A
prática evangelizadora e Querigmática de Jesus revelada nos Evangelhos
O QUERÍGMA DE JESUS: O REINO DE DEUS E SEUS VALORES
Carlos Mesters, oc,
Brasil*
Jesus é a fonte e o
modelo da ação evangelizadora dos cristãos. Como tal, Ele nos é apresentado nos
Evangelhos. Os Evangelhos descrevem como Jesus, após trinta anos de convivência
e de trabalho em Nazaré, anunciou a Boa Nova de Deus ao povo do seu tempo.
1)-Qual foi a prática
que Jesus adotou para realizar sua missão evangelizadora?
2)-Qual foi o
conteúdo?
3)-Qual a finalidade?
4)-Qual a fonte da
Boa Nova do Reino?
No que segue, queremos responder a estas quatro perguntas:
1)- A prática evangelizadora de Jesus:
Os estudos históricos
mostram e os Evangelhos e confirmam: Jesus vivia em uma época profundamente
conflitiva, num país irremediavelmente dividido. Havia fome, pobreza e muita
doença; havia gente explorada por um sistema injusto (Lc 22,25), com
desemprego, empobrecimento e endividamento crescentes (Mt 6,12; 18,24. 28-34;
20,3.6; Lc 16,5); havia classes altas, comprometidas com os romanos na
exploração do povo (Jo 11,47-48; Lc 20,47) e poderosos ricos que não se
importavam com a pobreza dos irmãos (Lc 15,16; 16,20-21); e havia grupos de
oposição aos romanos que se identificavam com as aspirações do povo (At
5,36-37); havia muitos conflitos e tensões sociais (Mc 15,6; Mt 24,23-24) com
repressão sangrenta que matava sem piedade (Lc 13,1); havia a religião oficial.
Ambígua e opressora, organizada em torno da sinagoga e do templo (Mt
23,4.23-32; Mt 21,13); e havia a piedade confusa e resistente dos pobres com suas
devoções, romarias e práticas seculares (Mt 11,25; 21,8-9; Lc 2,41; 21,2).Numa palavra, havia conflitos
nos vários níveis da vida da nação: econômico, social, político, ideológico,
religioso. O povo estava sem condições de reencontrar a unidade. Jesus não se manteve
neutro. Em Nome de Deus, tomou posição. Assim. Através da sua atitude, a Boa
Nova de Deus se fez presente na vida do povo. O anúncio da Boa Nova, é antes de
tudo, uma nova prática, fruto da experiência que Jesus tinha do Pai e que o
levava a tomar determinadas atitudes.Seria longo demais
descrever todos os aspectos da prática evangelizadora de Jesus.
Enumeramos apenas os
mais importantes e os mais evidentes:
a-Jesus
convive com os marginalizados e os acolhe:Nos três anos de sua vida
itinerante, Jesus conviveu a maior parte do tempo com aqueles que não tinham um
lugar dentro do sistema social e religioso da época. Ele passou a ser conhecido
como “o amigo dos publicanos e dos pecadores” (Mt 11,19). Acolhia os que não
eram acolhidos: os imorais (prostitutas e pecadores), os hereges (samaritanos e
pagãos), os impuros (leprosos e possessos), os marginalizados (mulheres,
crianças, doentes de todo tipo), os colaboradores (publicanos e soldados), os
fracos (o povo da terra e os pobres sem poder). Jesus falava para todos. Não
excluía ninguém. Mas falava a partir dos pobres e dos marginalizados. O apelo que resulta
desta atitude evangelizadora é muito claro: não era possível alguém ser amigo
de Jesus e, ao mesmo tempo, continuar apoiando o sistema que marginalizava
tanta gente em Nome de Deus. De fato, Nicodemos (Jo 7,52), José de Arimatéia
(Mt 27,57-58) e Zaqueu (Lc 19,8) sentiram na carne o que quer dizer romper com
o sistema em que estava, inseridos, e aderir a Jesus. O próprio Jesus, por
causa dessa atitude que acolhia os marginalizados, entrou em conflito com os
grupos de liderança da sociedade: os fariseus, os escribas, os saduceus, os
herodianos, os romanos. Este conflito foi a cauda da sua morte (Mc 3,6).
b)-Jesus
denuncia e combate as divisões criadas pelo homem:No meio do povo,
havia muitas divisões, mantidas em nome de Deus pela própria religião oficial.
Elas contradizem a vontade do Pai. Jesus criticou estas divisões e as combateu
através da sua maneira de viver e de agir. Por exemplo, as divisões entre próximo
e não-próximo (Lc 10,29-37), entre santo e pecador (Mc 2,15-17), entre puro e
impuro (Mc 7,1-23), entre judeu e estrangeiro (Mt 15,21-28). Condenando estas
divisões, Jesus relativizava e sacudia as pilastras do sistema religioso: o
templo, o sábado, as obras santas (jejum, esmola, oração), a pureza legal. Sua
prática evangelizadora incomodava profundamente os homens do poder.Por outro lado, ele convidava e
provocava as pessoas a se definirem em face dos valores fundamentais da vida
humana e do Projeto de Deus: justiça, fraternidade, amor, misericórdia,
partilha, honestidade. O sistema religioso
da época não dava atenção a estes valores. Alguns aceitaram o convite de Jesus,
outros o rejeitaram. Assim Jesus se tornou fonte de novas divisões (Mt
10,34-36) e sinal de contradição no meio do povo (Lc 2,34).
c)-Jesus desmascara a falsidade dos grandes:Jesus não teve medo de denunciar a hipocrisia dos líderes religiosos da época: sacerdotes, escribas e fariseus (Mt 21,1-36; Lc 11,37-52; Mc 11,15-18). Condenou a pretensão dos ricos e não acreditava muita ma sua conversão (Lc 16,31; 6,24; Mt 6,24; Mc 18,24-27; 12,13-21).Diante das ameaças dos representantes do poder político, seja dos judeus como dos romanos, Jesus não se intimidava e mantinha uma atitude de grande liberdade (Lc 13,32; 23,9; Jo 19,11; 18,23).
d)-Jesus
combate os males que estragam a vida humana:Deus criou a vida e a
abençoou (Gn 1,28). Por própria culpa, a humanidade perdeu a bênção e atraiu
sobre si a maldição (Gn 3,14-14). Deus interveio e chamou Abraão para ser pai
de um povo com a missão de recuperar a benção perdida não só para si e sua
própria família, mas também para todas as famílias da terra (Gn 12,3).Jesus retomou a
vocação inicial do povo de Abraão e tentou recuperar a bênção para a vida
humana. Ele disse: “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância”
(Jo 10,10). Por isso faz parte da prática evangelizadora de Jesus libertar a
vida de todos os males que a oprimiam e marginalizavam. Assim ao longo dos três
anos da sua vida pública, ele enfrentou e combateu a fome (Mc 6,35-44), a
doença (Mc 1,29-34), a tristeza (Lc 7,13; Mt 5,5), a ignorância (Mc 1,27), o
abandono (Mt 9,36), a solidão (Mc 1,40-41; 5,34), a letra que mata (Mc 3,4. Mt
5,38-42), as leis opressoras (Mc 7,8-13), a injustiça (Mt 5,20), o medo (Mc
6,50), o sofrimento (Mc 6,55-56), o pecado (Mc 2,5) a morte (Mc 5,41-42; Lc
14,1-8). Ele combateu e expulsou o demônio, o príncipe dos males. Pois “desde o
começo não era assim” (Mt 19,8).
e)- Jesus
usa uma nova pedagogia que faz o povo crescer:A novidade da prática
evangelizadora de Jesus transparece, sobretudo no novo jeito que ele tem de se
relacionar com as pessoas e de ensinar as coisas: Sá atenção às pessoas sem
fazer distinção (Mt 22,16); ensina em qualquer lugar, acolhe todos como
ouvintes e permite que mulheres o sigam com discípulas (Lc 8,1-3; Mc 15,41);
usa linguagem simples em forma de parábolas; reflete a partir dos fatos da vida
(Lc 21,1-4; 13,1-5; Mt 6,26); confronta os discípulos com os problemas do povo
(Mc 6,37); ensina com autoridade sem citar “autoridades” (Mc 1,22); apresenta
crianças como professoras de adultos (Mt 18,3); sendo livre, comunica liberdade
aos que o cercam (Jo 8,32-36), e estes, por sua vez, criam coragem para
transgredir tradições caducas (Mt 12,1-8). Jesus vive o que ensina; passa
noites em oração (Lc 5,16; 6,12; 9,18.28; 22,41) e suscita nos outros a vontade
de rezar )Lc 11,1
f)-A
Boa Nova do Reino se encarna numa convivência humana: A prática de Jesus revela uma
nova visão das coisas, um novo ponto de partida, uma nova ordem. Os valores
básicos dessa nova ordem aparecem encarnados na pequena comunidade itinerante
que se formou ao seu redor.Eis alguns destes valores:Partilha dos bens ou
caixa comum (Jo 13,29); igualdade básica de todos: “Vocês todos são irmãos” (Mt
23,8-10); poder como serviço: “Quem quiser ser o primeiro seja o servidor de
todos” (Mc 9,35; Mt 20,24-28); Jo 13,14; Mt 23,11); convivência amiga a ponto
de não ter mais segredos (Jo 15,15); novo relacionamento homem-mulher (Mt
19,1-9). Estes pontos nos dão
uma idéia de como era a prática evangelizadora de Jesus. Nela se revela a
experiência que ele mesmo tinha do Pai. Através do gesto e da atitude de Jesus,
o povo se dava conta de que o Deus de Jesus era diferente do deus dos escribas.
Através da prática de Jesus, Deus se tornou uma Boa Nova para o povo.
2)-Um
resumo do conteúdo da Boa Nova do Reino
O Evangelho de Marcos
oferece o seguinte resumo do conteúdo da Boa Nova de Jesus:
“Depois que João foi preso, veio Jesus para a Galiléia proclamando o Evangelho
de Deus! Esgotou-se o prazo, o Reino de Deus chegou! Mudem de vida e acreditem
na Boa Nova” (Mc 1,14-15).
