O “CAPITAL DE GRAÇAS” NO TRATADO
DA VERDADEIRA DEVOÇÃO:
121.
Como fica dito, esta Devoção consiste em nos darmos inteiramente à Santíssima
Virgem, para que por Ela pertençamos inteiramente a Jesus Cristo. É preciso que
dar-lhe:
1º.
Nosso corpo, com todos os seus sentidos e membros;
2º.
Nossa alma, com todas as suas potências; - 94
3º.
Nossos bens exteriores, chamados de fortuna, presentes e futuros;
4º.
Nossos bens interiores e espirituais, que são os nossos méritos, virtudes e
boas obras passadas, presentes e futuras. Numa palavra, devemos dar tudo o que
temos na ordem da natureza e na ordem da graça, e tudo o que podemos vir a ter
no futuro, na ordem da natureza, da graça ou da glória. E isto sem excetuarmos
nada, nem um centavo, nem um cabelo ou a menor boa ação, e por toda a
eternidade, sem pretendermos esperar outra recompensa pelo nosso oferecimento e
serviços, além da honra de pertencer a Jesus Cristo por Ela e n'Ela, ainda que
esta amável Senhora não fosse, como é sempre, a mais liberal e agradecida de
todas as criaturas.
171:
...Outro motivo que nos pode comprometer a abraçar esta Devoção são os grandes
bens que dela receberá nosso próximo. Por esta prática
exercemos a caridade para com ele duma maneira eminente, pois damos-lhe, pelas
mãos de Maria, o que temos de mais caro, ou seja, o valor satisfatório e
impetratório de todas as nossas boas obras, sem excluir o mínimo bom pensamento
ou o mais leve sofrimento. Consentimos que todas as satisfações que adquirimos
e havemos de adquirir até a morte sejam aplicadas, segundo a vontade da
Santíssima Virgem, ou pela conversão dos pecadores, ou pela libertação das
almas do Purgatório. Não será isto amar perfeitamente o nosso próximo?
(Jo 15, 13). Não é isto ser verdadeiro discípulo de Jesus Cristo, que se
reconhece pela caridade? (Jo 13, 35). Não é este o meio de converter os
pecadores sem perigo de vaidade, e de 123 - libertar as almas do Purgatório
quase sem fazer mais nada além do que nos impõem os deveres de estado?
203. 1)
Ela espreita, como Rebeca, as ocasiões favoráveis para lhes fazer bem, para os
engrandecer e enriquecer. Ela vê claramente em Deus os bens e os males, os bons
e os maus sucessos, as bençãos e as maldições divinas. Por isso dispõe de longe
todas as coisas, para livrar os Seus servos de toda a espécie de males, e para
os cumular de todos os bens. Assim, se apresentar-se-lhe a ocasião de obter, em
Deus, um bom prêmio ou proveito, pela fidelidade de alguma criatura a qualquer
alta missão, é fora de dúvida que Maria obterá esta graça a um dos Seus filhos
e servos fiéis, juntamente com a graça de tudo levar a cabo fielmente. “Ela
própria se ocupa dos nossos interesses e negócios”, diz um Santo.
204. 2)
Ela os favorece com bons conselhos, como Rebeca a Jacó: “Meu filho, segue os
meus conselhos” (Gn 27, 8). E, entre outros conselhos, inspira-lhes o de lhe
trazerem dois cabritos, isto é, o corpo e a alma, para lhos consagrarem, a fim
de que Ela prepare um festim agradável a Deus. Inspiralhes ainda o conselho de
fazerem tudo o que seu Filho Jesus Cristo ensinou com suas palavras e exemplos.
Se não é diretamente que lhes dá estes conselhos, dá-lhos pelo ministério dos
anjos, cuja maior honra e prazer é obedecer a alguma das suas ordens para
baixar à Terra e vir em socorro de algum dos servidores d'Ela.
