, ou seja, ação de graças,
porque nela se realiza a solene ação de graças que Jesus Cristo presta a Deus
Pai, bem como nela se expressam todos os benefícios que lhe são inerentes e
todas as graças dela provenientes.
Também foi conhecido por expressões, como: ofícios dos divinos sacramentos, os
santos, os veneráveis, os terríveis mistérios.
[Vide: Dionísio Aeropagita – (pseudo Dionísio) - De Hier, eccl. c. 5.
Anastácio, Sin. De Sinaxe. Hilário, In Psalms 65. Tertuliano, libro 1 De Anima.
S. Cypriano e Eusébio, Dem. Evang., lib.1. Conc. Laod. Can 19 e 58].
P213.
Que nomes surgiram posteriormente?R.
No século VI, o santo sacrifício era denominado no plural, Missas e Missarum
solemnia. Porém, há mais de 1500 anos, a Igreja grega o chama de liturgia, ou
serviço público, e a Igreja latina de Missa.
P214.
Que significa Missa?R. Missa ou Missio significa despedida.
Naquela divina ação, após a leitura do Evangelho despedia-se dos catecúmenos,
ou seja, dos que ainda não tinham recebido o sacramento do Batismo, e dos
penitentes, que haviam perdido a graça publicamente.
P215.
Por que no século VI denominavam-no Missas, no plural?R. Porque, naquela época, havia duas despedidas: a
dos catecúmenos, antes da oblação, e a dos fiéis, depois da consumação do
sacrifício, conforme claramente indicado por Sto. Agostinho e Sto. Isidoro de
Sevilha (Sto. Agostinho, Sermonis 49 a 237; e Sto. Isidoro, Orig. 1.6, c. 19).
P216.
Como eram ditas as despedidas (Missas) naquela época?R. Após a leitura do Evangelho, o diácono dizia em
alta voz: Ide, as coisas santas são para os santos; e depois da comunhão: Ide,
a hóstia acaba de ser elevada deste altar ao trono da misericórdia, acompanhada
dos vossos votos, Ite Missa est.
P217.
Quem passou a designar com a palavra Missa o sacrifício do Altar?R. Era difícil uma palavra que representasse melhor
o sacrifício da Igreja, pois, Missa, significava o ofício em que só podiam ser
admitidos aqueles que haviam sido batizados e conservavam sua graça. O próprio
povo, marcado pela impressão causada pela palavra empregada pelo diácono, dita
no início e no fim do ofício, passou a chamar o sacrifício do Altar de Missa
(despedida), chegando até os nossos dias.
P218.
Por que os ainda não batizados (catecúmenos) eram despedidos do santo
sacrifício após a leitura do Evangelho? R.
A Igreja assim fazia para lembrar a muitos que, casualmente, merecem ser
despedidos do ato a que só lhes permite assistir a indulgência da disciplina, e
neles excitar a mais profunda humildade, dor e resolução de recorrer às fontes
da graça, para que Deus não os desaloje do seu santuário eterno, quando a
Igreja os admite no altar da terra, bem como para merecer o nome de fiéis com
que ela os honra.
P219.
Por que damos alguns nomes complementares à Missa?R. Embora, em sua essência, a Missa seja uma só,
isto é, a renovação do sacrifício do Calvário, algumas circunstâncias
propiciaram o surgimento de nomes complementares. Assim, chamamos de Missa
solene, quando celebrada com toda a majestade do cerimonial; de Missa
pontifícia ou ordinária, conforme celebrada por um bispo ou por sacerdote.
Missa cantada, quando recitada com coro; Missa rezada, sem coro.
P220.
Que designa a Missa paroquial? R.
A Missa paroquial é acompanhada da benção da água e do pão, de orações, de
proclamas e de admoestações, com práticas (sermão, pregação) feitas pelo
próprio pároco aos seus paroquianos.
P221.
Que é Missa privada?R. É a celebrada fora ou dentro da
paróquia com intenções particulares, sem a solenidade das bênçãos, sem
admoestações e práticas.
P222.
Quantas partes há na Missa?R.
Na Missa há seis partes:
1
– a preparação pública: da entrada do sacerdote ao altar, até a coleta;
2
– o intróito e instrução: da coleta até o final do Credo;
3
– a oblação: do Credo ao prefácio;
4
– o cânon, ou a regra da consagração: do prefácio ao Pater Noster;
5
– a consumação: do Pater Noster à comunhão;
6
– a ação de graças: da pós-comunhão ao último Evangelho.»
PRIMEIRA
PARTE
Instruções preliminares sobre o Santo Sacrifício da Missae as preparações
prescritas para oferecê-lo
CAPÍTULO VII
Da
natureza e da existência do sacrifício da Missa(Recapitulação)
P223.
O que é Missa?R. Missa é, pois, o sacrifício do corpo
e do sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, imolado desde o princípio do mundo
pelas promessas feitas por Deus e pela fé dos justos, aos quais se aplicavam,
antecipadamente, seus frutos.
P224.
Há figuras do santo sacrifício no livro do Gênesis?R. Sim. No Gênesis encontramos figuras do santo
sacrifício, como, por exemplo, as ofertas de Abel, de Abraão e de Melquisedec.
P225.
E na lei de Moisés?R. Encontramos, também, figuras daquele
sacrifício na lei de Moisés, como no cordeiro pascal, e na variedade de tantos
outros sacrifícios por ele estabelecidos, cujos diferentes objetos convergem
para a única imolação de valor infinito, a Missa, anunciada pelos profetas.
P226.
Quando se iniciou o santo sacrifício?R.
Podemos afirmar que aquele santo sacrifício se iniciou na Encarnação do Verbo,
passando pelo nascimento de Cristo e pela apresentação no templo.
P227.
Quando Nosso Senhor Jesus Cristo instituiu o santo sacrifício?R. O santo sacrifício foi instituído por Nosso
Senhor Jesus Cristo na véspera da sua morte, consumado no Calvário de modo
cruento, e continuado nos nossos altares para ser, até o fim dos tempos, o
único e verdadeiro sacrifício, que pessoalmente nos aplica o preço do sangue
divino derramado na cruz, para oferecer perpetuamente Deus (Filho) a Deus (Pai)
pelo ministério dos sacerdotes legítimos, a quem Cristo designou este poder.
P228.
Como é oferecido o santo sacrifício do corpo e do sangue de Cristo?R. Este sacrifício é oferecido sob as espécies de
pão e de vinho, que mantém suas aparências como a cor e o sabor. Estas
aparências, ou acidentes, permanecem e subsistem mesmo depois que a substância
de pão e de vinho se convertem, realmente, no corpo e sangue do nosso Salvador.
P229.
Por que Nosso Senhor Jesus Cristo utilizou o pão e o vinho ao instituir este
santo sacrifício?R. Porque, conforme diz a Escritura, o
pão é o fundamento da vida (Ps 103), e o vinho é o símbolo de tudo que encanta
e alegra o coração do homem. Assim Nosso Senhor, ao fazer deles a matéria do
seu sacrifício, quis nos ensinar a imolar, com ele e nele, a nossa vida e tudo
quanto dela nos é grato e querido.
P230.
Poderia haver melhor símbolo para este santo sacrifício?R. Não. Nenhum outro símbolo seria mais próprio, para
nos dar a justa idéia do Deus que se sacrifica, que é o autor dos nossos bens,
o conservador do nosso ser, o Senhor da vida e da morte, e o dispensador das
nossas alegrias e dos nossos pesares. Assim, nenhum outro sinal poderia
inspirar melhor o elevado pensamento da imolação do homem, que deve unir-se a
esta vítima, e de pertencer a Nosso Senhor na vida e na morte.
P231.
Que mais nos ensinam o pão e o vinho?R.
Como os alimentos nos foram concedidos por Deus, para o indispensável sustento
da nossa vida, ao consagrá-los ao Senhor reconhecemos exteriormente que a Ele
pertence nossa existência e que Ele é o dono absoluto dos nossos dias.
P232.
Há na Sagrada Escritura outras referências a ocasiões em que os homens
sacrificaram alimentos a Deus, como símbolo da Eucaristia?R. Sim. Conforme relata a Escritura, Abel oferecia
ao Senhor o leite das suas ovelhas; Caím, os frutos da terra; depois do
dilúvio, Noé e seus descendentes sacrificavam animais que lhes eram permitido
comer; Melquisedec, imagem de Nosso Senhor, oferecia o pão e o vinho, para
expressar o reconhecimento dos soldados preservados dos perigos da guerra.
Vimos, também, a oferta da flor de farinha, o vinho, o sal e o azeite sendo
consumidos no altar judaico, as primeiras colheitaslevadas com solenidade ao
templo, e Jesus Cristo, em fim, escolher o pão e o vinho como matéria do seu
sacrifício, e conservar estas aparências, mesmo depois de ter consumado a misteriosa
mudança ( a transubstanciação).
P233.
O que é a Eucaristia?R. A Eucaristia é, ao mesmo tempo,
sacrifício enquanto oferecida a Deus, e alimento sacramental enquanto recebida
pelo homem, conforme no-lo explica S. Thomas. Portanto, dom de união do homem
com Deus, e dos homens entre si. Que mais ditosa imagem deste alimento
espiritual e desta união inefável, que é a participação da vítima sob as
espécies de pão e de vinho!
P234.
A Missa é o sacrifício da nova lei?R.
A celebração e a consagração da Eucaristia, que normalmente denominamos Missa,é
o sacrifício verdadeiro, real e propriamente dito, da nova lei.
P235.
Por que a Missa é sacrifício da nova lei?R.
Porque nela se encontram todas as condições do sacrifício instituído pelo Nosso
Salvador, para todo o sempre.
P236.
Quais são as condições do sacrifício?R.
No sacrifício feito a Deus há: a oblação, o holocausto, a Eucaristia, a hóstia
de propiciação devido ao pecado, e a impetração.
P237.
O que é oblação?R. É a oferta de algo sensível, do
corpo e sangue de Cristo, sob as espécies de pão e de vinho, que são percebidas
pelos nossos sentidos.
P238.
A quem é feita a oblação?R. A oblação da Missa é feita somente a
Deus, conforme estabelecido dogmaticamente pela Igreja.
P239.
Quem realiza a oblação?R. A oblação é feita por um ministro
legítimo, por Jesus Cristo, pontífice supremo, que fala por si mesmo e em seu
nome, e por um sacerdote canonicamente ordenado – o padre - que fala em nome de
Jesus Cristo, a quem empresta sua voz e o representa, e por toda a Igreja, da
qual o sacerdote é o verdadeiro e legítimo embaixador junto a Deus, para
oferecer o sacrifício em nome dos fiéis.
P240.
A oblação pode ser feita pelos fiéis?R.
Não. A oblação é oferecida a Deus somente pelo sacerdote, ministro legítimo,
que fala na pessoa de Cristo.
P241.
Por que se diz que a Missa é um holocausto?R.
Porque na Missa rendemos a Deus o culto de latria, ou seja, adoração suprema e
de total dependência a Deus, a quem oferecemos a adoração do próprio Deus
(Cristo), de quem reconhecemos supremo domínio, a quem apresentamos a morte de
Deus (Cristo), unindo o culto da nossa alma e do nosso coração à adoração de
Deus sacerdote (Cristo) e à morte de Deus vítima (Cristo).
P242.
Por que a Missa é Eucaristia?R.
Diz-se que a Missa é Eucaristia, ou ação de graças, porque nela elevamos a Deus
não só os dons que recebemos da plenitude da sua misericórdia, como também o
mesmo Nosso Senhor Jesus Cristo, manancial desta plenitude de graças.
P243.
Por que dizemos que a Missa é uma hóstia de propiciação, devido ao pecado,
oferecida a Deus?R. Porque, através dessa hóstia de
propiciação, imploramos à misericórdia divina para apaziguar sua justiça,
oferecendo a imolação de Cristo (o próprio Deus) que se dignou tomar sobre si
todas as nossas iniqüidades e reunir nossa fraca e insuficiente dor de
arrependimento à sua satisfação infinita.
P244.
Por que a Missa é também um sacrifício de impetração?R. Porque na Missa pedimos e recebemos todos os
bens necessários à salvação do corpo e da alma.
P245.
Não pedimos e recebemos esses bens em outras orações?R. Sim, porém a diferença é que, na Missa, não
somos nós quem os suplica, mas o próprio Deus (Cristo) quem pede e quem ouve;
nós somente unimos nossa fraqueza às suas orações. Assim, por meio deste divino
intercessor nossas orações sobem aos céus, chegam ao Nosso Pai celestial e são
por Ele acolhidas favoravelmente.
P246.
Como podemos nos certificar que nossas orações na Missa são favoravelmente
acolhidas pelo nosso Pai celestial?R.
S. Paulo apóstolo no-lo garante ao nos dizer: "Como Deus não nos dará
todos os bens, depois de nos ter dado seu próprio Filho para ser o oferecimento
do nosso sacrifício"?
P247.
