Frequentaremos
agora a escola dos quatro grandes doutores da Igreja latina: Agostinho,
Ambrósio, Leão Magno e Gregório Magno; para ver o que cada um nos diz, hoje,
sobre a verdade da fé que mais particularmente defendeu: respectivamente, a
natureza da Igreja, a presença real de Cristo na Eucaristia, o dogma
cristológico de Calcedônia e a inteligência espiritual das Escrituras.O
objetivo é redescobrir, por trás desses grandes Padres, a riqueza, a beleza e a
felicidade de crer; passar, como diz São Paulo, “de fé em fé” (Rm 1,17), de uma
fé acreditada para uma fé vivida. Teremos, assim, um aumento do “volume” de fé
dentro da Igreja para constituir depois a força maior do seu anúncio ao mundo.O
título do ciclo vem de um pensamento caro aos teólogos medievais: “Nós”, dizia
Bernardo de Chartres, “somos como anões sentados em ombros de gigantes, de modo
a vermos mais coisas e mais longe do que eles, não pela agudeza do nosso olhar
nem pela altura do nosso corpo, mas porque somos carregados para o alto e
elevados por eles a uma altura gigantesca” (1). A
perspectica ek-xistência de Heidegger, define a estrutura ontológica do ser
humano como " BIDIMENSIONAL", isto é, tem tanto um lado objetivo
quanto um lado subjetivo. Essa consciência da bidimensionalidade
estruturante do existir vem à tona nos chamados momentos de crise pessoal e ou,
social,como um voltar-se para fora,para o mundo e no mundo, ou um voltar-se
para dentro de si na busca de solução e respostas.A Teologia da Libertação ao
fazer uma opção preferencial e quase exclusiva pelo probre, deixou de pastorear
a classe média e rica que debandaram para o protestantismo.Ao tratar somente da
questão social, deixou as questões existencias sem respostas, e este mesmo
probre também foi buscar as respostas nas seitas.A Renovação Carismática vem
preencher este vazio doutrinal e pastoral não suprido e considerado
irrelevante pela TL.Porém a RCC não tem a experiência para tratar das
necessárias questões sociais, e por isto fui duramente atacada e excluida da
Igreja por esta ala, que a taxou de alienada e emotiva.Diante destes dois temas
relevantes na atualiadade fazemos a pergunta :
Qual
Igreja queremos? Mas afinal, O que é realmente a Igreja?
Cardeal Raniero Cantalamessa - OFM
Comecemos a nossa resenha pelo maior dos padres
latinos, Agostinho. O doutor de Hipona deixou a sua marca em quase todas as
áreas da teologia, mas especialmente em duas: a da graça e a da Igreja; a
primeira, fruto da sua luta contra o pelagianismo; a segunda, de sua luta
contra o donatismo.O interesse pela doutrina de Santo Agostinho sobre a graça
prevaleceu, do século XVI em diante, tanto no âmbito protestante (ao qual estão
ligados Lutero, com a doutrina da justificação, e Calvino, com a da
predestinação), quanto no campo católico, por causa das controvérsias
levantadas por Jansen e Baio (2). Já o interesse pelas suas doutrinas eclesiais
prevalece em nossos dias, porque o Concílio Vaticano II fez da Igreja o seu
tema central e porque o movimento ecumênico tem na ideia de Igreja a questão
crucial a ser resolvida. Procurando ajuda e inspiração nos Padres da Fé para o
hoje da fé, vamos nos ocupar desta segunda área de interesse de Santo
Agostinho, que é a Igreja.A Igreja não era um
assunto desconhecido para os Padres gregos nem para os escritores latinos
anteriores a Agostinho (Cipriano, Hilário, Ambrósio), mas as suas afirmações se
limitavam principalmente a repetir e comentar afirmações e imagens das
Escrituras. A Igreja é o novo povo de Deus; a ela é prometida a
indefectibilidade; ela é “a coluna e a base da verdade”; o Espírito Santo é o
seu mestre supremo; a Igreja é “católica” porque se estende a todos os povos,
ensina todos os dogmas e possui todos os carismas; na esteira de Paulo, fala-se
da Igreja como do mistério da nossa incorporação a Cristo por meio do batismo e
do dom do Espírito Santo; ela nasceu do lado aberto de Cristo na cruz, como Eva
do lado de Adão adormecido (3).Tudo isso, porém, era dito ocasionalmente; a Igreja
ainda não tinha entrado em discussão. Quem será forçado a tratar dela é
justamente Agostinho, que, durante quase toda a vida, teve de lutar contra o
cisma dos donatistas. Talvez ninguém se lembrasse hoje daquela seita
norte-africana se ela não tivesse sido a ocasião de origem do que hoje chamamos
de eclesiologia, ou seja, um discurso refletido sobre o que é a Igreja no
desígnio de Deus, a sua natureza e o seu funcionamento.Por volta de 311, um certo Donato, bispo da
Numídia, se recusou a receber novamente na comunhão eclesial aqueles que
durante a perseguição de Diocleciano tinham entregado os livros sagrados às
autoridades estatais, renegando a fé para salvar a vida. Em 311, foi eleito
bispo de Cartago um certo Ceciliano, acusado, erradamente segundo os católicos,
de ter traído a fé durante a perseguição de Diocleciano. Opôs-se a esta nomeação
um grupo de setenta bispos do norte africano, liderados por Donato. Eles
depuseram Ceciliano e elegeram em seu lugar Donato. Excomungado pelo papa
Milcíades em 313, ele permaneceu no seu posto, provocando um cisma que criou no
norte da África uma Igreja paralela à católica, mantida até a invasão dos
vândalos, um século depois.Durante a polêmica, eles
tentaram justificar a sua posição com argumentos teológicos. Foi para
refutá-los que Agostinho desenvolveu, pouco a pouco, a sua doutrina da Igreja. Isto
aconteceu em dois contextos diferentes: nas obras escritas diretamente contra
os donatistas e nos seus comentários à Escritura e discursos ao povo. É
importante distinguir entre esses dois contextos porque, conforme cada um,
Agostinho insistirá mais em alguns aspectos da Igreja do que em outros e só a
partir do conjunto é que pode ser entendida a sua doutrina completa. Vamos ver,
portanto, brevemente, quais são as conclusões a que o santo chega em cada um
dos dois contextos, a começar pelo diretamente antidonatista.
