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Luciana: #do progressismo ao Conservadorismo até a normalidade experiencial e não teórica com Cristo!

Written By Beraká - o blog da família on sábado, 18 de fevereiro de 2023 | 11:16

 

 

(foto reprodução de Luciana)




Tenho poucas fotos do meu namoro antes da minha mudança de fase. A gente até tirava muitas fotos, mas as mudanças de redes sociais naquela época eram muitas. Fotolog, Orkut...Até Flogão eu tive! Ainda bem que acabei revelando algumas fotos e as tenho guardadas comigo. Boa parte se perdeu mesmo nos meus antigos computadores, que sempre pifavam antes que eu pudesse fazer alguma coisa: a rede elétrica da casa simples onde eu morava era péssima; além dos vírus, o fato de que quase nunca podíamos pagar o conserto...Namoramos por pouco mais de 1 ano assim, bem normais – talvez não tão normais aos olhos do mundo porque não tinha sexo. Encontrar Vladimir foi como encontrar a mim mesma (como aquela famosa frase de Morro dos Ventos Uivantes, “Eu sou Heathcliff“), nós fazíamos tudo juntos, e durante o namoro todo (que durou 3 anos e 5 meses), não nos vimos apenas por pouco mais de 10 dias. Às vezes ele ia à minha casa apenas para lermos o dia todo, trocando impressões nos intervalos. Passear pela cidade e bater perna era outra coisa favorita e estávamos em livrarias pelo menos a cada 3 dias. As pessoas, especialmente a família dele (já que eu não tinha basicamente ninguém da minha família por perto), acham que fui eu quem começou essa mudança. Mas não foi. Lembro de quando Vladimir começou a ir em centros da TFP, e do quanto eu não liguei muito, embora me parecesse um tanto obscuro. A gente encontrava esse membro do grupo numa reunião da faculdade, mas eu não tinha nenhuma opinião formada sobre ele, porque ele falava muito pouco e parecia sério, impenetrável. Depois, quando Vlad começou a ir em reuniões demais, sempre saindo com outra já marcada, eu disse a ele que não estava gostando. Pouco depois, eu já havia sido convidada para o centro e recebido recomendações de como aparecer vestida lá. O resto é história, e posso dizer que não recebi mais recomendações sobre nada. Seria injusto dizer que eles nos pediram qualquer coisa: eles não pedem para que você corresponda a eles, você faz se quiser, como quiser. Então, como aconteceu tudo isso? Aconteceu como acontece nesses casos: é uma conjunção de fatores. Primeiro, havia o começo de alguma coisa: alguma coisa que na época ninguém sabia o que era, mas que hoje está bem às claras. Bem, era o começo disso. Todo mundo lendo as mesmas coisas, nos mesmos sites, os mesmos filósofos e saindo com a mesma bibliografia política. E havia do outro lado, o mesmo movimento em favor do uso do véu, a mesma catequese no mesmo site do mesmo padre famoso, que havia mudado para a mesma linha política.Isso não ia levar todos os jovens e nem todas essas pessoas que estavam no entorno. Na verdade, comparado com o que foi depois, levou pouquíssima gente naquele momento. Ali, ainda, muita gente tinha uma fase tradicionalista que passava. Começava na Monfort, ou na Fraternidade, ou em grupos menos radicais – que eu não vou citar os nomes, mas vocês podem imaginar. Ali ainda havia uma ampla normalidade para voltar. E se eu comecei e continuei, foi com a certeza mais pela força desse movimento do que pela proximidade com o grupo tradicionalista em si. Nós gostamos do que vimos no grupo, eu me senti acolhida e encantada, eu quis fazer parte daquilo, mas tão logo percebemos que não era o nosso lugar, nos afastamos. Então, embora tenha começado ali, citar o grupo pode dar uma ideia errada para as pessoas que estão acompanhando a minha história. O que importa mais é o que veio depois! O que eu queria mesmo era nunca ter passado por essa porta. Tenho