205. 3) Quando lhe levamos e consagramos o corpo e a alma, e tudo o que deles depende, sem nada excetuar, que faz esta boa Mãe? Aquilo que outrora fez Rebeca aos dois cabritos que Jacó lhe trouxe:
1º. Sacrifica-os, fazendo-os morrer para a vida do velho Adão;
2º. Esfola-os e tira-lhes a pele natural, que são as inclinações da natureza, o amor próprio, a vontade própria e todo o apego às criaturas.;
3º. Purifica-os de suas manchas, impurezas e pecados;
4º.
Prepara-os ao gosto de Deus e para a sua maior glória. Como só Ela conhece
perfeitamente o gosto divino e a maior glória do Altíssimo, também só Ela pode
aprontar e preparar, sem se enganar, o nosso corpo e a nossa alma segundo esse
gosto infinitamente elevado e essa glória infinitamente escondida e eterna.
206. 4) Esta boa Mãe, tendo recebido a oferta perfeita que lhe fizemos, de nós mesmos e dos nossos méritos e satisfações, por meio da Devoção de que já falei, e tendo-nos uma vez despojado dos nossos velhos hábitos, prepara-nos e torna-nos dignos de comparecer diante de nosso Pai celeste:
1º. Reveste-nos com os vestidos apropriados, novos, preciosos e perfumados de Esaú, o primogênito, isto é, de Jesus Cristo, seu Filho. Ela guarda estas vestes em sua casa, quer dizer, tem-nas em seu poder, sendo a tesoureira e dispensadora universal dos méritos e das virtudes de Jesus Cristo, seu Filho. E Maria pode dá-los e comunicá-los a quem quer, quando quer, como quer e na medida que quer, como já acima vimos (nn. 25 e 141).
2º. Envolve as mãos e o pescoço de Seus servos com a pele dos cabritos mortos e esfolados, isto é, adorna-os com os méritos e o valor das ações deles mesmos. Ela mata e mortifica o que há de impuro e imperfeito nas suas pessoas, mas não perde nem dissipa todo o bem que a graça neles operou. Guarda-o e aumenta-o, para fazer dele o ornamento e a força de seu pescoço e de suas mãos, ou seja, para lhes dar fortaleza em levar o jugo do Senhor, que assenta sobre o pescoço, e para operarem grandes coisas para glória de Deus e a salvação de seus pobres irmãos.
3º. Ela dá um novo
perfume e uma nova graça a essas vestes e ornamentos, comunicando-lhes as suas
próprias vestes, quer dizer: os méritos e virtudes, que Ela lhes legou em
testamento ao morrer, como diz uma santa religiosa do século passado, morta em
odor de santidade, e que o soube por revelação. Deste modo, todos os Seus
domésticos, fiéis servos e escravos estão duplamente vestidos com vestes de seu
Filho e as suas: “Todos os Seus domésticos trazem vestidos forrados” (Pr 31,
21). É por isso que não têm a recear o frio de Jesus Cristo, branco como a
neve, que os réprobos, inteiramente nus e desprovidos dos merecimentos de Jesus
Cristo e da Santíssima Virgem, não poderão suportar.
207. 5)
Ela lhes faz obter, enfim, a bênção do Pai celeste, embora naturalmente não a
devessem receber por não serem os primogênitos, e apenas filhos adotivos. Com
estas vestes inteiramente novas, muito preciosas e muito perfumadas, e com o
corpo e a alma bem preparados e aprontados, aproximam-se confiadamente do leito
de repouso do Pai celeste. Ele os entende e distingue pela voz, que é a do
pecador; apalpa-lhes as mãos, recobertas de peles; sente o aroma dos seus
vestidos; come com prazer o que Maria, a Mãe deles, lhe preparou. E
reconhecendo neles os méritos e o bom odor de seu Filho e de sua Santa Mãe: 1º.
