João
17,17-19:
“Santifica-os na tua verdade; a tua palavra é a verdade! Assim como tu me
enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo. E por eles me santifico a mim mesmo, para que também eles sejam
santificados na verdade”.
Na cultura política, se
denomina política da pós-verdade (ou política pós-factual) aquela na qual o debate se
enquadra em apelos emocionais, desconectando-se dos detalhes da política
pública, e pela reiterada afirmação de pontos de discussão nos quais as
réplicas fáticas — os fatos — são ignoradas. Vivemos tempos dos pós:
pós-moderno, pós-capitalista, pós-neoliberal, pós-comunismo, pós socialismo,
pós-democracia, pós-religioso, pós-cristão, pós-humano e recentemente pós-verdade.
Praticamente tudo tem o seu pós. Tal fato denota apenas que não encontramos
ainda o nome que define o nosso tempo. Contudo, assomam, aqui e acolá,
sinais de que algum nome adequado está por vir. Em outras palavras, não sabemos
ainda como definir a identidade de nosso tempo. Assim ocorre com a
expressão pós-verdade. Ela foi cunhada por um dramaturgo
servo-norte-americano, Steve Tesich num artigo da revista The Nation de 1992 e
retomada por ele depois ao referir-se ironicamente ao episódio da Guerra do
Golfo (não vamos aqui entrar no mérito da questão). O dicionário Oxford
de 2016 a escolheu como a palavra do ano. Assim a define:“O
que é relativo a circunstância na qual os fatos objetivos são menos influentes
na opinião pública do que as emoções e crenças pessoais”
"Não importa
a verdade, só a minha verdade conta!"
O jornalista britânico
Matthew D’Ancona dedicou-lhe todo um livro com o título “Pós-verdade: a nova
guerra contra os fatos em tempos de fake news (Faro Editorial 2018), onde mostra
como se dá a predominância da crença e convicção pessoal sobre o fato bruto da
realidade.
O ROMANTISMO E O RENASCIMENTO COMO PRIMÓRDIOS E
FUNDAMENTOS DA ERA DA POS VERDADE!
A
Revolução Romântica: A Beleza separada da Verdade!
Assim como o
Renascimento negou o bonum na obra de arte, o Romantismo negou o verum.
Porque se o Belo é o bem claramente conhecido, não havendo bem, nada há para
ser conhecido.O Renascimento separou
a arte da moral, mas respeitou muito as leis da estética, pois super exaltou a relação
entre beleza e a razão.Deste modo, o Romantismo nada fez mais do
que tirar as conseqüências lógicas dos princípios estéticos do Renascimento.
Ele é uma conseqüência do Renascimento e, além dessa relação lógica com
ele, ele tem também as mesmas fontes e princípios doutrinários.Tanto
quanto a Renascença, o Romantismo é gnóstico e panteísta. Nele também se podem
encontrar as duas serpentes as duas serpentes enroscadas do caduceu de Hermes.
No romantismo lírico e simbolista se oculta a serpente gnóstica irracional e
mágica. No Romantismo racionalista do Naturalismo e do Realismo se encontra a
serpente do Panteísmo.O
Romantismo vai levar mais adiante o processo revolucionário na estética,
declarando que a beleza nada tem a ver com a verdade. A beleza não deveria ser
nem moral nem lógica, mas apenas agradável, satisfazendo então apenas à
sensibilidade e não à inteligência (pela verdade) e à vontade (pelo bem). E era
lógico que o romantismo recusasse a união da beleza com a verdade, dado que
para a filosofia que o gerou - o idealismo - a verdade objetiva não existe.Para os idealistas,
assim como para os românticos, na correspondência da idéia do sujeito ao objeto
conhecido, o elemento determinante era a idéia do sujeito. Era a idéia que criava o objeto.
Portanto, a verdade era subjetiva. Cada um tinha a sua verdade
particular, não existindo verdade objetiva. Conseqüentemente, a beleza nada
tinha que ver com a verdade. Belo era o que agradava, ainda que fosse
objetivamente feio. O artista deveria pois se deixar levar por seu agrado
pessoal e não pela razão. A arte não teria que obedecer a nenhuma lei
racional e objetiva. A estética caía no subjetivismo e no relativismo, pois se
a arte não devia sujeitar-se aos dez mandamentos, porque deveria acatar as leis
da estética? Negadas as leis morais, porque se obedeceriam as regras lógicas na
arte?
São conhecidas as três
raízes do Romantismo: O esoterismo, o pietismo e o idealismo filosófico, que
eram irracionalistas
1)- Os esotéricos do século XVIII condenavam
a razão
e defendiam o sonho como meio de apreensão do real. O mundo concreto
seria falso. Ele era o produto do pensamento - sonho da razão. O universo real
só podia ser atingido pela anulação da razão através do sonho, da hipnose
magnética, do "êxtase", enfim, das drogas. A anulação e a destruição
da razão acabariam com a dualidade sujeito-objeto, permitindo a unificação do
eu com o mundo. E, nesta união, seria reconstituída a própria divindade.
2)-Os
pietistas -
seita protestante de caráter pentecostal e místico - fundada por Spenner -
inspiraram-se nas doutrinas cabalísticas de Jacob Boehme. Eles praticavam a alquimia tendo
em vista mais a transmutação do homem em Deus, do que a do chumbo em ouro.
Admitiam a dialética do ser, isto é, cada coisa seria resultante de princípios
opostos e iguais. Daí sua defesa da
androginia de Adão. Esperavam para breve um reino de Deus na terra - que
Boehme denominava o "tempo dos lírios", Lilienzeit - reino do Amor,
no qual a Lei seria abolida. Esse messianismo cabalista repercutiu no
sonho romântico de um futuro Reino do Amor, no qual ressoavam ecos das teorias
milenaristas do abade Joaquim de Fiore.
3)-Todos os
filósofos idealistas alemães foram seguidores dos ideais gnósticos de Boehme,
dos esotéricos e dos pietistas. Quando eles descobriram as obras de Mestre
Eckhart, viram nelas a expressão de seu pensamento mais profundo. A visão dialética do ser da gnose, de Eckhart e Boehme, será
adotada por Schelling, por Hegel e, depois, pelo próprio Marx. De
todo modo, esotéricos, pietistas, idealistas repudiavam a razão e levantavam
contra ela a intuição - espécie de capacidade mágica e não discursiva de que o
homem seria dotado, e que lhe permitiria alcançar o mundo invisível,
passando por cima dos dados dos sentidos e dos raciocínios lógicos.
Georges Lefebvre, em
sua obra sobre a Revolução Francesa, diz que nenhum país foi tão dominado pelo
misticismo quanto a Alemanha, pátria de origem do Romantismo. Diz
ele que o misticismo "anima o luteranismo, e, pelo pietismo e pelos irmãos
morávios, há filiação entre Jacob Boehme, o sapateiro teósofo do século XVII, e
os românticos" (Cfr. Geoges Lefebvre, L Révolution Francaise - p. 613 -
Paris, P.U.F. 1951). Na página seguinte da mesma
obra, falando das origens do Romantismo, diz Lefebvre: "A década não findara ainda
quando um grupo, separando-se de Goethe, e mais ainda de Schiller, tomou como
sinais de "ralliement" as palavras romântico e romantismo, que o
grupo fez triunfar. Em 1798, Frederico Schlegel, com a ajuda de seu irmão
Augusto, lançava em Berlim uma revista chamada Athenaeum, que durou três anos.
Primeiro em Dresde, depois em Iena, em 1799, eles se uniram a Novalis, cujo verdadeiro
nome era Barão de Hardenberg, com Schelling e com Tieck, que acabava de
publicar "As expansões de um irmão leigo amigo das artes", deixado
por seu amigo Wackenroder, morto prematuramente. Eles esboçaram uma filosofia que jamais tomou
forma coerente e sistemática (bem ao estilo confuso Paulofreiriano). Discípulos dos clássicos, eles conceberam
inicialmente o mundo como um fluxo inesgotável e perpetuamente cambiante das
criações da força vital; sob a influência dos clássicos e de Schelling, eles aí
introduziram uma "simpatia universal" que se manifestava, por
exemplo, na afinidade química, no magnetismo e no amor humano; as efusões
religiosas de Schleiermacher tendo-os impressionado, acabaram por tomar
emprestado a Boehme a idéia do Centrum, alma do mundo e princípio divino. De qualquer modo, é o artista de gênio
que, sozinho, pela intuição, ou mesmo pelo sonho, entra em contato com a
verdadeira realidade, e, nele, esta experiência misteriosa se transforma em
obra de arte. O poeta é um sacerdote e esta filosofia confia no
milagre" (Aut. cit., op. cit., p. 615).Fizemos questão de
colocar esta longa citação de um autor que nada tem de católico, muito pelo
contrário, para mostrar, por meio de uma fonte insuspeita, que o romantismo tem
uma doutrina gnóstica e mágica que provém de Jacob Boehme.G. Gusdorf, em sua importante obra a respito do Romantismo
afirma explicitamente que:"O Romantismo é uma renascença gnóstica. Schelling é um
gnóstico, cujas convicções se desenvolvem à medida que ele avança em idade,
da mesma forma Baader; a Naturphilosophie impôe à pesquiza científica códigos
gnósticos. NaFrança, em seqüência a de Saint Martin e de Fabre D’Olivet, a
Gnose triunfa nos escritos de ballanche; ela sustenta o gênio poético de Victor
Hugo’ela está presente no Lamartine das Visões e no Nerval dos Iluminados"
