Em várias outras postagens neste blog (Berakash), tratamos de investigar as raízes do ódio comunista à família ao menos no plano de sua fundamentação teórica e de demonstrar, na medida do possível, as fragilidades dessa mesma sustentação. Nesta postagem, ocupar-nos-emos acerca do avanço de tal ideologia sobre o direito pátrio.A visão que Engels (repitamos mais uma vez, apoiando-se quase que inteiramente no antropólogo americano Lewis Morgan) tem da história humana revela muito do que viria a ser o movimento comunista. Uma vez que a propriedade privada e a família foram se formando aos poucos à medida que a evolução darwinista empurrava os agrupamentos humanos rumo à civilização, a conclusão óbvia é que, sendo uma construção da sociedade (e, acrescento eu: da sociedade opressora), então é possível que nos livremos de ambas.
Se nem uma nem outra são naturais
ao homem, então, podem ser descartadas. E, na visão do Sancho Pança de Marx, inapelavelmente serão, pois os
movimentos dialéticos da história nos conduzirão inapelavelmente para o próximo
estágio de nosso desenvolvimento social: o comunismo. Ora, Engels (mais uma vez
escorando-se em Morgan) alega que as sociedades primitivas eram todas
comunistas!
Assim, partimos todos do comunismo primevo, afastamo-nos dele pelo pecado da
acumulação de riquezas fomentado no interior das famílias e ao comunismo
voltaremos, agora, pela revolução. Para Marx o comunismo é o ponto de partida e o de chegada da
história. O alfa e o ômega; o princípio e o fim de nossa caminhada. Engels
consegue unir, numa única explicação da história, Hobbes a Rousseau: o bom
selvagem primitivo que um dia caminhou por aqui voltará, de fato, a habitar a
terra; porém, isso se
dará com uma pequena ajuda de Leviatã.
Não é difícil de perceber, nessa visão ideológica, algo de
messiânico!
É mesmo como se a narrativa cristã da Queda e da Redenção tivesse sido imanentizada e projetada na história. A salvação dos homens, contudo, não vem da cruz dos novos salvadores da humanidade; antes, vem da revolução do proletariado, a última classe e aquela que nos redimirá pelo derramamento não de seu próprio sangue, mas pelo do seus opressores!
O apelo emocional que tal
discurso desperta no militante comum é, pois, algo semelhante a um apelo religioso,
não sendo de se estranhar que muitos comunistas, mesmo que não crendo em vida
após a morte, estão dispostos a sacrificar a que possuem pelo advento de uma
sociedade livre de todo mal e de todo pranto.
Mas, o advento desse paraíso requer, em primeiro lugar, a
destruição da família!
Como pontificou Kate Millett, célebre feminista americana radical, em sua obra de referência Sexual Politics (g.n.): “o resultado radical que surge da análise de Engels é que a família, como nós a temos hoje em dia, precisa desaparecer”.[1]Mas, para isso, era necessário que se dessem determinados passos. Uma instituição tão antiga e tão enraizada no coração dos homens não é abolida senão mediante uma série de medidas destinadas a miná-la desde dentro.Engels pregava, por exemplo, que, para se chegar à destruição da família, era necessário que a mulher fosse inserida no mercado de trabalho: A ideia de que ela pertence mais ao lar do que à fabrica deveria ser absolutamente demonizada, incentivando-a a lutar por postos de trabalho ombreados com o dos homens.
O problema óbvio que daí deriva é o de que, se elas adentrarem em massa no mercado de trabalho, não haverá quem cuide dos filhos em casa (obrigando os filhos a ficarem aos cuidados do Estado). Essa sempre foi uma das tarefas da mulher e, em virtude dela, é que a divisão sexual do trabalho acabou por levar ao acúmulo de propriedade privada nas mãos do homem e, via de consequência, à própria submissão da mulher na família monogâmica. Não é possível destruir-se a família, portanto, se a mulher continuar a cuidar de seus filhos, pois a imposição de tal tarefa ao sexo feminino é a causa primeira da estrutura familiar tal qual a conhecemos. É por isso necessário que, de um lado, a mulher possa escolher não ter filhos (aborto e contracepção livres são ideais a serem seguidos) e, de outro, que a educação e o cuidado das crianças que vierem a nascer passe das mãos da família para as do Estado. Nas palavras de Engels: “O trato e a educação das crianças vão se tornar assunto público; a sociedade cuidará, com o mesmo empenho, de todos os filhos, sejam legítimos ou naturais.”
