Por Paulo Vasconcelos Jacobina: Procurador
Regional da República da 1ª Região
“Isto,
além de violar o direito à intimidade, a liberdade sexual e religiosa, ainda
desconsidera o pudor, a castidade que advém de um genuíno sentimento de
respeito próprio ou de delicadeza pessoal de quem vê a sexualidade como um dom
a ser compartilhado responsavelmente com um cônjuge, no interior de uma relação
afetiva estável e consequente, e não esvaída em brincadeiras egoístas e autocomplacentes.”
Hoje pela manhã, enquanto eu estava trabalhando,
recebi um telefonema de um amigo, professor de ensino médio aqui no Distrito
Federal, que queria me falar sobre uma certa proposta de inserir informações
sobre a masturbação nas agendas estudantis a serem
distribuídas aos estudantes da rede pública para o ano de 2016. Diante do meu
espanto, ele me passou o arquivo em PDF por e-mail. O arquivo que ele me enviou
estava devidamente redigido e formatado, com todos os logotipos governamentais,
pronta para, eventualmente, ser encaminhada à produção e distribuição. Relutei muito em transcrever o material que ele me
transmitiu, mas, diante do fato de que a ideia ali contida é a de que algo
assim seja um dia distribuído aos nossos pré-adolescentes e adolescentes, é
importante que nós saibamos exatamente de que se trata. Peço a compreensão do
leitor.
Eis o texto que ele me
enviou, sobre masturbação feminina:
“Masturbação
feminina. Sabe aquelas horas que você tira para se conhecer? É natural e
permite um maior conhecimento do corpo. Feita com cuidado não machuca. É
importante explorar a região da vagina e toda a área pubiana de forma tranquila
e relaxada, descobrindo o que lhe dá mais prazer. Ah! Mãos e unhas limpas são
fundamentais. Sujeirinhas indesejáveis podem causar infecções mais indesejáveis
ainda. Sabe o que é isto? Masturbação feminina.”
O texto sobre
masturbação masculina enviado por ele é assim:
“Eu comigo mesmo.
Sabe aquelas horas que você tira para se conhecer? É natural e permite um maior
conhecimento do corpo. Não cria cabelos nem calos nas mãos. O que pode
acontecer em masturbações frequentes ou intensas é irritação na pele do pênis
(ele literalmente fica um pouco esfoliado) e diminuição na quantidade de
esperma ejaculado. O esperma, contudo, é constantemente renovado pelo
organismo. Por isso o homem não corre o risco de ficar estéril (incapaz de ter
filhos) ou com o esperma “ralo”. Sabe o que é isto? Masturbação masculina”.
Perguntei ao meu amigo professor qual objetivo educacional se quer
atingir, ao pleitear que se publique, com dinheiro público, e se distribua, por
meios oficiais, a pré-adolescentes e adolescentes um material assim? Qual seria
exatamente o objetivo pedagógico?
-Combater, em plena escola, o pudor e
a castidade que alguns jovens têm de discutir publicamente
suas práticas íntimas?
-Expor estes jovens ao bullying por
terem estes sentimentos de pudor ou princípios religiosos?
-Arrancar deles estes sentimentos, que algum
educador ou profissional da saúde considere inadequados para a
contemporaneidade?
-Ou talvez parta de visão, sem qualquer fundamento
científico, de que valorizar a prática de sexo solitário reduziria as doenças
sexualmente transmissíveis. O que seria contraditório: estimular alguém a
despertar precocemente para o sexo não parece ser exatamente uma medida
inteligente para reduzir a respectiva atividade sexual.
Fiz estas ponderações a ele. Há, neste texto, além
de toda a inconveniência de lidar com valores morais que não estão entregues ao
governo, mas aos jovens e às suas famílias, certamente uma falácia lógica, a de
que, se as consequências clínicas e físicas da masturbação não são
graves nem permanentes, então nenhuma outra objeção de ordem moral, educacional
ou mesmo religiosa à prática seria válida. Mas isto é tão evidentemente
falso que se faz desnecessário reafirmá-lo.
