(reprodução do blog do Juca Kfouri)
I - NA VISÃO DOS SOCIALISTAS
Ao
comemorar 35 anos de sua fundação, o PT vê o governo Dilma alcançar o mais alto
índice de desprestígio depois de aplicar um ajuste fiscal contra os trabalhadores. A crise do governo e o envolvimento dos
dirigentes partidários em tremendas denúncias de corrupção na Petrobras atinge
duramente o partido. Milhões de trabalhadores se sentem enganados pelas
promessas do PT, decepcionados, traídos e se afastam da organização. A direita
ganha confiança e até mesmo setores que defendem a volta dos militares saem às
ruas para disputar a insatisfação popular. O PT
atual não é sequer uma caricatura do partido que gerou uma grande expectativa
em milhares de militantes: a de que era possível construir um verdadeiro
partido de trabalhadores, defensor dos explorados e oprimidos, que combatesse a
corrupção e fosse capaz de liderar uma mudança social profunda no país. Essa
esperança se foi. Não se trata, portanto, de uma crise circunstancial,
passageira. É a crise de um projeto político, de uma estratégia de governo, de
um programa, de uma política de alianças, de um modelo de partido.
Diante de um abalo de tamanha
proporção é preciso buscar as explicações mais profundas para a degeneração do
PT:
O PT foi
se adaptando à política burguesa e terminou aplicando os mesmos métodos que
dizia combater. Isso é parte da verdade! Mas por que se adaptaram? Por que se
corromperam? Por que não houve resistência de setores dirigentes? Qual foi a
lógica política e a ideologia que sustentaram este caminho?A
resposta a essas e outras perguntas é decisiva para o futuro da classe
trabalhadora no Brasil. A etapa aberta com a fundação do PT e da CUT no começo
dos anos 1980 chegou a um beco sem saída. É preciso encontrar uma nova
estratégia e um novo caminho que retome a luta histórica dos trabalhadores e
dos oprimidos deste país.
O projeto
estratégico do PT
A
estratégia que norteou a política dos governos do PT nestes 13 anos não nasceu
de hoje nem foi fruto de uma traição. Foi fruto de um projeto que começou a ser
elaborado muito antes. É verdade que em sua fundação e nos primeiros
anos de sua existência, o PT se dizia um partido que defendia os direitos dos
trabalhadores e demais setores explorados, lutava contra a ditadura militar e
contra o imperialismo (defendia, por exemplo, a ruptura com o FMI e a moratória
da dívida externa) e se autodenominava, genericamente, socialista. A contradição é que sua direção,
encabeçada por Lula, procurava desde o início impor uma concepção de aliança
com partidos burgueses para governar.
A queda
do stalinismo:
A partir
1989, com a derrota de Lula diante de Fernando Collor e com a nova situação
criada a partir dos regimes stalinistas no Leste Europeu e na União Soviética
(URSS), essa concepção estratégica se impôs plenamente. Em que consistia? Para a
direção do PT, o diagnóstico da situação mundial era claro. Afirmava que a
queda da URSS e dos demais regimes stalinistas significava que o socialismo
havia fracassado. E que, portanto, o capitalismo tinha demonstrado ser um
regime forte e poderoso, inquestionável. Nesse quadro, o socialismo era uma utopia
inalcançável. Os trabalhadores deveriam abrir mão do objetivo de tomar o poder
e formar o seu próprio governo. A única estratégia possível seria chegar ao
governo por meio de eleições e alianças com setores burgueses “progressistas”.
Essa política se materializou na eleição de Lula tendo como vice José Alencar,
o maior empresário têxtil do país, e, depois, nas alianças com partidos de
direita, como PMDB, PTB e até PP, para governar.Essa estratégia obrigou o
partido a defender o sistema capitalista e o regime político antidemocrático
que existe no país, isto é, a Constituição atual, o Estado de Direito e suas
instituições como o Judiciário, o Legislativo e, principalmente, as Forças
Armadas, que defendem claramente as classes exploradoras. Supostamente,
essas alianças estariam justificadas para que um governo do PT pudesse realizar
reformas que melhorassem a situação dos trabalhadores e diminuíssem a
desigualdade social por meio de uma melhor distribuição de renda, tirando um
setor da população brasileira da miséria absoluta.
