Na passagem do século
XVIII para o XIX, a Europa viu-se diante de uma crise política e social: a
França estava sob instabilidade e caos político deixados pela revolução, além
do que a Revolução Industrial causou uma intensa mudança na configuração
espacial da Europa, em especial da Inglaterra, que saiu à frente na
industrialização. Houve um intenso e repentino êxodo rural em cidades
agora industrializadas, o que causou caos social por conta da onda de miséria,
do alastramento de doenças e da consequente violência crescente nos centros
urbanos. Diante dessa situação, o filósofo francês Auguste Comte colocou-se a
falar sobre a necessidade de mudar-se radicalmente os rumos que a sociedade estava
tomando. Para o filósofo, era necessário reestabelecer a ordem para que a
França retomasse seu crescimento. Essa ordem somente poderia ser
atingida por uma rígida organização da sociedade (tão rígida quanto requerem os padrões
militares) e pela valorização do cientificismo. Já com relação aos
métodos de análise sociológica da realidade social foram desenvolvidos por
Durkheim em sua obra “As Regras do Método Sociológico”. Apesar de ter se passado bastante
tempo desde a escrita da sua obra, alguns pressupostos ainda prevalecem, por
serem fundamentos metodológicos do estudo da sociedade. Para ele, o sociólogo
deveria estar despido das suas concepções anteriores sobre sociedade,
para poder analisar os fatos sociais enquanto coisas. Ainda, a sociedade seria
capaz de criar mecanismos de coerção internos e externos para criar regras. A
partir do método científico, podemos observar que o pesquisador pode utilizar
da pesquisa quantitativa e qualitativa para propor a estrutura do seu trabalho,
e, assim, buscar solucionar as problemáticas estabelecidas a priori.Deste modo,
o indivíduo poderá ter uma ampla noção sobre quais funções pôr em prática e
como isso poderá ser feito levando em consideração todos os casos observados. O
texto abaixo apresentado de forma despretensiosa e sem pretender encerrar o
assunto, muito pelo contrário, quer provocar o debate dialógico, é resultado de
uma pesquisa bibliográfica acerca dos métodos nas Ciências Sociais, baseado nos
clássicos Comte, Durkheim, Weber e Marx.
A sociologia ao longo
de sua trajetória histórica se vinculou a teoria crítica, fazendo uso do método em Marx
para a aproximação com a realidade e estudo do seu objeto de estudo: as
expressões da questão social. Mas entendemos ser relevante conhecer o método em
Comte, Durkheim e Weber, pois estes são clássicos do pensamento moderno
e muito utilizados no âmbito das Ciências Sociais, bem como, conhecer o
pensamento sociológico pós Marxismo.As Regras do Método Sociológico (em
francês: Les règles de la méthode sociologique), primeiramente
publicado em 1895, é um livro de Émile Durkheim. É reconhecido por ser
resultado direto do projeto próprio de Durkheim de estabelecer a sociologia
como uma nova ciência social.
Assim sugere duas teses principais, sem
as quais a sociologia não poderia ser uma ciência, tendo como características:
1ª)-Precisa ter um
objeto específico de estudo. Diferentemente da filosofia ou da psicologia,
o objeto próprio da sociologia é o fato social.
2ª)-Precisa respeitar e
aplicar um reconhecimento objetivo, um método científico, trazendo-a para
perto, dentro do possível, das outras ciências exatas. Este método deve
evitar a todo custo preconceitos e julgamentos subjetivos.
Para Durkheim o
indivíduo, de maneira isolada, não pode ser considerado ideal para o estudo da
Sociologia, elemento inadequado para o estudo e a compreensão apropriada do
conceito de “fato social”. O que interessa à vertente durkheimiana é o enfoque
do indivíduo inserido em uma realidade social objetiva que, encontrando-se
acima dele, caracteriza-se por ser grupal e, coletivo. Passemos a ver estes
pioneiros em seus contextos e suas teorias de análise da realidade:
Na emergente
sociedade capitalista industrial do século XIX, elementos como:
a)-As crises
econômicas.
b)-O conflito entre a
burguesia e o proletariado.
c)-A exclusão da terra
dos camponeses.
d)-O surgimento de
problemas urbanos e ambientais devido ao rápido crescimento populacional.
e)-A Comuna de Paris, entre
outros acontecimentos, refletiram diretamente nas vidas e nas obras de Durkheim
e de Weber.
Durkheim
defendia em seus trabalhos que estes problemas não eram
de natureza econômica, mas sim da fragilidade moral na conduta adequada
dos indivíduos.Desta maneira, o
sociólogo francês demonstrava estar preocupado em desenvolver uma ciência que
ajudasse a encontrar as respostas para as patologias sociais.Uma
ciência social que pudesse encontrar, através de investigações empíricas, novas
ideias morais que tivesse a capacidade de guiar a conduta dos indivíduos.Durkheim acreditava que
o sociólogo tinha as mesmas funções de um médico, isto é, diagnosticar as
causas dos problemas e encontrar os remédios para as doenças sociais. Aliás,
ele deixou transparecer esta semelhança entre sociólogo e o médico já em sua
primeira obra importante, A Divisão do Trabalho.
Dentro
da "tradição positivista" durkheimiana:
1)-A sociedade poderia ser
compreendida da mesma forma que os fenômenos da natureza.
2)-Ele acreditava que os
fatos sociais poderiam ser estudados através dos mesmos métodos científicos
empregados nas ciências naturais. Em outras palavras, assim como os fenômenos
físicos podiam ser explicados pelas “leis” naturais, seria plenamente possível
se estabelecer “leis” que explicassem os fenômenos sociais e,
conseqüentemente, encontrar remédios às patologias da sociedade.
3)-Na ótica weberiana a
“ação” é definida com a conduta humana em que os sujeitos dão um “sentido
subjetivo”.
4)-Já a ação social, se
manifesta no momento que uma ação recebe um sentido, atribuído pelo(s)
sujeito(s), em relação a conduta dos outros, sendo que a compreensão
sociológica dessa ação “resulta de um esforço sistemático e rigoroso para
melhor compreender a realidade social”, ou seja, do sentido da conduta
desenvolvida pelo protagonista da ação.
5)-O sociólogo alemão estava
preocupado em entender as “peculiaridades da realidade da vida”, ou seja, a
vida sócio-cultural.
6)-Vemos forte
influência do positivismo na sociologia de Durkheim.
Sabe-se, por outro
lado, que Max Weber não se alimentou desta mesma fonte. Contudo, é
possível perceber que existe uma certa convergência entre as idéias de Weber e
a sociologia (neo) positivista de Durkheim. O autor alemão reconhecia que o
objetivo da pesquisa social sofre influência valorativa, mas ela precisa, para
ter validade, obedecer as regras mais rígidas da pesquisa científica. É somente
assim que o conhecimento científico pode ser reconhecido como conhecimento
válido.Em
outras palavras, dois pesquisadores ao escolher o seu objeto de estudo e
adotarem determinado procedimento metodológico deverão chegar aos mesmos
resultados.No ato de comparar as
características encontradas no processo, com características de outros
fenômenos, utiliza-se o método comparativo. E pelo método indutivo – do particular
para o geral – as características que são comuns a todos os fenômenos
constituem o geral. Para Durkheim com as generalizações constroem-se os
conceitos científicos. Assim se encontra o essencial através de fenômenos que se
repetem. O geral é o comum, a
diferença é secundária. Durkheim
propunha estudar as sociedades mais simples para buscar os aspectos que
deveriam ser comparados, e não as mais complexas. Para
Durkheim o que muda na história é o secundário, pois o fundamental não
modifica. O que se altera, o que é particular a cada fenômeno é
secundário na pesquisa.
Outra regra metodológica em Durkheim diz respeito
às sensações. Ele escreve que:
“a...sensação [é] matéria-prima
necessária de todos os conceitos” (DURKHEIM, 1995, p. 44).
É pela sensação que se
alcança o exterior das coisas. Mas a sensação é subjetiva, então Durkheim
escreve que o sociólogo deve tomar as mesmas precauções que o físico e afastar
os dados que podem ser demasiados pessoais ao observador. Por esta
razão, segundo a lógica de Durkheim, o essencial na história não modifica. Para
garantir mais objetividade. Quanto mais fixo for o ponto de partida, o ponto de
referência, mais objetiva será a análise.
Weber era conhecido
pela “intensidade da dedicação à pesquisa e à reflexão metodológica” (COHN,
1997, p. 7). Sua dedicação o fez ser conhecido como um dos grandes pensadores das
Ciências Sociais modernas. Quanto à postura teórica de Weber, seu nome
está ligado. O
chamado “tipo ideal” é uma forma metodológica para a “vocação para o exagero”
(COHN, 1997, p. 8), ou seja: Isto é, quando os traços que não podem ser
observados na realidade efetiva são exagerados. Em seguida são formuladas as
relações desses traços exagerados com o que pode ser observado na realidade.
Outra
questão metodológica muito importante em Weber é que ele acreditava na
neutralidade das ciências sociais:
O cientista deve, portanto “[...] distinguir com o máximo rigor entre
os enunciados que exprimem um ‘conhecimento empírico’ e os que exprimem ‘juízos
de valor’” (COHN, 1997, p. 22). Weber acreditava “[...] que a validade do
conhecimento obtido se mede pelo confronto com o real e não com quaisquer
valores ou visões do mundo.” (COHN, 1997, p. 22).
Existe sim uma validade dos
valores, quando estes [...] orientam a escolha do objeto, a direção da
investigação empírica, aquilo que é importante e acessório, o aparelho
conceitual utilizado e a problemática de pesquisa e questões que se colocam ou
não à realidade. [...] Contudo, se os valores orientam a eleição das questões, Weber postula a
necessidade da neutralidade axiológica quando do encaminhamento das respostas:
elas devem ser neutras, já que a pesquisa deve caminhar por regras objetivas e
universais. Os pressupostos da
pesquisa são subjetivos, mas os resultados devem ser válidos e objetivamente
aceitáveis (BEHRING; BOSCHETTI, 2006, p. 34).Assim, segundo Weber,
os valores do pesquisador (o que é subjetivo) devem orientar o início da
pesquisa, suas escolhas e a direção que irá tomar. Mas no processo de análise e
resposta da pesquisa, a neutralidade deve prevalecer para dar respostas
objetivas à realidade.
Weber também negava a utilização de um mesmo método
para as ciências sociais e naturais!
A mente humana não
absorve o real, mas sim o que ela própria seleciona do real. Aqui
também entra a questão da individualidade, pois cada pesquisador vai absorver a
realidade de maneira diferente. Por isso o apelo de Weber para deixar
os valores de lado e promover um distanciamento entre o pesquisador e a
realidade; o recurso a neutralidade. Weber admite que os valores do pesquisador
dêem uma direção individual à pesquisa. Esses valores também podem
mostrar características específicas de cada época histórica diferente. Os
valores que dominam um investigador de uma época dão direção do método
utilizado na pesquisa. Mas não podemos dizer que o que
é válido para um investigador, não é válido para outro. Só pode ser considerado verdade aquilo que é
válido para toda a comunidade científica. Mas o que foi verdade
científica numa determinada época, modifica-se não é mais válida para a época
posterior. Mesmo que a idéia original
ainda continue por conseqüência, ou influência, com o passar do tempo elas se
modificam. Isso dá uma idéia de linearidade histórica.
Essa idéia é bem diferente da de Marx que
via um processo histórico do capitalismo, enquanto Weber não considerava as
épocas anteriores; "pode sofrer modificações, pode não ser mais válido
para a época posterior. "
O
Método Compreensivo de Max Weber:
Sendo considerado como um
dos maiores ou se não o maior representante da sociologia alemã Max Weber, com
seu método de análise sociológico que para alguns foi denominado como compreensivo
ou interpretativo, gerou vários debates acerca dos modos positivistas
de formulação das leis sociais que existiam em seu período de análise social. Este método proposto por Weber em suas análises sociológicas
é de extrema importância para as análises contemporânea, pois, é possível
dialogar com diversas outras correntes teóricas e metodológicas a partir do método weberiano de análise social. Max
Weber defendia a ideia de que uma Ciência Social não poderia reduzir a
realidade empírica a leis, tanto na escolha do tema a ser trabalhado quanto na
explicação do acontecimento concreto.De acordo com Weber o cientista social
deveria se direcionar por diversos fatores ligados à realidade dos fatos assim
como os seus próprios valores, para dar sentido à realidade
particular.Sendo assim, a aplicação de seu método de análise compreensiva se
torna primordial para a obtenção de respostas nas inferências sobre o objeto de
estudo.Uma das formulações a partir do método de análise weberiano é o conceito
de ação social juntamente com o instrumento de analise de tipos ideias, que
seria uma modelo de interpretação-investigação, e é a partir deles que o
cientista social irá analisar as sociedades e as formas de ação no meio social.
Os pilares da sociologia clássica:
1)-Auguste Comte
(1798-1857).
2)-karl Marx
(1818-1883).
3)-Émile Durkheim
(1858-1917).
4)-Max Weber
(1864-1920).