para mim que foi o caminho que Deus escolheu, um caminho para chamar a minha atenção, pois talvez de outra maneira eu não o tivesse escutado. Só que olhando para mim, a de antes, sinto falta do que eu poderia ter sido se eu simplesmente seguisse o meu caminho. Sim, eu sinto que fui desviada. De tal modo que mesmo hoje, depois de tanto tempo e sem dúvida me sentindo mais livre do que estive nos últimos 10 anos, eu me pergunto: e se a gente tivesse seguido os nossos planos iniciais? Quem eu seria?...A verdade é que eu era bem diferente. Mais ou menos como sou agora: sinto que voltei minha alma para o corpo, mas essa alma voltou depois de um bom tempo tateando por caminhos que não eram os dela. E hoje eu tenho uma vida feliz, uma vida pela qual eu sou grata, mas em alguns momentos eu ainda sinto que estou levando a vida de outra pessoa. Eu não digo isso porque queria estar fazendo agora algo diferente do que estou fazendo. Tem mais a ver com o fato de que eu não tenho certeza se sei o que estaria fazendo com base numa vida minha, autêntica, durante todo o tempo anterior. Porque embora eu tenha começado a deixar muitas dessas coisas para trás (voltei a usar calça já em 2013, ainda que timidamente naqueles meses) há bastante tempo, outras coisas continuaram a me influenciar e a me ocupar e a distrair a minha mente.Eu tenho um bom parâmetro para algumas dessas questões. É ver tantas pessoas que discutiam conosco naquela época, que não podiam sequer ver o padrão de modéstia que apontávamos (saia midi, por exemplo) que taxavam de “maria cafona”, e, no entanto, agora fazem vênia. Pessoas que antes se levantaram para defender o Papa de ataques, se juntam sorrateiramente às críticas desrespeitosas. É somente em momentos assim que é possível avaliar as tendências dominantes, as que no fundo fazem pressão sobre as outras pessoas, pois quem está na crista da onda dá o tom. E por causa dos benefícios que recebem por não discordarem de quem está no comando das tendências, muitas pessoas – impensáveis para este caminho – agora trilham por ele.Por essas coisas é possível não apenas avaliar a força de tais ideias, mas também a dificuldade para quem sai. Eu disse que as pessoas tinham fases desse tipo antes, mas que era fácil encontrar o caminho da normalidade. Você não encontrava, salvo com muitíssimo esforço, alguém que tivesse ao mesmo tempo um conjunto de ideias que incluísse casamento, filhos, política, educação, desconfiança do papa, e filmes até ontem considerados normais. Hoje o raro é encontrar alguém no meio católico que tenha menos do que 3 combinações disso. É o fato também de ver tudo isso e estes dilemas espelhados em outras pessoas. E que justamente por ter ido nessa direção, não podem aceitar quem não tenha ido, porque parte do esquema que sustenta essas ideias todas é a criminalização de quem não foi para o mesmo lado. Sim, porque não há paz nunca, o que parece guiar essas pessoas é o sentido da guerra, cada ação é tomada como meio de ataque (ou diriam, contra-ataque), e você percebe que à mínima amostra de críticas há um afastamento ou condenação explícita. Dizem que os discípulos de Jesus eram reconhecidos pelo tanto que se amavam. Nesses anos encontrei amigos valiosos. Foi um longo trabalho, como tudo na vida, com tentativas e erros. Nós sabemos do que tivemos de escapar, das coisas que não podem ser mencionadas, do que deve ser ignorado como forma de sobreviver nesse meio. Esses amigos(as) são sobreviventes lá também.Mas eu confesso que, do meio especificamente, eu esperava mais. Eu esperava a normalidade que não encontrei. E é nesse ponto em que eu me encontro agora, tentando saber quais são realmente os planos de Deus para a minha vida, onde Jesus deseja que eu esteja, e o que meus santos padroeiros me reservam.