O mito do
Empreendedorismo
O PT e
seus governos inculcaram entre os trabalhadores a ideia de que seria possível
uma ascensão social duradoura através de políticas distributivas. Entre elas,
estavam as políticas sociais compensatórias como o Bolsa Família. De outro
lado, estava o acesso ao crédito para facilitar o consumo, a educação superior
privada (Prouni) e o empreendedorismo individual dos pequenos negócios. Com isso, se
criou o mito de que estaria surgindo uma nova classe média.Mas não
se pode governar dentro do capitalismo sem privilegiar os donos do capital, ou
seja, as multinacionais, os bancos, as grandes indústrias, o agronegócio e as
empreiteiras. No governo, o PT fez isso de diferentes maneiras: mantendo as
altas taxas de juros que favoreceram os bancos; aprovando isenções fiscais a
setores empresariais como o setor automobilístico; com as privatizações
disfarçadas sob a forma de concessões etc. Além disso, o BNDES atuou como
instrumento de fortalecimento de grandes grupos nacionais; as empreiteiras
foram tremendamente favorecidas com as obras de infraestrutura e da Petrobras,
e os grandes grupos privados do setor educacional foram beneficiados com o
ProUni e outros programas.
Relações
internacionais
Em
relação ao lugar do Brasil no mundo, a direção do PT semeou ilusões de que o
país poderia chegar a ser uma nação capitalista desenvolvida, uma grande
potência, um país soberano e independente sem romper com o imperialismo e seus
organismos e tratados. Ao contrário, em boas relações e em acordo com os
Estados Unidos. A Carta aos Brasileiros, publicada por Lula antes das eleições
de 2002, em que ele se comprometia a respeitar os acordos firmados pelo país
(leia-se pagar a dívida externa e interna aos banqueiros nacionais e
internacionais e respeitar a propriedade capitalista), foi a manifestação mais
clara do compromisso do PT com o capital financeiro nacional e internacional.
Cooptação
das centrais sindicais
Para
levar a cabo este projeto era essencial para o PT não só o apoio dos sindicatos
e dos movimentos sociais ao governo como também sua atuação para impedir possíveis
mobilizações. Para isso, utilizou várias medidas de cooptação: ganhar os ativistas
para priorizar as eleições, ter como objetivo a eleição de parlamentares;
integrar sindicalistas em cargos de confiança e em postos chave do governo; o
controle pelos sindicatos dos fundos de pensão, como a Previ e a Funcef;
destinar parte do imposto sindical para as Centrais Sindicais etc. Com isso, as
principais centrais e grande parte dos movimentos sociais passaram a ser meros
instrumentos de desmobilização dos trabalhadores e de defesa do governo! O que foi péssimo para a classe trabalhadora!
Gestores da crise do capitalismo
O
discurso da direção do PT procura aparentar uma mistura de reformismo (de que é
possível reformas dentro do capitalismo) com o antigo discurso burguês
nacional-desenvolvimentista. Mas por que esse discurso não surte mais efeito e é repudiado como
hipócrita por milhões de trabalhadores?Porque a
realidade fala mais que milhares de palavras. A prática do governo do PT é
oposta ao seu discurso. O governo tem sido o principal agente do imperialismo e
da burguesia para fazer o ajuste econômico que nada mais é que obrigar os
trabalhadores a pagarem pela crise. Para isso, o governo Dilma encabeça o
ataque aos direitos sociais como o seguro-desemprego; aumenta a tarifa de luz e
os combustíveis; e coloca o ministro da Fazenda, o banqueiro Joaquim Levy, para
negociar o PL das terceirizações no Congresso. No
governo de um Estado capitalista, o PT não pode fugir da lógica de um gerente
de negócios do capital. Quando chegam as crises produz-se, inevitavelmente, uma
redução da renda nacional. A burguesia procura aumentar a exploração e destrói
as políticas de distribuição de renda anteriores. No plano internacional, o
imperialismo aumenta a exploração dos países dependentes para tentar superar a
crise econômica mundial. O gerente obedece as ordens dos patrões. O PT cumpre
as determinações dos verdadeiros donos do poder de Estado, defende o
capitalismo e ataca os trabalhadores. Essa é a essência da crise atual do
governo.