Weber
pode observar que a sociedade não era “explicada” de forma tão simples e nem
poderia ser harmoniosa como pensavam Comte e Durkheim, mas também não a imagina
a partir de uma revolução como fazia Marx. De acordo com o
pensamento de Weber o papel da sociologia é observar e analisar os fenômenos que ocorrem na
sociedade, buscando extrair desses fenômenos os ensinamentos e sistematizá-los
para uma melhor compreensão. Tanto a análise quanto método de Weber
valorizavam as particularidades, ou seja, a formação específica da sociedade, entendendo
a sociedade sob a perspectiva histórica,
o que claramente o diferenciava dos positivistas.
Max Weber direcionou seus estudo e suas análise com
ênfase para:
a)-A sociologia da religião.
b)-A sociologia política.
c)-Administração pública ( governo) e economia.
Pois, para Weber, o
núcleo da análise social constitui na interdependência entre religião, economia
e sociedade, estes elementos podem ser observados em algumas de suas obras. Na
obra a Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo (1904-1905),
onde o mesmo buscou expor por que haviam surgido fenômenos culturais que iriam
assumir um significado e uma validade universal. Sendo que
para ele o protestantismo e, especialmente, o calvinismo haviam estabelecido as
bases do sucesso econômico, da racionalização da sociedade ocidental e, por
último, do desenvolvimento do capitalismo.Weber também procurou uma ética
econômica das religiões que, com exceção do Islã, seria baseada em raciocínios
histórico-empíricos (Ensaios para uma Sociologia da Religião, 1920-1921). Nas
suas obras publicadas postumamente, Economia e Sociedade (1922) e Ensaios sobre
Economia (1922), Weber estabeleceu as bases metodológicas para a análise da
economia e da sociedade. O
autor defendia a tese de que a investigação sociológica só era possível devido
a uma multiplicidade de casos individuais, a partir do delineamento de modelos
empíricos de análise, revelando-se este método decisivo nos estudos de cultura
comparada.A sua concepção de uma
sociologia abrangente partia do conceito de conduta social, segundo o qual a Ciência devia explicar o fenômeno social a partir da
investigação do comportamento subjetivo, que vincula o indivíduo a seus atos.A
investigação, independentemente de qualquer premissa ética, seria baseada nos
interesses e nos juízos subjetivos do ser humano. Como havíamos mencionado, um dos
conceitos chaves da obra e da teoria sociológica de Weber é a ação social.De
acordo com este autor:Por “ação” entende-se, neste caso, um comportamento humano (tanto faz
tratar-se de um fazer externo ou interno, de omitir ou permitir) sempre que
e na medida em que o agente ou os agentes o relacionem com seu sentido
subjetivo. Ação “social”, por sua vez, significa uma ação que, quanto a seu
sentido visado pelo agente ou os agentes, se refere ao comportamento de outros,
orientando-se por este em seu curso.
Podemos interpretar que ação social é um comportamento humano no
qual os indivíduos se relacionam de maneira subjetiva, cujo sentido é
determinado pelo comportamento alheio!
Esse
comportamento só é ação social quando o ator atribui à sua conduta um
significado ou sentido próprio, e esse sentido se relaciona com o comportamento
de outras pessoas. Weber também se preocupou com certos instrumentos
metodológicos que possibilitassem ao cientista uma investigação dos fenômenos
particulares sem se perder na infinidade disforme dos seus aspectos concretos, sendo
que o principal instrumento é o tipo ideal, o qual cumpre duas funções
principais:
-Primeiro a de
selecionar explicitamente a dimensão do objeto a ser analisado.
-E,
posteriormente, apresentar essa dimensão de uma maneira pura, sem suas
sutilezas concretas.Tendo isto em vista acreditamos que este elementos
legitimar a sociologia de Max Weber como
compreensiva.E nisto talvez esteja a principal diferença entre esses
quatro grandes pensadores da Sociologia: Comte, Marx, Durkheim e Weber.
Durkheim e Weber deixaram como lição que o
cientista social está diante de uma dupla condição:
O de ser humano e o de cientista. Por um lado ele tem o compromisso
com a sociedade e, ao mesmo tempo, com a ética cientifica.Esta dupla condição é
bastante evidente nas ciências sociais, pois o seu objeto de estudo é o social.
A sociologia weberiana deu ênfase à ética cientifica, ou seja, a construção de
uma ciência despojada de ideologias ou valores que comprometessem a validade do
conhecimento verdadeiramente científico. Já a sociologia durkheimiana reforçou a
preocupação em encontrar as soluções para os problemas que afligem a sociedade.
Finalmente, Weber não compartilhou diretamente dos mesmos procedimentos
metodológicos das ciências naturais, uma vez que, para ele, o social requer
métodos de investigação próprios. Durkheim, por outro lado, acreditava
que esse vínculo era possível, tanto que sua sociologia pode ser classificada
como “naturalista” à medida que se apoia na biologia.Mas,
indubitavelmente, o mérito de Émile Durkheim foi dar a
nova ciência um objeto próprio, ou seja, “os fatos sociais”, e o de Max
Weber o rigor científico que a ciência social exige.
Com
relação às idéias, que tratamos em Weber, Marx apresenta uma outra concepção. É a atividade material que determina as ideias, e não o
contrário. O mesmo acontece com a produção intelectual.As forças produtivas
dadas na realidade e seu desenvolvimento que determinam as representações e
idéias dos seres humanos.“A
consciência nunca pode ser mais que o ser consciente” (MARX; ENGELS, 1989, p.
20).Marx e Engels são bem
enfáticos na crítica à concepção hegeliana “que desce do céu para a terra...Não é a
consciência que determina a vida, mas sim a vida que determina a consciência”.
Esta “inversão” que Marx promove, afetam seu método de análise da realidade.
Buscaremos
agora analisar o método Materialista Dialético proposto por Karl Marx. Segundo
Behring e Boschetti (2006, p. 36):
O método crítico-dialético
traz uma solução complexa e inovadora do ponto de vista da relação
sujeito-objeto: “uma perspectiva relacional, que foge ao empirismo positivista e
funcionalista e ao idealismo culturalista.” Nesta fala os autoress fazem um paralelo
entre as idéias positivistas de Comte, funcionalistas de Durkheim e o idealismo
culturalista de Weber.Entende-se
que o método materialista dialético de Marx interpreta
os fenômenos estudados a partir de uma perspectiva de totalidade. Com
esta perspectiva entendemos que o método marxista dialético nos revela o
processo contraditório e complexo que cerca o objeto, estudando o contexto e
fugindo da formalidade.Percebemos que a
concepção de fatos não é a de coisas, como escreve Durkheim, mas de algo
complexo e que se modifica ao longo do processo e relações históricas. Behring
e Boschetti escrevem que os fatos sociais, isto é, se a realidade social é
anterior ao indivíduo, a análise pode ficar apenas na aparência dos fatos em
detrimento da essência. Diferente do que veremos em Marx. Lembramos que
existem muitos equívocos com relação à interpretação que se faz sobre a teoria
social de Marx. Alguns afirmam que esta não corresponde à eficácia prevista.Como
lembra Munhoz (2006 p.26) a sua teoria pode ser criticada, mas não se pode
negar a atualidade do Método do Abstrato ao Concreto para a “[...] leitura dos
mais diversos fenômenos da realidade humano social.” Os primeiros elementos
do fenômeno que se quer conhecer aparecem como algo que pode ser captado pelos
sentidos, algo ainda superficial, como abstrato, mas, nesse sentido, abstrato
porque pouco se sabe dele. Marx deixa claro que
para estudarmos um determinado país, “[...] se começássemos pela população
teríamos uma visão caótica do todo”. Seria uma visão do que é mais
aparente em relação a tal país. A partir de aproximações sucessivas à realidade
se apreende aspectos que particularizam os fenômenos de estudo. O que Marx
chama de conceitos “mais simples” na verdade são conceitos mais precisos. A
cada aproximação como a citada acima, chega-se mais perto da essência do
fenômeno estudado: “[...] o estudioso vai obtendo uma percepção mais clara e precisa dos
elementos que constituem o fenômeno” (MUNHOZ, 2006, p. 27).Não
que se alcance o resultado final, uma verdade inquestionável, mas uma
aproximação mais precisa da realidade.É o que Marx chama de
“síntese de múltiplas determinações”. No começo só se conhecia a aparência, o
caótico, depois de analisar vários determinantes com relação ao fenômeno dado,
se conhece mais este fenômeno, se chega a elementos sensíveis. Quando se pensa
neste novamente, já se sabe muitos outros elementos sobre tal fenômeno. Por
isso chama-se Método do Abstrato ao Concreto porque “o concreto é concreto por
ser a síntese de múltiplas determinações, logo, unidade da diversidade” (MARX,
2003, p. 248). O método marxista dialético marxista revela o processo
contraditório e complexo que cerca o objeto, estudando o contexto e fugindo da
formalidade.
ATENÇÃO! O método marxista também trabalha com a
relação sujeito e objeto!
O movimento do
pensamento objetiva a unidade sujeito/objeto através da atividade humana quando
o homem incide sobre o objeto no decorrer da história. O método materialista
dialético utiliza categorias como totalidade, mediação e contradição. Estes são
elementos fundamentais para entender os processos sociais. Pretendemos
considerar os fenômenos a partir das conexões internas e fugir do empirismo que
trabalha com a causa, observando-o apenas superficialmente. “O
conceito dialético de totalidade é dinâmico, refletindo as mediações e
transformações abrangentes, mas historicamente mutáveis, da realidade
objetiva.” (BOTTOMORE, 2001, p. 381). Nesta questão a categoria
totalidade permeia o processo de interpretação da realidade social ao considerar
aspectos desta realidade.Os fatos aqui são compreendidos no lugar que ocupam na
realidade social e com as relações que estabelecem com os outros fatos e o
todo.
Mas não podemos esquecer que:
“[...]
a totalidade, não são, por conseguinte, todos os fatos, o conjunto dos fatos, o
agrupamento de todos os aspetos, coisas e relações [...]” (KOSÍK, 1976, p. 36).
Se assim fosse a totalidade seria simplesmente um agrupamento de partes
fragmentadas e o movimento seria linear, e não
dialético. Mesmo porque a realidade não se esgota, não existe método que
de conta de todos os aspectos da realidade.
Acerca
da investigação dialética, Kosík (1976) escreve que:
“O princípio metodológico da
investigação dialética da realidade social é o ponto de vista da totalidade
concreta, que antes de tudo significa
que cada fenômeno pode ser compreendido como momento do todo. Um fenômeno
social é um fato histórico na medida em que é examinado como momento de um
determinado todo; desempenha, portanto, uma função dupla, a única capaz de
dele fazer efetivamente um fato histórico...”(p. 40).
Cada fenômeno é um momento do todo, observado nas
conexões que faz com a realidade. Existe um sentido duplo em relação ao fato
histórico no método dialético:
O de definir
a si mesmo e ao todo. Este movimento da parte e do todo acontece ao
mesmo tempo. Segundo Kosík (1976) esta separação da parte e do todo acontece
artificialmente. O todo e a parte estão intimamente conectados, e um explica o outro no
movimento dialético. Assim como o objeto de estudo é explicado pelos
aspectos nos quais estão inseridos. A mediação é categoria constitutiva das
relações humanas historicamente construídas. Quando estamos estudando um
determinado objeto o isolamos do todo para fins didáticos. Mas este isolamento
é apenas para conhecê-lo. Não podemos deixar de lado as mediações que
compõem este objeto.
Adendo
sobre: Materialismo Histórico Dialético
O materialismo histórico é uma
teoria política, sociológica e econômica desenvolvida por Karl Marx e Friedrich
Engels no século XIX. Os pensadores haviam entendido que o século
XIX, vivente da alta modificação social propiciada pela Revolução Industrial,
possuía uma nova configuração, baseada na força de produção da burguesia e na
exploração da mão de obra da classe trabalhadora por parte da classe burguesa (donos
das fábricas).Os sociólogos também entenderam que sempre houve um
movimento histórico de luta de classes na sociedade e que esse movimento era a
essência da humanidade. A teoria de Marx e Engels divergia do
idealismo alemão, principalmente de Hegel, que entendia haver um movimento
intelectual de cada época que influencia as pessoas. Para Marx e
Engels, eram as pessoas que faziam a sua época!
Materialismo
histórico e dialético
Materialismo histórico e dialético é o nome da
teoria desenvolvida por Marx e Engels. Marx realizou estudos
econômicos publicados na série de livros "O capital", em parceria com Friedrich
Engels, bem como escreveu e teve a publicação póstuma de seus Manuscritos
econômico políticos, em que estudou a organização política da
Europa após a Revolução Industrial. Marx foi
profundamente influenciado pelo filósofo Georg Wilhelm
Friedrich Hegel, que havia formulado uma teoria dialética baseada na ideia da
formação de um espírito de época, que, segundo seu autor, era uma espécie de
ideia metafísica e coletiva que fazia com que as
pessoas vivessem de certo modo.
No início, Marx foi adepto dessa
teoria, porém, com o passar do tempo, ele percebeu contradições internas nela.
Uma delas foi a ideia de imobilidade das classes
sociais. Enquanto a teoria hegeliana admite uma imobilidade metafísica das
classes, Marx admitia ser possível o oposto: a subversão das classes. Tal
subversão somente seria possível por meio de uma revolução.Para Marx e
Engels, há uma contradição interna no sistema capitalista que faz com que os
trabalhadores (proletariado) vejam-se como produtores de tudo por meio de sua
força de trabalho, mas excluídos do sistema educativo, de saúde e de segurança.
