No filme “A Sétima
Morada” sobre Santa Benedita da Cruz, nascida Edith Stein. Na altura dos 34:22
min do filme (no link baixo), Edith Stein explica o que é FENOMENOLOGIA para
sua sobrinha de apenas 10 anos, e esclarece o que é o EU REAL e EU IDEAL a
partir de um piano:
https://www.youtube.com/watch?v=BEqFPqeVilA
Estamos acostumados a viver num mundo virtual, de relações fictícias, como
se a cada momento tivéssemos de seguir instruções. Empobrecemos a nossa razão
porque empobrecemos a nós mesmos. A filosofia nos ajuda a viver a vida
com densidade, a crescer, a levar
a sério a nossa existência. A figura de Edith Stein não representa
apenas a recuperação de um modo de conhecimento como o filosófico, mas a recuperação da própria razão. Edith
nos ensina que a razão se amplia, é viva, histórica, inclusiva, não se detém diante
dos próprios limites, mas é abraçada e acolhida pelo Mistério que a engrandece.
Para Edith Stein vocação é chamado,
origem e destino. Vocação a ser mais nós mesmos. Vocação é a
característica que mais nos define. A verdadeira vocação é a entrega, a
capacidade de amar, que é o sustento fundamental da vida comunitária. Essa
vocação, como a própria Edith descreveu em várias conferências, se manifesta na
dignidade da mulher, esposa e mãe, sustento da vida, protetora da vida
nascente, e também na Igreja,
como esposa de Cristo, que
abraça a sua vocação de serviço à vida humana em todas as suas dimensões a
partir de uma lógica nova, a do dom e do sacramento, porque Cristo é quem faz
novas todas as coisas. E isto é o que precisamos recuperar com
urgência para voltar a ser o que somos: homens livres, criados à imagem e
semelhança de Deus, que conquistam, no serviço aos outros, o nome com que foram
chamados; o seu verdadeiro nome. Edith Stein encontrou no carmelo, vida comunitária, essa
vocação de serviço à humanidade. Tornar-se carmelita não foi uma fuga
do mundo intelectual em que tinha dado tantos frutos: foi simplesmente um modo
de se entregar mais e servir melhor a partir da verdade que tinha encontrado. Não há amor sem verdade
e não há verdade sem amor. Santa Teresa Benedita da Cruz ofereceu
a vida por todos os homens e pela paz verdadeira. Ela foi presa em vingança
pela sua denúncia pública, lida em todas as igrejas da Holanda, contra a
perseguição perpetrada pelas autoridades nazistas. Foi então emitida a ordem de encarceramento contra todos
os judeus do país que tivessem se convertido ao catolicismo. Edith entregou sua
vida unida ao destino do seu povo, a partir da convicção de que, em Cristo,
cumprem-se as promessas feitas ao povo
de Israel.
Edith
Stein tinha publicado um pequeno artigo no mês de maio de 1924 no Anexo
Científico do Jornal Novo para a Região do Palatinado. Ele é o
primeiro de uma série de textos nos quais Stein apresenta a sua própria visão
da fenomenologia. O artigo está
dividido em duas partes:
a)-A
primeira parte oferece um esboço histórico do movimento fenomenológico.
b)-A
segunda parte apresenta os principais conceitos do método fenomenológico: “objetividade
do conhecimento”, “intuição” e “idealismo”.
