Beleza e bondade da criação
§299 Já que Deus cria
com sabedoria, a criação é ordenada: "Tu dispuseste tudo com medida número
e peso" (Sb 11,20). Feita no e por meio do Verbo eterno, "imagem do
Deus invisível" (Cl 1,15), a criação está destinada, dirigida ao homem,
imagem de Deus, chamado a uma relação pessoal com Ele. Nossa inteligência, que
participa da luz do Intelecto divino, pode entender o que Deus nos diz por sua
criação, sem dúvida não sem grande esforço e num espírito de humildade e de
respeito diante do Criador e de sua obra. Originada da bondade divina, a
criação participa desta bondade: "E Deus viu que isto era bom... muito
bom" (Gn 1,4.10.12.18.21.31). Pois a criação é querida por Deus como um
dom dirigido ao homem, como uma herança que lhe é destinada e confiada. Repetidas
vezes a Igreja teve de defender a bondade da criação, inclusive do mundo
material.
§341 A beleza do
universo. A ordem e a harmonia do mundo criado resultam da diversidade dos
seres e das relações que existem entre eles. O homem as descobre
progressivamente como leis da natureza. Elas despertam a admiração dos sábios.
A beleza da criação reflete a infinita beleza do Criador. Ela deve
inspirar o respeito e a submissão da inteligência do homem e de sua vontade.
§353 Deus quis a
diversidade de suas criaturas e a bondade própria delas, sua interdependência e
ordem.
Destinou todas a criaturas materiais ao bem do gênero humano. O homem, e por
meio dele a criação inteira, destina-se à glória de Deus.
§2402 No começo, Deus
confiou a terra e seus recursos à administração comum da humanidade, para que
cuidasse dela, a dominasse por seu trabalho e dela desfrutasse. Os bens da
criação são destinados a todo o gênero humano. A terra está, contudo, repartida
entre os homens para garantir a segurança de sua vida, exposta à penúria e
ameaçada pela violência. A apropriação dos bens é legítima para
garantir a liberdade e a dignidade das pessoas, para ajudar cada um a prover
suas necessidades fundamentais e as daqueles de quem está encarregado.
Deve também permitir que se manifeste uma solidariedade natural entre os
homens.
§2452 Os bens da
criação são destinados a todo o gênero humanos. O direito à propriedade privada
não abole a destinação universal dos bens.
Catequese sobre a criação
§282 A catequese
sobre a criação se reveste de uma importância capital. Ela diz respeito aos
próprios fundamentos da vida humana e cristã, pois explicita a resposta da fé
cristã à pergunta elementar feita pelos homens de todas as épocas: "De
onde viemos?" "Para onde vamos?" "Qual é a nossa
origem?" "Qual é o nosso fim?" "De onde vem e para onde vai
tudo o que existe?" As duas questões, a da origem e a do fim, são
inseparáveis. São decisivas para o sentido e a orientação de nossa vida e de
nosso agir.
§289 Entre todas as
palavras da Sagrada Escritura sobre a criação, os três primeiros capítulos do
Gênesis ocupam um lugar único. Do ponto de vista literário, esses textos podem
ter diversas fontes. Os autores inspirados puseram-nos no começo da Escritura,
de sorte que eles exprimem, em sua linguagem solene, as verdades da criação, da
origem e do fim desta em Deus, de sua ordem e de sua bondade, da vocação do
homem e finalmente do drama do pecado e da esperança da salvação. Lidas à luz
de Cristo, na unidade da Sagrada Escritura e na Tradição viva da Igreja, essas
palavras são a fonte principal para a catequese dos Mistérios
"princípio": criação, queda, promessa da salvação.
Conhecer Deus pela criação
§31 Criado à imagem
de Deus, chamado a conhecer e a amar a Deus, o homem que procura a Deus descobre
certas "vias" para aceder ao conhecimento de Deus. Chamamo-las
também de "provas da existência de Deus", não no sentido das provas
que as ciências naturais buscam, mas no sentido de "argumentos
convergentes e convincentes" que permitem chegar a verdadeiras certezas.