Os trabalhadores produzem, mas não conseguem acessar aquilo que é deles por
direito.A burguesia, por sua vez, não
trabalha (na ótica marxista, os burgueses apenas administram aquilo que o
proletariado produz), mas desfruta daquilo que rende do trabalho
proletário e ainda tem acesso aos serviços de saúde, educação e segurança. Essa
contradição fez com que Marx e Engels pensassem em uma aplicação prática das ideias
resultantes do materialismo histórico dialético.Para os
teóricos alemães, os trabalhadores deveriam tomar consciência de classe e
perceber que estão sendo enganados nesse sistema. A partir daí, eles deveriam unir-se e tomar o poder das
fábricas das mãos da burguesia e o poder do Estado, que, segundo Marx e Engels,
serve à burguesia.A revolução do proletariado, como
Marx denominou, seria a primeira fase de um governo que tenderia a chegar ao
seu estado perfeito: o comunismo, uma utopia em que não haveria classes sociais
(como burguesia e proletariado). No entanto, para isso, seria necessário um
governo ditador baseado na força proletária, a ditadura do proletariado. Durante
esse tempo, as classes sociais seriam suprimidas pela estatização total da
propriedade privada.
Características
do materialismo histórico
O materialismo histórico pretende,
inicialmente, romper com qualquer tradição idealista. Para Marx, o idealismo
está apenas no plano ideal e não consegue concretizar nada que de fato
modifique a sociedade. A pretensão desse autor era promover uma
revolução social que subvertesse a ordem vigente de poder da classe dominante
sobre a classe dominada. Nesse sentido, a característica fundamental do
entendimento do materialismo histórico é a mudança social, de modo que o proletariado possa
acessar o poder e estabelecer um governo de uniformidade social.A teoria marxista entende que a
humanidade define-se por sua produção material, por isso a palavra
“materialismo” em seu nome. O marxismo também entende que a história da
humanidade é a história da luta de classes, colocando, assim, as classes
sociais como opostas. Nesse sentido, há uma relação dialética entre as classes,
o que confere o termo “dialética” ao nome da teoria marxista, afastando-se de
qualquer sentido dele antes proposto por Hegel ou por Platão.O materialismo
dialético é, então, o entendimento de que há uma disputa de classes sociais
histórica desde os primórdios da humanidade e que ela está condicionada à
produção material (trabalho e resultado do trabalho) da sociedade.
A "MAIS VALIA" NA IDEOLOGIA MARXISTA
O problema é que, na
ótica marxista, o proletariado trabalha e a burguesia apenas desfruta do lucro
proporcionado pela classe operária por meio da apropriação do trabalho
e do que Marx chamou de mais-valia. A mais-valia é, para o autor, a diferença de
preço entre um produto final e sua matéria-prima. Essa diferença é acrescentada
pelo trabalho impresso sobre o produto, e, segundo Marx, todo o trabalho é
feito pelos trabalhadores, enquanto a burguesia apenas desfruta do lucro.
O lucro recebido pela burguesia é uma espécie de apropriação do trabalho do
operário, que possui a sua força de trabalho usurpada e falsamente recompensada
por um salário.
Críticas
ao materialismo histórico e o materialismo histórico depois do século XX:
O contexto em que Marx e Engels
formularam o materialismo histórico dialético era bem específico: a
Inglaterra industrial do século XIX. Havia, naquele espaço e tempo, uma
relação detalhada entre burguesia e proletariado, com suas diferenças de classe
social. De fato, a adoção do método proposto pelo materialismo histórico
dialético para uma análise e produção de conhecimento filosófico, histórico e
sociológico permanece atual. No entanto, as análises sociais passaram
por severas mudanças no século XX e continuam mudando no século XXI por conta
das alterações trazidas pela conquista de direitos, da urbanização, da
tecnologia e, principalmente, da globalização e da expansão do capitalismo. Ainda
existe um choque de classes sociais, mas ele não se expressa diretamente pela
relação entre burguesia e proletariado mais, visto que outras categorias e uma nova
configuração de capitalismo entraram em cena: o capitalismo financeiro. O que
permanece ainda hoje é a exploração das camadas mais pobres pelas camadas mais
ricas da sociedade. No contexto de mudanças, surgiram teóricos que
deram uma nova interpretação ao pensamento socialista e ao materialismo
histórico ou até mesmo criticaram a forma marxista de interpretação e análise
social.
O mais interessante é que as críticas e tentativas
de superação do método marxista, profundamente difundido entre os intelectuais
de esquerda, surgiram duplamente entre teóricos de
esquerda e de direita. Trataremos, a seguir, de alguns desses autores:
Podemos citar o filósofo e
linguista italiano Antonio Gramsci como um dos primeiros marxistas a postular
ideias marxistas que ultrapassaram Marx. Gramsci era
abertamente comunista, inclusive foi um dos fundadores do Partido Comunista
Italiano. O intelectual, preso por oposição ao regime de extrema direita
imposto pelo ditador totalitário Benito Mussolini, "o fascismo, teve como um dos
seus principais pilares de formação política os escritos de Karl Marx." Altamente
influenciado por Marx, o filósofo italiano ocupou-se com a proposição de
teorias socialistas, chegando ao ponto de ultrapassar as análises do próprio influenciador. A
compreensão de Estado de Gramsci, por exemplo, vai muito além do entendimento
de um simples mecanismo de perpetuação do poder (o Estado burguês e o Estado
socialista pós-revolução).Apesar de uma aparente intenção de
Gramsci de fundar um Estado de tipo soviético na Itália em oposição ao Estado
fascista, o filósofo também não estava de pleno acordo com a proposta de
governo de Lênin, e, muito menos, compreendia o Estado como mera aplicação
total da força sobre os indivíduos, como foi o Estado totalitário imposto por
Josef Stalin. Gramsci pareceu encontrar-se no meio termo, em uma busca de
equilíbrio entre força e controle administrativo, ao pensar a sua concepção de
Estado. A crítica e
a tentativa de superação de Marx perpetuou-se no campo da filosofia com os
filósofos políticos do século XX, entre eles os pós-estruturalistas. No entanto, vale notar que, em
quase todos os casos aqui apresentados, os teóricos partiram das concepções
marxistas e adotaram posições políticas alinhadas ao pensamento da esquerda.
O que eles buscaram superar foi a dicotomia proposta pelo materialismo
histórico.
A filósofa e teórica política Hannah Arendt
teceu duras críticas ao pensamento político e filosófico de Marx:
1)-Em primeiro lugar, podemos
destacar uma forte presença intelectual de seu orientador de doutorado em sua
obra, o filósofo alemão Martin Heidegger.
2)-Em segundo lugar, as
concepções políticas de Arendt partiam de uma noção dialética muito mais
alinhada à dialética idealista de Hegel, tradição oposta ao materialismo
histórico dialético.
Por sofrer com a perseguição
nazista durante o governo de Hitler ao ponto de ser presa e ter que fugir para
os Estados Unidos, Arendt voltou seus estudos para o fenômeno do
totalitarismo. Ao ter entendido o poder totalitário pelos estudos dos governos
de Hitler, Mussolini e Stalin, Arendt relacionou partes das preleções
revolucionárias apontadas por Marx e a indicação da necessidade, em um primeiro
momento após a revolução, de um Estado forte e ditatorial (a ditadura do
proletariado), ao fenômeno totalitário na União Soviética. Em partes, o totalitarismo nasce do projeto de poder centrado em uma ideia de
Estado forte e antidemocrático.
Já os filósofos pós-estruturalistas
(teóricos que apareceram na segunda metade do século XX com a
pretensão de elevar ao máximo a proposta de análise filosófica, sociológica,
linguística e antropológica dos estruturalistas) tiveram
também alinhamento intelectual com os ideais de esquerda, mas teceram críticas
ao que podemos chamar de um marxismo ortodoxo. Para esses intelectuais,
citaremos
aqui os filósofos franceses Michel Foucault e Gilles Deleuze, há de
pensar-se que o século XX enfrentou outras demandas e outros paradigmas que aqueles
encontrados por Marx no século XIX.
Para Foucault, o centro do poder capitalista
dá-se pelo Estado burguês, desde a Revolução Industrial, não pela mera força
centrada e por um simples aparelho estatal, mas pela vigilância e pela disciplinarização
dos corpos das pessoas, criando o que o pensador chamou de corpos
dóceis. Foucault entendeu que foi criado um mecanismo de vigilância que,
ao invés de concentrar o poder em um único eixo (como era com o Antigo Regime,
em que o monarca tomava todas as decisões e detinha o poder), espalha
o poder em várias instituições que exercem a função de vigiar as pessoas e
disciplinar os seus corpos. Essas
instituições são as de confinamento (que confinam o indivíduo em um determinado
espaço para tornar o seu corpo um produto da disciplina): escola, quartel,
fábrica, prisão, hospital e hospício. O intuito delas é manter o
capitalismo em pleno funcionamento com a alta produção. Por isso, não
se trata de mera questão de luta de classes a derrubada do capitalismo, mas da
revisão desse modo de produção do poder.
Nesse
entendimento, vemos:
a)-Marx como uma espécie de teórico
importante, mas que não se explicou de modo satisfatório.
b)-Encontramos em Foucault uma
presença muito mais forte dos pensamentos do filósofo alemão Friedrich
Nietzsche no tocante às formas de percepção do poder. Como Foucault
mesmo disse, ele possuía uma espécie de “caixa de ferramentas” intelectual, na
qual guardava as ideias de Nietzsche (e, de certo modo, também o materialismo
histórico de Marx) e usava-as como aparelhos para a construção de sua própria
teoria.
Deleuze apontou ainda mais
problemas, pois sua visão foi além do confinamento: para o
filósofo, o final do século XX começava a viver uma era do controle. O controle
é uma evolução da disciplina de Foucault que não precisa mais do confinamento,
mas é exercido de maneira dispersa por mecanismos virtuais e flexibilização do
trabalho. As pessoas são controladas o tempo todo, pois os mecanismos de
controle (mídia e, mais tarde, internet, redes sociais etc.) expressam
uma forma de dominação do indivíduo em tempo integral. O trabalho vai
além do espaço de trabalho:O indivíduo
trabalha sem cessar, ele recebe e responde e-mails do serviço em seu tempo
“livre”, ele é cobrado a ser um empreendedor de si mesmo o tempo todo. Essa
nova configuração tira do espaço fabril a noção de proletariado e evidencia
que, no século XX, o proletariado é muito mais explorado, pois, além da
exploração no local de trabalho, há a que acontece fora dele, reforçando as
engrenagens do capitalismo.O materialismo histórico dialético
não permite essas percepções de novos mecanismos, pois baseia-se em uma
dialética material simplista que enxerga apenas o embate de forças entre
burguês e proletariado e não percebe os mecanismos do capital que existem para
além disso. Por isso, podemos afirmar que na filosofia política
pós-estruturalista de Gilles Deleuze encontramos uma síntese de algumas ideias
de Marx aliada a uma forte presença dos pensamentos de Nietzsche.
As
metodologias de investigação em sociologia e ciências sociais
O sociólogo no seu
trabalho de investigação científica, desenvolve um trabalho complexo de análise
da realidade social que, ao obedecer a determinados procedimentos, o método ou
estratégias de investigação, lhe permitirá construir teorias.
Para
construir a teoria, o cientista dispõe de duas ferramentas fundamentais:
a)-Os métodos ou as
estratégias de investigação
b)-As técnicas.
A teoria é um método que
explica e «encaixa» as situações reais. Quer isto dizer que o cientista
constrói um «discurso analítico» que explica a realidade e permite prever a sua
evolução. Métodos ou Estratégias de investigação são um conjunto procedimento
baseados na teoria que conduzem o processo de seleção de técnicas de pesquisa
adequadas ao trabalho de investigação, bem como o controlo da utilização das
técnicas seleccionadas e a integração dos resultados obtidos, em função do
objeto de trabalho. É em função do método de trabalho que o sociólogo escolherá as técnicas
mais adequadas. As técnicas são um conjunto de processos operativos ou
operações simples que permitem realizar a investigação, como por exemplo as
técnicas documentais e não documentais.
Métodos ou Estratégias de investigação
Quando decidimos
realizar uma atividade, independentemente da sua natureza, a primeira etapa a
executar é decidir o modo como irmos cumpri-la. Assim,
é preciso escolher o tema ou problema a estudar, colocar uma questão sobre esse
problema, definir os objetivos a alcançar, selecionar os recursos e os
instrumentos necessários, calendarizar tarefas, distribuir essas tarefas pelos
membros do grupo, reunir para partilhar as informações recolhidas, analisa—las,
tirar conclusões, apresentar, se possível, sugestões e, finalmente, redigir o
relatório.O relatório deve
incluir todo este processo, que se iniciou com a definição do tema/problema a
estudar e que terminou com as conclusões do estudo e as possíveis sugestões que
ajudem à resolução do problema.
Existem no processo de investigação duas perguntas
que orientam a investigação:
1ª)-Como vamos fazer? - Responder a «como vamos fazer» significa
decidir sobre a estratégia de investigação que vamos utilizar.
2ª)-Quem vamos incluir? - Respondera «a quem
vamos incluir» significa definir o público-alvo da investigação.
Podemos referir que as estratégias de investigação
utilizadas com mais frequência são a intensiva, a extensiva e a
investigação-ação. A seleção de uma destas estratégias depende de inúmeros
fatores, entre os quais:
a)-O problema orientador da investigação.
b)-O público-alvo que tenhamos definido.
c)-Os objetivos pretendidos.