Mais do que isso, é absolutamente
necessário que o divórcio venha a ser introduzido nas sociedades ocidentais!
O
vínculo matrimonial não pode mais tender à indissolubilidade; antes, a relação entre homem e mulher deve
acabar assim que a atração sexual entre ambos esfrie (as mulheres que me leem
podem avaliar se isso realmente atende aos seus interesses), e a separação
entre ambos deve ser a mais facilitada possível. Eis o que diz Engels (g.n.):
“Se o matrimônio baseado no amor é o único moral, só pode ser
moral o matrimônio em que o amor persiste. Mas a duração do acesso de amor sexual é muito
variável, segundo os indivíduos, particularmente entre os homens.
Em virtude disso, quando o afeto desaparece ou é substituído por um novo amor
apaixonado, o divórcio será um benefício tanto para ambas as partes como para
a sociedade. Apenas
deverá poupar-se ao casal a passagem pelo lodaçal inútil de um processo de
divórcio.”[2]
Até aqui, já se tem um cadinho de
medidas bastante drásticas. E os líderes do movimento comunista assimilaram
tais ideias desde logo. Assim que Lênin tomou o poder em Outubro de 1.917,
tratou de implementar as sugestões de Engels. Segundo a própria Kate Millett:
“A União Soviética fez um esforço consciente na tentativa de
eliminar o patriarcado e de reestruturar sua instituição mais básica – a
família. Depois da revolução, toda possível lei foi aprovada para libertar os
indivíduos das reinvidicações da família: casamento e divórcios livres, contracepção, e aborto a pedido.”[3]
Em sua obra “A Revolução Traída”, Trotsky descreve-o com cores vivas (g.n.):
“A revolução (de Outubro de 1.917) tentou heroicamente destruir o velho “lar familiar” estagnado, instituição arcaica, rotineira, asfixiante, no qual a mulher
das classes trabalhadoras era votada aos trabalhos forçados da infância até a
morte. A família, considerada como uma pequena empresa
fechada, devia ser substituída, no espírito dos revolucionários, por um sistema
completo de serviços sociais (…) A absorção completa, por parte da sociedade
socialista, das funções econômicas da mulher, ligando toda uma geração pela
solidariedade e assistência mútua, devia levar a mulher, e portanto, o casal, a
uma verdadeira emancipação do jugo familiar. E, enquanto essa obra não tiver sido realizada, quarenta milhões de
famílias soviéticas se manterão vítimas dos costumes medievais, da sujeição
e da histeria da mulher, das humilhações cotidianas da criança, das
superstições deste e daquele. Sobre isto não há ilusões.”[4]
Trotsky, contudo, percebeu que a
revolução não conseguiu lograr o objetivo de destruir a família. Para ele, não houve recursos suficientes
para que o Estado soviético conseguisse tecer a rede assistencial que, em seus
sonhos, tornariam a família irrelevante e, portanto, facilmente removível da
sociedade.
Quase que num suspiro de desânimo, na mesma obra acima, ele asseverou (g.n.):
“Não se conseguiu tomar de assalto a velha família. E não foi por falta de boa vontade. Nem
porque ela estivesse firmemente enraizada nos espíritos. Infelizmente, a
sociedade mostrava-se demasiado pobre e pouco civilizada. A família não pode ser abolida. É preciso substituí-la!”
Substituí-la exatamente por quê? Trotsky não o diz...
Talvez pelo próprio Estado
assistencialista, conforme sugerido na primeira citação. Isso, contudo, não é
claro. Mas,
coincidência ou não, a substituição da família tradicional por outros “modelos”
é estratégia amplamente adotada nos dias de hoje, mostrando-se muito mais
eficaz do que o combate direto, o “assalto” à velha família tal qual tentado no
começo da implantação do Estado soviético (como a separação das famílias em
fazendas-estados longínquas). De fato, aparentemente, Lênin foi ingênuo ao imaginar que
bastava a força motivacional de sua ideologia semirreligiosa para que a nova
sociedade perfeita se concretizasse. O enfraquecimento da família, por mais que não se gostasse disso,
levava ao enfraquecimento da própria sociedade soviética. Stálin, por sua vez, nutria sonhos de uma campanha
militar que o permitisse tomar ao menos boa parte da Europa, percebendo ele, desde
logo, que, sem famílias sólidas, qualquer campanha militar seria suicida!