A
Igreja, comunhão dos sacramentos e sociedade dos santos!
O cisma donatista partiu de uma convicção: "não pode
transmitir a graça um ministro que não a possui;" os sacramentos administrados
desta forma seriam desprovidos de qualquer efeito. Este argumento, que no
início foi aplicado à ordenação do bispo Ceciliano, acabou estendido
rapidamente aos outros sacramentos, em particular ao batismo. Com isto, os
donatistas justificavam a sua separação dos católicos e a prática de rebatizar
quem vinha das suas fileiras.Em resposta, Agostinho desenvolve um princípio que
se tornará uma conquista perene da teologia e que lança as bases de um futuro
tratado de sacramentis: a distinção entre potestas e ministerium, ou seja,
entre a causa da graça e o seu ministro. A graça conferida pelos sacramentos é
obra exclusiva de Deus e de Cristo; o ministro não passa de um instrumento:
“Pedro batiza, é Cristo quem batiza; João batiza, é Cristo quem batiza; Judas
batiza, é Cristo quem batiza”! A validade e eficácia dos sacramentos não é
impedida pelo ministro indigno: uma verdade da qual, bem sabemos, o povo
cristão precisa se lembrar também hoje…Neutralizada, assim, a principal arma do
adversário, Agostinho pode elaborar a sua grandiosa visão da Igreja mediante
algumas distinções fundamentais. A primeira é entre a Igreja presente ou
terrestre e a Igreja celestial ou futura. Só esta segunda será uma Igreja de
todos santos e apenas santos; a Igreja do tempo presente será sempre o campo em
que se misturam o trigo e o joio, a rede que recolhe peixes bons e peixes
ruins, ou seja, santos e pecadores. Dentro da Igreja em seu estágio terreno, Agostinho
opera outra distinção: entre a comunhão dos sacramentos (communio
sacramentorum) e a sociedade dos santos (societas sanctorum). A primeira une
visivelmente entre si todos aqueles que participam dos mesmos sinais externos:
os sacramentos, a Escritura, a autoridade; a segunda une entre si todos e
apenas aqueles que, além dos sinais, também têm em comum a realidade escondida
nos sinais (res sacramentorum), que é o Espírito Santo, a graça, a caridade. Dado
que na terra sempre será impossível saber com certeza quem possui o Espírito
Santo e a graça, e, mais ainda, se eles perseverarão nesse estado até o fim,
Agostinho acaba identificando a verdadeira e definitiva comunidade dos santos
com a Igreja celeste dos predestinados. “Quantas ovelhas que hoje estão dentro
estarão fora, e quantos lobos que hoje estão fora estarão dentro!” (5).A
novidade, neste ponto, mesmo no tocante a Cipriano, é que, enquanto este fazia
consistir a unidade da Igreja em algo externo e visível, na concórdia de todos
os bispos entre si, Agostinho a faz consistir em algo interno: o Espírito
Santo. A unidade da Igreja é operada, assim, pelo mesmo que opera a unidade na
Trindade: “O Pai e o Filho quiseram que estivéssemos unidos entre nós e com
eles por meio do mesmo vínculo que os une, o amor, que é o Espírito Santo” (6).