 

Que São Tomás More rogue por mim!


 



 Como vou contar essa história – primeira parte






(foto reprodução)


 



*Nota:Esta é uma história pessoal, mas como acontece em casos análogos, nunca é tão pessoal assim. É por isso que eu estou dividindo.

 

 

 

 

Um conto de duas cidades ¹

 

 

 

Eu cresci entre duas “cidades”. A cidade do meu pai: a infância alegre, as histórias ao pé da cama, amar os Beatles e os Rolling Stones, a avó que comprava os presentes dos meus sonhos. Essa era a cidade da alegria, a cidade da crença e da luz; era o melhor dos tempos, era o tempo da esperança.A cidade de minha mãe era apagada, sem ribalta, sem pouso. Era como aquela cena em Hoje é dia de Maria, em que a protagonista tem a infância roubada e acorda com 25 anos. Provavelmente foi assim para a minha mãe: após toda a miséria, um dia ela se viu adulta e com o mínimo de dignidade. A sua infância foi pulada. Era o pior dos tempos. A primeira cidade nunca poderá conhecer mesmo as motivações da segunda. Eu vi isso na prática. Você precisaria de um talento literário realmente superior que conseguisse captar isso – como já ocorreu. São mundos bem diferentes. O problema é quase nunca alguém da segunda cidade consegue eloquência o suficiente para contar a própria história. Foi algo que apenas recentemente começou a mudar. Começou a mudar quando os filhos e netos dessas pessoas passaram a ter outras escolhas e caminhos.Eu nunca pude perguntar diretamente para a minha avó por parte de mãe alguma coisa a respeito da vida que levou porque, obviamente, eu nunca a conheci. Minha mãe cortou relações com ela logo após ter o primeiro filho (foram dois nascidos: minha irmã e eu), e nunca mais voltou a falar com ela até que ela estivesse morrendo, quase 35 anos mais tarde. Ainda criança eu perguntei para a minha mãe se vovó não ficaria muito desesperada por notícias.“Por que ela ficaria? Ela me entregou para outra pessoa. Ela morava relativamente perto e nunca ia me ver. Eu ficava sabendo que ela tinha tido outros filhos e sempre me perguntava porque o bebê tinha o privilégio de estar com a mãe, enquanto eu não estava. Mas isso durava pouco: em breve o bebê começava a andar e também era dado.” Agora, se vocês repararam bem no relato anterior, o meu pai foi filho de uma mãe solteira. Nos anos 50: que foi uma das épocas mais duras para tê-lo nessas condições. Minha avó paterna era uma católica bem formada que tocava órgão na igreja – o que não a impediu de engravidar aos 43 anos de um homem casado. Escondeu a gravidez até o último dia, pois era mulher, uma auditora fiscal na repartição pública, e não podia causar escândalo. Era a única menina entre os 5 filhos de minha bisavó: um número alto de filhos para os nossos dias, mas muito inferior aos 14 filhos que minha avó materna colocou no mundo. Havia sido educada em bons colégios, sabia latim, tocava o já mencionado órgão, piano e violão, e é claro que em anos de juventude falava francês fluentemente. Um conto de duas cidades…Ser filho de uma mãe solteira e ter sido bem criado teve bastante relação com que tipo de pessoa a minha avó era, e todo o seu contexto anterior. Não era de uma família rica, como pode parecer pelo parágrafo anterior. A escola que minha avó havia frequentado era uma escola católica de caridade e, portanto, não havia custado nada. Ela vinha, portanto, de uma mudança de mentalidade que já havia se instalado há tempos em classes sociais mais favorecidas. Essa mudança de mentalidade foi assim definida pelo historiador Philippe Ariès: “A família tornou-se o lugar de uma afeição necessária entre os cônjuges e entre pais e filhos, algo que ela não era antes. A família começou então a se organizar em torno da criança e a lhe dar uma tal importância, que a criança saiu de seu antigo anonimato, que se tornou impossível perdê-la ou substituí-la sem uma enorme dor, que ela não pode mais ser reproduzida muitas vezes, e que se tornou necessário limitar seu número para melhor cuidar dela. Portanto, não surpreende que essa revolução escolar e sentimental tenha sido seguida, com o passar do tempo, de um malthusianismo demográfico, de uma redução voluntária da natalidade, observável no século XVIII” - Esta citação está no prefácio do livro “História Social da Criança e da Família”, e aparece no ponto em que o autor cita o impacto que o surgimento da escolarização casou na organização familiar e como, apesar das reticências que um novo caminho traz consigo, o surgimento da escola como substituto do meio da educação (que antes era a sociedade) foi extremamente benéfica em favor de uma visão digna que a criança passou a receber enquanto indivíduo. Essa separação das crianças para o meio escolar foi amplamente promovida por reformadores católicos e protestantes e fazia parte de um movimento deliberado em prol de uma maior consciência moral do homem. Como as primeiras escolas foram instituições de caridade, estava aberto um caminho sem precedentes para a educação das crianças. Não que tenha sido um caminho perfeito: alguns irão se recordar de condições insalubres (um tema tão recorrente da literatura inglesa), da noção rígida e mesmo impiedosa dos educadores, para não mencionar abusos – como as centenas de crianças indígenas mortas em internatos católicos no Canadá.No entanto, guardada todas as proporções, e sobretudo para famílias que jamais teriam outra alternativa, a escolarização foi um ponto crucial para a mudança da organização familiar. Essa mudança hoje está tão bem estabelecida que é um esforço enorme fazer um quadro mental de uma configuração familiar que não tenha como seu coração absoluto a criança. O filho. É preciso entender exatamente onde está o ponto da questão aqui. Pois se não era o lugar de cumplicidade e afetividade entre os cônjuges e tão pouco era a união desses cônjuges em favor das crianças, o que era? Era um núcleo de base da sociedade, com uma função social de sobrevivência, amparo mútuo, cumprimento de uma moral e cuja afetividade quase nunca existia antes da relação ser estabelecida. Isso vale para os casais, que não precisavam de uma profunda noção de conhecimento um do outro (como nos é tão indispensável para o matrimônio atualmente), e também com relação aos próprios filhos que tinham.