Tenho poucas fotos do meu namoro antes da
minha mudança de fase. A gente até tirava muitas fotos, mas as mudanças de
redes sociais naquela época eram muitas. Fotolog, Orkut...Até Flogão eu tive! Ainda
bem que acabei revelando algumas fotos e as tenho guardadas comigo. Boa parte
se perdeu mesmo nos meus antigos computadores, que sempre pifavam antes que eu
pudesse fazer alguma coisa: a rede elétrica da casa simples onde eu morava era
péssima; além dos vírus, o fato de que quase nunca podíamos pagar o conserto...Namoramos
por pouco mais de 1 ano assim, bem normais – talvez não tão normais aos olhos
do mundo porque não tinha sexo. Encontrar Vladimir foi como encontrar a mim
mesma (como aquela famosa frase de Morro dos Ventos Uivantes, “Eu sou
Heathcliff“), nós fazíamos tudo juntos, e durante o namoro todo (que durou 3
anos e 5 meses), não nos vimos apenas por pouco mais de 10 dias. Às vezes ele
ia à minha casa apenas para lermos o dia todo, trocando impressões nos
intervalos. Passear pela cidade e bater perna era outra coisa favorita e
estávamos em livrarias pelo menos a cada 3 dias. As pessoas, especialmente a
família dele (já que eu não tinha basicamente ninguém da minha família por
perto), acham que fui eu quem começou essa mudança. Mas não foi. Lembro de
quando Vladimir começou a ir em centros da TFP, e do quanto eu não liguei
muito, embora me parecesse um tanto obscuro. A gente encontrava esse membro do
grupo numa reunião da faculdade, mas eu não tinha nenhuma opinião formada sobre
ele, porque ele falava muito pouco e parecia sério, impenetrável. Depois,
quando Vlad começou a ir em reuniões demais, sempre saindo com outra já
marcada, eu disse a ele que não estava gostando. Pouco depois, eu já havia sido
convidada para o centro e recebido recomendações de como aparecer vestida lá. O
resto é história, e posso dizer que não recebi mais recomendações sobre nada.
Seria injusto dizer que eles nos pediram qualquer coisa: eles não pedem para
que você corresponda a eles, você faz se quiser, como quiser. Então, como
aconteceu tudo isso? Aconteceu como acontece nesses casos: é uma conjunção de
fatores. Primeiro, havia o começo de alguma coisa: alguma coisa que na época
ninguém sabia o que era, mas que hoje está bem às claras. Bem, era o começo
disso. Todo mundo lendo as mesmas coisas, nos mesmos sites, os mesmos filósofos
e saindo com a mesma bibliografia política. E havia do outro lado, o mesmo
movimento em favor do uso do véu, a mesma catequese no mesmo site do mesmo
padre famoso, que havia mudado para a mesma linha política.Isso não ia levar
todos os jovens e nem todas essas pessoas que estavam no entorno. Na verdade,
comparado com o que foi depois, levou pouquíssima gente naquele momento. Ali,
ainda, muita gente tinha uma fase tradicionalista que passava. Começava na
Monfort, ou na Fraternidade, ou em grupos menos radicais – que eu não vou citar
os nomes, mas vocês podem imaginar. Ali ainda havia uma ampla normalidade para voltar.
E se eu comecei e continuei, foi com a certeza mais pela força desse movimento
do que pela proximidade com o grupo tradicionalista em si. Nós gostamos do que vimos no grupo, eu me senti acolhida e
encantada, eu quis fazer parte daquilo, mas tão logo percebemos que não era o
nosso lugar, nos afastamos. Então, embora tenha começado ali, citar o
grupo pode dar uma ideia errada para as pessoas que estão acompanhando a minha
história. O que importa mais é o que veio depois! O que
eu queria mesmo era nunca ter passado por essa porta. Tenho para mim que foi o
caminho que Deus escolheu, um caminho para chamar a minha atenção, pois talvez
de outra maneira eu não o tivesse escutado. Só que olhando para mim, a de antes,
sinto falta do que eu poderia ter sido se eu simplesmente seguisse o meu
caminho. Sim, eu sinto que fui desviada. De tal modo que mesmo hoje, depois de
tanto tempo e sem dúvida me sentindo mais livre do que estive nos últimos 10
anos, eu me pergunto: e se a gente tivesse seguido os nossos planos iniciais?
