Comunhão e Libertação (CL) é um movimento
católico eclesial, cujo objetivo é a madura educação cristã dos seus membros e
a colaboração à missão da Igreja em todos os âmbitos da sociedade
contemporânea. Nasceu na Itália, em 1954, quando padre Luigi Giussani deu
início, no Colégio Estadual Liceu Berchet de Milão, a uma iniciativa de
presença cristã chamada Juventude Estudantil (Gioventù Studentesca - GS). O
nome atual, Comunhão e Libertação, apareceu pela primeira vez em 1969. Ela
sintetiza a convicção que o acontecimento cristão, vivido em comunhão, é a base
da verdadeira libertação do homem. Atualmente Comunhão e Libertação está
presente em cerca de setenta países em todos os continentes e tem acerca de 100.000
membros. Não existe nenhum tipo de inscrição, mas somente a livre participação
das pessoas. O instrumento fundamental de formação dos membros do Movimento é a
catequese semanal denominada «Escola de Comunidade» junto a alguns gestos
fundamentais do caminho. Actualmente o presidente da Fraternidade de Comunhão e
Libertação é o padre espanhol Julián Carrón. A revista oficial do movimento é a
publicação mensal «Passos - Litterae Communionis».
Bergoglio e Giussani, as sintonias
profundas
Por Massimo Borghesi
Papa Francesco e o
fundador do movimento Comunhão e Libertação nunca se conheceram. No entanto, no
plano ideal, existiu uma unidade. Do homem “religioso” ao “encontro” cristão,
eis o que os une.
O cardeal Jorge Mario Bergoglio jamais encontrou diretamente Monsenhor Luigi Giussani e, mesmo assim, é inegável que, no plano ideal, tenha havido entre eles um encontro. Em quatro ocasiões, Bergoglio apresentou, em Buenos Aires, livros de Giussani publicados em edição espanhola. Em 1999 El sentido religioso, em 2001 El atractivo Jesucristo, em 2005 Por qué la Iglesia, em 2008 Se puede vivir así. Como confessará, em 2001, duas razões o levavam a uma consonância com Giussani:
“A primeira, mais pessoal, é o bem que nos últimos dez anos esse
homem fez a mim, à minha vida de sacerdote, através da leitura dos seus livros
e dos seus artigos. A segunda razão é que estou convencido de que o seu
pensamento é profundamente humano e chega ao mais íntimo do anseio humano.
Ousaria dizer que se trata da fenomenologia mais profunda e, ao mesmo tempo,
mais compreensível da saudade como fato transcendental”.
Nesse ponto, Bergoglio se referia à visão antropológica enucleada em "O senso religioso", texto de Giussani apresentado por ele em 1999. “Há muitos anos – afirmara naquela ocasião – os escritos de Monsenhor Giussani inspiraram a minha reflexão... O senso religioso não é um livro para uso exclusivo daqueles que fazem parte do Movimento; nem mesmo só para os cristãos ou para os que creem. É um livro para todos os homens que levam a sério a própria humanidade.
"Ouso dizer que hoje a questão que devemos sobretudo enfrentar não é tanto o problema de Deus, a existência de Deus, o conhecimento de Deus, mas o problema do homem, o conhecimento do homem e encontrar no próprio homem a marca que Deus nele deixou para se encontrar com ele".
Para um homem que tenha esquecido ou censurado os seus ‘porquês’ fundamentais e o anseio do seu coração, o fato de lhe falarem de Deus se torna um discurso abstrato, exotérico ou um estímulo a uma devoção sem nenhuma incidência na vida. Não se pode iniciar uma conversa sobre Deus, se antes não forem sopradas pra longe as cinzas que sufocam a brasa ardente dos ‘porquês’ fundamentais. O primeiro passo é criar o senso dessas perguntas que estão escondidas, soterradas, talvez doentes, mas que existem”. Aqui a leitura de Bergoglio coincide, literalmente, com o que escreve Giussani:
"O fator religioso representa a natureza do nosso eu enquanto se
exprime em certas perguntas: qual é o significado último da existência? Por
que existem a dor, a morte? Por que, no fundo, vale a pena viver?"
Para o então ainda cardeal de Buenos Aires, proveniente da escola jesuíta, essa saudade transcendental lhe recordava, indubitavelmente, a antropologia transcendental desenvolvida por Karl Rahner.
As
assonâncias, entre Giussani e Rahner, não tiravam, entretanto, as diferenças.
Giussani tinha desenvolvido e articulado a sua noção de “senso religioso”, em 1958,
seguindo a peculiar abordagem tomista dada pelo cardeal de Milão, Giovanni
Battista Montini, em sua Carta pastoral de 1957 Sobre o senso religioso.
Nesta Carta era indicada com precisão a dimensão religiosa como vis appetitiva, como exigência de verdade, não critério de verdade. Desse modo, evitava-se o risco anterior que está por trás da abordagem rahneriana, fortemente dependente do transcendentalismo kantiano. Isto explica o relevo que assume em Giussani a categoria de encontro. O encontro é a modalidade com a qual o Mistério alcança sensivelmente o homem, toca-o no espaço e no tempo com sinais que o provocam a uma resposta.