Imagino que tipo de mensagem um
texto assim passaria, por sob suas palavras, quando dirigido diretamente aos
jovens em material oficial do governo. Cito algumas:
1)- Seria uma mensagem implícita às famílias de que
elas não têm o direito de transmitir seus próprios princípios aos seus
filhos, ou seja, que eventualmente as restrições morais ou religiosas ao
vício da masturbação que as famílias tiverem são consideradas
presumidamente inválidas pelo governo.
2)- Aliás, haveria também a mensagem implícita de
que o julgamento moral da conduta sexual cabe à autoridade
pública de educação ou de saúde. E é claro que, sendo esta autoridade tão libertária em
matéria de promoção de prazeres sexuais, não é difícil imaginar quão facilmente isto
seria introjetado pelos jovens.
3)- Outra consequência implícita é passar a
mensagem de que é lícito ao governante estabelecer os critérios morais sexuais,
impondo-os coativamente à população, com uso de dinheiro público, à exclusão de
quaisquer outros que as famílias, líderes religiosos ou sociais, conselheiros e
orientadores possam ter.
4)- Ademais, o Estado estimularia os jovens a
“gastar horas” para “se conhecer” (ou seja, a expressão eufemística para masturbar-se) como
atividade pedagogicamente pelo menos tão importante quanto
estudar matemática ou física, a ponto de merecer conselhos de encorajamento da
autoridade educacional. Como consequência, argumento, será que a rede pública
de educação estaria legitimada a, por exemplo, promover sessões escolares de “autoconhecimento
sexual” em que os jovens tirem, na prática e reciprocamente, suas dúvidas
sobre como sentir mais prazer sexual masturbatório, assistidos por algum
professor ou agente de saúde?
5)- Se esta proposta fosse acolhida e divulgada,
seria, além disso, muito desrespeitosa com todas as famílias
que têm valores divergentes em matéria de pudor sexual, independentemente dos
princípios religiosos que possam ou não professar. Seria desrespeitoso também
com o direito das famílias de educar moralmente seus filhos de
forma livre.
6)- Seria desrespeitoso, no limite, com os artigos
do Estatuto da Criança e do Adolescente que criminalizam a
promoção e divulgação pública de práticas sexuais com ou para crianças
e adolescentes. Seria implicitamente ofensivo à liberdade religiosa, de opinião
e de intimidade dos próprios jovens.
E tudo isto, segundo está proposto, partiria
do Poder público, com dinheiro público, na rede pública de educação. Dinheiro
que advém do trabalho honesto de uma população cujos valores morais
majoritários são, arrisco dizer, majoritariamente diferentes daqueles que
fundamentam uma proposta assim (Os quais nem ao menos foram consultados).
Portanto, eu disse a ele que não consigo atinar com
a razão para pleitear a aprovação de tal proposta. Não pode ser a simples
pretensão de ensinar a prática da masturbação aos jovens. Isto,
ressalte-se, já seria ruim o suficiente.
Mas reconheçamos que seria desnecessário: todas as gerações que
nos antecederam foram capazes de chegar até estas práticas sozinhas, e de modo
bem eficaz, sem ajuda oficial da rede de ensino e do dinheiro público.