Estas "vias" para chegar a Deus têm como ponto de partida a criação:
o mundo material e a pessoa humana.
§32 O mundo: a partir do movimento e do devir, da contingência, da ordem
e da beleza do mundo, pode-se conhecer a Deus como origem e fim do universo. São
Paulo afirma a respeito dos pagãos: "O que se pode conhecer de Deus é
manifesto entre eles, pois Deus lho revelou. Sua realidade invisível - seu
eterno poder e sua divindade - tornou-se inteligível desde a criação do mundo
através das criaturas" (Rm 1,19-20).E Santo Agostinho: "Interroga a
beleza da terra, interroga a beleza do mar, interroga a beleza do ar que se
dilata e se difunde, interroga a beleza do céu... interroga todas estas
realidades. Todas elas te respondem: olha-nos, somos belas. Sua beleza é um
hino de louvor (confessio). Essas belezas sujeitas à mudança, quem as fez senão
o Belo (Pulcher, pronuncie "púlquer"), não sujeito à mudança?" .
§1147 Deus fala ao
homem por intermédio da criação visível. O cosmos material apresenta-se à
inteligência do homem para que este leia nele os vestígios de seu criador. A
luz e a noite, o vento e o fogo, a água e a terra, a árvore e os frutos falam
de Deus, simbolizam ao mesmo tempo a grandeza e a proximidade dele.
§2500 A prática do
bem é acompanhada de um prazer espiritual gratuito e da beleza moral. Da mesma
forma, a verdade implica a alegria e o esplendor da beleza espiritual. A
verdade é bela em si mesma. A verdade da palavra, expressão racional
do conhecimento da realidade criada e incriada, é necessária ao homem dotado de
inteligência, mas a verdade também pode encontrar outras formas de expressão
humana, complementares, sobretudo quando se trata de evocar o que ela contém de
indizível, as profundezas do coração humano, as elevações da alma, o mistério
de Deus. Antes de se revelar ao homem em palavras de verdade, Deus se
lhe revela pela linguagem universal da criação, obra de sua Palavra, de sua
Sabedoria: a ordem e a harmonia do cosmo que tanto a criança como o cientista
descobrem , "a grandeza e a beleza das criaturas levam, por analogia, à
contemplação de seu Autor" (Sb 13,5), "pois foi a própria fonte da
beleza que as criou" (Sb 13,3).
Desígnio de Deus e criação
§257 "O lux
beata Trinitas etprincipalis Unitas - à luz, Trindade bendita. O primordial
Unidade"! Deus é beatitude eterna, vida imortal, luz sem ocaso. Deus é
amor: Pai, Filho e Espírito Santo Livremente, Deus quer comunicar a glória de
sua vida bem-aventurada. Este é o "desígnio" de benevolência (Ef 1,9)
que ele concebeu desde antes da criação do mundo no seu Filho bem-amado
predestinando-nos à adoção filial neste" Ef 1,5), isto é, "a
reproduzir a imagem do seu Filho" (Rm 8,29) graças ao "Espírito de
adoção filial" (Rm 8,5). Esta decisão prévia é uma "graça concedida
antes de todos os séculos" (2Tm 1,9), proveniente diretamente do amor
trinitário. Ele se desdobra na obra da criação, em toda história da salvação
após a queda, nas missões do Filho e do Espírito, prolongadas pela missão da
Igreja.
§280 A criação é o fundamento de "todos os desígnios salvíficos de
Deus", "o começo da história da salvação", que culmina em
Cristo. Inversamente, o mistério de Cristo é a luz decisiva sobre o mistério da
criação; ele revela o fim em vista do qual, "no princípio, Deus criou o
céu e a terra" (Gn 1,1): desde o início, Deus tinha em vista a glória da
nova criação em Cristo.
§315 Na criação do
mundo e dos homens, Deus colocou o primeiro e universal testemunho de seu amor
Todo-Poderoso e de sua sabedoria, o primeiro anúncio de seu "desígnio
benevolente", o qual encontra sua meta na nova criação em Cristo.
