Pergunta
esmagadora. Temo e tremo ao pensar nisso, visto que “nihil inultum
permanebit”, quando Ele abrir o livro de minha vida ante meus olhos. Nada
ficará escondido.
“Liber
scriptus proferetur
in quo
totum continetur
unde
Orlandum judicetur”.
(Que farei eu, então, miserável pecador? Onde
me esconder? A que patrono rogarei? Quando nesse juízo nem o mais justo estará
seguro).
Quanto
mais eu? Onde encontrarei refúgio, se nem Maria Santíssima, a advogada dos
pecadores, a quem sempre quis servir, estará a meu lado para implorar o perdão,
que Ela sempre implorou quando eu em vida para mim?
Então,
será tarde demais.Por que o oceano de meus pecados é imenso e minha malícia foi
sem limites, e minha culpa infinita.Mas sem comodidades e sem patrocínios...
“Ingemisco
tanquam réus,
“Culpa
rubet vultus meus,
Supplicanti,
‘parce, Deus”.
(“O
rubor do amor e da vergonha” cobrirá o meu rosto, enquanto eu gemer como
pecador convicto de culpa, mas suplicarei, perdoa-me meu Deus).
Que
fazer, então, se não bater no peito como o publicano acusado pelo fariseu
jejuador e pagador de todos os dízimos?Que fazer quando tantos me acusarão
diante de Deus, e terei o inimigo a meu lado apontando meus pecados, e exigindo
minha punição? Porque sempre há quem acuse nossos pecados. Durante a vida, pode
acontecer que sejamos acusados falsamente. Até de gozar de comodidades
patrocinadas.
No Juízo
particular, os demônios substituirão pessoalmente os caluniadores que, mesmo
durante a vida terrena, nos atribuíram pecados inexistentes, bem como
aumentaram a envergadura dos que cometemos com a lente da acusação implacável e
impiedosa.O demônio, no Juízo de Deus, ele nos acusará de pecados reais e de
falsas culpas. Serei acusado de não ter tido caridade, e de ter faltado com a
justiça até nas mínimas coisas:Que fui rebelde ao clero e que não paguei o
dízimo.Que não pagamos o dízimo do coentro e do cominho.
Sim. Eu
não paguei o dízimo do coentro e do cominho!!!
Sim. Eu
não disse tantas vezes Korban a meus pais, e aos sacerdotes !!!
Sim. Eu
chamei por várias vezes e publicamente o fariseu de hipócrita, quando na
verdade eu era pior que eles !!!
Sim. Eu
acusei publicamente os fariseus de serem raça de víboras !!!
Sim. Eu
acusei os Doutores da Lei, os novos teólogos, de serem sepulcros caiados !!!
Sim. Eu
lancei em rosto aos escribas da internet – mesmo tonsurados — que eles, por
negarem a presença real de Cristo na hóstia consagrada, que eles eram filhos do
diabo !!!
Mas nunca
faltei com o respeito devido aos ungidos de Deus. Mesmo quando me caluniaram. Esse
pecado não cometi.
Que direi
eu, então, na hora terrível do juízo de Deus senão:
“Recordare
Jesu pie, “
Quod
sum causa tuae viae,
Ne me
perdas illa die”.
(“Lembra-te, ó Jesus misericordioso,
Que sou a causa de teus caminhos tão
cansados,
Não me percas naquele dia do juízo tão
terrível).
Tu, ó
Jesus, Tu me buscastes todos os dias de minha vida, para me salvar,
perseguindo-me e procurando-me nos caminhos maus que trilhei. Tu, sob o sol do
meio dia, cansado, Tu te sentaste à beira do poço para me pedir um copo de água
de refrigério e de consolação.
“Quaerens
me sedisti lassus,
Redimisti
crucem passus.
Tantus labor non sit cassus”.
(Que direi eu a Jesus no dia de meu Juízo?