G. Gusdorf, Le Romantisme, Payot, Paris, 1111993, I vol. p. 512).
Também Simone de Pétrement acusou a Gnose escondida sob os
véus sonhadores e as brumas misteriosas do Romantismo. Disse ela:"Pode-se dizer que reina,
desde o romantismo, uma espécie de dualismo pessimista e sentimental, análogo
ao dos gnósticos. Ele consiste sobretudo
no sentimento que o homem está mal adaptado em sua própria condição, que ele se
acha angustiado, que ele precisa de outra coisa (como se ele fosse estranho a
si mesmo e ao mundo em que ele se acha, como s sua verdadeira natureza não
estivesse nesse mundo). Nós dissemos que os gnósticos são românticos; nós poderíamos dizer igualmente que o
Romantismo é gn’sotico"
(Simone de Pétrement, Le Dualisme chez Platon, les Gnostiques et
Manichéens", PUF , Paris, 1947, p. 344).
E uma confirmação de que também o panteísmo está por trás
do Romantismo foi dada por Graça Aranha, na conferência de Abertura da Semana de Arte
Moderna a 13 de fevereiro de 1922, em
São Paulo:"Foi
depois da filosofia natural do século XVII que o movimento panteístico se
estendeu à Arte e à Literatura, e deu à Natureza a personificação que raia na poesia e na pintura de
paisagem" (Apud Gilberto Mendonça Teles, Vanguarda Européia e Modernismo
Brasileiro, Ed. Vozes. Petrópolis, 1977).Gnose e cabala, tais
são as fontes religiosas e doutrinárias do Romantismo, que Victor Hugo definiu
como o "liberalismo na arte".Com efeito, o que a Revolução Francesa foi
para a política, o Romantismo foi para a arte, porque ambos, o Romantismo e a
Revolução, são filhos do liberalismo. Ora, para o
liberalismo não existe verdade objetiva.
Em criteriologia o liberalismo é subjetivista: Verdade
é o que o sujeito considera como tal. A idéia que o homem tem de um objeto
variaria de sujeito para sujeito.Não havendo verdade objetiva, o certo e o
errado, o bem e o mal, o belo e o feio passam a ser conceitos subjetivos. Belo
é o que a pessoa considera tal. Belo é o que agrada a um sujeito. Não haveria,
portanto, beleza objetiva e nem regras de beleza.
O subjetivismo do romântico é uma revolta contra o racionalismo clássico
e, ao mesmo tempo, uma conseqüência dele, que não se deu de forma instantânea!
1º)-Lutero pregou o
livre-exame subjetivista da Bíblia, negando o magistério.
2º)-O Renascimento
"endeusou" a razão humana, negando por consequência a bíblia e Deus.
3º)-Desses dois erros nasceu
o subjetivismo, que nega por último a verdade objetiva, pois que, sobre
uma certa questão, então, todas as opiniões são certas e verdadeiras, ainda que
contraditórias.
O Romantismo foi o triunfo da imaginação sobre a
razão, do subjetivo sobre o objetivo, do sensível sobre o abstrato!
Belo era o agradável, o que causasse emoções sentimentais profundas. Devia-se apenas sentir a beleza, e não
tentar compreendê-la. Havia nisso uma negação de qualquer valor transcendental
e sacral ainda maior do que no Renascimento. Não só o sacral foi negado, como
também todo o arquétipo. Por isso, o Romantismo tinha como heróis os homens
comuns, prefiria os burgueses aos nobres, e as palavras corriqueiras ao
vocabulário mais elevado. O Romantismo, como a Revolução de 1789, foi
anti-aristocrático, burguês e igualitário. O Romantismo é o sonho. É a imaginação
tentando negar a realidade e os sacrifícios que a vida traz consigo.O
romântico sonha que na natureza não há nem espinhos nem lama. Seus heróis -
filhos de Rousseau - não têm pecado original, nem defeitos, nem tentações. O
Romantismo é uma tentativa de negar que o homem foi expulso do Paraíso
terrestre, ou de voltar a ele clandestinamente pela porta do sonho.
O romântico é
sentimental, não racional (faça o que seu coração diz)!
Ele busca sentir de
modo exacerbado. Ora, nossos sentimentos mais profundos são de tristeza e não de
alegria. Daí o gosto romântico pela dor e pela derrota, continuamente ruminadas
para sentir novamente o que já foi sentido. Por isso,
os diários íntimos, os heróis fracassados, os poetas tuberculosos, os amores
perdidos, as folhas mortas, etc. E também, o comprazimento nas
separações, o amor pelo que está mitificado pela distância, no tempo ou no
espaço. Shakespeare, esse romântico "avant la lettre" fala da
"sweet sorrow" da separação (Romeu e Julieta).Numa primeira fase, durante a Revolução Francesa e o
Império Napoleônico, o Romantismo foi heroico:É o tempo da Marselhesa
e de Beethoven. Esta fase heróica foi necessária para servir de transição
gradual da concepção grandiosa do homem, típica do barroco, para a concepção
sentimental. O heroísmo romântico se distingue por uma ânsia de exibição que
inexiste no verdadeiro heroísmo, que exige a humildade. O heroísmo romântico é
aparatoso, fanfarrão, sem noção real do perigo, audacioso, ou então lamuriento.
É um heroísmo de palco e de parada, e não de campo de batalha. Ele forma
tenores sentimentalóides, e não heróis.
Numa segunda
fase, o Romantismo se mostrou em toda a sua natureza:
Foi o romantismo lírico
das mocinhas feitas de açúcar e mel, impolutamente virtuosas, dos mancebos
perfeitos, dos amores piegas e chorosos. É o triunfo do homem bom de Rousseau. É o
império do sentimentalismo. Não é mais a inteligência que dirige o
homem, mas o coração.A exacerbação dos sentimentos devia naturalmente redundar
em sensualismo e, por isso, do lirismo pseudo-angelical, se caiu no sexualismo
do realismo e do naturalismo. "Qui fait l’ange, fait la bête" - Quem
quer bancar o anjo, acaba se mostrando animal. O próprio exagero do
Romantismo lírico, que sonhava com uma natureza sem defeitos, levou a cair num
exagero oposto.
O realismo e o naturalismo tinham uma visão
pessimista do homem e da natureza!
Para essas escolas o
homem é sempre baixo, e a mulher é sempre desonesta. A vida só tem amarguras ou
sexo, e a natureza só tem lama e espinhos.Essas duas escolas tinham pretensões
a serem "científicas" procurando no organismo ou na sociedade as
raízes dos males humanos. O naturalismo chegava agora ao materialismo.
Uma nova revolução se preparava, a qual se diria científica e materialista.Se
o Romantismo lírico só dava satisfação à sensibilidade, deixou um grande vazio
na alma pela negação do bem e da verdade, o realismo e o naturalismo,
materialistas, só visavam satisfazer a sensualidade e o corpo.A alma ficou
inteiramente vazia, e o desespero a conduziu ao abismo da gnose declarada. Ela
começou a buscar no mistério, na simbologia subjetiva, um substitutivo do
teológico e teofânico. As correntes estéticas que se sucederam, haja
visto o Simbolismo, procuraram nos símbolos esotéricos e herméticos a saída
para o mundo criado pelo Deus que odiavam.
Seria
de surprender que o Simbolismo romântico não desaguasse no satanismo de
Baudelaire e Carducci.Desde sua primeira
encíclica, Deus caritas est, o Papa Bento XVI tem salientado como a palavra
amor tem sido deturpada em nosso tempos:“O
termo «amor» tornou-se hoje uma das palavras mais usadas e mesmo abusadas, à
qual associamos significados completamente diferentes” (Bento XVI, Deus caritas
est, Nº 2).Mais ainda do que
abusado, o termo amor foi sendo prostituído em nossos dias. Sobretudo nos
sermões de padres Progressistas e da TL, quando amor passou a ser simples
filantropia.
Como principiou essa “prostituição”
do termo amor?