É por isso que antigamente as pessoas pareciam suportar com uma ascese sobrenatural a morte de filhos na infância. Por isso os pais com naturalidade se separavam deles no cotidiano, onde com muita frequência o fardo do sustento precisava ser repartido com outras pessoas (esse fardo era recompensado pelo serviço doméstico que desde cedo as crianças prestavam na casa dos outros), pois se assim não o fizessem, a criança morria de fome.Aquilo que minha mãe chamou, narrando a própria infância, de “mentalidade antiga” – e sem a menor pretensão de usar um termo acadêmico – era precisamente a explicação histórica do fenômeno no qual a família de minha avó materna ainda se encontrava e reproduzia. Pois qualquer pessoa que estude um pouco de antropologia e comportamento humano sabe que as sociedades e organizações mais arcaicas tendem a conservar por mais tempo os traços e fenômenos de épocas remotas, mesmo quando essas motivações não mais existem e não fazem mais qualquer sentido por causa das mudanças práticas que foram sendo operadas ao longo do tempo. É por isso que antropólogos são capazes de estudar tribos isoladas no nosso contexto atual e obter respostas satisfatórias para o estudo de civilizações antigas e já extintas. Essa tal “mentalidade antiga” não pode ser simplesmente reduzida ao fato isolado do número elevado de filhos que minha avó materna teve sem as condições necessárias de sustentar e educar. Pois assim considerar seria como pensar que ela tinha consciência do que chamamos com tanta convicção de “condições necessárias.” Isto deve ser observado com mais profundidade: pois nas camadas mais internas essa mentalidade antiga conserva os traços característicos de quem não percebe como objetivo a educação da criança nascida (no sentido tão amplo e completo como passamos a ter depois de um período), de quem não tem na família um lugar primordial de afetividade entre os membros. Ela faz parte de uma lógica – e nisto Ariès se debruçou com dedicação – na qual a criança era facilmente substituída, em que pesa bastante também o fato de que morriam em grande proporção. Por isso a minha mãe e tantas crianças foram dadas. Não é só a miséria, no sentido de não ter o prato de comida para oferecer. É um modus operandi. Acontece que a minha mãe esteve no limiar de uma época – a metade do século 20 – em que as últimas folhas dessa árvore morta caíam. Note que Ariés aponta essa mudança de mentalidade já bastante observável na Europa do século XVIII. Muito antes do movimento feminista ou da revolução sexual: e você provavelmente já escutou a narrativa de que todas pessoas tinham um número enorme de filhos até as nossas avós, mas que “graças ao feminismo e à pílula” acabaram por mudar este comportamento. Este é o tipo de afirmação obtusa que só faz sentido dentro de um local de pensamento em que você nunca precise realmente debater com quem tenha estudado o fenômeno: isto é, só faz sentido dentro de um nicho ideológico, no palanque de uma seita ou grupos sectários nas redes sociais. De fato, a revolução sexual e, em bem menor proporção, o feminismo (pois, inicialmente, a pílula não foi uma bandeira do feminismo, mas do liberalismo liderado por homens) operaram grandes impactos na vida das mulheres. Para citar alguns, o sexo livre e sem compromisso, as doenças sexualmente transmissíveis no âmbito feminino, e, também, de limitar ainda mais o número de filhos das mulheres casadas. Mas não é verdade que estas duas coisas foram responsáveis pela mudança de mentalidade das famílias com relação aos próprios filhos, e nem de longe foram os catalisadores para a limitação do seu número.Essa mudança começou a ser operada mais de 200 anos antes da pílula: uma mudança de mentalidade dessa proporção leva séculos, e seu sucesso se deve não ao fato seco de impedir um número de filhos, mas sim à mudança afetiva e de finalidade educativa. A única maneira de inverter o padrão novamente- e fazê-lo se tornar uma regra – é igualmente mover e manter a preocupação dos pais afastada de uma elevada expectativa com relação a educação, ao mesmo tempo que mexa também com a expectativa afetiva. Não é preciso apenas imaginar: as sociedades ainda existentes que mantém o padrão assim se comportam. E as últimas folhas (leia-se aqui as últimas camadas da sociedade que não puderam se desapegar deste comportamento pelas vias da conscientização orgânica) só foram arrancadas com a implementação das políticas do que eles chamam de saúde reprodutiva. Era isso que a minha mãe, que crescia numa sociedade que se modificava e modernizava rapidamente, não conseguia perdoar na minha avó: por que ela não havia se planejado? Por que ela havia submetido a minha mãe a tantas desgraças, a começar por sequer ser responsável pelos filhos? Pessoas inconscientes como a minha avó ainda existem, mesmo nos grandes centros de cidades do século 21, mas elas são raríssimas exceções. Não há centenas tendo dúzias de filhos dessa maneira nem mesmo nas esquinas das periferias. Para além dos métodos artificiais de limitação dos filhos (não vou discutir a questão aqui, mas eu sou católica), o que finalmente parece ter se normalizado em toda a sociedade é a consciência da obrigatoriedade da educação como justificativa para se ter um filho.A família de minha avó paterna já vinha de gerações de uma mudança bem estabelecida dessa mentalidade, e em conformidade com a moral sexual católica, vinha reduzindo o número de filhos. Parece óbvio colocar as coisas nestes termos, de tal modo estas exigências de educação e amor foram se tornando naturais, e o fato de que somos insubstituíveis dentro da nossa família. Não se trata de dizer que não existia amor, antes, nas famílias, mas era diferente. Não se trata, também, de analisar o fenômeno como católico ou protestante – pois eu mencionei em texto anterior que a família de minha mãe era evangélica, e tal coisa pode ser tirada como consequência lógica comparando as duas histórias. Não. A diferença entre as duas cidades é, principalmente, um fenômeno social. Tanto é que minha madrinha (também mencionada na primeira parte deste relato) e muitas outras mulheres com as quais tive contato, católica e de família católica até onde as gerações anteriores lhe permitiam saber, teve uma história idêntica de número elevado de filhos e tipo de relação familiar, etc.