Ele lhes dá uma dupla bênção. A bênção do orvalho do Céu (Gn 27, 28), que é a
graça divina, semente da glória: “Deus abençoou-nos em Jesus Cristo com toda a
bênção espiritual” (Ef 1, 3). E a bênção da fecundidade da terra (Gn 27, 145 -
28), isto é, este Pai bondoso dá-lhes o pão quotidiano e uma suficiente
abundância dos bens deste mundo. 2º. Ele os constitui senhores dos outros seus
irmãos, os réprobos, embora esta primazia nem sempre se manifeste neste mundo,
que passa num momento (1 Cor 7, 31). Neste mundo são muitas vezes os réprobos que
dominam: “Os pecadores se vangloriarão com discursos e se exaltarão” (Sl 93,
3-4). “Vi o ímpio exaltado e elevado” (Sl 36, 35). Mas essa primazia não deixa,
por isso, de ser verdadeira, e aparecerá manifestamente no outro mundo, pela
eternidade afora. Lá os justos, no dizer do Espírito Santo, “dominarão e
imperarão sobre as nações” (Sb 3, 8). 3º. Sua Majestade não se contenta só com
abençoar as suas pessoas e os seus bens, mas estende a sua bênção a quantos os
abençoarem, e a sua maldição a todos os que os amaldiçoarem e perseguirem (Gn
27, 29).
215.
Esta Mãe do Amor Formoso (Eclo 24, 24) tirará do teu coração todo escrúpulo e
temor servil. Abri-lo-á e dilatá-lo-á para que corra pelo caminho dos
mandamentos de seu Filho (Sl 118, 32), com a santa liberdade dos filhos de
Deus, e para infundir nele o Puro Amor, do qual Ela é a tesoureira (n. 169). E
assim, no teu comportamento para com Deus, que é Caridade, já não procederás
com receio e temor, como até agora tendes feito, mas sim por Puro Amor.
Olhá-lo-ás como teu Pai bondoso, a quem procurarás agradar incessantemente, a
quem falarás confiadamente como um filho fala a seu bom pai. Se, por
infelicidade, vieres a ofendê-lo, humilhar-te-ás imediatamente na sua presença,
pedir-lhe-ás humildemente perdão, estender-lhe-ás a mão com toda a
simplicidade, levantar-te-ás amorosamente, sem perturbação nem inquietação, e
continuarás a caminhar para Ele sem desânimo.
217. A
alma da Santíssima Virgem comunicar-se-á a ti para glorificar o Senhor, o seu
espírito ocupará o lugar do teu para se regozijar no Senhor, seu Salvador,
contanto que te tornes fiel às práticas desta Devoção. É o que exclamava Santo
Ambrósio: “Que a alma de Maria esteja em cada um para glorificar o Senhor; que
o espírito de Maria esteja em cada um para se alegrar em Deus” (Lc 1, 46-55).
Ah! Quando virá esse feliz tempo - diz um santo homem dos nossos dias, todo
perdido em Maria - Ah! Quando chegará esse feliz tempo em que Maria Santíssima
será constituída Senhora e Soberana dos corações, para os submeter plenamente
ao Império do seu Grande e Único Amor, Jesus?! Quando é que as almas respirarão
Maria como os corpos respiram o ar?! Acontecerão então coisas maravilhosas
neste pobre mundo. Porque o Espírito Santo, encontrando a sua amada Esposa
reproduzida nas almas, descerá abundantemente sobre elas, plenificando-as de
Seus dons, particularmente do dom da sabedoria, para nelas operar maravilhas de
graça. Meu querido irmão, quando virá esse tempo feliz, esse século de Maria,
em que muitas almas escolhidas e obtidas do Altíssimo por Maria, perdendo-se a
si mesmas no abismo do interior d'Ela, se tornarão cópias vivas de Maria, para
amar e glorificar a Jesus Cristo? Esse tempo só virá quando a Devoção que
ensino for conhecida e praticada: “Para que venha o Vosso Reino, ó Jesus, venha
o Reino de Maria!”