Principais Métodos ou Estratégias de
investigação Estratégia de investigação intensiva:
A estratégia de
investigação é intensiva quando se estuda um fenómeno em profundidade. Assim,
procura-se conhecer o maior número de informações sobre o fenómeno, seja
através da análise e observação de situações reais, seja através das
informações obtidas diretamente junto dos indivíduos que fazem parte da
investigação, isto é, do nosso público-alvo. Nestes casos, mais importante do
que o número de indivíduos ou de factos incidentes que estamos a estudar são a
«profundidade» e a «singularidade» das informações obtidas as quais exigem uma
grande profundidade do investigador ao fenómeno ou público investigado, uma
postura quase de «investigação antropológica»; Nesta perspectiva, a
investigação é tão intensiva e profunda que ficamos a conhecer «todas» as
razões que explicam o caso, isto é, que explicam o problema. Na investigação
intensiva o que interessa é a exaustividade e a profundidade do conhecimento do
problema em causa.
Principais
Métodos ou Estratégias de investigação Estratégia de investigação extensiva:
A investigação assume
uma natureza extensiva se tiver em conta não a profundidade dos conhecimentos
que se adquirem sobre o fenómeno em estudo, mas a quantidade desses elementos. Na
abordagem extensiva, torna-se imperioso que o número de sujeitos que constituem
o nosso estudo seja elevado e que consigamos obter respostas a perguntas
semelhantes. Desta forma, poderemos encontrar regularidades nos comportamentos
e generalizar para situações semelhantes. Como a análise extensiva tem por objeto
populações constituídas por um número de elementos bastante grande, impõe-se o
recurso às técnicas de amostragem.
Principais
Métodos ou Estratégias de investigação Estratégia de "investigação -
ação"
Atualmente, têm-se
vindo a desenvolver outras estratégias de investigação, nomeadamente a de
investigação-ação, que se distingue das restantes pelo facto de o investigador ser
também um dos indivíduos objeto de estudo. Na investigação-ação, o
investigador participa, com os investigados, na procura de soluções para o
problema, a partir da análise das práticas do quotidiano realizada
conjuntamente durante o processo de investigação.
Definição do público-alvo da
investigação
À totalidade dos
indivíduos que constituem o nosso público- alvo chama-se o universo. Nas
investigações extensivas, como o universo é constituído por um número elevado
de indivíduos, é usual utilizar apenas uma parte do universo, numa amostra, que
é um subconjunto do universo. Uma amostra representativa apresenta as mesmas
características que o universo, relativamente a um conjunto de critérios ou
variáveis que o investigador considera significativas para a investigação.
Para obter uma amostra representativa do universo
devemos percorrer duas etapas:
1ª)-Determinar as pessoas
que a irão constituir.
2ª)-Medir-lhe a
representatividade.
Definição do público-alvo da
investigação
Esta amostra deverá
representar, ou traduzir tão fielmente quanto possível, as características do
universo, pode ser determinada segundo
dois processos mais comuns:
1º)-O método aleatório
ou probabilista, como a própria designação o diz, consiste em tirar ao acaso do
universo o subconjunto ou amostra que irá «representar» a totalidade, que é
impossível inquirir.
2º)-O método das
quotas, pretende construir uma amostra que seja um «modelo» do universo. Para
tal, importa respeitar a estrutura desse universo.
Etapas de investigação - Assim, a investigação sociológica
inicia-se com a definição do problema que queremos investigar:
Etapa 1:A pergunta de
partida - Formular a pergunta de partida, tendo o cuidado de respeitar: As
qualidades de clareza; As qualidades de exequibilidade; As qualidades de
pertinência. Uma vez definido o problema, devemos tentar compreendê-lo ou
explicá-lo. Temos de fazer um estudo exploratório, que nos dará um conhecimento
mais suportado da realidade.
Etapa 2: A exploração -
As leitoras. Selecionar os textos; Ler com método; Resumir; Comparar: Os textos
entre si; Os textos com as entrevistas. As Entrevistas exploratórias: Preparar-se
para a entrevista; Encontrar-se com os peritos, testemunhas e outras pessoas
implicadas; Adotar uma atitude de escuta e de abertura; Descodificar os discursos.
Etapas
de investigação: É importante pesquisar a literatura e estudos sobre o fenómeno
e fazer entrevistas para desenvolver a problemática.
Etapa 3: A problemática
- Fazer o balanço das leituras e das entrevistas; Estabelecer um quadro
técnico; Explicar a problemática retida.É importante pesquisar a literatura e
estudos sobre o fenómeno e fazer entrevistas para desenvolver a problemática.
Etapa 4: A construção -
Construir as hipótese e o modelo, precisando: As relações entre os conceitos; As
relações entre as hipóteses. Construir os conceitos, precisando: As dimensões; Os
indicadores;
Etapa 5: A observação -
Delimitar o campo de observação; Conceber o instrumento de observação; Testar o
instrumento de observação; Proceder à recolha de informações. Uma vez obtida a
informação, segue-se a análise da informação recolhida. Finda a análise dos
dados, chegamos às conclusões que podem, ou não, corroborar e validar as nossas
hipóteses de trabalho.
Etapa 6: Análise das
informações - Descrever e preparar os dados para a análise; Medir as relações
entre as variáveis; Comparar os resultados esperados com os resultados
observados;Procurar o significado das diferenças.
Etapa 7: As conclusões
- Recapitular o procedimento; Apresentar os resultados, pondo em evidência:Os
novos conhecimentos;As consequências práticas.
Modos de produção da informação em
Sociologia - Utiliza-se dois processos para obter informação
sobre os fenómenos em estudo:
1º)-Partir da documentação já existente sobre o problema em
causa.
2º)-Partir da observação dos fenómenos e estudar.
Na investigação
sociológica um documento é todo o objeto, escrito ou não escrito, que
nos permite retirar informações sobre determinado fenómeno. Neste
sentido, os documentos podem ser textos escritos, gráficos estatísticos,
quadros, filmes, séries televisivas, cartas ou resultado de uma conversa, por
exemplo. Deste modo, quando de uma investigação, o investigador deverá
procurar munir-se da totalidade das informações (escrita, orais, factuais) já
conhecidas sobre o problema em estudo. Isto é, o investigador deverá efetuar
uma pesquisa documental. Após a pesquisa documental, cabe ao investigador
estudar os elementos obtidos, analisá-los, interpretá-los e encontrar um
sentido na diversidade da informação que recolheu.O
investigador tem de fazer uma análise de conteúdo, que constitui um conjunto de
técnicas de análise das comunicações, visando obter, por procedimentos
sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores,
que permite identificar ideias comuns relativamente a diversos tópicos, no
discurso dos entrevistados, nas notícias do órgão de informação, entre outros
documentos, a fim de lhes conferir um significado, e dessa forma, compreender o
sentido das informações que estão a ser analisadas.É no ato de desmontar o
discurso e de produzir uma nova interpretação da mensagem que produzimos
informação nova, dando sentido à atuação do indivíduo que proferiu o discurso.
Observação:A observação compreende o
conjunto das operações através das quais o modelo de análise é confrontando com
dados observáveis. Ao longo desta etapa, será reunida abundante informação para
ser tratada na etapa seguinte.
Existem duas técnicas de observação
participante e não participante:
a)-A observação participante/
observação direta - A observação participante é uma técnica que se baseia na
recolha de elementos de informação, a partir da observação feita por um
pesquisador que se encontra intencionalmente no grupo a observar, ou dele
fazendo efectivamente parte; Esta técnica pode apresentar duas modalidades: a
observação- participação e a participação-observação.
b)-A observação não
participante/ observação indireta - A observação não participante recorre à
recolha de informação, sem que o cientista social tenha de se inserir no grupo
a observar.
Entre as técnicas que constituem a observação não participante,
destacamos a entrevista e o inquérito por questionário
A entrevista consiste numa
técnica de recolha de informações que decorre de diálogos, individuais ou de
grupo. Estas conversas com pessoas selecionadas permitem obter informações
sobre fatos ou sobre a forma como os entrevistados apreenderam esses fatos. Um entrevistador que se assume como o indivíduo que pretende obter dados de
interesse sociológico ou de qualquer outro tipo poderá questionar ou deixar livremente
falar a pessoa entrevistada. Naturalmente, a forma de comunicação verbal e o
tipo de relacionamento entre entrevistador e entrevistado são condicionantes
desta forma de inquirir.
As entrevistas podem ser classificadas de acordo
diferentes critérios. Uma das classificações mais divulgada divide a entrevista
em:
a)-estruturadas ou diretivas
b)-Semidiretivas
c)-Não estruturadas ou não
diretivas.
Entrevistas estruturadas ou diretivas - As
entrevistas serão estruturadas se obedecerem a um esquema rígido, previamente
fixado, que o entrevistador deverá respeitar integralmente. Neste tipo de
entrevista, as questões são geralmente, fechadas, ou seja, o entrevistado não
tem a possibilidade de desenvolver a resposta dada, podendo, apenas,
laconicamente, pronunciar- se positiva ou negativamente sobre as questões
postas. As entrevistas estruturadas podem, contudo, conter questões abertas,
desde que previamente integradas no esquemas da entrevista.
Entrevistas não estruturadas ou não
diretivas - Na entrevista não estruturada, a condução por parte do
entrevistador é mais flexível, podendo este orientá-la com a sequência e as questões
que julgar mais convenientes, de acordo com a sua sensibilidade e tato. As
questões apresentadas, são geralmente, abertas, ou seja, o entrevistado tem
toda a possibilidade de exprimir e justificar livremente a sua opinião.Deste
modo, uma entrevista é tanto mais estruturada ou directiva quanto menor for a
liberdade concebida ao entrevistado no ato de responder; Quando a entrevista
é estruturada, as questões postas são fechadas, não podendo o entrevistador
flexibilizar a condução da entrevista.
Previamente à aplicação da entrevista é
preciso:
a)-Definir os
objetivos da entrevista, que resultam dos objectivos da própria investigação.
b)-Inventariar os grandes temas a abordar e de cuja análise se poderá encontrar
as repostas as respostas aos objectivos.
c)-Inventariar um conjunto de questões
de modo que a informação que o entrevistado nos oferece diga respeito aos
objectivos da investigação.
No ato de aplicação da entrevista é
usual e necessário, ainda:
a)-Iniciar-se a conversa com o entrevistado expondo-lhe as
razões da entrevista
b)-Pedir-lhe a possibilidade de gravar a conversa ou de
tirar notas no momento
c)-Não influenciar o entrevistado com as nossas
opiniões
d)-Finalmente, agradecer a colaboração que nos foi dada
A observação não
participante/ observação indirecta Inquérito por questionário: Destina-se a
ser aplicado a um elevado número de indivíduos; Procedimento que apresenta um
conjunto predeterminado de perguntas À população ou a uma amostra
representativa dessa população.
Os novos campos de investigação em
Sociologia
A sociologia tem por objeto de estudo os factos sociais,
podendo-os ser estudados de acordo com vários graus de aprofundamento. A
sociologia geral estuda o funcionamento da sociedade e a mudança social. Mas se
quisermos estudar com mais profundidade aspetos particulares do domínio social,
teremos de recorrer às Sociologias especializadas.
Sociologia geral: Teoria
sociológica que tem por objeto das seguintes áreas de estudo: Conceitos
fundamentais:
a)-Sociografia dos grupos (
descrição gráfica dos grupos)
b)-Organização e estrutura social
c)-Mudança social
d)-Métodos e técnicas de investigação social
Sociologia especializadas: teorias
sociológicas que têm por objetivo categorias específicas dos factos sociais:
Sociologia da família; Sociologia Política; Sociologia do trabalho; Sociologia
da Educação; Sociologia da Religião; Sociologia rural; Sociologia Urbana;
Sociologia do Lazer; Sociologia da Exclusão ; Sociologia do Quotidiano;
Sociologia Antropológica.
Sociologia Antropológica: Estuda as correlações que existem entre o
fator antropológico e as sociedades humanas. Exemplo: Influência dos grupos
étnicos numa sociedade; nichos étnico-culturais.
Sociologia Politica:Estuda a organização política dos diversos
tipos de sociedade, as implicações socias dos diferentes movimentos políticos e
das ideologias; origem, desenvolvimento e funções do Estado nos seus espetos
teóricos e práticos; a Inter- relações entre Estado e Direto, Política e
Economia, com especial destaque para as relações de dominação e subordinação,
liberdade e coacção. Exemplos: Revoluções; participação em atos eleitorais;
caciquismo.
Sociologia da Família: Estuda a origem, evolução e função da
instituição família, as suas formas distintas e as relações entre os seus
membros, nas diversas sociedades, no passado e no presente. Exemplos: Papéis
conjugais; conciliação entre a vida profissional e familiar; novos tipos de família.
Sociologia da Comunidade, Sociologia Rural e Sociologia Urbana:Estudam a organização, os problemas sociais das comunidades e a diferenciação
do espaço socioecológico; o modo de vida rural e a natureza das diferenças
rurais e urbanas; as alterações socioculturais que ocorrem no contínuo rural-
urbano, a origem e evolução das cidades e o urbanismo como modo de vida;
mudanças socioeconómicas e culturais determinadas pela concentração de uma
elevada população, de composição heterogénea, em limitada área geográfica. Exemplos: Vizinhança; resistências às mudanças no meio rural; desumanização do
indivíduo na grande cidade.