"O
encontro é a modalidade concreta mediante a qual o senso religioso passa da
potência ao ato, de latente que era torna-se manifesto".
A abordagem transcendental, a exigência inata de Deus inscrita a priori na nossa natureza, não elimina, de tal modo, a novidade do a posteriori, a modalidade imprevisível com a qual o agir de Deus, a graça, se manifesta. Por isso, Bergoglio, sempre comentando a noção giussaniana de senso religioso, escreve:
“Por outro
lado, para interrogar-se diante dos sinais, é necessária uma capacidade
extremamente humana, a primeira que temos como homens e mulheres: o
maravilhamento, a capacidade de maravilhar-se, como a denomina Giussani, em
última instância um coração de criança. Só o maravilhamento conhece. O
ópio cultural tende a anular, enfraquecer ou matar essa capacidade de
maravilhamento. O princípio de qualquer filosofia é o maravilhamento. Há uma
frase de papa Luciano que diz que o drama do cristianismo contemporâneo reside
no fato de colocar categorias e normas no lugar do maravilhamento. O
maravilhamento vem antes de todas as categorias, é o que me leva a procurar, a
me abrir; é o que me torna possível a resposta, que não é nem uma resposta
verbal, nem conceitual. Porque se o maravilhamento me abre como pergunta, a
única resposta é o encontro: e somente no encontro se aplaca a sede”.
A antropologia religiosa, de um lado, e o encontro como modalidade com que a fé acontece, de outro, são os dois polos que, tanto para Giussani quanto para Bergoglio, indicam o ponto da questão cristã hoje. O cristianismo não se manifesta como um conjunto de preceitos ou de valores.
“No
início do ser cristão – escreve Francisco na Evangelii gaudium citando Bento
XVI – não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um
acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o
rumo decisivo”. (EG, &7).
Analogamente, na apresentação do texto de Giussani El atractivo Jesucristo, afirmará: “Tudo em nossa vida, hoje como no tempo de Jesus, começa com um encontro. O encontro com esse homem, o carpinteiro de Nazaré, um homem como todos e, ao mesmo tempo, diferente. Os primeiros – João, André, Simão – se descobrem olhados em profundidade, lidos em seu íntimo, e neles gerou-se uma surpresa, um maravilhamento que, imediatamente, os fazia se sentirem ligados a Ele, que os fazia se sentirem diferentes. [...] Não se pode entender essa dinâmica do encontro que suscita o maravilhamento e a adesão a não ser que ela tenha sido disparada – perdoem-me a palavra – pelo gatilho da misericórdia. Só quem encontrou a misericórdia, que foi acariciado pela ternura da misericórdia, se dá bem com o Senhor. [...] o lugar privilegiado do encontro é a carícia da misericórdia de Jesus Cristo sobre o meu pecado”.
Sobre esse ponto, de total sintonia entre Bergoglio e Giussani, medem-se uma série de consequências de grande relevância:
-A primeira é que a Graça precede, vem
antes. Na apresentação do livro L’attrattiva Gesù, Bergoglio afirma que “O
encontro acontece. [...] Isso é pura graça. Pura graça. Na história, desde
quando começou até hoje, sempre a graça primerea, sempre a graça vem primeiro,
depois vem todo o resto”. Giussani, no livro, remetia a um artigo seu publicado
em “30 Dias”: Algo que vem antes (4, 1993). Em El atractivo Jesucristo “o ‘algo
que vem antes’ é o encontro com Cristo, mesmo que não seja claro, mesmo que não
seja realmente consciente. Como para André e João: era uma coisa estupenda, mas
não definível por eles. A coisa que vem antes, a graça, é o relacionamento com
Cristo: é Cristo a graça, é essa Presença, e é o seu relacionamento com ela, o
seu diálogo com ela, o seu modo de olhá-la, de pensar nela, de fixá-la” (p.
24).
-A segunda consequência é que se o encontro é a modalidade essencial com a qual a fé se comunica, ontem como hoje, então, num mundo que voltou a ser em grande escala pagão, o cristianismo deverá declinar-se na sua forma essencial e não, primariamente, nas suas consequências éticas cuja salvaguarda compete, em campo público, aos leigos cristãos empenhados no temporal.
Giussani, que já no texto metodológico Riflessioni sopra un’esperienza (1959) convidava a um chamado cristão “simples e essencial” já que “a Igreja é discretíssima ao fixar os pontos obrigatórios”, escreverá, em 1982 (Uomini senza patria), que “Até quando o cristianismo sustentar dialética e também praticamente valores cristãos, encontrará espaço e acolhimento em toda parte”. Papa Francisco, por sua vez, dirá em sua entrevista a padre Antonio Spadaro:
“Os
ensinamentos, tanto dogmáticos como morais, não são todos equivalentes. Uma
pastoral missionária não está obcecada pela transmissão desarticulada de uma
multiplicidade de doutrinas a impor insistentemente. O anúncio de caráter
missionário concentra-se no essencial, no necessário, que é também aquilo que
mais apaixona e atrai, aquilo que faz arder o coração, como aos discípulos de
Emaús. Devemos, pois, encontrar um novo equilíbrio; de outro modo, mesmo o
edifício moral da Igreja corre o risco de cair como um castelo de cartas, de
perder o frescor e o perfume do Evangelho. A proposta evangélica deve ser mais
simples, profunda, irradiante. É desta proposta que vêm depois as consequências
morais”.
