A FUNDAMENTAÇÃO BÍBLICA:
“Ora, aconteceu que um grupo de pessoas, estando a enterrar um homem,
viu uma turma desses guerrilheiros e jogou o cadáver no túmulo de Eliseu. O
morto, ao tocar os ossos de Eliseu, voltou à vida, e pôs-se de pé.” (II Reis
13,21)
“As pessoas do lugar o reconheceram e mandaram anunciar por todos os
arredores. Apresentaram-lhe, então, todos os doentes, rogando-lhe que ao
menos deixasse tocar na orla de sua veste. E, todos aqueles que nele tocaram, foram
curados.” (MT 14,35-36)
“Deus fazia milagres extraordinários POR INTERMÉDIO de Paulo, de modo
que lenços e outros panos que tinham tocado o seu corpo eram levados aos
enfermos;e afastavam-se deles as doenças e retiravam-se os espíritos malignos.”
(AT 19,11-12).
“Ora, uma mulher atormentada por um fluxo de sangue, havia doze anos,
aproximou-se dele por trás e tocou-lhe a orla do manto.Dizia consigo: Se eu
somente tocar na sua vestimenta, serei curada. Jesus virou-se, viu-a e
disse-lhe: Tem confiança, minha filha, tua fé te salvou. E a mulher ficou
curada instantaneamente.” (MT 9, 20-22).
Neste episódio chama
de modo particular a nossa atenção a aprovação indiretamente dada por Jesus às
palavras da pobre enferma, que atribuía imenso valor ao simples contato com a
vestimenta do Divino Mestre ; com razão julgava ela que o Senhor poderia fazer
desse objeto o instrumento de uma graça extraordinária. Está claro que a
estima tributada aos objetos santificados pelo uso dos Apóstolos e
principalmente do Senhor Jesus não se extinguiu com a morte destes. O
apologista cristão Quadrato, por exemplo, refere no séc. II que em Nazaré
(cidade da infância de Cristo) a população ainda conservava relhas de arado
confeccionadas por Jesus. Sabe-se também que nas comunidades visitadas
ou catequizadas por São Pedro, São Paulo, São João os fiéis guardavam tudo que
lhes pudesse lembrar esses dignos obreiros do Senhor (em primeiro lugar, sem
dúvida, as suas cartas e os seus despojos mortais; além disso, porém, os objetos
de uso dos mesmos).
Relíquias
incríveis da história da vida de nosso Senhor Jesus Cristo
Uma relíquia é algo da vida de um santo.
Normalmente, para uma coisa ser considerada uma relíquia de primeira classe,
tem que fazer parte do corpo do Santo (por exemplo, um osso).No caso de Nosso
Senhor Jesus Cristo, no entanto, nada diretamente relacionado com os
acontecimentos de sua vida, é considerado como o mais alto posto.Não podemos
ter certeza absoluta da autenticidade de todas estas relíquias. Alguns podem
não ser o que eles afirmam ser.Aqui estão alguns objetos surpreendentes que
afirmam ser relíquias da vida de Nosso Senhor:
1) Fragmentos da
Verdadeira Cruz
Há fragmentos da Verdadeira Cruz em várias igrejas
ao redor do mundo. Os fragmentos na foto acima estão na Fazenda Imperial, em
Viena, Áustria.
2) Prego Sagrado
Este é um dos pregos usados na crucificação de
Jesus (Veja perto do topo), mantido na Catedral de Bamberg, Alemanha.
3) O Santo Cálice
Acredita-se que este foi o cálice utilizado
por Cristo na Última Ceia para instituir a Eucaristia. Ele é mantido na
catedral de Valência, Espanha.
4) Túnica de Jesus
Esta é a túnica de Cristo que os soldados romanos
jogaram dados disputando-a durante a sua
crucificação. Ela é mantida na Catedral de Trier, Alemanha.