Quem eu seria?...A verdade é que eu era bem diferente. Mais ou menos
como sou agora: sinto que voltei minha alma para o corpo, mas essa alma voltou
depois de um bom tempo tateando por caminhos que não eram os dela. E hoje eu
tenho uma vida feliz, uma vida pela qual eu sou grata, mas em alguns momentos eu
ainda sinto que estou levando a vida de outra pessoa. Eu não digo isso porque
queria estar fazendo agora algo diferente do que estou fazendo. Tem mais a ver
com o fato de que eu não tenho certeza se sei o que estaria fazendo com base
numa vida minha, autêntica, durante todo o tempo anterior. Porque embora eu
tenha começado a deixar muitas dessas coisas para trás (voltei a usar calça já
em 2013, ainda que timidamente naqueles meses) há bastante tempo, outras coisas
continuaram a me influenciar e a me ocupar e a distrair a minha mente.Eu tenho um bom parâmetro para algumas dessas questões. É ver
tantas pessoas que discutiam conosco naquela época, que não podiam sequer ver o
padrão de modéstia que apontávamos (saia midi, por exemplo) que taxavam de
“maria cafona”, e, no entanto, agora fazem vênia. Pessoas que antes se
levantaram para defender o Papa de ataques, se juntam sorrateiramente às
críticas desrespeitosas. É somente em momentos assim que é possível
avaliar as tendências dominantes, as que no fundo fazem pressão sobre as outras
pessoas, pois quem está na crista da onda dá o tom. E por causa dos benefícios
que recebem por não discordarem de quem está no comando das tendências, muitas
pessoas – impensáveis para este caminho – agora trilham por ele.Por essas coisas é possível não apenas avaliar a força de
tais ideias, mas também a dificuldade para quem sai. Eu disse que as
pessoas tinham fases desse tipo antes, mas que era fácil encontrar o caminho da
normalidade. Você não encontrava, salvo com muitíssimo esforço, alguém que
tivesse ao mesmo tempo um conjunto de ideias que incluísse casamento, filhos,
política, educação, desconfiança do papa, e filmes até ontem considerados
normais. Hoje o raro é encontrar alguém no meio católico que tenha menos do que
3 combinações disso. É o fato também de ver tudo isso e estes dilemas
espelhados em outras pessoas. E que justamente por ter ido nessa direção, não
podem aceitar quem não tenha ido, porque parte do esquema que sustenta essas
ideias todas é a criminalização de quem não foi para o mesmo lado. Sim, porque não há paz nunca, o que parece guiar essas
pessoas é o sentido da guerra, cada ação é tomada como meio de ataque (ou
diriam, contra-ataque), e você percebe que à mínima amostra de críticas há um
afastamento ou condenação explícita. Dizem que os discípulos de Jesus
eram reconhecidos pelo tanto que se amavam. Nesses anos encontrei amigos
valiosos. Foi um longo trabalho, como tudo na vida, com tentativas e erros. Nós
sabemos do que tivemos de escapar, das coisas que não podem ser mencionadas, do
que deve ser ignorado como forma de sobreviver nesse meio. Esses amigos(as) são
sobreviventes lá também.Mas eu confesso que, do meio especificamente, eu
esperava mais. Eu esperava a normalidade que não encontrei. E é nesse ponto em
que eu me encontro agora, tentando saber quais são realmente os planos de Deus
para a minha vida, onde Jesus deseja que eu esteja, e o que meus santos padroeiros
me reservam.
Que São Tomás More rogue por mim!
*Nota:Esta é uma história pessoal, mas como
acontece em casos análogos, nunca é tão pessoal assim. É por isso que eu estou
dividindo.
Um conto de duas cidades ¹
Eu cresci entre duas “cidades”. A cidade do meu pai: a infância alegre, as histórias ao pé da cama, amar os Beatles e os Rolling Stones, a avó que comprava os presentes dos meus sonhos. Essa era a cidade da alegria, a cidade da crença e da luz; era o melhor dos tempos, era o tempo da esperança.A cidade de minha mãe era apagada, sem ribalta, sem pouso. Era como aquela cena em Hoje é dia de Maria, em que a protagonista tem a infância roubada e acorda com 25 anos. Provavelmente foi assim para a minha mãe: após toda a miséria, um dia ela se viu adulta e com o mínimo de dignidade. A sua infância foi pulada. Era o pior dos tempos. A primeira cidade nunca poderá conhecer mesmo as motivações da segunda. Eu vi isso na prática. Você precisaria de um talento literário realmente superior que conseguisse captar isso – como já ocorreu. São mundos bem diferentes. O problema é quase nunca alguém da segunda cidade consegue eloquência o suficiente para contar a própria história. Foi algo que apenas recentemente começou a mudar. Começou a mudar quando os filhos e netos dessas pessoas passaram a ter outras escolhas e caminhos.Eu nunca pude perguntar diretamente para a minha avó por parte de mãe alguma coisa a respeito da vida que levou porque, obviamente, eu nunca a conheci. Minha mãe cortou relações com ela logo após ter o primeiro filho (foram dois nascidos: minha irmã e eu), e nunca mais voltou a falar com ela até que ela estivesse morrendo, quase 35 anos mais tarde. Ainda criança eu perguntei para a minha mãe se vovó não ficaria muito desesperada por notícias.