É
o primeiro texto em que Stein deixa claro que, segundo ela, a fenomenologia
possui um grande potencial para superar a divisão da filosofia em “filosofia
(neo-) escolástica” e “filosofia moderna” (kantiana). É interessante notar que
esta posição torna-se uma constante no pensamento de Stein, basta pensar no
diálogo entre Husserl e Tomás de Aquino “O que é Filosofia” (1929), mas também
na sua obra prima “Ser Finito e Ser Eterno” (1935). Stein defende a possibilidade
de um conhecimento objetivo e a abertura real do espírito cognoscente para a
verdade, pois “o espírito encontra a verdade, ele não a
inventa”. Traça a sua visão de
fenomenologia que não necessariamente precisa ser “idealista”, visto que ela considera
o idealismo apenas uma “convicção pessoal de Husserl”, e não uma necessidade
intrínseca do método, abrindo assim o caminho para uma fenomenologia realista,
capaz de desenvolver até uma ontologia universal. Discutem-se
no meio acadêmico as contribuições de Edith Stein para compreensão da relação
pessoa-comunidade. Adotando o método fenomenológico, a estrutura da pessoa humana – nas
suas dimensões corpórea, psíquica e espiritual – é explicitada de forma
orgânica e interdependente por Stein, reconhecendo a relação propriamente
comunitária como elemento essencial no processo de formação pessoal.
Comunidade vem considerada não apenas como agrupamento humano, mas
estruturalmente como um tipo de relação interpessoal, marcada pelo
posicionamento da pessoa a partir do uso da razão e liberdade. A comunidade é considerada em analogia à pessoa humana, sendo
essencial para sua definição e para a apreensão de seus aspectos originais, o
reconhecimento e o posicionamento das pessoas. A relação pessoa-comunidade é essencialmente uma
relação de interdependência constitutiva, onde os aspectos ativo e passivo da
pessoa e da comunidade são necessários no processo de tornarem-se si mesmas, o
que só pode acontecer a partir de uma abertura recíproca.Edith
Stein, discípula de Edmund Husserl, apropriando-se do método fenomenológico,
dedicou-se a pesquisas visando uma fundamentação filosófica da psicologia e das
ciências do espírito, discutindo temas de antropologia filosófica e psicologia.
No
decorrer de sua obra, enfrentou diretamente o tema da pessoa e da comunidade,
explicitando seus elementos essenciais e interconstitutivos de forma precisa e
filosoficamente rigorosa.As contribuições desta autora estão sendo
retomadas recentemente no âmbito da filosofia e da psicologia, por oferecerem respostas
a um problema recentemente enfrentado sobre o tema da pessoa e comunidade.Já
ao final de sua pesquisa sobre o problema da empatia, Stein (1917/1998)
identifica que no homem existe um eu que apreende a realidade e seus
significados, acolhendo em si os valores e significados dos dados que lhe são
oferecidos na experiência pela sua realidade, reconhece-se nele um sujeito
espiritual como correlato deste mundo espiritual (Stein, 1917/1998, 1922/1999n,
1932-33/2000, 1932/2001).Reconhecer a dimensão espiritual da pessoa significa
apreender o espírito como um “emergir de si mesmo” e uma “abertura para” o
mundo objetivo das coisas da natureza, para o mundo subjetivo da experiência
dos outros seres humanos ou do ser divino (Stein, 1922/1999n, 1934-36/1996). A
dimensão espiritual da pessoa implica a possibilidade estrutural de abertura
para o outro, para as coisas e para si mesma, num processo de apreensão que
remete à presença da razão. Através da razão, a pessoa organiza suas impressões
e sensações vivenciadas ao encontrar com a realidade, identificando e
elaborando seu sentido. É pelo sentido que a pessoa conhece a realidade,