5) A lança sagrada
Esta é a lança que perfurou o peito de Cristo
quando Ele estava na cruz.Esta guardada no Tesouro Imperial, em Viena,
Áustria.
6) Os presentes
dos Reis Magos
Ouro, incenso e mirra, é claro. Eles são mantidos
no mosteiro de São Paulo, no Monte Athos, na Grécia.
7) A Coroa de
espinhos
Jesus usou-a durante a sua paixão e crucificação.
Esta na catedral de Notre Dame em Paris, França.
8) A Coluna da
Flagelação
Este é o lugar onde Jesus foi amarrado
quando foi açoitado durante sua paixão. Ele é mantido na Basílica de Santa
Praxedes, em Roma, Itália.
9) Um frasco do Santo
Sangue de Jesus
Esta na Basílica do Sangue Sagrado em Bruges,
Bélgica.
10) O Título da
Cruz
Esta é o sinal que pendia sobre Jesus na cruz
dizendo que ele era o “rei dos judeus”. Ela está na Basílica da Santa Cruz de
Jerusalém, em Roma, Itália.
ORIGEM DAS
RELÍQUIAS NA HISTÓRIA DA IGREJA
O
primeiro exemplo do culto de uma relíquia por crentes cristãos surge em 156 em
Smyrna (actual Esmirna na Turquia), a propósito do martírio de São Policarpo
relatado, por exemplo, nas obras de Eusébio de Cesareia.Depois de ter sido
queimado na fogueira, os discípulos do mártir recuperaram os ossos calcinados
do seu mestre e acolheram-nos como objetos sagrados.Mais tarde diversos
milagres foram atribuídos a esta relíquia e a busca por objectos semelhantes
tornou-se cada vez mais popular, conduzindo por exemplo, à descoberta da cruz
da crucificação de Jesus Cristo em cerca de 318.No início do cristianismo, as relíquias eram
importantes, principalmente partes de corpos de mártires, pois considerava que
seriam estes os primeiros a levantar-se no momento da ressurreição. Era pois
importante para o fiel ser enterrado junto destas relíquias, ou pelo menos
perto dos seus relicários, de forma a poder acordar para a vida eterna ao lado
dos soldados da fé.O culto
das relíquias foi aumentando cada vez mais e no século VII o arcebispo da
Cantuária São Teodoro declarou que as relíquias deviam ser objetos de veneração
e iluminadas dia e noite pela luz de uma vela.Dois séculos mais tarde a prática
era obedecida pelo menos pelo rei Alfredo de Inglaterra.
RELÍQUIAS
NA IDADE MÉDIA
Durante a
Idade Média e o período de construção de catedrais o culto das relíquias
atingiu o seu auge. Nesta altura, a edificação e manutenção de uma catedral era
custeada sobretudo através de donativos da congregação.A importância eclesiástica de uma diocese,
bem como a sua capacidade de atrair novos fieis e peregrinos, era muitas vezes
dependente da quantidade e qualidade de relíquias que eram exibidas para
veneração.Assim,
quando a primeira secção da catedral de Colónia abriu as portas em 1164, foi
com todo o orgulho que o Arcebispo Reinaldo de Dassel expôs os corpos dos Três
reis magos. Da mesma forma, e dando só alguns exemplos:
Santiago
de Compostela: reclama o corpo de São Tiago!
A
catedral de Chartres: apresenta a túnica da Virgem Maria!