Lembra-Te, Senhor, que Tu me redimiste,
morrendo por mim na cruz. E tanto trabalho será então perdido?).
“Qui Mariam
absolvisti,
Et
latronem exaudisti,
Mihi
quoque spem dedisti”.
(Tu que absolvestes Maria.
Tu que atendestes o pedido do ladrão na cruz.
Tu, por tua misericórdia infinita, também a mim miserável destes esperança).
A minha
consciência qual trombeta do vale de Josafá, com toda a autoridade de meus
longos anos, me interroga, dizendo-me terrivelmente:
“Como
você acha que será recebido por Deus em seu Reino?”
Como serei recebido por Deus no
meu juízo?
Como um pecador arrependido.
Como me apresentarei diante do
Altíssimo?
Como um pecador coberto de
pecados e com as mão vazias, pois pouco ou nada fiz.Sem méritos pessoais. Sem dignas
preces minhas. Com minhas comunhões mal feitas. Com meu zelo de Boanerges. Com
minhas chagas. Com minhas dores. Com minhas derrotas e com minhas quedas
miseráveis. Com minha juventude maliciosa.Com minha velhice inútil.
“Preces
meae non sunt digne,
Sed Tu, bonus, fac benigne,
ne perenni cemer igne”.
(Minhas preces? Elas não são dignas. Nem
sequer minhas preces são dignas. Mas Tu, ó único Bom, faz com que bondosamente
eu não queime eternamente no fogo do inferno a que tantos me votam).
Como
instrumento velho e vil que não soube bem trabalhar. Como quem muito recebeu de
Deus, mas que pelo exemplo, não testemunhou a altura do que de graça recebeu de
Deus. Como uma velha espada que perdeu o gume de tanto golpear contra os
inimigos de Cristo, da Igreja de Maria e dos Santos.
Como me apresentarei então diante
do Divino Juiz?
Com meus pecados, mas com minha
esperança em sua infinita misericórdia
“Conheci
um escultor que tinha um só ferro de esculpir, uma só goiva, velha, pequena e
gasta, quase sem corte. Mas à qual ele estava habituado como a seus dedos. E
ele era tão pobre e tão mau escultor, que não tinha dinheiro para comprar outra
goiva. Então, só usava aquela, a velha, a gasta, a quase sem gume. E não tinha
patrocinadores de suas comodidades ou goivas. Afinal teve a sorte de fazer
algumas peças menos feias, e pode comprar algumas goivas novas e afiadas. Mas,
acostumado que estava com sua velha goiva pequena e gasta, por fidelidade à sua
velha goiva fiel, ele preferia usar aquela que sempre usara, ao invés de goivas
bem melhores. Fidelidade de velho artesão. Essa fidelidade do velho escultor à
sua goiva, gasta e velha, me fez lembrar de Davi, que preferiu usar sua funda
de pastor do que a armadura e a espada afiada e forte de Saul, quando foi
enfrentar Golias.Assim também velhos cruzados, preferiam usar suas velhas
espadas gastas do que novas, que não haviam sido suas companheiras de
combate.”
Essa é
minha esperança. Que Deus perdoe a este seu servo inútil e infiel que Ele usou
como velha goiva sem gume e sem valor, mas que usada por Deus benevolamente
pode ser instrumento índigno de tantas labaredas reacendidas em muitos
corações, que estavam a se apagar.Daí, a minha esperança na eterna fidelidade
de Deus, que prefere usar goivas indignas para fazer suas obras.
Como me apresentarei diante de
Jesus, meu Juiz terrível e pleno de misericórdia?
Só posso me apresentar como sempre
fui e como sou: pecador e combatente. Como pecador miserável, que pede perdão,
como servo inútil, mas combativo que gastou a voz, a vista, a vida e a honra,
para ensinar a quantos pode alcançar a sã doutrina da salvação. Apresentar-me-ei
com meus pecados. E com minha esperança. Apresentar-me-ei coberto de culpas e
coberto de escarros daqueles que me odeiam e me caluniam, talvez até por seus
justos motivos. Apresentar-me-ei com a esperança de que Deus, por misericórdia
se lembre de meus combates, de minhas polêmicas, de minhas pregações
agressivas, de minhas falas e respostas duras e contundentes, mais interessada
em agradar a Deus que aos homens.