Que conclusão principal chegamos do que foi explicado acima?R. Conclui-se que a Missa é o verdadeiro sacrifício
estabelecido por Jesus Cristo para a nova aliança.
P248.
Há alguma referência no Antigo Testamento sobre a Missa, como sacrifício da
nova lei a ser estabelecido por Cristo?R.
Sim, e o profeta Malaquias anuncia (I, 11): 1º - A revogação dos sacrifícios
antigos: "Eu não receberei mais oblações das vossas mãos", disse o
Senhor aos judeus;2º - A substituição do dos sacrifícios antigos, por um novo e
excelente sacrifício: "Em todo o lugar se oferece em sacrifício ao meu
nome, uma hóstia pura"; quer dizer, será oferecida, porque, na linguagem
profética o futuro se anuncia como presente.
P249.
Por que as palavras do profeta Malaquias, acima citadas, referem-se ao santo
sacrifício da Missa?R. As palavras do profeta Malaquias
referem-se ao santo sacrifício da Missa, pois:1º - afirmam que Deus não mais
receberá nenhum sacrifício oferecido anteriormente:a – dos judeus, nem mesmo as
vítimas legais dos seus sacrifícios, pois Deus quer substituí-las por uma nova
e excelente hóstia;b – dos pagãos, com maior razão sacrifício algum, que nunca
os aceitara, pois seus altares impuros serviam aos demônios.
2º
- afirmando que "em todo o lugar se oferece em sacrifício uma hóstia
pura", Deus também não se refere diretamente nem mesmo à imolação da cruz,
que ocorreu só uma vez no Calvário; mas refere-se claramente ao Santo
Sacrifício da Missa, que oferece a hóstia pura, e que ocorre em todo lugar;
3º
- afirmam que não será um sacrifício nem mesmo espiritual, da alma e do
coração, de agradecimento e de boas obras, que havia sido sempre praticado,
pois o texto da profecia expressa um sacrifício exterior propriamente dito.
Seu
sentido claramente nos indica um sacrifício novo, de uma vítima pura a Ele
oferecida em todo o lugar, que é exatamente a oblação da Eucaristia na Missa,
ou seja, o puro e próprio sacrifício de Deus (Cristo) vítima, oferecido à
majestade do seu nome por todos os povos e em todos os lugares.
P250.
A profecia de Malaquias foi realmente cumprida?R.
Sim; e para nos certificarmos disto, basta ler os Evangelistas e S. Paulo.
P251.
Que nos dizem os Evangelistas e S. Paulo?R.
Os Evangelhos de S. Mateus (26), de S. Marcos (14) e de S. Lucas (22) e São
Paulo nos dizem que, estando com seus discípulos na noite em que Nosso Senhor
foi entregue, e após terminar a ceia da antiga páscoa, que ia ser abolida com
todos os sacrifícios da lei antiga, para ser substituída pela oblação pura e
universal do verdadeiro cordeiro pascal: (S. Mateus, XXVI (26-28)):
"Estando, eles, porém, ceando, tomou Jesus o pão e o benzeu, e partiu-o e
deu-o aos seus discípulos e disse: Tomai e comei, ISTO É O MEU CORPO."
"E tomando o cálice, deu graças e deu-lho dizendo: Bebei dele todos."
"Porque este é o meu SANGUE do novo testamento, que será derramado por
muitos, para remissão dos pecados."; (S. Marcos, XIV (22-24)): "E
quando eles estavam comendo, tomou Jesus o pão; e, depois de o benzer, partiu-o
e deu-lho, e disse: Tomai, ISTO É O MEU CORPO." "E tendo tomado o
cálice, depois que deu graças, lho deu: e todos beberam dele." "E
Jesus lhes disse: ESTE É O MEU SANGUE do novo testamento, que será derramado
por muitos."; (S. Lucas, XXII (23-25)): "Também depois de tomar o pão
deu graças e partiu-o e deu-lho, dizendo: ISTO É O MEU CORPO que se dá por vós;
fazei isto em memória de mim." "Tomou também da mesma sorte o cálice,
depois de cear, dizendo: Este cálice é o novo testamento em MEU SANGUE, que
será derramado por vós.;( I Coríntios, XI, 23-29): "Porque eu recebi do
Senhor o que também vos ensinei a vós, que o Senhor Jesus, na noite em que foi
entregue, tomou o pão, e dando graças, o partiu, e disse: recebei e comei; isto
é o meu corpo, que será entregue por vós; fazei isto em memória de mim.
Igualmente depois de ter ceado, (tomou) o cálice, dizendo: este cálice, é o
novo testamento no meu sangue, fazei isto em memória de mim todas as vezes que
o beberdes. Porque todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice,
anunciareis a morte do Senhor, até que ele venha. Portanto todo aquele que
comer este pão ou beber este vinho indignamente, será réu do corpo e do sangue
do Senhor. Examine-se, pois, a si mesmo o homem, e assim coma deste pão e beba
deste cálice. Porque aquele que o come e bebe indignamente, come e bebe para si
a condenação, não distinguindo o corpo do Senhor"
P252.
No decorrer de sua pregação fez, Nosso Senhor, alguma referência a esta
instituição?R. Sim. Aos seus discípulos, em
Cafarnaum, Jesus lhes dissera que era necessário comer sua carne e beber seu
sangue, para se alcançar a vida eterna.Para efetuar esse milagre, disse
simplesmente após a Ceia: Tomai e comei, isto é o meu corpo; tomai e bebei,
este é o meu sangue. Eis a consumação deste divino sacrifício no cumprimento de
todos os mistérios. Nele Cristo renova sua morte, sua ressurreição e sua vida
gloriosa. Através dele Cristo alimenta sua Igreja com seu próprio corpo para
torná-la um corpo santo, sempre vivo, e dar-lhe a graça da imortalidade
gloriosa. Seria possível imaginar palavras mais significativas, termos mais
fortes, mais enérgicos em sua sensibilidade, ou mais expressivos em seu sentido
do que os que Ele empregou? –Este é o meu corpo, este é o meu sangue; fazei
isto. Estas palavras de Jesus são absolutamente decisivas.
P253.
Por que as palavras empregadas por Nosso Senhor "Tomai e comei, isto é o
meu corpo; tomai e bebei, este é o meu sangue" são decisivas?R. As palavras empregadas por Nosso Senhor são
decisivas porque foram proferidas pelo próprio Deus (Filho); portanto, ao mesmo
Deus onipotente que dissera "faça-se a luz" (Gen) e a luz foi feita,
reconhecemos o infinito valor daquelas sublimes palavras.
P254.
Não encontramos referência à instituição da Eucaristia no Evangelho de S. João?R. Apesar de não descrever a Santa Ceia, S. João
penetra no coração do Salvador e nos expõe os sentimentos que dirigiam a ação
de Nosso Senhor naquela ocasião, dizendo: "tendo Jesus amado os seus, os
amou até o fim" (Jo 13) e, podemos acrescentar, até em excesso.
P255.
Por que S. João fez aquela afirmação?R.
Para nos revelar que Jesus, Deus onipotente, na Ceia, nos deu a maior prova do
seu amor, nos deixando seu próprio corpo e seu próprio sangue, como alimento
espiritual.
P256.
Como essa dádiva de Jesus chega a nós?P.
Através do poder de oferecer o sacrifício instituído no Cenáculo, pois, Nosso
Salvador deu claramente aos apóstolos, e sucessores, este poder, por meio
destas palavras:"Fazei isto em minha memória".
P257.
Que significa essa ordem dada aos apóstolos e sucessores por Nosso Senhor?R. Através dessa expressão Nosso Senhor ordena aos
apóstolos e sucessores que não devem fazê-lo somente como lembrança e simples
representação do que Ele fizera, mas sim, "Fazei isto", que Ele mesmo
fizera e como realmente fizera.
P258.
Além do significado vital acima exposto, que mais podemos deduzir daquela
ordem?R. Pelas palavras empregadas por Nosso
Senhor deduz-se que Ele ordena aos apóstolos que não façam outro sacrifício,
distinto ou separado da oblação que Ele fizera, mas sim o mesmo que Ele
ofereceu: "Tomai e comei, pois isto é o meu corpo; tomai e bebei, pois
este é o cálice do meu sangue".
P259.
Que significa "em minha memória"?R.
A expressão final da ordem de Nosso Senhor quer dizer:
a
– Fazei em minha memória, porque sou vosso Deus e Senhor;
b
– Em memória da autoridade e poder que dei à minha Igreja;
c
– Em memória dos meus padecimentos e de minha morte, que renovareis todas as
vezes que fizerdes isto;
d
– Em memória da nova aliança que fiz com os homens, derramando aqui meu sangue
e, portanto, oferecendo-o em sacrifício;
e
– Em minha memória, ofereceis esta oblação, ou efusão do meu sangue misterioso,
sobre esta mesa, que na Cruz confirma o Novo Testamento, assegurando aos homens
minha nova e irrevogável vontade de obter-lhes as graças da salvação e da
herança do céu, com a condição de serem fiéis aos meus preceitos e ao meu amor,
e de fazer uso dos sacramentos que estabeleci, pela remissão dos pecados.
P260.
Que resumo podemos fazer, com as palavras empregadas por Nosso Senhor,
acompanhadas do seu significado, quando da instituição da Eucaristia?R. O relato do Evangelho, unido ao seu significado,
Nosso Senhor diz: fazei, portanto, o que eu fiz, em minha memória, em memória
de minha morte e da minha aliança; eu tomei o pão e o vinho; tomai esta matéria
e estes símbolos de oblação; eu os abençoei; abençoai-os; eu dei graças; fazei
o mesmo; eu parti o pão; parti-o; eu disse: isto é meu corpo, e eu vos dei e
vós o recebestes; tomai e dai aos outros: hoc facite.
P261.
A ordem dada por Nosso Senhor era por um tempo determinado?R. Não, pelo contrário, Nosso Senhor ordenou que se
fizesse o que ele mesmo fizera por todo o tempo que o homem deve passar na
terra, pois mandou que se renovasse a oferenda da sua paixão e morte, do seu
corpo imolado e do seu sangue vertido, até sua próxima vinda, quando virá para
julgar os vivos e os mortos. Portanto, por estas palavras, seu poder passa para
os sucessores dos apóstolos, herdeiros do mesmo sacerdócio, e, diz Jesus,
"eu estarei convosco", não só ensinando, batizando, governando a
Igreja, mas também oferecendo e consagrando conosco, "todos os dias, até a
consumação dos séculos" (Mat 28).
P262.
Em que cerimônia da Igreja se cumpre a ordem deixada por Nosso Senhor?R. A cerimônia em que se cumpre a ordem de Nosso
Senhor é a Missa, que tem o poder, real e perpétuo, de oferecer e consagrar, o
mesmo que Cristo ofereceu e consagrou no Cenáculo, e no Calvário.
P263.
Como podemos definir a Missa, após as explicações e significados do que ocorreu
no Cenáculo?R. Podemos dizer que a Missa é "o
altar em que temos o poder de comer" (Heb13); "o trono em que está o
Cordeiro de pé e, ao mesmo tempo, imolado" (Apc 5), e que, nos nossos
altares, continua o verdadeiro sacrifício instituído por Nosso Senhor Jesus
Cristo.
PRIMEIRA
PARTE
Instruções preliminares sobre o Santo Sacrifício da Missae as preparações
prescritas para oferecê-lo
CAPÍTULO VIII
Do
valor e dos frutos do Sacrifício da Missa
P264.
A Missa é somente a comemoração e a representação da cena do Calvário?R. Não. A Missa é a renovação e a continuação do
sacrifício da cruz repetido em nossos altares, de forma incruenta, além de
também comemorar e representar a cena do Calvário.
P265. O valor da Missa é infinito?
Por que?R. Sim, o valor da Missa é infinito
porque nela se oferece o corpo e o sangue da segunda pessoa da Santíssima
Trindade, Nosso Senhor Jesus Cristo, portanto do próprio Deus.
P266.
Que diferença há entre a Missa e a imolação do Calvário?R. A diferença está no modo de se oferecer. Assim,
no Calvário, a imolação foi visível e cruenta; na Missa, a imolação é incruenta
e sacramental. No Calvário, como canta a Igreja, "somente a divindade de
Nosso Senhor estava velada aos sentidos, enquanto que na Missa está velada
também a humanidade" (Adoro te devote, Hino do Santíssimo Sacramento).
P267.
A Missa, portanto, é o mesmo sacrifício realizado na cruz?R. Sim, por que em ambos temos o mesmo
sacrificador, a mesma vítima – que é Nosso Senhor Jesus Cristo – e, portanto, a
mesma imolação.
P268.
Na Missa, o sacrificador, então, não é o sacerdote que a celebra?R. Não. O sacrificador é Nosso Senhor Jesus Cristo,
que fala e atua através do sacerdote. A Nosso Salvador, pontífice supremo, se
une toda a Igreja universal, todos os fiéis, que se oferecem com Ele, pelas
mãos do seu representante que é o bispo ou o sacerdote, ministros legítimos
desta oblação.