Como se processou essa
deturpação semântica, pensada e planejada, a fim de levar a confundir amor com filantropia
ou com mera solidariedade? Como se passou do conceito católico de amor
- virtude teologal da Caridade - até reduzi-lo ao nível puramente animal,
depois de o ter feito passar pela confusão de amor com mero sentimento? Certamente,
o processo de deturpação do sentido da palavra "amor" foi longo.Bento
XVI, em sua aula magistral de Regensburg, apontou a origem de toda a derrocada
metafísica na Cristandade com filosofia voluntarista de Duns Scoto. De fato, o
voluntarismo da filosofia de Duns Scoto fez colocar o querer, isto é, o amor
acima do conhecer, iniciando um processo que culminaria no Romantismo e no
modenismo atuais.Não se pode negar que
Pascal e o Romantismo prosseguiram esse processo de deturpação da caridade,
amor sobrenatural, desvinculando o querer do conhecimento.É bem conhecida a frase do
jansenista Pascal de que “O coração tem razões que a própria razão desconhece”.
Para os românticos subjetivistas, o amor era completamente separado da razão.Mais
ainda, os românticos consideravam que o amor necessariamente devia ser
irracional. Devia ser uma paixão desprovida de racionalidade. Devia ser mero
sentimento.Por isso Rousseau, para
citar um sentimental romântico dos mais explícitos e dos mais conhecidos, o
homem devia se deixar levar só pelo coração, pelo sentimento, não pela razão:“Existir, para nós, é sentir; incontestavelmente nossa sensibilidade
é anterior à nossa inteligência, e nós antes tivemos sentimentos do que idéias”
(Jean-Jacques Rousseau, La profession de
foi du Vicaire Savoyard, Nº 1036).Rousseau irá mais longe ainda em seu repúdio à
racionalidade, ao escrever:“Ouso quase assegurar que o estado
de reflexão é um estado contrário a
natureza, e que o homem que medita é um animal depravado” (Jean-Jacques Rousseau, Discurso sobre a Origem da desigualdade entre
os homens, I Parte, In Os Pensadores, XXIV,
Abril Cultural, p.247).E, no Romantismo alemão, Novalis defenderá a mesma tese
irracionalista:“O pensamento é apenas o sonho do
sentir, é um sentir entorpecido” (Apud
Gerd Bornheim, A Filosofia do
Romantismo, in J. Guinsburg, O Romantismo, ed. Perspectiva, Sâo Paulo, 1978, p.
96).Essa equivocada primazia
do sentimento, típica do Romantismo, vai ser adotada até por autores que se
apresentam como católicos tradicionalistas, como Plinio Corrêa de Oliveira, o
fundador da TFP. Plínio valorizava antes o sentir do que o compreeder. Por
exemplo, no artigo “O Senso Comum e a Procura do Absoluto” (In Revista “Dr.
Plínio”, N0 71, Fevereiro de 2.004, p. 27 -30), ele afirma que o primeiro passo
para “saborear os bens espirituais“
consiste em sentir:“Não se trata apenas, ou sempre, de
fazer a explicitação das coisas percebidas pelos sentidos. O passo inicial indispensável é uma espécie de
sentir do qual nascerá mais tarde a explicitação. Esta seria o segundo estágio, menos imprescindível,
enquanto o primeiro é o mais precioso, porque dele depende o resto do processo”
(Plínio Corrêa de Oliveira, O Senso
Comum e a Procura do Absoluto”, in Revista “Dr. Plínio”, ano VII, N0 71,
Fevereiro de 2.004, p. 27. Os destaques são meus).Portanto, o fundamental
e o mais precioso seria o sentir. Explicitar seria menos importante do que o
sentir. E ele insiste nesse ponto como fundamental:“Insisto na importância desse
primeiro sentir: sem uma espécie de vivência muito rica do objeto ou situação
apreendidos pelos sentidos, as etapas posteriores serão nulas...” (Plínio Corrêa de Oliveira, O Senso Comum e
a Procura do Absoluto”, in Revista “Dr. Plínio”, ano VII, N0 71, Fevereiro de
2.004, p. 27, O destaque é nosso).Portanto, conforme a
doutrina pessoal e equivocada de Plinio Corrêa de Oliveira, o fundador da TFP, um
primeiro sentir “vivencial” seria o essencial para a compreensão. Já no
fim do século XIX, amar se confundiu com
o agir. Em Blondel, filósofo do Modernismo, o querer permitiria o
conhecer. Daí sua defesa da “ação”. Depois dele, houve uma difusão pandêmica do
voluntarismo e do puro agir confundido com o fazer, resultados:Sorrel
defendeu a ação sindical. Lenin fez do marxismo uma ação revolucionária
profissional. Mussolini exaltou a ação. Marinetti, nos Manifestos do Futurismo,
pediu o incêndio das bibliotecas, cantou o valor do soco, a mística da
violência, a força do motor à explosão.Essa exaltação da
vontade vai triunfar posteriormente nos movimentos totalitários de direita e de
esquerda. E Infelizmente, por culpa da infiltração modernista na Igreja, até nos
movimentos católicos triunfou a mística da ação. A Acão Católica, lançada por
Pio XI, fundamentou-se mais no agir do que no conhecimento da verdade.
Portanto, mais ação do que Fé. E a caridade se
transformou em ativismo político. Com o tempo, essa capitulação
fez com que os movimentos de ação “católica” acabassem por se unir ao movimento
comunista internacional, passando a agir até mesmo em guerrilhas marxistas, a
reboque do Partido Comunista. Esta nova práxis na Igreja consagrou a possibilidade
de existir o amor e a caridade, sem a Fé.Ora,
é impossível amar sem conhecer! Ninguém pode querer xoró no avesso. Porque
ninguém pode conhecer xoró, pois xoró não existe. Imagine-se, então, como seria
possível amar, querer xoró — ser inexistente — no avesso! É o conhecimento da
inteligência que move a vontade a querer. Por isso não pode haver caridade sem a
Fé.Infelizmente como disse
o Papa Paulo VI a fumaça de satanás começa a entrar na igreja já se colocando contra
a doutrina de sempre, que poderia haver caridade verdadeira e que se poderia
amar a Deus sem crer nEle. Isso foi admitir a possibilidade de gostar de xoró
no avesso.Depois
com a Conferência de Medellin sancionaram a caridade como ação revolucionária.
Daí é que nasceu a Teologia da Libertação que confunde redenção católica com
“libertação” comunista do proletariado. Essa teologia marxista fez da agitação
política “amor”. Confundiu caridade com ação revolucionária e fez de Cristo um
rebelde, renegando o redentor e sua Cruz.
Nas paróquias menos
ideologizadas, o amor passou a ser simplesmente distribuir comida para
favelados, a reboque dos revolucionarios. As Campanhas da Fraternidade se
tornaram idênticas à filantropia maçônica. Houve até um Cardeal que lançou uma campanha de coleta de
agasalhos para os pobres, no inverno, usando como mote, como canção-símbolo,
uma musiquinha completamente pagã que cantarolava satanicamente:“Quero
que você me aqueça nesse inverno, e que tudo o mais vá para o inferno”.Versos que se referiam
ambiguamente a um amor físico, unido ao desejo de que tudo o mais - “caridosamente”
- fosse para o inferno. Hoje, esse amor sem verdade, esse querer sem conhecer,
levou ao triunfo do egoísmo e da violência.Que
tudo vá para o inferno, desde que eu tenha prazer, como um Cardeal fez cantar
nas paróquias. Hoje, infelizmente, tudo está indo realmente a passos largos “para
o inferno”.Agora, ainda que
apresentando a Caritas in veritate como continuadora da Populorum progressio, Bento
XVI condena, graças a Deus, a falsa caridade, o falso amor sem a verdade.
Veja-se o que diz Bento XVI nesta encíclica épica e basilar para toda Igreja:“Só
na verdade é que a caridade refulge e pode ser autenticamente vivida. A verdade é luz que dá sentido e
valor à caridade. Esta luz é simultaneamente a luz da razão e a da fé, através
das quais a inteligência chega à verdade natural e sobrenatural da caridade:
identifica o seu significado de doação, acolhimento e comunhão. Sem verdade, a
caridade cai no sentimentalismo. O amor torna-se um invólucro vazio, que se
pode encher arbitrariamente. É
o risco fatal do amor numa cultura sem verdade; acaba prisioneiro das emoções e
opiniões contingentes dos indivíduos, uma palavra abusada e adulterada chegando
a significar o oposto do que é realmente. A verdade liberta a caridade dos
estrangulamentos do emotivismo, que a despoja de conteúdos relacionais e
sociais, e do fideísmo, que a priva de amplitude humana e universal. Na
verdade, a caridade reflete a dimensão simultaneamente pessoal e pública da fé
no Deus bíblico, que é conjuntamente «Agápe» e «Lógos»: Caridade e Verdade,
Amor e Palavra” (Bento XVI, Caritas in veritate, Nº 3).