VERACIDADE
DE ALGUMAS RELÍQUIAS
Não será
difícil de perceber que em breve o culto das relíquias tomou em breve uma
proporção exagerada principalmente após a tomada de Constantinopla durante a
quarta cruzada em 1204. Ossos, pequenos bocados de pano, garrafinhas com água
do rio em que Jesus foi batizado, até saquinhos com o pó do qual Adão foi
criado, eram peças comuns nos mercados do século XIII. A certa altura chegaram
a contabilizar-se cerca de 700 verdadeiros pregos da cruz, o que só por si era
um fato absurdo e capaz de abalar a
credibilidade de qualquer crente.Mais
tarde Erasmo de Roterdão haveria de afirmar com ironia que os verdadeiros
bocados da cruz davam para construir um navio. (Recentemente, a Igreja Católica
encomendou um estudo que descobriu que existem 4.000.centímetros cúbicos em
relíquias da cruz espalhados mundo afora, bastante aquém dos 178.000 necessários
para o volume de uma cruz razoável, não há portanto o que temer.)O Papado
tomou uma posição no fim do século XIII no Concílio de Lion, onde chamou a si a
responsabilidade de diagnosticar a veracidade de todas as novas relíquias.Aparentemente,
não foi suficiente, uma vez que em 1.287, o bispo Quivil de Exeter se viu
obrigado a proibir de todo a veneração de todas as relíquias aparecidas nos
últimos anos.Com a evolução da Ciência, muitas das relíquias já foram ou estão
em risco de ser desmistificadas, ou definitivamente confirmadas para nossa
alegria.Sobre o Sudário de Turim, por exemplo, alegou-se ser uma suposta impostura
obra de um talentoso falsificador do século XIV (idade do pano obtida pelo
método do Carbono 14). Contudo, cientistas envolvidos na pesquisa levantaram a
hipótese de que a composição do sudário pudesse ter sido alterada por uma série
de incêndios aos quais a relíquia sobreviveu, além do próprio depósito de
impurezas, tais como poeira e crescimento de bactérias. Tais questões invalidam a datação por Carbono-14 e a referida
falsificação.
Verdadeiras
ou não, as relíquias continuam a fazer parte da tradição cristã, apesar do atual
progressivo distanciamento da Igreja Católica em relação à importância
teológica da sua veneração.
Classificação
de relíquias
1)- Primeira
Classe, parte do corpo de um santo (ossos, unhas, cabelo, etc.)
2)- Segunda
Classe, objetos pessoais de um santo (roupa, um cajado, os pregos da cruz,
etc.)
3)- Terceira
Classe, inclui pedaços de tecido que tocaram no corpo do santo, ou, no
relicário onde uma porção do seu corpo está conservada.
É
proibido, sob pena de excomunhão, vender, trocar ou exibir para fins lucrativos
relíquias de primeira e segunda classe. As relíquias são guardadas geralmente
por pessoas da família no caso de ser um objeto.Os cristãos não
podiam deixar de se sentir estimulados a essa praxe ao lerem o elogio proferido
pelo Senhor a respeito de Maria de Betânia, que ungira o corpo do Mestre pouco
antes do desenlace final:Mc 14, 6-9: «Ela me fez uma boa obra;embalsamou antecipadamente o
meu corpo para a sepultura. Em verdade vos digo: onde quer que for pregado no
mundo este Evangelho, será narrado o que ela acaba de fazer para se conservar a
lembrança dessa mulher» (cf. Mt 26,9-12; Jo 12,7).Com estas palavras
Jesus aprovava solenemente a veneração póstuma do seu corpo sagrado. Os dizeres
do Divino Mestre implicavam outrossim um convite a que se tratassem de modo
semelhante os despojos de todos os justos que Ele no decorrer dos tempos
enxertaria em seu Corpo Místico, a fim de neles prolongar a vida da Cabeça, ou
os mistérios da Redenção.Foi, sem dúvida, o que as posteriores gerações cristãs
depreenderam dos ensinamentos do Evangelho e dos Apóstolos.