Ele executa na Igreja a mesma função que exerce a alma em nosso corpo natural:
ser o seu princípio vital e unificador. “O que a alma é para o corpo humano, o
Espírito Santo é para o Corpo de Cristo, que é a Igreja” (7).A plena pertença à
Igreja exige as duas coisas juntas, a comunhão visível dos sinais sacramentais
e a comunhão invisível da graça. Esta, no entanto, admite graus, e por isso não
quer dizer que se deva estar necessariamente dentro ou fora. Pode-se estar em
parte dentro e em parte fora. Há uma pertença exterior, ou sinais sacramentais,
em que se situam os cismáticos donatistas e os próprios maus católicos, e uma
comunhão plena e total. A primeira consiste em ter o sinal externo da graça
(sacramentum), sem receber, porém, a realidade interior produzida por eles (res
sacramenti), ou em recebê-la, mas para a própria condenação, não para a própria
salvação, como no caso do batismo administrado pelos cismáticos ou da
Eucaristia recebida indignamente pelos católicos.
A
Igreja Corpo de Cristo animado pelo Espírito Santo!
Nos escritos exegéticos e nos discursos ao povo,
encontramos esses mesmos princípios básicos da eclesiologia; mas menos
pressionado pela controvérsia e falando, por assim dizer, em família, Agostinho
pode insistir mais em aspectos interiores e espirituais da Igreja, mais caros a
ele. Neles, a Igreja é apresentada, com tons muitas vezes elevados e comovidos,
como o corpo de Cristo (ainda falta o adjetivo “místico”, que será adicionado
mais tarde), animado pelo Espírito Santo, tão afim ao corpo eucarístico a ponto
de, às vezes, igualar-se quase totalmente a ele. Ouçamos o que ouviram os seus
fiéis, numa festa de Pentecostes, sobre esta questão: “Se queres entender o
corpo de Cristo, ouve o Apóstolo que diz aos fiéis: Vós sois o corpo de Cristo
e os seus membros (1 Co 12,27). Se vós sois o corpo e os membros de Cristo, na
mesa do Senhor está o vosso mistério: recebei o vosso mistério. Ao que sois,
respondeis ‘amém’ e, ao respondê-lo, o confirmais. É dito a vós: ‘o corpo de
Cristo’, e respondeis: ‘amém’. Sê membro do corpo de Cristo, para o teu amém
ser verdadeiro… Sede o que vedes e recebei o que sois” (8). O nexo entre os dois corpos de Cristo se
fundamenta, para Agostinho, na singular correspondência simbólica entre o devir
de um e o formar-se da outra. O pão da Eucaristia é obtido da massa de muitos
grãos de trigo e o vinho de uma multidão de bagos de uva: assim a Igreja é
formada por muitas pessoas, reunidas e amalgamadas pela caridade que é o
Espírito Santo (9). Como o trigo espalhado pelas colinas foi primeiro colhido,
depois moído, misturado com água e assado no forno, assim os fiéis esparsos
pelo mundo foram reunidos pela palavra de Deus, moídos pelas penitências e
exorcismos que precedem o batismo, imersos na água do batismo e passados pelo
fogo do Espírito. Mesmo em relação à Igreja, deve-se dizer que o sacramento
“significando causat”: significando a união de várias pessoas em uma, a
Eucaristia a realiza, a causa. Neste sentido, podemos dizer que “a Eucaristia
faz a Igreja”.
Atualidade da
eclesiologia de Agostinho
Vamos agora ver como as ideias de Agostinho sobre a
Igreja podem ajudar a iluminar os problemas que ela enfrenta em nosso tempo.
Quero me concentrar em especial na importância da eclesiologia de Agostinho
para o diálogo ecumênico. Uma circunstância torna esta escolha particularmente
oportuna. O mundo cristão se prepara para celebrar o quinto centenário da
Reforma Protestante. Já começaram a circular declarações e documentos conjuntos
em vista do evento (10). É vital, para toda a Igreja, não estragarmos esta
ocasião permanecendo prisioneiros do passado, tentando apurar, talvez com maior
objetividade e serenidade, as razões e as culpas de um e de outro, mas sim
darmos um salto de qualidade, como ocorre na eclusa de um rio ou de um canal,
que permite que os navios continuem a sua navegação num patamar mais elevado.A situação do mundo, da
Igreja e da teologia mudou desde aquela época. Trata-se de recomeçar a partir
da pessoa de Jesus, de ajudar humildemente os nossos contemporâneos a descobrir
a pessoa de Cristo. Devemos nos remeter ao tempo dos apóstolos. Eles tinham
diante de si um mundo pré-cristão; nós temos diante de nós um mundo em grande
parte pós-cristão. Quando Paulo quis resumir em uma frase a essência da
mensagem cristã, ele não disse “Anunciamos esta ou aquela doutrina”, mas “Nós
proclamamos Cristo, e Cristo crucificado” (1 Cor 1, 23). E ainda: “Nós
proclamamos Jesus Cristo, o Senhor” (2 Cor 4,5).Isto não significa ignorar o grande enriquecimento
teológico e espiritual produzido pela Reforma, nem querer retornar ao ponto de
antes; significa, em vez disso, deixar que toda a cristandade se beneficie das
suas conquistas, uma vez libertadas de certas forçações devidas ao clima