§759 "O Pai
eterno, por libérrimo e arcano desígnio de sua sabedoria e bondade, criou todo
o universo; decidiu elevar os homens à comunhão da vida divina", à qual
chama todos os homens em seu Filho: "Todos os que crêem em Cristo, o Pai
quis chamá-los a formarem a santa Igreja". Esta "família de
Deus" se constitui e se realiza gradualmente ao longo das etapas da história
humana, segundo as disposições do Pai. Com efeito, "desde a origem do mundo a
Igreja foi prefigurada. Foi admiravelmente preparada na história do povo de
Israel e na antiga aliança. Foi fundada nos últimos tempos. Foi manifestada
pela efusão do Espírito. E no fim dos tempos será gloriosamente
consumada".
Deus artífice da criação
§317 Só Deus criou o
universo, livremente, diretamente, sem nenhuma ajuda.
§337 Foi Deus mesmo
quem criou o mundo visível em toda a sua riqueza, diversidade e ordem. A Escritura
apresenta a obra do Criador simbolicamente como uma seqüência de
seis dias "de trabalho" divino que terminam com o
"descanso" do sétimo dia. O texto sagrado ensina, a respeito da
criação, verdades reveladas por Deus para nossa salvação que permitem "reconhecer
a natureza profunda da criação, seu valor e sua finalidade, que é a glória de
Deus".
Fim e razões da criação
§293 Eis uma verdade
fundamental que a Escritura e a Tradição não cessam de ensinar e de celebrar: "O
mundo foi criado para a glória de Deus". Deus criou todas as
coisas, explica São Boaventura, "non propter gloriam augendam, sed
propter gloriam manifestandam et propter gloriam suam communicandam - não para
aumentar a [sua] glória, mas para manifestar a glória e para comunicar a sua
glória". Pois Deus não tem outra razão para criar a não ser seu
amor e sua bondade: "Aperta manu clave amoris creaturae prodierunt -
Aberta a mão pela chave do amor, as criaturas surgiram". E o
Concílio Vaticano I explica:Este único e verdadeiro Deus, por sua bondade e por
sua "virtude onipotente", não para aumentar sua felicidade nem para
adquirir sua perfeição, mas para manifestar essa perfeição por meio dos bens
que prodigaliza às criaturas, com vontade plenamente livre, criou
simultaneamente no início do tempo ambas as criaturas do nada: a espiritual e a
corporal.
§294 A glória de Deus
consiste em que se realize esta manifesta o e esta comunicação de sua bondade
em vista das quais o mundo foi criado. Fazer de nós "filhos adotivos por
Jesus Cristo: conforme o beneplácito de sua vontade para louvor à glória da sua
graça" (Ef 1,5-6): "Pois a glória de Deus é o homem vivo, e a vida do
homem é a visão de Deus: se já a revelação de Deus por meio da criação
proporcionou a vida a todos os seres que vivem na terra, quanto mais a
manifestação do Pai pelo Verbo proporciona a vida àqueles que vêem a Deus".
O fim último da criação é que Deus, "Criador do universo, tornar-se-á
"tudo em todas as coisas' (1Cor 15,28), procurando, ao mesmo tempo, a sua
glória e a nossa felicidade".
§314 Cremos
firmemente que Deus é o Senhor do mundo e da história. Mas os caminhos de sua
providência muitas vezes nos são desconhecidos. Só no final, quando acabar o
nosso conhecimento parcial, quando virmos Deus "face a face" (1 Cor
13,12), teremos pleno conhecimento dos caminhos pelos quais, mesmo por meio dos
dramas do mal e do pecado, Deus terá conduzido sua criação até o descanso desse
Sábado definitivo, em vista do qual criou o céu e a terra.
§319 Deus criou o
mundo para manifestar e para comunicar sua glória. Que suas criaturas
participem de sua verdade, de sua bondade e de sua beleza, é a glória para a
qual Deus as criou.
§353 Deus quis a
diversidade de suas criaturas e a bondade própria delas, sua interdependência e
ordem. Destinou todas a criaturas materiais ao bem do gênero humano. O homem, e
por meio dele a criação inteira, destina-se à glória de Deus.