“Por que ela ficaria? Ela me entregou para outra pessoa. Ela morava relativamente perto e nunca ia me ver. Eu ficava sabendo que ela tinha tido outros filhos e sempre me perguntava porque o bebê tinha o privilégio de estar com a mãe, enquanto eu não estava. Mas isso durava pouco: em breve o bebê começava a andar e também era dado.” Agora, se vocês repararam bem no relato anterior, o meu pai foi filho de uma mãe solteira. Nos anos 50: que foi uma das épocas mais duras para tê-lo nessas condições. Minha avó paterna era uma católica bem formada que tocava órgão na igreja – o que não a impediu de engravidar aos 43 anos de um homem casado. Escondeu a gravidez até o último dia, pois era mulher, uma auditora fiscal na repartição pública, e não podia causar escândalo. Era a única menina entre os 5 filhos de minha bisavó: um número alto de filhos para os nossos dias, mas muito inferior aos 14 filhos que minha avó materna colocou no mundo. Havia sido educada em bons colégios, sabia latim, tocava o já mencionado órgão, piano e violão, e é claro que em anos de juventude falava francês fluentemente. Um conto de duas cidades…Ser filho de uma mãe solteira e ter sido bem criado teve bastante relação com que tipo de pessoa a minha avó era, e todo o seu contexto anterior. Não era de uma família rica, como pode parecer pelo parágrafo anterior. A escola que minha avó havia frequentado era uma escola católica de caridade e, portanto, não havia custado nada. Ela vinha, portanto, de uma mudança de mentalidade que já havia se instalado há tempos em classes sociais mais favorecidas. Essa mudança de mentalidade foi assim definida pelo historiador Philippe Ariès: “A família tornou-se o lugar de uma afeição necessária entre os cônjuges e entre pais e filhos, algo que ela não era antes. A família começou então a se organizar em torno da criança e a lhe dar uma tal importância, que a criança saiu de seu antigo anonimato, que se tornou impossível perdê-la ou substituí-la sem uma enorme dor, que ela não pode mais ser reproduzida muitas vezes, e que se tornou necessário limitar seu número para melhor cuidar dela. Portanto, não surpreende que essa revolução escolar e sentimental tenha sido seguida, com o passar do tempo, de um malthusianismo demográfico, de uma redução voluntária da natalidade, observável no século XVIII” - Esta citação está no prefácio do livro “História Social da Criança e da Família”, e aparece no ponto em que o autor cita o impacto que o surgimento da escolarização casou na organização familiar e como, apesar das reticências que um novo caminho traz consigo, o surgimento da escola como substituto do meio da educação (que antes era a sociedade) foi extremamente benéfica em favor de uma visão digna que a criança passou a receber enquanto indivíduo. Essa separação das crianças para o meio escolar foi amplamente promovida por reformadores católicos e protestantes e fazia parte de um movimento deliberado em prol de uma maior consciência moral do homem. Como as primeiras escolas foram instituições de caridade, estava aberto um caminho sem precedentes para a educação das crianças. Não que tenha sido um caminho perfeito: alguns irão se recordar de condições insalubres (um tema tão recorrente da literatura inglesa), da noção rígida e mesmo impiedosa dos educadores, para não mencionar abusos – como as centenas de crianças indígenas mortas em internatos católicos no Canadá.No entanto, guardada todas as proporções, e sobretudo para famílias que jamais teriam outra alternativa, a escolarização foi um ponto crucial para a mudança da organização familiar. Essa mudança hoje está tão bem estabelecida que é um esforço enorme fazer um quadro mental de uma configuração familiar que não tenha como seu coração absoluto a criança. O filho. É preciso entender exatamente onde está o ponto da questão aqui. Pois se não era o lugar de cumplicidade e afetividade entre os cônjuges e tão pouco era a união desses cônjuges em favor das crianças, o que era? Era um núcleo de base da sociedade, com uma função social de sobrevivência, amparo mútuo, cumprimento de uma moral e cuja afetividade quase nunca existia antes da relação ser estabelecida. Isso vale para os casais, que não precisavam de uma profunda noção de conhecimento um do outro (como nos é tão indispensável para o matrimônio atualmente), e também com relação aos próprios filhos que tinham.É por isso que antigamente as pessoas pareciam suportar com uma ascese sobrenatural a morte de filhos na infância. Por isso os pais com naturalidade se separavam deles no cotidiano, onde com muita frequência o fardo do sustento precisava ser repartido com outras pessoas (esse fardo era recompensado pelo serviço doméstico que desde cedo as crianças prestavam na casa dos outros), pois se assim não o fizessem, a criança morria de fome.Aquilo que minha mãe chamou, narrando a própria infância, de “mentalidade antiga” – e sem a menor pretensão de usar um termo acadêmico – era precisamente a explicação histórica do fenômeno no qual a família de minha avó materna ainda se encontrava e reproduzia. Pois qualquer pessoa que estude um pouco de antropologia e comportamento humano sabe que as sociedades e organizações mais arcaicas tendem a conservar por mais tempo os traços e fenômenos de épocas remotas, mesmo quando essas motivações não mais existem e não fazem mais qualquer sentido por causa das mudanças práticas que foram sendo operadas ao longo do tempo. É por isso