Os primeiros marcos da Tradição cristã
Já os fiéis
contemporâneos aos Apóstolos aparecem na história a prestar estima especial, ou
propriamente religiosa, aos despojos mortais dos homens de Deus.Os dois mais
antigos documentos relativos a essa praxe são: a Ata do «Martírio de Santo
Inácio de Antioquia», redigida em 110 (três anos após a morte desse santo
bispo) e a do «Martírio de São Policarpo», bispo de Esmirna (Ásia menor),
escrita logo após o desenlace do herói cristão (156 ou 157).Notem-se os termos
com que se encerra o relato do «Martírio de S. Inácio», o qual foi publicamente
devorado pelas feras:«Unicamente as partes mais duras de seus santos despojos haviam escapado
(aos dentes das feras): foram recolhidas, levadas para Antioquia e depositadas
num cofre, à guisa de inestimável tesouro; assim foram elas entregues à santa
assembleia dos fiéis por causa da graça que reside no mártir» (Funk, Patres
apostolici II 284).Por muito breves que
sejam estes dizeres, dão-nos a ver como os cristãos percebiam nos despojos
materiais do mártir a graça ou o valor espiritual que a tais elementos se
prendia; a piedade dos fiéis, portanto, para com as relíquias era toda
relativa, pois se dirigia propriamente à pessoa do santo, que se tornara
perfeito membro de Cristo, e, em última análise, ao próprio Cristo.É, aliás, o
que o próprio S. Inácio insinuava ao se referir ao seu futuro martírio:«Sou o trigo de Deus; pelos dentes das feras serei moído, para que me
torne pão puro de Cristo» (Aos Romanos 4,1).Ainda mais explícito
é o testemunho do «Martírio de S. Policarpo» (carta circular dos cristãos de
Esmirna), que assim descreve o desfecho do suplício: «Os judeus da cidade imaginaram
que os cristãos fossem fazer de Policarpo [já martirizado] um outro Cristo.
Vendo então que os judeus se agitavam, o centurião [romano] mandou colocar o
corpo [de Policarpo] no meio da praça e, de acordo com o costume, fê-lo
queimar. Em seguida, nós, tomando os ossos, mais preciosos do que pérolas de
grande valor e mais puros do que o ouro acrisolado, colocamo-los em lugar
conveniente. Nesse local, enquanto possível, reunir-nos-emos em exultação e
alegria; e o Senhor nos dará a graça de
celebrarmos o aniversário do martírio de Policarpo para recordarmos aqueles que
já deixaram o combate e a fim de exercitarmos e prepararmos os outros que o
martírio ainda aguarda» (Martírio de Policarpo XVIII). Esse texto, a mais de
um titulo, é importante. Supõe, sim, que, logo após o desenlace do mártir
Policarpo na cidade de Esmirna, os cristãos se dispunham a usar do seu direito
legal de sepultar honorificamente os despojos do defunto. Contudo os judeus se
insurgiram contra tal praxe, percebendo o caráter profundamente religioso que
os discípulos de Cristo atribuíam ao sepultamento dos mártires; por isto o
oficial romano resolveu mandar queimar os restos mortais de Policarpo. Feito
isto, os cristãos, não se dando por vencidos, ainda recolheram as preciosas
cinzas, levaram-nas para lugar oculto, onde as depositaram; de então por
diante, propuseram-se reunir-se lá anualmente a fim de celebrar religiosamente
o aniversário do martírio (ou melhor, segundo o vocabulário dos antigos: o
natalício para a vida eterna) de Policarpo.Como se depreende do
teor geral do documento, os judeus se opuseram ao sepultamento do santo mártir,
por temerem que os cristãos o praticassem em espírito pagão, endeusando, ao
lado de Jesus Cristo, um mero homem.Esta atitude dos israelitas, longe de
quebrantar o ânimo dos cristãos, provocou, ao contrário, da parte destes uma
tomada de posição ainda mais consciente: o autor da Ata se viu obrigado a
explicar aos leitores (em fórmula breve, mas rica) a mentalidade que animava os
cristãos ao cultuarem os mártires e suas relíquias:«O mártir Policarpo apareceu em nossos tempos como mestre apostólico e
profético [isto é, como continuador dos Apóstolos]... Adoramos Cristo como
Filho de Deus; quanto aos mártires, amamo-los como discípulos e imitadores do
Senhor, por causa do seu eminente devotamento ao próprio Rei e Mestre. Oxalá
possamos também nós tornar-nos consortes e condiscípulos dos mártires!»