polêmico do momento e às posteriores controvérsias. A justificação gratuita
pela fé, por exemplo, deveria ser anunciada hoje, e com mais força do que
nunca, mas não em oposição às boas obras, o que é uma questão superada, e sim
em oposição à pretensão do homem moderno de se salvar sozinho, sem necessidade
nem de Deus nem de Cristo. Se vivesse hoje, sou convencido que isto seria o
modo com o qual Lutero predicasse a justificação por fé. Vamos ver como a teologia de Agostinho pode nos
ajudar neste esforço para superar as barreiras seculares. O caminho a percorrer
hoje, em certo sentido, segue na direção oposta à que foi tomada por ele contra
os donatistas. Na época, era preciso ir da comunhão dos sacramentos à comunhão
na graça do Espírito Santo e na caridade, mas hoje temos que ir da comunhão
espiritual da caridade à plena comunhão, inclusive nos sacramentos, entre os
quais, em primeiro lugar, a Eucaristia.A distinção entre os
dois níveis de realização da verdadeira Igreja, o externo, dos sinais, e o
interno, da graça, permite que Agostinho formule um princípio que seria
impensável antes dele: “Pode haver algo na Igreja católica que não seja
católico, e fora da Igreja católica algo católico” (11). Os dois aspectos da
Igreja, o visível e institucional e o invisível e espiritual, não podem ser
separados. Isso é verdade e foi reiterado por Pio XII na Mystici corporis e
pelo Concílio Vaticano II na Lumen Gentium, mas, devido às separações
históricas e ao pecado humano, até que se realize a sua correspondência plena,
não podemos dar mais importância à comunidade institucional do que à
espiritual.Para mim, isto levanta uma séria indagação. Posso
eu, como católico, me sentir mais em comunhão com a multidão dos que, tendo
sido batizados na minha própria Igreja, se desinteressam completamente de
Cristo e da Igreja, ou se interessam por ela apenas para falar mal, do que me
sinto em comunhão com as fileiras daqueles que, apesar de pertencer a outras
confissões cristãs, acreditam nas mesmas verdades fundamentais em que eu creio,
amam Jesus Cristo até dar a vida por ele, difundem o Evangelho, se esforçam
para aliviar a pobreza no mundo e possuem os mesmos dons do Espírito Santo que
nós? As perseguições, tão frequentes hoje em certas partes do mundo, não fazem
distinção: os perseguidores não queimam igrejas nem matam pessoas porque elas
são católicas ou protestantes, mas porque são cristãs. Para eles, nós já somos
“uma coisa só”!Esta, obviamente, é uma pergunta que deveria ser
feita também pelos cristãos das outras igrejas a propósito dos católicos, e,
graças a Deus, é precisamente isto o que está acontecendo de uma forma oculta,
porém maior do que as notícias nos deixam vislumbrar. Um dia, tenho certeza,
ficaremos admirados, ou outros ficarão, por não termos notado antes o que o
Espírito Santo estava realizando entre os cristãos do nosso tempo, à margem da
oficialidade. Fora da Igreja católica há muitíssimos cristãos que olham para
ela com olhos novos e começam a reconhecer nela as suas próprias raízes.A intuição mais nova e fecunda de Agostinho sobre a
Igreja, como vimos, foi a de identificar o princípio essencial da sua unidade
no Espírito, mais do que na comunhão horizontal dos bispos uns com os outros e
dos bispos com o papa de Roma. Como a unidade do corpo humano é dada pela alma
que vivifica e move todos os seus membros, assim é a unidade do corpo de
Cristo. Esta unidade é um fato místico, mais do que uma realidade que se
expressa social e visivelmente em perspectiva externa. É o reflexo da unidade
perfeita que existe entre o Pai e o Filho por obra do Espírito. Foi Jesus quem
fixou de uma vez para sempre este fundamento místico da unidade quando disse:
“Que todos sejam um, como nós somos um” (Jo 17, 22). A unidade essencial na
doutrina e na disciplina será o fruto desta unidade mística e espiritual, nunca
a sua causa.Os passos mais concretos para a unidade não são dados, portanto, em
torno de uma mesa ou nas declarações conjuntas (embora tudo isto seja
importante); são dados quando os crentes de diferentes confissões proclamam
juntos, em acordo fraterno, o Senhor Jesus, compartilhando cada um o próprio
carisma e reconhecendo-se irmãos em Cristo.
Membros
do corpo de Cristo, movidos pelo Espírito!
Em seus discursos ao povo, Agostinho nunca expõe as
suas ideias sobre a Igreja sem apresentar imediatamente as consequências
práticas para a vida cotidiana dos fiéis. E é isto o que nós também queremos
fazer antes de concluir a nossa meditação, como se nos colocássemos entre as
fileiras dos seus ouvintes de então. A imagem da Igreja como Corpo de Cristo não
é uma novidade de Agostinho. O que é novo nele são as conclusões práticas para
a vida dos crentes. Uma delas é que não temos mais razão para nos olharmos com
inveja e com ciúme. O que eu não tenho, mas os outros têm, também é meu.