220.
Parece-me que posso muito bem comparar os diretores espirituais e as pessoas
devotas, que querem formar Jesus Cristo em si ou nos outros por meio de
práticas diferentes desta Devoção, a escultores, que confiando no seu engenho,
diligência e arte dão uma infinidade de golpes de martelo e cinzel na pedra
dura ou num pedaço de madeira mal polida, para dela fazerem uma imagem de Jesus
Cristo. E às vezes não conseguem representar Jesus Cristo ao vivo, quer por
falta de conhecimento e experiência da pessoa de Jesus, quer por causa de um
golpe mal dado, que estragou a obra. Mas, quanto aos que abraçam este segredo
de graça que lhes apresento, comparo-os, com razão, a fundidores e moldadores
que acharam a Fôrma tão bela de Maria, na qual Jesus Cristo foi natural e
divinamente formado. Não confiando na sua própria habilidade, mas unicamente na
excelência da Fôrma, lançam-se e perdem-se em Maria, para se tornarem o retrato
vivo de Jesus Cristo.
221. Ó
bela e verdadeira comparação! Mas quem a compreenderá? Desejo que sejas tu, meu
querido irmão. Mas lembra-te que só se lança na fôrma o que está fundido e
líquido. Isto quer dizer que deves destruir e fundir em ti o velho Adão, para
que em Maria te transformes no novo.
Exercícios preparatórios para
a Consagração
227.
Primeira prática. Esta Devoção particular da entrega total não está erigida em
confraria, embora isso fosse de desejar (atualmente já está). Ora, aqueles e
aquelas que quiserem seguir esta Devoção, primeiro empregarão pelo menos doze
dias a esvaziar-se do espírito do mundo, contrário ao de Jesus Cristo, conforme
já disse na primeira parte desta preparação para o Reino de Jesus Cristo.
Depois empregarão três semanas em encher-se de Jesus Cristo, por meio da Santíssima
Virgem. Eis a ordem que se pode observar:
228.
Durante a primeira semana, aplicarão todas as suas orações e atos de piedade
para pedir o conhecimento de si mesmos e a contrição de seus pecados; farão
tudo em espírito de humildade. Para isso poderão, se quiserem, meditar no que
eu disse sobre o nosso fundo mau (nn. 78-79), e considerar-se durante os dias
dessa semana como caracóis, lesmas, sapos, porcos, serpentes, bodes. Ou meditem
estas três palavras de São Bernardo: “Pensa no que foste, um pouco de lama; no
que és, um vaso de estrume; no que serás, alimento de vermes!” Pedirão a Nosso
Senhor, e ao divino Espírito Santo que os esclareça, repetindo as palavras:
“Senhor, que eu veja!” (Lc 18, 41). Ou: “Que eu me conheça!” Ou: “Vinde,
Espírito Santo!” Rezarão todos os dias a ladainha do Espírito Santo e a oração
que se lhe segue. Recorrerão à Santíssima Virgem, pedindo-lhe esta grande
graça, que deve ser o fundamento de todas as outras. Para isso dirão todos os
dias o “Ave Maris Stella” e a ladainha de Nossa Senhora.
229. Na
segunda semana aplicar-se-ão, em todas as orações e obras de cada dia, a
conhecer a Santíssima Virgem. Pedirão este conhecimento ao Espírito Santo,
podendo ler e meditar o 161 - que sobre isto dissemos. Rezarão, como na
primeira semana, a ladainha do Espírito Santo e o “Ave Maris Stella” ajuntando
um Rosário cada dia, ou pelo menos um Terço, por esta intenção.
230.