P269.
Por quem se oferece a Missa?R.
Oferece-se a Missa por Jesus Cristo, por toda a Igreja, pelo sacerdote que a
celebra, e por todos os cristãos.
P270.
Como os fiéis podem participar deste oferecimento?
R. Os fiéis podem participar do
oferecimento da Missa de diversos modos:A – em ato, quando assistem e
participam da sua celebração;B – de modo mais precioso, quando, além de ser em
ato, fazem oferecer a vítima, Jesus Cristo, por eles e em seu nome;C – de modo habitual,
todos os fiéis, pois que, unidos a Jesus pela caridade e à Igreja pela fé,
formam um só corpo, membros recíprocos uns dos outros, participando de todos os
benefícios do corpo inteiro.
P270.
Por que o sacrifício consumado no Calvário é o mesmo sacrifício realizado na
Missa?R. Porque o essencial do sacrifício do
Calvário consiste na oblação que Jesus Cristo fez do seu corpo, que é a mesma
oblação da Missa. Assim, tanto no altar como no Calvário, apresenta-se a mesma
vítima, o corpo e o sangue de Nosso Salvador, sob as espécies de pão e vinho,
para tornar sensível a presença dessa vítima. A imolação real é a mesma,
ocorrendo em cada Missa, e em todas as Missas, sem multiplicar o sacrifício,
como veremos.
P272.
Que prova o Evangelho nos dá para nos mostrar que o essencial do sacrifício de
Nosso Senhor Jesus Cristo consiste na oblação que Ele fez do seu corpo?R. O Evangelho nos mostra que Nosso Senhor quis
instituir o sacrifício do seu corpo e do seu sangue na véspera da sua morte,
após a Ceia, e não no mesmo instante em que morreu, para estabelecer claramente
a verdade e a igualdade do mesmo sacrifício. Assim, Ele poderia tê-lo oferecido
após a sua paixão, como em qualquer tempo antes da própria Ceia.
P273.
Então a oblação do sacrifício de Nosso Senhor independe do tempo?R. Sim, e ao reafirmar a oblação da cruz no dia
seguinte após a morte de Cristo, ou um ou mil anos depois, até o último dia do
mundo, se oferece absolutamente o mesmo sacrifício, e as Missas são atos da
repetida oblação da única imolação única de Jesus Cristo.
P274.
Para a unidade do sacrifício não é então necessária uma união física da
imolação e da hóstia imolada?R.
Não. Pelas próprias palavras do Evangelho, basta a união moral entre a imolação
e a hóstia imolada, uma referência moral, uma relação moral ao tempo da
imolação. Assim, Nosso Senhor, na Ceia, oferece sua morte futura, no Calvário,
sua morte presente, e no céu, e no altar, sua morte passada, pelo mesmo ato da
mesma vontade de se oferecer: a oblação se multiplica por distintos atos, mas a
imolação é só uma, como único é o sacrifício.
P275.
Podemos encontrar a confirmação desse ensinamento em outros livros da Sagrada
Escritura?R. Sim, S. Paulo, por exemplo, defende
e confirma esse ensinamento em diversas passagens. Assim declara este santo
apóstolo:
1 – Hebreus 10:a – que Jesus Cristo, desde sua vinda ao mundo, manifestou sua
vontade de se oferecer a Deus Pai em holocausto;b – que, com este único
holocausto, revogou os sacrifícios antigos, para substituí-los com o seu
("aufert primum ut sequens statuat");c – que, por esta única vontade,
concebida desde a encarnação e fielmente cumprida até a sua morte na cruz,
fomos santificados pela única oblação do seu corpo;
2 – Hebreus 9 e 7:a – que Nosso Senhor não se limitou em derramar seu sangue na
cruz para a remissão dos nossos pecados (Heb 9), mas também que, na unidade do
mesmo sacrifício, o recolheu e levou-o, não ao templo judeu, que não passava de
um exemplo e uma figura, mas ao santo dos santos, ao céu, para apresentá-lo
diante de Deus em nosso favor, como mediador e pontífice (Heb 7);
P276.
Que mais nos ensina S. Paulo naquelas epístolas?R.
S. Paulo nos ensina que Jesus Cristo é o mediador de uma aliança mais excelente
que a antiga, em todos os aspectos, principalmente pela sua duração: imortal na
natureza humana com que se revestiu e, fazendo-se sacerdote por toda a
eternidade, seu sacerdócio é sem fim, pois, na terra, estabeleceu sacerdotes
com sucessores, enquanto que, no céu, Ele intercede por nós.
P277.
Como a Igreja manifesta esse ensinamento de S. Paulo?R. A Igreja sempre celebrou o dia da Ascensão de
Nosso Senhor ao céu, onde sem cessar Ele oferece ao seu Pai os ferimentos que
sofreu por nossas iniqüidades, e que, por meio desse contínuo oferecimento, nos
alcança a entrada perpétua na aliança de sua paz.
P278.
A oblação de Nosso Senhor foi sempre a mesma e única imolação?R. Sim. O desejo da oblação de Nosso Senhor se manifesta
desde a sua Encarnação, se constitui no Cenáculo, se executa na cruz, se
perpetua no céu e, no entanto, só há uma única imolação de Jesus Cristo porque,
como diz S. Paulo (Heb 9) este Deus salvador morreu somente uma vez para expiar
os pecados de todos os homens e, agora, não morrerá mais, pois jamais a morte
terá domínio sobre Ele, depois da vitória que Ele teve contra ela (Rom 6).
P279.
Qual é, em resumo, o ensinamento de S. Paulo?R.
S. Paulo nos ensina que Jesus Cristo ofereceu, com um só desejo, desde a
Encarnação até o Calvário, e por esse mesmo desejo oferece esse sacrifício
único desde a cruz até o céu, onde renova, sem cessar, por meio de oblações mil
vezes repetidas, sua imolação já consumada e cumprida. Assim, pelas palavras da
consagração na Missa, Nosso Senhor se apresenta no altar, não só sob os
símbolos da morte e num estado de imolação aparente, mas também como Ele se
encontra, à direita de Deus Pai, sacerdote eterno, supremo pontífice e mediador
da nossa aliança, e dom da nossa paz; sendo agora o mesmo que se apresenta na
celebração da Missa, sempre vivo e intercedendo por nós, oferecendo suas chagas
que salvaram o mundo, e perpetuando seu sacrifício sem interrupção.
P280.
O que se constitui a verdadeira oblação da Missa?R.
A presença de Jesus Cristo, oferecendo sua morte se constitui na oblação
verdadeira da sua imolação real e a rigorosa continuação do seu sacrifício na
cruz; os atos de oblação são atuais, distintos e multiplicados; mas sempre é a
oblação da mesma vítima do Calvário e a mesma imolação desta vítima.
P281.
Seria possível explicar esse princípio com um exemplo?R. Sim. Suponhamos que Deus tivesse querido
estabelecer um sacrifício muito solene para a entrada e posse do seu povo na
terra prometida, e que tivesse declarado que este sacrifício, único em sua
classe, não fosse oferecido pelos filhos de Aarão em nome dos seus irmãos, mas
por cada israelita de cada tribo e família; suponhamos ainda que a vítima fosse
representada somente por um cordeiro e que esta imolação se renovaria por cada
ato pessoal e individual. Suponhamos que Moisés, antes de dar posse das terras
além do Jordão às tribos de Gad, de Ruben e à metade da tribo de Manasés,
tivesse escolhido o cordeiro destinado ao sacrifício. As tribos cujas
possessões estariam já definidas passariam diante do altar e, desfilando na sua
ordem, apresentariam pelas mãos de cada indivíduo aquele cordeiro para ser
imolado. Moisés, já próximo da sua morte, também o ofereceria, mas de forma
mais solene. Josué, seu sucessor para conduzir o povo de Deus, imola o cordeiro
deixando-o no altar banhado com seu sangue. As demais tribos de Israel, antes
de passar o Jordão, desfilam diante do altar e cada indivíduo oferece o sangue
derramado. Terminado o desfile e o oferecimento de todo o povo, levam o sangue
do cordeiro ao tabernáculo para ser nele conservado. Depois os levitas o tiram
todos os dias, e muitas vezes ao dia, para oferecê-lo a Deus em nome de todo o
povo, e este rito se conserva por todas as gerações. Neste exemplo, poder-se-ia
duvidar de que, apesar de terem sido multiplicadas as oblações e que duraram
por tanto tempo, somente foi efetuado por todos um só e único sacrifício, e que
sua continuação, enquanto subsistir o povo de Deus, não alteraria em nada a sua
identidade e a sua unidade?
Eis
a imagem patente e o exemplo vivo do sacrifício da cruz que o Cenáculo viu
antecipar-se e que continua na Missa até a consumação dos séculos: os justos
que viveram antes de Jesus Cristo e que durante mais de 4.000 anos passaram
diante do seu altar para oferecê-lo com sua fé; e após a consumação do
sacrifício, todas as tribos da terra passam diante deste mesmo altar,
oferecendo realmente o mesmo Jesus Cristo imolado, tornado presente pela
instituição da autoridade divina o mesmo Deus do Calvário, com seu corpo que é
oferecido, com seu sangue que é derramado sem cessar, para a remissão dos
pecados.
A
Missa é realmente, portanto, quer em relação ao sacerdote, à vítima e à
imolação, o mesmo sacrifício da cruz; seu preço é, portanto, de valor infinito,
como a morte do Salvador. Eis, dentre outras conseqüências, as que podemos
tirar da prática deste sentimento católico que acabamos de expressar e de
provar.
P282.
Por que explicar tão detalhadamente este tema?R.
Porque, ainda que comumente se ouve dizer e repetir diariamente que a Missa é o
mesmo sacrifício da cruz e que devemos assisti-la como diante da cena do
Calvário, freqüentemente acontece que não fixamos bem suas conseqüências nos
nossos corações, visto seu entendimento não ter penetrado profundamente na
nossa razão.
P283.
Como podemos colocar em prática esse conhecimento mais aprofundado da Missa?R. Uma vez entendido melhor esta elevada teologia
de S. Paulo, vemos o profundo respeito, a viva confiança, a plenitude de fé e
de amor que devemos ter diante dos altares, nas Igrejas, pensando se tivéssemos
assistido a oblação da imolação do Calvário, como estaríamos unidos mais
estreitamente a Nosso Senhor Jesus Cristo, como teríamos recolhido com o maior
cuidado cada gota do seu sangue, como teríamos guardado cada batimento do seu
coração, cada palavra da sua boca e diríamos mil vezes com fervor:
"Lembrai-vos de mim, Senhor" -"Memento mei, Domine" (Lc
23), e com o coração cheio de dor e de arrependimento, repetiríamos o grito de
fé e de reconhecimento: este homem é o verdadeiro Filho de Deus – "Vere
Filius Dei erat iste" (Mt 27), e quereríamos ajudar a preparar os perfumes
e a sepultura de Deus vítima e, principalmente, a desejar que os nossos
corações lhe servissem de túmulo.
P284.
Com que respeito, e disposição de alma, nós devemos assistir o santo sacrifício
da Missa?R. Se:A - transportados em espírito
como o apóstolo S. João (Apc 5) assistimos no sublime altar do céu, onde Nosso
Senhor celebra e oferece sem cessar, por si mesmo e sem representante, e víssemos
no trono de Deus este cordeiro em pé, imolado, abrindo o livro da liturgia
eterna para nele ler o nome dos que aproveitam do seu sangue derramado, para
fazer com que os homens se inscrevam naquelas páginas de vida, segundo as quais
se concluirá no fim dos tempos a Missa definitiva e a despedida irrevogável;B –
ouvirmos ressoar no céu estas terríveis palavras: "As coisas santas são
para os santos; a felicidade, a bem-aventurança e a benção, para os filhos de
Deus; a Missa eterna para a inocência e para o arrependimento; ... nós nos
prosternaríamos diante do cordeiro para a adoração com o coração arrependido e
humilhado, e encheríamos os incensos de ouro com a mais pura oração.
P285.
Que outros princípios devem alimentar nossa alma ao assistir a santa Missa?R. Como a Missa continua na terra o mesmo
sacrifício que continua no céu, e que a mesma vítima sobe de um altar ao outro
levando consigo nossos desejos, e volta a descer carregada de bênçãos, ao
assistir a Missa devemos animar nossa alma com os mesmos pensamentos que
teríamos no céu.
P286.
O valor da Missa é, pois, infinito?R.
O valor da Missa é infinito por se referir a Deus vítima, à suficiência do
tesouro dos seus méritos que, oferecidos por Deus-sacerdote, serão sempre
aceitos pelo Senhor, como dignos da sua majestade e da sua justiça; o valor da
Missa é de valor finito quanto ao exercício do sacerdote secundário, que é um
homem revestido de poderes divinos, e enquanto aplicação que o Senhor nos faz
dos méritos do seu Filho, proporcionalmente à nossa fé, nossa penitência e
nosso fervor.