Não se poderia dizer
melhor! Todo o falso amor, que atualmente é ensinado nos sermões
sentimentalóides progressistas, fica condenado por essa palavras de Bento XVI. Nunca
se falou tanto de amor, nas homilias. Nunca o verdadeiro amor foi tão esquecido
como em nosso dias. Quando muito, amor é emotividade, sentimentalismo,
filantropia. Jamais ele se identifica com a verdadeira caridade, que só pode
existir com a verdade, isto é, com a Fé. Pois ensina o Apóstolo que “Sem fé,
é impossível agradar a Deus” (Heb.11, 6).E o Apóstolo dos gentios diz ainda:“Tudo
o que não é segundo a fé, é pecado”(Rom 14,23).Portanto, que se tenha
a coragem de concluir que em nenhuma seita herética contrária ao evangelho pode
haver verdadeira santidade, que é sinônimo de caridade iluminada pela Fé. E
toda heresia, negando a Verdade revelada, destrói a Fé. E sem a Fé não há
verdadeira caridade. Não há amor. Não pode haver amor e virtude sobrenaturais.
É o que ensina São Paulo.Bento XVI insiste que a caridade não é
sentimentalismo:“O
amor não é apenas um sentimento” (Bento XVI, Deus caritas est, Nº 17).E o Papa salienta que
“Os sentimentos vão e vêm”(idem), mas a caridade permanece. O verdadeiro amor é
constante e fiel à verdade que o gerou. E nem a caridade católica é mero
assistencialismo:“Por isso, é muito importante que a
atividade caritativa da Igreja mantenha todo o seu esplendor e não se dissolva
na organização assistencial comum, tornando-se uma simples variante da mesma...”(Bento XVI, Deus caritas est, Nº 31).A caridade não deve ser exercida apenas individualmente. A
caridade exige a justiça também na sociedade.Na sociedade moderna -
integralmente humanista, isto, é totalmente pagã, pois retirou Deus do centro
de tudo — não há Fé e, portanto, não pode haver verdadeira caridade.
Por isso, no mundo moderno não há paz. E Bento XVI recorda o que andava bem
esquecido: “Só
a defesa da Verdade permite que haja verdadeira caridade. A caridade na verdade, que Jesus
Cristo testemunhou com a sua vida terrena e sobretudo com a sua morte e
ressurreição, é a força propulsora principal para o verdadeiro desenvolvimento
de cada pessoa e da humanidade inteira. O
amor — « caritas » — é uma força extraordinária, que impele as pessoas a comprometerem-se,
com coragem e generosidade, no campo da justiça e da paz. É uma força que tem a
sua origem em Deus, Amor eterno e Verdade absoluta. Cada um encontra o bem
próprio, aderindo ao projeto que Deus tem para ele a fim de o realizar
plenamente: com efeito, é em tal projeto que encontra a verdade sobre si mesmo
e, aderindo a ela, torna-se livre (cf. Jo 8, 22). Por isso, defender a
verdade, propô-la com humildade e convicção e testemunhá-la na vida são formas
exigentes e imprescindíveis de caridade. Esta, de fato, « rejubila
com a verdade » (1 Cor 13, 6) (Bento
XVI, Caritas in veritate, Nº 1).
Não existe santidade sem caridade! E não pode existir a caridade sem a
verdade!
Ora, assim como só se pode dar a
saúde combatendo a doença, também só se pode defender e ensinar a verdade, demonstrando
e condenando o erro oposto a ela.A caridade exige que se
critique e corrija os erros do próximo. O Catecismo Católico ensina que corrigir
ensinar os ignorantes são obras de misericórdia espiritual, portanto, obras de
caridade, de amor verdadeiro. Não exercer esta obra de misericórdia tão necessária, e obrigatória para um Católico é faltar com a
caridade ao próximo e deixa-lo entregue aos seus próprios erros, ou à ditadura da arbitrariedade com bem disse Bento XVI.Por isso, hoje se pensa
erradamente, que o amor proíbe corrigir e ensinar, mas deixar a pessoa entregue
ao seu livre arbítrio sem conhecer os três lados da moeda para poder realmente
usar de seu livre arbítrio consciente. Hoje infelizmente a era da Pós Verdade
contrapondo-se ao “é proibido proibir” aderiu ao “Tudo é permitido”
A FALSA DOUTRINA DO MODERNISMO (COMO IDEOLOGIA)
Na encíclica Pascendi,
São Pio X afirma que:“O Modernismo é a cloaca para onde confluíram todas as heresias. Diz ainda que essa heresia penetrou na
Igreja de tal modo que, os inimigos dela já não deveriam ser buscados fora, mas
dentro dela, especialmente nas fileiras do Clero (Pascendi, no. 2). E a
esses Modernistas - especialmente do Clero - São Pio X chama de
“os mais perigosos inimigos da Igreja” (Pascendi, no. 3).O Papa demonstra que os
Modernistas, para melhor ocultar sua ação deletéria, não apresentavam sua doutrina de
modo sistemático, mas, “com astucioso engano” apresentam seu pensamento
de modo não coordenado (bem ao estilo confuso de Paulo Freire),
um
defendendo o Modernismo apenas no campo exegético (o Padre Alfred Loisy);
outro,
no terreno teológico (Padre Laberthonière, Padre Georges Tyrrell e Padre
Ernesto Bonaiutti, o amigo do futuro João XXIII e que lançou o Manifesto dos
Modernistas); outro
no campo místico (o Barão Von Hügel); outro na Filosofia
(Maurice Blondel); outro numa Arqueologia e Antropologia “Gnóstico-Mística” (Padre
Teillhard de Chardin);outro na literatura (Antonio Fogazzarro);
outros
na política (Marc Sangnier, Padre Romolo Murri); outros enfim, dentro do
Vaticano, exercendo uma ação discreta mas decisiva, na política eclesiástica,
protegendo os modernistas, ou mesmo defendendo suas ideias (como Della Chiesa,
Gasparri, Radini Tedeschi, Cardeal Bea, etc).“É claro que o espírito furta cor e camaleôntico do Modernismo não permite
detectar - por vezes - claramente a heresia em muitos de seus defensores, tanto
mais quando se sabe que eles, como lembrou São Pio X, muitas vezes negam numa página o que afirmam noutra...” (Cfr. Pascendi,
no. 3).O sistema Modernista, diz o Papa São Pio X:“Parte de uma posição agnóstica. Para eles a razão só pode estudar e
examinar os fenômenos perceptíveis pelos sentidos e pela ciência. Daí
afirmarem, inicialmente, que Deus e a Fé serem assuntos alheios à Ciência
experimental moderna. Para os Modernistas então todas as provas da
existência de Deus são elocubrações intelectualistas que nada comprovam. Eles rejeitam assim o que definiu o
Concílio Vaticano I: que os católicos devem ter como demonstrável pela razão a
existência de Deus. Como rejeitam o que diz São Paulo que ”após a criação as
qualidades invisíveis de Deus se tornaram cognoscíveis através das coisas
criadas” (Rom. 1, 20). Deste modo, os Modernistas se inclinam para a Gnose,
ao rejeitarem a analogia do ser: o mundo criado não refletiria a Deus criador (Pascendi, Nº. 6).Esse agnosticismo
radical, do qual partiam os Modernistas, os levava a afirmar que a Ciência e a
História tem que desconhecer o papel de Deus, já não seria possível provar sua
existência. Ciência e História deveriam ser atéias ou agnósticas. Que é
exatamente como se ensinam, hoje, História e Ciências totalmente desconectadas
de uma fonte Criadora Inteligente, mas mera obra do Sr acaso, como se fosse
possível jogar o alfabeto para cima e esperar que ele ao cair ele formasse, por
pura obra do acaso, um livro completo. Entretanto, se conforme os
Modernistas, não se podem conhecer senão os fenômenos, há que constatar que a
religião é um fenômeno existente na História, e que se deve estudá-la apenas
enquanto fenômeno histórico, comum a tantas civilizações e culturas.A causa do fenômeno
religioso, visto que não se pode provar a existência ou inexistência de Deus, deve
ser buscada no próprio homem. A religião seria uma forma de vida que tem raiz
na própria vida do homem. Daqui procede o que os modernistas chamam de
"Princípio de Imanência Religiosa".Tal princípio manifestaria uma
necessidade profunda do homem, que se exprime num movimento do coração, a um
sentimento(note-se: do coração e não da razão). O
Modernismo, como o Romantismo e toda a Gnose, odeia a inteligência e a razão,
colocando acima dela o coração e o sentimento. Como o
Romantismo, o Modernismo manifestará uma antipatia pelo intelecto e pela
capacidade do homem em conhecer a realidade e a verdade.Este sentimento do
coração seria uma manifestação de uma necessidade da divindade que nasceria do
subconsciente do homem. (Note-se aí uma influência direta do
Freudismo, ele também negador da capacidade do conhecimento racional do homem).Como
o sentimento do coração, nascido das profundezas do inconsciente humano,
desabrocha em religião, estaria fora do âmbito do conhecimento científico. Isso
estaria na esfera do incognoscível. “Este
misterioso sentimento nascido do inconsciente humano seria, de fato, a própria
Divindade imanente ao homem, a realidade substancial de Deus imanente nas
profundezas do ser humano, eis aí a Gnose manifestada, produziria a revelação divina no interior de
cada homem, gerando a Fé. Esta seria o sentimento interior do divino que
une o homem a Deus. Toda revelação seria interior. O
que leva à negação da revelação encarnada em Cristo.O sentimento interior do coração
seria então a própria realidade divina, imanente no mais profundo do ser
humano, manifestando-se no interior de cada homem. Este sentimento seria, ao mesmo tempo, Deus revelante e a revelação de
Deus, Deus revelado. Daí toda revelação seria, ao mesmo tempo natural, porque
provindo da natureza humana, e sobre natural, porque provindo de uma divindade misteriosa
aprisionada no interior do homem, e imanente a todas as coisas existentes” (Cfr. Pascendi, Nº 8).“O
sentimento religioso, que por imanência vital surge dos esconderijos da
subconsciência, é pois o germe de toda religião e a razão de tudo o que tem
havido e haverá ainda em qualquer religião” (Pascendi, Nº 10).