 

 

 

Humanização necessária

 

 

 

Todo esse preâmbulo para chegar ao ponto em que eu parei na primeira parte: “eu estava recebendo uma pressão enorme para desempenhar um papel que buscava um regresso ao momento histórico em que as coisas funcionavam melhor”: foi o que escrevi. Eu preciso deixar claro para a minha filha do que se trata, caso contrário, ela não será capaz de compreender. Embora eu tivesse uma história de vida marcante, e tivesse diante de mim dados suficientes para não absorver aquela nova forma de pensar a minha vocação feminina da maneira limitante como estava sendo, eu nada fiz com o que eu já tinha. Era como se eu não tivesse passado, e eu fui a ingênua menina de classe média, como se eu conhecesse apenas uma das cidades, e pudesse me dar ao luxo de me rodear daquelas etiquetas todas. No fundo, eu fui como a minha avó tocando hinos nas missas aos Domingos e engravidando de um homem casado em algum motel barato...Eu acreditei no que hoje se tornou um fenômeno de pensamento de certo ideal feminino, eu acreditei em algo que qualquer observação mais cuidadosa da realidade irá contradize-la. Eu fiz isso porque afetivamente eu queria pertencer a alguma coisa, e também porque tinha confiança nas pessoas que apareceram no meu caminho para me ensinar. Eu o fiz porque me converti e não permaneci na igreja, mas saí dela: eu estive rodeada de pessoas, grupos, comunidades de redes sociais, e publicações que me levavam mais para as trincheiras da guerra cultural e menos aos pés do altar. E eu fui porque isso era incrivelmente mais excitante e bélico! Este preâmbulo não é uma maneira de justificar a minha avó materna, mas de humanizá-la e compreendê-la. George Orwell escreveu: “Talvez alguém não deseje tanto ser amado como ser compreendido”. Somos capazes de amar até quem nos coloca numa situação limite ou tóxica. Mas a compreensão – e não somente o amor – é realmente a chave que pode nos libertar, já que num caso como o da minha mãe, o amor que ela sentia por minha avó era um componente a mais para lhe causar dor. Então, eu estive diante de uma pressão que me fazia enaltecer o estilo de vida da minha avó, a priori, e ver toda a geração da minha mãe (e, portanto, a minha mãe pessoalmente) como apenas um capítulo execrável na linha do tempo dos bons costumes. Pois é exatamente isso o que a ideologia e a mentalidade de seitas fazem: elas substituem a realidade, criam motivações e justificativas não apenas falsas, mas repletas de gatilhos que te coloquem necessariamente em posição de ação e reação contra um inimigo imaginário (nós contra eles).Talvez “pressão” seja realmente um eufemismo. De todo modo, era o que era e ainda é: você começa a fazer algumas associações na sua vida e em menos tempo do que poderia julgar quando estava sã, está comprometida como uma jovem aprendiz que ainda não sabe metade do serviço que terá de desempenhar, mas internamente sabe que você vai fazer. Eles – quem quer que sejam – já haviam me cooptado para pôr à prova toda a minha vida e a minha personalidade e já tinham colocado milhares de dúvidas a respeito de tudo o que eu considerava normal. Mas foi porque tudo isso mexia com quem eu fui e era ainda, mesmo submersa, que eu pude ir, aos poucos, me libertando. E eu só pude fazer isso a partir do momento que comecei a buscar compreender o que estava acontecendo comigo.E porque eu tinha pessoas tão concretas para me auxiliar neste caminho (as pessoas da minha história pessoal), eu não estive sozinha. E por que estou escrevendo esta história? Para que ela não se perca para a minha filha. Este espaço foi usado por alguns anos como forma da minha expressão pessoal: uma expressão que foi partilhada e usada por muitas pessoas de formas diversas. Mas o que eram estas questões dez anos atrás não é o mesmo que é agora; e eu tenho receio do que será no futuro. Pois a cada dia que passa, o comprometimento a esta causa se torna maior, está pulverizado por toda parte e está vindo o momento em que os perdigotos de cada uma dessas falas respingarão na face de toda pessoa bem-intencionada, que deseje saber a fundo a sua vocação, e não sabendo encontrar o caminho da verdade, de Cristo e da Igreja, irá encalhar neste entulhos. Eu falo em humanização, pois ao partilhar a primeira parte deste relato (descrevendo principalmente de que realidade veio minha mãe), uma reação comum foi a surpresa em saber que uma pessoa como eu, aparentemente tão bem criada, possa ter tido contato com este universo tão sofrido. Nós temos uma ideia muito vaga de como é a vida dessas pessoas na linha da pobreza, mas mesmo sendo vaga, nós sabemos que é terrível. Nós não vamos afirmar que nada de podre nunca acontece na classe média e alta: sabemos que acontece. Sabemos que eles podem descer fundo e, em certo sentido e condizente com a própria realidade, eles podem ser sofisticadamente mais grotescos quando o fazem. O mais tocante da história de minha mãe é que, estando no mencionado limiar, ela era agudamente consciente. Ela soube exatamente, enquanto passava por tudo aquilo, do que era digna e do que era merecedora: noções que tendemos a usurpar mentalmente de pessoas nessas condições. Nós achamos que uma cesta básica lhes basta, nós atribuímos a eles uma aceitação do destino que, de verdade, não possuem; nós (especialmente se somos muito ricos) gostamos de pensar neles como gratos pela vida, pelo pouco que têm, como se este pouco fosse apenas material. É por isso que tantas pessoas se referem às numerosas famílias antigas como as de minha avó como generosas: virtude que minha avó materna nunca teve. Apenas tangenciando este assunto (porque é claro que eu falarei dele para a minha filha de maneira ampla e aberta em alguma outra parte deste relato, cuja extensão eu não tenho e não planejo), esse tipo de abordagem – uma abordagem qualitativa de um fenômeno – tem como principal característica não a de enaltecer as pessoas e gerações específicas as quais se referem, mas sim a de pactuar as pessoas do presente. É sobre o que você vai fazer a respeito, como irá se posicionar a partir da apreensão de algo posto nestes termos, quando o que está em questão não é uma menção literária ou saudosista, mas sim uma definição com objetivos claros de mexer com a sua capacidade de raciocínio. E assim, guiar seus passos. Minha mãe foi movida por um senso de justiça e de compensação heroicos. Ela nos teve muito jovem: aos 21 e aos 24 anos, e já neste estágio, com um recente passado de degradação, ela nos criou com muito zelo. Em primeiro lugar, nos anos anteriores, minha mãe teve espírito o suficiente para buscar por si mesma alguma compensação cultural e lia muito. Ao nos ter, ela já sabia que tipo de educação nos daria, qual escola escolher, qual a educação sexual (ela só soube o que era menstruação no dia da menarca, então ela havia decidido nos dar informação a respeito desse tema desde muito cedo). Preocupada com alimentação saudável, esportes, nos colocou para jogar tênis por quase 10 anos. De verdade, eu não sei de onde ela conseguiu tirar tudo isso. Meu pai ficava muito impressionado com ela. Mais impressionada fico eu com a capacidade pessoal dela, mas como eu disse no começo deste texto: não é tão pessoal assim. Inúmeras pessoas passaram por isso e há inúmeras mães assim, neste momento histórico, dando essa guinada. Que o tenham feito com pílula ou sem pílula: é apenas um detalhe numa espetacular biografia.