acolhendo-o e elaborando-o, pode emitir um juízo sobre si mesma e sobre a
realidade. A “possibilidade” reflexão, juízo, implica reconhecer a liberdade e
a vontade como elementos essenciais da pessoa humana, uma vez que ela pode
atualizar ou não estas potências (Stein, 1932-33/2000).A vida
espiritual é o campo mais autêntico da liberdade, onde a pessoa toma iniciativa
de se posicionar diante da realidade que lhe é oferecida, expressando-se e
atuando de forma criativa (Stein, 1934-36/1996). Através dos atos livres como a
decisão, a aceitação ou rejeição de um pensamento ou impulso, a pessoa confere
uma direção definida à suas ações, podendo entregar-se a um certo conteúdo da
experiência e dirigir a sua vida rumo a um propósito.A
abertura da pessoa não é apenas para o mundo exterior das coisas e dos outros,
mas também para o seu mundo interior, para sua vida consciente e para os
conteúdos valorativos que ela acolhe em si (Stein, 1934-36/1996). Voltar-se
para si mesma, possibilita um reconhecimento dos aspectos essenciais da sua
pessoa, suas necessidades e exigências, de forma que ela pode se envolver
ativamente no seu processo formativo e conferir um propósito para suas ações.A vida espiritual está
essencialmente vinculada aos estados psíquicos (força vital psíquica) e aos
estados sensíveis da corporeidade (força vital sensível). Ao mesmo tempo que
vem por estes alimentada, exerce uma influência sobre estes através da força
vital espiritual (Stein, 1922/1999n). A força vital espiritual tem sua fonte nos
valores objetivos (mundo cultural) e nos valores subjetivos (influxo recebido
da tomada de posição dos outros em relação a si), alimenta toda a dinâmica
vivencial através dos propósitos, das tomadas de posição voluntária e das ações
livres.A pessoa vivencia sua unidade com sua corporeidade e psique através do
espírito. Os valores e significados apreendidos pelo espírito provocam uma
tomada de posição espontânea através dos sentimentos (dimensão psíquica) e,
reconhecendo-os, a pessoa pode agir de forma concreta posicionando-se ou
atuando no seu ambiente e adotando o corpo próprio como
instrumento do espírito. Agindo assim, a pessoa pode viver a
partir do seu centro, configurando sua personalidade e assumindo uma autêntica
existência (Stein, 1922/1999n).
(conflitos e consequências da má vivencia do Real e Ideal) |
Quando me dedico a
apreciar uma determinada paisagem, conforme exemplo utilizado por Stein, na
medida em que estou vivenciando esta atividade, me dou conta que
simultaneamente estou exposto a vários estímulos externos e internos. Enquanto
aprecio a paisagem, uma preocupação pode estar presente ali, na minha vivência,
mesmo que eu não esteja voltado prioritariamente para ela, devido ao propósito de
me permitir a apreciar a beleza da paisagem. Se considerarmos que a preocupação
se refere a um problema muito importante, posso me voltar a esta que ocupa um
lugar mais “profundo” e “central” na minha experiência ou me voltar à
apreciação da paisagem, o que em relação à primeira ocupa um lugar mais na
“superfície” da minha alma (Stein, 1932-33/2000). Daquele “centro” da minha pessoa,
reconhecido nas vivências centrais, estes conteúdos provocam um impulso para
serem considerados e priorizados pela pessoa, embora o eu possa acolher ou
rejeitar este impulso. Quando a pessoa está atenta a estes conteúdos que
emergem de seu centro, ela pode se sentir mais integrada e em paz, porque vive
por inteiro a si mesma e deste lugar central pode acolher as impressões
que recebe do mundo exterior ou interior e se posicionar voluntariamente diante
delas.
O processo de tornar-se si mesmo!