Empregarão a terceira semana em conhecer Jesus Cristo. Poderão ler e meditar o
que a este respeito dissemos, e ler a oração de Santo Agostinho, que vem no
princípio desta segunda parte (n. 67). Poderão dizer e repetir, com o mesmo
santo, mil e mil vezes ao dia: “Senhor, que eu Vos conheça!” Ou então: “Senhor,
fazei que eu veja quem sois Vós!” Rezarão, como nas semanas precedentes, a
ladainha do Espírito Santo e o “Ave Maris Stella”, e acrescentarão todos os
dias a ladainha do Santíssimo Nome de Jesus.
231. No
fim dessas três semanas confessar-se-ão e comungarão com a intenção de se darem
a Jesus Cristo na qualidade de escravos de amor, pelas mãos de Maria. E depois
da comunhão, que se esforçarão por fazer segundo o método abaixo indicado (n.
266), dirão a fórmula da consagração, que também acharão mais adiante. Deverão
escrevê-la ou mandá-la escrever, se não estiver impressa, e assiná-la no mesmo
dia em que a fizerem.
232.
Será bom que nesse dia paguem algum tributo a Jesus Cristo e a sua Santíssima
Mãe, quer como penitência da sua passada infidelidade às promessas do Batismo,
quer para protestar a sua dependência do domínio de Jesus e Maria. Esse tributo
será segundo a devoção e a capacidade de cada um. Poderá ser um jejum, uma
mortificação, uma esmola, uma vela. Ainda mesmo que não dessem mais que a
homenagem de um alfinete, mas de todo o coração, isso bastaria, pois Jesus só
olha a boa vontade.
233.
Uma vez por ano, pelo menos, renovarão a mesma consagração, no mesmo dia em que
a fizeram, observando as mesmas práticas durante três semanas. E poderão até
mesmo renovar tudo o que fizeram todos os meses, e mesmo todos os dias, com
estas breves palavras: “Eu sou todo Vosso e tudo o que tenho Vos pertence, ó
meu amável Jesus, por Maria, Vossa Santa Mãe!” (n. 266).
O capital de graças é
comparado, com um centro para onde converge todo mérito pelo esforço da
autoeducação e da oferta de sacrifícios e alegrias a Deus, pelas mãos de nossa
Santa mãezinha, Maria Santíssima!
Unindo sempre todas estas ofertas de amor com Cristo, por Cristo e em Cristo, elas se tornam graças que jorram abundantemente de seu coração pelas suas mãos medianeiras! Ofertas cumuladas ao capital de graças são presentes de amor entregues à administração de Nossa Senhora, a fim de que Ela os distribua àqueles que necessitam. Capital de Graças é o nome dado a esse processo de contribuir com nossas ofertas sacrificiais com as graças da redenção para que elas continuem atuantes na atualidade, conforme está escrito em Colossenses 1,24: “Agora me alegro nos sofrimentos suportados por vós. O que falta às tribulações de Cristo, completo na minha carne, por seu corpo que é a Igreja.” A graça diferente das virtudes, é algo que está acima da natureza humana. Somente Cristo pode merecer graça plena, e isso Ele o fez na cruz. Por todo sofrimento que passou em sua Paixão e morte, e também pela ressurreição, Jesus conquistou uma infinidade de graças para toda humanidade, um tesouro que representa a salvação dos povos. Esse tesouro no céu Ele confiou à Igreja, para que ela o distribua na terra por meio dos sacramentos. Contudo, a cooperação humana é necessária para que essas graças fluam e encontrem acesso em todos os corações humanos. Com nossa consagração a Jesus por meio das mãos de Maria Santíssima nossa mãezinha, os dons imperfeitos de cada um são oferecidos a Maria e, somados aos seus dons perfeitos, Ela os oferece a Deus, gerando uma fonte de graças que ela distribui conforme as necessidades da humanidade que padece como em dores de parto (conf.Rom 8,22).
Totus tuus Mariae! Tudo por
Jesus, nada sem Maria!