Ouvimos o apóstolo elencar todos aqueles maravilhosos carismas: apostolado,
profecia, curas… e talvez nos entristeçamos pensando que não temos nenhum
deles. Mas, cuidado, alerta Agostinho: “Se tu amas, o que tens não é pouco. Se
de fato amas a unidade, tudo o que nela é possuído por alguém é também possuído
por ti! Expulsa a inveja e será teu o que é meu, e, se eu expulsar a inveja,
será meu o que tu possuis”. Somente o olho, no corpo, tem a capacidade de ver.
Mas o olho, por acaso, enxerga apenas para si? Não é todo o corpo que se
beneficia da sua capacidade de ver? Só a mão age, mas ela age, acaso, apenas
para si mesma? Se uma pedra está prestes a atingir o olho, a mão por acaso
permanece imóvel, dizendo que o golpe, afinal, não é contra ela? O mesmo
acontece no corpo de Cristo: o que cada membro é e faz, Ele é e faz para todos! Eis por que a caridade é o “caminho mais excelente”
(1 Cor 12 , 31): ela me faz amar a igreja, ou a comunidade em que vivo, e, na
unidade, todos os carismas, e não apenas alguns, são meus. E há mais: se amas a
unidade mais do que eu a amo, o carisma que eu possuo é mais teu do que meu.
Suponhamos que eu tenha o carisma de evangelizar; eu posso me comprazer ou me
vangloriar dele, e, assim, me torno “um címbalo que retine” (1 Cor 13,01); o
meu carisma “de nada me aproveita”, ao passo que o ouvinte não deixa de se
beneficiar, apesar do meu pecado. A caridade multiplica realmente os dons; ela
faz do carisma de um, o carisma de todos. “Fazes parte do corpo de
Cristo? Amas a unidade da Igreja?”, perguntava Agostinho aos seus fiéis.
“Então, quando um pagão te perguntar por que não falas todas as línguas, se
está escrito que aqueles que receberam o Espírito Santo falam todas as línguas,
responde sem hesitar: ‘É claro que falo todas as línguas! Eu pertenço ao corpo
da Igreja, que fala todas as línguas e em todas as línguas proclama as grandes
obras de Deus’” (13). Quando formos capazes de aplicar esta verdade não
só às relações dentro da comunidade em que vivemos e à nossa Igreja, mas também
às relações entre uma Igreja cristã e a outra, naquele dia a unidade dos
cristãos será praticamente um fato consumado. Acolhamos a exortação com que
Agostinho fecha muitos dos seus discursos sobre a Igreja: “Se quiserdes, pois,
experimentar o Espírito Santo, mantenha o amor, amai a verdade e alcançareis a
eternidade. Amém” (14).
A IGREJA NOS ATOS DOS APÓSTOLOS:
A igreja
chamada cristã tem nas Escrituras e no testemunho dos primeiros cristãos o
referencial para sua fé e para sua prática. E esta é uma oportunidade
privilegiada para refletirmos sobre nossa identidade e decidirmos sobre a
igreja que queremos? Um slogan de fundo
positivista, aludindo ao que é ou não possível, reza: se podemos sonhar algo, então podemos realizá-lo! Se
isso for verdade, só poderemos construir a igreja ideal se, primeiro, pudermos
imaginá-la! Esta é nossa pretensão: a partir do texto lido, idealizar a igreja
da qual teríamos orgulho de sermos membros, de amá-la e se entregar por ela
como Cristo fes. No texto de Atos 17, o autor deixa transparecer um juízo de
valor que apresenta a Igreja em Beréia como sendo mais nobre que a de Tessalônica. Numa leitura
atenta, podemos ver como a comunidade de Tessalônica se mostrou invejosa,
intolerante, violenta, incapaz de fazer auto-crítica, hipócrita, incoerente,
manipuladora, corrupta entre outras “qualidades”. Tessalônica era a comunidade
da qual teríamos vergonha. Mas, a poucos quilômetros dali, uma outra igreja
entrou para a história, pela pena de Lucas, recebendo os elogios que toda
igreja gostaria de receber para si. Vejamos, então, quais as características
que fizeram de Beréia uma igreja mais nobre.
Beréia
era uma comunidade aberta, portanto:
-Dialógica: Beréia, ao contrário de
Tessalônica, era uma comunidade aberta ao diálogo, pois está registrado que ela
acolhe Paulo e Silas e se dispõe a conversar com eles (dieleksato). Em Tessalônica havia ordens, leis e
condenações. Em Beréia: conversa, diálogo e respeito.
-Ávida da
Palavra: A
comunidade de Beréia tinha sede da Palavra de Deus encarnada (cf. v. 11b:
“receberam a palavra com toda avidez”). Em Tessalônica a Palavra de Deus era
ocultada pela tradição. Em Beréia a Palavra inovadora de Deus fecundava e
dinamizava a tradição.