 

 



1. Um conto de duas cidades é um romance de Charles Dickens que fala sobre a Revolução francesa. Assim narra o primeiro parágrafo: “Aquele foi o melhor dos tempos, foi o pior dos tempos; aquela foi a idade da sabedoria, foi a idade da insensatez, foi a época da crença, foi a época da descrença, foi a estação da luz, foi a estação das trevas, a primavera da esperança, o inverno do desespero; tínhamos tudo diante de nós, tínhamos nada diante de nós, íamos todos direto ao paraíso, íamos todos no sentido contrário – em suma, o período era em tal medida semelhante ao presente que algumas de suas mais ruidosas autoridades insistiram em seu recebimento, para o bem ou para o mal, apenas no grau superlativo de comparação.”

 

 

 

 

Não ter escrito antes

 

 



 

Nas redes, ainda que o espaço seja seu, parece que você está necessariamente dialogando com o que acontece lá dentro – de onde parece se estender o convite para as pessoas considerarem seu conteúdo quase como propriedade delas também. Mas eu dizia que o motivo principal de não ter escrito antes havia sido a ferida na minha alma por conta do que minha vida se transformou naqueles anos específicos (e as consequências).

 

 

 

 

Uma perspectiva de quem influenciou

 

 

 

 

Com isso não quero dizer que qualquer uma das coisas isoladas, em termos de decisões, tenha sido realmente responsável por tantos problemas na minha vida. Por exemplo: não usar calça por alguns anos. Quer dizer: consigo pensar em muitos momentos realmente desconfotáveis ao longo daquele tempo; consigo lembrar que era constante o fato de adaptar ou mesmo não viver experiências por causa disso (lembro particularmente de um emprego que não assumi), mas isolada a experiência foi mais estúpida do que maléfica. Aqueles dias passaram, eu estive bem. Todo o fato de que a partir de um determinado momento a minha vida se tornou uma narrativa: uma busca por um ideal, uma teoria de si mesma; um compromisso constante em corresponder (essa era uma palavra que eu usava muito, especialmente na minha mente, com relação a qualquer migalha que acontecia comigo), em ponderar, refletir, construir uma justificativa; o fato de que eu fui me tornando uma referência, que eu me comprometi com uma multidão anônima; a visibilidade por causa disso, ter ficado de certo modo condicionada à experimentar a vida através desse filtro: isso demorou bastante tempo para passar. A perspectiva que eu gostaria de dar, e que talvez seja bastante útil para quem deseja entender como funciona uma situação análoga, é a de que eu – para citar o evangelho – não sabia o que estava fazendo...são coisas para as quais eu estudei e acumulei experiência. Não quer dizer que eu esteja certa em tudo! São coisas que ocuparam e ocupam a minha vida, mas não são a minha vida plena. Parte do sucesso de As Chamas do Lar Católico era (como muitas pessoas me disseram ao longo dos anos) o fato de que era inédito: não havia dezenas de canais mostrando aquela perspectiva. Eu era muito esforçada e lia, então é claro que talvez do ponto de vista teórico eu tenha feito um bom trabalho em muitos momentos. Havia muita coisa misturada em uma velocidade incrível: o lado político conservador que estava crescendo a cada ano (antes de escrever aqui eu participei do blog Acarajé Conservador, que, para variar, foi um dos primeiros do gênero), os relatos de parto que depois se tornaram uma febre em grupos cristãos do Facebook (uma febre boa, não é um deboche), a perspectiva idealista do matrimônio católico, completamente centrado no papel bem delimitado que a mulher deveria cumprir, e por aí vai. Aquilo que eu achava ser uma curadoria tão minha era na verdade uma espécie de lógica bem consolidada na qual as pessoas entrariam por alguma das vias. E foi por isso que entraram. Não estou criticando quem, por conta da própria história, se identifique ou mesmo viva uma dessas realidades porque acredite estar coerente consigo mesmo. O que estou dizendo é que não tem como, dezenas de milhares de pessoas, ao mesmo tempo e sem qualquer experiência real de vida, de repente chegarem à mesma conclusão sobre como elas irão ser e viver daquele minuto em diante. Gostaria de colocar uma ênfase especial em “como elas irão ser daquele minuto em diante: porque isso poderia, alegremente, ter significado estar inflamado do Espírito Santo,poderia ser algo voltado para o Alto e, obviamente, para o que a palavra de Deus insiste tanto com o próximo.Só que Cristo, a santidade, as obras, a caridade, os pobres, os órfãos, o perdão que eu devia aos meus parentes; a missa, o prédio semi-destruído da igreja que eu frequentava, as pessoas bem específicas que Deus colocou ao meu lado; a minha tendência à arrogância, as pessoas que eu jamais procurei, mas poderia: tudo isso continuava ao meu redor e eu não estava em nenhuma delas. Tudo isso era a realidade, mas essa realidade teria que esperar – anos a fio – porque a ocupação central de toda a tendência contida naquele movimento era voltar cada pessoa ainda mais para si mesma; para uma espécie de escaneamento completo da própria conduta, a fim de reeducá-las. É por isso que depois de toda a ascensão desse cristianismo o que você vai observar como consequência em alto relevo é uma crescente demanda por um conteúdo que possa atender as pessoas que não estão satisfeitas com a própria conduta; que não estão conseguindo ser as esposas ou mães que gostariam; os profissionais que sonhavam, etc. Porque alguma dessas variantes é a preocupação central de todo mundo, é de fato a ação de ser cristão nesse contexto.Quanto aos pobres, os órfãos, a reforma do prédio da Igreja, o tempo doado para a comunidade; as missões inacreditáveis que algumas pessoas fazem até hoje: estas coisas continuam sendo feitas por quem – para citar George Eliot – leva uma vida oculta e descansa em túmulos não visitados. E nem mesmo o perdão aos parentes. Porque se a lógica é a reeducação da própria vida e a consequente adesão de novas, rígidas e implacáveis verdades, os parentes são apenas um obstáculo na corrida. É um consenso nesse meio que você não pode permitir que seus entes queridos deem a mínima opinião sobre o fato de que você agora se tornou uma pessoa irreconhecível que parece ter sido criado por outra pessoa, em outra região do Globo: é falta de maturidade da sua parte receber a influência direta de – digamos – seus pais. É claro que essa é apenas uma imagem daquele conto popular de Grimm onde o neto observa os pais que tratam o avô de maneira humilhante porque o velho não podia tomar a sopa sem a derramar pela boca, e por isso não podia sentar-se à mesa:

 

 



– “Estou fazendo uma gamela, – respondeu o menino, – para dar de comer a mamãe e papai quando eu for grande...” - (O avô e o netinho, Irmãos Grimm)

 

 

 

Claro que não será nada tão dramático. Essas crianças bem educadas em lares cujas almas estão fechadas para fora serão exatamente como seus pais quando crescerem e levarem a vida que decidirem: elas estarão fechadas para fora. A principal lição é essa, já que quase todo mundo foi “criado” de uma maneira e terminou por viver de outra. Quando eu escrevia sobre temas de comportamento cristão, há 10 anos, eu estava nesta espiral...Eu havia visitado comunidades paupérrimas em excursões com a minha paróquia; eu limpava os banheiros da minha igreja, eu participava das festas. Eu ia à faculdade e estava feliz saindo do período em que eu era de esquerda e ocupava reitorias. Eu estava namorando Vladimir há mais de um ano e fazíamos planos de ficarmos juntos (até hoje eu agradeço a Deus não o ter conhecido no meio tradicionalista, onde eu poderia confundir a nossa história com crenças particulares). Foi quando tudo aconteceu: o grupo de estudos do pensamento conservador, a TFP, os filósofos, tudo ao mesmo tempo.Naquele momento específico, quando nada ainda havia ganhado grande proporção, eu posso dizer que nenhuma dessas coisas parecia estar interligada. Pelo contrário: quando, por causa da proximidade com o grupo tradicionalista , eu passei a me vestir com modéstia e meus temas de estudo passaram de Shakespeare para As três chamas do lar , meus colegas estranharam muito. Estudar Eric Voegelin realmente não tinha nada a ver com os deveres da dona de casa. E talvez, no fundo, não tenha mesmo. Mas agora que aqueles primeiros conservadores se transformaram em um grupo gigantesco e heterogêneo, com mídias diversas e muitas vezes antagônicas entre si; agora que tudo isso se misturou, tantos se destacaram, um presidente foi eleito: agora me ocorreu também que não há centenas de Margareth Thatchers, não há Flannery O’Connor. No final, prevaleceu os deveres da dona de casa. Mas, meu Deus, como eu divago. O que eu estava dizendo mesmo é sobre o período em que eu tive de me recuperar de tudo isso. Quando eu publiquei meu post anterior, muitas mulheres me escreveram, aqui ou em privado, para relatar uma experiência quase idêntica de angústia e questionamento. Estes foram sentimentos que me acompanharam desde o primeiro dia em que eu comecei este caminho. E durante os anos de apostolado, que tipos de pessoas encontrei ao meu redor? Por exemplo: como eram as pessoas que me liam? Como eram as pessoas que me reconheciam nas igrejas (onde eu passei rapidamente a ser reconhecida, em qualquer lugar do Brasil onde eu fosse) e trocavam palavras comigo? Ora, eram semelhantes: estavam, em alguma medida, em angústia e questionamento. Adoravam o que eu escrevia, achavam lindo, me perguntavam como eu conseguia viver aquilo; quase sempre se colocavam numa escala abaixo de mim (“ainda não consigo corresponder tanto!”). Mas não estavam felizes. Sentiam-se representadas, acalentadas, afagadas pelas minhas reflexões que procuravam encontrar um sentido escondido em tudo, mas não eram pessoas dizendo que estava tudo dando certo, que aquela caminhada estava fluindo, que estavam bem psciologicamente. Os relatos eram extensos, pesados, na direção oposta.