Sociologia da Comunicação: Preocupa-se com o estudo da comunicação
entre seres humanos. Analisa os comportamentos sociais em face dos meios de
comunicação. Um dos aspetos mais relevantes é o estudo da cultura de massa.Exemplos: Papel dos meios de comunicação de massa na formação da opinião
pública; interferências provocadas pela imprensa ou pelas redes sociais numa
campanha eleitoral.
Sociologia Industrial e Sociologia do Trabalho: Referem-se ao
estudo sistemático das relações sociais e à interação entre indivíduos e grupos
relacionados com a função económica da produção e distribuição de bens e
serviços necessários à sociedade. Analisam o conteúdo dos papéis profissionais,
as normas e as expectativas e elas associadas em diferentes organizações de
trabalho.Exemplo: Influência da indústria no sistema de estratificação
social; sindicatos e associações profissionais; a motivação para o trabalho;
estudo do status profissional.
Sociologia do lazer: Estuda os fenómenos decorrentes da redução do
número de horas de trabalho na sociedade industrial e a ampliação do tempo.Exemplo: O quotidiano rotineiro vivido nas cidades industriais obriga a que
muitas pessoas, durante o fim-de- semana, se dediquem a tarefas diversas como a
bricolagem e a jardinagem, ou a atividade físicas e culturais.
Sociologia da Burocracia e Sociologia aplicada à Administração:São
expressões mais ou menos equivalentes: ambas estudam os fenômenos que decorrem
da estrutura das organizações enquanto sistemas especiais. Em rigor, a
expressão cientificamente mais adequada seria a Sociologia das Organizações,
corrente entre os autores francesas. Exemplo: Conflitos de hierarquia; fenômenos decorrentes das disfunções internas (desajustamentos pelos excessos
da organização formal); análise da liderança na organização.
A
interdisciplinaridade consiste na atitude metodológica que procura integrar o
contributo das sociologias especializadas e das outras ciências sociais no
sentido de encontrar uma explicação e um entendimento mais profundo da
realidade social.
Fenômenos da realidade
social
Todos os fenômenos da realidade social são fenômenos sociais totais, isto é, têm
implicações em diferentes níveis do real (histórico, jurídico, religioso,
sociológico, entre outros), podendo, portanto, ser objeto de pesquisa por parte
de todas ou apenas de algumas ciências sociais. Cada um deles é um fenômeno social total.
Segue-se um resumo das teorias dos
principais teóricos clássicos da sociologia:
1)-Auguste Comte,
considerado o “pai” da sociologia, por enunciar, pela primeira vez, a
necessidade de uma ciência capaz de entender as bases da sociedade e criar
propostas de intervenção para que ela possa
desenvolver-se plenamente.A ciência, para Comte, é a principal chave de
crescimento intelectual e moral da sociedade. Para intervir de forma eficaz
nesta, seria necessário entender como ela se estrutura, o que seria possível
por meio de uma ciência que se colocasse a analisá-la. Primeiramente, o nome
dessa ciência, na teoria de Comte, seria física social. Era necessário que ela
tomasse um rigor metodológico para si assim como as ciências da natureza. Mais
tarde, Comte nomeou a sua ciência de sociologia. Todo esse conjunto teórico do
filósofo tornou-se uma espécie de movimento político e social que ficou
conhecido como positivismo.
3)-Émile Durkheim:A sociedade é um todo
complexo ordenado por fatos e regido por funções que são os motes para
entendê-la. Segundo Durkheim, além da compreensão das funções, deveria haver,
por parte do sociólogo, uma compreensão dos fatos que regem as diferentes
sociedades, pois eles são fixos. Nas suas palavras, tais fatos são externos ao
indivíduo, coercitivos e generalizantes, o que faz com que sejam a única opção
de entendimento concreto e científico da sociedade.
4)-Max Weber: O sociólogo alemão Max
Weber discordou de maneira veemente da teoria sociológica de Durkheim. Para
aquele, não existem fatos sociais, mas ações sociais que são individuais. O
papel do sociólogo é compreender o funcionamento da sociedade pelo entendimento
das ações sociais individuais via método compreensivo.
2)-Karl Marx:O materialismo histórico dialético de Marx compreende que a história da humanidade é baseada numa relação dialética entre classes sociais. No caso do capitalismo, a divisão dá-se entre burguesia e proletariado. A produção material, resultado do trabalho, é o principal elemento constitutivo da sociedade.Para Marx, a relação entre as duas classes é injusta, e é necessário, em sua visão, que haja uma revolução da classe proletária para dominar os meios de produção por meio do estabelecimento de uma ditadura do proletariado. Essa ditadura, de cunho socialista, tenderia a eliminar de vez a diferenciação de classes sociais, resultando no comunismo.
ATENÇÃO!!! - Independente do veículo analítico, precisamos entender que
a nossa capacidade de síntese em Estudos Organizacionais Sociais é limitada!
Até porque a verdade e a realidade é maior que nossa capacidade de compreensão global de todos os fenômenos sociais. Todo material analítico que nos cega é sempre uma visão parcial do todo, e nos permite coletar apenas situações, não
conceitos definitivos e imutáveis, é apenas o retrato, ou corte de um momento histórico. Por outro lado, podemos admitir que coletas de campo nos ajudam como fortes aliados na construção do contexto, na delimitação do objeto, na ausência
de um evento-objeto organizacional previamente construído. É muito importante conhecer
os clássicos do pensamento moderno pois estes perpassam os estudos acerca dos
métodos na academia na área de Ciências Sociais e influenciam indiretamente o
Serviço Social.
A sociologia necessita de teorias gerais para
garantir cumulatividade no seu desenvolvimento!
A
possibilidade de cumulatividade é reforçada com a combinação de dois percursos
analíticos. Por um lado, um percurso teoricamente organizado de investigação
empírica que permita gerar resultados comparáveis. Por outro, um percurso de
renovação teórica empiricamente informado que permita incorporar resultados
inovadores.A existência de teorias
gerais permite tirar pleno partido das potencialidades daqueles dois percursos.
No primeiro caso, porque quanto mais geral for uma teoria mais vasto é o campo
da sua aplicabilidade. No segundo, porque quanto mais geral for uma teoria mais
viável é a integração da variedade de conhecimentos produzidos pela
investigação empírica. As relações de reforço mútuo entre variedade e
generalização não constituem apenas uma propriedade do mundo social,
prolongam-se também no domínio do conhecimento deste.
Uma teoria é tanto mais geral quanto mais abstrata for!
Uma teoria sociológica geral é pois uma teoria
sobre propriedades gerais, universais, dos processos relacionais que ordenam o
mundo social, em particular na era moderna. Numa teoria deste tipo a
abstratização deve ser elevada em todos os planos: conceptual, metodológico e
proposicional. A abstratização permite não só garantir o grau de generalidade
da teoria, e portanto um amplo campo de aplicabilidade desta, como mantê-la
simples, e portanto escrutinável. Uma boa teoria geral deve ser simples, como
sustenta Jonathan H. Turner (2010: 5-8), mas não deve reduzir a análise dos
fenómenos sociais à explicação, em última instância, por um único mecanismo ou
princípio de causalidade. Por isso, a teoria deve ser simples mas
multidimensional, reconstruindo como complementares os núcleos
lógico-cognitivos das diferentes tradições sociológicas. Ciências exatas, Teologia,
Filosofia, Psicologia e a Sociologia são áreas do saber humano que tratam de
temáticas diferentes, com critérios diferentes, mas com métodos de análises
comuns (método científico), de modo que não se exclui umas às outras, elas se
entreajudam e se complementam mutuamente. Não são
justapostas, estão em campos distintos, mas em busca de compreensão da verdade
sob aspectos e olhares diferentes, que não é o mesmo que estar em contradição
ou contrários como inimigos. Todos estes saberes têm em mãos materiais de
analises diferentes que se complementam e caminham por caminhos cuja
hermenêutica e sistematização, tem suas próprias regras de exposição e
assimilação. Seus objetivos são diversos um dos outros, enquanto ciências, mas comum
enquanto experiência humana.
*AS ORIGENS DO MÉTODO SOCIOLÓGICO “VER,
JULGAR E AGIR”, QUE FOI CONSAGRADO NA CAMINHADA DA IGREJA LATINO-AMERICANA
O falecido cardeal
Joseph Cardijn, fundador do movimento da Juventude Operária Cristã – JOC, foi O
cardeal que ensinou a Igreja a “ver, julgar e agir”. Em um comunicado, a
Comunidade Internacional Cardijn lembra que foi o
falecido cardeal Joseph Cardijn, fundador do movimento da Juventude Operária
Cristã – JOC, que sugeriu ao Papa João XXIII que publicasse uma encíclica para
marcar o 70º aniversário da histórica encíclica Rerum Novarum do Papa Leão
XIII. Em resposta, o Papa João XXIII pediu que Cardijn
providenciasse um esboço das questões a serem abordadas na encíclica. Ele fez
isso em um memorando de 20 páginas apresentado ao pontífice no ano de 1960.
Quando a Mater et Magistra apareceu pouco mais de
um ano depois, a encíclica observava que “para levar a realizações concretas os
princípios e as diretrizes sociais, passa-se ordinariamente por três fases” (n.
235):
1ª)-O “estudo da
situação” concreta.
2ª)-A “apreciação da
mesma à luz desses princípios e diretrizes”
3ª)-O “exame e
determinação do que se pode e deve fazer para aplicar os princípios e as
diretrizes à prática”.
Esses “são os três
momentos que habitualmente se exprimem com as palavras seguintes: `VER, JULGAR
E AGIR`”, continuava a encíclica.
Portanto, o Papa João XXII reconheceu formalmente o método
ver-julgar-agir em sua encíclica Mater et Magistra publicada no dia 15 de maio de 1961.
“Acreditamos que até mesmo Cardijn
ficou surpreso ao descobrir a extensão desse reconhecimento na encíclica“,
comentou o organizador da Comunidade Internacional Cardijn, M. J. Ruben.
Quatro
anos depois, em um discurso ao Concílio Vaticano II, Cardijn, então cardeal,
insistiu na importância desse legado:
“Tenho demonstrado confiança na
liberdade [dos jovens] de forma a melhor educar essa liberdade… Ajudei-os a ver, julgar e agir por si
mesmos, mediante a realização de ações sociais e culturais próprias, obedecendo
livremente as autoridades, a fim de se tornarem testemunhas adultas de Cristo e
do Evangelho, conscientes de suas responsabilidades por seus irmãos e irmãs em
todo o mundo“, disse ele, no dia 20 de setembro de 1965, em uma frase que
lembra a famosa definição de democracia adotada pelo movimento Sillon(sulco) de
Marc Sangnier como o sistema da “organização social que tende a maximizar a
consciência e a responsabilidade cívicas de cada pessoa”.
A fórmula
ver-julgar-agir de Cardijn resumiu claramente o “método de educação
democrática” nos “círculos de estudo” que o Sillon havia sido pioneiro na
França na virada do século XX:
“Cada cidadão deve conhecer o estado da nação. Quando a situação está
mal, deve buscar soluções. E, finalmente, tendo encontrado as soluções, deve
agir“, escreveu Marc Sangnier, descrevendo o método de pesquisa usado pelo
Sillon em 1899.
Mas foi Cardijn que aperfeiçoou o método e
fez dele a pedra de fundação do movimento da Juventude Operária Cristã – JOC, a
partir do qual ele seria adotado depois por outros tantos grupos e movimentos
de apostolado de leigos:
“Líderes e membros devem aprender a
ver, julgar e agir. Ver o problema para julgar a situação presente, os
problemas, as contradições, as demandas… Agir com vistas à conquista do seu destino temporal e eterno”,
disse ele aos delegados do Primeiro Congresso Internacional da JOC, em 1935.Cardijn, de fato,
viu-se como professor e educador de jovens trabalhadores. Cinquenta anos depois
da Mater et Magistra, podemos ver claramente que ele também era um grande
mestre de toda a Igreja.
“Desde então, o método ver-julgar-agir foi reconhecido e adotado por toda a Igreja”,
continuou Ruben. “Isso mostra como Cardijn foi um mestre para toda a Igreja –
não só para os jovens trabalhadores”, disse. “Essa é outra razão pela qual esperamos que Cardijn, um dia, seja
reconhecido como Doutor da Igreja”, concluiu.