-Acolhedora
do novo: Disposta
a ouvir as novidades trazidas pelos missionários, a comunidade de Beréia estava
aberta a novas experiências e a novos desafios (cf. v. 11b). Enquanto
Tessalônica prendia, torturava e expulsava seus profetas, a comunidade de
Beréia os acolhia, protegia e sustentava.
Beréia também, era uma comunidade madura, portanto:
-Crítica (com
senso crítico): Os
bereianos e bereianas estavam abertos para as novidades, mas sem ingenuidade.
Queriam conferir tudo nas Escrituras para ver se as cousas são de fato
assim (cf. v. 11c). Se, por um lado Tessalônica rejeita, de
saída, a mensagem dos missionários, os bereianos estão longe de, simplesmente,
engolirem qualquer “sapo”. O grande cientista Karl Sagan costumava dizer:
“devemos ter a mente aberta, mas não tão aberta a ponto do cérebro cair para
fora”. Por isso a comunidade de bereia não vai atrás de qualquer novidade, não
se ilude com a moda religiosa, não se embriaga com as novidades das paradas de
sucesso, nem se deixa enganar por eloqüentes animadores de auditório. Diante da
novidade propõe: “Vamos ver se as coisas são de fato assim, vamos conferir nas
Escrituras Sagradas”.
-Atualizada
(preocupada com sua “reciclagem”): A expressão “dia-a-dia” mostra como eles liam e
reliam as Escrituras aplicando-as ao seu contexto e à sua vida, atualizando a
sua mensagem para o dia de “hoje” (isto é o que se pode chamar de “aggiornamento da igreja”). A Palavra não foi feita
para ser apenas ser lida, mas para ser aprofundada e vivida. No início, nos alimentamos com leite, mas
depois precisamos de alimento sólido para crescermos em estatura
(quantidade) e graça (qualidade).
-Constante (com
uma fé que vai além do ritual formal do fim-de-semana): Enquanto os de Tessalônica só se
reuniam nos sábados, os bereianos viviam sua
fé todos os dias. Tessalônica se ocupava das
Escrituras uma vez por semana, mas a comunidade de Beréia a vivia todos os dias
e buscava nas Escrituras a orientação necessária para viver a vontade de Deus
diariamente.
Beréia era uma comunidade
missionária, sendo assim era:
-Ortoprática: A comunidade de Beréia não
somente era ortodoxa (conhecia sua tradição), era, também, ortoprática, ou seja, todos viviam de acordo com o que
criam. Havia uma coerência e uma conseqüência entre fé e prática (cf. vv. 12 e
14-15).
-Organizada: Expressões como “promoveram
sem detença…” e “os responsáveis por Paulo levaram-no…” mostram como os
bereianos eram articulados, habilidosos, eficientes e ágeis na ação
missionária. Se tivessem uma estrutura excessivamente pesada, dependendo de
complicados conchavos políticos e intrincadas votações em onerosas assembléias,
talvez a missão de Paulo e Silas tivesse sido abortada no capítulo 17 do livro
de Atos.
-Solidária: Diante da perseguição
promovida pelos intolerantes tessalonicenses, os bereianos não se eximiram de
suas responsabilidades, não lavaram simplesmente as mãos, antes, arregaçaram as
mangas para proteger, financiar e promover Paulo, Silas e Timóteo. Assim
fazendo, promoviam, em última instância, a própria ação missionária da Igreja.
Afinal, que tipo de Igreja queremos ser? Qual a mais legítima
identidade de "SER IGREJA?"
Quando
simplesmente copiamos estranhos modelos, perdemos nossa identidade, mas se
revitalizarmos através da autêntica tradição e à luz da Palavra de Deus, teremos
orgulho de sermos o que somos.A conversão, verdadeiramente impressionante para
nossos dias, seria a de nossas comunidades serem menos Tessalônica e mais Beréia:
Uma verdadeira e nobre comunidade hermenêutica: aberta, madura e missionária.A
igreja primitiva é o modelo mais excelente para todas as outras, em todos os
tempos, em todos os lugares. Esta igreja tornou-se uma referência de igreja
fiel, digna de ser imitada. Ao vermos em nossos dias as mais variadas formas de
ser igreja, com as mais diversas liturgias, diferenças doutrinárias e
denominações, nos perguntamos: “Qual é a igreja que queremos ser”?Ao olharmos
para a igreja no livro de Atos 2, encontraremos as marcas de uma igreja
verdadeira. Alguém já disse: “Só conseguiremos enxergar o futuro com os olhos
do passado”.
Queremos
ser uma igreja comprometida com a verdade (At 2,42):
A igreja que nasceu como fruto do
derramamento do Espírito e da exposição ungida das Escrituras perseverava na
doutrina dos apóstolos. Não há igreja verdadeira sem a doutrina apostólica.
Onde as verdades das Escrituras são negadas ou distorcidas, pode haver sociedades
religiosas, mas não igreja de Cristo! A igreja não pode estar à mercê de
doutrinas e ACHOLOGIAS pessoais de grupos e de homens, mas fundamentada na eterna
e infalível Palavra de Deus, na tradição e magistério Sagrado.A igreja não pode
andar às escuras. Ela sabe com segurança para onde vai. Ela anda na luz da
verdade. A Igreja atual precisa urgentemente voltar para as Escrituras.
