*Por
Ivanaldo Santos
Antigamente
para uma pessoa ser reconhecida como artista tinha que se esforçar muito. Eram
necessários anos de estudos, realizar estágios no exterior, conhecer grandes
artistas, ler milhares de livros, ter domínio de teorias sobre estética,
história da arte e outros temas para, só assim, uma pessoa ser publicamente
chamada de artista. Hoje em dia a coisa mudou muito. Hoje qualquer loucura (e a
arte é um tipo de manifestação da loucura, do exótico, etc) ou qualquer bobagem
é reconhecido como arte. Vejamos alguns exemplos: hoje uma pessoa tira fotos do
próprio anus e é chamada de artista, um sujeito expõe as próprias fezes e isso
é reconhecido como arte, um grupo de mulheres fazem xixi na própria roupa e
isso é visto como arte, um sujeito tira fotos do lixo da sua própria casa e
isso é visto como arte, outro faz um vídeo dizendo palavrões e isso é uma performance
artística, um sujeito tira a roupa, fica nu na frente de outras pessoas e isso
é um ato artístico, outra pessoa se masturba e isso é visto como performance
artística. Por esses exemplos pode-se ver que, hoje em dia, qualquer coisa (fezes,
lixo, xixi, etc) é considerada uma obra de arte.
É
necessário ver que, de um lado, vivemos uma era de profundas crises. Existe a
crise do Estado, a crise da democracia, a crise do Ocidente, a crise dos
valores morais e muitas outras. No Brasil, além dessas crises de conteúdo mais
universal, tem-se a crise da economia e as crises institucionais. Do outro
lado, a arte não é inume ao sistema de crises que atravessa a sociedade
contemporânea. Ora, se quase tudo está em crise, a arte, enquanto produto da
vida humana, também está em crise.
De
certa forma a arte sempre esteve em crise. Ela sempre foi uma espécie de “estrada
de passagem” onde se canalizou o que existe de melhor na natureza humana e, ao
mesmo tempo, se desenvolveu uma reflexão sobre os dramas e angústias humanas. O
problema é que na sociedade contemporânea parece que a crise da arte extrapolou
os limites da histórica crise da arte. Sem rumo, parece que sobrou a arte contemporânea
lidar apenas com o que, por essência, na natureza humana deve ficar escondido
(fezes, xixi, masturbação, anus, etc). Freud, que pode ser até acusado de
defender uma arte para a alta cultura, já demonstrou que as fezes e outros
dejetos humanos devem ficar na profundeza da civilização.
Trazer
esse material átona não é melhorar a espécie humana, mas apenas reforçar os
laços de brutalidade e de animalidade do homem. Não existe uma saída fácil para
a crise da arte contemporânea. No entanto, insistir que fezes, xixi, anus e
coisas semelhantes são obras de arte é apenas reforçar a crise da arte. Na
sociedade contemporânea para se produzir uma arte de mais qualidade é
necessário ter coragem de afirmar que nem toda bobagem é arte, expor fezes,
xixi, masturbação e coisas semelhantes é tudo, menos uma obra de arte. É
necessário resgatar a ideia que a obra de arte é algo exterior ao homem e, ao
mesmo tempo, fruto dos mais elevados esforços culturais da humanidade.
*Ivanaldo
Santos é Filósofo. E-mail: ivanaldosantos@yahoo.com.br
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