(Martírio de Policarpo XVIII).Visando, portanto,
cultuar o Cristo mesmo em um de seus justos, ou em um dos membros de seu Corpo
já consumado pela Redenção, é que os cristãos deram início à celebrarão anual
do martírio (ou do natalício) de São Policarpo. Como se vê, tal culto se dirige
propriamente ao Filho de Deus, tomando apenas como ocasião de O glorificar a
obra realizada por Cristo em seu discípulo e mártir. Essa atitude nada tem que
ver com as apoteoses pagãs.Os documentos que
acabamos de analisar, dão a ver que a veneração dos mártires e de suas
relíquias na Igreja não é prática estranha ao espírito do Cristianismo. Outro detalhe
que chama a tenção é a antiguidade de
tais documentos. Com efeito, as datas de 110 e 157 nos levam para uma época em
que os cristãos, perseguidos como eram pelo Império pagão, nutriam nítida
aversão para com os usos dos gentios; davam a vida justamente para não pactuar
com os costumes de seus concidadãos e mesmo de seu familiares politeístas.
Note-se outrossim que os documentos se referem à veneração das relíquias em
termos tão claros e serenos que não parecem estar insinuando uma inovação. Duas
comunidades cristãs importantes — uma, de Antioquia, capital da Síria; a outra,
de Esmirna, cidade luzeiro da Ásia menor, só podiam proclamar no início do séc.
II, perante as demais comunidades do mundo romano, a sua estima para com os
despojos de seus bispos e mártires, caso tal atitude já estivesse realmente
contida em gérmen dentro do ensinamento dos Apóstolos e, por conseguinte, do
próprio Cristo.Nos séculos
subsequentes a devoção aos mártires ou, de maneira mais geral, aos santos e às
suas relíquias foi tomando incremento em toda a cristandade, sem que se
levantasse contestação por parte de bispos ou autoridades da Igreja. No séc.
III, Tertuliano, famoso escritor, enunciava em poucas palavras a causa mais
remota de tal devoção: «Christus in martyre est. — Cristo está no
mártir» (De pudicitia 22). Esta frase confirma bem quanto verificamos
atrás: o culto dos heróis cristãos não era tido senão como uma faceta do culto
prestado ao Senhor Jesus.No início do séc. V
fez-se ouvir a primeira voz contrária ao culto das relíquias: era a de
Vigilâncio, da Aquitânia, que atacava a virgindade e o celibato, a vida
monástica, assim como diversos pontos da sagrada Liturgia. São Jerônimo (+421)
escreveu-lhe uma réplica, que assim se pode resumir:“O adversário se escandalizava
por lhe parecer que os cristãos adoravam os mártires. — Estivesse tranquilo,
retrucava Jerônimo: os cristãos só adoram a Deus; não esqueceram os exemplos de
Paulo e Barnabé, os quais rejeitaram as honras divinas que os pagãos da
Licaônia lhes queriam tributar (cf. At 14,14); nem esqueceram a conduta de S.