Infelizmente o que está crescendo espantosamente, não é o Evangelho, mas outro
evangelho, um evangelho mistificado, sincrético, antropocêntrico, que busca
agradar os homens, em vez de glorificar a Deus.
Queremos
ser uma igreja marcada pela profunda união entre os irmãos (At 2,42):
Uma igreja jamais poderá atrair
pessoas se não houver comunhão entre os seus membros. O amor é a evidência do
verdadeiro discípulo de Jesus (Jo 13,35). Nesta igreja todos os membros da
igreja estavam juntos e tinham tudo em comum. Nesta igreja a prioridade eram
pessoas, hoje invertemos, a prioridade é quanto está entrando no caixa da
igreja, ou quantos adeream a nossa forma de pensar.Essa igreja acolhia com
muito amor todos os que chegavam e, ao mesmo tempo, era simpática com os de
fora (At 2,47). A igreja apostólica era uma comunidade terapêutica. Atualmente, muitas
vidas em vez de serem curadas, saem mais doentes de quando entraram na igreja. Numa
sociedade ferida e quebrada pelo pecado, a igreja de Cristo é lugar de refúgio
e restauração para aqueles que se arrependem e crêem no Senhor Jesus, e querem
fazer o caminho de volta como o filho pródigo.
Queremos
ser uma igreja séria, testemunhal, de boa reputação e com credibilidade aos olhos da sociedade (At 2,47):
A igreja de Jerusalém desfrutava de uma boa reputação na cidade. Os cristãos
davam testemunho irrepreensível. Eles eram uma referência para os não Cristãos.
Podemos dizer o mesmo dos cristãos dos dias atuais? Há muitos comércios e
ideologia humanas. Alguém já disse: “Cuide de sua vida, pois ela pode ser a
única Bíblia que alguém irá ler”. Temos dado bom testemunho? Temos sido sal e
luz do mundo?Hoje infelizmente a igreja é mais conhecida por seus escândalos,
do que a firmeza e integridade de sua missão, tanto por parte de suas
lideranças, como de seus membro.A igreja é grande, mas não causa impacto. Ela
tem extensão, mas não tem profundidade. Tem até membros ilustres e de peso, mas
não há santidade. Tem um orçamento exemplar, e uma militância até fanática, mas
não há nela a atuação do Espírito. A igreja via de regra tem crescido para os
lados, mas não para cima nem em profundidade. Tem quantidade, mas não há
qualidade.
Queremos
ser uma igreja que tem “fome” de Deus (At 2,42), mas que sua fome e sua sede,
não sejam saciadas em cisternas rachadas e alimentos meramente perecíveis!
A igreja de Jerusalém não apenas
acreditava ou fazia tratados sobre oração; ela rezava! Não apenas tinha ensinos profundos sobre
oração; ela simplesmente rezava! As reuniões de oração em muitas igrejas estão
morrendo. A igreja contemporânea desaprendeu a rezar. Temos grandes livros
sobre oração, mas não oramos. Pregamos sobre a oração, mas não oramos. O povo
de Deus anda muito ocupado para ocupar-se com Deus. Hoje temos gigantes na
erudição e pigmeus na vida de oração. E homens mortos para a oração tiram de si
pregações mortas, e pregações mortas matam”.Hoje temos fome, mas não de Deus.
Temos fome de sucesso, fama, dinheiro, etc. Como esperar outro Pentecoste se
nem ainda fomos despertados para unidos rezar ansiando por ele? Primeiro, vem a
igreja toda, unânime, perseverando unidos em oração, para só depois vir o Pentecoste.
A
igreja em Atos era uma igreja que crescia diariamente (At 2,47)
Enquanto a igreja crescia em graça e santidade, Deus a fazia crescer em número.
Qualidade gera quantidade. Quando a igreja planta e rega, Deus dá o crescimento
(1 Co 3,6). Quando a igreja vive o que prega e testemunha no poder do Espírito,
Deus a faz crescer. A igreja apostólica crescia em 3 dimensões:
A) Crescimento para cima – A igreja cresce para cima em adoração. O
fim principal do homem é glorificar a Deus. Deus, e não o homem, é o centro da
missão da igreja. Adorar a Deus não é apenas um momento do culto coletivo,
quando entoamos hinos e ouvimos a Palavra. Toda a nossa vida deve ser uma vida
de adoração! Não podemos separar a vida particular da adoração comunitária.
B) Crescimento para dentro – A igreja cresce para dentro em
comunhão. Onde não há comunhão fraternal, não há adoração verdadeira a Deus.
Onde não há perdão, o inimigo prevalece! Não podemos amar a Deus e odiarmos os
irmãos ao mesmo tempo. Deus derrama-se em graças e a vida plena onde os irmãos
vivem em união (Sl 133).