que antropólogos são capazes de estudar tribos isoladas no nosso contexto atual e obter respostas satisfatórias para o estudo de civilizações antigas e já extintas. Essa tal “mentalidade antiga” não pode ser simplesmente reduzida ao fato isolado do número elevado de filhos que minha avó materna teve sem as condições necessárias de sustentar e educar. Pois assim considerar seria como pensar que ela tinha consciência do que chamamos com tanta convicção de “condições necessárias.” Isto deve ser observado com mais profundidade: pois nas camadas mais internas essa mentalidade antiga conserva os traços característicos de quem não percebe como objetivo a educação da criança nascida (no sentido tão amplo e completo como passamos a ter depois de um período), de quem não tem na família um lugar primordial de afetividade entre os membros. Ela faz parte de uma lógica – e nisto Ariès se debruçou com dedicação – na qual a criança era facilmente substituída, em que pesa bastante também o fato de que morriam em grande proporção. Por isso a minha mãe e tantas crianças foram dadas. Não é só a miséria, no sentido de não ter o prato de comida para oferecer. É um modus operandi. Acontece que a minha mãe esteve no limiar de uma época – a metade do século 20 – em que as últimas folhas dessa árvore morta caíam. Note que Ariés aponta essa mudança de mentalidade já bastante observável na Europa do século XVIII. Muito antes do movimento feminista ou da revolução sexual: e você provavelmente já escutou a narrativa de que todas pessoas tinham um número enorme de filhos até as nossas avós, mas que “graças ao feminismo e à pílula” acabaram por mudar este comportamento. Este é o tipo de afirmação obtusa que só faz sentido dentro de um local de pensamento em que você nunca precise realmente debater com quem tenha estudado o fenômeno: isto é, só faz sentido dentro de um nicho ideológico, no palanque de uma seita ou grupos sectários nas redes sociais. De fato, a revolução sexual e, em bem menor proporção, o feminismo (pois, inicialmente, a pílula não foi uma bandeira do feminismo, mas do liberalismo liderado por homens) operaram grandes impactos na vida das mulheres. Para citar alguns, o sexo livre e sem compromisso, as doenças sexualmente transmissíveis no âmbito feminino, e, também, de limitar ainda mais o número de filhos das mulheres casadas. Mas não é verdade que estas duas coisas foram responsáveis pela mudança de mentalidade das famílias com relação aos próprios filhos, e nem de longe foram os catalisadores para a limitação do seu número.Essa mudança começou a ser operada mais de 200 anos antes da pílula: uma mudança de mentalidade dessa proporção leva séculos, e seu sucesso se deve não ao fato seco de impedir um número de filhos, mas sim à mudança afetiva e de finalidade educativa. A única maneira de inverter o padrão novamente- e fazê-lo se tornar uma regra – é igualmente mover e manter a preocupação dos pais afastada de uma elevada expectativa com relação a educação, ao mesmo tempo que mexa também com a expectativa afetiva. Não é preciso apenas imaginar: as sociedades ainda existentes que mantém o padrão assim se comportam. E as últimas folhas (leia-se aqui as últimas camadas da sociedade que não puderam se desapegar deste comportamento pelas vias da conscientização orgânica) só foram arrancadas com a implementação das políticas do que eles chamam de saúde reprodutiva. Era isso que a minha mãe, que crescia numa sociedade que se modificava e modernizava rapidamente, não conseguia perdoar na minha avó: por que ela não havia se planejado? Por que ela havia submetido a minha mãe a tantas desgraças, a começar por sequer ser responsável pelos filhos? Pessoas inconscientes como a minha avó ainda existem, mesmo nos grandes centros de cidades do século 21, mas elas são raríssimas exceções. Não há centenas tendo dúzias de filhos dessa maneira nem mesmo nas esquinas das periferias. Para além dos métodos artificiais de limitação dos filhos (não vou discutir a questão aqui, mas eu sou católica), o que finalmente parece ter se normalizado em toda a sociedade é a consciência da obrigatoriedade da educação como justificativa para se ter um filho.A família de minha avó paterna já vinha de gerações de uma mudança bem estabelecida dessa mentalidade, e em conformidade com a moral sexual católica, vinha reduzindo o número de filhos. Parece óbvio colocar as coisas nestes termos, de tal modo estas exigências de educação e amor foram se tornando naturais, e o fato de que somos insubstituíveis dentro da nossa família. Não se trata de dizer que não existia amor, antes, nas famílias, mas era diferente. Não se trata, também, de analisar o fenômeno como católico ou protestante – pois eu mencionei em texto anterior que a família de minha mãe era evangélica, e tal coisa pode ser tirada como consequência lógica comparando as duas histórias. Não. A diferença entre as duas cidades é, principalmente, um fenômeno social. Tanto é que minha madrinha (também mencionada na primeira parte deste relato) e muitas outras mulheres com as quais tive contato, católica e de família católica até onde as gerações anteriores lhe permitiam saber, teve uma história idêntica de número elevado de filhos e tipo de relação familiar, etc.