Pedro, o qual recusou igualmente a adoração que Cornélio tentava prestar-lhe
(cf. At 10,26). Não obstante, julgam poder tributar veneração (o que não é
adoração) a membros humanos santificados pelo serviço de Deus... Invocando os mártires, os fiéis se inspiram
da mais pura intenção religiosa: quem admite que a oração de um Moisés, de um
Estêvão, de um Paulo, teve valor durante a vida terrestre desses homens de
Deus, como não reconhecerá que ela ainda tem maior valor, agora que estão na
glória celeste?...” Vigilâncio alegava
outrossim desordens verificadas junto aos túmulos dos mártires nas noites de
vigília sagrada. — Jerônimo, em resposta, fazia-lhe ver que tais inconvenientes eram
acidentais e não bastavam para se condenar a própria instituição da vigília.O oponente afirmava
também que os milagres registrados junto às sepulturas dos mártires serviam aos
incrédulos, não, porém, a quem já tinha fé. A esse fraco argumento o apologista
replicava que: “Não importa tanto saber em favor de quem são realizados os milagres,
mas como saber por que poder são eles efetuados ?; ora era evidente que a
Onipotência Divina se manifestava em tais portentos, confirmando a fé e a
devoção dos que a Ela recorriam por intercessão dos mártires.”Era nesses termos que
São Jerônimo concebia a defesa do culto das relíquias. Os autores posteriores,
tanto medievais, como modernos, só fizeram corroborar e desenvolver as idéias
deste Santo Doutor.
O significado do culto das relíquias - Normas
da Igreja:
Está claro que o
culto das relíquias não visa aos objetos materiais como tais ; toda a veneração
a estes prestada é relativa ; ela se refere, sim, aos santos e, em última
análise, ao nosso Senhor Jesus Cristo, fonte de toda a santidade e operação
através das relíquias. As relíquias não podem nem devem ser estimadas senão por
causa do contato que tiveram com as pessoas santas a que se referem;
consequentemente, uma de suas funções primárias é a de lembrar vivamente o
exemplo de seguimento a Cristo de tais pessoas, a fim de excitar o amor dos
fiéis para com elas e não para com as relíquias em si.O culto das relíquias
exprime outrossim a visão grandiosa que o cristão tem do corpo humano e da
matéria em geral. Longe de julgar em termos pessimistas essas criaturas de
Deus, o discípulo de Cristo sabe que o corpo de um justo, portador da graça
santificante, é templo de Deus e que seus órgãos são «instrumentos que o
Espírito Santo utiliza para toda obra boa» (S. Agostinho); portador de
um gérmen de imortalidade aqui na terra, o corpo do cristão não sucumbe
simplesmente à morte ; embora passe por esta, ele está destinado a vencê-la e a
ressuscitar. É por isto que os despojos dos justos falecidos após uma vida
particularmente unida a Deus são particularmente venerados; a
Igreja vê neles representado o mistério da morte do Cristo e dos cristãos: é
morte toda perpassada pela imortalidade; tais despojos são sinais «ambíguos»,
pois tanto lembram a ruína induzida no mundo pelo pecado como prenunciam o
triunfo sobre a ruína.Este apreço dos despojos mortais explica a aversão que a Igreja nutre em
relação à cremação dos cadáveres. A incineração, em verdade, não se opõe ao dogma cristão da ressurreição
da carne; esta, com efeito, se processará independentemente da sorte que possa
tocar aos corpos dos defuntos (cf. «P. R.» 26/1960, qu. 2). Contudo os motivos
que têm inspirado os arautos da cremação, do séc. XVIII a nossos dias, são de
índole materialista; os que a preconizam, visam incutir, de modo prático, a
tese de que o corpo humano, após a morte, perde todo o seu valor e pode ser
tratado como lixo, pois não há alma espiritual nem vida póstuma; principalmente
em vista dessa tese anticristã, acidentalmente associada a modernas campanhas
em prol da incineração, tem sido a Igreja levada a repelir tal procedimento
funerário (cf. «P. R.» 5/1957, qu. 5).Ainda outra expressão