As ofertas
de nossas migalhas ao Capital de Graças fazem parte inseparável e incondicional
da nossa consagração total de Amor a Jesus pelas mãos de Maria, e sem elas não
há o que Maria distribuir deste capital de graças! Maria como nossa mãe e educadora,
a Forma Dei, nos remete ao ocorrido nas Bodas de Caná (João 2, 1-11). Ali,
Jesus realiza o seu primeiro milagre, mediante a súplica de sua Mãe e a
colaboração humana dos servos que fizeram tudo que Jesus pediu! Ela pede que os
servos cumpram o que diz o Mestre e, a pedido dele, os servos enchem a talha de
água. Então, acontece o milagre da graça, para que a festa não termine. Assim
também, com nossa total a Jesus pelas mãos de Maria Santíssima, ela a Mãe de
Deus suscita nos corações o desejo de colocar em prática, desde as menores até
às maiores e mais difíceis ofertas, nossa mãezinha vai amorosamente
convidando-nos a cumularmos de boas ofertas o capital de graças para que ela
possa distribuir conforme seu beneplácito! Como em Caná, o milagre depende, em
última análise, de Cristo. Mas, ele coloca como condição para isso a mediação
de sua Mãe e a contribuição humana. Esse processo de atuação divina em aliança
com a atuação humana continua a acontecer! Deus realiza milagres da graça de
forma especial a partir deste capital de graças de nossa mãe! Levamos portanto
nossos sacrifícios e penitências de amor. Então, a Mãe apresenta a Cristo as
nossas contribuições e, unidas ao seu Sacrifício, nossas ofertas retornam em
forma de graças, distribuídas abundantemente apressando o reino de seu
imaculado coração! Como diz Santo Agostinho: “Deus que nos criou sem nós, não
quer nos salvar sem a nossa colaboração.”
Voltando
a fazer uma analogia com a definição do capital de graças como um bem, quando
alguém tem um determinado valor e quer investi-lo melhor, leva esse valor a um
banco, para que seja aplicado e se tornem um bem maior. Assim se faz com as
nossas ofertas ao Capital de Graças, elas são depositadas “no banco da Santíssima
Mãe de Deus”. Esse “banco” é o sacrifício de Cristo, a Mãe de Deus recebe as
minhas entregas e apresenta a Ele, como os servos apresentaram a água na talha.
Mas, como é esse ‘capital espiritual’? Aqui não se fala em algo concreto, mas
em pequenos sacrifícios de amor que se oferece à Maria.
Alguns exemplos práticos de
oferta ao Capital de Graças:
– Há
muitos anos tenho o vício de fumar cigarros, então, por amor à Mãe e para minha
autoeducação, para melhorar a saúde, vou largando do vício pouco a pouco.
(Esforço de autodomínio)
–
Sempre quando combino alguma atividade, chego atrasado, logo, vou oferecer o
sacrifício da pontualidade, me esforçando para cumprir o horário. (Respeito ao
tempo do próximo e virtude da pontualidade).
–
Tenho preguiça de rezar, então me proponho a reservar determinado tempo para
isso por dia, e vou aumentando conforme o tempo. (Andar na presença de Deus,
segundo pede Jesus)
– Não
me dou bem com determinada pessoa, mesmo assim tento ser educado com ela e não
fazer comentários maldosos, e julgamentos precipitados a seu respeito com as
outras pessoas, ou até mesmo interiormente. (Amor ao próximo, como Jesus me
ama).
- Tenho
costume de ver e ouvir coisas que não me edificam e nada me acrescenta na minha
via de santidade a qual todo(a) batizado(a) é chamado(a). Vou me policiando em
evitar essas ocasiões, substituindo-as por coisas ou atividades que me
edifiquem.
Vivendo a Santidade Ordinária
do nosso dia a dia!