Na verdade, o que se transmitiria aqui seria a
ideia de que a “repressão” sexual parental não somente é ilegítimo,
como tem falsos fundamentos, minando a confiança das crianças e
jovens na capacidade das famílias de orientá-las bem.A ideia de que qualquer autoridade parental
deve ser objeto de desconfiança juvenil
reforça o poder cada vez maior do Estado sobre crianças e jovens, como única
instância de discernimento moral (ou, no caso, imoral), que, além disso, se
opõe às demais e as deslegitima. Haveria, no limite, a mensagem de que simplesmente
é inaceitável, para o Estado, que algum jovem tenha algum tipo de sentimento
de pudor ou castidade para com o próprio
corpo.É como se todo pudor, toda castidade, viesse
apenas de preconceitos e tabus que devem ser quebrados por atuação estatal positiva.(Para podermos viver de
forma depravada). Mas isto é absurdamente falso. É
evidente que existe um pudor, uma castidade que advém de um genuíno sentimento
de respeito próprio ou de delicadeza pessoal de
quem vê a sexualidade como um dom precioso demais, a ser compartilhado
responsavelmente com um cônjuge, no interior de uma relação
afetiva estável e consequente, e não esvaída em
brincadeiras egoístas e autocomplacentes.
Isto parece ter sido esquecido na
contemporaneidade, que cultiva o pensamento de que o mal do mundo não está nos
comportamentos desordenados, mas na culpa que eles
provocam, culpa que alguns estudiosos e filósofos imputam à cultura
judaico-cristã. Para destruir o mal, pensam eles, não se deve ensinar os jovens
a ordenar seus comportamentos, de modo a torná-los dignos
de orgulho e louvor e não de culpa; eles
propõem simplesmente eliminar a cultura judaico-cristã, de
modo que todos possam fazer o que bem entenderem sem que sintam culpa.
Estão errados! Os problemas de consciência que são causados pelas práticas
desordenadas não se resolvem pela eliminação da própria consciência,
mas da ordenação da conduta.
O mal não está na culpa, mas na conduta que a gera. Eliminar a
culpa sem examinar a conduta em si não faz a humanidade mais feliz. Apenas a
faz mais psicopática!
Por fim, eu ponderei com meu amigo, há algum motivo
para que todas as culturas, em todos os tempos, terem considerado a masturbação
como uma prática menor, imatura,egoística e fechada,
a ser superada em prol do desenvolvimento de relações afetivas
saudáveis, envolvimento amoroso e responsável com o outro, o que representa
a maturidade sexual humana.
É por isto, por representar uma
incompletude individualista,
uma fixação narcisista que
não aperfeiçoa ninguém, que a masturbação, mesmo quando foi (em raríssimas
situações e culturas) em algum grau tolerada, nunca foi promovida por nenhuma cultura,
povo, religião ou nação como comportamento a ser fomentado e estimulado
publicamente, como política de
Estado para crianças e adolescentes, como este texto propõe. É por
tudo isto, por embutir desrespeito à intimidade, à liberdade sexual e
religiosa, ao direito das famílias de estabelecer seus próprios standarts morais sem
intervenções indevidas do Estado, que uma proposta assim não deve ser aprovada.
E não porque provoque “calos” ou “pelos”, “infertilidade” ou “infecções”. Não
se trata de moralismo, mas de ter critérios para
educar. Educar significa conduzir,
e conduzir significa levar para fora de si, para a abertura saudável ao outro, não para o fechamento narcisista e autocomplacente da masturbação. Tal fechamento, conduz, isto sim, do melhor para
o pior, do mais perfeito para oimperfeito.
Significa, também, estabelecer coordenação e parceria entre os atores sociais,
e não a presunção de ilegitimidade e desconfiança recíproca entre
eles. Isto tudo é ocontrário exato de educar.
Fonte: Agência Zenit
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País atrasado eh o Brasil:
https://www.youtube.com/watch?v=hh4BLGwapKE
Pessoas depravadas com esse "Encontro da Nova Consciência" para destruir o mal, pensam eles, não se deve ensinar os jovens a ordenar seus comportamentos, de modo a torná-los dignos de orgulho e louvor e não de culpa; eles propõem simplesmente eliminar a cultura judaico-cristã, de modo que todos possam fazer o que bem entenderem sem que sintam culpa. Estão errados! Os problemas de consciência que são causados pelas práticas desordenadas não se resolvem pela eliminação da própria consciência, mas da ordenação da conduta.
Mazé
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