Corrupção em todos os níveis governamentais!
O
envolvimento do PT nos grandes esquemas de corrupção e na formação dos cartéis
de grandes obras e serviços, além da óbvia corrupção de seus dirigentes,
obedece à mesma lógica. A corrupção é um instrumento a serviço da acumulação
capitalista burguesa baseada na pilhagem do Estado. Em todos os países
capitalistas, no Brasil talvez de forma exacerbada, a corrupção e o roubo fazem
parte do jogo democrático. Ao se colocar à frente do Estado burguês
capitalista, a direção do PT passou a reproduzir os métodos burgueses de gestão
pública.
Uma
alternativa ao PT
A
conclusão é evidente: o projeto do PT faliu e entrou em crise junto com o
partido. É preciso que surja uma nova alternativa partidária que represente os
interesses históricos da classe trabalhadora. Estão abertas as condições para
que esta alternativa se desenvolva. No entanto, não é nenhuma solução o
surgimento de novos partidos de esquerda que repitam e privilegiem a mesma
estratégia do PT.
Que tipo de partido, programa e
organização de classe necessitamos?
Começar
este debate para construir um forte partido socialista dos trabalhadores será
uma tarefa de milhares de ativistas do movimento sindical e popular. Em
uma entrevista para o Blog do Zé Dirceu, *Lincoln Secco aprofunda questões que
deveriam estar em debate no 5º Congresso
do PT. Ele é um dos signatários do manifesto O PT não
vai matar o Petismo, apesar de não ser um de seus organizadores. E explica
o que o atraiu no texto: “ele pede que o PT internalize a democracia que
defende para a sociedade. No 4º Congresso o PT tinha avançado nisso. As
mulheres têm que ser metade da direção e foi aprovada a rotatividade dos
mandatos parlamentares. A pergunta é: isso será respeitado?
(essa conta não bate e nunca pode dar certo)
O que será do PT se
ele não mudar?
Para
Secco, o problema do PT não é de conteúdo, é de forma! O PT precisa
internalizar a democracia que defende para a sociedade. Como essas duas
questões (forma e conteúdo) são intrinsecamente ligadas, o fato de o PT ter
deixado de fazer trabalho de base e ter priorizado as questões institucionais
afastou-o dos movimentos vivos na sociedade. “Mais que retomar origens, é preciso aprender com aqueles que reinventam
o que PT foi. Veja Junho de 2013: Ali se inaugurou para o bem ou para o mal um
novo ciclo político. Ele teve a ver com as transformações que Lula promoveu,
mas também com alterações da forma. O PT
foi inovador, não é mais! As militantes e os militantes promovem hangouts, o
facebook se massificou no Brasil em 2013 e o ‘zap zap’ na gíria popular
funciona mais do que qualquer panelaço”, diz ele. Quer saber como fazer? Veja os
novos coletivos, aprenda com eles! Produza uma pauta única e agregadora,
antecipe respostas.Um exemplo: a criminalização da esquerda seria algo para
o PT debater no 5º Congresso. Mas como o PT do poder é pragmático, ele só
repete a ladainha do republicanismo e não mobiliza ninguém.” - Quando vence, os “aliados” voltam logo para preencher os
cargos. É que o Brasil vive desde 2005 aquilo que o filósofo Paulo Arantes chama
de polarização assimétrica: “A direita só quer impedir um
governo, um governo que sequer reage. Nós temos um antecedente histórico.
Quando Getúlio Vargas ganhou em 1950 disse que o governo seria popular e o
ministério reacionário. A esquerda tinha que ser pragmática, e a direita
ideológica. O problema é que a ideologia da direita brasileira é a do
liberalismo oligárquico, de fachada. Quando ela radicaliza, apela para golpes.