O fascínio de Jesus, termo retomado na Evangelii
gaudium, §39, deve preceder a doutrina moral. E a precede enquanto procede do
encontro, não se realiza fora deste. Posição esta que impede, na origem, o
surgimento de qualquer possível fundamentalismo cristão.
-Terceira e última consequência é a similaridade dos juízos que aproxima Bergoglio a Giussani no que se refere aos riscos dos quais o cristianismo contemporâneo vai ao encontro: gnose e pelagianismo. Se o Cristianismo é um Acontecimento que se manifesta num encontro, histórico e sensível, se ele primerea em relação a cada ação ou intenção nossa, então o esvaziamento espiritualista do fato cristão, a negação do seu ser carne, assim como a pretensão moralista de poder construir por si só o mundo novo, surgem como desvios a serem corrigidos.
Como escreve Bergoglio em 2001: “Essa concepção cristãmente
autêntica da moral que Giussani apresenta não tem nada a ver com os quietismos
espiritualóides dos quais estão repletas as prateleiras dos supermercados
religiosos, hoje em dia. Nem com o pelagianismo tão em moda, em suas diversas e
sofisticadas manifestações. O pelagianismo, no fundo, é reeditar a torre de
Babel. Os quietismos espiritualóides são esforços de oração ou de
espiritualidade imanente, que nunca saem de si mesmos”.
Trata-se,
em ambos os casos, de um processo de mundanização da fé. Na Evangelii gaudium
afirma-se que:
“Este mundanismo pode alimentar-se sobretudo de duas maneiras
profundamente relacionadas. Uma delas é o fascínio do gnosticismo, uma fé
fechada no subjetivismo, onde apenas interessa uma determinada experiência ou
uma série de raciocínios e conhecimentos que supostamente confortam e iluminam,
mas, em última instância, a pessoa fica enclausurada na imanência da sua
própria razão ou dos seus sentimentos. A outra maneira é o neopelagianismo autoreferencial
e prometeico de quem, no fundo, só confia nas suas próprias forças e se sente
superior aos outros por cumprir determinadas normas ou por ser irredutivelmente
fiel a um certo estilo católico próprio do passado. É uma suposta segurança
doutrinal ou disciplinar que dá lugar a um elitismo narcisista e autoritário,
onde, em vez de evangelizar, se analisam e classificam os demais e, em vez de
facilitar o acesso à graça, consomem-se as energias a controlar. Em ambos os
casos, nem Jesus Cristo nem os outros interessam verdadeiramente. São
manifestações dum imanentismo antropocêntrico. Não é possível imaginar que,
destas formas desvirtuadas do cristianismo, possa brotar um autêntico dinamismo
evangelizador” (EG § 94).
Aí é interessante notar
como a forma do neopelagianismo presente não é mais aquela predominante nos
anos 70, própria da teologia política cristã influenciada pelo marxismo, mas uma
forma nova, de direita, típica de certo tradicionalismo católico. Afinal,
aquilo que é essencial para o encontro ideal Bergoglio-Giussani, também aqui é
a sintonia de fundo. Gnose e pelagianismo são o perigo porque o cristianismo é
um Evento real que continua na história e porque esse Evento é a fonte
(gratuita) de humanidade nova que não pode ser gerada pelo homem. Aquilo que
Giussani insistentemente sublinhou em todo o seu testemunho educativo encontra
assim em Bergoglio a sua ideal continuação.
Fonte:texto do filósofo Massimo Borghesi,
publicado no site www.terredamerica.com/
MOVIMENTO COMUNHÃO E LIBERTAÇÃO NO BRASIL
“A fé vivida em comunhão é o fundamento da
autêntica libertação do homem”, é o que defende o movimento. Monstrasi sublinha
que a comunhão é a origem da libertação, pois o homem precisa se relacionar. O
homem, desde criança, desde os primeiros segundos de vida, depende do outro,
constata. Depois, quando se torna adulto, acaba esquecendo que precisa do
outro, que o outro é sempre um bem. “Toda pessoa, pelo fato de existir, pode
contribuir para a minha humanidade, para a construção do meu ‘eu’, o ‘eu’ é o
meu íntimo, aquilo que é mais forte e potente em mim, cresce na medida em que
mais consigo me relacionar, criar vínculos e relações”, comenta. O italiano
ressalta que muitos tentam convencer o homem de que sem vínculos ele fica mais
livre, mais forte e pode crescer melhor. “É exatamente o contrário, por isso a
comunhão: ‘eu sou um nós’. Eu preciso de um lugar, preciso pertencer a algum
lugar para ser eu mesmo. Eu sozinho não consigo”, frisa. Educação Além da
comunhão, da libertação e da paz, a educação é também uma proposta do
movimento. De acordo com Montrasi, a educação é fator fundamental. “O movimento
em si é uma experiência educativa, a Igreja é um lugar de educação. (…) A educação
é uma experiência, é um fenômeno que ajuda algo que está dentro de você
aparecer, florescer”, reflete. A partir de um encontro é possível educar,
conclui Monstrasi.