Vamos meditar cada um destes quatro pontos da passagem:
“Esgotou-se o prazo! O Reino de
Deus chegou! Mudem de vida! Acreditem na Boa Nova!”
a)-"Esgotou-se o Prazo" - Jesus
lê os fatos com olhos novos, nascidos de Deus: Para Jesus, a prisão
de João Batista fez o prazo se esgotar. Fez o kairós de Deus chegar! Isso
mostra que Jesus ficava atento aos fatos e aos tempos e os analisava com olhos
diferentes. Por isso conseguiu perceber neles a ação de Deus. Esta mesma
atitude diante dos fatos verifica-se em várias outras ocasiões. Por exemplo,
ele interpela os apóstolos: “Vocês dizem que faltam quatro dias para a
colheita. Mas eu digo, levantem os olhos e vejam os campos. Eles estão brancos
para a colheita!” (Jo 4,35). E aos fariseus e saduceus ele responde: “Ao
pôr-do-sol vocês dizem: ‘Vai fazer bom tempo, porque o céu está vermelho’. E de
manhã: ‘ hoje vai chover, porque o céu está vermelho-escuro’. Olhando o céu,
vocês sabem prever o tempo, mas não são capazes de interpretar os sinais dos
tempos” (Mt 16,2-3; cf Mt 24,32; Lc 12,54-56). A leitura diferente dos fatos
ajudou Jesus a perceber a chegada do Reino.A
leitura diferente dos fatos, ajudou Jesus a perceber a chegada do Reino.Jesus ajuda o povo a ler os fatos com olhos
novos. Jesus quer que todos
descubram a Boa Nova do Reino. Por isso, percorre o país e convoca o povo. Ele
envia doze discípulos (Mt 10,1; Lc 9,1). Mais tarde, envia outros setenta e
dois (Lc 10,1). Todos devem levar o mesmo anúncio: “O Reino de Deus chegou!”
(Lc 1,9; Mt 10,7). Pois a colheita é grande, os operários são poucos e o tempo
urge (Mt 9,35-38).Jesus ajuda o povo a ler os
fatos com os mesmo olhos diferentes: faz refletir a partir do que acontece (Lc
13,1-5); manda estar atento, pois ninguém sabe quando chega hora (Mt 24,42);
ajuda o povo para não ser enganado (Mt 24,4.11.26); critica interpretações
erradas (Jo 9,2-3). Através das parábolas
procura levar o povo a ter um olhar crítico sobre a realidade do país e sobre a
sua prática religiosa. Por exemplo, as parábolas do fariseu e do publicano (Lc
18,9-41), dos dois filhos (Mt 21,28-32), do bom samaritano (Lc 10,29-37). Deste
modo, Jesus ajuda o povo a discernir, entro dos fatos, os sinais do reine de
Deus que vem chegando.Nem todos aceitam a
interpretação que Jesus faz dos fatos. Os fariseus e os saduceus não sabem ler
os sinais dos tempos e o combatem (Mt 16,1-4). Jerusalém e as cidades da
Galiléia se fecham (Lc 13,34-35; 10,13-15; 19,42). Os pobres, porém, e os
discípulos reconhecem e aceitam a mensagem (Mt 11,25; 13,11).
b)-“O Reino de Deus chegou” - A novidade que causa admiração
b)-“O Reino de Deus chegou” - A novidade que causa admiração
Naquele tempo, todos
esperavam a vinda do Reino de Deus, mas cada um a seu modo.Para os fariseus, o
Reino viria quando a observância da Lei de Deus fosse perfeita; para os
essênios, quando o país fosse purificado.O povo, orientado
pelos escribas e pelos fariseus, esperava a vinda de um messias glorioso.Jesus, porém, já não
esperava pela vinda do Reino de Deus. Para ele, o Reino já estava chegando!
Esta era a novidade! Qual a análise que
Jesus fez para chegar a esta conclusão? Onde estava o Reino de que ele falava?
Pois a observância da Lei de Deus ainda não eram perfeita; o país ainda não
estava purificado. E não havia nada de glorioso para se poder concluir: “Este é
o Reino!”. Por isso, os fariseus o questionaram: “Queremos ver um sinal feito
por ti!” (MT 12,38; Mc 8,11). Quais os sinais? (Lc 17,20).Jesus não dá nenhum,
sinal nem prova (Mt 12,39-40). Para os outros, a chegada do Reino dependia do
esforço que eles mesmos teriam de fazer. Dependia da observância da Lei de
Deus, da purificação da terra, ou da luta. Jesus dizia o contrário: “O Reino de
Deus não vem como fruto da observância, mas ele já está no meio de vocês!” (Lc
17,20-21). Independentemente do esforce
feito. O Reino já tinha chegado! A sua chegada não dependia do esforço humano,
mas era pura gratuidade. Esta era uma maneira radicalmente nova de encara a
vinda do Reino.
"Jesus não diz em que consiste o
Reino. Diz apenas que o Reino já chegou"
Se já chegou, então o
Reino devia estar presente e visível nas coisas que Jesus andava fazendo e dizendo:
“Vão dizer a João o que estão vendo e ouvindo: cegos vêem, coxos andam,
leprosos são limpos, surdos ouvem, mortos ressuscitam e os pobres são
evangelizados” (Mt 11,5-6). “Se é pelo dedo de Deus que eu expulso os demônios,
então o Reino de Deus já chegou até vocês!” (Lc 11,20).
Uma
nova leitura da Escritura
Para ajudar o povo a
perceber a presença do Reino nele mesmo e nos fatos, Jesus usava a Bíblia e a
interpretava de maneira nova. A experiência que ele tinha e Deus lhe dava olhos
novos pra entender melhor a ação de Deus no passado e era nele uma luz para
iluminar o sentido da Escritura. Assim, iluminada pela Bíblia, a
Boa Noiva do Reino aparecia aos olhos dói povo não como bastarda e impostora,
vinda de fora, mas como filha nascida em casa, como fiel à Tradição, como
realização da Promessa.
Eis alguns dos momentos em que Jesus faz esta nova leitura da
Escritura:
a)-Na sinagoga de Nazaré, ele usa um texto de
Isaías para apresentar o seu programa (Lc 4,18-19; Is 61,1-2). E conclui: “Hoje
se cumpriu nos vossos ouvidos esta passagem da Escritura” (Lc 4,21).
b)-O recado que mandou para João Batista (Mt
11,5-6) era de um outro texto de Isaías. A profecia de Isaías se realiza na
ação de Jesus junto dos pobres (Is 29,18-19; 35,5-6).
c)-No sermão da montanha Jesus esclarece o
objetivo que Deus tinha em mente ao dar os Dez mandamentos ao povo:
“Antigamente foi dito...mas eu digo (...)” (Mt 5,21.27.31.38.43).
d)-Jesus critica o Templo de pedra, o centro
do Antigo Testamento, e o declara como provisório. Pois o novo Templo será ele
mesmo, o seu corpo (Jo 2,19-21), onde todos poderão adorar o Pai em espírito e
verdade (Jo 4,23).
e) -Aos discípulos de Emaús ele mostra,
“começando por Moisés e por todos os profetas”, o que a Escritura dizia a
respeito dele. Deste modo, ele situa a cruz dentro do projeto de Deus (Lc
24,27).
f)-Quando perguntado para dar um sinal, ele fala de Jonas e de Salomão e conclui: “Aqui está algo mais do que Jonas e Salomão” (Mt 12,41-42). Ele mesmo é critério de interpretação da Escritura.
g)-Jesus diz aos discípulos que ele têm
vantagem sobre os profetas. “Os profetas desejaram ver o que vocês estão vendo
e não puderam” (Lc 10,23-24). Ele mesmo é o ponto de chegada da Escritura.
h)-Na discussão com os judeus sobre a
legitimidade do seu ensinamento, Jesus se declara maior que Abraão: “Antes que
Abraão fosse eu sou” (Jo 8,52-58).
i)-Atacado pelos escribas em nome da Escritura e da Tradição, ele se defende com argumentos tirados da própria Escritura, da vida de Davi (Mc 2,25-26).
i)-Atacado pelos escribas em nome da Escritura e da Tradição, ele se defende com argumentos tirados da própria Escritura, da vida de Davi (Mc 2,25-26).
j)-Em tudo o que fazia para cumprir sua
missão como Messias, Jesus se orientava pela profecia do Servo de Javé.
Lido nesta nova perspectiva, o
Antigo Testamento ajudava o povo a perceber como o Reino de Deus estava se realizando dentro
dos fatos da vida de Jesus e da Sua própria vida. Jesus realizava Promessa. Por
isso, o povo se reconhecia nele e encontrava nele a Boa Nova de Deus!
Os
sinais do Reino presentes na vida:
O Reino que estava
chegando era tudo aquilo que encontrou em movimento com a chegada e o anúncio
de Jesus. Era a própria história progredindo. “O Reino está no meio de vocês!”
Mas não era fácil definir claramente o que vinha a ser o Reino presente no meio
do povo.O Reino era algo que a pessoa
experimentava quando estava em contato com a pessoa de Jesus e com a comunidade
por ele criada. Para ajudar o povo a entender esta misteriosa presença do Reino
dentro dos fatos da vida, Jesus usava as parábolas. São muitas: semente, campo,
pérola, joio e trigo, grão de mostarda, rede, pesca, fermento, sal, tesouro,
dracma perdida, devedor implacável, trabalhadores da vinha, casamento do filho
do rei, as dez virgens, bom samaritano, juiz iníquo, filho pródigo, ovelha
perdida etc. “Quem tem ouvidos para ouvir ouça!”
(Mt
13,9) as parábolas provocam o povo para ir descobrindo as coisas de Deus a
partir da sua própria experiência de vida.Os pobres entendem
esta linguagem (Mt 11,25), pois o Reino enunciado por Jesus é delas (Mt
5,3-10). É para eles (Lc 4,18). Os outros, porém, os de fora, eles ouvem, mas
não entendem (Mc 4,11,12). Muitas vezes, nas discussões com os fariseus, Jesus
tentou corrigir a visão que eles tinha,m de Deus, da lei e da história. Mas não
conseguiu. Eles não se abriram e se agarravam à antiga leitura que faziam do
Antigo Testamento. Não permitiam o novo entrar.
“Mudem
de Vida” - A mais difícil exigência!
Jesus
não pede: “Observem a Lei e a Tradição!” Ele pede metanoia,isto é, mudar o modo
de pensar e de agir
Este é o apelo de mudança
que a chegada do Reino traz consigo. Sem esta mudança radical o povo não poderá
entender a mensagem do Reino anunciada por Jesus. A mudança que a chegada do
Reino está pedindo é uma mudança que engloba todos os aspectos da vida das
pessoas, do povo e da nação. Se não acontecer esta
mudança, “se vocês não se converterem, todos vão perecer do mesmo jeito (LC
13,3.5). isto é, do jeito que galileus pereceram pela violência de Pilatos,
assim todos irão perecer pela violência repressiva do Império. Não houve a
mudança que ele pediu! Quarenta anos depois, no ano 70, esta profecia tornou-se
triste realidade! Jerusalém foi totalmente destruída.
Mas, mudar o que e por que?
