Mas,
que neologismo estranho esse que o Papa Francisco resolveu criar!
DeveriaqueísmoMelhor deixar o próprio Papa explicar antes de continuar o texto:
Evangelii Gaudium Nº 96: “[No contexto de mundanismo], alimenta-se a vanglória de quantos se
contentam com ter algum poder e preferem ser generais de exércitos derrotados
antes que simples soldados dum batalhão que continua a lutar. Quantas vezes
sonhamos planos apostólicos expansionistas, meticulosos e bem traçados, típicos
de generais derrotados. Assim negamos a nossa história de Igreja, que é
gloriosa por ser história de sacrifícios, de esperança, de luta diária, de vida
gasta no serviço, de constância no trabalho fadigoso, porque todo trabalho é “suor do nosso rosto”.Em vez disso, entretemo-nos
vaidosos a falar sobre “o que se deveria fazer” — o pecado do “deveriaqueísmo”
— como mestres espirituais e peritos de pastoral que dão instruções ficando de
fora. Cultivamos a nossa imaginação sem limites e perdemos o contato com a
dolorosa realidade do nosso povo fiel.”
Evangelii Gaudium Nº 97: “Quem caiu nesse mundanismo olha de cima e de longe, rejeita a profecia
dos irmãos, desqualifica quem o questiona, faz res- saltar constantemente os
erros alheios e vive obcecado pela aparência. Circunscreveu os pontos de
referência do coração ao horizonte fechado da sua imanência e dos seus
interesses e, consequentemente, não aprende com os seus pecados nem está
verdadeiramente aberto ao perdão. É uma tremenda corrupção, com aparências de
bem.”
Ao
ler o texto acima, podemos ser tentados a considerar que o pecado do
deveriaqueísmo refere-se exclusivamente a clérigos. Ledo engano. Todos nós, nas
pastorais, nos serviços à Igreja, nos trabalhos, nas famílias, estamos sujeitos
à tentação do deveriaqueísmo.Trocando em miúdos para a linguagem do dia a dia,
o que seria o pecado do deveriaqueísmo?
Infelizmente, um
conjunto de pecados agindo juntos:
1. Pecado de Omissão — porque, ao invés de
“entrar na lama” da necessidade do irmão, o deveriaqueísta se ilude a construir
teorias e diagnósticos de forma ascética, sem sujar as mãos. Dá a impressão de
que faz alguma coisa quando, na realidade, apenas fala, teoriza, elucubra.
2. Pecado de Vaidade — porque o
deveriaqueísta acha que tem a solução para todos os males do país, da família,
da Igreja, da sociedade, do mundo, esquecido da verdade de que “quem sabe,
faz”.
3. Pecado de Orgulho — porque “olha de cima
e de longe, rejeita a profecia dos irmãos, desqualifica quem o questiona, faz
ressaltar constantemente os erros alheios e vive obcecado pela aparência”. O
orgulho faz o deveriaqueísta ser ridículo aos olhos dos que o observam e não se
deixam iludir por suas balelas.
4. Pecado de Egoísmo — porque “Circunscreve
os pontos de referência do coração ao horizonte fechado da sua imanência e dos
seus interesses e, consequentemente, não aprende com os seus pecados nem está
verdadeiramente aberto ao perdão”. O deveriaqueísta tem como referencial
supremo a si mesmo, ao próprio umbigo.
5. Pecado de
Mundanismo —
“O mundanismo espiritual, que se esconde por detrás de aparências de
religiosidade e até mesmo de amor à Igreja, é buscar, em vez da glória do
Senhor, a glória humana e o bem-estar pessoal”. Assim como os outros aspectos
do deveriaqueísmo, o mundanismo aplica-se não só à Igreja, mas também a todos
os aspectos dos nossos relacionamentos.Existem, portanto, o deveriaqueísmo
familiar, no qual o deveriaqueísta se esconde por de- trás das aparências do
amor à família e à moral; o deveriaqueísmo profissional, cujo esconderijo é o
amor à profissão e ao bem da empresa; o deveriaqueísmo político, escondido sob
a máscara de amor aos pobres e à pátria e por aí vai. Todos, não importa quão
bem se disfarcem, buscam, no fundo no fundo, a glória humana e o bem-estar ou
proveito pessoal. O deveriaqueísta é hipócrita.
6. Corrupção — como sabemos, para
Francisco, a corrupção é aquele pecado inveterado, que passa a fazer parte do
nosso estilo de vida e da nossa forma de ver o mundo, do qual não saímos com
facilidade porque nos cega para a realidade acerca de nós mesmos, do mundo e do
outro.
Ao dizer que o deveriaqueísmo é
um tipo de corrupção, classifica-o como vício revestido de complacentes
justificativas sem fundamento. Evidentemente, o nível de autoconhecimento do
deveriaqueísta é muito, muito baixo. É baixo, igualmente, seu grau de
maturidade. Com relação a ele, o único grau elevado é, infelizmente, o mal que
faz a si mesmo e aos que convivem com ele.
Que
o Bom Deus nos dê a graça da simplicidade, humildade, despojamento e pobreza de
coração que são os antídotos contra esse veneno que cega e ilude a nós e aos
outros enquanto corrói a alma e a capacidade de amar de verdade.
Maria Emmir Oquendo Nogueira
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