P287.
Quais são os frutos do sacrifício da Missa?R.
A Igreja nos ensina que a Missa opera por si mesma, e por sua virtude própria,
o perdão dos pecados; mas o opera de uma forma mediata, ou seja, que pelo
próprio ato do sacrifício, e sem nenhum meio ulterior, ela obtém, para o
pecador, a graça de se converter e de receber, no sacramento da Penitência, a
remissão das suas faltas.
Exemplificando:
uma pessoa que pede a Deus a graça de mudar de vida e de se confessar, mas sem
assistir ao sacrifício da Missa, poderá obtê-la somente em virtude do seu
fervor e das suas instâncias, porém sempre terá dúvida se de fato a obteve.
Contudo,
se ela assiste a santa Missa com aquela finalidade, é certo que receberá a
graça pedida, de modo eficaz, desde que não oponham obstáculos a ela,
independentemente das disposições de quem celebra e do fervor de quem assiste a
celebração, entendendo-se o mesmo quanto às demais graças para a salvação.
P288.
Se a Missa produz a graça e a aplicação dos méritos do sangue e da morte de
Cristo, em que ela se diferencia dos sacramentos?R.
A diferença é que a Missa nos concede a graça de forma mediata, enquanto que os
sacramentos nos dão a graça imediatamente; a Missa é uma via segura que conduz à
vida, à graça, e os sacramentos são a própria vida, a própria graça, com toda a
sua eficácia.
P289.
Que podemos concluir desse conceito?R.
Podemos concluir que a assistência à Missa é uma excelente disposição para o
perdão e a conseqüente justificação, considerando que a Missa é o tribunal de
misericórdia de primeira instância, se é permitido assim falar, e dela se passa
ao tribunal de reconciliação de último recurso.
P290.
Haveria outra diferença entre a Missa e os sacramentos?R. Sim. Há outra diferença mais favorável ao
sacrifício: os sacramentos só aplicam o sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo aos
que são dignos dele, enquanto que a Missa o aplica ao justo e ao pecador, ao
que merece e ao que nem é mesmo digno de recebê-lo. Isso porque os sacramentos
só produzem seus efeitos para os vivos, enquanto que a Missa estende seus
frutos de salvação aos vivos e aos mortos.
P291.
Com que disposição esses princípios nos levam a assistência à Missa?R. Conseqüentemente, devemos ir "com confiança
ao trono da graça" (Heb 4) para alcançar a misericórdia e, naquele mesmo
trono, encontrar os socorros necessários às nossas necessidades.
P292.
Que outro ensinamento tiramos desses princípios?R.
Devemos compreender quão preciosa é a prática dos fiéis que fazem celebrar ou
que assistem a Missa, sempre que precisam pedir alguma graça a Senhor, e como
tão mais santo é o costume de assisti-la diariamente, para fortalecer-nos sem
cessar com sua santa proteção.
P293.
Qual a eficácia da Missa quanto às penas temporais devidas aos nossos pecados?R. Quanto às penas temporais devidas aos pecados,
depois de terem sido perdoados no sacramento da Penitência, a Missa as extingue
imediatamente aos que estão em estado de graça, assim como aos justos do
purgatório, cujas penas são eliminadas também imediatamente, se bem que eles
não podem merecer mais, nem mesmo recorrer a outros meios.
P294.
A Missa redime sempre e imediatamente todas as almas do purgatório?R. Não. A Igreja nos ensina que a redenção das
almas do purgatório, por meio da aplicação dos frutos da Missa, se realiza
conforme a vontade e os desígnios de Deus. A Igreja diz que a Missa ajuda a
redimir as almas do purgatório, conforme estabelecido na seção 25 do Concílio
de Trento. Assim os fiéis costumam oferecer freqüentemente Missas aos defuntos.
Além deste fruto eficaz do sacrifício, oferecemos também, como fruto secundário
àquelas almas, as fervorosas disposições com que assistimos a ela.
P295.
Que nos ensina S. Tomás sobre essa questão?R.
S. Tomás nos ensina que a santa oblação é aplicada a cada um proporcionalmente
à sua devoção. Neste sentido a Missa opera segundo a santidade de quem oferece
e de quem assiste a ela.
P296.
Mas a Missa não é somente oferecida a Deus?R.
Sim, a Missa é oferecida somente a Deus, a quem se deve unicamente a adoração,
o culto supremo e o reconhecimento total da nossa dependência, em proveito do
sacerdote, dos fiéis e das almas do purgatório, isto é, rogando graças para
essas fiéis pessoas.
P297.
Por que, então, oferecemos a Missa para a Virgem, Missa para os defuntos?R. Essas expressões são formas comuns que
empregamos, para indicar que as orações e leituras que precedem o cânon são em
memória dos santos ou dos fiéis defuntos. Embora o sacrifício só pode ser
oferecido a Deus, nele se faz menção aos santos, pois a Missa é o sacrifício de
toda a Igreja que Nosso Senhor o oferece como a cabeça do seu corpo místico,
que é a própria Igreja.
P298.
Por que a Igreja menciona o nome dos santos em certas passagens da Missa?R. Porque a Igreja militante se une a Jesus Cristo
para oferecê-la e, pelo mesmo motivo, se une à Igreja triunfante,
inseparavelmente unida à sua cabeça.
P299.
Por que a Igreja militante se une à Igreja triunfante?R. Estas duas partes da sociedade dos filhos de
Deus se unem para implorar, pelos méritos de Cristo, a divina misericórdia em
favor da Igreja padecente, constituída pelas almas que sofrem no purgatório.
P300.
A união da Igreja triunfante com a militante visa somente as almas do
purgatório?R. Não, pois esta lembrança dos santos
no altar se faz também para felicitá-los pelas suas vitórias, para agradecer a
Deus pelos seustriunfos, para nos incentivar a imitar seus sacrifícios
consumados, e para nos fortificar, como diz o cânon da Missa, através dos seus
méritos e orações a Deus e Jesus Cristo, único mediador todo poderoso.
P301.
Em resumo, a quem podemos oferecer a santa Missa?R.
A santa Missa se oferece a Deus, pelos vivos, justos ou pecadores, e, em geral,
por todos os que professam a fé católica. (A Igreja não reza especificamente
pelos cismáticos, hereges e pagãos, senão na Sexta-feira Santa). Oferecemo-la
também para os mortos para que descansem em Jesus Cristo, e por todos os fiéis
que padecem no purgatório.
PRIMEIRA
PARTE
Instruções preliminares sobre o Santo Sacrifício da Missae as preparações
prescritas para oferecê-lo
CAPÍTULO IX
Das
disposições para se oferecer o Santo Sacrifício da Missa
1
– DISPOSIÇÕES MATERIAIS
P302.
A que se refere o termo "material", objeto do estudo deste §1?R. "Material", aqui, se refere
aos edifícios destinados à celebração do sacrifício da Missa, ou seja, as
igrejas, incluindo tudo o que nelas contém para tal, como os altares, e tudo
relativo a eles. Neste parágrafo não iremos tratar dos vasos, dos tecidos
sagrados, dos ornamentos, do incenso e dos demais objetos do culto.
P303.
Qual foi o primeiro templo especificamente usado para o sacrifício da Missa?R. O primeiro templo especificamente utilizado para
o sacrifício da Missa foi o Cenáculo, lugar "amplo e bem adornado"
(Lc 22) para a celebração da Eucaristia, a pedido de Jesus Cristo – Deus.
P304.
Por que Nosso Senhor exigiu um local "amplo e bem adornado"?R. O mesmo Jesus Cristo, que nasceu num estábulo,
pois não tinha onde repousar sua cabeça, e que morreu na cruz, ordenou a seus
discípulos que procurassem um local "amplo e bem adornado", para
justificar a majestade e riqueza das nossas igrejas.
P305.
Qual foi o primeiro altar do sacrifício da Missa?R.
O primeiro altar em que se realizou o sacrifício de Cristo foi o Calvário.
P306.
Nos tempos de perseguição, onde se realizava o sacrifício da Missa?R. Em geral, na época de perseguição dos cristãos, o
sacrifício da Missa era realizado nas casas de alguns fiéis privilegiados, ou
escondidos em cavernas, bosques, calabouços ou catacumbas.
P307.
Quando foram construídas as primeiras igrejas para a celebração solene e
pública do sacrifício da Missa?R.
Logo após o término das perseguições foram construídas as primeiras igrejas
para a celebração pública da liturgia da Missa, em honra do verdadeiro Deus.
Posteriormente, em todas as partes, a piedade e arte de cada século
contribuíram para a grandeza e riqueza das construções, sempre erigidas,
fundamentalmente, para a celebração do sacrifício da Missa.
P308.
Dentre os diversos estilos arquitetônicos das igrejas, qual foi o mais
significativo quanto à piedade e grandeza devidas a Deus?R. Foi o estilo gótico que consagrou a Deus suas
majestosas catedrais, com suas elegantes cúpulas e formas grandiosas. Também os
elevados campanários nas pequenas aldeias, rompendo com graça a uniformidade da
paisagem, anunciavam por toda parte o tabernáculo de Deus entre os homens.
P309.
A construção das igrejas seguia alguma regra específica?R. Sim; seguia uma tradição específica, conforme o
testemunho do autor das "Constituições apostólicas".
P310.
Que recomendava aquela tradição referente à construção de igrejas?R. Havia uma série de recomendações quanto:
A
– a forma: que deveria ser ampla e semelhante a uma nave — daqui vem o nome do
corpo principal do templo;
B
– a orientação: deveria estar voltada para o Oriente — origem da luz,
simbolizando Nosso Senhor, Luz do mundo;
C
– a sacristia: ao lado do altar, onde se colocariam os objetos do culto,
incluindo os paramentos litúrgicos;
D
– a cátedra, ou sedia, do bispo: localizada no fundo da catedral, com os
assentos para os sacerdotes à sua direta e à sua esquerda;E – o altar: no meio
do santuário, como são vistos nas igrejas românicas;
F
– o santuário: fechado por uma balaustrada;
G
– a frente do altar: local para os clérigos menores, seguidos dos fiéis, onde
havia o púlpito para as leituras e sermões.
P311.
Como se dispunham os fiéis na catedral?R.
Os homens ficavam de um lado e as mulheres do outro, para melhor conveniência
do ósculo da paz. Viria depois local reservado aos catecúmenos e aos penitentes
públicos
P312.
Quantas portas havia nas igrejas primitivas?R.
Em geral havia três portas: a principal, ou grande porta, à frente do edifício;
a porta menor, que separava os fiéis dos catecúmenos e penitentes públicos; e a
chamada porta santa, que fechava a parte do santuário, e que servia de
balaústre para a mesa da comunhão.
P313.
Que semelhanças há entre aquelas igrejas primitivas e as atuais?R. Há inúmeras, como por exemplo:1 – a Cruz
externa, sobre o edifício ou sobre o campanário, indicando o sacrifício que se
renova no templo católico;2 – os sinos, como a voz do sacerdote, convocando os
fiéis;3 – as pias de água benta: ao lado da entrada, lembrando a pureza exigida
na oblação;4 – os confessionários: como meios para, através do sacramento da
penitência, ou confissão, recuperarmos a graça de Deus, perdida pelos pecados;5
– a cruz na frente do altar: indicando aos fiéis que devem unir o sacrifício do
seu coração à imolação da grande vítima do mundo;6 – local para o coro e o
órgão;7 – capelas laterais, possibilitando a multiplicidade de Missas;8 – relicários,
imagens que nos lembram a glória dos santos e que já consumaram seu
sacrifício;9 – finalmente, e acima de tudo, o altar, que é o ponto central das
nossas igrejas.
P314.
Que significa a palavra ‘altar’?R.
A palavra ‘altar’ deriva de ‘altus ’ significando ‘elevado’. Entre os gregos, o
termo utilizado era thusiasterion, que significa ‘ lugar da imolação’.
P315.
Que afirmou s. Gregório sobre o altar do sacrifício?R. S. Gregório nos diz que o altar do sacrifício é
de pedra comum, semelhante a que usamos para levantar muros, porém devidamente
abençoado e consagrado ao Senhor.
P316.
Havia altares sobre túmulos?R.
Sim, às vezes erguiam altares sobre túmulos de mártires, e sua forma externa
era de uma sepultura. Mas, como dizia Sto. Agostinho, o altar era somente para
Deus, embora contendo os restos mortais de mártires. Disto surgiu o costume de
se colocar relíquias de santos nos altares, costume que não só nos apresenta
uma imagem do céu, onde S. João viu no altar as almas dos mártires (Apc 6), mas
nos mostra também um espetáculo digno dos anjos e dos homens: Jesus Cristo,
vítima universal oferecida a Deus sobre o corpo das suas vítimas, estimulando
os fiéis ao sacrifício das suas vidas, pelo menos moralmente.
P317.
Todos os altares são iguais?R.