Ao longo dos séculos
anteriores foi acontecendo uma inversão total dos valores que se expressa na
própria religião. A religião oficial já não revelava o rosto de Deus ao povo: o
mandamento de Deus foi anulado pela tradição (Mc 7,8); o ser humano estava em
função da lei (Mc 2,27); o templo levava vantagem sobre o amor aos pais (Mc
7,10-13); a misericórdia foi diminuída em favor da observância (Mt 9,13); a
justiça praticada pelos fariseus já não revelava o Reino (Mt 5,20). Na prática, o amor de Deus
estava separado do amor ao próximo. Os escribas e os fariseus, responsáveis
pela transmissão da fé, tinham esquecido as necessidades dos pobres (Lc
13,15-17), impunham pesos pesados ao povo (Mt 23,4) e, assim, bloqueavam a
entrada do Reino (Mt 23-13).Já não bastava
consertar um ou outro defeito. Era necessário fazer tudo de novo! Metanoia!
Nascer de novo (Jo 3,3), reconhecer o próprio erro, aceitar a nova leitura do
passado e iniciar uma prática nova no ruma que Jesus propunha: viver o amor a
Deus no amor ao próximo (Mt 22,39); estender que o sábado é para o homem (Mc
2,27) e que o objetivo da lei é imitar Deus que faz chover sobre todos (Mt
5,43-48); viver a eleição divina não como um privilégio que separa dos outros
povos, mas como um serviço que leva a inserir-se no meio deles (Mt 20,28; Lc
17,10).Numa palavra, aprender que
ninguém tem o direito de marginalizar como “pecador”, “impuro”, “pagão”,
“maldito” ou ignorante (Jo 7,49; 9,34) aqueles q quem Deus acolhe como filhos
(Mt 5,45). Realmente, fazer uma mudança assim era o mesmo que morrer e nascer
de novo.
“Quem não nascer de novo não pode ver o Reino
de Deus” (Jo 3,3).
Muitos não quiseram fazer esta mudança radical, reagiram contra Jesus e decidiram eliminá-lo (Jo 12,37-41; 11,45-54; Lc 19,42).
Muitos não quiseram fazer esta mudança radical, reagiram contra Jesus e decidiram eliminá-lo (Jo 12,37-41; 11,45-54; Lc 19,42).
“Acreditem nesta Boa Notícia” - Realiza-se a esperança do povo
Toda esta novidade
que começou a existir ao redor da sua pessoa, Jesus a designou com A Boa Nova
do Reino. Expressão antiga, usada pela primeira vez pelo profeta Isaías para
designar a Boa Nova da volta dos exilados (Is 40,9; 52,7; 61,1). Desde então,
todos esperavam pela Boa Nova do Reino. Nos gestas e nas palavras de Jesus esta
esperança re realiza.O acesso a essa Boa
Nova só era possível através da fé: “Acreditem na Boa Nova!”. Fé não só na mensagem,
mas também na pessoa de Jesus, tal como ele era e se apresentava: jovem,
operário, sem estudo, vindo da Galiléia, sem ser doutor, sem ser sacerdote, sem
ser da classe dirigente, mas que tem a coragem de dizer a todos:“Eu sou
o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim” (Jo 14,6).
“Quem vê a mim vê o Pai!” (Jo 14,9). Sem esta fé na palavra e na pessoa de
Jesus não era possível entender a Boa Nova do Reino que ele anunciava! Embora a Nova não
fosse tão Boa para os doutores e escribas, ela era realmente Boa para os pobres
(Lc 4,18). Pois através da prática e da palavra de Jesus, o povo pobre, que
vivia marginalizado como “ignorante”, “maldito”, “impuro” e “pecador” (Jo 7,49;
9,34), tinha novamente acesso a Deus. Jesus liberou a entrada. A presença amiga
de Deus tornou-se novamente, universal, aceitável para todos, livre das amarras
nas quais vinha sendo aprisionada havia séculos (Mt 23,13).
Apontar
a Boa Nova de Deus na vida do povo:
A Boa Nova do Reino,
que é? Não é uma doutrina que se ensina, nem uma moral que se impõe. Não é um
catecismo que se decora, nem uma ideologia que se transmite. A Boa Nova do
Reino é um fato da vida em que Deus esta presente, atuando, libertando o seu
povo com poder, realizando o seu plano se salvação, mostrando que é Rei, Senhor
da história.Mas não só! Ela é uma
palavra que tira o véu este fato e revela ao povo a presença gratuita de Deus
aí dentro; é uma atitude, um testemunho, uma prática, que confirmam esta
presença de Deus; é todo o passado do povo que o confirma e o ratifica: “Era
isto que esperávamos há muito tempo!”.
Anuncia
a Boa Nova do Reino, que é?
É apontar fatos
concretos pelos quais e veja onde o Reino de Deus está acontecendo e
interpretá-los de tal maneira que apareça para fora esta dimensão escondida da
presença vitoriosa de Deus na história do povo. Foi assim que Jesus respondeu a
João Batista: “Vão dizer a João o que estão vendo e ouvindo!” (Mt 11,4-5).
3)-
A finalidade da Boa Nova anunciada por Jesus:
O Evangelho de Marcos
ensina como o cristão deve anunciar a Boa Nova de “Jesus Cristo, Filho de Deus”
(Mc 1,1). Em primeiro lugar (Mc 1,2-5), a Boa Nova não pode cair de pára-quedas
dentro da vida do poço, mas deve vir como resposta às suas esperanças (Mc
1,2-3), através de pessoas bem concretas (Mc 1,4-8). Ela terá o seu momento de
inauguração (Mc 1,9-11), de provação (Mc 1,12-13) e de proclamação (Mc
1,14-15).Em seguida (Mc
1,16-45), escolhendo bem os fatos, Marcos descreve a finalidade que a Boa Nova
do Reino que alcançar na vida do povo.
Os sete pontos que seguem são os sinais do Reino. Podem servir
como critério de avaliação para examinar de perto a qualidade da nossa prática
evangelizadora:
1)- Criar comunidade (Mc 1,16-20)
Vocação dos primeiros
discípulos.A Boa Nova tem como
primeiro objetivo congregar as pessoas em trono de Jesus e, assim, criar
comunidade.
2)- Fazer nascer consciência crítica (Mc
1,21-22)
Admiração diante do
ensinamento de Jesus.A maneira como Jesus
anuncia a Boa Nova faz o povo criar consciência crítica com relação aos
escribas, seus líderes.
3)- Combater o poder do mal (Mc 1,23-38)
Expulsão de um
demônio.A Boa Nova combate e
expulsa o poder do mal que estraga a vida humana e aliena as pessoas de si
mesmas.
4)- Restaurar a vida para o serviço (Mc
1,29-34)
Cura da sogra de
Pedro e de muitos outros doentes.A sogra levantou-se e
começou a servi-los. A Boa Nova cuida da vida doente e procura restaurá-la para
o serviço.
5)- Permanecer unido ao Pai pela oração (Mc
1,35)
Jesus ora num lugar
deserto.Faz parte da Boa Nova
permanecer unida a raiz que é o Pai, através da oração.
6)-Manter e aprofundar a consciência da missão
(Mc 1,36-39)
Anúncio da Boa Nova
pelas aldeias da Galiléia.A Boa Nova exige que
o missionário não se feche nos resultados já obtido, mas que mantenha sempre a
consciência da missão.
7)- Reintegrar os marginalizados na convivência
(Mc 1,40-45)
Um leproso é curado e
enviado aos sacerdotes. A Boa Nova acolhe os marginalizados e os reintegra
na convivência humana.
Estes sete pontos
marcaram o anúncio da Boa Nova realizado por Jesus e pelos primeiros cristão.Será que marcaram os 500 anos
de Evangelização da América Latina? Será que marcam a evangelização que fazemos
hoje?Onde esta Boa Nova
entra hoje na vida humana, ela em dúvida alguma encontrará resistências e
provocará conflitos. É o que o Evangelho de Marcos sugere, apresentando logo em
seguida cinco conflitos entre Jesus e os líderes religiosos da época (cf. Mc
2,1-3,6).Marcos informa ainda
que, no momento de chamar os apóstolos, Jesus “chamou a si os que ele queria
chamar, e foram até ele. E constituiu o grupo dos Doze, para que ficassem com
ele e para enviá-los a pregar, com autoridade para expulsar os demônios” (Mc 3,13-15).No mesmo chamado
Jesus coloca duas finalidades. Chama para “estar com ele” e pra “enviá-los a
pregar e a expulsar os demônios”. O estar com Jesus dá o conteúdo para a
pregação e a autoridade para expulsar o demônio. Ou seja, a comunidade é a
plataforma de onde parte a missão e lhe dá consistência.
4)-
A fonte da Boa Nova do Reino anunciada por Jesus
Jesus,
igual a nós em tudo,menos no pecado! Jesus é o Filho de
Deus. Este título define seu relacionamento com o Pai e tem a ver com a
constituição da sua pessoa. Esta verdade não se prova, mas se aceita na fé. Ela
foi objeto de lenta e grata descoberta por parte dos cristãos. Jesus é o
Messias. Este título tem a ver com seu relacionamento com os homens e com a sua
missão dentro do plano de Deus. Furto da total gratuidade do Pai é o fato de Ele não
ter mandado qualquer um para realizar a missão do Messias, mas sim o próprio
Filho, igual a nós em tudo menos no pecado (Hb 4,15).“Sendo de condição
divina, Jesus não se apegou à sua igualdade com Deus. Pelo contrário,
esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de servo” (Fl 2,6-7). “Sendo rico,
se fez pobre para nos enriquecer com a sua pobreza” (2Cor 8,9). Jesus não era
cidadão romano e não tinha nenhum título, não fez curso com Gamaliel, não
estudou em Jerusalém, não tirou diploma; não era da classe sacerdotal; não era
levita nem fariseu; não era escriba nem publicano nem essênio nem saduceu. Não
tinha proteção de nenhuma classe. Jesus era um leigo, operário, agricultor. Era
conhecido como o carpinteiro (Mt 13,55). Nasceu fora de casa, numa estrebaria.
Desde o seio materno, sofreu as conseqüências do sistema opressor dos romanos
(Lc 2,1-7). Viveu trinta anos em Nazaré da Galiléia (Lc 3,23), terra “dos
gentios”.Na comunidade local não era
presbítero nem coordenador. Para se saber como foi a vida de Jesus, basta
descrever a vida que qualquer nazareno daquele tempo, pôr o nome de Jesus e se
saberá como foi a vida do Filho de Deus durante trinta dos trinta e três anos
em que viveu nesta terra no meio de nós. Realmente, sendo rico, ele se fez
pobre, igual a nós em tudo! O que para uns era
condenação do destino, para Jesus se tornou a manifestação da vontade do Pai.
Jesus nasceu pobre e continuou sempre do lado dos pobres. Nascer pobre era a
expressão da vontade do Pai. Continuar do lado dos pobres era a decisão do
Filho querendo ser obediente ao Pai. Jesus nunca buscou uma saída individual,
nunca buscou privilégios para si. Continuou pobre, igual a eles em tudo, até o
fim, até a morte de cruz! (Fl 2,8).