Resultado dessa "UTOPIA": "Quando não se tem motivos para viver, não se tem também, por quem ou pelo
que morrer! Simples Assim!
Assim, teve Stálin de, em pouco
tempo, não
somente reverter os esforços de Lênin, mas tratar de agir em sentido oposto: o
divórcio, a contracepção e o aborto foram abolidos da União Soviética e o
governo passou a incentivar que a mulher voltasse a ocupar seu lugar
tradicional. "Famílias numerosas eram benvindas" e até mesmo campanhas pela castidade entre os
jovens passaram a fazer parte do discurso do Estado, para que os jovens buscassem o casamento e a procriação!
Ou seja, Stálin percebeu que uma
sociedade forte depende de famílias
fortalecidas!
O
sonho de Lênin e de Trotsky era exatamente isso: apenas um sonho utópico-socialista! E que
provavelmente se tornaria um pesadelo caso o novo líder quisesse mantê-lo de pé. Daí que Stálin tratou logo de
trazer a URSS de volta para a realidade, ao mesmo tempo em que tratou de exportar o pesadelo para as
potências ocidentais de
forma a enfraquecê-las. Onde Lênin fora ingênuo, Stálin soube ser sagaz. Muitos, porém, acusaram-no de trair a
revolução e de “aburguesar” o homo sovieticus. Para mentes envenenadas por
ideologias, se a revolução falha (como sempre há de falhar) em mudar a
realidade, isso se dá não porque a ideologia revolucionária é ela mesma falha,
mas porque os que conduzem o processo da revolução é que se desviaram do bom
caminho. A ideologia é
sempre boa; falhos são os ideólogos que a põem em prática.
Por mais que o comunismo tenha
se mostrado uma tragédia sem precedentes em qualquer lugar em que tenha fincado
os pés, o Ocidente, nas últimas décadas, resolveu seguir, exatamente à risca os
caminhos acima traçados e já abandonados pelos Comunistas!
Tomemos,
como exemplo, o
nosso Brasil, país em que a maior parte da população sempre mostrou uma aversão
completa ao comunismo. Quem
já estudou um pouco da evolução das legislação e jurisprudência brasileiras pode
perceber, claramente, que elas vêm adotando, com exatidão notável, todos os
elementos acima:
1º)-O divórcio, por exemplo, foi
introduzido pela Lei 6.515/77. Pouco depois, a Constituição Federal de 1.988
introduz a ideia de união estável (que, conforme preconizara Engels, dura
enquanto perdura o “acesso de amor sexual” entre os companheiros). A legislação que se segue vai aos
poucos enfraquecendo o vínculo do matrimônio (tornando-o de dissolução cada vez
mais célere ao ponto de “poupar o casal do processo de divórcio”) e
incentivando “novas formas de família”. Uma vez que a legislação avança
lentamente, a jurisprudência trata de dar saltos cada vez maiores em direção ao
ideal de Trotsky: aceita-se um número cada vez maior de “modelos” de família,
substituindo o modelo tradicional sem destruí-lo diretamente.
2º)-Ao mesmo tempo, a
legislação pátria passou a minar as relações familiares, intoxicando-as com o
veneno da judicialização dos conflitos. A autoridade dos pais sobre os filhos
foi enfraquecida e o Estado passou a monopolizar, de direito e de fato,
a educação das crianças.
3º)-Legislações que garantem o acesso
amplo e praticamente irrestrito à esterilização se impuseram, tomando o Estado
para si a tarefa de distribuir contraceptivos fartamente aos que o desejam.
4º)-E mesmo o aborto, em nosso país,
avança via decisões judiciais apesar da franca resistência do povo brasileiro.
Eis aí todos os ingredientes da
receita comunista: divórcio;
contracepção; aborto; educação estatal obrigatória das crianças; reconhecimento
de formas de família diversas do modelo tradicional. Como já dito, no Brasil
segue-se com exatidão tão notável a cartilha comunista, que pressupor que tudo não passa de
mera coincidência é coisa de bocós.
Marx e Engels, Lênin e Trotsky ficariam orgulhosos dos brasileiros
hodiernos! Já Stálin rir-se-ia de nossa burrice!