da mente da S. Igreja no tocante ao culto das relíquias é o fato de que não se
consagra altar algum, seja fixo, seja portátil, sem que, na respectiva pedra de
ara, haja um «sepulcro» com relíquias de vários santos ou ao menos de um mártir
(cf. cân. 1198 § 4).Este fato atesta bem
como a Esposa de Cristo une numa só visão o sacrifício de Cristo e a morte dos
justos cristãos; é a morte do Senhor que se prolonga na de cada fiel,
principalmente quando este sofre martírio Cruento. A Eucaristia, banquete
sacrifical, colocando o corpo imortal de Cristo dentro dos corpos mortais dos
discípulos, prepara-os para ressuscitarem, configurados à carne gloriosa de
Cristo. Daí a estima dedicada aos despojos desses corpos.Contudo ninguém ousará negar que a devoção dos fiéis para com as
relíquias mais de uma vez se desvirtuou no decorrer da história, explorada não
raro pelos interesses de homens sacrílegos, inescrupulosos e interesseiros. A
literatura profana não deixou de causticar tais males. As autoridades da Igreja
não foram menos severas sempre que os averiguaram, como se perceberá através
dos exemplos abaixo citados, porém já diz o ditado: “O abuso não tolhe o uso.”Portanto,
erros acidentais não devem, aos olhos dos estudiosos, encobrir verdades
essenciais: o culto das relíquias tem que ser julgado à luz dos princípios
donde procede, e não à luz de desvios devidos à ignorância dos simples ou à
perversidade dos maus.Ora não há dúvida de
que as proposições teológicas que fundamentam a devoção às relíquias são bem
coerentes com a Revelação cristã, como se depreende de quanto foi exposto no
início desta resposta. O mesmo culto é outrossim baseado na tendência natural
que todo homem experimenta, de honrar seus antepassados, prestando deferência
aos despojos mortais dos mesmos. Na ordem sobrenatural, em que vive o cristão,
tal tendência só podia ser corroborada ou colocada sobre as suas bases mais autênticas.
De resto, as autoridades eclesiásticas sempre vigiam para evitar todo abuso com
relação às relíquias. Para confirmar a seriedade no trato da matéria pela
Igreja destacamos alguns exemplos:
1)- Lembraremos que
em 1697 a S. Congregação dos Ritos proibia expor pretensas relíquias de
Melquisedeque assim como «a pedra em que Nosso Senhor se sentou para compor a
oração do Pai Nosso». O Direito Canônico manda aos prelados diocesanos
subtraiam prudentemente à pública veneração relíquias cuja não autenticidade
lhes conste com certeza (cân. 1284); quem expõe ao público uma falsa relíquia,
conhecida como tal, incorre imediatamente em pena de excomunhão (cân. 2326).
2)- S. Tomás mesmo
admoesta a que, no culto das relíquias, se evite toda espécie de superstição,
seja por excesso de veneração, seja pela observância de práticas vãs que não se
conciliem com a reverência devida a Deus e aos santos (cf. Suma Teol. II/II 96,
4 ad 3; III 54, 2 ad 3).
3)- Em termos positivos,
o Direito Canônico exige que toda relíquia proposta ao culto público seja
devidamente autenticada por documento oficial assinado por um Cardeal ou pelo
Prelado ordinário do lugar (cân. 1283).
3)- Quanto às
relíquias que gozam de culto muito antigo, existe presunção de direito em seu
favor, de sorte que se requerem argumentos seguros para se negar a sua
autenticidade (cân. 1285 § 2); a piedade dos fiéis e os benefícios espirituais
alcançados na veneração de tais objetos são títulos que conferem a essas
presumidas relíquias um caráter sagrado, independentemente da questão da
respectiva autenticidade.
4)- Dado que o
documento de genuinidade de uma relíquia se tenha perdido por desordens civis
ou por qualquer outro motivo, o Direito eclesiástico prescreve, não seja tal
relíquia entregue à pública veneração antes que o Ordinário local, tendo
realizado um inquérito minucioso sobre as vicissitudes ocorridas, conceda novo
atestado de autenticidade (cân. 1285 § 1).