§358 Deus criou tudo
para o homem, mas o homem foi criado, para servir e amar a Deus e oferecer-lhe
toda a criação: Quem é, pois, o ser que vai vir à existência cercado de tal
consideração? E o homem, grande e admirável figura viva, mais precioso aos
olhos de Deus do que a criação inteira: é o homem, é para ele que existem o céu
e a terra e o mar e a totalidade da criação, e é à salvação dele que Deus
atribuiu tanta importância que nem sequer poupou seu Filho único em seu favor. Pois
Deus não cessou de tudo empreender para fazer o homem subir até ele e fazê-lo
sentar-se à sua direita.
Imperfeição da criação
§302 A criação tem
sua bondade e sua perfeição próprias, mas não saiu completamente acabada das
mãos do Criador. Ela é criada "em estado de caminhada" ("in
statu viae") para uma perfeição última a ser ainda atingida, para a qual
Deus a destinou.
Chamamos de divina providência as disposições pelas quais Deus conduz sua
criação para esta perfeição:Deus conserva e governa com sua providência tudo o
que criou; ela se estende "com vigor de um extremo ao outro e governa o
universo com suavidade" (Sb 8,1). Pois "tudo está nu e descoberto aos
seus olhos" (Hb 4,13), mesmo os atos dependentes da ação livre das
criaturas.
§307 Aos homens, Deus
concede até de poderem participar livremente de sua providência, confiando-lhes
a responsabilidade de "submeter" a terra e de dominá-la. Deus concede
assim aos homens serem causas inteligentes e livres para completar a obra da
Criação, aperfeiçoar sua harmonia para o bem deles e de seus próximos.
Cooperadores muitas vezes inconscientes da vontade divina, os homens podem
entrar deliberadamente no plano divino, por suas ações, por suas orações, mas
também por seus sofrimentos. Tornam-se então plenamente
"cooperadores de Deus" (1Cor 3,9) e do seu Reino.
§310 Mas por que Deus não criou um mundo tão perfeito que nele não possa
existir mal algum? Segundo seu poder infinito, Deus sempre poderia criar algo
melhor. Todavia, em sua sabedoria e bondade infinitas, Deus quis livremente
criar um mundo "em estado de caminhada" para sua perfeição última.
Este devir permite, no desígnio de Deus, juntamente com o aparecimento de determinados
seres, também o desaparecimento de outros, juntamente com o mais perfeito,
também o menos imperfeito, juntamente com as construções da natureza, também as
destruições. Juntamente com o bem físico existe, portanto, o mal físico,
enquanto a criação não houver atingido sua perfeição.
§378 O sinal da
familiaridade com Deus é o fato de Deus o colocar no jardim. Lá vive "para
cultivá-lo e guardá-lo" (Gn 2,15): o trabalho não é uma penalidade, mas sim a
colaboração do homem e da mulher com Deus no aperfeiçoamento da criação
visível.
Nova criação em Cristo
§315 Na criação do
mundo e dos homens, Deus colocou o primeiro e universal testemunho de seu amor
Todo-Poderoso e de sua sabedoria, o primeiro anúncio de seu "desígnio
benevolente", o qual encontra sua meta na nova criação em Cristo.
§374 O primeiro homem
não só foi criado bom, mas também foi constituído em uma amizade com seu
Criador e em tal harmonia consigo mesmo e com a criação que o rodeava que só
serão superadas pela glória da nova criação em Cristo.
Participação do Verbo de Deus na criação
§291 "No
princípio era o Verbo... e o Verbo era Deus... Tudo foi feito por Ele, e sem Ele nada foi feito"(Jo 1,1-3). O Novo Testamento revela que Deus criou
tudo por meio do Verbo Eterno, seu Filho bem-amado. Nele "foram criadas
todas coisas, nos céus e na terra... tudo foi criado por Ele e para Ele é antes
de tudo e tudo nele subsiste" (Cl 1,16-17). A fé da Igreja afirma outrossim a
ação criadora do Espírito Santo: Ele é o "doador de vida" "o
Espírito Criador" ("Veni, Creator Spiritus"), a "Fonte de
todo bem".