DISCURSO DO PAPA FRANCISCO AO MOVIMENTO COMUNHÃO E LIBERTAÇÃO
Praça São Pedro - Sábado, 7 de Março de 2015
Prezados irmãos e irmãs, bom dia!
Dou as boas-vindas a todos vós e
agradeço-vos o vosso carinho entusiasta! Dirijo uma saudação cordial aos
Cardeais e Bispos. Saúdo o padre Julián Carrón, Presidente do vosso Movimento,
e agradeço-lhe as palavras que me dirigiu em nome de todos; e agradeço-lhe
também, padre Julián, a bonita carta que escreveu para convidar todos. Muito
obrigado!
Dirijo o meu pensamento ao vosso Fundador,
Mons. Luigi Giussani, recordando o décimo aniversário do seu nascimento para o
Céu. Estou grato ao padre Giussani por vários motivos. O primeiro, mais
pessoal, é o bem que este homem me fez, assim como à minha vida sacerdotal,
através da leitura dos seus livros e artigos. O outro motivo é que o seu
pensamento é profundamente humano e chega ao mais íntimo do anseio do homem.
Vós sabeis como a experiência do encontro era importante para o padre Giussani:
encontro não com uma ideia, mas com uma Pessoa, com Jesus Cristo. Foi assim que
ele educou para a liberdade, guiando ao encontro com Cristo, porque é Cristo
quem nos confere a liberdade autêntica. Falando sobre o encontro, vem-me ao
pensamento «A vocação de Mateus», o quadro de Caravaggio que eu admirava
prolongadamente em São Luís dos Franceses, cada vez que vinha a Roma. Nenhum
daqueles que estavam ali, nem sequer Mateus, ávido de dinheiro, conseguia crer
na mensagem do dedo que o indicava, na mensagem daqueles olhos que o fitavam
com misericórdia e o escolhiam para o seguimento. Sentia o enlevo do encontro.
É assim o encontro com Cristo que vem e nos convida.
Tudo na nossa vida, tanto hoje como na
época de Jesus, começa com um encontro. Um encontro com este Homem, o
carpinteiro de Nazaré, um homem como todos e, ao mesmo tempo, diferente.
Pensemos no Evangelho de João, onde ele descreve o primeiro encontro dos
discípulos com Jesus (cf. 1, 35-42). André, João e Simão: eles sentiram-se
fitados até no seu íntimo, profundamente conhecidos, e isto gerou neles uma
surpresa, uma admiração que, imediatamente, os levou a sentir-se ligados a
Ele... Ou quando, depois da Ressurreição, Jesus pergunta a Pedro: «Amas-me?»
(Jo 21, 15), e Pedro responde: «Sim»; aquele sim não era o resultado de uma
força de vontade, não vinha somente da decisão do homem Simão: antes ainda,
vinha da Graça, tratava-se daquele «primerear», daquele preceder da Graça. Foi
esta a descoberta decisiva para são Paulo, para santo Agostinho, e para muitos
outros santos: Jesus Cristo é sempre o primeiro, antecipa-nos, espera por nós,
Jesus Cristo precede-nos sempre; e quando nós chegamos, Ele já está ali à nossa
espera. É como a flor da amendoeira: é ela que floresce primeiro, anunciando a
primavera.
E sem a misericórdia não se pode
compreender esta dinâmica do encontro que suscita o enlevo e a adesão. Só quem
foi acariciado pela ternura da misericórdia conhece verdadeiramente o Senhor. O
lugar privilegiado do encontro é o afago da misericórdia de Jesus Cristo em
relação aos meus pecados. E por isso, às vezes, vós ouvistes-me dizer que o
lugar privilegiado do encontro com Jesus Cristo é o meu pecado. É graças a este
abraço de misericórdia que surge em nós o desejo de responder e de mudar, e que
pode nascer uma vida diferente. A moral cristã não é o esforço titânico,
voluntarista de quem decide ser coerente e é bem sucedido, uma espécie de
desafio solitário perante o mundo. Não! Esta não é a moral cristã, é outra
coisa. A moral cristã é uma resposta, é a resposta comovida a uma misericórdia
surpreendente, imprevisível e, segundo os critérios humanos, até «injusta», de
Alguém que me conhece, conhece as minhas traições e que, no entanto, me ama, me
estima, me abraça, me chama de novo, espera em mim, espera algo de mim. A moral
cristã não consiste em nunca cair, mas em levantar-se sempre, graças à sua mão
que nos resgata. E o caminho da Igreja é também este: deixar que se manifeste a
grande misericórdia de Deus. Recentemente eu disse aos novos Cardeais: «O
caminho da Igreja é não condenar eternamente ninguém; é derramar a misericórdia
de Deus sobre todas as pessoas que a pedem com um coração sincero; o caminho da
Igreja é precisamente sair do próprio recinto para ir à procura dos afastados,
nas “periferias” essenciais da existência; é seguir integralmente a lógica de
Deus», que consiste na misericórdia (Homilia, 15 de Fevereiro de 2015).
Inclusive a Igreja deve sentir o impulso jubiloso de se tornar flor de
amendoeira, ou seja, primavera como Jesus, para a humanidade inteira.
