Pregador do “Batismo no Espírito” será feito cardeal pelo
Papa; confira testemunho
Padre Raniero
Cantalamessa é um frade capuchinho que em 1977 teve a experiência do Batismo no
Espírito Santo. Na manhã deste domingo, dia 25, seu nome figurou na lista dos
13 novos cardeais que serão criados pelo Papa Francisco, em Consistório marcado
para acontecer no dia 28 de novembro.
Conhecido pregador no meio carismático, Frei Raniero, como é conhecido,
também prega anualmente para o Papa, desde os tempos de São João Paulo II. Sua
fala é vivaz, entusiasmada e leva o interlocutor à busca de uma experiência
íntima com o Espírito Santo.
Atualmente, Frei
Raniero é Assessor Eclesiástico para o CHARIS, um serviço internacional de
comunhão criado pelo Papa Francisco para
os movimentos e carismas que nasceram da experiência no Batismo no Espírito Santo
e ficaram conhecidos como Renovação Carismática Católica.Em 2015, o Papa
Francisco pediu a padres, durante um
retiro, que ministrassem a experiência do Batismo no Espírito. “Peço a todos e
a cada que, como parte desta corrente de graça da Renovação Carismática,
organizem Seminários de Vida no Espírito Santo em suas paróquias, seminários,
escolas a fim de compartilhar o Batismo no Espírito”, pediu Sua Santidade.
Confira a íntegra do testemunho de Padre Raniero
Cantalamessa
Até 1975, eu era um frade capuchinho
que ensinava História das Origens Cristãs na Universidade de Milão, na Itália.
Um dia, comecei a escutar pessoas que falavam de uma nova forma de rezar. Uma
senhora, de quem eu era diretor espiritual, voltando de um retiro disse-me:
“Encontrei pessoas que rezam de um modo estranho: levantam as mãos, batem
palmas, são muito alegres e dizem que entre eles milagres acontecem”. Então eu
lhe disse: “Nunca mais irás a essa casa de retiros”.Esses dos quais aquela
senhora falava eram carismáticos. Comecei a observá-los e via que algo daquilo
que acontecia entre esses irmãos era exatamente aquilo que lemos nas primeiras
comunidades cristãs.Eu não podia negar que havia algo daqueles primórdios da
Igreja, contudo havia fenômenos que me perturbavam, como falar em línguas,
abraçar-se, profetizar…
Certo dia, fui quase forçado a um encontro carismático. Lá fui tomado de
uma intensa e nova alegria, que não sabia explicar. Sentia-me sacudido. E,
confessando as pessoas, percebia nelas um arrependimento novo, profundo. Eu
podia ver e até tocar a graça de Deus. Mas continuava como um observador.
Em 1977, ganhei uma passagem para
ir aos Estados Unidos, assistir à grande assembléia carismática ecumênica.
Dentro de mim, dizia: “Isto vem de Deus, mas não me agrada”. E as 40 mil
pessoas presentes ali cantavam: “Jericó deve cair”. Os meus colegas italianos
me diziam: “Escuta bem, porque Jericó és tu”. Eles tinham razão, e Jericó caiu.
“O Santo Padre também sabe de minha experiência, pois lhe contei
pessoalmente”.
Depois do encontro fomos a uma
comunidade carismática em New Jersey, onde aceitei receber a efusão do Espírito
Santo, mas ainda com certa resistência. Um dos sinais do Pentecostes é Deus
falar através dos humildes. Quando as pessoas rezavam por mim, todas as
palavras proféticas pronunciadas falavam de evangelização, de Paulo que com
Barnabé inicia suas viagens apostólicas, e um irmão proclamou: “Tu provarás de uma
alegria nova em proclamar minha Palavra”. Um detalhe importante é
que enquanto se reza para que alguém receba a efusão do Espírito, se diz:
“Escolhe Jesus como Senhor da tua vida” e, enquanto me diziam estas palavras,
levantei os olhos e vi o crucifixo que estava sobre o altar da capela. Era como
se Ele me esperasse para me dizer algo muito importante: “Atenção! Raniero,
cuidado! Este é o Jesus que tu escolhes como teu Senhor, o Crucificado. Não é
um Jesus fácil, sentimental”. Nesse momento, entendi que a RCC não é um
fenômeno superficial, mas algo que nos leva diretamente ao coração do
Evangelho, à cruz de Cristo.
Comecei a ler o breviário experimentando algo novo. Vocês sabem que um
dos frutos mais evidentes do Espírito é abrir a nossa inteligência para
entender as Escrituras. Outro sinal da transformação que o Espírito operara em
mim era o novo desejo de rezar.
Três meses depois voltei à Itália
e os meus irmãos diziam: “Que milagre! Mandamos à América Saulo e nos mandaram
de volta Paulo”.Pouco tempo depois, enquanto rezava com um grupo de oração em
Milão, surpreendi-me fazendo a oração: “Senhor, não permita que eu morra como
um professor universitário aposentado!” E o Senhor levou a sério minha oração.Algumas
semanas depois, rezando na cela de meu convento, tive a moção interior de
visualizar Jesus que retornava do batismo no Jordão e começava a pregar o Reino
de Deus, e ao passar por mim Ele dizia: “Se
queres me ajudar a proclamar o Reino de Deus, deixa tudo e vem!” Compreendi que
Ele queria dizer: “Deixa tua cátedra na Universidade, tua direção de
Departamento e te tornes um pregador itinerante da Palavra de Deus, no estilo
de São Francisco de Assis”. E ao final daquela oração o Espírito havia colocado
em meu coração um “sim”.