Dava para entender o medo do Getúlio porque o exército o ameaçava toda hora e
ele já tinha sido derrubado uma vez. Mas o petismo tem outra situação
histórica. Poderia mobilizar mais, mesmo num país conservador. Ele foi ao poder
para mudar e não para conservar... O nosso problema foi que com o fim do “poder moderador” das Forças
Armadas a dominação de classe se ancorou no judiciário. O PT sofre com isso e
os novíssimos movimentos sociais também. A
criminalização da esquerda seria algo para o PT debater no 5º Congresso. Mas
como o PT do poder é pragmático, ele só repete a ladainha do republicanismo e
não mobiliza ninguém.”
*(Lincoln Secco é professor Livre Docente de História
Contemporânea na USP e autor de História do PT - Editora Ateliê)
Artigo da série “Crise e
degeneração do PT”, lançada na edição Nº 495 do jornal Opinião Socialista
II - NA VISÃO CONTRÁRIA
AOS SOCIALISTAS
O Brasil do
PT
A
entrevista do teórico do PT, Marco Aurélio Garcia, no Jornal da Tarde de 12 de janeiro, mostra que, por trás de uma
tranquilizante fachada moderninha, esse partido não tem nada a propor senão o
bom e velho comunismo. Segundo o entrevistado, o governo
do PT não será socialista. Os ingênuos tomam esta promessa como uma garantia.
Mas, prossegue Marco Aurélio, esse governo será uma "democracia
popular" e constituirá "um aperfeiçoamento do capitalismo" com
vistas a "um horizonte socialista"; um horizonte vago e indistinto o
bastante para não alarmar o eleitorado. O
que o eleitorado, novo e inculto, ignora por completo é que aperfeiçoar o
capitalismo para chegar ao socialismo não é nenhuma proposta nova, mas sim a
única estratégia de governo comunista que já existiu e a única que poderia
existir, já que, segundo Marx, o socialismo não pode ser implantado antes que o
capitalismo desenvolva suas potencialidades até o esgotamento.
O PTISMO COMO GOVERNO DE
TRANSIÇÃO AO COMUNISMO
A
função do governo de transição, "democrático-popular", é acelerar
esse esgotamento. Na Rússia, essa fase intermediária chamou-se NEP, Nova
Política Econômica, implantada por Lênin logo após a tomada do poder pelos
comunistas. Se o próprio Lênin, subindo ao
poder no bojo de uma revolução armada, não implantou logo o comunismo, e sim
apenas um "capitalismo aperfeiçoado", por que o PT haveria de fazer
mais, levado ao poder pela via gradual e pacífica do gramscismo?
Marco
Aurélio Garcia, prosseguindo na linha tranquilizante, assegura que os
empresários nada perderão e terão tudo a ganhar no Brasil petista!
"Se queremos desenvolver um grande
mercado de massas, é claro que grande parte da burguesia vai tirar proveito
disso." Mas é exatamente o que dizia Lênin: não se pode fazer a transição
para o socialismo sem que, na passagem, a burguesia ganhe um bocado de dinheiro
com o incremento dos negócios. Nisto consistiu precisamente a NEP. Mas não se
pense que os comunistas fiquem tristes com a súbita prosperidade dos seus
desafetos. Ao contrário: acenando com a promessa de ganhos rápidos, o governo
comunista faz trabalhar em favor da revolução a cobiça imediatista dos
burgueses, cumprindo a profecia de Lênin: "A burguesia tece a corda com
que será enforcada." O truque é simples: com o progresso rápido do
capitalismo, cresce também rapidamente o proletariado, base de apoio do governo
comunista. Tão logo esta base esteja firme para sustentar o governo sem a ajuda
dos burgueses, o governo puxa o laço. Em seguida os burgueses mortos ou banidos
são substituídos em suas funções dirigentes por uma nova classe de burocratas
de origem proletária ao menos nominal.