O camarada Stálin de seu túmulo ficou imensamente feliz ao
ver que nós (os bocós) alegremente, e com ares de superioridade intelectual, vamos minando a família e,
com ela, enfraquecendo a tal ponto a sociedade que nos tornaremos, em pouco tempo,
incapazes de defender as conquistas civilizacionais de nossos antepassados.
Ao final de tudo, muito embora a
maior parte dos brasileiros (talvez mesmo entre os magistrados) abomine o
comunismo enquanto sistema econômico, o fato inconcusso é de que são muito poucos
os que estariam dispostos a lutar contra todo o patrimônio cultural que os
próceres comunistas nos legaram: divórcio, união estável, contraceptivos, etc.
A quase totalidade de nós vê nisso tudo um avanço a ser celebrado! Marx, Lênin e Stálin com toda certeza, estão muito orgulhos destes brasileiros(as) bocós!
CONCLUSÃO:
Aos que assim pensam, lamento informar, mas, ao menos de coração, voi siete tutti comunisti. Podem ter vergonha da obra intelectual de Marx e de Engels; podem sentir horror ante a figura assustadora de Lênin ou ante a um tanto quanto patética de Trotsky. Mas isso não muda o fato de que os apoiadores de tais “avanços” são ou idiotas úteis ou companheiros de viagem. E, ao cabo de tudo, acabam importando para nosso país exatamente a fraqueza desejada por Stálin. Com Marx, Engels, Lênin, Trotsky e Stálin como inspiradores secretos dos rumos do direito em nosso país, não há mesmo como a receita da destruição social falhar…
Fonte: https://mmjusblog.wordpress.com/2018/06/08/a-receita-comunista-para-a-destruicao-da-familia/
O número de famílias numerosas está crescendo de maneira significativa na Rússia!
Segundo um documento elaborado por Alexei Vóvchenko, primeiro vice-ministro do Trabalho, há hoje no país mais de 1,5 milhão de famílias com pelo menos três filhos – um aumento de 25% em relação ao último censo, em 2010. A tendência é resultado de uma política de apoio estatal que, entre outras medidas, garante auxílio econômico a famílias com dois filhos ou mais. “Hoje em dia, as famílias numerosas não são apenas uma parte a mais da sociedade, mas um suporte para o Estado e para seu desenvolvimento futuro”, disse Pável Sychiov, vice-presidente da Comissão da Câmara Civil para a Proteção da Família, Infância e Maternidade. Para ele, as famílias numerosas surgem quando “existe confiança no amanhã”. Em 2012, o presidente Vladimir Putin declarou como objetivo nacional o aumento do número das famílias com três filhos. Para Yuri Krupnov, presidente do Conselho de Observação do Instituto de Demografia, Migração e Desenvolvimento Regional, a meta agora deve ser a família com quatro filhos.A medida de maior destaque implantada pelo governo para incentivar as famílias a terem mais filhos é o programa “Capital Materno”, que dá 453 mil rublos – o equivalente a cerca de 25 mil reais – à mãe por ocasião do nascimento de cada filho, a partir do segundo. Segundo Krupnov, medidas como essa não são um gasto, mas um investimento no futuro.Na Rússia, existem 1,2 milhão de famílias com três filhos, 23 mil com quatro e 95 mil com cinco a sete filhos, além de 5 mil com oito a dez filhos e 929 com onze filhos ou mais.
Fonte: Gazeta do Povo
REFERÊNCIAS:
[1] No original: “The radical outcome of Engels’ analysis is that the family, as that term is presently understood, must go”.
[2] Cf. ENGELS, Friedrich. A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado, Rio de Janeiro. Ed. Best Bolso, 2.014, E-book.
[3] The Soviet Union did make a conscious effort to terminate patriarchy and restructure its most basic institution—the family. After the revolution every possible law was passed to free individuals from the claims of the family: free marriage and divorce, contraception, and abortion on demand
[4] TROTSKY, Leon. A Revolução Traída. Acesso em 04 de Junho de 2.018. Disponível em: https://ia800605.us.archive.org/35/items/TROTSKYLEON.ARevoluoTrarda/TROTSKY%2C%20LEON.%20A%20Revolu%C3%A7%C3%A3o%20Tra%C3%ADda.pdf
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