§320 Deus, que criou
o universo o mantém na existência por seu Verbo, "este Filho que sustenta
o universo com o poder de sua palavra" (Hb 1,3) e pelo seu Espírito
Criador que dá a vida.
Pecado original e criação
*Grifo do blog Berakash: O pecado provou a desumanização do ser humano, levando-o ao
estado animalesco e primitivo, ou seja à sua bestialização, por aqueles que se deixam dominar pelo pecado.
§400 A harmonia na
qual estavam, estabelecida graças à justiça original, está destruída; o
domínio das faculdades espirituais da alma sobre o corpo é rompido; a
união entre o homem e a mulher é submetida a tensões; suas relações serão
marcadas pela cupidez e pela dominação (cf. Gn 3, 16). A harmonia com a criação está
rompida: a criação visível tornou-se para o homem estranha e hostil. Por causa
do homem, a criação está submetida "à servidão da corrupção".
Finalmente, vai realizar-se a conseqüência explicitamente anunciada para o caso
de desobediência: o homem "voltará ao pó do qual é formado" A morte
entra na história da humanidade.
§1608 Não obstante, a
ordem da criação subsiste, apesar de gravemente perturbada. Para
curar as feridas do pecado, o homem e a mulher precisam da ajuda da graça que
Deus, em sua misericórdia infinita, jamais lhes recusou. Sem esta ajuda, homem
e a mulher não podem chegar a realizar a união de suas vidas para a qual foram
criados "no princípio".
Relação do homem com a criação
§343 O homem é a
obra-prima do obra do criação. A narração bíblica exprime isto distinguindo
nitidamente a criação do homem da criação das outras criaturas.
§396 Deus criou o
homem à sua imagem e o constituiu em sua amizade. Criatura espiritual, o homem
só pode viver esta amizade como livre submissão a Deus. E o que exprime a
proibição, feita ao homem, de comer da árvore do conhecimento do bem e do mal,
"pois, no dia em que dela comeres, terás de morrer" (Gn 2,17).
"A árvore do conhecimento do bem e do mal" (Gn 2,l7) evoca
simbolicamente o limite intransponível que o homem, como criatura, deve
livremente reconhecer e respeitar com confiança. O homem depende do Criador,
está submetido às leis da criação e às normas morais que regem o uso da
liberdade.
§1469 Este sacramento
(da penitência), nos reconcilia com a
Igreja. O pecado fende ou quebra a comunhão fraterna. O sacramento da
Penitência a repara ou restaura. Neste sentido, ele não cura apenas aquele que
é restabelecido na comunhão eclesial, mas tem também um efeito vivificante
sobre a vida da Igreja, que sofreu com o pecado de um de seus membros. Restabelecido
ou confirmado na comunhão dos santos, o pecador sai fortalecido pela
participação dos bens espirituais de todos os membros vivos do Corpo de Cristo,
quer estejam ainda em estado de peregrinação, quer já estejam na pátria
celeste:Não devemos esquecer que a reconciliação com Deus tem como
conseqüência, por assim dizer, outras reconciliações capazes de remediar outras
rupturas ocasionadas pelo pecado: o penitente perdoado reconcilia-se
consigo mesmo no íntimo mais profundo de seu ser, onde recupera a própria
verdade interior; reconcilia-se com os irmãos que de alguma maneira ofendeu e
feriu; reconcilia-se com a Igreja; e reconcilia-se com toda a criação.
Respeito pela integridade da criação
§354 Respeitar as
leis inscritas na criação e as relações que derivam da natureza das coisas é
princípio de sabedoria e fundamento da moral.
§2415 O sétimo
mandamento manda respeitar a integridade da criação. Os animais, como as
plantas e os seres inanimados, estão naturalmente destinados ao bem comum da
humanidade passada, presente e futura. O uso dos recursos minerais. vegetais e
animais do universo não pode ser separado do respeito pelas exigências morais. O
domínio dado pelo Criador ao homem sobre os seres inanimados e os seres vivos
não é absoluto; é medido por meio da preocupação pela qualidade de vida do
próximo, inclusive das gerações futuras; exige um respeito religioso pela
integridade da criação.
