Ao refletir sobre a vida de são José, cada vez me apaixono por Maria
Santíssima! Naturalmente, José ignorava o que tinha acontecido. É evidente que,
se tivesse conhecido o mistério, não só a revelação que teve em sonhos seria
praticamente supérflua, como toda a incerteza de José, que transparece do texto
do Evangelho acerca do que deveria fazer, perderia a sua carga de angústia.
Os autores das
anotações à Bíblia de Jerusalém, expõem o seguinte:
“A justiça de José consiste, sem dúvida, no fato
de não querer encobrir com o seu nome uma criança cujo pai ignora; mas também
em que, convencido da virtude de Maria, nega-se a entregar ao rigoroso
procedimento da lei (Dt 22,20ss) este mistério que não compreende”.
O Dicionário de
Spadafora diz:
“Como era justo, ao não ter nem sequer a menor suspeita contra a
integridade de sua esposa, ante o incompreensível, queria ocultar o mistério e
se eclipsar pessoalmente”.
Este estado de
perplexidade de José tinha a sua origem, portanto, na contradição entre os dois
fatos certos e seguros:
Por um lado, o fato
certo de que a Virgem iria ser mãe sem a sua intervenção; pelo outro, a sua
convicção, não apenas da pureza da sua esposa, mas também da sua santidade.
Sendo assim, era injustiça notória denunciá-la para que lhe fosse aplicada a pena
prevista no Deuteronômio – lapidação – ele era justo. Tal solução ficou, desde
o princípio, descartada. Dar-lhe, talvez, o libelo de repúdio? 2 Isto estava,
sem dúvida, dentro da ordem estabelecida entre os judeus. Mediante o libelo,
ambos recobrariam a liberdade e poderiam refazer suas vidas. Mas, com
semelhante solução, infamava a Virgem, pois um homem que repudiasse a sua
esposa grávida, antes de viverem juntos, estaria a proclamar, publicamente, que
ali existira alguma coisa culpável. E, no futuro, a Virgem Maria seria sempre
uma mulher a quem o seu marido tinha despedido pública e legalmente, antes
mesmo de a receber em sua casa! Não é difícil perceber o que isso iria
significar numa pequena aldeia onde todos se conheciam e onde os temas de
conversa não eram abundantes nem vastos. Tomar tal medida equivalia a
transformar a Virgem Maria numa mulher marcada.
A outra solução, que
José pensou adotar, resolvia também a questão, mas os seus efeitos seriam muito
diferentes!
Abandoná-la secretamente significava simplesmente sair do assunto;
deixar por cumprir o matrimônio a que se tinha solenemente obrigado pelos
esponsais. Neste caso, e com esta solução, a Virgem já não seria uma mulher
rejeitada, mas tocada pela desgraça, uma mulher que sofre por uma falta alheia.
Também nesta solução existiria um culpado; só que quem aparecia como tal, era
ele: o homem que deixou por cumprir uma palavra dada e que abandonou, sem explicações,
a sua mulher e o fruto do matrimônio. - José era um homem justo, diz-nos a
revelação. E, porque era justo, adotou, com respeito à Virgem Maria, a solução
que, de todas as possíveis, menos dano lhe causaria, apesar de não ser a mais cômoda
para ele. Decidiu, pois, abandoná-la secretamente e, com esta decisão,
mostrou-se como um homem justo, isto é, um santo. Pois, embora não saibamos que
espécie de instinto o levou a pôr à parte o repúdio, recuperando a sua
liberdade e concedendo-a à sua esposa, o fato é que parece como se tivesse
intuído – apesar da lei judaica – a indissolubilidade do matrimônio. Não foi
outra coisa, a solução adotada, do que o reconhecimento de que o compromisso
livremente assumido diante de testemunhas, unia-o, por toda a vida à mulher que
tomara por esposa. A sua justiça levou-o a não se alhear das consequências de
uma decisão que não dizia respeito só a si próprio. Não, ele não transigiu com
uma corruptela legal que Moisés tinha autorizado, devido à dureza de coração
dos judeus. Ele não tinha um coração duro e, por isso, cingiu-se à lei de Deus,
sem pretender acolher-se à sombra da legalidade dos homens, embora Deus a
tolerasse.
Não iria receber a
sua esposa, mas permaneceria unido a ela porque se achava ligado à palavra
dada!