Não. Os altares são diferenciados segundo a forma de sua consagração ou da sua
finalidade, havendo, basicamente, três tipos de altares:A – Fixo: quando a
pedra inteira é consagrada;B – Portátil: quando foi consagrada somente a pedra
central;C – Privilegiado: altar em que se permite celebrar missas de defuntos
mesmo nos dias proibidos em outros altares, ou que gozam de indulgências
temporais ou perpétuas específicas.
P318.
Por que o altar está sempre acima do nível do solo?R. O altar deve ficar acima do nível do solo,
elevado pelo menos por um degrau ou base, para corresponder ao significado
literal e místico do seu próprio nome e da sua finalidade.
P319.
Como a elevação do altar acima do solo corresponde a sua finalidade?R. Como a oração é a elevação da alma a Deus, assim
também é o sacrifício celebrado no altar, sinal público da mais excelente
oração, que deve ser oferecido num lugar elevado para nos lembrar que devemos
nos separar da terra, e nos elevarmos para o céu, aproximando-nos
espiritualmente do trono da misericórdia de Nosso Senhor.
P320.
O que deve ser colocado no centro do altar?R.
No centro do altar deve ser colocado um tabernáculo, no qual se conservam as
hóstias consagradas para a comunhão dos fiéis, ou levadas aos enfermos, e a
hóstia que é exposta à adoração nos ofícios públicos.
P321.
O que se coloca nas laterais do altar, ao lado do tabernáculo?R. Tanto à direita como à esquerda do tabernáculo,
colocam-se pequenos degraus, com flores, e candelabros com velas. Pelo menos
duas velas devem estar acesas durante a santa celebração, multiplicando-se
conforme a solenidade dos dias.
P322.
Como o altar deve ser revestido?R.
O altar deve ser coberto por três toalhas bentas, sobre as quais coloca-se um
missal apoiado em pequena estante, e três quadros denominados cânones do altar
(sacras), um ao centro, contendo o texto que é recitado no meio do altar em
momentos em que o sacerdote não possa ler comodamente o missal; o da direita,
contém as orações da infusão do vinho e da água no cálice e o salmo do Lavabo;
o terceiro, à esquerda, contém o último Evangelho segundo S. João.Nas Missas
solenes e cantadas coloca-se ainda no altar o livro das epístolas e dos
Evangelhos, e antigamente os instrumentos para o ósculo da paz.
P323.
Por que se acendem luminárias durante a Missa?R.
A origem deste costume se encontra no início da era cristã, no tempo das
perseguições, em que os fiéis, obrigados a celebrar os santos mistérios em
lugares escuros e antes do raiar do dia, precisavam acender tochas que, às
vezes, eram multiplicadas como sinal de alegria.
P324.
Há referência desse costume na Escritura?R.
Sim. S. Lucas, nos Atos dos Apóstolos, 20, 7- 8, nos revela que, no local onde
S. Paulo pronunciou um extenso discurso aos fiéis no primeiro dia da semana
(domingo) havia uma grande quantidade de luminárias. Aí lemos: "E, no
primeiro dia da semana, tendo-nos reunido para a fração do pão, Paulo, que
devia partir no dia seguinte, falava com eles, e prolongou o discurso até a
meia-noite. E havia muitas lâmpadas no Cenáculo, onde estávamos reunidos".
Além disso, Eusébio nos diz que, na noite de Páscoa, além da iluminação das
igrejas, o imperador Constantino ordenava acender todo o tipo de tochas em
todas as ruas da cidade, para que aquela noite fosse mais brilhante que o dia
mais claro (Euséb., História Ecles., 1. 5, c. 7).Assim, o costume das luzes
durante a celebração da Missa é uma lembrança da mais remota Antigüidade, e
como manifestação da alegria espiritual dos fiéis naquele santo momento.
P325.
O costume de acender luzes não surgiu, portanto, da pura necessidade natural de
iluminação?R. Não, pois, nos séculos III e IV,
apesar da profunda paz reinante, na qual a Igreja podia celebrar livremente, e
com grandiosidade, cerimônias mais solenes, sempre se acendiam lampadários
durante o dia.
P326.
Há alguma referência histórica sobre esse tema?R.
Sim, por exemplo, quando o herege Vigilâncio se atreveu a acusar a Igreja de
superstição porque pessoas piedosas acendiam velas durante o dia nos túmulos
dos mártires, S. Jerônimo lhe respondeu indignado, referindo-se aos ofícios
eclesiásticos: "Nós não acendemos luzes durante o dia senão para mesclar
de alguma alegria as trevas da noite; para velar com a luz, e evitar dormirmos
como vós, na cegueira das trevas" (S. Jerônimo, Epist. ad Vigilant ).
P327.
Por que o testemunho de S. Jerônimo é importante para esse assunto?R. Porque ninguém como ele poderia estar melhor
informado sobre esse costume, pois ele havia visitado toda a Gália (França) e
percorrido todo o Oriente e Ocidente. Assim, podemos dizer, sob sua autoridade,
que não se acendiam luzes durante o dia porque haviam sido usadas no decorrer
da noite, mas que nas igrejas do Oriente se acendiam luzes por motivos
místicos: "Em todas as igrejas do Oriente, diz ele, se acendem velas
durante o dia quando se lê o Evangelho, não para ver claro, mas como sinal da
alegria e como símbolo da luz divina, luz da qual diz o salmo: vossa palavra é
a luz que ilumina meus passos" (Id.)Esse mesmo motivo místico, que levou
os fiéis a acender velas durante a leitura do Evangelho, determinou o costume
posterior de mantê-las acesas durante a celebração do sacrifício em que Nosso
Senhor, que é a verdadeira luz dos homens, está realmente presente; no qual o
pontífice e o sacerdote, em suas elevadas funções, representam esta divina e
evangélica claridade.
P328.
Por que a Igreja sempre aprovou esses costumes?R.
A Igreja sempre aprovou esses costumes simbólicos porque eles são ensinamentos
simples e edificantes para o povo.
P329.
Há outros exemplos da utilização da luz como símbolo da fé?R. Sim, por exemplo, o antigo costume de se colocar
nas mãos do recém batizado um círio, e S. Cirilo de Jerusalém, no ano 550,
dizia que estes círios acesos são símbolos da fé que se deve conservar com todo
o cuidado.
P330.
Por que se abençoa e se acende o círio pascal?R.
Há mais de 1200 anos se benze e se acende o círio pascal para que a benção
desta luz nos permita a contemplar a sagrada ressurreição, ou seja, o brilho
luminoso da nova vida de Jesus Cristo, como afirma o 4º Concílio de Toledo, no
ano 633, ao censurar as igrejas que não observavam esta cerimônia.
P331.
Por que se levam círios na festa da apresentação de Jesus no Templo, e
purificação de Nossa Senhora?R.
Levam-se círios na comemoração daquelas festas para que os fiéis possam
participar da alegria de Simeão ao tomar o Menino Jesus em seus braços,
expressando que Ele era a alegria das nações e para indicar que devemos nos
consumir diante do Senhor, unidos em Jesus Cristo, como se consome a vela que
levamos.
P331.
Por que se acendem velas nas cerimônias fúnebres?R.
No século IV, os corpos dos fiéis que haviam falecido na fé eram levados à
igreja, em procissão com círios acesos. S. Paulo, S. Simeão Estilista e o
próprio imperador Constantino, assim foram conduzidos para indicar, com este
solene séqüito de luminárias, que eles eram verdadeiros filhos da luz.A
quantidade de velas que ardiam, dia e noite, no túmulo dos mártires, conforme
nos dizem S. Paulino e Prudêncio, brilhavam em homenagem à luz celestial de que
usufruíam aqueles santos e que fazem a alegria dos cristãos: "Nasce a luz
para os justos, e a alegria para os retos de coração" (Salmo 96, 11).Da
mesma forma, os círios acesos durante o dia nas igrejas foram sempre
considerados símbolos da verdadeira luz, conforme nos diz S. Jerônimo e Sto.
Isidoro (Etym., 1. 7, c. 12).
P332.
Que diziam S. Pedro e S. Paulo utilizando a luz como símbolo?R. S. Pedro dizia: todos vós sois filhos da luz e
do dia; e S. Paulo: antes vós éreis trevas, mas, agora, sois a luz no Senhor:
andai como filhos da luz.
P333.
O que nos diz o Micrólogo sobre a luz nas missas?R.
Afirma que nós nunca celebramos a missa sem luz, não para dissipar o escuro,
visto que é dia, mas para figurar e anunciar a luz eterna e divina cujos
sacramentos e gloriosos mistérios celebramos.
P334.
Haveria ainda algum outro motivo para se acender luzes durante a Missa?R. Sim. A Igreja acolhe também este costume por sua
relação ao espetáculo testemunhado por S. João no céu, quando viu o Filho do
Homem entre sete candelabros de ouro. Os círios acesos nos advertem que devemos
nos comportar como filhos da luz com a prática de atos de caridade, de justiça
e de verdade.
§ 2 – PREPARAÇÕES INTERIORESPreparação particular dos sacerdotes indicadas
nas rubricas
P335.
Que significa o termo ‘rubrica’? R.
Deu-se o nome de ‘rubrica’ às observações escritas em letras vermelhas no
sacerdotal, texto utilizado pelos sacerdotes como preparação da Santa Missa, e
no próprio Missal. Esta expressão vem do antigo direito romano, cujos títulos,
regrasou decisões principais, eram escritas com caracteres em vermelho (rubro).
As rubricas da Missa prescrevem o modo de recitá-la, para que fossem mais
facilmente distinguidas no texto.
P336.
Quando foram ordenadas as rubricas do Missal?R.
No final do século XV, pelo mestre de cerimônias Burcard, durante o pontificado
dos Papas Inocêncio VII e Alexandre VI, sendo impressas pela primeira vez no
Missal em 1485, em Roma, e no sacerdotal alguns anos depois, sob o pontificado
de Leão X. Posteriormente, durante o Concílio de Trento, em 1570, o Papa S. Pio
V reordenou e distribuiu as rubricas nos títulos do Missal.
P337.
Que prescreve a rubrica no sacerdotal?R.
A primeira prescrição aos sacerdotes é que eles devem se confessar caso seja
necessário.
P338.
Por que essa regra?R. Porque ela é conseqüência direta do
preceito do apóstolo que disse: quem comer o pão da vida e beber o cálice do
Senhor indignamente será réu do corpo e sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo; ou
seja, o sacerdote deve estar em estado de graça, que é também prescrito a todos
as fiéis para receberem o sacramento da Eucaristia. O estado de graça não
abrange somente a disposição do sacerdote e dos fiéis, mas também inclui o
discernimento conveniente entre o corpo de Nosso Senhor e o alimento que a
providência concede indistintamente a justos e pecadores.
P339.
Qual é a segunda rubrica para a preparação do sacerdote?R. Ela prescreve também que o sacerdote deva ter
rezado pelo menos as matinas e as laudes, conjunto de orações do ofício noturno
e da manhã.
P340.
Por que se exige dos sacerdotes pelo menos tais orações antes da Missa?R. Sempre foram feitas longas orações vocais antes
da Missa para excitar aqueles desejos que, como diz Sto. Agostinho na Epist. ad
Probam, produzem mais efeito quanto mais se animam. Este costume, que é a
preparação remota do santo sacrifício, remonta à antiguidade, pois já no século
VI sabemos que Sto. Atanásio celebrava as vigílias na igreja quando teve que
partir para o desterro. O motivo da celebração deste ofício, praticado por Sto
Atanásio, é que ele devia recitar na igreja a Sinaxe, ou seja, a assembléia
para o sacrifício, costume que ainda conserva resquícios em certas catedrais em
que será celebrada Missa solene.
P341.
Por que a rubrica estabelece explicitamente a condição ‘pelo menos’?R. Pelo menos, porque se a Missa é celebrada mais
tarde exige-se então a recitação dos demais ofícios decorridos entre laudes (5h
da manhã) e a Missa.
P342.
Que outra rubrica é prescrita ao sacerdote antes da Missa?R. Outra rubrica ordena ao sacerdote aplicar algum
tempo à oração. De fato, não basta a oração pública: a oração mental deve
sempre estar unida à oração vocal.
P343.
Que considerações deve fazer o sacerdote nessa preparação?R. O sacerdote deverá considerar:
A - a excelência e a majestade dos mistérios dos quais ele será o ministro, e
sua profunda indignidade em celebrá-lo;
B - dirigir sua atenção à oferenda do santo sacrifício e levar a este trono de
misericórdia a mais viva fé, a pureza mais escrupulosa e o amor mais ardente a
Nosso Senhor Jesus Cristo.Antigamente, em algumas catedrais em que seriam
celebradas missas solenes com a presença de grande número de assistentes, o
celebrante passava a semana anterior em retiro, para que essa contrita
preparação não fosse perturbada pelo movimento natural e ruído das pessoas.
P344.
Quais eram as orações marcadas pela rubricas?R.