Quando falamos em
formação, pensamos sempre em formar algo a partir de uma imagem ou projeto a
priori. Na pessoa, a matéria a ser formada não consiste em uma matéria inerte
que está exposta à modelação e formatação a partir do exterior (como a argila),
mas constitui-se como uma matéria viva que já está em processo de formação
desde o início de seu desenvolvimento (Stein, 1930/1999o). Na pessoa, a alma humana carrega
em si uma força para o desenvolvimento numa determinada direção, na direção de
uma certa estrutura que é a personalidade madura com suas características
claramente definidas (Stein, 1930/1999o, 1930/1999c, 1932/1999m; Mahfoud,
2005b). A corporeidade, a psique e o espírito estão submetidas a este
processo e a pessoa não pode se tornar qualquer coisa, senão aquilo que de
alguma forma já se encontre inscrito em seu ser pessoal. No seu processo de formação, a pessoa não é considerada apenas na sua dimensão passiva
de acolher aquilo que lhe é oferecido exteriormente, nem tem sua
atividade reduzida apenas a uma reatividade, mas elabora os materiais que
acolhe em si do mundo externo, pode escolher o horizonte cultural do ambiente
que a forma e até mesmo agir na direção de mudar este ambiente que para
ela é formador (Mahfoud, 2005b). Tratando-se da pessoa, as múltiplas forças que
agem no seu processo formativo são constituídas daquela interior, referente à
sua alma intelectiva, e daquelas exteriores, referente ao seu mundo cultural
onde acolhe obras e valores – criados também pela ação construtiva da pessoa
mesma (Stein, 1930/1999o, 1930/1999c, 1932/1999m, 1932-33/2000).O
material a ser moldado é constituído de um lado pelas aptidões físicas e
psíquicas com que o ser humano nasce, pelo material que lhe é constantemente
acrescentado de fora e que deve ser assimilado pelo organismo. O corpo
retira este material do mundo físico, a alma do ambiente espiritual, do mundo
das pessoas e dos bens que deve alimentar-se (Stein, 1930/1999c, p.137).A
comunidade participa desde o início do processo de formação da pessoa (Stein,
1930/1999c). Inicialmente, através da comunidade da família, as primeiras
necessidades físicas e espirituais são respondidas e as condições de
desenvolvimento são garantidas. Gradativamente, a pessoa vai se introduzindo em
outras comunidades e vendo despertar em si uma série de aptidões que ainda
poderiam permanecer adormecidas (Stein, 1922/1999n). As
vivências propriamente comunitárias agem na direção de possibilitar a apreensão
de significados e valores compartilhados, suscitar propósitos que motivarão as
ações concretas da pessoa e de seu posicionamento diante dos outros, até mesmo
criando obras culturais fortalecendo a vida da comunidade que por sua vez
influenciará de modo mais efetivo seu processo de formação pessoal. Existem certas características que só podem ser
desenvolvidas na pessoa através de uma convivência comunitária, como a
humildade ou orgulho, altruísmo ou ambição. A formação humana não se dá de
maneira aleatória, nasce de uma forma interior que carrega em si disposições
originárias e se dirige para uma forma ideal ou um modelo a ser seguido, que
tanto pode ser adotado livremente e perseguido como um ideal ou proposto
exteriormente (Stein, 1932-33/2000). Adotar um modelo externo e se
dedicar à sua simples imitação implica riscos, sobretudo, de uma existência
impessoal e de reproduzir uma personalidade que não lhe é própria, mas anexada
de forma alienante. O ideal educativo deve considerar a natureza própria da
pessoa, harmonicamente desenvolver as potencialidades positivas e inibir aquelas
que podem ser desfavoráveis ao tornar-se si mesmo.
Possibilidades
e limites de conhecimento da autenticidade
Uma vez que Stein
disponibiliza as ferramentas teóricas para o conhecimento da autêntica
individualidade, trata-se de perguntar sobre o que é possível conhecer dela. O
que sou, segundo minha essência geral, disso posso ter conhecimento em um amplo
trabalho intelectual, isto é, conseguir conhecimento compreensível em conceitos
gerais e palavras. Porém, a consciência imediata de mim mesmo não
é esse conhecimento, mas só um dos pontos de partida para chegar a dito
conhecimento. O que sou como indivíduo espiritual não é geralmente acessível a
nenhum conhecimento racional (em um sentido que acabamos de estabelecer). Enquanto coisa simplesmente única, o indivíduo não
pode ser reconduzido a conceitos universais, no máximo pode ser chamado com um
nome próprio. Porém, por essa razão, não é completamente irreconhecível e
desconhecido. O que sou, ou eu com o que sou, sou para mim (e também para
outros) de uma certa maneira. Este quid [o que] se encontra em como. Estou em
cada momento em uma certa atualidade, inclinado a esse ou àquele objeto, mas ao
mesmo tempo eu me “sinto” disposto emotivamente desta maneira ou de outra
(Stein, 1931/2007, p. 364, tradução nossa). É possível percorrer um caminho de
autoconhecimento para acessar aquilo que somos. A isto podemos captar a partir
de uma reflexão intelectual das vivências internas e expressivas, mas também
somos ajudados pelos relacionamentos interpessoais, via empatia, a colher
algumas informações que não nos seriam imediatamente acessíveis (Stein,
1917/1998, 1922/1999).Sobre o primeiro
aspecto, a tomada de consciência pessoal das próprias vivências, isto é, a
consciência pessoal de mim mesmo, ocorre em um gradativo processo de apreensão.