DEDUÇÕES DO MODERNISMO:
1)-Sendo a revelação
interior ao homem, deveria haver plena liberdade de consciência, porque cada um sente a
Deus de modo pessoal, e o manifesta a seu modo.
2)-A Igreja Católica
então deveria então render-se a tese da liberdade de consciência, negando a própria
evangelização, que é baseada na verdade de Cristo. Uma tese de falsa
liberdade que é defendida pelo Liberalismo, pela Maçonaria e que foi promulgada
como direito natural do Homem pela Revolução Francesa.
3)-Portanto, liberdade
absoluta de praticar qualquer religião, incluindo a bruxaria, feitiçaria e
satanismo. E a condenação de qualquer religião que queira, como a
Igreja Católica, afirmar ser a única dotada da revelação plena.
4)-A Divindade imanente
a todas as coisas seria absolutamente incognoscível pela inteligência humana. O
homem não seria capaz de traduzir seu sentimento interior de Deus em palavras e
conceitos racionais, os quais deformariam a revelação interior. A revelação
interior e a Fé que dela decorre seriam inefáveis, incapazes de serem postas em
termos conceituais e traduzidas pela palavra humana.
5)-As religiões, em
suas manifestações e crenças, não passam de exteriorizações do sentimento
divino interior e inefável. Daí, nenhum Credo seria verdadeiro. Inclusive o
católico.
6)-A religião católica
teria nascido do sentimento interior que se manifestou em Cristo, apenas um homem
de consciência privilegiada. Cristo teria sido deformado pelos evangelhos e
cartas apostólicas, traduzindo-o em afirmações religiosas necessariamente
falsas, porque incompletas ou imperfeitas.
7)-A Divindade interior
e imanente era chamada pelos Modernistas de Incognoscível (o grande arquiteto).
Este,
porém, sempre se manifesta num sentimento do coração, aproveitando-se de um
fato ou fenômeno qualquer.
Daí se seguiriam duas outras coisas:
1ª)-Uma Transfiguração
do fenômeno.
2ª)-Uma Desfiguração
Mítica do fenômeno.
Aplicando toda esta
teoria a Jesus Cristo, diziam os Modernistas que a Ciência e a História
(agnósticas) encontravam nele apenas um homem, excluindo propositadamente tudo o que
pretendesse ser divino ou sobrenatural nele. Esta figura histórica foi
transfigurada e mitificada ou desfigurada pela Fé, então é preciso separar o
Cristo histórico, do Cristo da fé. Embora a Fé seja absolutamente
inefável, incapaz de ser colocada em conceitos e palavras, porque o sentimento
não é conhecimento, o homem teria que ”pensar a sua fé”, diziam os Modernistas,
mas valem os sentimentos deles como verdades incontestes.
DESCONSTRUÇÃO DO DOGMA
Inicialmente, o homem
exprime a noção que lhe adveio de seu sentimento interior com uma proposição
simples ou vulgar. Depois, ele elabora seu pensamento. Faz afirmações mais
sutis. Quando estas formulações mais elaboradas são sancionadas e tornadas
obrigatórias, nasce um dogma. Entretanto, sendo a revelação inefável, toda
fórmula dogmática é inadequada, imprecisa, imperfeita e incapaz de transmitir o
conteúdo real da revelação e da Fé. Os dogmas seriam, segundo os Modernistas,
meros símbolos do sentimento interior inefável. Seriam instrumentos
inadequados para comunicar, até certo ponto, o que se pensou sentir, mas que
jamais exprimem uma verdade absoluta, tal e qual fosse revelada por Deus. Como
a revelação interior é inefável, os dogmas estariam sujeitos a explicitações e
formulações variáveis no tempo. O dogma seria modificável, aperfeiçoável, sem
jamais chegar a exprimir corretamente o sentimento interior e a Fé. O
dogma e a Fé jamais seriam estáveis ou definitivos: pelo contrário, estariam em
constante evolução. Enfim, no frigir dos ovos, eles quere, afirmar que não
haveria verdade absoluta e objetiva. “Ousadamente
afirmam os modernistas, e isso, mesmo se conclui das suas doutrinas, que os
dogmas não somente podem, mas positivamente devem evoluir e mudar-se” (O
modernista filósofo, Pascendi, no. 13). Para eles, os dogmas,
as fórmulas religiosas, porque não são resultantes de especulações
intelectuais, e sim produtos do sentimento religioso, que é vivo, devem
ser vitais e mutáveis como ele. O crivo que as faz mudar vitalmente não é a
inteligência, e sim o coração. Se as
fórmulas vitais perderem sua relação com a vida do sentimento, elas teriam que
ser mudadas para serem adaptadas ao homem e à vida.Resultado: o dogma
deveria estar sempre evoluindo, e a religião sendo constantemente reformada.Como se vê, o espírito evolucionista e bergsoniano marcou o
Modernismo com sua nota de instabilidade.O anti intelectualismo
romântico da filosofia da ação de Maurice Blondel formou a doutrina da heresia
Modernista. O filósofo modernista, estudando o que se passa na alma do
crente, verifica apenas como se dá e como se desenvolve o sentimento religioso
e a Fé, identificando este sentimento com Deus, mas não se manifesta se, de
fato, este Deus existe fora da alma do crente. O crente tem
consciência da existência imanente de Deus nele por meio da experiência
religiosa individual.Para
a ideologia do crente Modernista, o sentimento religioso é uma espécie de
intuição do coração que coloca o homem em contato direto com a realidade divina
imanente no homem. Esta experiência pessoal daria uma certeza experimental
muito superior à certeza intelectual.Como se vê, o
Modernista recusa a convicção racional, preferindo a ela a experiência mística
do coração. Ora, como esta experiência religiosa interior se dá em
qualquer homem, pouco importando a religião positiva a que ele pertença,
segue-se que se deve aceitar qualquer religião, até mesmo a dos hereges e
idólatras como verdadeira.Toda experiência religiosa seria válida, não
importando o credo que dela nascesse, visto que os credos são deformadores da
experiência religiosa inefável.Para
a ideologia Modernista, todas as religiões seriam igualmente válidas, e nenhuma
pode se arrogar o monopólio da verdade.Desta atitude nasce o falso
ecumenismo modernista, que já manifestara sua tolerância liberal, maçônica e
relativista no Congresso das Religiões de Chicago, em 1894, organizado pelos
hereges Americanistas.“Os
Modernistas de fato não negam, ao contrário, concedem, uns confusa e outros
manifestamente, que todas as religiões são verdadeiras” (O modernista crente,
Pascendi, no. 14).Os mais moderados,
quando muito, dizem que a Religião Católica tem apenas mais verdades que as
outras, porque é mais viva. São Pio X, na Pascendi, diz que é “absurdíssimo
que católicos e sacerdotes, que, como preferimos crer, tem horror a tão monstruosas
afirmações, se ponham quase em posição de admiti-las” (Pascendi, no 14).
Desgraçadamente,
hoje, esta crença monstruosa tonou-se corrente em algumas paróquias e dioceses
mundo afora. Quem
não defende, hoje, entre os católicos, o ecumenismo relativista para não ser
considerado como aquele que está faltando com a unidade eclesial?Émile Poulat, historiador do Modernismo e simpatizante
dele, confessa que:“Após
um século da polêmica modernista passamos de um modernismo restrito a um
modernismo generalizado" (E. Poulat, Histoire, Dogme et Critique dans la Crise Moderniste, Albin
Michel, Paris, 1996, p. VII).E Poulat confessa que:"As ciências históricas não revolucionaram apenas nosso
conhecimento do passado, como também, no total, o espírito dos historiadores e
a consciência dos crentes, uma revolução na revolução. Neste sentido, nós
todos somos modernistas. Que aqueles que duvidam disso ou o contestam releiam
os documentos pontifícios, o Decreto Lamentabili e a Encíclica Pascendi (1907).