Garcia diz que o PT
quer um "Estado forte", dotado de "mecanismos de controle do
Parlamento, da Justiça, do Tribunal de Contas e das estatais". Mas que
diabo é isto senão o totalitarismo mais descarado? Nas
democracias, a autonomia dos três poderes tem sido um mecanismo confiável e
suficiente para o controle do poder. O que o PT advoga é que dois desses
poderes sejam controlados por um terceiro, o Executivo, desde o momento em que
este caia nas mãos do sr. Luís Inácio Lula da Silva. Nesta hipótese, dará na
mesma que o Executivo policie os outros dois poderes diretamente, numa ditadura
ostensiva, ou que o faça por intermédio de organizações autonomeadas
representantes da sociedade civil — sindicatos, ONGs, grupos de intelectuais,
grêmios estudantis — e controladas, por sua vez, pela facção política
dominante, isto é, pelo PT: em ambos os casos, o que teremos será o crescimento
hipertrófico do poder e seu absoluto descontrole.
Interrogado sobre o
destino que o governo petista dará às Forças Armadas, Garcia responde, com toda
a clareza de quem diz exatamente o que pensa:
Mudar
a Constituição, para que as Forças Armadas deixem de ter, entre suas
atribuições, a de combater inimigos internos, e passem a se incumbir
exclusivamente da defesa das fronteiras nacionais. Ora, mandadas para a
fronteira, desligadas do combate a inimigos internos, as Forças Armadas estarão
duplamente impedidas — pela obrigação constitucional e pela distância — de
mover um só dedo contra o crime organizado, que, sob aplausos de uma certa
intelectualidade esquerdista, já domina um Estado da Federação. Se, ampliando o
que hoje acontece no Rio, uma aliança entre políticos e delinquentes atear fogo
ao país inteiro, as Forças Armadas nada poderão fazer contra isso, porque
estarão, fiéis ao dever constitucional, aquarteladas num cafundó amazônico,
velando contra a “iminente” invasão boliviana ou talvez dando nos marines uma surra de fazer inveja ao
vietcongue. Mas será estranho que
um dirigente petista alimente esse projeto insano, quando seu partido também
tem, entre seus principais quadros teóricos, um tal sr. César Benjamin,
biógrafo-apologista do fundador do Comando Vermelho?Recordemos:
escrito com a ajuda deste teórico petista, o livro em que o quadrilheiro
William Lima da Silva faz a apologia do crime foi publicado pela Editora Vozes,
da esquerda católica, e lançado, com noite de autógrafos e muita badalação, em
cerimônia realizada na sede da ABI em 199l. Apesar do que dispõe o Art. 287 do
Código Penal, ninguém foi processado. Alguns vêem em fatos como esse perigosos
sinais de ligações entre as esquerdas e o crime organizado. Se há ou não aí uma
aliança política subterrânea, é algo que só o tempo dirá. Mas que as esquerdas
estão ligadas ao Comando Vermelho pelo passado comum e por uma profunda afinidade
"espiritual" baseada no culto dos mesmos mitos e dos mesmos rancores,
é coisa que está fora de dúvida. E como os senhores do crime não haveriam de
sentir essa afinidade como um verdadeiro reconforto, diante da promessa petista
de tirar do seu caminho o único obstáculo que ainda pode inibir suas ambições?A
proposta petista de aumentar a dotação orçamentaria das Forças Armadas em troca
de retirar delas a responsabilidade pelo combate ao inimigo interno é puro
suborno, em que o PT veste implicitamente a carapuça de inimigo interno. Se
ainda existe consciência estratégica entre os militares, a proposta indecente
será repelida. Enfim, se Marco Aurélio Garcia
procura aplacar o temor ante o espectro comunista dizendo que o regime petista
não será socialismo e sim "democracia popular", também nisto não há
novidade alguma: todos os
regimes comunistas se intitulavam "democracias populares".