Aqui estamos diante
do mistério da vida de Jesus. A sua união com o Pai. Jesus disse a Maira e
José: “Então, vocês não sabem que devo estar na casa do meu Pai?” (Lc 2,49). Os
pais não entenderam a resposta (Lc 2,5). Ele disse aos discípulos: “O meu
alimento é fazer a vontade daquele que me enviou, e terminar a obra que Ele me
deu” (Jo 4,34). Os discípulos estranharam a resposta (Jo 4,33). Ele disse aos
judeus: “O Filho, por si mesmo, nada pode fazer, mas só aquilo que vê o Pai fazer”
(Jo 5,19). Os judeus estranharam a conversa de Jesus sobre o Pai e queriam
matá-lo (Jo, 5,18). Jesus disse a Filipe: “Filipe, você ainda não me conhece?
Quem me vê, vê o Pai” (Jo 14,9). E também Filipe estranhou a conversa de Jesus
sobre o Pai (Jo 14,8).Estas e outras frases
mostram qie a comunhão entre Jeus e o Pai não era automática, mas sim fruto de
iuma luta que ele travava dentro de si para obedecer o Pai em tudo e viver em
comunhão com Ele. Jesus nunca permitiu que alguém interferisse neste segredo
mais profundo da sua vida. Não teve medo de provocar conflitos, mesmo com as
pessoas mais queridas, para poder manter a comunhão com o Pai.Os que tentaram
desviá-lo receberam respostas duras ou reações inesperadas: Pedro: “Vai embora,
Satanás!” (Mc 8,33). Os irmãos: “Quem é minha mãe?’ Quem são meus irmãos?” (Mc
3,33). Os apóstolos: “Vamos para outros lugares! Pois foi para isto que eu
vim!” (Mc 1,38). Os parentes: “Vão vocês! A hora de vocês está sempre aí! A
minha hora ainda não chegou!”(Jo 7,6.8). João Batista: “Vão dizer para João o
que estão vendo e ouvindo!” (Mt 11,4).A preocupação de estar sempre
unido ao Pai pela obediência foi o eixo da vida de Jesus, a fonte da sua
prática evangelizadora, o seu alimento diário (Jo 4,34). “Ao entrar no mundo ele
afirmou: Eis-me aqui! Eu vim, ó Deus, para fazer a tua vontade!” (Hb 10,5-7). Ao deixar o mundo,
fez revisão e disse: Está tudo consumado!”(Jo 19,30). Jesus sofreu e foi
tentado a entrar por outros caminhos (Mt 4,1-11; Mc 8,33). Lutou para ser fiel
(Hb 5,8). Teve de rezar muito para poder vencer (Hb 5,7; Lc 22,41-46). Mas
venceu.Ninguém, nada, nunca, nenhuma
autoridade, em momento algum, conseguiu interferir neste segredo mais profundo
de Jesus. Os que tentaram esbarraram numa muralha impenetrável, numa liberdade
impressionante. Ele foi obediente até a morte, e morte de Cruz”.Por isso, Deus
o exaltou!” (Fl 2,9).
Revelar
o Pai pela obediência profética
Jesus procurava ser
fiel à experiência que tinha do Pai. Pois a Boa Nova do Reino não é uma
doutrina, ou um catecismo a ser transmitidos, nem uma moral ou uma disciplina a
ser impostas, nem uma idéia nova a ser ensinada, mas é a face do Pai a ser
revelada ao povo, sobretudo aos pobres! A obediência de Jesus não era
disciplinar, mas sim profética.Na obediência ao Pai estava a
raiz da liberdade de Jesus. Por causa desta obediência, ele obedecia á tradição
dos homens e a criticava. A obediência só tem sentido enquanto revelação do
Pai! Por causa, dela a voz de Jesus era e é a voz do Pai. Pois quem obedece não
fala em nome próprio, mas sim em nome daquele a quem obedece.Em Jesus, a
obediência não é uma simples virtude ao lado das outras virtudes. A obediência
faz com que ele se torne totalmente transparente, pura referência. Pela sua
obediência profética te a morte, Jesus esvaziou-se de si mesmo e deixou que o
Pai reinasse em sua vida.Por isso, tudo o que Jesus faz
é revelação do Pai. A união que assim nasce entre ele e o Pai é tão perfeita
que os dois se identificam um com o outro: “Quem me vê, vê aquele que me
enviou” (Jo 12,45). É a comunidade perfeita no Espírito.Como a vontade do Pai
se manifesta em Jesus? Ele dizia: “Por mim mesmo nada posso fazer: eu julgo
segundo o que ouço”(Jo 5,30). “O Filho por si mesmo nada pode fazer, mas só
aquilo que vê o Pai fazer” (Jo 5,19).
Como
e onde Jesus via e ouvia o que o Pai queria dele?
a) Na Sagrada Escritura. Ela é a fonte de
autoridade (Lc 4,18): orienta Jesus na realização da sua missão como Servo (Mc
1,11); oferece respostas contra as tentações (Lc 4,4.8.12).
b) Nos fatos. João Batista confrontou Jesus
com as normas da tradição (Mt 11,3). Jesus confronta João com os fatos (Mt
11,4). Iluminados pelas escrituras eles revelam a vontade de Deus.
c) Nas pessoas e suas atitudes. Diante da
resposta da Cananéia, Jesus mudou de opinião e disse: “Seja feito como quere!”
(Mt 15,28). Na atitude da mulher Jesus leu o que o Pai queria dele.
d) Nos pais. Jesus foi para Nazaré com seus
pais e “era obedientes a eles” (Lc 2,51). Esta submissão, porém, não era cega.
Ele teve a coragem de criticá-los (Lc 2,49).
e) Na sua condição de pobre. Nascer pobre era
para ele a expressão da vontade do Pai. Continuar do lado dos pobres era a
decisão do Filho querendo ser obediente ao Pai.
f) Na tradição e nos superiores. “Façam o que
eles dizem, mas não façam o que eles fazem!” (Mt 23,3). Reconhece a autoridade,
mas critica o comportamento e os desvios (Mc 7,13). Jesus nunca cita as
autoridades, mas fala com autoridade (Mc 1,22)
g) Na luta. No Horto das Oliveiras, o anjo
veio e o ajudou para ir até o fim. Suou sangue, mas encontrou a paz na entrega
total ao Pai. (Lc 22,43-44).
h) Na oração. Nas noites passadas junto ao
Pai, ele vive a sua experiência de Filho e descobre o que o pai pede dele (Lc
5,16; 6,12; 9,18.28-29; 11,1).
Não havia uma instância ou uma
norma preestabelecida que guiasse Jesus na descoberta da vontade o Pai. Não
havia uma lista de normas para ele se orientar. Havia, isto sim, aquela atenção
permanente voltada para o Pai. “Faço sempre o que lhe agrada” (Jo 8.28-29).Jesus deixou um
testemunho muito bonito a este respeito quando disse: “ O mundo vai saber que
amo o Pai e que faço o que o Pai me mandou. Levantem! Vamos embora daqui!” (Jo
14,31). Levantou e foi para o Horto, onde começou a Paixão.
Conclusão:
A missão de Jesus se
resume em fazer brilhar o rosto de Deus na vida do povo. “Faze brilhar sobre
nós a tua face e seremos salvos” (Sl 80,4). O rosto de Deus é Luz que brilha na
escuridão (2Pd 1,19). É a raiz da liberdade e da ressurreição. É a eterna Boa
Nova para o povo oprimido.Sem este rosto tudo
escurece. Não há disciplina nem lâmpada nem vela que possam substituí-lo. Quem
não o conhece talvez não sinta a sua falta. Mas quem, como Jesus, o encontrou,
já não sabe viver sem ele.O encontro com Ele revoluciona
a vida, faz descobrir o que está errado em nós e ao redor de nós, e anima para
a luta, a fim de recolocar tudo no seu devido lugar, como Deus o quer.“Como o Pai me
enviou, eu envio vocês!” Dizendo isto, Jesus soprou sobre eles e lhes disse:
“Recebei o Espírito Santo” (Jo 20,21-22). Com a ajuda do Espírito, as
comunidades reproduzem nas suas vidas a prática evangelizadora de Jesus e,
assim, serão a revelação do Pai ao povo.Na mesma medida em eu
soubermos viver e anunciar a Boa Nova do Reino seremos a Igreja de Jesus;
seremos a “carta de Cristo, reconhecida e lida por todos os homens” (2Cor
3,2.3).
*Frei Carlos Mesters,
carmelita, mestre em Exegese Bíblica e Doutor em Teologia Bíblica, co-fundador
e assessor do CEBI – Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos, e-mail:
cmesters@ocarm.org
Fonte:http://www.igrejadocarmo.com.br/testosFCM/TextoFCM003.htm
O QUERÍGMA DOS APÓSTOLOS - (Parte I):
Conteúdo do anúncio dos apóstolos: A Pessoa de Cristo, sua Vida, Paixão, Morte, Ressurreição e
Glorificação em nosso favor, em obediência ao Pai.É urgente a
necessidade de evangelização não só de quem está fora, mas até mesmo dentro da
Igreja.(Esta matéria será baseada em
alguns trechos do bom livro "Como evangelizar os batizados" (Ed.Loyola)
de J.H. Prado Flores, que foi escrito justamente para ser usado nos cursos dados
pela "Evangelização 2000"). A todo aquele que
desejar trabalhar como evangelizador e, principalmente, como formador de
evangelizadores, eu recomendo fortemente a leitura deste livro. Segue a matéria.No princípio da vida da Igreja,
batizavam-se somente os convertidos. Hoje em dia a tarefa é o inverso: Evangelizar
e converter os batizados.A Igreja precisa ser
evangelizada em seu interior para que ela se converta em Boa Nova para o mundo.
Por isso, hoje, evangelizar os batizados é imperativo urgente.A evangelização se dá
em dois momentos sucessivos que são complementares e interdependentes:
• O Querigma:
Primeiro anúncio de Jesus
• A Catequese: Ensino
progressivo da fé
São 2 passos
consecutivos, onde o querigma sempre deve anteceder à catequese. Se o querigma
é a forte badalada do sino, a catequese é o eco da badalada. A catequese
prolonga o anúncio querigmático. Não é fria doutrina ou meros ensinamentos
teóricos, mas a extensão e a plenitude da nova vida trazida por Jesus.A vida nos é dada
pela fé com que respondemos ao anúncio querigmático, mas a vida em abundância
chega à sua plenitude, através da catequese vivida na fé.O grande erro pedagógico foi
sempre o de primeiro catequizar para depois "cristianizar", ou seja,
insistem-se, primeiro, em catequizar os fiéis. No entanto, esqueceu-se o
princípio fundamental exigido por Jesus a Nicodemos: É necessário nascer de
novo.Para que a vida de
alguém cresça, é necessário ter antes nascido. Não se pode crescer na fé se,
antes, não se nasceu para ela.