Havia muita variedade. Assim, no século X, o sacramental de Tréveris, indica os
três primeiros salmos, seguidos da ladainha aos santos. No século XI, o
Micrólogo indica os quatro primeiros salmos, como se encontram nos missais e
breviários. A Igreja deixa à devoção de cada sacerdote a escolha das orações
para sua preparação, para alimentar melhor sua fé e a sua piedade.
§ 3 - PREPARAÇÕES EXTERIORES
P345.
Qual é o primeiro dever exterior do sacerdote?R.
O sacerdote deve preparar o que deverá ler no Missal, para entendê-lo e
recitá-lo melhor, bem como para evitar enganos que poderão prejudicar a atenção
e o acompanhamento dos assistentes, fazendo-os cansar, ao procurar a correta
seqüência do texto.
P346.
Que outro ato externo o sacerdote deve cumprir como preparação à celebração do
santo sacrifício da Missa?R.
Antes do sacrifício, o sacerdote deve lavar suas mãos na sacristia, regra
seguida em todas as épocas e povos. A lei antiga (Ex. 30, 18) a determinava
expressamente, e os cristãos jamais a descuidaram, como recomendavam S. Cirilo
e S. Crisóstomo. Além disso, S. Cesáreo ordenava a todos os participantes que
lavassem suas mãos para receber a eucaristia, como respeito ao santo
sacrifício.
P347.
Que visava a Igreja ao prescrever aquela ablução?R.
A Igreja prescrevia lavar as mãos como sinal externo da pureza interior
necessária para entrar no santuário, como pede a oração pronunciada durante
aquele ato: “Senhor, tornai minhas mãos puras, para que eu possa servir sem
mancha alguma corporal ou espiritual.”
P348.
Que mais é prescrito ao sacerdote como preparação externa do santo sacrifício?R. O sacerdote deve preparar o cálice como observa
a rubrica do Missal.
P349.
Como deve ser o cálice?R. O cálice deve ser uma taça de prata,
dourado, consagrado pelo bispo e que serve para a consagração do vinho em
sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo.
P350.
Em que consiste a preparação do cálice?R.
Esta preparação consiste em ordenar:
A - o cálice, que deverá ser bem lavado e secado;
B - o purificatório, isto é, o lenço que cobre o cálice, que serve para enxugar
e purificar no altar as taças do sacrifício, e que é como um pano sagrado da
mesa divina;
C - a patena, pequena bandeja arredondada, de prata dourada, consagrada como o
cálice, na qual será colocada a Hóstia, corpo de Nosso Senhor Jesus Cristo; ela
é disposta sobre o cálice e sobre o purificatório;
D - o pão, também chamado de hóstia ou vítima, que é a matéria destinada a
converter-se no corpo do nosso Salvador; este pão, de farinha sem levedura, de
forma redonda e fino, coloca-se inicialmente na patena que é coberta pela
palio, lenço bento, para cobrir o cálice durante a Missa, evitando, assim, que
nada caia dentro dele. A palavra pallia, vem de pallium, que significava capa
ou cobertura;
E - o pano que cobre todo o cálice, do mesmo tecido e cor dos paramentos;
F - finalmente, a bolsa que se coloca sobre o altar, à esquerda do cálice, que
contém o lenço sagrado, denominado corporal, termo oriundo da palavra latina
corpus, que é o quarto pano estendido para receber o corpo de Cristo e as
partículas que poderiam eventualmente se desprender da hóstia consagrada.
Após
essa preparação, o sacerdote e seus auxiliares se revestem com os paramentos
específicos para rezar a Missa.
P351. Por que há variedade de cor nos paramentos do
sacerdote, dos seus auxiliares, e na ornamentação do altar, no decorrer do ano?R. Assim como acontece nas comemorações civis, que
são realizadas com diferentes trajes conforme sua natureza, assim também nas comemorações
religiosas os fiéis usam de ornamentos específicos na celebração do mais santo
dos mistérios. Isso para melhor demonstrar aos fiéis, através da sensibilidade,
a particular natureza da comemoração: dias festivos, como o Natal, a Páscoa,
com paramentos claros; comemorações fúnebres, como as da Paixão, com paramentos
pretos, ou seja, para realçar exteriormente o brilho ou a gravidade das funções
divinas.
P352.
Quem estabeleceu os paramentos para as funções divinas?R. Foi o próprio Deus, no antigo Testamento, quem
determinou os diferentes vestuários sagrados que deveriam ser utilizados pelos
ministros conforme a natureza do culto a ser prestado. S. Jerônimo, ao comentar
o que diz Ezequiel sobre o culto divino:
“Não devemos entrar no Santo dos Santos, nem celebrar os sacramentos do Senhor
trajando roupas comuns de uso diário... A religião divina tem um traje para o
ministério e outro para o uso comum”.
P353.
É absolutamente necessário, para a celebração dos santos mistérios, o brilho
externo dos paramentos sacerdotais e ornamentos do altar?R. Evidentemente, não, pois não há dúvida alguma
que os santos mistérios, infinitamente grandes em si, não necessitam de nenhum
brilho externo. Assim, por exemplo, no tempo das perseguições o santo
sacrifício era oferecido com uma consciência pura da sua natureza, sem o uso de
paramentos específicos, devido às circunstâncias extremamente perigosas para os
cristãos. Porém, os homens precisam de sinais externos, visíveis e sensíveis,
para lembrá-los interiormente da grandeza invisível dos mistérios.
P354.
Por que a Igreja utiliza paramentos e ornamentos extremamente ricos?Não
bastariam o asseio corporal e a simplicidade dos paramentos?R. A Igreja nunca receou celebrar os mistérios com
majestade e riqueza porque tudo o que é excelso e valioso no mundo, vem de Deus
e deve ser consagrado para sua glória, conforme afirmou o profeta “O ouro e a
prata me pertencem, diz o Senhor”, (Ageu, 2-9) representando a glória do templo
do Desejado pelas nações.
Além
disso, há inúmeras passagens na Sagrada Escritura nos revelando como o próprio
Deus determinou paramentos específicos e ricos para as diversas cerimônias, bem
como o uso de ouro e prata nos ornamentos do Templo, como, por exemplo, Êxodo,
28 / 38 /39; I Reis 9 ; II Crônicas 3 e 5; Esdras 8; Malaquias 3, etc.
Por
isso a Igreja logo ergueu e adornou também ricamente templos tão grandiosos,
majestosos tão logo os imperadores e reis abraçaram ou deram liberdade ao
cristianismo.
P355.
Há registros históricos desses acontecimentos?R.
Sim, e muitos, como por exemplo:
A - lemos em Teodoreto que o imperador Constantino deu a Macário, bispo de
Jerusalém, uma túnica tecida em ouro para que ele a usasse ao ministrar o
sacramento do Batismo;
B - Optato de Mileva escreveu que o imperador enviou muitos ricos ornamentos
para as igrejas;
C - S. Gregório Nazianzeno realça o brilho dos paramentos dos sacerdotes;
D - Eusébio, bispo de Cesárea (313), fala dos paramentos dos bispos como de
trajes que os enobreciam;
E - o sacerdote Nepociano tinha tanto respeito e estima pela túnica que usava
para oferecer o santo sacrifício, que a deixou por testamento a S. Jerônimo.
P356.
Como foi estabelecido o traje específico do sacerdote para a celebração da
Missa?R. Inicialmente, o uso de traje
específico para a Missa foi observado por devoção. Posteriormente, os Papas e
os Concílios ordenaram aos sacerdotes de celebrarem o santo sacrifício somente
com paramentos consagrados para esta santa ação, e proibiram, sob severas
penas, de servirem-se deles para o uso comum.
P357.
Por que os paramentos da Missa devem ser abençoados pelo bispo?R. Para mostrar claramente o elevado e único fim a
que são destinados.
P358.
Como era a benção dos paramentos da santa Missa?R.
Segundo a liturgia de S. Jerônimo, os gregos os abençoavam cada um em
particular, com o sinal da cruz, acompanhado de oração específica, sempre que
os vestiam. Assim também faziam os latinos antigamente, e ainda nos nossos dias
dizem orações semelhantes todas as vezes que os impõem.
P359.
Como eram, inicialmente, os paramentos utilizados pelos sacerdotes?R. No início os paramentos eram semelhantes ao
vestuário comum, mas, como estes sofreram algumas mudanças, assim também os
paramentos sagrados passaram por alterações, sendo hoje bem distintos uns dos
outros.
P360.
Que é preciso analisar para se entender os paramentos utilizados atualmente?R. Para uma visão mais profunda dos paramentos é
preciso estudar sua origem, as alterações que foram estabelecidas tanto para o
asseio como para a comodidade, os objetivos da Igreja em ordenar e regulamentar
seu uso, e as orações pronunciadas pelos sacerdotes ao vesti-los.
P361.
Quais são as peças dos paramentos sacerdotais para a celebração da Missa?R. As peças dos paramentos para a celebração da
santa Missa são:1 – O amito;2 – A alba;3 – O cíngulo;4 – O manípulo;5 – A
estola;6 – A casula;7 – A estola dos diáconos;8 – A dalmática;
P362.
O que é o amito?R. Amito, originário da palavra latina
amicere, que significa cobrir, é um lenço introduzido no século VIII para
cobrir o pescoço, preservar a voz e consagrá-la ao Senhor para cantar seus
louvores. Em Roma, no século X, foi considerado como um capus que ficava
cobrindo a cabeça do sacerdote enquanto este se paramentava, e o deixava cair
sobre seu pescoço imediatamente antes de começar a Missa.
P363.
Qual é o procedimento atual do sacerdote ao vestir o amito?R. O sacerdote toma o amito e pronuncia as
seguintes palavras: “ Colocai Senhor o capacete da salvação em minha cabeça.”
Segundo o missal romano, embora o amito seja colocado na cabeça e imediatamente
no pescoço, o sacerdote deve sempre lembrar-se do sinal que ele indica, como
sendo o capacete e a armadura contra os ataques do demônio e de guarda da sua
voz. A partir de então, entrar em profundo recolhimento e guardar o mais
rigoroso silêncio para celebrar o santo sacrifício.
P364.
O que é a alba?R. A alba, assim chamada devido à sua
cor branca, era uma larga túnica de linho usada por pessoas distintas, no
Império Romano.
P365.
Por que a Igreja passou a usá-la como paramento litúrgico?R. Como explica S. Jerônimo (Adv. Pelag., 1, 1), a
Igreja passou a usá-la para indicar a dignidade da casa de Deus, e porque sua
cor branca simboliza a suma pureza dos que seguem na terra o cordeiro sem
mancha, e no céu, os anjos, representados e revestidos também com túnicas
brancas.
P366.
Que oração acompanha o vestir a alba?R.
Ao vestir a alba, o sacerdote pede a Deus para torná-lo branco (puro) no sangue
do cordeiro e merecer participar das alegrias celestiais.
P367.
Que é o cíngulo?R. O cíngulo é um cinto em forma de
cordão com que o sacerdote cinge a cintura, pedindo a Deus que coloque um cinto
em seus rins, para conservar sua pureza.
P368.
Que é manípulo?R. Manípulo, originário do termo
mappula, significa pequeno lenço, chamado também de sudarium (enxugar o suor),
na França e Inglaterra. Da palavra mappula se formou o termo manípula,
encontrado nos antigos pontificais do século IX, ainda que é verossímel também
que aquele termo tenha sua origem na palavra manus, mão, porque se usava preso
ao braço ou à mão esquerda.
P369.
Qual sua função no paramental litúrgico?R.
O manípulo substituiu o orarium, ou a estola, quando esta não serviu mais para
enxugar o pescoço e o rosto. Com o passar do tempo, o manípulo passou a ser
cada vez mais ornamentado, e no século XII já não servia mais para a sua
finalidade original. Assim, a partir de 1195, o cardeal Lotário, futuro papa
Inocêncio III, fala do manípulo, não mais para enxugar o corpo, mas para
enxugar a alma e o coração, para afastar o temor dos trabalhos, suores e
lágrimas evangélicas e infundir o amor às boas obras.
P370.
Com que oração o sacerdote o veste hoje?R.
Há mais de seiscentos anos os sacerdotes repetem a seguinte oração ao vestir o
manípulo: “Mereça eu, Senhor, usar o manípulo das dores e lágrimas para receber
com alegria a recompensa do trabalho”. Essa oração se fundamenta no Salmo 125,
6: “Os que semeiam entre lágrimas, com alegria ceifarão. Vão andando e choram,
levando as sementes para espalhar. Quando voltarem, virão com alegria, trazendo
os seus punhados.” Manípulos, no Salmo, significa também feixes, punhado.
P371.
O termo manípulos, neste Salmo, tem outros sentidos?R. Sim. No Salmo acima há dois significados para
aquela palavra: o primeiro, indica o punhado que carregavam nas mãos ao
partirem para a semeadura; o outro, do punhado que os colhedores traziam ou o
seu fruto.
P372.