O PT, seguindo a
lição de Hitler, não se dá sequer o trabalho de ocultar o que pretende fazer:
Anuncia
seus planos abertamente, contando com a certeza de que o wishfulthinking popular dará às suas
palavras um sentido atenuado e inocente, sem enxergar qualquer periculosidade
mesmo nas ameaças mais explícitas. Afinal, quanto mais assoberbado de males se
encontra um povo, mais ansioso fica de crer em alguma coisa e menos disposto a
encarar com realismo a iminência de males ainda maiores. Nessas horas, a
maneira mais segura de ocultar uma intenção maligna é proclamá-la cinicamente,
para que, tomada como inverossímil em seu sentido literal, seja interpretada
metaforicamente e aceita por todos com aquela benevolência compulsiva que nasce
do medo de ter medo. Quando Hitler prometeu dar um fim aos judeus, também foi
interpretado em sentido metafórico. A predisposição da opinião
pública para não enxergar o risco evidente nasce, por um lado, da própria
hegemonia que as ideologias de esquerda exercem sobre o nosso panorama
cultural, impondo viseiras psicológicas mesmo a pessoas que, politicamente,
divergem da esquerda. A política é apenas uma superfície da vida social, e de
nada adianta divergir na superfície se, no fundo — nas convicções morais, nos
sentimentos básicos, nas atitudes vitais elementares — copiamos servilmente o
figurino mental do adversário. Nasce, por outro
lado, da ilusão de que o comunismo está morto. É um excesso de ingenuidade —
ou, talvez, medo de ter medo — supor que o fracasso do comunismo no Leste
europeu liquidou de vez as ambições dos comunistas em toda parte: “O ressentimento move montanhas,
dizia Nietzsche.” Particularmente no Brasil, é
muito profunda nas esquerdas a aspiração mítica de alcançar uma vitória local
que, pelo seu próprio caráter inesperado e tardio, possa resgatar a honra do
movimento comunista humilhado em todo o mundo. Permitir
que o PT realize seus planos de "democracia popular", sob o pretexto
de que o comunismo é um cavalo morto, é arriscar-se a um coice que provará a
vitalidade do defunto.
Ademais, os movimentos
das ideias no Brasil não acompanha pari
passu a evolução do mundo, mas fica sempre atrás:
1)-Em
1930, quando o positivismo de Augusto Comte já era peça de museu no seu país de
origem, uma revolução tomou o poder no Brasil inspirada no modelo positivista
do Estado.
2)-
O espiritismo, moda européia que morreu por volta da Primeira Guerra sem nunca
mais reencarnar, ainda é no Brasil quase uma religião oficial!
3)-
Nossos intelectuais ainda estão empenhados no combate ao lusitanismo em
literatura, quase um século depois de rompido o intercâmbio literário entre
Brasil e Portugal.
4)-
As velhas religiões africanas, que os negros de todo o mundo vão abandonando
para aderir ao islamismo, aqui vão conquistando novas massas de crentes entre
os brancos.
Enfim, o tempo nesta parte do
mundo corre ao contrário. Por que o comunismo, morto ou moribundo em toda
parte, não poderá ressurgir neste país, fiel ao atraso crônico do nosso
calendário mental? Pelo menos é o que nos promete a entrevista de Marco Aurélio
Garcia: se depender dele, não falharemos em nossa missão cósmica de coletores
do lixo refugado pela História. Homens de formação
arraigadamente marxista, insensíveis durante toda uma vida a quaisquer outras
correntes de idéias, simplesmente não
podem, no breve prazo decorrido desde a queda do Muro de Berlim, ter
feito uma revisão profunda e séria de suas convicções: Mudanças,
se houve, foram epidérmicas, para não dizer simuladas. A força atrativa do
messianismo comunista não acabou: refluiu para a obscuridade, de onde,
vitalizada pelo apelo nostálgico e pela ânsia de um renouveau transfigurador, está pronta a ressurgir ao menor sinal
de uma oportunidade. Declarações improvisadas de
arrependimento nada significam, sobretudo em homens que, habituados por uma
praxe do cerimonial comunista a utilizar-se de rituais de
"autocrítica" como instrumentos de sobrevivência política, acabaram
por assimilar profundamente o vício da linguagem dúplice, a ponto de torná-la
uma segunda natureza. Um século de história do comunismo prova que nada iguala
a capacidade da esquerda de tapar os próprios ouvidos à verdade, senão a sua
habilidade de desviar dela os olhos alheios. A
pressa mesma com que alguns próceres comunistas compareceram ante as câmeras de
TV para declarar a falência do comunismo é suspeita, uma vez que em nenhum
deles a desilusão foi profunda a ponto de fazê-lo desejar abandonar a política.(”O
próprio Lênin dizia que na luta pela implantação do Comunismo ás vezes é
necessário dar um passo para a frente e dois para trás”).Do dia para a
noite, desvestiram a camisa soviética, vestiram um modelito novo, e sem mais
delonga reapareceram, prontos para outra, com o maior vigor e animação,
discursando com aquela certeza, com aquela segurança de quem jamais tivesse
sido desmentido pelos fatos. Acredite nessa gente quem quiser.Da minha parte, não
duvido de todos os comunistas. Acredito em Antonio Gramsci, quando diz que:“O Partido é o novo
"Príncipe" de Maquiavel, e acredito em Bertolt Brecht, quando diz que
para um comunista a verdade e a mentira são apenas instrumentos, ambos
igualmente úteis à prática da única virtude que conta, que é a de lutar pelo
comunismo.