5)- Como se
compreende, é proibida qualquer venda de relíquia de primeira e segunda classes
(cân. 1289 § 1). Os Prelados ordinários e em geral os sacerdotes que têm cura
de almas, devem cuidar para que, por ocasião de heranças ou de vendas de bens,
não sejam autênticas relíquias vendidas nem sejam entregues a pessoas não
católicas. A venda de relíquias verdadeiras, como a fabricação e a distribuição
de falsas relíquias, são punidas imediatamente por excomunhão (cân. 2326).
Quanto ao caso do anel de São Pio X que, conforme os
jornais, devia ser publicamente vendido em leilão na cidade do Rio de Janeiro
em fevereiro de 1960, considere-se o seguinte:Trata-se de uma peça
que o citado Pontífice recebeu como presente quando foi nomeado bispo de Mântua
em 1884. Ao morrer. Pio X doou-a por testamento ao seu amigo Dr. José
Ricaldoni, o qual naturalmente se tornou legitimo possessor da mesma. Ora a
família Ricaldoni emigrou para o Brasil e dispõe-se agora a leiloar a joia.No
caso, o anel de S. Pio X está sendo tratado qual relíquia histórica ou qual
objeto que pertenceu a um grande vulto da história moderna, e não como objeto
sagrado, destinado à veneração religiosa dos fiéis. Não se pode,
portanto, falar de venda de relíquia religiosa nem de simonia (venda de bens
espirituais). Ademais o mencionado anel está subtraído à jurisdição das autoridades
eclesiásticas, tendo-se tornado propriedade da família Ricaldoni; por
conseguinte, o que se fizer com essa venerável peça, far-se-á independentemente
de algum mandato dos superiores religiosos.
*Por «Ordinário do lugar» entende-se o pastor supremo de uma
circunscrição eclesiástica (diocese, prelazia. Abadia «Nullius»); esse pastor é
geralmente bispo (no caso normal de uma diocese); pode, porém, ser simplesmente
sacerdote dotado de plena jurisdição para governar o respectivo território
eclesiástico.
Dom Estêvão
Bettencourt (OSB)
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APOSTOLADO BERAKASH: Como você pode ver, ao contrário de outros meios midiáticos, decidimos por manter a nossa página livre de anúncios, porque geralmente, estes querem determinar os conteúdos a serem publicados. Infelizmente, os algoritmos definem quem vai ler o quê. Não buscamos aplausos, queremos é que nossos leitores estejam bem informados, vendo sempre os TRÊS LADOS da moeda para emitir seu juízo. Acreditamos que cada um de nós no Brasil, e nos demais países que nos leem, merece o acesso a conteúdo verdadeiro e com profundidade. É o que praticamos desde o início deste blog a mais de 20 anos atrás. Isso nos dá essa credibilidade que orgulhosamente a preservamos, inclusive nestes tempos tumultuados, de narrativas polarizadas e de muita Fake News. O apoio e a propaganda de vocês nossos leitores é o que garante nossa linha de conduta. A mera veiculação, ou reprodução de matérias e entrevistas deste blog não significa, necessariamente, adesão às ideias neles contidas. Tal material deve ser considerado à luz do objetivo informativo deste blog. Os comentários devem ser respeitosos e relacionados estritamente ao assunto do post. Toda polêmica desnecessária será prontamente banida. Todos as postagens e comentários são de inteira responsabilidade de seus autores e não representam necessariamente, a posição do blog. A edição deste blog se reserva o direito de excluir qualquer artigo ou comentário que julgar oportuno, sem demais explicações. Todo material produzido por este blog é de livre difusão, contanto que se remeta nossa fonte. Não somos bancados por nenhum tipo de recurso ou patrocinadores internos, ou externo ao Brasil. Este blog é independente e representamos uma alternativa concreta de comunicação. Se você gosta de nossas publicações, junte-se a nós com sua propaganda, ou doação, para que possamos crescer e fazer a comunicação dos fatos, doa a quem doer. Entre em contato conosco pelo nosso e-mail abaixo, caso queira colaborar:
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