*A reportagem é do
sítio Cardijn Movement News. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A Doutrina Social da Igreja (DSI)
A DSI é o conjunto dos ensinamentos contidos na
doutrina da Igreja Católica e no Magistério da Igreja Católica, constante de
numerosas encíclicas e pronunciamentos dos Papas inseridos na tradição
multissecular, e que tem suas origens nos primórdios do Cristianismo. Tem por finalidade fixar princípios, critérios e diretrizes
gerais a respeito da organização social e política dos povos e das nações. É um convite a
ação. A finalidade da doutrina social da Igreja é "levar os homens a
corresponderem, com o auxílio também da reflexão racional e das ciências
humanas, à sua vocação de construtores responsáveis da sociedade terrena"
[1].Foi enriquecida pelos Padres da Igreja, teólogos e
canonistas da Idade Média e pelos pensadores e filósofos católicos dos tempos
modernos. "A doutrina social da Igreja se desenvolveu no século XIX por
ocasião do encontro do Evangelho com a sociedade industrial moderna, suas novas
estruturas para a produção de bens de consumo, sua nova concepção da sociedade,
do Estado e da autoridade, suas novas formas de trabalho e de
propriedade." [2] A Doutrina Social da Igreja considera que a
"a norma fundamental do Estado deve ser a prossecução da justiça e que a
finalidade de uma justa ordem social é garantir a cada um, no respeito ao
princípio da subsidiariedade, a própria parte nos bens comuns." [3].Através das numerosas encíclicas e pronunciamentos
dos Papas, a Doutrina Social da Igreja aborda vários temas fundamentais, como: "a pessoa humana, sua dignidade, seus direitos […] e suas liberdades; […]
a família, sua vocação e seus direitos; inserção e participação responsável de
cada homem na vida social"; a promoção da paz; o sistema económico e a
iniciativa privada; o papel do Estado; o trabalho humano; a comunidade
política; "o bem comum e sua promoção, no respeito dos princípios da
solidariedade e subsidiariedade; o destino universal dos bens da natureza e
cuidado com a sua preservação e defesa do ambiente; o desenvolvimento integral
de cada pessoa e dos povos; o primado da justiça e da caridade".[4][5]Mas, a existência da Doutrina Social da Igreja não
implica a participação do clero na política, que é expressamente proibida pela
Igreja, excepto em situações urgentes. Isto porque a missão de melhorar e
"animar as realidades temporais", nomeadamente através da
participação cívico-política, é destinada aos leigos.[6][7] Logo, a hierarquia
eclesiástica "não está no negócio de formar ou dirigir governos" nem
de escolher regimes políticos; ela está apenas "no negócio de formar o
tipo de pessoa que consegue formar e dirigir governos nos quais a liberdade
leva à genuína realização humana".[8]
Nos finais do século XIX, com o surgimento da
sociedade industrial modificou-se o contexto social de modo a determinar uma
reavaliação do que seria a "justa ordem da coletividade". Antigas
estruturas sociais foram desmontadas e o surgimento da massa de proletários
assalariados determinou fortes mudanças na organização social fazendo com que a
"relação capital e trabalho" se tornasse uma questão decisiva de um
modo até então desconhecido.
"As
estruturas de produção e o capital
tornaram-se o novo poder, que, colocado nas mãos de poucos, comportava para as
massas operárias uma privação de direitos, contra a qual era preciso
revoltar-se. Lentamente os representantes da Igreja se aperceberam que das
novas formas socioeconômicas surgiam problemas com reflexos na questão da
"justa estrutura social".
Muitas iniciativas pioneiras surgiram nesta época entre leigos e religiosos
voltadas para os problemas de pobreza, doenças e carências de serviços de saúde
e educação. Entre os pioneiros destacou-se o Bispo de Mongúcia, von Ketteler,
dentre vários outros clérigos, religiosos e leigos."[3].
Em 1891, Leão XIII sentindo a urgência dos novos
tempos e das "coisas novas" promulgou a encíclica Rerum
Novarum. A ela seguiu-se a encíclica Quadragesimo anno, de Pio XI em 1931. O
beato papa João XXIII publicou, em 1961, a Mater et magistra e Paulo VI a
encíclica Populorum Progressio, em 1967, e a carta apostólica Octagesima adveniens,
em 1971. De sua parte João Paulo II não foi menos preocupado com o tema da
"questão social", publicou três encíclicas: Laborens exercens (1981),
Sollicitudo rei socialis (1987) e, finalmente Centesimus annus em 1991,
pouco tempo depois da queda do Muro de Berlim e da débacle do comunismo na
Cortina de Ferro. No entanto, a Doutrina Social da
Igreja somente foi apresentada de modo sistematizado e orgânico em 2004 no Compêndio da Doutrina Social da Igreja, fruto de
trabalho do Pontifício Conselho Justiça e Paz.
A Igreja, com a sua doutrina social, não entra em questões técnicas e não institui e nem propõe
sistemas ou modelos de organização social: isto não faz parte da missão que
Cristo lhe confiou.(Compêndio, n. 3, 7 e 68).No entanto, Pela
relevância pública do Evangelho e da fé e pelos efeitos perversos da injustiça,
vale dizer, do pecado, a Igreja não pode ficar indiferente às
vicissitudes sociais: Compete à Igreja anunciar sempre e por toda a parte os
princípios morais, mesmo referentes à ordem social, e pronunciar-se a respeito
de qualquer questão humana, enquanto o exigirem os direitos
fundamentais da pessoa humana ou a salvação das almas. [9]A encíclica Rerum Novarum, "sobre a questão
operária", de Leão XIII, se constituiu na verdade na carta magna da
atividade cristã no campo social, em busca de uma ordem social justa. "À
vista dos problemas resultantes da revolução industrial que suscitaram o
conflito entre capital e trabalho aquele documento enumera "os erros que
provocam o mal social, exclui o socialismo como remédio e expõe de modo preciso
e atualizado a doutrina católica sobre o trabalho, o direito de propriedade, o
princípio da colaboração em contraposição à luta de classes, sobre o direito
dos mais fracos, sobre a dignidade dos pobres e as obrigações dos ricos, o
direito de associação e o aperfeiçoamento da justiça pela caridade." [10] Além de
ter feito a condenação expressa do nazismo na Encíclica Mit brennender Sorge do
Papa Pio XI, "a Igreja tem rejeitado as ideologias
totalitárias e ateias associadas, nos tempos modernos, ao comunismo ou ao
socialismo. Além disso, na prática do capitalismo ela recusou o
individualismo e o primado absoluto da lei do mercado sobre o trabalho humano.
A regulamentação da economia exclusivamente através do planejamento
centralizado perverte na base os vínculos sociais, sua regulamentação
unicamente pela lei do mercado vai contra a justiça social, "pois há
muitas necessidades humanas que não podem ser atendidas pelo mercado". É
preciso preconizar uma regulamentação racional do mercado e das iniciativas
econômicas, de acordo com uma justa hierarquia de valores e em vista do bem
comum." [11]
São princípios básicos em que se condensa a
Doutrina Social da Igreja:
1) A dignidade da pessoa humana, como criatura à
imagem de Deus e a igual dignidade de todas as pessoas;
2) respeito à vida
humana,
3) princípio de associação,
4) princípio da participação,
5) opção
preferencial pelos pobres,
6) princípio da solidariedade,
7) princípio da
subsidiariedade,
8) princípio do bem comum,
9) princípio da destinação
universal dos bens.
Os princípios da dignidade da pessoa humana do bem comum, da
subsidiariedade e o da solidariedade a Doutrina Social da Igreja - DSI os
considera de caráter geral e fundamental, permanentes e universais.
Esta
doutrina indica, ainda, valores fundamentais que devem presidir a vida social.
Estes valores são:
1)- A Verdade: "O homem tende naturalmente para a
verdade. É obrigado a honrá-la e testemunhá-la. É obrigado a aderir à verdade
conhecida e a ordenar toda a vida segundo as exigências da verdade" [12]. A
vida social exige transparência e honestidade e sem a confiança recíproca a
vida em comunidade torna-se insuportável.
2)- A Liberdade: "Toda pessoa humana, criada à imagem de
Deus, tem o direito natural de ser reconhecida como ser livre e responsável.
Todos devem a cada um esta obrigação de respeito. O direito ao exercício da
liberdade é uma exigência inseparável da dignidade da pessoa humana, sobretudo
em matéria moral e religiosa. Este direito deve ser reconhecido
civilmente e protegido nos limites do bem comum e da ordem pública." [13]
"O exercício da liberdade não implica o direito de dizer e fazer tudo. É
falso pretender que o homem, sujeito da liberdade, se baste a si mesmo tendo
por fim a satisfação de seu próprio interesse no gozo dos bens terrenos."
[14].
3)- A Justiça: "Segundo São Tomás de Aquino consiste na
vontade perpétua e constante de dar a cada um o que lhe é devido. A
justiça, contudo, não é uma simples convenção humana, porque o que é justo não
é originalmente determinado pela lei, mas pela identidade profunda do ser
humano. Aqui reafirma o “direito natural” como sinônimo de respeito à dignidade da pessoa
humana, sob uma ótica cristã de valores, como fundamento do direito positivo.
Segundo esta doutrina por bem comum entende-se: "O
conjunto daquelas condições da vida social que permitem aos grupos e a cada um
dos seus membros atingirem de maneira a mais completa e desembaraçadamente a
própria perfeição." [15].O bem comum é de responsabilidade de todos.
"O bem comum empenha todos os membros da sociedade: ninguém está escusado
de colaborar, de acordo, com as próprias possibilidades, na sua busca e no seu
desenvolvimento." (João XXIII, Mater et Magistra e Catecismo da
Igreja Católica n. 1913). Mais, o bem comum é a razão de ser da autoridade
política e para assegurá-lo o governo de cada País tem a tarefa específica de
harmonizar com justiça os diversos interesses setoriais. O significado do bem comum vai
além do simples bem-estar econômico e considera a finalização transcendente do
ser humano. Destinação universal dos
bens.Esta doutrina social sustenta que a propriedade dos bens seja acessível a
todos de modo equânime e equitativo. Reconhece a função social de qualquer
forma de posse. Do que
decorre o dever de fazer com que a propriedade seja produtiva. Sobre este ponto
o Concílio Vaticano II recomenda com firmeza que não se dê aos pobres a título
de caridade o que já lhes é devido a título de justiça. Também sobre este
princípio o Papa João Paulo II reafirmou, em Puebla (discurso de 28 de janeiro
de 1979): "A esse propósito deve ser reafirmada, em toda a sua força, a
opção preferencial (não exclusiva) pelos
pobres." O que não supera o modo de produção capitalista e não reflete que
a pobreza faz um rico.
Princípio
da Subsidiariedade
O princípio da subsidiariedade é realçado na
encíclica Quadragesimo anno de Pio XI. Por este princípio deve-se respeitar a
liberdade e proteger a vitalidade dos corpos sociais intermédios, por exemplo,
a família, grupos, associações, entidades culturais, econômicas, ONG's, e
outras que são formadas espontaneamente no seio da sociedade. Não
deve o Estado interferir no corpo social e na sociedade civil além do
necessário. Por outro lado deve o Estado exercer atividade supletiva quando o
corpo social, por si, não consegue ou não tem meios de promover determinada
atividade, como também deve o Estado intervir para evitar situações de
desequilíbrio e de injustiça social.(a doutrina de S. Tomás de Aquino é
um dos pilares da Doutrina Social católica).Este
princípio se opõe às formas de centralização, burocratização, assistencialismo
e de presença desnecessária e injustificada do Estado e do aparelho estatal no
meio da sociedade civil. João Paulo II na Centesimus annus (48), afirmou: Ao
intervir directamente, irresponsabilizando a sociedade, o Estado assistencial
provoca a perda de energias humanas e o aumento exagerado do sector estatal,
dominando mais por lógicas burocráticas do que pela preocupação de servir os
usuários com um acréscimo enorme de despesas.Não admitir ou admitir de forma inadequada a
liberdade de iniciativa privada, econômica e os monopólios desnecessários e
injustificados concorrem para desrespeitar este princípio. De outro lado estão de acordo com
este princípio o respeito e a promoção efetiva do primado da pessoa humana e da
família, a valorização das associações e organizações de nível intermediário
existentes na sociedade, o respeito a uma organização social e
representatividade pluralista, respeito aos direitos humanos e das minorias,
descentralização administrativa e o adequado equilíbrio entre o
"público" e o "privado" e a correta responsabilização do
cidadão como parte integrante ativa da realidade social e política do Estado,
estes são fatores que se colocam na linha de realização deste princípio com
vistas ao alcance do bem comum.
Direito
de participação na vida social e política
A participação é um dever a ser conscientemente
exercitado por todos, de modo responsável e em vista do bem comum ([16]). Toda
democracia deve ser participativa. É fortemente criticada a negativa deste
direito por uma organização do Estado de forma totalitária ou ditatorial, ainda
que este direito venha a ser reconhecido formalmente mas na prática negado,
como também a "elefantíase do estado" e do seu aparato burocrático
são criticadas porque em razão deles pode vir a ser negado ao cidadão a
possibilidade de participar da vida social e política do país e também
o dia do nascimento deles.
Princípio da
Solidariedade
Como fruto da globalização crescente da sociedade e
de uma crescente interdependência entre os homens crescem as possibilidades de
relacionamento entre os homens. Este
princípio, sintetiza-o bem João Paulo II, na encíclica Solicitudo Rei Socialis
(38):
“... a
solidariedade, portanto, não é um sentimento de compaixão vaga ou de
enternecimento superficial pelos males sofridos por tantas pessoas, próximas ou
distantes, pelo contrário, é a determinação
firme e perseverante de se empenhar pelo bem comum; ou seja, pelo bem de todos
e de cada um, porque todos nós somos verdadeiramente responsáveis por todos.
Esta determinação está fundada na firme convicção de que as causas que entravam
o desenvolvimento integral são aquela avidez do lucro e aquela sede do poder de
que se falou. Estas atitudes e estas
"estruturas de pecado" só poderão ser vencidas - pressupondo o
auxílio da graça divina com uma atitude diametralmente oposta: a aplicação em prol
do bem do próximo, com disponibilidade, em sentido evangélico, para
"perder-se" em benefício do próximo em vez de o explorar, e
"para servi-lo" em vez de o oprimir para proveito próprio...”