Humanização necessária
Todo esse preâmbulo para chegar ao ponto em
que eu parei na primeira parte: “eu estava recebendo
uma pressão enorme para desempenhar um papel que buscava um regresso ao momento
histórico em que as coisas funcionavam melhor”: foi o que escrevi. Eu preciso
deixar claro para a minha filha do que se trata, caso contrário, ela não será
capaz de compreender. Embora eu tivesse uma história de vida marcante, e
tivesse diante de mim dados suficientes para não absorver aquela nova forma de
pensar a minha vocação feminina da maneira limitante como estava sendo, eu nada
fiz com o que eu já tinha. Era como se eu não tivesse passado, e eu fui a
ingênua menina de classe média, como se eu conhecesse apenas uma das cidades, e
pudesse me dar ao luxo de me rodear daquelas etiquetas todas. No fundo, eu fui
como a minha avó tocando hinos nas missas aos Domingos e engravidando de um
homem casado em algum motel barato...Eu acreditei no
que hoje se tornou um fenômeno de pensamento de certo ideal feminino, eu
acreditei em algo que qualquer observação mais cuidadosa da realidade irá
contradize-la. Eu fiz isso porque afetivamente eu queria pertencer a alguma
coisa, e também porque tinha confiança nas pessoas que apareceram no meu
caminho para me ensinar. Eu o fiz porque me converti e não permaneci na igreja,
mas saí dela: eu estive rodeada de pessoas, grupos, comunidades de redes
sociais, e publicações que me levavam mais para as trincheiras da guerra
cultural e menos aos pés do altar. E eu fui porque isso era incrivelmente
mais excitante e bélico! Este preâmbulo não é uma maneira de justificar a minha
avó materna, mas de humanizá-la e compreendê-la. George
Orwell escreveu: “Talvez alguém não deseje tanto ser amado como ser compreendido”.
Somos capazes de amar até quem nos coloca numa situação limite ou tóxica. Mas a compreensão – e não somente o amor – é realmente a
chave que pode nos libertar, já que num caso como o da minha mãe, o amor que
ela sentia por minha avó era um componente a mais para lhe causar dor. Então,
eu estive diante de uma pressão que me fazia enaltecer o estilo de vida da
minha avó, a priori, e ver toda a geração da minha mãe (e, portanto, a minha
mãe pessoalmente) como apenas um capítulo execrável na linha do tempo dos bons
costumes. Pois é exatamente isso o que a ideologia e a
mentalidade de seitas fazem: elas substituem a realidade, criam motivações e
justificativas não apenas falsas, mas repletas de gatilhos que te coloquem
necessariamente em posição de ação e reação contra um inimigo imaginário (nós
contra eles).Talvez “pressão” seja realmente um eufemismo. De todo modo,
era o que era e ainda é: você começa a fazer algumas associações na sua vida e
em menos tempo do que poderia julgar quando estava sã, está comprometida como
uma jovem aprendiz que ainda não sabe metade do serviço que terá de
desempenhar, mas internamente sabe que você vai fazer. Eles – quem quer que
sejam – já haviam me cooptado para pôr à prova toda a minha vida e a minha
personalidade e já tinham colocado milhares de dúvidas a respeito de tudo o que
eu considerava normal. Mas foi porque tudo isso mexia
com quem eu fui e era ainda, mesmo submersa, que eu pude ir, aos poucos, me
libertando. E eu só pude fazer isso a partir do momento que comecei a buscar
compreender o que estava acontecendo comigo.E porque eu tinha pessoas
tão concretas para me auxiliar neste caminho (as pessoas da minha história
pessoal), eu não estive sozinha. E por que estou
escrevendo esta história? Para que ela não se perca para a minha filha. Este
espaço foi usado por alguns anos como forma da minha expressão pessoal: uma
expressão que foi partilhada e usada por muitas pessoas de formas diversas. Mas
o que eram estas questões dez anos atrás não é o mesmo que é agora; e eu tenho
receio do que será no futuro. Pois a cada dia que passa, o comprometimento a
esta causa se torna maior, está pulverizado por toda parte e está vindo o
momento em que os perdigotos de cada uma dessas falas respingarão na face de
toda pessoa bem-intencionada, que deseje saber a fundo a sua vocação, e não
sabendo encontrar o caminho da verdade, de Cristo e da Igreja, irá encalhar
neste entulhos. Eu falo em humanização, pois ao partilhar a primeira
parte deste relato (descrevendo principalmente de que realidade veio minha
mãe), uma reação comum foi a surpresa em saber que uma pessoa como eu,
aparentemente tão bem criada, possa ter tido contato com este universo tão
sofrido. Nós temos uma ideia muito vaga de como é a vida dessas pessoas na
linha da pobreza, mas mesmo sendo vaga, nós sabemos que é terrível. Nós não
vamos afirmar que nada de podre nunca acontece na classe média e alta: sabemos
que acontece. Sabemos que eles podem descer fundo e, em certo sentido e
condizente com a própria realidade, eles podem ser sofisticadamente mais
grotescos quando o fazem. O mais tocante da história de
minha mãe é que, estando no mencionado limiar, ela era agudamente consciente.