Contudo, o conhecimento das especificidades tem limites. Não é possível esgotar o
conhecimento de si mesmo, uma vez que sempre carregamos um conjunto de
potências inerentes ao nosso núcleo que ainda não foram atualizadas, um dever
ser que só pode ser conhecido na medida em que a realidade nos solicita.
Ao mesmo tempo, carregamos na interioridade de nossa alma aspectos profundos
que sedimentaram em si um conjunto de sentidos que se apresentaram em alguma
situação e que podem estar motivando implicitamente as decisões, sem que
tenhamos consciência desses aspectos que nos formam (Stein, 1934-1936/1999). Tudo
que entra na alma a partir das vivências pode chegar a modificar várias
disposições afetivas e motivar ações bem distintas. Ao escolher uma
possibilidade de ação, escolhe-se uma entre várias possibilidades de atualizar
o próprio potencial humano, escolhe-se uma direção para o que se pode ser não
aleatoriamente e não sem limites. Esses aspectos podem ocorrer de
maneira velada, não apreendida imediatamente ou facilmente pela pessoa.
Trata-se de aspectos mais profundos, ora sombrios, de nossa alma, como nomeia
Stein (1934-1936/1999).
A relação
pessoa-comunidade discutida por Edith Stein oferece à psicologia uma fundamentação
filosófica rigorosa, explicitando os aspectos dinâmicos e
orgânicos, bem como a essência interdependente e interconstitutiva da pessoa e
da comunidade. Não é possível falar de pessoa e de seu processo de
formação excluindo a relação propriamente comunitária como via de construção e
expressão, como também não podemos falar de uma comunidade desconsiderando a
pessoa que se posiciona a partir de sua razão e liberdade. A pessoa é apreendida em termos
de unidade em suas dimensões corpórea, psíquica e espiritual, sendo
constitutiva sua abertura para o mundo natural e cultural, o que enfatiza a
relacionalidade como fator essencial na formação pessoal. O conceito de
pessoa aprofundado na análise fenomenológica de Stein explicita simultaneamente
os aspecto passivo onde a pessoa recebe e apropria os dados culturais que lhe
são oferecidos nas relações propriamente comunitárias, mas também o aspecto
criativo e ativo onde a pessoa se posiciona na comunidade, construindo novas
obras culturais, expressando-se na dinâmica da relação e da vida comunitária. Assim,
a comunidade não é apenas um agrupamento humano, mas se apresenta como uma
modalidade típica de posicionamento pessoal de seus membros e de uma abertura
para acolher o posicionamento dos demais membros. Na obra de Stein,
percebemos que o aspecto essencial da relação pessoa-comunidade não é a adoção
de uma postura de defesa frente à comunidade por parte do indivíduo,
encarando-a como uma ameaça ao desenvolvimento pessoal, nem da adoção de
estratégias de controle dos seus membros por parte da comunidade para que estes
não ameacem seus aspectos originais, antes, significa reconhecer que elas são
interdependentes em seu processo de tornarem-se si mesmas e que este processo
só pode acontecer a partir de uma abertura recíproca. Desta forma, a dicotomia na
relação pessoa-comunidade é superada na descrição do fenômeno comunitário,
identificando a interdependência ontológica como fator essencial. A
comunidade oferecerá os meios e instrumentos culturais para o desenvolvimento pessoal,
mas quais aptidões podem se desenvolver e atualizar, estas são dadas e
reconhecidas no núcleo pessoal. Não se trata apenas de aspectos genéticos,
embora a genética ofereça sua contribuição na compreensão de elementos
constitutivos pessoais, mas de um núcleo formativo que dá uma direção e aponta
limites aos determinismos sociais. A possibilidade de se opor ao que é
oferecido culturalmente, de mudar o ambiente cultural, de buscar novos
ambientes formativos, de reconhecer um critério que permita dizer se a pessoa
está sendo si mesma ou não, são identificados na estrutura da pessoa como
constitutivos de seu centro pessoal. Ao mesmo tempo, a possibilidade de uma
expressão cultural autêntica da comunidade, a possibilidade de mudanças sem
deixar de ser si mesma, de acolher em si novos membros com suas contribuições,
podem ser identificadas na personalidade da comunidade. A identidade da
pessoa e da comunidade é um processo dinâmico onde identificamos um núcleo de
referência para as possibilidades e limites de transformação, um critério
pessoal e comunitário que permite reconhecer a dinâmica da autenticidade.