O fato é que o longo juramento anti
modernista instituído por São Pio X em 1910 foi revogado, abreviado, reduzido a
algumas linhas) por Paulo VI depois de pouco mais da metade de um século"
(E. Poulat. op. cit. p. XVII).Esta idéia da
experiência religiosa interior, diz São Pio X, se opõe e destrói a tradição
católica. De fato, para os Modernistas, a Tradição é simplesmente a transmissão
ou comunicação da experiência original feita através da fórmula intelectual
imperfeita. Esta fórmula, porém, teria uma capacidade de sugestão para
tornar a despertar o sentimento religioso, tanto em quem pronuncia a fórmula,
quanto em quem a ouve, produzindo, de novo ou pela primeira vez, a experiência
religiosa pessoal. Assim se propagaria no tempo a experiência religiosa de um
modo vivo. Quando esta experiência se propaga e transmite vitalmente, ela seria
verdadeira.“O
viver, para os Modernistas, é a prova da verdade; e a razão disto é que verdade
e vida para eles são uma e mesma coisa. E daqui mais uma vez se infere que
todas as religiões existentes são verdadeiras, do contrário já não existiriam” (O modernista crente, Pascendi,
no. 15).
Para a ideologia Modernista,
a tradição tem que ser dinâmica, ou não é verdadeira. Uma tradição dinâmica e viva
significa ser mutável e evolutiva como a vida, como a verdade e as leis da
física sendo fixas, fosse algo muito chato, não produz sentimentos agradáveis,
portanto, não são verdadeiras.Os Modernistas separam de modo absoluto Fé e
Ciência e Confundem ideologia Modernista com os avanços Modernidade Científica
e Tecnológica.A Fé teria por objeto
algo incognoscível de modo científico. A Ciência se ocupa apenas dos fenômenos.
A Fé, resultante da experiência interior mística, inefável, seria incognoscível
pelo intelecto e pela Ciência, mas atingível apenas pelo coração. Desta
separação absoluta entre Fé e Ciência, que atuariam em campos absolutamente
incomunicáveis - resultaria também uma impossibilidade absoluta de conflito
real entre elas, porque jamais elas podem se encontrar. Os conflitos
ocorridos no passado entre a Igreja e a Ciência teriam resultado de uma
incompreensão da Igreja, que não tinha verdadeiro entendimento do que era
realmente a Fé. Desses conflitos a Igreja deveria pedir perdão à Ciência moderna.Entretanto,
embora atuando em campos diferentes e absolutamente separados, a Fé teria que
subordinar-se à Ciência:Primeiro, porque a
religião enquanto fenômeno, pode e deve ser estudada pela Ciência.Segundo, se a realidade
divina está fora do âmbito da Ciência e dentro do âmbito da Fé, a ideia de Deus
permanece sob dependência da Ciência.Por isso, dizem
os Modernistas que a evolução da religião deve ser coordenada com a evolução
moral e intelectual da humanidade controlada pela Ciência. Portanto, a
Fé deveria estar subordinada à Ciência. Esta subordinação deveria ser o objeto
do trabalho do teólogo, que procuraria conciliar o pensamento religioso com as
novas descobertas da Ciência.“Diz
o filósofo que o princípio da Fé é imanente; acrescenta o crente que esse
princípio é Deus; conclui pois o teólogo: logo, Deus é imanente no homem. Disto
se conclui a imanência teológica“ (O modernista teólogo, Pascendi, no. 19).Embora haja, entre os
modernistas, quem ponha certas distinções ao princípio de imanência teológica,
os mais coerentes deles propugnam diretamente o panteísmo. Ou a Gnose.São Pio X
mostra que, para os modernistas moderados, essa imanência significaria uma
verdadeira indistinção entre a ordem natural e a ordem sobrenatural.
São
Pio X explica que:“Os
modernistas moderados empenham-se em convencer o homem que nele mesmo e nos
íntimos recantos de sua natureza e de sua vida se oculta o desejo e a
necessidade de uma religião, não já de uma religião qualquer, mas da católica;
porquanto esta, dizem, é requerida (postulata) pelo perfeito desenvolvimento da
vida” (São
Pio X, Pascendi, no 37, Vozes, Petrópolis, pp. 40-41).Por outro lado os modernistas mais radicais, que São Pio X
denomina de Modernistas integralistas:“Pretendem que se deve mostrar ao homem que ainda não crê, como se acha latente dentro
dele mesmo o germe que esteve na consciência de Cristo e que Cristo
transmitiu aos homens”. (São Pio X, Pascendi, no. 37, p. 41. O negrito é nosso).
E quando Cristo teria transmitido esse misterioso Germe?
Há quem diga que foi no
momento da Encarnação, ou no Natal, ou ainda na hora de sua morte na cruz. Com
qualquer que seja esse momento, Cristo teria redimido e salvado todos os
homens, porque, todos possuindo tal germe, já estariam naturalmente salvos.
A
identificação na Ideologia Modernista entre natureza e sobre naturalidade exige
admitir a salvação universal. E não só a salvação universal, mas também a tese
de que todas as religiões são vias de salvação, já que esta provém do
germe de origem divina depositado no “coração” do homem.Segundo a Ideologia Modernista, este seria o “mistério do
homem”:“O homem possui, em sua natureza, um germe divino através do qual ele é
necessariamente salvo. A Revelação que Cristo traz ao homem, essa revelação que
brotaria do coração e do sentimento interior, provém deste germe divino, e
é a tomada de consciência do homem de que há, no seu íntimo, a própria
divindade em germe.Ainda segundo a ideologia Modernista, a Ciência não pode
constatar nenhuma intervenção de Deus na História.Para os adeptos da
Ideologia Modernista, Isto seria objeto da Fé, nunca da Ciência. Por
esta razão pretendiam que a Sagrada Escritura fosse examinada apenas com os
métodos científicos modernos, excluindo que nela se pudesse admitir a
intervenção divina. A aceitação das Escrituras como revelação de Deus
seria uma mera conclusão da experiência religiosa dos homens que as escreveram,
ou daqueles que as lêem. Diziam que os Evangelhos, por exemplo, não
haviam sido realmente registros históricos dos discípulos de Cristo, mas que
eram produto das experiências religiosas dos primeiros cristãos, que haviam
mitificado a figura de Jesus histórico transformando-o em Messias e Redentor.
De fato, os Evangelhos teriam sido escritos até séculos
depois de Cristo, o que a Ciência hoje provou ser uma falsidade da parte dos
Modernistas. Admitiam que nos
livros sagrados pudessem existir erros e contradições. Por exemplo:
1)-Loisy ironizava que
Cristo havia predito, para logo, a vinda do Reino, e o que chegou não foi o
Reino, mas sim a Igreja.
2)-A pessoa de Jesus
Cristo é, para eles, puramente humana, capaz de erros, desconhecendo o futuro,
e até mesmo a sua própria missão e essência divinas.
3)-Foi a experiência
religiosa dos primeiros cristãos que transformou e mitificou a pessoa de
Cristo. Daí distinguirem eles o Cristo histórico, do Cristo da Fé.
4)-O Cristo histórico
teria sido um puro homem, certamente dotado de qualidades não comuns, mas permanecendo
sempre puro ser humano.
5)-Este Jesus
histórico, mero filho de carpinteiro, teve uma experiência religiosa pessoal
extraordinária que o levou, pouco a pouco, a conceber-se como filho de Deus.
Após a sua morte, seus discípulos completaram sua mitificação, transformando-o
em Deus Homem.“A
divindade de Jesus Cristo não se provaria pelos Evangelhos; ela é um dogma que
a consciência cristã deduziu da noção de Messias” (Decreto Lamentabili, erro XXVII da
Cristologia de Alfred Loisy).“Jesus,
quando exercia o seu ministério, não falava com o intuito de ensinar que era o
Messias, nem os seus milagres tinham por fim demonstrá-lo” (Lamentabili, erro XXVIII).“Em
Cristo teve, desde o princípio, consciência de sua dignidade messiânica”
(Lamentabili, erro XXXV).
6)-Até mesmo a
ressurreição de Cristo era negada pelos modernistas porque não a consideravam
um fato histórico.