Será, possivelmente, Giuseppe Riccioti que, de modo mais lógico e
ajustado, seguindo a São Jerônimo, resume a questão: “Num
caso deste gênero, um judeu reto e honrado, uma vez convencido da culpabilidade
da sua mulher, ter-lhe-ia entregue, sem mais, a ata de divórcio, considerando-se
não só no direito, mas, talvez, até no dever de assim proceder, pois uma tolerância
silenciosa e inativa poderia parecer aprovação e cumplicidade. Mas José,
precisamente sendo justo, não procedeu assim. Logo, estava convencido da
inocência de Maria, julgando, portanto, iníquo submetê-la à desonra de um
divórcio público”. - Um homem justo é o que age com justiça. José, ao
adotar a sua resolução, precisamente aquela que iria solucionar o problema, sem
dano para a Virgem, agiu com justiça e mostrou, portanto, que era um homem
justo, o que é ainda mais importante, posto que um homem injusto pode agir, às
vezes, com justiça sem que, com isso, perca a sua qualidade de injusto, da
mesma forma que um mentiroso poderá, às vezes, dizer a verdade sem que deixe,
por isso, de ser um embusteiro. É muito difícil, ou até impossível, agir sempre
injustamente ou dizer sempre mentiras em tudo. É, pois, a qualidade do ser de
cada um, aquilo que importa mais do que qualquer outra coisa; mais ainda, sem
dúvida, do que uma ação isolada que, em si, pode não significar grande coisa.Santo
Afonso de Ligório disse: “Para termos uma ideia da
santidade de São José, basta que consideremos o que diz o Evangelho: José, seu
esposo, era homem justo”. A expressão homem justo significa um homem que
possui todas as virtudes; porquanto, aquele a quem falta uma delas, não pode
ser chamado justo.
Tem qualidade de
justo o que age com justiça; mas, o que será esse agir com justiça?
Esta é uma palavra que, como algumas outras – liberdade, democracia,
direitos –, ressoa muito, e com muita frequência, no mundo ocidental, mas à
qual, porém – e como tantas outras – está ligado um conteúdo que geralmente
desfigura ou falsifica aquilo que a própria palavra designa. É por isso que devemos ser cuidadosos com o uso dos
vocábulos, para não causar dano, dando a entender uma coisa por outra e criando
na mente uma confusão que impeça depois o agir com retidão. O agir
próprio da justiça é dar a cada um o que é seu.
Se queremos ser
justos, havemos de estar dispostos, imediatamente, a dar a cada um o que lhe
pertence, mas sem excluir a Deus!
Pois parece como se apenas pensássemos no próximo, ao falar de justiça.
Que será, pois, este ser justos com Deus? Evidentemente, dar-Lhe o que é seu, o
que Lhe pertence. E o que é que pertence a Deus, o que é seu, o que, portanto,
devemos dar-Lhe para agir com justiça? Simplesmente tudo. São Paulo exprimiu-o em termos tão claros como precisos: “Que
tens tu, que não tenhas recebido”? (1Cor 4,7). E, noutra ocasião: “Somos de
Deus” (Rm 14,8). Com efeito, d’Ele recebemos os sentidos e a
inteligência, os bens corporais e os espirituais e mil coisas da criação, mas
ainda há algo de mais importante: recebemos de Deus o ser e a existência, não
apenas no âmbito natural, mas também no sobrenatural.
Por isso, um homem
justo é, fundamentalmente, um homem entregue; é um
homem que reconhece ter recebido tudo e que, por consequência, considera-se
obrigado a devolver a Deus a honra, a glória, o louvor, a adoração e a gratidão
por tudo o que recebeu!
E não encontra melhor modo de cumprir este dever do que se entregando
para que Deus faça nele e com ele, tudo o que for do seu agrado. Numa palavra: ser justo é ser santo! Por isso, pôde
José escolher a solução mais benéfica para a Virgem Maria, aquela que menos
dano lhe causaria. Talvez seja preciso pensar que a justiça – não uma qualquer
justiça, não apenas a justiça legal, mas a justiça segundo Deus – conta entre
as suas propriedades um componente de compaixão, de misericórdia, que impede ou
atenua o dano alheio. José não se deteve, simplesmente,
no seu direito, mas noutra coisa que, ao estar acima, ultrapassava-o. Por se
tratar de justiça segundo Deus, traduzia-se em santidade, isto é, em amor: Amor
a Deus e, por Deus, amor ao próximo. Trata-se, pois, desta espécie de justiça a
que Jesus se referia quando dizia que, se nos arrancassem o manto, déssemos
também a túnica e se nos obrigavam a andar mil passos, déssemos alegremente outros
dois mil (Mt 5,40s). A justiça de um homem justo é ausência de egoísmo e, neste
caso, bem o demonstrou José, que pensou mais na honra da Virgem Maria do que na
sua própria; está na linha do ensinamento evangélico, que manda devolver
bem por mal e abençoar a quem nos amaldiçoa (Lc 6,28) e, portanto, situado já
nesse plano superior ao que Jesus se referiu quando disse que tinha vindo, não
para destruir a lei, mas para levá-la à perfeição, para lhe dar o seu cabal
cumprimento. (Mt 5,17).