O dia a
dia é repleto de oportunidades, grandes e pequenas, para praticar os
ensinamentos de Jesus. Os sacrifícios involuntários (que não pedimos ou
programamos, imprevistos) também podem ser oferecidos ao Capital de Graças,
como por exemplo, as dores imprevistas de uma enfermidade, ou a perda de um ente
querido, o de bens materiais. O esforço em ser uma pessoa melhor nessas
circunstâncias, não reclamando, mas vou louvando como Jó que se recusou a
murmurar contra Deus dizendo: “Deus
deu, Deus me tirou, em tudo sejas bendito meu Sr” (Jó 1,21).Mas, posso oferecer
também as minhas alegria, o sucesso obtido e tudo que de bom faz parte de minha
vida!
Quando se coloca uma oferta
como Capital de Graças, não se sabe onde nem a quem esta graça será
presenteada!
Não caiamos na tentação de querer tomas das mãos e Maria a administração dessas graças! Não temamos, ela é mãe atenta a tudo que nós falta, como foi atenta em Caná da Galiléia! Essa é a grande concretização de nossa total consagração a Jesus pelas mãos de Maria! Quem consegue entender e viver essa dimensão, já vive a verdadeira liberdade dos filhos de Deus (conf. Rom 8,21) e pode-se dizer que vive a total consagração aos moldes de Luís Maria Grignion de Montfort. O capital de graças não é um legalismo cego e fechado, é apenas confiança na nossa mãe, e nada nos impede de oferecer sacrifícios em nome de determinada pessoa ou circunstâncias, por exemplo: quero que meu filho melhore de algum problema de saúde, então me prontifico a oferecer algum sacrifício em seu favor; está chegando a data do casamento de alguma pessoa querida, por isso me disponho a oferecer do Capital de Graças, para que ali surja uma santa família.No ‘banco da Mãe de Deus’ todos podem ‘depositar’ e ‘sacar’. Sempre que alguém precisa de uma graça, é dali que Maria retira suas dádivas! Por isso é importante que não haja desequilíbrio entre contribuições ao Capital de Graças e os presentes que Maria oferece, é preciso sempre mais oferecer presentes à Nossa Senhora, é preciso intensificar os propósitos de autoeducação. Como em um banco de sangue, quando se tira mais do que o que se doa, irá faltar e alguém se prejudicará!Deus criou as pessoas como seres comunitários, que necessitam umas das outras e podem ajudar-se mutuamente, professamos isso em nosso credo quando afirmamos: Creio na Comunhão dos Santos! Aí está o aspecto missionário do Capital de Graças – pela entrega desinteressada, servir ao próximo por meio dos sacrifícios pessoais.No esforço de nossa santificação na vida diária (conf. Filip. 2,12-13), oferecendo o nosso tudo e o nosso nada, as nossas migalhas, nossos cinco pães e dois peixinhos ao Capital de Graças.
Nos campos de batalha da primeira e da segunda guerra mundial do século passado, muitos se sacrificaram por amor e muitos deram a própria vida. Hoje, neste nosso segundo século, cada consagrado(a) é convidado(a) a também oferecer-se em sacrifício de amor ao Capital de Graças, dando a nossa vida, nosso tempo, dons, talentos, virtudes, dores e o nosso cansaço que a outros(as) descansem em Cristo pelas mãos de nossa mãezinha.
Os primeiros sacrificaram a vida no campo de batalha; hoje a guerra é diferente, os desafios são outros, mas as ofertas podem ser tão grandiosas como a dos primeiros heróis e heroínas em sua maioria anônimos. Quais serão os novos heróis e heroínas ocultos ao mundo desta geração?...
"Ó minha
Senhora, ó também minha Mãe, eu me ofereço todo a Vós, e em prova de minha
devoção para convosco, eu vos consagro hoje e sempre, os meus olhos, meus
ouvidos, minha boca, meu coração e inteiramente todo o meu ser. E como assim
sou vosso, ó incomparável Mãe, guardai-me e, defendei-me como filho(a)/coisa e
propriedade vossa. Amém!"
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