O
querígma conduz a este fim:
Através da apresentação de
Jesus, ter uma experiência de vida nova graças à fé e à conversão e
experimentar Jesus vivo como Salvador pessoal, como Senhor de toda a vida e
como Messias que dá o Espírito Santo, para transformar nosso mundo pelo amor.“Entretanto, para
evangelizar estamos colocando o rico alimento da doutrina e da moral cristã
junto a cadáveres que não têm a vida de Jesus. Estamos alimentando os mortos.”Quando Jesus
ressuscitou a filha de Jairo, primeiro devolveu-lhe a vida, entregando-a depois
a seus pais (a comunidade) para que lhes desse o alimento. Não podemos suprir
com catequese aquilo que é uma experiência de vida nova. A catequese, para
produzir fruto abundante que permaneça, deve estar em seu lugar: sempre depois
do anúncio querigmático.O querigma é apresentar Jesus,
de modo que o indivíduo tenha uma experiência pessoal do Amor de Deus,
suscitando nele uma resposta de fé e entusiasmo por Deus e sua Igreja. Somente,
então, o indivíduo sentirá desejo e necessidade de se aprofundar na vida nova
que experimentou.Então, ele mesmo
buscará a catequese para consolidar sua fé em Jesus e na sua Igreja. Quando se
inverte esta ordem, ou seja, evangelizando-se a partir da catequese, damos
alimento sólido a quem não deseja, pois ainda está cego ou espiritualmente
morto. É como jogar pérolas aos porcos.Como resultado, não
se interessam pelo precioso alimento recebido, pois "morto" não se
alimenta.Por isso, antes de dar o
alimento sólido da catequese, é necessário, primeiro, que o indivíduo renasça
espiritualmente e o deseje com fervor, ou seja, tenha experimentado o amor de
Deus e a conversão, mediante o anúncio do querigma.Em resumo, o querigma
produz o renascimento da vida espiritual, enquanto a catequese, depois,
alimenta esta vida espiritual dando-lhe o crescimento.
Quadro
comparativo entre Querigma e Catequese:
• No querigma o
objetivo é nascer de novo, ter vida. Na catequese é crescer em Cristo, ter vida
em abundância.
• No querigma o
contúdo é o anúncio de Jesus, morto, Salvador, Ressuscitado, Senhor,
Glorificado e Messias. Na catequese o conteúdo é a explicação da doutrina da
fé, moral, dogmas, Biblia, etc.
• No querigma o
método utilizado é a proclamação de Jesus como a Boa Nova e o testemunho
pessoal, visando estimular a vontade do evangelizando (= aquele que está sendo
evangelizado). Na catequese o método utilizado é o ensino ordenado e
progressivo da Fé de toda Igreja, visando iluminar o entendimento.
• No querigma o
agente é o evangelizador, que é um testemunha cheio do Espírito Santo. Na
catequese, o agente é o catequista, que é um mestre cheio do Espírito Santo.
• No querigma a meta
é o encontro pessoal com Jesus pela fé e conversão e a proclamação de Jesus
como Senhor e Salvador. Na catequese a meta é o encontro com o Corpo de Cristo:
a comunidade Igreja e, assim, desenvolver a santidade do povo de Deus.
• No querigma o
evagelizando dá uma resposta pessoal: Meu Senhor e meu Salvador. Na catequese,
a resposta é comunitária: Nosso Senhor, Nosso Salvador.
O Querigma
dos Apóstolos (Parte II) - Os 3 Personagens da Evangelização:
Na evangelização há 3
personagens: O Evangelizador, o Evangelizando e o Espírito Santo.Cada um com seu papel
bem claro e definido, que não deve ser suplantado pelo outro.
1)
O Evangelizando: Escuta e Responde a Deus
• Seu papel é escutar
a Palavra anunciada pelo evangelizador
• Ele, e somente ele,
dá uma resposta à Palavra proclamada, com uma atitude tanto interior, quanto
exterior
• Ele se confessa
pecador e pede perdão de seus pecados
• Proclama Jesus como
Senhor de sua vida
• Pede a Jesus
Messias o Espírito Santo e o recebe
Não
lhe compete:
• Discutir com o
evangelizador. Porém, é legítimo que faça perguntas e tire dúvidas
• Justificar-se:
"Eu não faço nada de mal", nem condenar-se: "Eu não tenho
perdão"
2)
O Espírito Santo: Convence e Converte
• A proclamação e o
testemunho do evangelizador são instrumentos necessários, mas apenas
instrumentos, já que o agente principal da evangelização é o Espírito Santo.
Ele atua tanto no evangelizador quanto no evangelizando.
Atuação
do Espírito Santo no evangelizador:
• Dá-lhe zelo pelo
Evangelho
• Unge-o e usa-o como
canal de sua obra
• Enche-o de poder e
amor
Atuação
do Espírito Santo no evangelizando:
• Usando as palavras
e atitudes do evangelizador como veículo de sua obra salvífica, o Espírito
Santo é quem realiza com eficácia a obra da evangelização, infundindo a fé,
para convencê-lo de que é pecador necessitado de salvação e, em consequencia,
que proclame Jesus como Salvador e Senhor.
3)
O Evangelizador: Proclama e Testemunha
• Proclama Jesus, uma
Pessoa Viva e seus atos de Salvação
• Anuncia
jubilosamente a Boa Nova: Já fomos salvos
• Apresenta Jesus
Salvador como a única solução para cada homem, para a sociedade e para o mundo
inteiro
• É testemunha e dá
testemunho: Com sua própria vida e em todo tempo e lugar, é testemunha de que
graças a Jesus é possível viver de uma maneira nova neste mundo, e que sua
morte e ressurreição são eficazes nos dias atuais. E testifica com palavras o
que Deus realizou nele.
Não
lhe compete:
• Ensinar teorias ou
apresentar doutrinas
• Defender Deus. O
advogado é o Espírito Santo
• Tentar convencer o
evangelizando com argumentos, citações bíblicas, sugestão ou qualquer tipo de
manipulação dos sentimentos
• Converter e
transformar as pessoas, pois quem converte e transforma é o Espírito Santo
• Chantagear ou
assustar o evangelizando
• Ver o fruto
terminado da obra de evangelização
Há
4 condições necessárias para se poder ser um evangelizador e, posteriormente,
um formador de evangelizadores:
• Ter experiência de
salvação
• Ter zelo pelo
evangelho
• Análise da
realidade
• Viver o Evangelho
Analisemos
estas condições:
1)
Ter experiência de salvação:A primeira
experiência de todo evangelizador é ter tido uma experiência pessoal de
salvação. Não basta saber muita doutrina, ser diplomado em teologia ou ter
título ou função na Igreja. É necessário "ter nascido de novo", como
exigia Jesus do sábio Nicodemos (Jo 3,3).
O evangelizador não é um
mestre, mas sim uma testemunha: proclama Jesus Salvador e dá testemunho do que
viu e ouviu. Não só sabe que Deus é Amor: Ele teve a experiência pessoal de ser
amado incondicionalmente. Já teve seu encontro pessoal com Jesus e o proclamou
seu Salvador pessoal e Senhor de toda sua vida. O Espírito Santo o marcou com um
selo indelével. Se proclama que Jesus salva, é porque antes ele já viveu essa
salvação na própria carne.
2)
Ter zelo pelo evangelho:O zelo pelo Evangelho
é um desejo intenso de que Cristo Jesus seja conhecido, amado e servido por
todos os homens e, ao mesmo tempo, é um compromisso com o homem para que seja
mais digno, mais livre, mais homem.O zelo pelo Evangelho
é um fogo implacável no coração, que não se deixa extinguir e que procura
incendiar a todos. É uma espada afiada que não se detém diante de nenhuma
dificuldade, até deixar semeada a semente da Palavra de Deus no mundo. É boca
de profeta que não cala por respeitos humanos, estruturas asfixiantes ou medo
disfarçado de prudência."Calçados com o zelo pelo Evangelho" (Ef
6,15), seu único acompanhante é o bastão, como o de Moisés, para mostrar que,
com o poder de Deus, é possível atravessar o Mar Vermelho das dificuldades e
dos problemas.Esse zelo deve
converter-se em paixão, que coloca o trabalho evangelizador acima de qualquer
outra coisa na vida. E mais: É necessário a obsessão de que o que importa na
vida é anunciar a pessoa, a vida e os ensinamentos de Jesus, assim como
instaurar seu Reino de justiça, gozo e paz neste mundo.Paulo estava cheio
desse zelo quando exclamava: "ai de mim senão evangelizar", por isso,
era capaz de superar todas as adversidades que nos conta em 2Cor 11,23-29.
3)
Análise da realidade:A mensagem não é uma
camisa-de-força que se impõe, e sim uma opção que propõe a homens livres,
inseridos numa cultura, para que com sua vontade tomem a decisão de viver o
Evangelho, implantando os valores do Reino em sua realidade histórica.As estruturas
sócio-políticas e culturais são o terreno onde se semeia a palavra. Nesse marco
concreto, o Evangelho se encarna para transformar as situações de pecado.
“Aculturar o Evangelho é o
grande desafio dos evangelizadores, sob pena de permanecer no superficialismo pragmático,
ou no sentimentalismo.”
4)
Viver o Evangelho:O estilo de vida do
evangelizador determina a mensagem que transmite, seja porque adquire alta
reputação, seja porque se desprestigia.O evangelizador não é um frio
transmissor de uma propaganda, mas ele encarna a mensagem, convertendo-se ele
próprio, com seu estilo de vida, em parte da mensagem.Isso exige que ele
creia profundamente naquilo que prega e que viva de acordo com o que crê. O
evangelizador não é um simples propagandista. Ele vive de acordo com a mensagem
que transmite.Se não existe congruência entre
a vida e a mensagem, ela desvirtua-se e é mal interpretada, pois não é possível
esperar que os outros creiam naquilo que o evangelizador não professa.Paulo,
porque vive o que prega, atreve-se a dizer: Sejam meus imitadores como eu mesmo
o sou de Cristo.
O Querigma dos Apóstolos (Parte III) - Pedagogia para fazer o
Anúncio Querigmático:
1)
O Querigma deve ser Atual: Hoje - Não se trata de falar
de acontecimentos perdidos no passado, nem sequer há 2 mil anos atrás, mas sim
de forma atual, tornando presente a eficácia da salvação. Por exemplo, mais do
que falar do Deus eterno, apresentar Deus que hoje ama, que cura e liberta
hoje.Que o homem pode
obter a Salvação, se hoje crê e se converte; que o dom do Espírito Santo é para
os tempos atuais e que é urgente criar o Evangelho na comunidade cristã.