Hoje vós recordais também o sexagésimo
aniversário do vosso Movimento, «que nasceu na Igreja — como vos disse Bento
XVI— não de uma vontade organizativa da Hierarquia, mas originada por um
encontro renovado com Cristo e assim, podemos dizer, por um impulso que em
última análise derivou do Espírito Santo» (Discurso à peregrinação de Comunhão
e libertação, 24 de Março de 2007, em: Insegnamenti III, 1 [2007], 557).
Depois de sessenta anos, o carisma
originário nada perdeu do seu vigor e vitalidade. No entanto, recordai que o
cerne não é o carisma, o centro é um só, é Jesus, Jesus Cristo! Quando insiro
no âmago o meu método espiritual, o meu caminho espiritual, o meu modo de o pôr
em prática, saio do caminho. Na Igreja toda a espiritualidade, todos os
carismas devem ser «descentralizados»: no cerne só está o Senhor! Por isso,
quando Paulo na primeira Carta aos Coríntios fala dos carismas, desta realidade
tão bonita da Igreja, do Corpo Místico, acaba por falar do amor, ou seja,
daquilo que provém de Deus, do que é próprio de Deus, e que nos permite
imitá-lo. Nunca vos esqueçais disto, viver descentrados!
Além disso, o carisma não se conserva numa
garrafa de água destilada! Fidelidade ao carisma não quer dizer «petrificá-lo»
— é o diabo que «petrifica», não vos esqueçais disto! Fidelidade ao carisma não
significa escrevê-lo num pergaminho e colocá-lo numa moldura. A referência à
herança que o padre Giussani vos deixou não pode reduzir-se a um museu de
lembranças, de decisões tomadas, de normas de conduta. Sem dúvida, exige
fidelidade à tradição, mas fidelidade à tradição — dizia Mahler — «significa
manter aceso o fogo e não adorar as cinzas». O padre Giussani nunca vos
perdoaria se perdêsseis a liberdade e se vos transformásseis em guias de museu
ou em adoradores de cinzas. Mantende aceso o fogo da memória daquele primeiro
encontro e sede livres!
Assim, centrados em Cristo e no Evangelho,
vós podeis ser braços, mãos, pés, mente e coração de uma Igreja «em saída». O
caminho da Igreja consiste em sair, para ir à procura dos distantes nas
periferias, para servir Jesus em cada pessoa marginalizada, abandonada e sem
fé, decepcionada com a Igreja, prisioneira do seu próprio egoísmo.
«Sair»
quer dizer também rejeitar a auto-referencialidade, em todas as suas formas,
significa saber ouvir quantos não são como nós, aprendendo de todos, com
humildade sincera. Quando somos escravos da auto-referencialidade acabamos por
cultivar uma «espiritualidade de etiqueta»: «Eu sou CL».
Esta é a etiqueta. Além disso, caímos nas armadilhas
que nos são proporcionadas pela autocomplacência, quando nos admiramos ao
espelho e isto nos leva a desnortear-nos, a transformar-nos em meros
empresários de uma ONG.
Caros amigos, gostaria de concluir com duas
citações muito significativas do padre Giussani, uma dos inícios e a outra do
fim da sua vida.
A primeira: «O cristianismo nunca
se realiza na história como fixidez de posições para defender, que se referem
ao novo como pura antítese; o cristianismo é princípio de redenção, que assume
o novo, salvando-o» (Porta la
speranza. Primi scritti, Genova 1967, 119). Esta remonta mais ou menos a 1967.
A segunda, de 2004: «Não só nunca quis
“fundar” nada, mas julgo que o génio do movimento que vi nascer consiste em ter
sentido a urgência de proclamar a necessidade de voltar aos aspectos
elementares do cristianismo, ou seja, a paixão pela verdade cristã como tal nos
seus elementos originais; só isto!» (Carta a João Paulo II por ocasião do
cinquentenário de Comunhão e libertação, 26 de Janeiro de 2004).
Que o Senhor vos abençoe e Nossa Senhora
vos proteja. Por favor, não vos esqueçais de rezar por mim. Obrigado!
DISCURSO DO PAPA FRANCISCO AOS MEMBROS DO MOVIMENTO COMUNHÃO E LIBERTAÇÃO
Praça São Pedro - Sábado, 15 de outubro de 2022
Estimados irmãos e irmãs, bom dia e
bem-vindos!
Viestes em grande número, da Itália e de
vários países. O vosso movimento não perde a sua capacidade de reunir e
mobilizar. Obrigado por terdes desejado manifestar a vossa comunhão com a Sé
Apostólica e o vosso afeto pelo Papa. Agradeço ao Presidente da Fraternidade,
prof. Davide Prosperi, assim como a Hassina e Rose, que compartilharam as suas
experiências. Saúdo o Cardeal Prefeito, o Cardeal Farrell, bem como os Cardeais
e Bispos presentes.