Ela soube exatamente, enquanto passava por tudo aquilo, do que era digna e do
que era merecedora: noções que tendemos a usurpar mentalmente de pessoas nessas
condições. Nós achamos que uma cesta básica lhes basta, nós atribuímos a eles
uma aceitação do destino que, de verdade, não possuem; nós (especialmente se
somos muito ricos) gostamos de pensar neles como gratos pela vida, pelo pouco
que têm, como se este pouco fosse apenas material. É por isso que tantas
pessoas se referem às numerosas famílias antigas como as de minha avó como generosas:
virtude que minha avó materna nunca teve. Apenas tangenciando este assunto
(porque é claro que eu falarei dele para a minha filha de maneira ampla e
aberta em alguma outra parte deste relato, cuja extensão eu não tenho e não
planejo), esse tipo de abordagem – uma abordagem qualitativa de um fenômeno –
tem como principal característica não a de enaltecer as pessoas e gerações
específicas as quais se referem, mas sim a de pactuar as pessoas do presente. É sobre o que você vai fazer a respeito, como irá se
posicionar a partir da apreensão de algo posto nestes termos, quando o que está
em questão não é uma menção literária ou saudosista, mas sim uma definição com
objetivos claros de mexer com a sua capacidade de raciocínio. E assim, guiar
seus passos. Minha mãe foi movida por um senso de justiça e de
compensação heroicos. Ela nos teve muito jovem: aos 21 e aos 24 anos, e já
neste estágio, com um recente passado de degradação, ela nos criou com muito
zelo. Em primeiro lugar, nos anos anteriores, minha mãe teve espírito o
suficiente para buscar por si mesma alguma compensação cultural e lia muito. Ao nos ter, ela já sabia que tipo de educação nos daria, qual
escola escolher, qual a educação sexual (ela só soube o que era menstruação no
dia da menarca, então ela havia decidido nos dar informação a respeito desse
tema desde muito cedo). Preocupada com alimentação saudável, esportes, nos
colocou para jogar tênis por quase 10 anos. De verdade, eu não sei de onde ela
conseguiu tirar tudo isso. Meu pai ficava muito impressionado com ela. Mais
impressionada fico eu com a capacidade pessoal dela, mas como eu disse no
começo deste texto: não é tão pessoal assim. Inúmeras pessoas passaram por isso
e há inúmeras mães assim, neste momento histórico, dando essa guinada. Que o
tenham feito com pílula ou sem pílula: é apenas um detalhe numa espetacular
biografia.
1. Um conto de duas cidades é um romance de
Charles Dickens que fala sobre a Revolução francesa. Assim narra o primeiro
parágrafo: “Aquele foi o melhor dos tempos, foi o pior
dos tempos; aquela foi a idade da sabedoria, foi a idade da insensatez, foi a
época da crença, foi a época da descrença, foi a estação da luz, foi a estação
das trevas, a primavera da esperança, o inverno do desespero; tínhamos tudo
diante de nós, tínhamos nada diante de nós, íamos todos direto ao paraíso,
íamos todos no sentido contrário – em suma, o período era em tal medida
semelhante ao presente que algumas de suas mais ruidosas autoridades insistiram
em seu recebimento, para o bem ou para o mal, apenas no grau superlativo
de comparação.”
Não ter escrito antes
Nas redes, ainda que o espaço seja seu, parece que você está necessariamente dialogando com o que
acontece lá dentro – de onde parece se estender o convite para as pessoas
considerarem seu conteúdo quase como propriedade delas também. Mas eu
dizia que o motivo principal de não ter escrito antes havia sido a ferida na
minha alma por conta do que minha vida se transformou naqueles anos específicos
(e as consequências).
Uma perspectiva de quem influenciou
Com isso não quero dizer que qualquer uma
das coisas isoladas, em termos de decisões, tenha sido realmente responsável
por tantos problemas na minha vida. Por exemplo: não usar calça por alguns
anos. Quer dizer: consigo pensar em muitos momentos realmente desconfotáveis ao
longo daquele tempo; consigo lembrar que era constante o fato de adaptar ou
mesmo não viver experiências por causa disso (lembro particularmente de um
emprego que não assumi), mas isolada a experiência foi mais estúpida do que
maléfica. Aqueles dias passaram, eu estive bem. Todo o
fato de que a partir de um determinado momento a minha vida se tornou uma
narrativa: uma busca por um ideal, uma teoria de si mesma; um compromisso
constante em corresponder (essa era uma palavra que eu usava muito,
especialmente na minha mente, com relação a qualquer migalha que acontecia
comigo), em ponderar, refletir, construir uma justificativa; o fato de que eu