Tais erros, hoje, são propalados
por muitos “teólogos” de fama internacional. E, por isso, são repetidos, nas
homílias, nos folhetos dominicais, em catecismos populares etc. Recentemente,
um teólogo que negou, em livro, a Ressurreição de
Cristo, que Jesus é Filho de Deus, monsenhor Kasper, foi elevado ao
cardinalato, e nomeado membro da Congregação da Doutrina da Fé. Seria como nomear
um lobo como guardião do redil.Todos esses erros
contra a Fé provinham da falsa idéia dos Modernistas sobre o que é a Fé e da
colocação da Ciência acima da Fé. Por isto, eles estavam prontos a interpretar
os primeiros capítulos do Gênesis, como mero relato simbólico, aceitando o que
afirmava o evolucionismo meramente teórico e cheio de lacunas de Darwin como
realmente científico.
OUTRAS HERESIAS DA "IDEOLOGIA MODERNISTA":
1)-Para os modernistas,
a Igreja não fora fundada por Cristo, nem Ele dera o poder supremo da Igreja a
Pedro. A
Igreja seria resultante da consciência coletiva dos crentes. Por isso o poder
nela derivaria do povo fiel, e não de Deus. A autoridade eclesiástica emanaria
do povo crente. Daí ser necessário, segundo os modernistas, uma democratização da
Igreja.
2)-Toda a autoridade
eclesiástica deveria se desvestir da pompa que a tem cercado. Toda a pompa que
cercou as manifestações da autoridade eclesiástica seria alheia ao espírito da
religião. A Igreja deveria ser simples, pobre, igualitária e democrática.
Por
essas razões, todo o culto deveria ser reformado, perdendo as cerimônias pompa
e buscando ser simples e pobres.
3)-De nenhum modo o
Papa deveria ter um poder soberano, nem poderia ter um território. Face ao
Estado, a Igreja deveria ser separada dele, e não gozar de privilégio algum, porque
Ela não pode se arrogar orgulhosamente a posse da Verdade. Todas as religiões
deveriam ter iguais direitos no Estado democrático.
4)-Também o Magistério
eclesiástico deveria ser mudado, assumindo feições democráticas porque, no
fundo, ele nasceria das consciências individuais. Seria um abuso tirânico
alguém se considerar fonte do Magistério. O Papa deveria aceitar a verdade que nasce
das bases, e que é expressa pelos “teólogos” subordinados, estes também, ao
povo, como fonte original da Revelação.
5)-Uma Instituição como
a Congregação para a Doutrina da Fé seria a expressão da tirania de um poder
monárquico sobre o povo, única fonte de verdade.A concepção do Papa como
soberano que decide o que é dogma, o que é verdade, e o que é heresia, seria
uma deformação absurda do fenômeno religioso que reside no fundo das
consciências individuais.
6)-Como a manifestação
da consciência religiosa é inefável, e como ela está sujeita, como tudo, à lei
da evolução, a religião, como fenômeno vivo deve evoluir continuamente, o que é impedido
e tiranizado pelo estabelecimento de uma autoridade magisterial tida como
“infalível”.
7)-Assim como a Igreja
deveria estar separada do Estado -- porque ela não se pode arrogar a posse
única da verdade -- assim todas as religiões deveriam ser aceitas quer pelo
Estado, quer pela própria Igreja. Afinal, toda religião seria produto do
sentimento interior de cada ser humano, em cuja inconsciente profundo jaz
imanente, a Divindade.
8)-Sendo todas as
religiões igualmente verdadeiras, e igualmente falsas por serem todas
incompletas, a verdadeira Igreja seria constituída por todos aqueles que
houvessem tomado consciência da imanência divina em seu inconsciente profundo.
9)-A “Igreja”
verdadeira não seria nenhuma das religiões positivas e estruturadas. A IGREJA
seria absolutamente espiritual, sem estruturas, sem dogmas, ecumênica,
relativista, igualitária, pobre e democrática.
10)-A IGREJA verdadeira
não existe na História. Ela estaria continuamente sendo gestada no fundo das
consciências. As Igrejas estruturadas, e em primeiro lugar a Igreja Católica,
deveriam se esforçar para tender para esta IGREJA espiritual, que vive
secretamente no fundo das consciências, buscando vir à luz, num parto doloroso,
em busca da Unidade.
11)-Culto também
deveria perder toda pompa e todos os símbolos de majestade com que foi
carregado e deturpado, nas épocas monárquicas. Deveria perder todo o caráter
autoritário, hierárquico e elitista, tornando-se democrático. Para isto, o culto
deveria estar voltado em conformidade não com a vontade de Deus revelada nas
escrituras, mas com a do povo em cuja consciência inacessível se daria a
manifestação da revelação e da divindade.
12)-Todos os
sacramentos seriam meros sinais ou símbolos, cuja eficácia consistiria apenas
na capacidade de despertar o sentimento religioso nas consciências individuais,
nutrindo a Fé.
14)-A Hóstia consagrada
não seria verdadeiramente o corpo, sangue, alma e divindade de Cristo. Ela
seria apenas um símbolo da união das consciências. Cristo não estaria na Hóstia
consagrada pelo sacerdote, mas estaria imanente nas almas. Estaria “no meio de
nós” e não nas espécies eucarísticas. A Missa deveria ser a Missa do Povo, e
nunca a renovação do sacrifício do Calvário. Quem rezaria, de fato, a Missa,
seria o Povo, e não sacerdote. Por estas razões, a Missa deveria ser conforme o
rito, cultura e a vontade do Povo, já que o povo é fato o sacerdote.
15)-Não
se deveria mais fazer a apologética tradicional, com argumentos, defendendo uma
verdade objetiva, pois não há verdade objetiva. A apologética não
deveria visar a conversão de alguém a uma suposta doutrina verdadeira -- já
que ninguém, e nenhuma religião possui sozinha a verdade -- mas deveria
procurar despertar a consciência adormecida para que “ouvisse” a revelação do
sentimento interior, para que afinal intuísse a voz da divindade imanente no
homem. A verdadeira apologética deveria levar cada um a ter a sua
experiência do divino. A tomar consciência da imanência da divindade no coração
do Homem.
16)-Propugnavam o
abandono da filosofia escolástica e tomista, adotando a filosofia moderna.
Conseqüentemente, recusavam a antiga teologia, defendendo uma Nova Teologia, tal qual aquela que
era proposta pelos teólogos jesuítas de Lyon e que triunfou no Concílio
Vaticano II, apesar da crítica e condenação a ela feita pela encíclica Humani
Generis de Pio XII. Desejavam a extinção dos Seminários.
17)-Os catecismos
deveriam ser modernizados, tal qual o foram nestes últimos tempos. Queriam
reformar a Missa. Queriam acabar com as devoções externas.
18)- A Igreja toda
deveria ser democratizada, tomando-se todas as decisões, doutrinárias ou de
direito, em assembléias. Exigiam uma reforma do governo da Igreja,
especialmente por meio de uma democratização da Cúria Romana, e pela extinção
do Santo Ofício, a fim de haver maior liberdade para os teólogos exprimirem
suas “teorias”.
19)-Em Moral, defendiam
as teses do americanismo, afirmando uma falsa distinção entre virtudes
ativas e virtudes passivas, como se fosse possível uma virtude ser passiva.
Outros defendiam uma reforma da doutrina moral, que levava, de fato, à abolição
de toda a lei moral.
Toda esta baboseira apologética
da Ideologia Modernista nasceu das doutrinas de Maurice Blondel (1861 – 1949). Todas
estas heresias levavam os Modernistas a propugnar amplas e profundas reformas
na Igreja Católica.
O evolucionismo radical do Modernismo exigia que
eles amassem as novidades pelas novidades e que odiassem tudo o que é
tradicional na Igreja.2
Timóteo 4,3-5: “Pois virá o tempo em que não suportarão a sã doutrina;
pelo contrário, sentindo coceira nos ouvidos, segundo os seus próprios desejos
juntarão mestres para si mesmos. Eles se recusarão a dar
ouvidos à verdade, voltando-se para fábulas.Você, porém, seja sóbrio em tudo, suporte os
sofrimentos, faça a obra de um evangelista, cumpra plenamente o seu
ministério...”
Por Orlando Fedeli -
Montfort
A busca
da resposta à pergunta mais simples “qual é a verdade?” aparentemente, resultou
numa criação digna dos melhores sofistas: A Pós-Verdade!