C) Crescimento para fora – A igreja cresce para fora por meio da
evangelização. Uma igreja saudável não vive para si mesma. Ela não é
narcisista. A igreja deve buscar os perdidos, aqueles que estão sentados nas
trevas e sombra da morte. Sua missão é anunciar o evangelho a toda criatura e fazer
discípulos de todas as nações! A evangelização deve arder em nosso coração. A
evangelização deve ser um estilo de vida de todo o cristão. Quão triste é saber
que muitos cristãos não conseguem ganhar uma alma durante o ano inteiro. Isso
deveria ser um motivo de nos envergonhar, lamentar e chorar, e não para
ficarmos indiferentes e colocando a culpa nos outro.
“Uma
igreja e uma comunidade que já não mais evangeliza precisa ser evangelizada!”
QUAL O MAIOR DESAFIO DA IGREJA HOJE ?
“Certamente, a Igreja já fez, está fazendo muito no campo social, e precisará fazer mais ainda. Mas, é preciso que fique claro: não é essa a missão originária, "própria” da Igreja, como repete expressamente o Vaticano II (cf. GS 42,2; e ainda 40,2-3 e 45,1). A missão social é, antes, uma missão segunda, embora derivada, necessariamente, da primeira, que é de natureza "religiosa”. Essa lição nunca foi bem compreendida pelo pensamento laico. Foram os Iluministas que queriam reduzir a missão da Igreja à mera função social. Daí terem cometido o crime, inclusive cultural, de destruírem celebres mosteiros e proibido a existência de ordens religiosas, por acharem tudo isso coisa completamente inútil, mentalidade essa ainda forte na sociedade e até mesmo dentro da Igreja. Agora, se perguntamos: Qual é o maior desafio da Igreja?, Devemos responder: É o maior desafio do homem: o sentido de sua vida. Essa é uma questão que transcende tanto as sociedades como os tempos. É uma questão eterna, que, porém, hoje, nos pós-moderno, tornou-se, particularmente angustiante e generalizada. É, em primeiríssimo lugar, a essa questão, profundamente existencial e hoje caracterizadamente cultural, que a Igreja precisa responder, como, aliás, todas as religiões, pois são elas, a partir de sua essência, as "especialistas do sentido”. Quem não viu a gravidade desse desafio, ao mesmo tempo existencial e histórico, e insiste em ver na questão social "a grande questão”, está "desantenado” não só da teologia, mas também da história.”- ( Frei Clodovis M. Boff).
(1) Bernardo de Chartres, coment. João de Salisbury,
Metalogicon, III, 4 (Corpus Chr. Cont. Med., 98, p.116).
(2) A este âmbito da influência de Agostinho é
dedicado o livro de H. de Lubac, Augustinisme et théologie moderne, Paris,
Aubier 1965.
(3)
Cf. J.N.D. Kelly, Early Christian Doctrines, London 1968 chap. XV.
(4) Agostinho, Contra Epist. Parmeniani II,15,34;
cf. todo o Sermo 266.
(5) Agostinho, In Ioh. Evang. 45,12: “Quam
multae oves foris, quam multi lupi intus!”.
(6) Agostinho, Discursos, 71, 12, 18 (PL 38,454).
(7) Agostinho, Sermo 267, 4 (PL 38, 1231).
(8) Agostinho, Sermo 272 (PL 38, 1247 em diante).
(9) Ibidem.
(10) Cf. documento conjunto católico-luterano “Do
conflito à comunhão”, http://www.vatican.va/roman_curia/pontifical_councils/chrstuni/lutheran-fed-docs/rc_pc_chrstuni_doc_2013_dal-conflitto-alla-comunione_it.html (em
italiano).
(11) Agostinho, De Baptismo, VII, 39, 77.
(12) Agostinho, Tratados sobre João, 32,8.
(13) Cf. Agostinho, Discursos, 269, 1.2 (PL 38,
1235 s.).
(14) Agostinho, Sermo 267, 4 (PL 38, 1231).
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Quando simplesmente copiamos estranhos modelos, perdemos nossa identidade, mas se revitalizarmos através da autêntica tradição e à luz da Palavra de Deus, teremos orgulho de sermos o que somos.A conversão, verdadeiramente impressionante para nossos dias, seria a de nossas comunidades serem menos Tessalônica e mais Beréia: Uma verdadeira e nobre comunidade hermenêutica: aberta, madura e missionária.A igreja primitiva é o modelo mais excelente para todas as outras, em todos os tempos, em todos os lugares. Esta igreja tornou-se uma referência de igreja fiel, digna de ser imitada. Ao vermos em nossos dias as mais variadas formas de ser igreja, com as mais diversas liturgias, diferenças doutrinárias e denominações, nos perguntamos: “Qual é a igreja que queremos ser”?Ao olharmos para a igreja no livro de Atos 2, encontraremos as marcas de uma igreja verdadeira. Alguém já disse: “Só conseguiremos enxergar o futuro com os olhos do passado”.
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