Estamos reunidos para comemorar o
centenário do nascimento de mons. Luigi Giussani. E fazemo-lo com gratidão na
alma, como ouvimos de Rose e Hassina. Expresso a minha gratidão pessoal pelo
bem que me fez, como sacerdote, meditar alguns livros do padre Giussani — como
jovem presbítero — e faço-o também como Pastor universal, por tudo o que ele
soube semear e irradiar em toda a parte, para o bem da Igreja. E como poderiam
deixar de o recordar com gratidão comovida quantos foram seus amigos, filhos e
discípulos? Graças à sua paternidade sacerdotal apaixonada na comunicação de
Cristo, eles cresceram na fé como dom que confere sentido, amplitude humana e
esperança à vida. O padre Giussani foi pai e mestre, foi servo de todas as
inquietações e situações humanas que encontrava na sua paixão educativa e
missionária. A Igreja reconhece a sua genialidade pedagógica e teológica,
desenvolvida a partir de um carisma que lhe foi conferido pelo Espírito Santo,
para a “utilidade comum”. Não é uma mera nostalgia que nos leva a celebrar este
centenário, mas é a grata memória da sua presença: não apenas nas nossas
biografias e no nosso coração, mas na comunhão dos santos, de onde intercede
por todos os seus.
Bem sei, caros amigos, irmãos e irmãs, que
os períodos de transição não são nada fáceis, quando o pai fundador já não está
fisicamente presente. Experimentaram-no muitas fundações católicas ao longo da
história. É necessário agradecer ao padre Julian Carrón pelo seu serviço na
orientação do movimento durante este período e por ter mantido firme o leme de
comunhão com o pontificado. No entanto, não faltaram problemas graves, divisões
e certamente também um empobrecimento na presença de um movimento eclesial tão
importante como Comunhão e Libertação, do qual a Igreja, e eu mesmo, esperamos
mais, muito mais. Os tempos de crise são tempos de recapitulação da vossa
extraordinária história de caridade, cultura e missão; são tempos de
discernimento crítico do que limitou a potencialidade fecunda do carisma do
padre Giussani; são tempos de renovação e relançamento missionário, à luz do
atual momento eclesial, bem como das necessidades, sofrimentos e esperanças da
humanidade contemporânea. A crise faz crescer. Não deve ser reduzida ao
conflito, que anula. A crise faz crescer!
Certamente o padre Giussani reza pela
unidade em todas as articulações do vosso movimento, é claro! Bem sabeis que
unidade não significa uniformidade. Não tenhais medo das diferentes
sensibilidades e do confronto no caminho do movimento. Não pode ser de outra
forma, num movimento em que todos os membros são chamados a viver pessoalmente
e a partilhar de modo corresponsável o carisma recebido. Todos o vivem
originalmente e também em comunidade. Isto é importante: que a unidade seja
mais vigorosa do que as forças dispersivas ou o perdurar de antigas oposições.
Unidade com quem e com quantos lideram o movimento, unidade com os Pastores,
unidade no seguimento atento das indicações do Dicastério para os Leigos, a
Família e a Vida, e unidade com o Papa, que é o servo da comunhão na verdade e
na caridade.
Não desperdiceis o vosso tempo precioso em tagarelices, desconfianças e oposições. Por favor! Não desperdiceis o tempo!Agora gostaria de recordar alguns aspetos da rica personalidade do padre Giussani: o seu carisma, a sua vocação de educador , o seu amor pela Igreja .
1. O padre Giussani, homem carismático. Foi certamente um homem de grande carisma pessoal, capaz de atrair milhares de jovens e de tocar o seu coração. Podemos perguntar-nos: de onde vinha o seu carisma? Provinha de algo que experimentara pessoalmente: quando era jovem, com apenas quinze anos, fora fulgurado pela descoberta do mistério de Cristo. Intuíra — não apenas com a mente mas com o coração — que Cristo é o centro unificador de toda a realidade, é a resposta a todas as interrogações humanas, é a realização de todos os desejos de felicidade, bem, amor e eternidade presentes no coração humano. A maravilha e o fascínio deste primeiro encontro com Cristo nunca o abandonaram. Como o então Cardeal Ratzinger disse nas suas exéquias: «O padre Giussani manteve sempre o olhar da sua vida e do seu coração fixo em Cristo. Deste modo compreendeu que o Cristianismo não é um sistema intelectual, um pacote de dogmas, um moralismo, mas que o Cristianismo é um encontro, uma história de amor, um acontecimento». Aqui está a raiz do seu carisma. O padre Giussani atraía, convencia e convertia os corações, porque transmitia aos outros o que trazia dentro de si depois da sua experiência fundamental: a paixão pelo homem e a paixão por Cristo como cumprimento do homem. Muitos jovens começaram a segui-lo porque os jovens têm um grande instinto. O que dizia vinha da sua vivência e do seu coração, por isso inspirava confiança, simpatia e interesse.O Presidente disse que vos empenhais a fim de que o carisma conferido ao padre Giussani para o bem de toda a Igreja dê sempre novos frutos. Esta é a sábia custódia do dom que vos foi transmitido, uma custódia que não só conserva o passado mas que, vivificada pelo Espírito Santo, sabe reconhecer e receber os novos rebentos desta árvore que é o vosso movimento, que vive no bom solo da comunhão eclesial.A este