Que simbolizam esses dois significados?R.
Que neste mundo se planta com trabalho e sofrimentos; e que no outro, se
carrega com alegria os frutos daquele trabalho, para o qual a Igreja nos anima.
P373.
Que é a estola?R. Estola, antigo orarium, era um lenço
grande e fino, usado por pessoas abastadas para enxugar o rosto. Geralmente,
era utilizado por pessoas que falavam em público (daí o termo orare, oratio,
significando discurso) e, por isso, era levado também pelo bispo, pelo sacerdote
e pelo diácono, nunca, porém, pelos ministros das ordens menores que não tinham
o poder de anunciar a palavra de Deus.
P374.
Quando passou a ser empregado, nos moldes de hoje, como paramento pela Igreja?R. Embora, pela tradição ele tenha sido sempre
empregado na Igreja, desde o século VI há muitas pinturas relativas à Igreja
grega e à latina em que se nota a estola, de seda e larga, como usada nos
nossos dias. A Igreja sempre a viu como um traje de honra e de autoridade
espiritual.
P375.
Com que oração o sacerdote veste a estola?R.
O sacerdote veste a estola com a seguinte oração: “Dai-me, Senhor, a túnica da
imortalidade que perdi pelo pecado com a queda do nosso primeiro pai”.
P376. Que é a casula?R.
Casula era um grande manto redondo, muito largo, com uma abertura para passar a
cabeça, cobrindo todo o corpo, traje comum que todos os homens usavam como
manto, durante os sete primeiros séculos da era cristã. Depois o povo deixou de
usá-la, sendoconservado somente pelas pessoas consagradas a Deus, como último
paramento vestido pelo sacerdote para celebrar a santa Missa.
P377.
Há quanto tempo os sacerdotes utilizam a casula para a celebração da Missa?R. Há mais de mil anos a Igreja entrega a casula
aos sacerdotes ao ordená-los, como traje específico para oferecer o santo
sacrifício.
P378.
Que simboliza a casula?R. A casula simboliza a caridade que
deve cobrir o sacerdote o jugo amável de Nosso Senhor Jesus Cristo que o
sacrificador deve realizar com graça e alegria. A casula tem a cruz desenhada
às costas.
P379.
Que oração recita o sacerdote ao vestir a casula?R.
A casula traz desenhada às costas a cruz. O sacerdote, que deve fundar sua
glória em levar a cruz de Cristo, ao vestir a casula, diz: “Senhor, que
dissestes: meu jugo é suave e meu peso é leve, fazei que eu o porte de modo a
merecer a sua graça”.
P380.
O que é a estola dos diáconos?R.
Os diáconos, que auxiliam ao sacerdote no altar durante a celebração da santa
Missa, além do amito, da Alba, do manípulo e do cíngulo, vestem uma estola
própria, e a dalmática.
P381.
Qual a origem dessa estola?R.
A estola dos diáconos teve a mesma origem da estola dos sacerdotes; um lenço
fino e largo, colocado sobre o ombro esquerdo, assim como era usado pelos
servidores romanos em suas festas solenes. S. Crisóstomo dizia que as pontas da
estola dos diáconos flutuantes ao vento imitavam as asas dos anjos, e
representavam a sua atividade (Hom. De filio pródigo). O IV Concílio de Toledo,
em 633, determinou aos diáconos que só usassem um orarium no ombro esquerdo e,
prendendo as extremidades no lado direito, sob a dalmática.
P382.
Que era a dalmática?R. Era uma túnica com mangas curtas e
próprias para facilitar os movimentos dos que a usavam.
P383.
Qual a origem da dalmática?R.
A dalmática era um vestuário usado na Dalmácia, daí seu nome; foi introduzida
em Roma no século II.
P384.
Como Sto. Isidoro considerava a dalmática?R.
Sto. Isidoro, no século VI, considerava a dalmática como veste sagrada, branca
e adornada com bainhas em púrpura. Por isso ela se tornou um traje solene,
devendo inspirar uma santa alegria, conforme a expressão do pontifical (De
ordin. Diac.). Além da dalmática, os diáconos usam também a estola.
P385.
Por que os sacerdotes e ministros devem usar tais paramentos?R. Tais paramentos são utilizados pelos sacerdotes
e ministros para atender os desejos da Igreja de se revestirem de justiça (Ps
131), ou seja, do conjunto de virtudes convenientes ao seu ministério.
P386.
Qual deve ser o vestuário dos fiéis durante a celebração do Santo Sacrifício da
Missa?R. A Igreja recomenda aos fiéis que
devem se aproximar daquelas virtudes próprias do sacrifício que oferecem
através do celebrante a Nosso Senhor Jesus Cristo. Assim, o amito deve
lembrá-los da decência dos vestidos e do recolhimento e do silêncio na casa de
Deus; a Alba e o cíngulo, devem lembrar a pureza e a modéstia; o manípulo
lembra a santa vida e as boas obras da fé que devem unir à santa vítima; a
estola, a dignidade da sua vocação que convida a sacrificar na terra e a reinar
no céu; a casula, lembra o fogo da fé e da lei de Deus com que devem subir ao
altar e de praticar no mundo todos os atos da sua vida; enfim, o vestuário deve
mostrar para a alma a grandeza do sacrifício, o seu tempo de preparação e a
abundância de frutos que dele devem usufruir.
P387.
Por que os paramentos são de diferentes cores?R.
As cores também devem acompanhar o estado de espírito com que a Igreja celebra
as diversas festividades. Assim, já no início do século IV, a cor era a branca,
pelos mesmos motivos expostos quando tratamos da Alba, e algumas vezes se usou
a cor vermelha, ou a púrpura, que entre os gregos era sinal de luto. O branco
indicava a pureza do cordeiro sem mancha, e a púrpura, o luto. Usava-se o
branco nas solenidades e festas comuns, e o vermelho nos dias de jejum e nas
cerimônias fúnebres.Porém, logo se passou a usar a cor preta para simbolizar o
luto, a exemplo do patriarca Acácio de Constantinopla que, para demonstrar a
aflição e a dor que sentira pela promulgação do edito do imperador Basilisco
contra o Concílio de Calcedônia, se cobriu de preto e revestindo assim também o
altar e a cátedra patriarcal.
P388.
Além das cores branca e vermelha, que outras cores a Igreja latina utilizava?R. Além daquelas cores, a Igreja latina utilizava
também paramentos azuis para que os fiéis pensassem no céu, como dizia Ivon de
Chartres. No século XII, porém, a Igreja latina passou a usar paramentos em
cinco cores diferentes para celebrar comemorações específicas.
P389.
Quais foram as cinco cores utilizadas usadas pela Igreja latina após o século
XII?R. Foram as seguintes cores: branca,
vermelha, verde, violeta e preta.
P390.
Que significado tinha cada uma daquelas cores?R.
Cada cor era usada para lembrar aos fiéis as diversas disposições da alma
segundo a natureza da festividade comemorada. Assim, cada cor significava:
1- Branca: simbolizava a alegria, o brilho e a pureza; utilizada nos dias
comemorativos dos mistérios gozosos e gloriosos de Nosso Senhor Jesus Cristo,
nas festas dedicadas à Nossa Senhora e à maior parte dos santos;
2- Vermelha: lembrava o espírito de sacrifício, a efusão do sangue, o ardor da
caridade; usada na Sexta-feira Santa; no dia de Pentecostes, na festa dos
Apóstolos e dos mártires;
3- Verde: indicava aos fiéis a fecundidade do campo e da riqueza proveniente
das ações espirituais; utilizada a partir do domingo da Santíssima Trindade até
o Advento;
4- Violeta: símbolo da penitência; usada no tempo do Advento, da Sexagésima (60
dias antes da Páscoa) e da Quaresma;
5- Preta: como sinal de luto da Igreja e dos seus filhos, no tempo da Paixão e
nas Missas fúnebres.
P391.
Por que os ornamentos dos paramentos litúrgicos são sempre dourados?R. Os ornamentos dos paramentos são sempre dourados
pois esta cor figura todas as classes de cores.
P392.
Que lição fundamental a Igreja nos dá através dos seus diversos paramentos
litúrgicos?R. Qualquer que seja o costume
estabelecido nesse campo, devemos sempre acatar e reverenciar a Igreja como a
esposa de Nosso Senhor Jesus Cristo, de quem se escreveu: “A rainha está à
vossa direita, adornada com admirável variedade”.
PRIMEIRA
PARTE
Instruções preliminares sobre o Santo Sacrifício da Missae as preparações
prescritas para oferecê-lo
CAPÍTULO X
Da benção e aspersão da água - das procissões e da chegada do sacerdote ao
altar
1
– Benção e aspersão da água P393.
Que ordena a rubrica do Missal quanto à água?R.
A rubrica do Missal ordena que todos os domingos, antes da Missa, o celebrante,
revestido com todos os paramentos sagrados, exceto a casula, deve benzer a água
para aspergi-la sobre o povo.
P394.
Quando começou essa tradição?R.
A benção e a aspersão da água sobre os fiéis é uma tradição muito antiga. Já S.
Basílio, Bispo de Cesárea e Doutor da Igreja, que viveu no século IV, a
colocava entre as tradições apostólicas. Além disso, os padres mais antigos da
Igreja nos falam dessa água purificada e santificada pelo sacerdote, cuja
finalidade, ao aspergi-la sobre o povo, é de purificá-lo e prepará-lo para a
santa oblação.
P395.
Quais são os elementos utilizados na benção da água?R. Os elementos utilizados para a benção da água
são: água e sal.
P396.
Por que se utiliza do sal e da água para a benção?R. Porque a virtude da água é de lavar, e a do sal
é de preservar da corrupção. Ao tomar estes símbolos comuns de pureza e de
salubridade, a Igreja os exorcisa, isto é, os ordena, por parte de Deus e pelos
méritos da cruz de Jesus Cristo, que não prejudiquem os homens pelo abuso que o
demônio poderia fazer deles, e que, pelo contrário, lhes seja útil para a
salvação.
P397.
Por que a Igreja invoca o poder divino sobre o sal?R. Para que ele preserve os homens de tudo quanto
possa ser prejudicial à salvação, da mesma forma que o profeta Elias lançou sal
sobre as águas de Jericó, para torná-las salubres à terra, dizendo da parte de
Deus que estas águas não causariam a morte nem a esterilidade. Para isto também
são feitos os exorcismos que se fazem sobre a água batismal, para a consagração
das igrejas e sobre os objetos inanimados.
P398.
Quando a Igreja começou a fazer exorcismos?R.
Os exorcismos remontam à mais antiga era. Tertuliano se refere a eles quando
diz que “as águas são santificadas pela invocação de Deus” (De Bapt. C. 40); e
São Cirilo afirma mais claramente que é preciso que a água seja purificada e
santificada pelo sacerdote (Epístola 70).
P399.
Como o sacerdote procede à benção da água?R.
O sacerdote abençoa e mistura o sal na água, reunindo os dois efeitos de
purificar e de preservar da corrupção, dizendo: “Faça-se a mistura do sal e da
água, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” , fazendo vários sinais da
cruz para indicar que só esperamos os efeitos que estes sinais expressam,
implorando a onipotência da Santíssima Trindade, pelos méritos da cruz de Nosso
Senhor Jesus Cristo.
P400.
Que pede a Deus o sacerdote depois do exorcismo do sal?R. Depois do exorcismo do sal o sacerdote pede a
Deus: “Que sirva este sal a todos quantos o tomem para a saúde do seu corpo e
da sua alma, e que tudo o que for tocado por ele se preserve de toda impureza e
de qualquer ataque do espírito da malícia”.
P401.
Que diz o sacerdote após o exorcismo da água?R.
Diz ele: “Derramai, Senhor, a virtude da vossa benção sobre este elemento
preparado para as diversas purificações; a fim de que receba vossa criatura,
servindo aos vossos mistérios, o efeito da vossa divina graça para lançar os
demônios e as enfermidades; que tudo quanto seja por ela tocado nas casas e nos
demais lugares dos fiéis, se preserve de toda a impureza e de todo o mal; q ue
afaste desta água todo o sopro pestilento, todo o ar corrompido, que a preserve
de todo o ataque do inimigo oculto, e de tudo quanto possa ser danoso à saúde e
ao repouso dos que lá vivem; e, finalmente, que se conserve contra todo o tipo
de ataques esta saúde que pedimos por invocação do vosso santo nome”.
P402.
Que proveito podemos tirar dos ensinamentos acima?R. Os ensinamentos acima nos convidam a usar da
água benta na igreja, bem como a conservá-la em nossas casas, para dela nos
servir nas tentações, ao deitar, ao despertar, para pedir o auxílio de Deus em
todas as circunstâncias de perigo, quer para o nosso corpo como para nossa
alma.
P403.