Que Ele possa
levar em conta, por sua infinita misericórdia, as milhares de almas que Ele
alcançou, dando-me argumentos que trouxeram tantos moços e tantas moças para junto
dEle. Tantos que renovara seu Batismo. Tantos que Ele – usando uma velha goiva
gasta – se dignou a converter em belas imagens suas, usando a velha e gasta e
indigna goiva da palavra de um de seus servos mais inúteis e pecador.
Minhas
culpas são grandes e é normal que uma pessoa já de idade avançada, que tem que
ver as letras aumentadas por lentes de aumento, veja também meus defeitos e
culpas maiores do que são. Isso é normal.Mas minha esperança está no nome do
Senhor. Que só Deus é meu Juiz. Ele cuja misericórdia é para aqueles que o
temem. Não serão os atuais progressistas que ensinam atualmente na igreja que
me julgarão. Mas Cristo, que morreu também por este pecador por este servo
inútil que escreve estas linhas agradecido.O Juízo de Cristo me faz tremer. Mas
sei que sua misericórdia é para aqueles que o temem e que tremem diante dEle.
Misericordia
ejus timentibus eum.
Estou
vivo e meu Redentor vive. A Ele suplico, pois, por meio de Nossa Senhora minha
santa maesinha, a quem dediquei todo meu apostolado, que tenha pena de mim
pecador, e que por sua infinita misericórdia repare na messe de almas, no
trigal dourado que fiz ondular ao vento de Deus. Que pelo trigal que plantei
com minhas mãos sujas, grosseiras e brutas, conceda que se faça um
pão. Conceda que se faça um sacerdote, que dizendo a um pão: ‘Hoc enim
est Corpus meum” faça a transubstanciação.Pois eu também tenho “filhos” que
espero ver subir ao altar de Deus.
Que, em
meu julgamento, repare Deus na bondade das almas que conquistei para Ele
unicamente por sua graça e sem mérito algum, e que hoje rezam por mim.Que Deus
se lembre de que foi Ele mesmo que insistiu em usar uma velha goiva, uma funda
bruta, uma velha, e gasta, e indigna espada para combater por Deus e pela Santa
Igreja nestes dias de calamidade e de horror.Deus, que fez fecunda a minha
juventude e meu apostolado, cubra Ele nossa velhice,com a abundância de sua
misericórdia (Sl. 91,11).
Que Deus
tenha pena de nós e perdoe a todos nós, e particularmente a mim, pecador, que
só quis combater por Ele.Só Deus nos julgará.
Que Deus nos conceda a sua misericórdia, e a mim que preciso mais que todos, de seu divino perdão. E quem sabe, também alcance a compreensão daqueles aos quais por amor a Deus e pensando na salvação das almas, dirigi duras palavras, peço-lhes sua amizade, compreensão, orações, e quem sabe se Deus quiser e não for pedir muito, que no Céu possamos nos abraçarmos perdoado-nos mutuamente e louvar a Deus por toda a eternidade pela sua misericórdia, pois Deus não quer a morte do pecador, mas que ele se converta e viva.
Orlando Fedeli -
Montfort
Postar um comentário
Todos os comentários publicados não significam a adesão às ideias nelas contidas por parte deste apostolado, nem a garantia da ortodoxia de seus conteúdos. Conforme a lei o blog oferece o DIREITO DE RESPOSTA a quem se sentir ofendido(a), desde que a resposta não contenha palavrões e ofensas de cunho pessoal e generalizados. Os comentários serão analisados criteriosamente e poderão ser ignorados e ou, excluídos.