§2416 Os animais são
criaturas de Deus, que os envolve com sua solicitude providencial. Por sua
simples existência, eles o bendizem e lhe dão glória. Também os homens lhes devem
carinho. Lembremos com que delicadeza os santos, como S. Francisco de Assis ou
S. Filipe de Neri, tratavam os animais.
§2417 Deus confiou os
animais à administração daquele que criou à sua imagem. E, portanto, legitimo
servir-se dos animais para a alimentação e a confecção das vestes. Podem ser
domesticados, para ajudar o homem em seus trabalhos e lazeres. Os experimentos
médicos e científicos em animais são práticas moralmente admissíveis, se
permanecerem dentro dos limites razoáveis e contribuírem para curar ou salvar
vidas humanas.
§2418 É contrário à
dignidade humana, fazer os animais sofrerem inutilmente e desperdiçar suas
vidas. E igualmente indigno gastar com eles o que deveria prioritariamente
aliviar a miséria dos homens. Pode-se amar os animais, porém não se deve
orientar para eles o afeto devido exclusivamente às pessoas.
Revelação de Deus e criação
§287 A verdade da
criação é tão importante para toda a vida humana que Deus, em sua ternura, quis
revelar a seu Povo tudo o que é útil conhecer a este respeito. Para
além do conhecimento natural que todo homem pode ter do Criador, Deus revelou
progressivamente a Israel o mistério da criação. Ele, que escolheu os
patriarcas, que fez Israel sair do Egito e que, ao escolher Israel, o criou e o
formou, se revela como Aquele a quem pertencem todos os povos da terra, e a
terra inteira, como o único que "fez o céu e a terra" (Sl 115,15;
124,8; 134,3).
§288 Assim, a
revelação da criação é inseparável da revelação e da realização da Aliança de
Deus, o Único, com o seu Povo. A criação é revelada como sendo o primeiro passo
rumo a esta Aliança, como o testemunho primeiro e universal do amor
Todo-Poderoso de Deus. Além disso, a verdade da criação se exprime com um vigor
crescente na mensagem dos profetas, na oração dos salmos e da liturgia, na
reflexão da sabedoria do Povo eleito.
Significação da criação
§326 Na Sagrada
Escritura, a expressão "céu e terra" significa tudo aquilo que
existe, a criação inteira. Indica também o nexo no interior da criação, que ao
mesmo tempo une e distingue céu e terra: "a terra" e o mundo dos
homens; "o céu" ou "os céus" pode designar o firmamento,
mas também o "lugar" próprio de Deus: "nosso Pai nos céus"
(Mt 5,16) e, por conseguinte, também o "céu" que e a glória
escatológica. Finalmente, a palavra "céu" indica o "lugar"
das criaturas espirituais - os anjos - que estão ao redor de Deus.
Trabalho humano colaboração do homem na criação
§2427 O trabalho
humano procede imediatamente das pessoas criadas à imagem de Deus e chamadas a
prolongar, ajudando-se mutuamente, a obra da criação, dominando a terra. O
trabalho é, pois, um dever: "Quem não quer trabalhar também não há de
comer" (2Ts 3,10). O trabalho honra os dons do Criador e os talentos
recebidos.
Também pode ser redentor. Suportando a pena do trabalho unido a Jesus, o
artesão de Nazaré e o crucificado do Calvário, o homem colabora de certa
maneira com o Filho de Deus em sua obra redentora. Mostra-se discípulo de
Cristo carregando a cruz, cada dia, na atividade que é chamado a realizar. O
trabalho pode ser um meio de santificação e uma animação das realidades
terrestres no Espírito de Cristo.
§2460 O valor
primordial do trabalho depende do próprio homem, que é seu autor e
destinatário. Por meio de seu trabalho, o homem participa da obra da criação. Unido a
Cristo, o trabalho pode ser redentor.
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