 

 

 

Eu estava colhendo frutos desde o princípio mas não conseguia enxergar!

 

 

 

Quando eu finalmente saí desse ciclo, tive que começar a ajudar, ano a ano, a me reconstruir. Eu poderia ter vindo aqui e escrito durante todo o processo – porque escrever sempre foi terapêutico para mim – mas eu havia perdido muitas experiências simples da vida e queria aproveitar cada momento; além disso, eu não tinha nem a segurança e nem a clareza que eu tenho hoje sobre a minha história. Não se tratava de alertar ou mesmo acusar as pessoas que estavam nesse caminho ou que de alguma forma tiveram influência na minha vida. Claro: esse é o ponto em que eu preciso assumir a responsabilidade pelos meus atos e minhas escolhas, certo? Eu acho que cheguei em mais do que isso: ao olhar para trás, eu vejo mais do que uma pessoa que fez escolhas ruins e sem amadurecimento, eu vejo uma pessoa extremamente vulnerável. Você pode demonstrar ser uma pessoa inteligente, corajosa, esforçada, destemida, e não dar a mínima amostra de que é uma pessoa sem raízes fincadas em nada: não tem segurança emocional, e não revela nem para si mesma as reais motivações de se filiar a um grupo ou ideia. Pode ser simplesmente para suprir a família que você perdeu, porque seu lar se desfez. Por fora, não dá para saber qual é a árvore que criou um alicerce profundo. Além disso, no momento em que as tendências mudam, há o elemento surpresa de que muitas pessoas as seguem, a despeito de terem tudo para não fazê-lo. Enquanto os ventos sopram de um lado, multidões podem ser arrastadas. Passei um tempo, quando já estava bem mais tranquila com relação a tudo isso, dizendo a mim mesma: como pude ir por este lado? Eu me julgava forte, como foi que me derrubaram tão facilmente? Depois, quando o vento vai perdendo velocidade, é normal também que você note que há uma despressurização. Nesse sentido, considero que eu fui forte, pois pude sair justamente no momento em que muitas coisas já não estavam mais em grupos pequenos e restritos, mas eram dominantes. Fui forte, depois de ser tão vulnerável. E sou grata a Deus por isso.

 

 

 

 

Fonte: https://lucianalachance.wordpress.com/2021/09/

 

 

 



Lendo esse simples relato da Luciana, eu também percebi que havia transformado minha própria vida em uma narrativa ambulante! Quanta arrogância, orgulho e vaidade da minha parte, eu achava que não podia dividir minhas dúvidas ou reconsiderar algumas coisas, pois poderia estar condenando o outro ao inferno (como se Deus não tivesse vindo muito antes de mim e sua palavra não fosse resistir apesar de mim e de minhas dúvidas...MEU DEUS QUE ARROGÂNCIA de minha parte!). Quem observava de fora, não via nada de extraordinário, mas por dentro era sempre uma intensa guerra de angústias, questionamentos constantes, dilacerantes, e paralisante nos aspectos mais práticos da vida. Não experimentava nada daquela paz que Jesus nos prometia, a qual excede todo entendimento, apesar de estar inserido na mesma árvore, beber da mesma fonte, e comer de seus frutos.








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Neste Apostolado APOLOGÉTICO (de defesa da fé, conforme 1 Ped.3,15) promovemos a “EVANGELIZAÇÃO ANÔNIMA", pois neste serviço somos apenas o Jumentinho que leva Jesus e sua verdade aos Povos. Portanto toda honra e Glória é para Ele.Cristo disse-nos:Eu sou o caminho, a verdade e a vida e “ NINGUEM” vem ao Pai senão por mim" (João14, 6).Defendemos as verdade da fé contra os erros que, de fato, são sempre contra Deus.Cristo não tinha opiniões, tinha a verdade, a qual confiou a sua Igreja, ( Coluna e sustentáculo da verdade – Conf. I Tim 3,15) que deve zelar por ela até que Ele volte(1Tim 6,14).Deus é amor, e quem ama corrige, e a verdade é um exercício da caridade. Este Deus adocicado, meloso, ingênuo, e sentimentalóide, é invenção dos homens tementes da verdade, não é o Deus revelado por seu filho: Jesus Cristo.Por fim: “Não se opor ao erro é aprová-lo, não defender a verdade é nega-la” - ( Sto. Tomás de Aquino).Este apostolado tem interesse especial em Teologia, Política e Economia. A Economia e a Política são filhas da Filosofia que por sua vez é filha da Teologia que é a mãe de todas as ciências. “Não a nós, Senhor, não a nós, mas ao vosso nome dai glória...” (Salmo 115,1)

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