Dito isto, podemos concluir que unir a justiça à caridade é condição “sine
qua non” para bem compreender a dinâmica do Reino dos Céus, haja vista
que a lógica do Alto funciona de modo totalmente diferente da terrena:
O Catecismo, em seu parágrafo 1807, define a virtude da justiça como uma
virtude moral, que: “consiste na vontade constante e
firme de dar a Deus e ao próximo o que lhes é devido”. E ainda versa sobre os
justos da Bíblia: “O homem justo, muitas vezes mencionado nas Escrituras,
distingue-se pela correção habitual de seus pensamentos e pela retidão de sua
conduta para com o próximo”. - Enquanto o mundo se submete ao fundamento
do “olho por olho, dente por dente”, Cristo ensina que devemos dar a outra face
(Lc 6,29). Assim, só quem supera a justiça
natural consegue enxergar verdadeiramente a bondade de Deus e sua justiça sobrenatural, que faz chover sobre justos e injustos
(Mt 5,45), que deixa crescer o joio em meio ao
trigo (Mt 13,24-30), que, sendo Ele o Justo por excelência, veio ao mundo e Se
deixou crucificar como um malfeitor, em prol da
salvação da humanidade. Só quem aprende a aperfeiçoar
a justiça humana à divina, consegue perceber a verdadeira Justiça, revelada plenamente pela Misericórdia, no acolhimento do homem
pecador e sua justificação (perdão dos pecados)
por meio de Jesus Cristo.
O que mereceríamos
nós, caso Deus decidisse nos dar segundo a medida de nossos atos?
Porém, a iniquidade humana foi completamente absorvida pela misericórdia
divina. A dívida impagável foi quitada, a preço de sangue: “Pois sabeis que não foi com coisas perecíveis, isto é, com
prata ou com ouro, que fostes resgatados da vida fútil que herdastes de vossos
pais, mas, por sangue precioso, como de cordeiro sem defeitos e sem mácula,
Cristo, conhecido antes da fundação do mundo, mas manifestado, no fim dos
tempos, por causa de vós” (1 Pd 1,18-20). A justiça de José, portanto,
consiste em acolher, com generosidade, a manifestação de Cristo ao mundo,
consiste em colocar-se à disposição para ajudar nos preparativos de sua vinda,superando
o medo e até os lícitos anseios do seu coração, para o perfeito e necessário acolhimento
do Sagrado.
A decisão de José,
de abandonar secretamente a Virgem Maria, não foi uma decisão tomada de improviso!
Também não foi resultado do orgulho ferido nem do amor próprio magoado.
Os assuntos importantes requerem demorada atenção. Se o tempo de angustiosa
perplexidade durou muito ou pouco é impossível saber; mas, tendo em vista o
estado de Maria, o seu incompreensível silêncio e a sua serena atitude, é mais
explicável que José tenha-se debatido algum tempo na dúvida, sem saber o que
fazer. E, então, enquanto repousava, chegou a solução
diferente daquela que tinha pensado e, com ela, a paz e a alegria. Pois: “Eis
que um anjo do Senhor apareceu em sonho e lhe disse: ‘José, filho de Davi, não
temas receber em tua casa Maria, tua esposa, porque o que nela foi concebido é
do Espírito Santo’”. (Mt 1,20,23). Só quando José chegou a uma solução
justa (dentro de um conhecimento imperfeito da realidade) interveio Deus,
através do anjo. A verdadeira solução apareceu-lhe assim que José fez tudo o
que, nas suas circunstâncias, era possível fazer, sem omitir nada de quanto dele
dependesse.
A solução chegou-lhe
de modo simples, discreto, silenciosamente, sem aparato externo e sensível
Chegou-lhe de fora e, assim, viu que a solução adotada, mesmo sendo ele
justo, não era adequada,por isso, José retificou logo a sua decisão, voltando
atrás e atuando em consonância com os fatos que o anjo lhe tinha revelado. Mas
é preciso ter presente um pormenor que Monsenhor Escrivá de Balaguer observou: “Ele nunca recusou refletir sobre os acontecimentos, por
isso, recebeu do Senhor a inteligência das obras de Deus, que é a verdadeira
sabedoria”. Assim, José foi justo para com Deus e, consequentemente,
para com a Virgem Maria, porque soube aperfeiçoar a justiça pela caridade.
Superou aquilo que, segundo a Lei de Moisés, era-lhe lícito fazer (repudiar sua
noiva), para realizar a vontade divina: “José, ao despertar do sonho, agiu
conforme o Anjo do Senhor lhe ordenara e recebeu em casa sua mulher”. (Mt 1,24)
Texto adaptado do livro de Federico Suarez: José, esposo
de Maria
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