2)
O Anúncio Querigmático deve ser direto e objetivo: “ A VOCÊ” !!!Não se trata de falar
impessoal ou teoricamente, mas sim que "Deus te ama pessoalmente".
Não se trata de apresentar o tema sobre a essência do pecado, mas de interpelar
o evangelizando, dizendo:"Necessitas de salvação
porque não podes salvar a ti mesmo!". Mais do que uma aula de Cristologia,
deve-se oferecer um Cristo Jesus vivo, com quem é possível ter um encontro
pessoal e receber o dom do Espírito Santo. Não se trata de falar em abstrato,
mas sim, concretamente.
3)
O Evangelizador deve concatenar os temas do anúncio querigmático:Deus te ama, mas teu
pecado te impede de senti-lo. Entretanto, Ele já te perdoou e libertou pela
morte e ressurreição de Cristo Jesus. A única coisa que tu deves fazer é crer e
converter-te a fim de receber seu amor, que é o Espírito Santo e possas viver
na família de Deus, a comunidade cristã.Esta concatenação
reflete o diálogo espontâneo, onde o evangelizador vai respondendo as perguntas
que o evangelizando vai se fazendo inconscientemente. Veja:
• Evangelizador: Deus te ama
hoje
•
Evangelizando: Mas porque não o sinto?
• Evangelizador: Porque és
pecador e necessitado de salvação.
•
Evangelizando: E qual é a solução?]
• Evangelizador: Jesus já te salvou!!!
•
Evangelizando: Que devo fazer então?
• Evangelizador: Crê e
converte-te já, proclamando Jesus como Salvador e Senhor.
•
Evangelizando: Como acontece isso?
• Evangelizador: Pede e recebe
o dom do Espírito Santo.
•
Evangelizando: E depois? O que fazer?
• Evangelizador: Persevera com
Jesus na sua verdadeira Igreja (aquela fundada sobre Pedro,conforme Mateus 16,18).
4)
O Evangelizador deve dar seu testemunho de vida:O testemunho pessoal
é o centro de uma evangelização eficaz. É o testemunho de como Jesus
transformou a vida e como já se vive a vida nova.Portanto, é vivencial e
pessoal. Não se apresentam idéias ou doutrinas, mas fatos concretos nos quais
foi experimentada a salvação de Jesus.Como pode alguém
afirmar com segurança e convicção que Jesus salva, se ele mesmo não o
experimentou de alguma forma? Alguém é testemunha de Cristo, quando aspectos
concretos da vida de pecado já morreram na cruz de Jesus e já se participa das
primícias da vida nova de Cristo ressuscitado.Em um testemunho manifesta-se
não o que nós fizemos pelo Senhor, mas sim o que Ele realizou em nossas vidas.Um exemplo é o
daquele homem a quem Jesus ensinou a dar testemunho: "Vai para a tua casa
e para os teus e anuncia-lhes tudo o que fez por ti o Senhor na sua
misericórdia" (Mt 5,19)
O
testemunho deve ter 3 características: ABC (Alegre, Breve e Centrado em Cristo):
Alegre:Um testemunho deve
estar envolto numa atmosfera de alegria, acompanhado de um sorriso, do entusiasmo
das palavras e da convicção dos olhos. A alegria é o primeiro sinal de quem
encontrou o tesouro escondido. Não se trata de uma alegria porque não existem
problemas, mas sim porque a alegria do Senhor é nossa fortaleza.
Breve:Um bom testemunho
deve ser centrado no fundamental da obra salvífica de Deus, sem entrar em
detalhes acidentais ou complicados. Os relatos longos são cansativos porque se
perde o enfoque fundamental. Não se deve exagerar as coisas, nem o nosso
pecado, nem a obra salvífica de Deus.
Centrado
em Cristo:Um testemunho não
está centrado em quem o dá, para que os outros o admirem, mas sim centrado em
Cristo mesmo, e em sua obra salvífica.Há quem pense que os
testemunhos que mais impressionam são aqueles em que Deus realizou coisas maravilhosas
e mudanças radicais, acompanhados por milagres e sinais extraordinários. Não é
sempre assim.Cada testemunho toca
às pessoas que estão seguindo um caminho semelhante. Há muitas pessoas que se
parecem com cada um de nós e não necessitam de grandes coisas. Nosso testemunho
para eles será uma grande libertação.
O testemunho deve terminar
sempre com uma explícita exortação: "Se fez em mim, pode fazer em ti. O
Senhor quer fazer também em tua vida".
5)
O Querigma deve ser anunciado com o poder do Espírito Santo:É o Espírito Santo
quem impulsiona cada um para anunciar o Evangelho e quem faz aceitar e
compreender a Palavra da Salvação."Não haverá
nunca uma evangelização possível sem a ação do Espírito Santo. As técnicas de
evangelização são boas, mas nem as mais aperfeiçoadas poderiam substituir a
ação direta do Espírito" (E.N. 75).
O eloquente discurso de Paulo,
no Aerópago Ateniense, demonstra que a eficácia do Evangelho não reside em
palavras cheias de sabedoria e ciência, mas na ação do Espírito Santo. O poder
não está necessariamente nos gritos ou nas qualidades de sugestão ou de
oratória, mas na ação eficaz, às vezes discreta, outras vezes portentosa, com
que o evangelizando se abre e se rende à pregação e à obra salvífica de Deus.
6)
A santidade do evangelizador:O verdadeiro
evangelizador é quem traz em si a imagem de Cristo Jesus. Só quem tem o estilo
de vida de Jesus é capaz de ser canal de sua vida. Um evangelizador santo atua
com pureza de intenção porque só tem um objetivo em sua vida e não busca
nenhuma compensação humana de benefício pessoal: que Jesus Cristo seja mais
conhecido, seguido e amado por todos os homens.
7)
O evangelizador deve ser movido pelo amor:O Evangelizador deve
ter amor ao Evangelho, a Jesus e ao evangelizando. Sem ele o ministério do
evangelizador seria como bronze que ressoa. O evangelizando deve sentir, de
algum modo, um lampejo do amor de Deus, através de cada gesto e atitude do
evangelizador. "A obra do evangelizador supõe um amor fraternal àqueles
que evangeliza" (E.N. 79)
8)
Usar de exemplos e parábolas:A forma mais
pedagógica de anunciar o Evangelho é através de exemplos claros que consigam
explicar de uma maneira simples o que se quer transmitir. Histórias e vivências
gravam muito mais na mente dos ouvintes do que qualquer tipo de instrução
teórica. Para cada tema ou verdade se deve encontrar exemplos atuais e modernos
que facilitem sua compreensão.
9)
Usar as Escrituras:É imprescindível
levar e usar um exemplar da Bíblia quando se evangeliza. É muito importante
saber de cor as passagens fundamentais do anúncio querigmático, para
utilizá-los com presteza e boa pronúncia. Entretanto, mais importante do que os
recitar de cor, é lê-los diretamente da Bíblia e, quando possível, que o
evangelizando mesmo os leia em voz alta.Também é muito
importante que cada evangelizando tenha sua Bíblia, para que ele se alimente do
Pão da Palavra de Deus. No caso de não poder adquirí-la, deve-se procurar uma
forma de presenteá-lo, ao menos, com um Novo Testamento.
10)
O Evangelizando deve tomar uma decisão:Um erro frequente da
evangelização é tratar de convencer mediante argumentos apologéticos. Dizia o
Bispo Fulton Sheen: "Cada vez que ganhei uma discussão, perdi uma
alma".O ponto ao qual se
deve dirigir toda a proclamação não é tanto a compreensão, pois que não se
apresenta uma doutrina. Jesus quer entrar pelo coração para chegar ao cérebro.
Na catequese o entendimento terá um papel tão primordial quanto a vontade no
anúncio querigmático.O bom evangelizador deve
procurar desafiar o evangelizando para que tome a grande decisão de sua vida:
adquirir a pérola preciosa vendendo todas as demais ou permanecer surdo a sua
voz. Dizer sim ou não, mas não ficar indiferente frente ao oferecimento da
salvação. Portanto, não se trata de convencer, de seduzir, menos ainda enganar
ou chantagear! Simplesmente, é uma questão de que, diante da pessoa de Cristo
Jesus, se diga um sim total ou um não completo.Quando o
evangelizando fica morno ou indiferente, devemos verificar se estamos
apresentando a pessoa viva de Jesus ou estamos propondo teorias.
11)
Acompanhar o evangelizando:O evangelizador
participa da paternidade de Deus, pois gera a vida de Cristo nos outros. Mas
esta paternidade deve ser responsável, zelando por aqueles que foram gerados na
fé. Nosso compromisso não termina com fazer o evangelizando nascer de novo, mas
em oferecer-lhe os meios de crescimento e de integração em uma comunidade de
serviço dentro da Igreja. Portanto, é importante que se acompanhe o
evangelizado, como fazia Paulo: "Tornemos a visitar os irmãos por todas as
cidades onde temos pregado a Palavra do Senhor, para ver como estão
passando." (At 15,36).
12)
Integração com a Igreja:A Igreja é
evangelizadora e, ao mesmo tempo, é um Evangelho, porquanto, é ela mesma uma
manifestação da Nova Vida trazida por Jesus. O objetivo último da evangelização
não é a transformação de indivíduos isolados sem nenhum nexo entre si, mas a
integração de comunidades cristãs autênticas, onde é vivida a salvação trazida
por Cristo Jesus. E mais, a vida em plenitude só se experimenta em plenitude em
união efetiva com os demais irmãos na fé: a Igreja. Toda a evangelização tende
à integração das comunidades cristãs, onde se manifesta de maneira clara e
efetiva o amor de Deus derramado por nós, em nosso coração, pelo Espírito
Santo.A comunidade não é opcional. É
absolutamente necessária para perseverar na vida nova.Ela nos garante o
crescimento e o desenvolvimento do neo-evangelizado. Sem ela, a semente da
Palavra da Salvação será afogada pelas preocupações da vida e os valores
anti-evangélicos que regem o mundo. À comunidade não se assiste, mas
pertence-se. Faz-se parte ativa dela. Ali, dá-se e se recebe amor como o de
Jesus: que nos dispõe a entregar a vida pela pessoa amada. Isto é o que
essencialmente forma a comunidade: o amor cristão.
O QUERÍGMA APÓSTÓLICO HOJE (
PARTE IV):
“Deus não nos ama pelo que nós fazemos, mas pelo que Ele “É”.
“Deus não nos ama pelo que nós fazemos, mas pelo que Ele “É”.
“Como um pai é
compassivo com seus filhos, Javé é compassivo com aqueles que o temem“(Sl
103,13)
Deus
é amor: (1 Jo 4,8)
O
QUE PRECISAMOS ANUNCIAR HOJE PARA ESTE POVO DESGARRADO COMO OVELHAS SEM PASTOR
?