Fui ao meu superior geral
dizer-lhe que me sentia chamado pelo Senhor. Ele me pediu para esperar um ano.
Depois de um ano, ele disse: “Sim, é vontade de Deus, vá”. Assim, tornei-me
pregador.Foi o Espírito Santo e a experiência carismática que fizeram deste
velho professor universitário um pregador do Evangelho.
A Casa Pontifícia
Três meses depois, recebi um
telefonema de Roma, do meu superior geral que me dizia que o Santo Padre, João
Paulo II, havia me escolhido como pregador da Casa Pontifícia. O Papa, com tudo
o que tem para fazer, cada sexta-feira de manhã, durante a Quaresma e o
Advento, deixa tudo e vem escutar a pregação de um frade capuchinho. Quantos de
nós vão escutar pregações como o Papa? Ele não falta nunca. Certa vez, estando
em viagem pela América Central, faltou a duas pregações; na sexta-feira
seguinte, foi ao meu encontro e pediu desculpas por ter faltado a duas
pregações.
Foi-me dada a oportunidade de fazer ressoar ali, no centro da Igreja, o
que o Espírito Santo está fazendo na Igreja. O Senhor escolheu esse pobre frade
capuchinho para fazer chegar ao coração da Igreja aquilo que vivemos aqui, esta
força, esta esperança, esta certeza de que o Espírito Santo realizou um novo
Pentecostes na Igreja.
Um dia, entendi que era hora de
falar ao Papa, aos Cardeais, aos Bispos sobre a efusão no Espírito. Entre
outras coisas, eu disse: “Alguns dizem que tendo recebido o Espírito Santo na
Ordenação, no Batismo, não temos necessidade desta oração pedindo a efusão no
Espírito, mas Jesus não poderia responder: “Eu também não estava cheio do
Espírito desde o nascimento de Maria, e mesmo assim fui ao Jordão para ser
batizado por um leigo que se chamava João Batista?”No final da pregação, eu
tinha um certo temor e veio ao meu encontro um Cardeal que me disse: “Hoje,
nesta sala, ouvimos falar o Espírito Santo”.
O Santo Padre também sabe de minha experiência, pois lhe contei
pessoalmente. Mesmo assim, já faz mais de 20 anos, e ele não me mandou embora.
E aquilo que vocês encontram nos meus livros, quase tudo foi escutado antes pelo
Papa.
Quero lhes contar um último
detalhe que nos faz conhecer a grande paciência do Santo Padre e o seu imenso
amor pela palavra de Deus. Uma vez por ano devo fazer a pregação, na Basílica
de São Pedro, com o Papa que preside a celebração. É porém a única vez que não
é ele quem prega. Lida a narração da Paixão, é o pregador da Casa Pontifícia
quem deve subir ao altar do Papa e pregar. Na primeira vez, os degraus me
pareciam mais altos que o monte Evereste. Falando na Basílica, dei-me conta de
que deveria falar muito lentamente, porque há uma grande ressonância. Mas,
falando lentamente, o tempo passava e ultrapassou em cerca de dez minutos o
tempo previsto. Vocês sabem que imediatamente após essa pregação, toda
sexta-feira da Paixão, o Papa vai ao Coliseu fazer a via-sacra, e o secretário,
naturalmente, estava muito nervoso e olhava o relógio de vez em quando. No dia
seguinte, disse às freiras que depois daquela função, o Papa o chamou e, com
muita gentileza, disse: “Quando um homem de Deus fala, nunca devemos olhar o
relógio”.
Coragem, e ao trabalho!
No dia em que meu superior me
permitiu iniciar essa vida nova, no ofício das leituras havia um texto do
profeta Ageu: “Coragem, Josué, sumo sacerdote, coragem Zorobabel, coragem todo
o povo deste país, e ao trabalho. Coragem porque eu estou convosco, diz o
Senhor” (Ag 2,4).Lida essa passagem, fui à Praça de São Pedro e, olhando para a
janela do Papa, comecei a gritar: “Coragem João Paulo II, mesmo se sabemos que
és o homem mais corajoso do mundo; coragem Cardeais e Bispos, e ao trabalho,
porque eu estou convosco, diz o Senhor”. Isso era fácil, pois não tinha ninguém
lá, mas três meses depois eu me encontrava diante do Santo Padre e dos Cardeais
e Bispos, e proclamei novamente aquela palavra de Ageu.Hoje, anuncio estas
palavras também a vocês:
Coragem, povo de Deus, e ao trabalho, à evangelização, à renovação da
Igreja, porque eu estou convosco, diz o Senhor!
Fonte:https://blogs.opovo.com.br/ancoradouro/2020/10/25/pregador-do-batismo-no-espirito-sera-feito-cardeal-pelo-papa-confira-testemunho/
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