ADAPTAÇÃO DOS AUTORES:
-Achilles Gonçalves Coelho Júnior - Mestre em Psicologia Social pela Universidade Federal de Minas Gerais.
-Miguel Mahfoud - Doutor
em psicologia social, professor associado do Departamento de Psicologia da
Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas e do Programa de Pós-Graduação em
Psicologia da Universidade Federal de Minas Gerais, atuando na linha de
pesquisa "Cultura e subjetividade". Contato: Caixa Postal 253 - CEP:
31270-901 – Belo Horizonte – MG – Brasil.
BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA PELOS AUTORES:
-STEIN, Edith. O que é
fenomenologia?
Tradução de Ursula Anne Matthias. Argumentos: Revista de Filosofia,
ano 10, n.
20, p. 215-219,
jul.-dez. 2018. Título
original: Was ist
phänomenologie? (1924) In: ESGA
(Edith Stein Gesamtausgabe), v. 9, texto 5, p. 85-90.
-Ales Bello, A.
(2000a). A fenomenologia do ser humano: traços de uma filosofia no feminino. (A. Angonese, Trad.).
Bauru: Edusc. (Original publicado em 1992).
-Alonso, A. V. (1992).
Edith Stein fenomenóloga. Em M. M. Kuri (Org.). Homenaje
a Edith Stein. (pp. 73-84). México: Universidad Iberoamericana.
-Gomes, A. M. A. (1999). Psicologia comunitária: uma abordagem
conceitual.
Psicologia: Teoria e Prática,1 (2), 71-79.
-Mahfoud, M. (2005b).
Formação da pessoa e caminho humano: Edith Stein e Martin Buber. Memorandum, 8, 52-61.
Retirado em 23/07/05, do World Wide Web:
http://www.fafich.ufmg.br/~memorandum/artigos08/mahfoud02.htm
-Safra, G. (2005).
Edith Stein e a estrutura da pessoa humana: epistemologia. (Vídeo conferência).
São Paulo: Edições Sobornost.
-Stein, E. (1996). Ser finito y Ser eterno: ensayo de una ascensión al
sentido del ser. 2ª ed. (A. P. Monroy, Trad.).
México: Fondo de Cultura Económica. (Original de 1934-36, publicação póstuma em
1950).
-Stein, E. (1999b). A
vocação do homem e da mulher de acordo com a ordem natural e da graça. Em E. Stein. A mulher:
sua missão segundo a natureza e a graça. (A. J. Keller, Trad.). (pp. 73-103).
Bauru: Edusc. (Original publicado em 1931).
-Husserl, E. (2006).
Ideias para uma fenomenologia pura e para uma filosofia fenomenológica (M. Suzuki, trad.).
São Paulo, SP: Idéias & Letras. (Trabalho original publicado em 1913)
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