A
- Deus ama você incondicionalmente, porque Ele é Amor
“Deus
é Amor” (1 Jo 4,8) ; Is 49,15
Deus não lhe impõe
nenhuma condição para amar você. Ele ama você como você é neste momento: não
importa o que você tenha sido ou o que você é no presente. Não importa que você
tenha pecados, vícios, defeitos. Deus ama você como você é. Deus ama você
incondicionalmente. O amor de Deus para com você não muda, porque Ele é sempre
fiel. Uma coisa Deus não pode fazer: é deixar amar você, mesmo que você esteja
em pecado.
“Os montes podem mudar de lugar
e as colinas podem abalar-se, mas meu amor não mudará” (Is 54,10).
Deus não ama você
pelas suas qualidades, mas com as qualidades que você tem.
B
- Deus quer o melhor para você porque você é Seu filho!
Deus ama você como
você é, mas não quer deixar você assim como você está. Ele quer algo muito
melhor para você. Ele quer o melhor para você. Ele tem um plano que fez para
você, com toda sabedoria e amor.Ele nos criou à sua
imagem e semelhançaEle nos criou em harmonia
perfeita com Ele – uma relação pessoal e perfeita com os outros : relações de
justiça e caridade com nós mesmos – segurança, paz e domínio próprio com toda
criação – sendo livres e não escravos das coisas deste mundo encheu nos de
felicidade com sua alegria, paz e união.
C
- Deus tomou a iniciativa de amar você!
Deus ama você. E a
única coisa que lhe pede é que você creia no Seu amor, que creia Nele, confie
no plano Dele mais que no seu.Deus nos pede que nos
deixemos amar por Ele.Espera que você
manifeste que quer experimentar o amor dele por você.Foi Deus quem nos escolheu
primeiro (Jô 15,16). Ninguém pode amá-lo sem antes experimentar o Seu amor. Não
se trata de que nós intentemos chegar a Ele, mas que nos deixemos alcançar por
Ele. São Paulo foi alcançado por Ele. Não resistiu: “Senhor, que queres que eu
faça”?
O
PECADO
Objetivo do tema:
sermos convencidos (não acusados) de pecado. Nosso pecado é a causa de todos os
males.
Questionamentos:
1. Se Deus nos ama,
então, porque, a nível pessoal, vivemos com tantas inseguranças, temores,
invejas, insatisfações, desequilíbrios emocionais, desespero, angústia,
tristeza e limitações, e não experimentamos Seu amor?
2. Se Deus nos ama,
então por que, a nível comunitário, as famílias se desintegram, os filhos se
rebelam contra os pais, há lutas de gerações, competições e ódios de uns para
com outros?
3. Se Deus nos ama,
por que, a nível social, não vivemos o maravilhoso plano de amor, de justiça e
paz? Por que há guerra, há fome, há pobreza, há discriminação, há injustiça, há
opressão.
4. Se Deus nos ama,
por que não experimentamos esse amor? Pro que nosso mundo não é um paraíso onde
se viva em harmonia, justiça e paz?
A
– O problema – Qual é o problema?
“Podemos restaurar as
estruturas com Santidade, porém jamais podemos restaurar a ordem e Santidade
somente mudando estruturas, pois muda-se apenas a coleira, mas o cachorro
continua o mesmo se não experimentou Deus.”
Deus no diz, em sua
palavra: “Sendo que todos pecaram e todos estão privados da glória de Deus” (Rm
3,23).O que impede que em
nosso mundo se manifeste o amor de Deus e se realize o Seu plano de felicidade,
paz e união chama-se pecado. O pecado é a causa de todos os males que afligem a
humanidade.Desde que no paraíso
satanás enganou a nossos primeiros pais, fazendo-os crer que eles alcançariam a
felicidade por suas próprias forças, começou todo o desastre em que vivemos: o
homem se afastou de Deus, fonte de vida. E começaram os ódios, os rancores, os
ressentimentos.O problema é que
somos pecadores, afastados do amor de Deus. O pecado não é algo que possamos
impedir que entre em nós, porque sai do fundo de nosso próprio ser (Mc 1,
14-15). Nós manifestamos frutos de pecado porque nossa raiz, o coração, é
pecado (Ex. do limoeiro). Nós somos pecadores, e, precisamente por isso,
pecamos. Porque nossa raiz é de pecado, aparecem frutos de pecado.
Nós
nos afundamos, quando queremos alcançar a felicidade e a realização pessoal com
nossas próprias forças:
.
Quando buscamos isso por caminhos falsos: desordem sexual, alcoolismo, drogas,
ativismo, poder, fama, conforto...
.
Quando confiamos em falsos redentores: materialismo, humanismo sem Deus,
comunismo ou capitalismo, etc.
.
Quando cremos em ídolos falsos: satanismo, bruxaria, curandeirismo, controle
mental, conhecimento do futuro, etc.
.
Quando dependemos de nós mesmos: cumprimento da lei, nossa própria justiça,
nossas boas obras...
Nós estamos amarrados
pelo laço do pecado, que não nos permite chegar à margem da salvação.
Necessitamos de alguém que desamarre o laço do pecado.
É tudo que não provém da fé em
Deus (Rm 14,23). O pecado é, basicamente, não crer em Deus, não confiar nele
porque confiamos mais em nós, não querer depender de sua vontade.O pecado causa mais
dano ao homem do que a Deus. Por isso Ele não quer que pequemos.O homem tem um problema que não
pode solucionar. É de natureza pecadora, por isso peca. Por suas próprias
forças, não é capaz de renovar-se, de tornar-se nova criatura. Nenhum homem
pode salvar-se a si mesmo. Esta é a pior notícia.
C)
– Reconheça seu problema:
É certo que somos
pecadores, mas temos uma vantagem: sabemos que só os enfermos podem ser
curados. Reconhecendo que somos pecadores, podemos ser perdoados. É necessário
que você se reconheça pecador, que você não é tão bom quanto parece. O único
pecado que não pode ser perdoado é o que nós não reconhecemos que pecamos. (Lc
18, 9-14).
JESUS,
A SOLUÇÃO DE DEUS (A SALVAÇÃO e LIBERTAÇÃO EM JESUS)
Objetivo do tema: apresentar Jesus
morto, ressuscitado e glorificado como única solução para o mundo e cada
individuo.
SÍNTESE
DOS DOIS TEMAS ANTERIORES – Deus nos ama, mas o pecado nos impede de
experimentar esse amor. O homem por si só não pode salvar-se.
1
– A BOA NOTÍCIA:
Se o homem não era
capaz de chegar até a Deus, Deus chegou até nós. Quando não havia esperança de
solução, então brilhou uma luz nas trevas: Deus cumpriu Sua promessa de
salvação.“Deus amou tanto o mundo que
entregou seu Filho único... para que o mundo seja salvo por “Ele” (Jo 3,16-17). Sim, há uma solução
para o mundo e para cada homem: esta solução é Jesus, cujo nome significa:
“Javé salva.” Ele é médico e remédio ao mesmo tempo. Que
fez Ele ?
A
– Vence a satanás!
Quando nossos
primeiros pais pecaram, Deus disse à serpente: “Porei inimizade entre ti e a
mulher, entre a tua linhagem e a linhagem dela. Ela (a linhagem dela, o Filho),
te esmagará a cabeça...” (Gn3, 15). Jesus, descendente da mulher, esmaga a
cabeça do inimigo.
B.
– Salvação do pecado
Jesus é o cordeiro de
Deus que tira o pecado do mundo para que possamos viver em plenitude a vida em
abundância. Sua missão é arrancar a raiz que origina todo o mal: o pecado.
C.
– Perdoa o pecado
Nós devíamos a Deus
uma conta por termos comido o fruto proibido (pecado original). Jesus pagou
nossa dívida, morrendo na cruz. “Vós estáveis mortos pelas vossas faltas,...
(Cl 2,13-14)Nossos pecados foram
perdoados graças ao Sangue de Cristo. “Pai perdoai-lhes...”
D.
– Esquece o pecado
Quando Deus perdoa,
perdoa para sempre, isto é, não se recorda mais de nossos pecados perdoados.
Jesus tomou nossos pecados e jogou-os no fundo do mar.“Novamente ele nos
manifestará sua misericórdia, calcará aos pés as nossas faltas e lançará no
fundo do mar todos os nossos pecados” (Jr 31,34).Quando Deus volta a
ver-nos, vê-nos cobertos com o Sangue de Seu Filho amado. (Hb10, 14)
E.
– Liberta do pecado
Jesus não só tira e
perdoa o pecado, mas liberta-nos do pecado, isto é capacita-nos a não pecar
mais. Dá-nos condições para evitar o pecado.
2.
– Comunica Vida Divina
Deus não enviou Seu
Filho amado só para solucionar problemas ou romper grilhões de pecado, mas foi
enviado, especialmente, para trazer vida e vida em abundância (Jo 10,10). Jesus é a presença do
amor do Pai para com os pecadores, para que se manifeste o amor misericordioso
de Deus (Rm 5,20)
. a mulher adúltera
(Jo 8,3-11) paz consigo mesmo
. o rico Zaqueu (Lc
19,1-10) paz com os outros (Zaqueu foi libertado da cobiça)
. o ladrão
arrependido (Lc 23, 39-43 (paz com Deus)
3
– Como se realizou nossa salvação ?
Jesus realizou de uma
vez por todas a salvação total do homem e de todos os homens
a)
Por sua encarnação
O Filho de Deus,
sendo de condição divina, assumiu uma carne pecadora e habitou entre nós,
fazendo-se semelhante a nós em tudo, exceto no pecado. O amor de Deus se
manifestou em Cristo Jesus (Rm 8,31-38)
b)
Por sua morte
Jesus não foi
assassinado. Ele se entregou voluntariamente à morte por amor a nós, pecadores,
para carregar nosso pecado. Ao ser arrancada a raiz, são suprimidas as
conseqüências do pecado: violência, ambição do poder, rancores, ressentimentos,
etc.
c)
Por sua ressurreição
Jesus ressuscitou ao
terceiro dia, sepultando nosso pecado. Com sua morte, vence a pior de todas as
conseqüências do pecado: a morte. Por isso, nós também ressuscitaremos. Jesus
está vivo hoje e sempre. Vitorioso sobre o pecado e todo o mal. Jesus é a
solução. (Ef. 2,1-7)
A
FÉ E A CONVERSÃO
Se Jesus já nos
salvou, por que não experimentamos os frutos da salvação, em nossa vida? A Fé e a Conversão são os meios
necessários e insubstituíveis, através dos quais a salvação e a libertação se tornem
atuais em cada pessoa (São como duas pranchas da ponte que nos liga à salvação)
Os
primeiros evangelizadores procuravam sempre:
.
que os ouvintes acreditassem em Jesus (At 13,39)
.
que se convertessem a Deus
“Creiam em Jesus Cristo,
convertam-se de seus pecados e então poderão viver a vida do Filho de Deus”
A)-
A FÉ
A fé é um dom de
Deus. É a certeza de que Deus vai agir de acordo com Suas promessas.