fui me tornando uma referência, que eu me comprometi com uma multidão anônima;
a visibilidade por causa disso, ter ficado de certo modo condicionada à
experimentar a vida através desse filtro: isso demorou bastante tempo para
passar. A perspectiva que eu gostaria de dar, e que talvez seja bastante
útil para quem deseja entender como funciona uma situação análoga, é a de que
eu – para citar o evangelho – não sabia o que estava fazendo...são coisas para
as quais eu estudei e acumulei experiência. Não quer dizer que eu esteja certa
em tudo! São coisas que ocuparam e ocupam a minha vida, mas não são a minha
vida plena. Parte do sucesso de As Chamas do Lar
Católico era (como muitas pessoas me disseram ao longo dos anos) o fato de que
era inédito: não havia dezenas de canais mostrando aquela perspectiva. Eu era
muito esforçada e lia, então é claro que talvez do ponto de vista teórico eu
tenha feito um bom trabalho em muitos momentos. Havia muita coisa misturada em
uma velocidade incrível: o lado político conservador que estava crescendo a
cada ano (antes de escrever aqui eu participei do blog Acarajé Conservador, que,
para variar, foi um dos primeiros do gênero), os relatos de parto que depois se
tornaram uma febre em grupos cristãos do Facebook (uma febre boa, não é um
deboche), a perspectiva idealista do matrimônio católico, completamente
centrado no papel bem delimitado que a mulher deveria cumprir, e por aí vai. Aquilo
que eu achava ser uma curadoria tão minha era na verdade uma espécie de lógica
bem consolidada na qual as pessoas entrariam por alguma das vias. E foi por
isso que entraram. Não estou criticando quem, por conta da própria história, se
identifique ou mesmo viva uma dessas realidades porque acredite estar coerente
consigo mesmo. O que estou dizendo é que não tem como,
dezenas de milhares de pessoas, ao mesmo tempo e sem qualquer experiência real
de vida, de repente chegarem à mesma conclusão sobre como elas irão ser e viver
daquele minuto em diante. Gostaria de colocar uma ênfase especial em
“como elas irão ser daquele minuto em diante: porque isso poderia, alegremente,
ter significado estar inflamado do Espírito Santo,poderia ser algo voltado para
o Alto e, obviamente, para o que a palavra de Deus insiste tanto com o próximo.Só que Cristo, a santidade, as obras, a caridade, os pobres,
os órfãos, o perdão que eu devia aos meus parentes; a missa, o prédio
semi-destruído da igreja que eu frequentava, as pessoas bem específicas que
Deus colocou ao meu lado; a minha tendência à arrogância, as pessoas que eu
jamais procurei, mas poderia: tudo isso continuava ao meu redor e eu não estava
em nenhuma delas. Tudo isso era a realidade, mas essa realidade teria que
esperar – anos a fio – porque a ocupação central de toda a tendência contida
naquele movimento era voltar cada pessoa ainda mais para si mesma; para uma
espécie de escaneamento completo da própria conduta, a fim de reeducá-las. É
por isso que depois de toda a ascensão desse cristianismo o que você vai
observar como consequência em alto relevo é uma crescente demanda por um
conteúdo que possa atender as pessoas que não estão satisfeitas com a própria
conduta; que não estão conseguindo ser as esposas ou mães que gostariam; os
profissionais que sonhavam, etc. Porque alguma dessas variantes é a preocupação
central de todo mundo, é de fato a ação de ser cristão nesse contexto.Quanto aos pobres, os órfãos, a reforma do prédio da Igreja,
o tempo doado para a comunidade; as missões inacreditáveis que algumas pessoas
fazem até hoje: estas coisas continuam sendo feitas por quem – para citar
George Eliot – leva uma vida oculta e descansa em túmulos não visitados. E
nem mesmo o perdão aos parentes. Porque se a lógica é a reeducação da própria
vida e a consequente adesão de novas, rígidas e implacáveis verdades, os
parentes são apenas um obstáculo na corrida. É um consenso nesse meio que você
não pode permitir que seus entes queridos deem a mínima opinião sobre o fato de
que você agora se tornou uma pessoa irreconhecível que parece ter sido criado
por outra pessoa, em outra região do Globo: é falta de maturidade da sua parte
receber a influência direta de – digamos – seus pais. É claro que essa é apenas
uma imagem daquele conto popular de Grimm onde o neto observa os pais que
tratam o avô de maneira humilhante porque o velho não podia tomar a sopa sem a
derramar pela boca, e por isso não podia sentar-se à mesa:
– “Estou fazendo uma gamela, – respondeu o
menino, – para dar de comer a mamãe e papai quando eu for grande...” - (O avô e
o netinho, Irmãos Grimm)
Claro que não será nada tão dramático.