respeito, perguntar-vos-eis: como podemos responder às exigências de mudança do tempo presente, preservando o carisma? Antes de mais, é importante lembrar que não é o carisma que deve mudar: ele deve ser sempre acolhido de novo e feito frutificar no mundo de hoje. Os carismas crescem na medida em que crescem as verdades do dogma, da moral: crescem em plenitude. São as formas de o viver que podem constituir um obstáculo ou até uma traição da finalidade para a qual o carisma foi suscitado pelo Espírito Santo. Reconhecer e corrigir modalidades equívocas, quando é necessário, só é possível com uma atitude humilde e sob a sábia orientação da Igreja. E resumiria esta atitude de humildade com dois verbos: recordar, ou seja, restituir ao coração, recordar o encontro com o Mistério que nos conduziu até aqui; e gerar, olhando em frente com confiança, ouvindo os gemidos que o Espírito expressa novamente hoje. «O homem humilde, a mulher humilde tem a peito também o futuro, não apenas o passado, pois sabe olhar para a frente, sabe olhar para os rebentos, com a memória cheia de gratidão. O humilde gera, o humilde convida e impele para aquilo que não se conhece. Ao contrário, o soberbo repete, torna-se rígido [...] recua e fecha-se na sua repetição, sente-se seguro do que sabe e teme, receia sempre o novo porque não o pode controlar, sente-se desestabilizado por isto... porquê? Porque perdeu a memória»(Discurso ao Colégio Cardinalício e à Cúria Romana, 23 de dezembro de 2021). É preciso guardar a memória do fundador!Caríssimos, valorizai o precioso dom do vosso carisma e a Fraternidade que o conserva, porque ele ainda pode fazer “florescer” muitas vidas, como nos testemunharam Hassina e Rose. A potencialidade do vosso carisma ainda deve ser em grande parte descoberta; por isso, convido-vos a evitar qualquer fechamento em vós mesmos, o medo — o medo nunca vos conduzirá a um bom porto — e o cansaço espiritual, que vos leva à preguiça espiritual. Encorajo-vos a encontrar as formas e linguagens adequadas para que o carisma que o padre Giussani vos transmitiu chegue a novas pessoas e ambientes, a fim de que saiba falar ao mundo de hoje, que mudou em relação ao início do vosso movimento. Há tantos homens e mulheres que ainda não tiveram aquele encontro com o Senhor que mudou e tornou bela a vossa vida!
2. Segundo aspeto: o padre Giussani, educador. Desde os primeiros anos do seu ministério sacerdotal, confrontando-se com a confusão e ignorância religiosa de muitos jovens, o padre Giussani sentiu a urgência de lhes comunicar o encontro com a pessoa de Jesus que ele mesmo experimentara. O padre Luigi tinha uma capacidade única de desencadear a busca sincera do sentido da vida no coração dos jovens, de despertar o seu desejo de verdade. Como verdadeiro apóstolo, quando via brotar esta sede nos jovens, não tinha medo de lhes apresentar a fé cristã. Mas sem nunca impor nada. A sua abordagem gerou muitas personalidades livres, que aderiram ao Cristianismo com convicção e paixão; não por hábito, nem por conformismo, mas de modo pessoal e criativo. O padre Giussani tinha uma grande sensibilidade no respeito pela índole de cada um, pelo respeito da sua história, do seu temperamento, dos seus dons. Não queria pessoas todas iguais, e também não queria que todos o imitassem, mas que cada um fosse original, como Deus o fez. Com efeito, na medida em que cresciam, aqueles jovens tornavam-se, cada qual segundo a sua própria inclinação, presenças significativas em diferentes campos, tanto no jornalismo como na escola, na economia, em obras de caridade e de promoção social.Amigos, este é um grande legado espiritual que o padre Giussani vos deixou. Exorto-vos a alimentar em vós a sua paixão educativa, o seu amor pelos jovens, o seu amor pela liberdade e responsabilidade pessoal de cada um perante o próprio destino, o seu respeito pela singularidade irrepetível de cada homem e mulher.
3. E terceiro: Giussani filho da Igreja. O
padre Giussani era um sacerdote que amava muito a Igreja. Até em tempos de
confusão e de forte contestação das instituições, manteve sempre firmemente a
sua fidelidade à Igreja, pela qual nutria grande afeto — amor! — quase uma
ternura, e ao mesmo tempo uma grande reverência, pois acreditava que é a
continuação de Cristo na história. Dizia: «Encontraste esta companhia: ela é a
modalidade com que o mistério de Jesus [...] bateu à tua porta» (L. Giussani,
Dal temperamento un metodo. I libri dello spirito cristiano: quasi Tischreden,
6, Milão 2002, p. 7). Usava esta bonita expressão: a “companhia”. Para ele, os
grupos do movimento eram uma “companhia” de pessoas que tinham encontrado
Cristo. E, em última análise, a própria Igreja é a “companhia” dos batizados,
que mantém tudo unido, da qual tudo haure vida e que nos preserva no caminho
reto.
O padre Giussani ensinou a ter respeito e
amor filial pela Igreja e, com grande equilíbrio, soube manter sempre unidos o
carisma e a autoridade, que são complementares, ambos necessários. Nos vossos
encontros cantais frequentemente “A estrada”. Giussani, usando precisamente a
metáfora da estrada, dizia: «A autoridade assegura o caminho reto, o carisma
torna bela a estrada» (Id., Un avvenimento nella vita dell’uomo, Milão 2020, p.