"A
prática da solidariedade no interior de cada sociedade é valida quando os seus
membros se reconhecem uns aos outros como pessoas. Aqueles que contam mais, dispondo de uma parte maior de bens e de
serviços comuns, hão de sentir-se responsáveis pelos mais fracos e estar
dispostos a compartilhar com eles o que possuem. Por seu lado, os mais fracos, na mesma linha de solidariedade não devem adotar um atitude
meramente passiva ou destrutiva do tecido social; mas, embora defendendo os
seus direitos legítimos, fazer o que lhes compete para o bem de todos. Os grupos intermédios, por sua vez, não deveriam
insistir egoisticamente nos seus próprios interesses, mas respeitar os
interesses dos outros."Este
princípio, segundo esta doutrina, leva em conta não só a igualdade fundamental
entre todos os homens, mas vê o homem como imagem viva de Deus, resgatada na
Paixão de Cristo: deve ser amado ainda que seja inimigo(Idem, 40).
Pela Doutrina Social da Igreja a família é
importante para a pessoa humana e para sociedade. É vista como a célula primeira e
vital da sociedade. A família é considerada a primeira sociedade natural,
titular de direitos próprios e originários, é colocada no âmago da vida social
e nasce da íntima comunhão de vida e de amor fundada no matrimônio entre um
homem e uma mulher. [17].
O homem, segundo esta doutrina, foi criado ut
operaretur - “para trabalhar”. As realidades criadas, são boas em si mesmas,
existem em função do homem. O trabalho portanto, pertence à condição originária
própria do homem, é anterior à queda do pecado original, não pode por isto ser
entendido nem como punição e nem como sendo uma maldição ou castigo. É um instrumento eficaz contra a pobreza e deve ser sempre
honrado, é essencial, mas não é o fim último da razão de ser da existência do
homem, este não deve esquecer que a última razão da sua existência é Deus.O
trabalho representa uma dimensão fundamental do homem como participante da
criação e da redenção. O trabalho
é meio de santificação. Ninguém pode se sentir no direito de não trabalhar e de
viver à custa dos outros. O trabalho é também uma obrigação, vale dizer, um
dever do homem. Constitui uma obrigação para consigo, para com a família, a
sociedade e a nação.
A
pessoa é o parâmetro da dignidade do trabalho:
“Não há
dúvida nenhuma, realmente, de que o trabalho humano tem seu valor ético, o
qual, sem meios-termos, permanece diretamente ligado ao fato de aquele que o
realiza ser uma pessoa.” (Laborens exercens). Isto é, o valor do trabalho está
não no que é feito mas está em quem o faz: a pessoa humana. O trabalho
humano tem também a sua dimensão social: o trabalho é para o homem e não o
homem para o trabalho. O trabalho é um direito fundamental, tem um
valor de dignidade e é também uma necessidade para o homem e para este formar e
manter uma família, para ter direito à propriedade e para contribuir para o bem
comum. Com efeito “se pode afirmar, com toda a verdade, que o trabalho é o meio
universal de prover às necessidades da vida, quer ele se exerça num terreno
próprio, quer em alguma arte lucrativa cuja remuneração, apenas, sai dos
produtos múltiplos da terra, com os quais se ela comuta." [18]
Por ser um direito fundamental toda ordem econômica
que se queira voltada para a justiça e para o bem comum deve estar orientada
com vistas a alcançar o pleno emprego. O dever do Estado
neste campo há de estar voltado preferencialmente para as políticas que criem
condições e garantam ocasiões de trabalho, estimulando a atividade das empresas
onde for insuficiente e apoiando-as nos momentos de crise. [19]
Para a promoção do direito ao trabalho é relevante permitir e incentivar o
processo de livre auto-organização dos diversos setores produtivos da
sociedade, empresariais e sociais, a cooperação e a autogestão e outras formas
de atividade solidária.
Relações
com o capital na DSI
Pelo seu caráter pessoal de ato humano e em razão
da dignidade da pessoa, o trabalho é superior e precede em importância a
qualquer outro fator de produção, este princípio vale, de modo especial e
particular, em relação ao capital. Entretanto, entre um e outro há uma
complementariedade: “De nada vale o capital sem o trabalho, nem o
trabalho sem o capital” (Rerum novarum, 11). ...”é inteiramente falso atribuir
ou só ao capital ou só ao trabalho o produto do concurso de ambos; e é deveras
injusto que um deles, negando a eficácia do outro, se arrogue a si todos os
frutos.” (Pio XI in Quadragesimo anno, 195).Na relação entre capital e
trabalho há de se ter em conta, também a participação, de alguma forma dos
trabalhadores na propriedade, na gestão e nos seus frutos. Há também que se
respeitar o repouso festivo, este é um direito do trabalhador e da sua família.
Propriedade
privada e função social
A Doutrina Social da Igreja sustenta
que o direito à propriedade privada está subordinado ao princípio da destinação
universal dos bens e não deve constituir um impedimento ao trabalho. Não é
lícito possuir por possuir, ou possuir contra o trabalho. A propriedade, que se adquire com o fruto do
trabalho, tem por dever servir ao trabalho. De tudo resulta que a propriedade
particular é plenamente conforme a natureza, porque o seu fundamento está no
trabalho humano ela é o fruto do trabalho. [20]Esta doutrina considera
indispensável uma reforma agrária, justa e eficiente, condena tanto o
latifúndio porque expressão de um uso socialmente irresponsável do direito de
propriedade como a propriedade estatal da terra, porque leva a uma
despersonalização da sociedade civil, sugere que se favoreça largamente a
empresa familiar proprietária da terra que a cultiva diretamente. (João
Paulo II deu ênfase à proteção dos valores cristãos da família e promoveu os
encontros mundiais da família).
Trabalho
e família na DSI
O trabalho é o fundamento sobre o qual se edifica a
vida familiar, que é um direito fundamental e uma vocação do homem. [21] É
preciso que o Estado, as empresas e os sindicatos e os setores participantes da
vida social promovam políticas do trabalho que não penalizem e não sacrifiquem
as famílias, notadamente a dupla jornada de trabalha reduz o tempo dedicado à
vida de família, e os problemas familiares se refletem sobre o rendimento no
campo do trabalho.O respeito aos direitos da mulher faz com que
seja levado em conta a sua dignidade e a sua vocação. A verdadeira promoção dos
direitos da mulher ...”exige que o trabalho seja estruturado de tal maneira que
ela não se veja obrigada a pagar a própria promoção com o ter de abandonar a
sua especificidade e com detrimento da sua família, na qual ela como mãe, tem
um papel insubstituível”. [22]Quanto ao trabalho do menor este
“não deve entrar na oficina senão quando a sua idade tenha suficientemente
desenvolvido nele as forças físicas, intelectuais e morais: do contrário, como
uma planta ainda tenra, ver-se-á murchar com um trabalho demasiado precoce, e
dar-se-á cabo da sua educação.” [23]
Direitos do trabalhador
na DSI
Os direitos do trabalhador se baseiam na natureza
da pessoa humana e na sua dignidade. O Magistério da Igreja enumera dentre
outros: a justa remuneração, direito ao repouso, trabalho em ambiente que não
lese a sua saúde e a integridade moral, respeito à sua consciência, auxílios
aos desempregados e suas famílias, direito a aposentadoria e pensão nos casos
de doença, direito a auxílios e benefícios sociais no caso da
maternidade, direito de reunião e associação.O acordo
entre patrão e empregado não é suficiente para legitimar o quantum da
remuneração, ela deve ser suficiente para um sustento digno do trabalhador e da
sua família, as leis de mercado não são suficientes para atender a esta
condição de justiça, o direito natural antecede ao direito de contratar. Se for
necessário, cabe ao Estado fixar um valor mínimo para as diversas
circunstâncias em que a remuneração do trabalho é devida.A greve é reconhecida pela doutrina social como
instrumento legítimo, como "último recurso" e inevitável e até necessário em
vista de um benefício proporcionado, desde que todos os
outros recursos se tenham levado a efeito para evitar o conflito. A greve legítima, como justo
instrumento de pressão contra os empregadores, contra o Estado e até como meio
de pressionar a opinião pública, há de ser sempre pacífica, e perde a sua
legitimidade se a ela é associada a violência ou quando lhe é atribuído outro
fim que não as condições de trabalho ou contrários ao bem comum.Os Sindicatos devem ser instrumentos de
solidariedade entre os trabalhadores e são um fator construtivo da ordem
social. A ação sindical deve ser voltada para o bem comum. Não se admite o ódio
de classes e luta para a eliminação de outrem. Trabalho e Capitalsão
indispensáveis para o processo de produção. A doutrina social não
pensa que os sindicatos sejam somente o reflexo de uma estrutura de classe da
sociedade, como não pensa que eles sejam o expoente de uma luta de classe, que
inevitavelmente governe a vida social. (Laborem exercens)O papel específico do sindicato é o de garantir os
justos direitos dos homens do trabalho no quadro do bem comum de toda a
sociedade, num empenhamento normal das pessoas em busca do justo bem, não devem
se vincular a partidos políticos e nem se envolver na luta pelo poder político,
para não se transformarem em instrumentos para outros fins que a solidariedade
entre os trabalhadores. Novas formas de solidariedade devem ser
criadas de modo a amparar os trabalhadores que se encontram em situação de
trabalho novas, decorrentes dos problemas e possibilidades dos tempos atuais, e
não se enquadram nas formas tradicionais e antigas de emprego da grande
indústria ou da grande empresa.As novidades e as oportunidades que
surgem com a globalização não podem implicar em violações dos direitos
inalienáveis do homem que trabalha. A dignidade do trabalho deve ser tutelada
sempre. A globalização tem aspectos positivos que devem ser valorados e resulta
da natural tendência do homem de se relacionar com o outro homem. Com a
globalização e a evolução da técnica surge a oportunidade para todos de dar
expressão a um humanismo do trabalho em âmbito planetário.
À luz da Revelação a atividade econômica deve ser
vista como uma forma de coparticipação do homem na Criação. É uma questão de
justiça consigo mesmo e como próximo a adequada administração dos próprios dons
e bens materiais. O progresso material e a atividade econômica deve ser colocada a
serviço dos demais e da sociedade. As riquezas existem para ser partilhadas com
os demais. "Quem tem as riquezas somente para si não é inocente; dar a
quem tem necessidade significa pagar um débito." [24].Há uma
relação entre moral e economia, Pio XI na Encíclica Quadragesimo anno afirma
que é um erro considerar que a atividade econômica está desvinculada dos
princípios morais que regem a atividade humana. A riqueza, a economia não é um
fim em si mesma e nem último fim e razão de ser da existência, ela se destina à
produção, distribuição e consumo de bens e serviços, com vistas ao bem do homem
e de toda a sociedade para a promoção de um desenvolvimento solidário da
humanidade. As chamadas estruturas de pecados são construídas com
muitos atos concretos e individuais de egoísmo humano.A virtude da caridade é a base da concórdia entre
os homens. A Doutrina social admite uma economia de mercado ou economia livre
numa perspectiva de desenvolvimento integral e solidário, mas se por
capitalismo se entende que a liberdade na economia não está balizada por um
sólido sistema jurídico que a coloque a serviço da liberdade humana integral, a
resposta é negativa. A atividade econômica está submetida não só às suas
próprias regras mas também as da moral e da ética.
A
Iniciativa privada na DSI
Considera
esta doutrina que a liberdade da pessoa humana no campo econômico é um valor
fundamental e um direito inalienável a ser promovido e tutelado. Por outro
lado, A empresa não pode ser considerada apenas como uma "sociedade de
capitais"; é simultaneamente uma "sociedade de pessoas", da qual
fazem parte, de modo diverso e com específicas responsabilidades, quer aqueles
que fornecem o capital necessário para a sua atividade, quer aqueles que
colaboram com o seu trabalho. (João Paulo II) [25].A doutrina social reconhece a justa função do
lucro, mas o lucro por si só não indica que a empresa esteja servindo
adequadamente à sociedade, não é lícito obter o lucro à custa da dignidade do
trabalhador, da sua humilhação e da violação dos seus direitos (o que
caracteriza o capitalismo). Mesmo nas relações internacionais a prática da
usura permanece condenada e merecem reprovação os sistemas financeiros abusivos
e usurários tanto no âmbito das economias nacionais como internacionais.Os
trabalhadores que atuam na empresa constituem o seu patrimônio mais precioso
(Centesimus annus, 35), nas grandes decisões estratégicas e financeiras da
empresa, de compra e venda, abertura e fechamento de filiais não é lícito
decidir tendo por base apenas os interesses do "capital" sem olhar a
dignidade dos que nela trabalham. Devem organizar a atividade na
empresa de modo a favorecer e promover a família do trabalhador, especialmente
as mães de família.
Instituições
econômicas na DSI
Sendo os recursos existentes na natureza finitos devem
ser empregados de forma racional e econômica. A DSI
considera que o livre mercado socialmente importante pela capacidade que possui
de permitir uma eficiente produção de bens e serviços. A concorrência é eficaz
para alcançar objetivos importantes como moderar os excessos de lucros, atender
às exigências de consumidores por exemplo e incentivar a criatividade e
inovação na economia. Entretanto
o benefício individual do operador, embora legítimo, não é o único objetivo e
nem o mais importante ele deve ser obtido num contexto de utilidade social. O
livre mercado somente alcança a sua legitimidade quando ancorado nas
finalidades morais e éticas que o norteiam.