Por que o sacerdote asperge o altar e o santuário?R. O sacerdote asperge o altar e o santuário para
afastar o que poderia perturbar o recolhimento dos ministros. O sacerdote
asperge a si mesmo e ao povo para dispô-lo a participar com ele das graças que
ele pediu para a Igreja na benção da água, e diz em voz baixa o salmo Miserere,
porque, para obter essas graças, é preciso manter a atitude de arrependimento e
penitência expressa neste salmo.
P404.
Como responde o povo a este salmo?R.
O povo canta somente o primeiro versículo do Miserere, acrescentando, antes e
depois, esta antífona: Vós me tocareis, Senhor, com o hisopo, e serei
purificado: me lavareis e ficarei mais branco que a neve. .
P405.
O que é o hisopo?R. Hisopo é o menor arbusto; suas
folhas, escuras e esponjosas, são próprias para reter a água para a aspersão, e
sua propriedade, que é de purificar e secar os maus tumores, é feita como um
sinal muito apropriado da purificação do corpo e da alma.
P406.
O hisopo foi sempre utilizado para a aspersão?R.
Sim. No Antigo Testamento havia a aspersão do sangue do cordeiro nas portas dos
israelitas como hisopo (Ex 12, 22), bem como o sangue e cinzas da vaca e da
água para purificar da lepra. Mas o profeta e a Igreja visavam mais a aspersão
do sangue de Cristo, do qual aquelas eram figuras na lei antiga. Por isso
devemos pedir nesta cerimônia, a aspersão do sangue de Cristo, ou seja, a
aplicação dos méritos deste preciosíssimo sangue, o único que pode apagar os
nossos pecados e nos preservar de todos os males.
P407.
Como o sacerdote termina esta oração?R.
O sacerdote conclui a oração dizendo:”Ouvi-nos, Senhor, Padre Onipotente, Deus
eterno; dignai-vos enviar dos céus vosso santo anjo para que governe,vigie,
proteja, visite e defenda a todos os que estão neste lugar. Por Nosso Senhor
Jesus Cristo”.
P408.
A que anjo o sacerdote se refere naquela oração?R.
É o mesmo anjo que Deus enviou a Tobias e que o preservou contra todos os
ataques do espírito maligno que havia matado os sete maridos de Sara,
conduzindo-o são e salvo.
§
2 – Procissão antes da Missa
P409. Que significa “Procissão”? R. A palavra procissão vem do termo latino
procedere, que significa marchar, ou ir adiante. Por procissão se entende a
marcha, o caminhar, que fazem o clero e o povo rezando para determinados fins
religiosos, levando à frente a cruz de Cristo, que é o caminho e guia dos
fiéis.
P410.
Quais são as origens das procissões?R.
Seguindo a tradição do Antigo Testamento, havia procissões para levar a arca
santa de um lugar para outro; no século VI vemos o costume de celebrar-se Missa
nos túmulos de mártires, ou em lugares de devoção; fazia também procissões para
benzer cemitérios e lugares próximos de igrejas.
P411.
Quando se realizavam as procissões? R.
As procissões eram feitas no raiar do dia para imitar as santas mulheres que se
dirigiram bem cedo ao sepulcro de Nosso Senhor.
P412.
Por que se fazem procissões antes da Missa nos domingos e festas solenes? R. A finalidade das procissões antes da
Missas é de abençoar os caminhos e as casas com a água santificada e,
principalmente, pela presença de Cristo, como nas solenes procissões da Páscoa.
P413.Há
outras finalidades nas procissões? R.
Sim; como de honrar algum mistério, como a entrada de Nosso Senhor no templo,
ou sua entrada triunfal em Jerusalém no dia de ramos; da sua ascensão ao céu;
ou atrair as bênçãos de Deus sobre os bens da terra, etc. A finalidade
principal das procissões é de mostrar que o cristão é um viajante em desterro
na terra e que o céu é sua verdadeira pátria para a qual ele se encaminha
guiado por Cristo, sob a proteção de Nossa Senhora e dos santos patronos, cujos
estandartes ele leva, iluminado pela luz da fé, pelo exercício da oração e da
penitência, para chegar ao altar visível e deste ao altar do céu, onde está o
verdadeiro repouso e a felicidade eterna: estes são os piedosos motivos que
devem animar os fiéis nas procissões.
P414.
Há paramentos especiais para o sacerdote e clérigos nas procissões?R. Sim. Normalmente o sacerdote usa a cappa, que
era um grande manto com um capus que o abrigava da chuva; daí o nome: pluvial.
Hoje, a capa é só um ornamento.
P415.
Como o povo acompanha a procissão?R.
Durante a procissão cantam-se hinos, salmos, antífonas, ladainhas e mais
freqüentemente responsórios, finalizando com uma oração geral recitada pelo
sacerdote que a dirige.
§ 3 – Chegada do sacerdote ao altar
P416. Que faz o sacerdote ao fim de
tudo o que precede o Santo Sacrifício?R.
Terminada a preparação do sacerdote à oblação propriamente dita, e tendo se
revestido dos paramentos, com as virtudes que são próprias às suas funções, com
as armas da luz e a luz mesma que lhe serve de capa (Ps. 102), faz o sacerdote
uma reverência respeitosa à cruz situada na sacristia, recebendo como
embaixador de Cristo que o envia as últimas instruções para realizar o Santo
Sacrifício.
P417.
Que significa a casula que reveste o sacerdote?R.
A casula lembra Nosso Senhor Jesus Cristo subindo ao Calvário, carregando o
divino madeiro; e, avançando, o sacerdote segue em espírito como ao
sacrificador principal de que ele é indigno representante.
P418.
Que significa o caminho do sacerdote da sacristia ao altar?R. O sacerdote se encaminha da sacristia ao altar,
conforme determina a rubrica, pois deve revestir-se na sacristia e este caminho
representa o Salvador vindo a este mundo, manifestando a vontade de se oferecer
e começando o seu sacrifício desde a Encarnação.
P419.
Que representam os acólitos?R.
Os acólitos, portando velas acesas e precedendo o sacerdote, simbolizam a luz
que ilumina todo homem que vem ao mundo e que brilhou para os que se
encontravam nas trevas e nas sombras da morte.
P420.
Por que os acólitos levam a cruz, e o incenso?R.
Levam a cruz para mostrar o sacrifício que marcou a vida de um Deus feito
homem; o incenso, para indicar o perfume da doutrina e das virtudes que ele
veio ensinar ao mundo.
P421
Que representam os demais participantes da procissão que antecedem o sacerdote
celebrante?R. Os membros da ordens menores
representam a longa série de profetas; o subdiácono e o diácono, que são como
os apóstolos da Nova Lei e do evangelho. (Nota: as ordens menores foram
suprimidas após o Concílio Vaticano II).
P422.
Por que caminham com passo lento e sério?R.
Assim caminham como convém ao representante de um Deus e dispensador dos
mistérios sagrados. Em missas solenes o sacerdote é acompanhado por outro com
cappa, denominado de assistente, para substituí-lo se por algum motivo ele não
possa concluir o Santo Sacrifício, e para auxiliá-lo e servi-lo durante a
liturgia.
P423.
Que mais ordena a rubrica quanto à procissão antes da Missa?R. A rubrica determina ainda que o sacerdote deve
andar de cabeça coberta, significando que ele está revestido da autoridade de
Cristo e só se descobre quando passa diante de um altar ou diante do Santíssimo
Sacramento exposto, ou quando da elevação ou da comunhão.
SEGUNDA PARTE
Explicação das orações e cerimônias da Santa Missa
CAPÍTULO I
Primeira parte da Missa: da Preparação pública ao sacrifício e da entrada ao
altarEsta preparação inclui o Sinal da Cruz, o salmo Judica me Deus, a
confissão dos pecados (Confiteor), as orações para alcançar o seu perdão e para
pedir a graça de subir ao altar com pureza. A entrada ao altar compreende o uso
do incenso nas Missas solenes, o Intróito, o Kyrie e o Gloria in excelsis Deo.
1 - DA PREPARAÇÂO PÚBLICA AO
SACRIFÍCIO
P424. Quando surgiu
a preparação pública do sacerdote à santa Missa?
R. A preparação pública para a Santa Missa
surgiu no século IX, e era feita pelo sacerdote, não no altar, mas na
sacristia, enquanto o coro cantava o salmo do Intróito, ou entrada, e o povo a
ele se unia com a invocação do Kyrie eleison. Somente no século XIII, o
sacerdote passou a fazê-la diante do altar, quando da sua entrada, iniciando a
Missa.
P425. O que
representa a chegada do sacerdote ao altar?
R. A chegada do sacerdote ao altar representa a
entrada de Jesus Cristo no mundo pela encarnação, e a humilhação do Verbo que
se fez carne e assumiu todas as nossas iniqüidades.
P426. Que outras
figuras representa o sacerdote diante do altar?
R. Para se entender as cerimônias em suas
menores particularidades, o sacerdote diante do altar representa diversos
personagens.
P427. Que
personagens representa o sacerdote diante do altar?
R. Diante do altar, o sacerdote representa ou
figura diversos personagens, tais como:
1º - representante de Deus e dispensador de Seus
mistérios;
2º - ministro da Igreja e delegado dos fiéis;
3º - homem pecador, sob cujo aspecto se confunde
com os assistentes.
P428. Que deveres
acarretam ao sacerdote tais representações?
R. As diversas representações do sacerdote
diante do altar acarretam os seguintes deveres:
1º - como representante de Deus, ele não pode
abandonar o santuário, lugar de sacrificador;
2º - como homem, ele se detem no primeiro degrau
que leva ao altar;
3º - como delegado dos fiéis diante do Senhor,
ocupa o lugar intermediário, entre o povo e o Senhor;
4º - como pecador, se inclina profundamente e se
prosterna diante da suprema majestade;
5º - como sacerdote, se ergue e permanece em pé;
porém, seguindo o exemplo do publicano, a longe stans (Lc 18), separado do
altar quanto lhe permite o seu ministério.
Nesta atitude, em que se une e confunde a
dignidade e a miséria, a responsabilidade em relação a Deus e a mediação com os
homens, a humanidade e o sacerdócio, a santidade do ministério e a debilidade
da natureza, o sacerdote beija, com todo o respeito, o livro do Evangelho.
P429. Por que o
sacerdote beija o Evangelho?
R. O sacerdote beija o livro do Evangelho para
reanimar seu valor e sua confiança para começar o sacrifício, pois, uma vez
chegando ao altar, na presença de Deus, seus passos vacilavam de terror e de
respeito diante do Todo Poderoso.
P430. Por que o
Evangelho reanima e dá confiança ao sacerdote?
R. Porque este é o livro que contem seus
direitos à oblação, seus títulos de sacerdócio, a origem e a fonte dos seus
poderes, a grandeza da sua missão; é o livro em que resplandece a bondade
daquele que veio a chamar os justos e os pecadores, cuja misericórdia concedeu
o cargo pastoral ao amor arrependido.
P431. Por que o
subdiácono apresenta o livro do Evangelho ao celebrante?
R. Assim como na marcha triunfal dos imperadores
romanos um arauto os seguia para lembrar-lhes que eram homens, no caminhar do
sacerdote ao altar, um ministro deve lembrar a este homem abençoado por Deus
que ele é o sacerdote do Altíssimo e mediador de uma aliança divina. Ao beijar
o livro, o sacerdote demonstra sua modéstia e nobre confiança nas promessas de
Nosso Senhor nele contidas.
P432. Que representa
a inclinação profunda do sacerdote ainda ao pé do altar?
R. A prostração do sacerdote representa, além do
rebaixamento do Verbo feito carne, a pobreza do nascimento do Salvador, a
obscuridade da sua vida, as humilhações do seu ministério público e,
principalmente, o início da Paixão no Horto das Oliveiras, em que Jesus,
seguido pelos seus discípulos, afastando-se deles, rezou prostrado, com o rosto
na terra, e aceitou o cálice dos seus padecimentos.
P433. Por que o
sacerdote faz essa prostração?
R. O sacerdote faz a profunda inclinação pois,
ainda que sua alma esteja preparada ao sacrifício pela santidade da sua vida,
pelo recolhimento habitual, pelo fervor da oração e da meditação, e pelas
lembranças das virtudes que Deus exige do seu representante, simbolizados pelos
paramentos sagrados que o revestem, é necessária também uma preparação externa,
pública, pela dignidade da ação que vai acontecer no altar, e para mostrar aos
fiéis que não devem tomar parte nela sem a devida preparação.
P434. Por que o
sacerdote começa a celebração da Missa com a cabeça descoberta?
R. O sacerdote começa a celebração dessa forma
porque assim prescreve o rito antigo da Igreja e S.Paulo o recomenda. O
Concílio de Roma, presidido pelo Papa Zacarias, em 743, proíbe sob pena de
excomunhão ao bispo, ao sacerdote e ao diácono de assistir a Missa com a cabeça
coberta.
P435. Qual a postura
habitual do sacerdote durante a Missa?
R. O sacerdote habitualmente mantém as mãos
unidas, enquanto não há alguma ação ou oração que o façam sair dessa postura
piedosa.
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