Observações finais:
Expondo em conferências as idéias que depois
viria a registrar neste livro, muitas vezes recebi dos ouvintes a exigência de
uma "definição política". Sentiam-se desconfortáveis ante um
interlocutor sem filiação identificável, algo assim como um UFO ideológico, e
desejavam saber com quem estavam falando. Minha resposta, invariavelmente, tem sido a seguinte: O pressuposto dessa exigência é que não se pode
criticar uma ideologia senão em nome de uma outra ideologia, dentre as
reconhecidas no catálogo do momento. Esse pressuposto, por sua vez, funda-se
num preconceito meio historicista, meio sociologista, segundo o qual todo
pensamento individual é apenas "expressão" de algum anseio coletivo,
e deve a este sua validade. Em oposição a este preconceito e àquele
pressuposto, estou profundamente convicto de que somente o pensamento do
indivíduo como tal pode ter validade objetiva, pois não há verdade senão para a
consciência reflexiva, que só existe no indivíduo. As correntes de pensamento
coletivas apenas manifestam desejos, anseios, temores, e jamais se levantam ao
nível de autoconsciência crítica no qual a distinção entre verdade e falsidade
pode ter algum sentido. Somente a autoconsciência do indivíduo pode captar essa
distinção, ascender à esfera dos juízos universalmente válidos e da veracidade
objetiva. Logo, é ela quem é juiz do pensamento coletivo. A monstruosa inversão que submete o juízo da
consciência individual ao critério das ideologias coletivas provém de uma
mutilação da mente moderna, incapaz de atinar com alguma
"universalidade" que não seja meramente quantitativa, reduzida
portanto à "generalidade" e, em última análise, à validação puramente
estatística. Como, de outro lado,
toda prova estatística pressupõe a validade universal das leis da aritmética
elementar, cujo fundamento é a evidência apodíctica somente acessível à
consciência individual, o primado do pensamento coletivo repousa numa autocontradição
pela qual nega sua própria validade. Para piorar ainda
mais as coisas, o pensamento coletivista, não tendo acesso à esfera da validade
objetiva, logo perde toda referência ao "objeto" como tal e se fecha
num subjetivismo coletivo: da estatística dos "fatos" caímos para a
estatística das "opiniões", e a contagem dos votos se torna o supremo
critério da veracidade. Este processo, que se inicia
na esfera da política, termina por contaminar a ciência mesma, onde hoje em dia
ouvimos apelos generalizados em favor da aceitação de critérios puramente
retóricos de argumentação como fundamentos legítimos da credibilidade
cientítica. O marketing, em suma, é elevado a ciência suprema,
modelo e juiz de todas as outras ciências. Ou aceitamos esse resultado, ou devemos negar pela raiz o primado do
pensamento coletivo, restaurando a consciência individual no posto de dignidade
que lhe cabe. E, neste caso, deveremos admitir que o indivíduo humano possa
elevar-se acima das ideologias e julgá-las, contanto que não o faça em nome de
um protesto pessoal e subjetivo, mas em nome da veracidade universal e
apodíctica, da qual ele, com todas as suas fraquezas, com todos os seus
condicionamentos limitantes, continua, afinal, o único representante sobre a
Terra. No século XX, a consciência individual sofreu, das
pseudociências emergentes, os mais violentos ataques, que pretenderam negá-la,
reduzi-la a um epifenômeno dos papéis sociais introjetados, a uma projeção do
instinto de sobrevivência, a uma ficção gramatical, a mil e uma formas do falso
e do ilusório. De outro lado, no campo das técnicas psicológicas, nunca se
investiu tanto na busca de meios para subjugar a consciência individual,
quebrar sua autonomia, forçá-la a repetir mecanicamente o discurso coletivo. Se o nosso é o século do marxismo, da psicanálise,