Essas crianças bem educadas em lares cujas almas estão fechadas para fora serão
exatamente como seus pais quando crescerem e levarem a vida que decidirem: elas
estarão fechadas para fora. A principal lição é essa, já que quase todo mundo
foi “criado” de uma maneira e terminou por viver de outra. Quando eu escrevia
sobre temas de comportamento cristão, há 10 anos, eu estava nesta espiral...Eu
havia visitado comunidades paupérrimas em excursões com a minha paróquia; eu
limpava os banheiros da minha igreja, eu participava das festas. Eu ia à faculdade e estava feliz saindo do período em que eu
era de esquerda e ocupava reitorias. Eu estava namorando Vladimir há
mais de um ano e fazíamos planos de ficarmos juntos (até hoje eu agradeço a
Deus não o ter conhecido no meio tradicionalista, onde eu poderia confundir a
nossa história com crenças particulares). Foi quando tudo aconteceu: o grupo de
estudos do pensamento conservador, a TFP, os filósofos, tudo ao mesmo tempo.Naquele momento específico, quando nada ainda havia ganhado
grande proporção, eu posso dizer que nenhuma dessas coisas parecia estar
interligada. Pelo contrário: quando, por causa da proximidade com o grupo
tradicionalista , eu passei a me vestir com modéstia e meus temas de estudo
passaram de Shakespeare para As três chamas do lar , meus colegas estranharam
muito. Estudar Eric Voegelin realmente não tinha nada a ver com os deveres da
dona de casa. E talvez, no fundo, não tenha mesmo. Mas agora que aqueles
primeiros conservadores se transformaram em um grupo gigantesco e heterogêneo,
com mídias diversas e muitas vezes antagônicas entre si; agora que tudo isso se
misturou, tantos se destacaram, um presidente foi eleito: agora me ocorreu
também que não há centenas de Margareth Thatchers, não há Flannery O’Connor. No
final, prevaleceu os deveres da dona de casa. Mas, meu Deus, como eu divago. O
que eu estava dizendo mesmo é sobre o período em que eu tive de me recuperar de
tudo isso. Quando eu publiquei meu post anterior, muitas mulheres me
escreveram, aqui ou em privado, para relatar uma experiência quase idêntica de
angústia e questionamento. Estes foram sentimentos que me acompanharam desde o
primeiro dia em que eu comecei este caminho. E durante os anos de apostolado,
que tipos de pessoas encontrei ao meu redor? Por exemplo: como eram as pessoas
que me liam? Como eram as pessoas que me reconheciam nas igrejas (onde eu
passei rapidamente a ser reconhecida, em qualquer lugar do Brasil onde eu
fosse) e trocavam palavras comigo? Ora, eram semelhantes: estavam, em alguma
medida, em angústia e questionamento. Adoravam o que eu escrevia, achavam
lindo, me perguntavam como eu conseguia viver aquilo; quase sempre se colocavam
numa escala abaixo de mim (“ainda não consigo corresponder tanto!”). Mas não
estavam felizes. Sentiam-se representadas, acalentadas, afagadas pelas minhas reflexões
que procuravam encontrar um sentido escondido em tudo, mas não eram pessoas
dizendo que estava tudo dando certo, que aquela caminhada estava fluindo, que
estavam bem psciologicamente. Os relatos eram extensos, pesados, na direção
oposta.
Eu estava colhendo frutos desde o princípio mas não conseguia enxergar!
Quando eu finalmente saí desse ciclo, tive
que começar a ajudar, ano a ano, a me reconstruir. Eu poderia ter vindo aqui e
escrito durante todo o processo – porque escrever sempre foi terapêutico para
mim – mas eu havia perdido muitas experiências simples da vida e queria
aproveitar cada momento; além disso, eu não tinha nem a segurança e nem a
clareza que eu tenho hoje sobre a minha história. Não
se tratava de alertar ou mesmo acusar as pessoas que estavam nesse caminho ou
que de alguma forma tiveram influência na minha vida. Claro: esse é o
ponto em que eu preciso assumir a responsabilidade pelos meus atos e minhas
escolhas, certo? Eu acho que cheguei em mais do que isso: ao olhar para trás, eu
vejo mais do que uma pessoa que fez escolhas ruins e sem amadurecimento, eu
vejo uma pessoa extremamente vulnerável. Você pode
demonstrar ser uma pessoa inteligente, corajosa, esforçada, destemida, e não
dar a mínima amostra de que é uma pessoa sem raízes fincadas em nada: não tem
segurança emocional, e não revela nem para si mesma as reais motivações de se
filiar a um grupo ou ideia. Pode ser simplesmente para suprir a família
que você perdeu, porque seu lar se desfez. Por fora, não dá para saber qual é a
árvore que criou um alicerce profundo. Além
disso, no momento em que as tendências mudam, há o elemento surpresa de que
muitas pessoas as seguem, a despeito de terem tudo para não fazê-lo. Enquanto
os ventos sopram de um lado, multidões podem ser arrastadas. Passei um tempo, quando já estava bem mais tranquila com
relação a tudo isso, dizendo a mim mesma: como pude ir por este lado? Eu me
julgava forte, como foi que me derrubaram tão facilmente? Depois, quando
o vento vai perdendo velocidade, é normal também que você note que há uma
despressurização. Nesse sentido, considero que eu fui forte, pois pude sair
justamente no momento em que muitas coisas já não estavam mais em grupos
pequenos e restritos, mas eram dominantes. Fui forte, depois de ser tão
vulnerável. E sou grata a Deus por isso.
Fonte: https://lucianalachance.wordpress.com/2021/09/
Lendo esse simples relato da Luciana, eu também
percebi que havia transformado minha própria vida em uma narrativa ambulante! Quanta arrogância, orgulho e vaidade da minha parte, eu
achava que não podia dividir minhas dúvidas ou reconsiderar algumas coisas,
pois poderia estar condenando o outro ao inferno (como se Deus não tivesse
vindo muito antes de mim e sua palavra não fosse resistir apesar de mim e de
minhas dúvidas...MEU DEUS QUE ARROGÂNCIA de minha parte!). Quem observava
de fora, não via nada de extraordinário, mas por dentro era sempre uma intensa guerra
de angústias, questionamentos constantes, dilacerantes, e paralisante nos
aspectos mais práticos da vida. Não experimentava nada daquela paz que Jesus
nos prometia, a qual excede todo entendimento, apesar de estar inserido na mesma
árvore, beber da mesma fonte, e comer de seus frutos.
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