249). Sem autoridade corre-se o risco de sair da estrada, de ir numa direção
errada. Mas sem o carisma o caminho corre o risco de se tornar tedioso, não já
atraente para as pessoas daquele particular momento histórico.
Inclusive entre vós, alguns têm uma tarefa
de autoridade e governo, para servir todos os outros e indicar o caminho certo.
Concretamente, isto consiste em orientar e representar o movimento, fomentar o
seu desenvolvimento, realizar projetos apostólicos específicos, garantir a
fidelidade ao carisma, tutelar os membros do movimento, promover o seu caminho
cristão e a sua formação humana e espiritual. Mas além do serviço da
autoridade, é essencial que, em todos os membros da Fraternidade, permaneça
vivo o carisma, para que a vida cristã conserve sempre o fascínio do primeiro encontro.
Nunca vos esqueçais daquela primeira Galileia da chamada, daquela primeira
Galileia do encontro. Voltai sempre lá, àquela primeira Galileia que cada um de
nós viveu. Isto dar-nos-á a força para ser sempre obedientes na Igreja. É isto
que “torna bela a estrada”. Assim, os movimentos eclesiais contribuem, com os
seus carismas, para mostrar o caráter atraente e novo do Cristianismo; e
compete à autoridade da Igreja indicar com sabedoria e prudência o caminho que
os movimentos devem seguir, para permanecer fiéis a si mesmos e à missão que
Deus lhes confiou. Segundo as palavras do padre Giussani, podemos afirmar que
«este intercâmbio contínuo entre instituição e carisma é uma exigência
irrenunciável da encarnação. Esta relação entre graça e liberdade não pode de
modo algum ser pensada como alternativa dialética, como se a instituição não
fosse o carisma e o carisma não precisasse da instituição. O carisma deve ser
institucionalizado. E a instituição deve manter a dimensão carismática. No
final, eles são a única realidade da Igreja. Seria porventura possível pensar
no organismo humano sem o esqueleto que o sustém? Assim, é impensável que a
Igreja viva sem instituição» (Id., Suplemento a Litterae Communionis-LC, n.
11/1985).
Bem
sabeis que a descoberta de um carisma passa sempre por um encontro com pessoas
concretas. Estas pessoas são testemunhas que nos permitem abordar uma realidade
maior, que é a comunidade cristã, a Igreja. É na Igreja que o encontro com
Cristo permanece vivo. A Igreja é o lugar onde todos os carismas são
preservados, cultivados e aprofundados. Pensemos, nos Atos dos Apóstolos, no
episódio de Filipe e do eunuco, funcionário da rainha da Etiópia. Filipe foi
determinante para a sua conversão, foi o mediador do encontro com Cristo para
aquele homem em busca da verdade. Pois bem, como termina este episódio? Filipe
batiza o eunuco e lê-se no texto: «Quando saíram da água, o Espírito do Senhor
arrebatou Filipe ao olhar do eunuco» (At 8, 39). “Arrebatou ao olhar”! Depois
de o ter conduzido a Cristo, Filipe desaparece da vida do eunuco! Mas a alegria
do encontro com Cristo permanece — a alegria do encontro permanece sempre! — e
com efeito a narração acrescenta: «E, cheio de alegria, seguiu o seu caminho».
Somos todos chamados a isto: ser mediadores para os outros do encontro com
Cristo, e depois deixá-los seguir o seu caminho, sem os vincular a nós.
E, para concluir, gostaria de vos pedir uma
ajuda concreta para hoje, para este tempo. Convido-vos a acompanhar-me na
profecia pela paz — Cristo, Senhor da paz! O mundo, cada vez mais violento e
guerreiro, assusta-me! Digo-o verdadeiramente: assusta-me! Na profecia que
indica a presença de Deus nos pobres, em quantos estão abandonados e são
vulneráveis, condenados ou marginalizados na construção social; na profecia que
anuncia a presença de Deus em cada nação e cultura, indo ao encontro das
aspirações de amor e verdade, de justiça e felicidade que pertencem ao coração
humano e que palpitam na vida dos povos. Arda no vosso coração esta santa
inquietação profética e missionária. Não permaneçais parados!
Caríssimos, amai sempre a Igreja! Amai e
preservai a unidade da vossa “companhia”. Não deixeis que a vossa Fraternidade
seja ferida por divisões e oposições, que fazem o jogo do maligno; é a sua
profissão: dividir, sempre. Até os momentos difíceis podem ser momentos de
graça, momentos de renascimento! Comunhão e Libertação nasceu precisamente numa
época de crise, como foi o ano de 1968. E mais tarde o padre Giussani não se
assustou com os momentos de passagem e crescimento da Fraternidade, mas
enfrentou-os com coragem evangélica, confiança em Cristo e em comunhão com a
Mãe Igreja.
Hoje, juntos, demos graças ao Senhor pelo
dom do padre Giussani. Invoquemos o Espírito Santo e a intercessão da Virgem
Maria, para que todos vós possais continuar, unidos e alegres, ao longo do
caminho que Ele vos indicou com liberdade, criatividade e coragem. Abençoo-vos
de coração! E, por favor, não vos esqueçais de rezar por mim. Obrigado!
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