do estruturalismo, é também o da hipnose, o das técnicas de influência
subliminar, o da lavagem cerebral, o da "modificação de
comportamento" e o da Programação Neurolinguística. Se, por um lado, tudo
se faz para demonstrar teoricamente a inanidade da consciência individual, de
outro lado não se poupam esforços para reprimi-la e subjugá-la. Ora, estas duas séries de fatos, quando confrontadas, sugerem uma
pergunta: para que tanto empenho em derrotar na prática algo que, em teoria,
não existe? Se o cavalo está morto, para que açoitá-lo com tanta fúria?Este é alias o tema de um livro que estou preparando, A Alienação da Consciência. É uma resenha dos ataques teóricos e práticos
dirigidos pelas doutrinas pseudocientíficas, em aliança com os governos
totalitários ou com o establishment tecnocrático, contra a autonomia da
consciência individual. Foi este estudo, precisamente, que me levou à rejeição
completa e taxativa de todo pensamento ideológico.Não me perguntem, portanto, em nome de que ideologia combato esta ou
aquela ideologia. Combato-a desde um plano que não é acessível ao pensamento
ideológico, e que só existe para a autoconsciência individual, quando
firmemente decidida a não abdicar de seu direito — e de seu dever — à verdade e
à universalidade. Em consequência, também não me dirijo a ouvintes e leitores
enquanto representantes desta ou daquela facção ou grupo, mas enquanto
portadores de uma inteligência universalmente válida, capaz de sobrepor-se ao
discurso de facções e grupos e julgá-lo objetivamente. Não converso com fantoches coletivos, mas com seres
humanos, investidos da dignidade suprema da autoconsciência, que os torna
imagens de Deus. Se, enquanto apegada à identidade biológica e sujeita portanto
à ilusão passional, a consciência do indivíduo é pura Maya, por outro lado é somente o indivíduo, e
não o aglomerado estatístico das coletividades, que pode ascender ao plano da
universalidade onde é lícito dizer: Eu sou Brahman.
Aos que, lido este
apêndice, enxergarem no autor um hidrófobo “antipetista”, advirto que votei em
Lula para presidente e o faria de novo, com prazer, se ele tomasse as seguintes
providências:
1)-
Banir do seu partido o elenco de vedettes
intelectuais que, formadas numa atmosfera marxista, e apegadas a ela como um
bebê à saia da mãe, insistem em manter aprisionado nela o movimento socialista
que anseia por novas idéias.
2)-Exorcizar de vez os fantasmas de Marx, Lênin,
Débray, Althusser, Gramsci e tutti
quanti, e permitir que a idéia socialista cresça livre de gurus e
totens.Quando Lula diz que nossas elites viveram "com os olhos voltados
para a França e a bunda voltada para o Brasil", não percebe ele que isso é
uma descrição exata da elite intelectual petista, e esquerdista em geral?
3)-
Reprimir o uso de táticas de movimento clandestino e revolucionário, que são
indecentes num partido que professa conviver democraticamente com outros
partidos num Estado de direito. Infiltração, espionagem, delação, boicote moral
podem ser necessários e inevitáveis a um movimento de oposição que queira
sobreviver numa ditadura. Em regime de liberdade, são práticas intoleráveis,
principalmente em políticos que posam de professores de ética. Quando
os apóstolos da ética citam como um exemplo para o Brasil o que os americanos
fizeram com Nixon após o caso Watergate,
esquecem de dizer que Nixon não caiu por causa de um desvio de verbas, mas por
causa da prática de espionagem. Se a corrupção é um crime, a espionagem é um ato de guerra, que destrói, pela
base, o edifício democrático.
Olavo de Carvalho
Fonte: www.olavodecarvalho.org/livros/nefinais.htm
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