*Por Wanda Camargo
A disseminação das
redes sociais produziu alguns efeitos negativos, mas se sobrepõem os positivos
tais como: o acesso de muito mais pessoas à informação e possibilidade de
comunicação global é um deles. No entanto, a verdade, essa frágil planta de
difícil definição, é bombardeada por todos os lados; divulgam-se com rapidez
astronômica fatos e versões acerca de absolutamente tudo, com ou sem relação
com a realidade ou possibilidade de comprovação. Parte da imprensa
preocupa-se com a enxurrada de factoides e procura criar filtros que a protejam
de divulga-los inadvertidamente, mas nem sempre consegue tal intento.A
questão milenar “o que é a verdade?” ainda não foi respondida satisfatoriamente
e a busca de resposta à pergunta mais simples “qual é a verdade?” aparentemente
resultou numa criação digna dos melhores sofistas, a pós-verdade.O termo (post-truth) é
usado para situações em que os fatos objetivos são ignorados na argumentação,
declaração ou persuasão. Em qualquer telejornal assistimos esta técnica chegar
a paroxismos, com as afirmações absurdas dos suspeitos, indiciados, réus e
condenados, que apesar de todas as provas, continuam a afirmar o que não
disseram, o que disseram não fizeram, que não roubaram o que roubaram e que não
estavam onde foram vistos, mesmo tendo sido fotografados e filmados.Atribui-se
ao filósofo Friedrich Hegel a declaração de que a
História é um mito consentido, e se pensarmos nas diversas intepretações
dos acontecimentos, tendemos a concordar: cada povo, cada corrente ideológica,
cada grupo de interesse, contará a história de acordo com sua versão e será
esta versão que prosperará e será aceita por algumas, ou muitas, pessoas.
UM EXEMPLO CLÁSSICO:
O evento que nós
brasileiros denominamos “Guerra do Paraguai” é narrado aqui como um conflito
provocado pelo “sanguinário ditador Solano Lopez” que teria invadido parte de
nosso território. Já os paraguaios e alguns outros historiadores a contam como um
genocídio cometido pela tríplice aliança (Brasil, Argentina e Uruguai)
instigada pela Inglaterra para conter o “modernizador humanista Solano Lopez”
que pretenderia implantar algum tipo de socialismo em seu país. Evidentemente, duas
versões tão divergentes não podem ser concomitantemente verdadeiras,
o mais próximo da verdade pode estar em algum ponto entre uma e outra.É dito popular que a
história é, efetivamente, escrita pelos vencedores, e suas versões tenderão a
prevalecer, tão ou mais fantasiosas quanto maior for a necessidade de
justificativa para os atos cometidos ou a necessidade de utilização
autopromocional em ambições futuras. Não por coincidência, comunicólogos nazistas afirmavam que uma mentira repetida mil
vezes torna-se verdade, e embora saibamos que não, isso será
consentido pela maior parte das pessoas a que se destina, ou seja, tudo o que
os manipuladores desejam.Apenas
o conhecimento da verdade nos libertaria, disse um apóstolo referindo-se às
verdades da crença que pregava, e a procura pela verdade é de fato libertadora.
Ainda que muito difícil e por vezes dolorosa, a retirada das escamas que
recobrem os olhos torna-se condição para amadurecimento e é quando realmente
começa o aprendizado.Esta é a profissão de
fé e missão de milhares de professores, mesmo numa época de tantas pós-verdades
e pré-mentiras, e ainda que o processo educativo seja reflexo e refletor das
atitudes e valores sociais, sofrendo dos mesmos males que afetam a época e
sistema de crença da comunidade em que se insere.
*Wanda Camargo – educadora e
assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.
CONCLUSÃO:
É doloroso verificar
que toda a tradição filosófica do Ocidente e do Oriente que significou um
esforço exaustivo na busca da verdade das coisas, sendo agora invalidada por um
inaudito movimento histórico que afirma ser a verdade da realidade e da dureza
dos fatos algo irrelevante. O que conta serão minhas crenças e
convicções: só serão acolhidos aqueles fatos e aquelas versões que se coadunam
à estas minhas crenças e convicções, sejam elas verdadeiras ou falsas.Se
Sócrates que dialogava incansavelmente com seus interlocutores sobre a verdade
da justiça, da beleza e do amor, constatasse a predominância da pós-verdade,
seguramente não precisaria ser obrigado a tomar a sicuta. Morreria de tristeza.A pós-verdade denota a
profundidade da crise de nossa civilização. Representa a covardia do espírito
que não consegue ver e conviver com aquilo que é. Tem que deformá-lo e
acomodá-lo ao gosto subjetivo das pessoas e dos grupos geralmente políticos.Aqui
valem as palavras do poeta espanhol, António Machado, fugido da perseguição de
Franco:“A
tua verdade, não, A verdade. A tua guarde-a para ti. Busquemos juntos a
verdade”.Agora vergonhosamente
não se precisa mais buscar juntos a verdade. Poucos se enfrentam com a verdade
“verdadeira” e se deixam medir por ela. Mas a realidade resiste e se impõe e
nos dá duras lições. A pós-verdade não se identifica com as fake
news: estas são mentiras e calúnias difundidas aos milhões pelas mídias
digitais contra pessoas ou partidos. Aqui vale o descaramento, a falta
de caráter e o total descompromisso com os fatos. Na pós-verdade predomina a
seleção daquilo, verdadeiro ou falso, que se adequa à minha visão das coisas.
O defeito é a falta de crítica e de discernimento para buscar o que de fato é
verdadeiro ou falso.
Não
creio que estamos diante de uma era da “pós-verdade”. O que é perverso não tem
sustentação própria para fundar uma história. A palavra decisiva cabe sempre à
verdade cuja luz nunca se apaga. Não há duvidas de que cedo ou tarde a verdade
factual acabará por se impor.Se fosse diferente, as
ideias totalitárias, em suas diferentes versões, teriam prevalecido. Foram
desmascaradas e, seus protagonistas, se tornaram desacreditados. Basta saber em
quanto tempo e qual o grau do dano causado por uma notícia falsa.No
mundo de difusão imediata de informação, onde toda notícia é imediatamente
acessada por todos, a busca pela informação correta e verdadeira é uma arte;
afirma-la, em tempos de manipulação e de furiosas paixões que se elevam sobre o
tribunal da razão e sobre a capacidade de pensar, é um embate constante e
pernicioso entre o real e a irrealidade. Pós-verdade pode perfeitamente ser
entendido como a manipulação da opinião pública vestida em trajes de gala. Ou a
velha mentira de roupa nova. E ainda como uma forma de narrativa que privilegie
um tema de interesse, sem mostrar os diferentes ângulos.
A novidade que vai
inspirar, e já inspira a bem da verdade (sem trocadilhos), é uma maior
responsabilidade e atenção sobre o que se publica ou se põe em circulação com o
nome de “notícia”. Fica evidente, nesses tempos de pós-verdade, que não é
suficiente apenas informar rapidamente, mas informar bem, com atenção para a
veracidade dos fatos e seus processos. Pois fatos são
teimosos e exigentes. Processos são como peças de um
quebra-cabeça que vão se somando, se completando. É verdade
que fatos podem ser acompanhados de comentários críticos, úteis para a
compreensão dos acontecimentos e para formar a opinião e o saber público. Nunca será demasiado, contudo, a atenção para a
veracidade dos fatos. E fatos são fatos, são os melhores antídotos contra as
inverdades e a manipulação. Prova disso, é o próprio Dicionário da Universidade
de Oxford. Existe desde 1857 e acompanha as palavras desde a sua origem à
utilização atual. Existiria melhor exemplo de que a verdade dos fatos sempre
vence as especulações e artifícios de narrativas? Steve Tesich foi ganhador do
Oscar de Melhor Roteiro Original em 1979 para o filme A Gangue dos Quatro.
Escreveu o romance Karoo, editado postumamente em 1998, dois anos da sua morte.
Usou
o termo pós-verdade em ensaio de 1992 referindo-se ao episódios na Guerra do
Golfo:“Nós,
como um povo livre, escolhemos livremente que queremos viver em um mundo de
pós-verdade”, ele registrou.O “pós” não se refere
simplesmente a “depois”. O sentido está relacionado a palavras como
“pós-nacional” ou “pós-racial”, em que os conceitos se tornaram irrelevantes. A
“política de pós-verdade” seria, assim, uma política marcada pela irrelevância
da verdade, soterrada pela emoção como já explicamos suas origens acima.
O antídoto para aqueles
que carregam honrosamente o nome de Cristãos, o antídoto para tudo isto é vida
nova com Cristo, fruto da nossa consagração pelo Pai, que é oferecida a todo o que
acredita que Jesus é o Filho de Deus, como repete insistentemente o quarto
Evangelho. Com a força dessa fé e vida nova seremos capazes de transformar
tudo, dentro de nós e à nossa volta: trabalho, estudo, vida familiar, problemas
pessoais, compromisso social, solidão, doença e morte. Temos de provar, de gostar e de
ensaiar com entusiasmo a nossa vida pascal, convertendo o coração aos bens do Alto,
ainda que sem nos desinteressarmos das pessoas e do mundo. Consideremo-nos
mortos para o pecado e suas obras e ressuscitados com Cristo para Deus.
Dois tempos ou movimentos de uma mesma melodia, com aparência negativa o
primeiro e com nome positivo o segundo, mas inseparáveis e, no fundo, iguais. Para
vencer o ódio do mundo, no meio do qual temos que viver, não há meio melhor e
mais convincente que o testemunho da verdade pelo amor!
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