"A
liberdade econômica é apenas um elemento da liberdade humana. Quando aquela se
torna autônoma, isto é, quando o homem é visto mais como um produtor ou um
consumidor de bens do que como um sujeito que produz e consome para viver,
então ela perde a sua necessária relação com a pessoa humana e acaba por a
alienar e oprimir." [26]
Bento XVI ensina que A Doutrina Social Católica
sustentou sempre que a distribuição equitativa dos bens é prioritária. O
proveito é legítimo naturalmente e, na justa medida necessário para o
desenvolvimento econômico. Recorda neste sentido as palavras de João
Paulo II na encíclica "Centesimus annus": A moderna economia de
empresa comporta aspectos positivos, cuja raiz é a liberdade da pessoa, que se
expressa no campo econômico como em outros tantos campos, acrescentando que o capitalismo não é o único modelo válido
de organização econômica. [27]
Por outro lado os poderes públicos ao agirem devem
conformar a sua atuação de acordo com o princípio da subsidiariedade para criar
condições que facilitem o livre exercício da atividade econômica que deve
atender por sua vez aos princípios da solidariedade. Cabe ainda ao Estado
estabelecer limites de modo que a parte mais fraca não seja prejudicada pelos
economicamente mais fortes.Deve haver uma complementariedade entre o
Estado e o mercado de modo que aqueles bens necessários que o mercado por sua
atuação natural não possa fornecer seja fornecidos pela ação estatal. O Estado
deve, porém, abster-se de uma intervenção abusiva que possa condicionar
indevidamente a ação das forças empresariais. A intervenção pública quando
necessária deve ater-se aos critérios de equidade, racionalidade, e eficiência
e não deve suprimir a liberdade de iniciativa dos indivíduos.A
imposição de tributos deve ser racional, deve haver rigor e integridade na
administração e na destinação dos recursos públicos. Na distribuição das
riquezas os poderes públicos devem observar os princípios da solidariedade, da
igualdade, da valorização dos talentos e em especial ao amparo das famílias.
Os
corpos sociais intermédios na DSI
Esta doutrina sustenta também que as atividades de
voluntariado e as entidades sem fins lucrativos devem ter um espaço específico
na sua área de atuação. A sociedade civil, ao lado do mercado e do
Estado é capaz de prestar a sua colaboração de modo eficaz pelos seus corpos
intermédios, neste contexto a intervenção do Estado deve ser feita no respeito
e na promoção da dignidade e da autonomia destes corpos intermédios em
homenagem ao "princípio da subsidiariedade".
O consumo deve ser exercido sem esquecer o dever da
caridade, há a obrigação de aportar com o "supérfluo" e às vezes com
o "necessário" para garantir a vida ao pobre com o indispensável a
uma vida digna. Os consumidores são chamados a preferir os produtos
das empresas não só pelo critério do preço e da sua qualidade, mas também
levando em conta a existência de adequadas condições de trabalho nesses
estabelecimentos bem como o grau de respeito que tem com relação ao meio
ambiente natural.Os consumidores são convidados também, a evitar
o fenômeno do "consumismo" e a evitar as necessidades artificialmente
criadas que dificultam e até mesmo impedem o crescimento e a formação de uma
personalidade amadurecida.
Outros
princípios presentes da DSI
São outros princípios em que se baseia a Doutrina
Social da Igreja:
1)- A liberdade da pessoa, o valor da liberdade e
os seus limites e o seu vínculo com a verdade e a lei natural; a inviolabilidade e
inalienabilidade dos direitos humanos, cuja fonte não se situa na vontade dos
homens e nem na realidade do Estado ou nos poderes públicos, mas no próprio
homem e na Lei Natural, do que decorre a sua inderrogabilidade, neles se situa
em primeiro lugar, o direito à vida desde a sua concepção ao seu fim natural e
o da complementariedade entre direitos e deveres e a sua correlação respectiva.
2)- E ainda: A primazia do bem comum sobre o
interesse particular, o valor da família e a indissolubilidade do vínculo
matrimonial, liberdade de educação dos filhos pelos pais, a liberdade religiosa,
superioridade e prevalência do trabalhador sobre o capital, trabalho como valor que
dignifica o ser humano, do que decorre o direito ao salário justo, princípio da
autoridade como finalidade para servir ao bem comum, autonomia dos grupos
intermédios, princípio da subsidiariedade e ação social supletiva do Estado,
princípio da destinação universal dos bens e o direito da propriedade privada
limitado pela justiça e pelo bem comum.
Os principais documentos da Igreja em
que se funda a atual Doutrina Social, dentre muitos outros documentos e alocuções dos Papas, são de:
•Papa Pio IX: Qui pluribus, 1846 e Quanta cura,
1864.
•Papa Leão XIII: Rerum Novarum ("Das coisas
novas" - Sobre a Situação dos Trabalhadores - crítica aos materialismos
comunista e capitalista), 1891, Imortale Dei e Quod apostolici muneris, 1878.
•Papa Bento XV: Ad
Beatissimi, 1914.
•Papa Pio XI: Quadragesimo Anno ("No
quadragésimo ano" - Sobre a Reconstrução da Ordem Social), 1931; Divini
Redemptoris(Condenação do comunismo), 1937; Non abbiamo bisogno (Condenação do
Fascismo) e Mit brennender Sorge (Condenação do Nazismo), 1937.
•Papa Pio XII: Fidei Donum, 1957 e Ad apostolorum
principis.
•Papa João XXIII: Mater et Magistra ( "Mãe e
Mestra" - Cristianismo e Progresso Social), 1961 e Pacem in Terris (Paz na
Terra), 1963.
•Concílio Vaticano II: Gaudium et Spes
("Alegria e Esperança" - A Igreja no Mundo Atual), 1965.
•Papa Paulo VI: Populorum Progressio ("O
progresso dos povos" - Sobre o Desenvolvimento dos Povos), 1967;
Octogesima Adveniens ( "Chegando a octogésima" - Convocação à Ação),
1967; Sínodo dos Bispos: A Justiça no Mundo, 1967; Humanae Vitae, 1968 e
Evangelii Nuntiandi ("O Evangelho a anunciar" - A Evangelização no
Mundo Atual), 1975.
•Papa João Paulo II: Redemptor Hominis (O Redentor
da Humanidade), 1979; Laborem Exercens (Sobre o Trabalho Humano), 1981;
Sollicitudo Rei Socialis (A Solicitude Social da Igreja), 1987; Centesimus
Annus (O Ano Centenário), 1991; Tertio Millenio Adveniente(O Ano Jubilar 2000),
1994 e Evangelium Vitae (O Evangelho da Vida), 1995.
•Carta dos Direitos da Família, Vaticano:
Tipografia Poliglota Vaticana, 1983.
•Papa Bento XVI: Deus Caritas Est, 2005; Caritas in
Veritate, 2009.
1.Sollicitudo rei socialis
2.Catecismo da Igreja Católica, 2420
3.Deus caritas est, 26-27. Erro de citação: Código
<ref> inválido; o nome "Ketteler" é definido mais de uma vez
com conteúdos diferentes
4.«Doutrina Social da Igreja (DSI)». Enciclopédia
Católica Popular.
5. PONTIFÍCIO CONSELHO JUSTIÇA E PAZ (2004).
«Compêndio da Doutrina Social da Igreja» (índice geral). Santa Sé.
6. Catecismo da Igreja Católica (Coimbra:
Gráfica de Coimbra). pp. N. 2242.
7.BARTOLOMEU SORGE (1998). Por Uma Civilização de
Amor. A proposta social da Igreja (São Paulo: Pia Sociedade Filhas de São
Paulo). pp. págs. 208 – 210.
8. GEORGE WEIGEL (2002). A Verdade do
Catolicismo. Resposta a Dez Temas Controversos (Lisboa: Bertrand Editora).
9.Compêndio DSI, 71
10.Compêndio DSI, 89
11.Idem, 2425
12.Catecismo, 2467
13.Cat., 1738
14.Idem, 1740
15.Conc. Vat. II, Const. apost. Gaudium et spes, 26
16.Catecismo, 1913 – 1917
17.Gaudium et spes, 48
18.Rerum Novarum, 11-13.
19.Centesimus annus, 48.
20.Rerum Novarum, 15
21.Laborem exercens, 10.
22.Laborens exercens, 19
23.Rerum Novarum, 60
24.Compêndio DSI, 329.
25.Centesimus annus, 43.
26.Centesimus annus, 39
27.Vatican Information Service 24.09.2007 - AñoXVII
- Num. 159
-https://www.youtube.com/watch?v=00tef4nDI4o
-ARROYO, M.; SÁBADA, I.
Metodología de la investigación social: técnicas innovadoras y sus
aplicaciones. Madrid: Editorial
Sínteses , 2012.
-COELHO, A. L. D. A. L.; GODOI, C. K.; COELHO, C. Análise
Sócio-hermenêutica do Discurso da Sustentabilidade a Partir de Materiais
Visuais. RAC - Revista de Administração Contemporânea, v. 19, n. 5, p. 649-670,
2015.
-https://pt.slideshare.net/CatarinaAlexandra8/as-metodologias-de-investigao-em-sociologia-e-cincias-sociais
(visitado:15/07/2020)
-BEHRING, Elaine
Rossetti; BOSCHETTI, Ivanete. Política Social:
fundamentos e história. São Paulo: Cortez, 2006.
-BOTTOMORE, Tom. Dicionário do pensamento marxista. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001.
-COHN, Gabriel. Introdução. In: FERNANDES, Florestan.
(Coord.); COHN, Gabriel (Org.). Max Weber. Sociologia. Tradução: Amélia Cohn e
Gabriel Cohn. 6 ed. São Paulo: Ática, 1997.
-DURKHEIM, Émile. As regras do método sociológico. Tradução
de Paulo Neves. São Paulo: Martins Fontes, 1995.
-MARX, Karl. Contribuição à crítica da economia política.
Tradução de Maria Helena Barreiro Alves. 3 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
-WEBER, Max. A “objetividade” do conhecimento nas Ciências
Sociais. In: FERNANDES, Florestan. (Coord.); COHN, Gabriel (Org.). Max Weber.
Sociologia. Tradução: Amélia Cohn e Gabriel Cohn. 6 ed. São Paulo: Ática, 1997.
-https://www.marilia.unesp.br/Home/Eventos/2014/viseminariointernacionalteoriapoliticadosocialismo/metodos-_de_pesq_marcias.pdf
-https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/materialismo-historico.htm
(visitado 15/07/2020)
-Turner, Jonathan H.
(2010), Theoretical Principles of Sociology, vol. I: Macrodynamics, Nova Iorque, Springer.
-https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/2018/06/11/as-origens-do-metodo-ver-julgar-e-agir-que-foi-consagrado-na-caminhada-da-igreja-latino-americana/
------------------------------------------------------
APOSTOLADO BERAKASH: Como você pode ver, ao contrário de outros meios midiáticos, decidimos por manter a nossa página livre de anúncios, porque geralmente, estes querem determinar os conteúdos a serem publicados. Infelizmente, os algoritmos definem quem vai ler o quê. Não buscamos aplausos, queremos é que nossos leitores estejam bem informados, vendo sempre os TRÊS LADOS da moeda para emitir seu juízo. Acreditamos que cada um de nós no Brasil, e nos demais países que nos leem, merece o acesso a conteúdo verdadeiro e com profundidade. É o que praticamos desde o início deste blog a mais de 20 anos atrás. Isso nos dá essa credibilidade que orgulhosamente a preservamos, inclusive nestes tempos tumultuados, de narrativas polarizadas e de muita Fake News. O apoio e a propaganda de vocês nossos leitores é o que garante nossa linha de conduta. A mera veiculação, ou reprodução de matérias e entrevistas deste blog não significa, necessariamente, adesão às ideias neles contidas. Tal material deve ser considerado à luz do objetivo informativo deste blog. Os comentários devem ser respeitosos e relacionados estritamente ao assunto do post. Toda polêmica desnecessária será prontamente banida. Todos as postagens e comentários são de inteira responsabilidade de seus autores e não representam necessariamente, a posição do blog. A edição deste blog se reserva o direito de excluir qualquer artigo ou comentário que julgar oportuno, sem demais explicações. Todo material produzido por este blog é de livre difusão, contanto que se remeta nossa fonte. Não somos bancados por nenhum tipo de recurso ou patrocinadores internos, ou externo ao Brasil. Este blog é independente e representamos uma alternativa concreta de comunicação. Se você gosta de nossas publicações, junte-se a nós com sua propaganda, ou doação, para que possamos crescer e fazer a comunicação dos fatos, doa a quem doer. Entre em contato conosco pelo nosso e-mail abaixo, caso queira colaborar:
filhodedeusshalom@gmail.com
Postar um comentário
Todos os comentários publicados não significam a adesão às ideias nelas contidas por parte deste apostolado, nem a garantia da ortodoxia de seus conteúdos. Conforme a lei o blog oferece o DIREITO DE RESPOSTA a quem se sentir ofendido(a), desde que a resposta não contenha palavrões e ofensas de cunho pessoal e generalizados. Os comentários serão analisados criteriosamente e poderão ser ignorados e ou, excluídos.