A fé nos leva a crer
que já fomos perdoados. E que podemos viver em harmonia com Deus, com o
próximo, com a criação e com nós mesmos.
A fé em que Jesus já
nos salvou não nos permite buscar outro meio de salvação.
A
Fé tem três facetas:
1a . Crer – Não é só
acreditar em Deus, mas entregar-se a Ele. É acreditar em alguém e esse Alguém é
Deus. É um modo de se relacionar com Deus.
2a . Confiar – É o
abandonar-se incondicionalmente nas mãos de Deus, Pai amoroso e misericordioso.
A confiança não depende de nossas boas ações, mas dos méritos de Jesus Cristo
na Cruz.
3a . Depender – A fé
verdadeira, e que salva, é a que faz com que obedeçamos a Deus como Pai que nos
ama e não por temor. Essa fé nos faz viver de acordo com aquilo que dizemos
crer.
B)
– A CONVERSÃO
Fé sem conversão
seria como um fogo que não queima. Seria uma fé morta.A conversão não se limita a uma
mudança de moral. Conversão é mudança de vida: pela fé entregamos nossa vida de
pecado a Jesus e recebemos dele a sua vida de Filho de Deus.
1o aspecto da
conversão – Jesus começa a viver, amar, servir e atuar em nós e através de nós.Conversão é uma troca
de vida: trocamos nossa vida pela vida de Jesus. É entregar o coração a Deus.
Não é só dar as costas ao pecado, mas voltar a face para Deus. O sol divino nos
transforma.
2o aspecto da
conversão – Passamos a viver como filhos de Deus. Não só afastados do pecado,
mas na alegria festiva de filhos.
A
conversão comporta três dimensões
a)
Dimensão pessoal
“cada um se faça
batizar”(At 2,38)“cada um se arrependa
de seus pecados e se dedica a aceitar Jesus como único Salvador”, enxertando-se
e enraizando-se nele.
b)
Dimensão comunitária
“perseveraram na
comunhão”(At 2,38)Os primeiros cristãos
começaram a tomar parte ativa numa comunidade reunida em torno da Ceia do
Senhor e do Ensino Apostólico. Se não conseguir a integração na comunidade,
onde se vivam o amor e o perdão, e onde cada um preste serviço aos demais,
pode-se dizer que está falho o processo evangelizador.
c)
Dimensão social
“Todos os cristãos
viviam unidos e tinham tudo em comum” (At 2,44)O evangelizando e a
comunidade presta um serviço ao mundo. Sua conversão deve promover a
civilização do amor. O evangelho transforma as estruturas que estão submetidas
ao poder do pecado. O Evangelho impregna a dimensão política, econômica,
cultural e ecológica.
C)
– MANIFESTAÇÃO EXTERNA DA FÉ E DA CONVERSÃO
São Paulo afirma que,
para alcançar a salvação, necessita-se não só de crer com o coração, mas também
de declarar com a boca (Rm 10,9-10).Na evangelização
querigmática deve haver um momento que o evangelizando tenha oportunidade de
manifestar sua fé e conversão, confessando Jesus como único Salvador e Senhor
de toda a sua vida. (Jesus é o Senhor quando Ele, efetivamente, governa e
dirige a pessoa que decide de acordo com os princípios evangélicos e os valores
do Reino) ( At 4,12; Rm 10,9; At 3,20)No ministério de
Jesus, encontramos diversos tipos de manifestações de fé, que desencadearam o
poder salvífico:Mc 5, 25-34; Lc 19,
8; Mt 16, 16; Mt 20, 31; Lc 7, 37-38.
O
DOM DO ESPÍRITO SANTO
Objetivo do tema:
Apresentar o Espírito Santo que, ao mudar nosso coração, capacita-nos para
viver a Vida Nova.
A
– A promessa
Antes da Sua morte
Jesus disse aos seus discípulos: “No entanto, eu vos digo a verdade: é de vosso
interesse que eu parta, pois, se eu não for, o Paráclito não virá a vós. Mas,
se eu for, vo-lo enviarei” (Jo 16,7)Quando ele
ressuscitou, apareceu aos discípulos e disse-lhes que não se afastassem de
Jerusalém, mas esperassem a Promessa do Pai, da qual já lhes falara: Lc 24,49;
At 1,5; At 1,8.Tratava-se de um
compromisso de Deus com os homens, através de Jesus. A Vida Nova que Jesus veio
trazer não poderia ser vivida sem o Espírito Santo e um Coração Novo, isto é,
sem o cumprimento da promessa feita através dos profetas Ezequiel e Jeremias:
Ex 11, 19-20; Jr 31,33.O coração do homem só
pode ser mudado por Deus. A renovação interior do homem é realizada pelo Espírito
Santo, o Espírito de Deus. O Espírito de Jesus.A novidade do
Evangelho não é uma lei nova, mas um Espírito Novo, que Jesus glorificado envia
aos seus para que possam viver a vida de filhos de Deus. (Rm 8,15; Gl 4,6)A obra da salvação
não consiste somente em sermos perdoados de nossos pecados, mas na
transformação de nosso coração pecador em um coração como o de Jesus. É o
próprio Espírito Santo que cumpre a lei em nós. É Ele que nos capacita para
viver a vida de fé, amor e serviço, conforme a vontade de Deus. A única lei do
cristão é a atividade do Espírito Santo nele. A ação do Espírito Santo no homem
faz modificar todos os seus apetites, critérios e valores. Já não segue os
desejos da carne. Transformado pelo Espírito, deseja, quer e faz as obras do
Espírito. (Gl 5,17-18, 19-23)O Espírito Santo, que
recebemos em nosso batismo, é uma força interior no homem que o muda e o
transforma radicalmente. Tão interior e radical é a ação do Espírito Santo em
nós que o Espírito de Cristo vem a ser nosso espírito. (Gl 6,15 – criaturas
novas)
B
– O cumprimento da promessa
50 dias após sua
ressurreição, Jesus, cheio do Espírito Santo, cumpriu sua promessa: enviou, do
céu, a torrente do Espírito Santo sobre seus discípulos, reunidos em oração,
junto com Maria. (At 2,1-4)Pentecostes não foi
outra coisa senão Cristo Glorificado, cheio do Espírito Santo, que abriu seu
coração para derramar seu Espírito sobre seus discípulos e transformá-los em
novas criaturas. Os apóstolos foram inundados pelo Espírito Santo, submergidos,
cheios em plenitude. A efusão do Espírito Santo neles foi total.
Esta
efusão mudou totalmente as coisas para eles:
a) Conheceram
verdadeiramente a pessoa e a missão de Jesus
b) Transformou seu
coração. At 4,32 – Os discípulos começaram a ter os mesmos sentimentos,
interesses e critérios de Jesus. Cristo vivia neles a presença do Seu Espírito.
c) Jesus tornou-se o
centro de suas vidas – Não buscavam ser servidos, mas servir; ser amados, mas
amar; receber, mas dar. At 20,35
d) Começaram a
testemunhar com palavras poderosas. – Pedro começou a falar, e se converteram 3
mil. Experimentaram força nova e começaram a curar os enfermos, e surgiram toda
a classe de sinais, prodígios, milagres, que manifestavam a presença de Cristo
Salvador no meio deles (At 4, 30-31)
e) O nascimento da
Igreja – Fruto da efusão do Espírito Santo foi o nascimento da Igreja, da
comunidade dos que creram em Jesus. Só os que têm o Espírito de Cristo podem
pertencer a Ele. A Igreja de Jesus Cristo é animada por um só e único Espírito,
o Espírito de Jesus, o Espírito Santo. Os cristãos tinham tudo em comum. At
2,44
f) Glorificavam a
Deus – começaram a dar graças a Deus sempre e por tudo. Nas alegrias e nos
sofrimentos.
A
PROMESSA DO ESPIRITO SANTO É PARA VOCÊ !
Os habitantes de
Jerusalém se admiravam da vida dos primeiros cristãos. E perguntaram: Como
poderemos nós viver a vida de Jesus, refletida em vocês? Pedro responde: At
2,37. O Espírito Santo foi prometido para cada um de nós. Como sem água não há
vida na terra, sem o Espírito Santo não há vida Nova. (Jo 7,37-39)Condição para beber
da Água Viva: ter sede. Quem tem sede, pede a Jesus que derrame em si o rio de
água Viva que jorra de seu lado aberto – O Espírito Santo. A condição é que
reconheçamos que temos necessidade do Espírito Santo. De quanto necessita você?
Jesus mesmo prometeu que enviaria uma nova efusão de Seu Espírito da parte de
Seu Pai Celestial. (Lc 11, 9-13; 1o Tess 5,24). O que Jesus fez no Cenáculo
pode fazer aqui, agora! Quanto nos custa? – Nada. É DOM, é grátis. Jesus
conquistou-o para nós.
A
COMUNIDADE
Objetivo do tema:
Mostrar que o plano de Deus não termina até que o Espírito Santo forme o Corpo
de Cristo com a diversidade de membros e variedade de ministérios.
A
– Muitos membros de um só corpo:Deus não quer só
transformar corações. Deus quer formar um povo santo e uma nação consagrada.
Portanto, a obra do Espírito Santo é que encontremos qual é o nosso lugar no
corpo de Cristo, que é a Igreja, e que nos sintamos células vivas de um
organismo.“Com efeito, o corpo
é um e, não obstante, tem muitos membros...” l Cor 12.Se for vivida a
situação de corpo, destrói-se o pecado do individualismo. Então começa-se a
viver de acordo com a verdadeira personalidade o homem que foi criado à imagem
e semelhança de Deus: em Comunidade.Aquele que é criança
na fé, nunca amadurece em vista de um compromisso comunitário.O que é maduro na fé
já não se apropria dos bens espirituais e materiais. Busca o bem de cada um dos
membros da comunidade, o bem comum, e se esforça por compartilhar de maneira
cristã, tudo o que tem e tudo o que é.A evangelização será
incompleta enquanto não se chegue a viver a realidade do Corpo de Cristo que
faz com que o amor nos impulsione e nos permita comunicar todos os bens de
acordo com os critérios do Evangelho.
B
– Diversidade de ministérios e carismas:É na vida comunitária
que o homem alcança sua autentica dimensão humana, ao colocar a serviço da
comunidade os carismas que o Senhor lhe confiou para o proveito comum.Num corpo cada membro
tem uma função especial e insubstituível. (l Cor 12, 7-11)Deus quer transformar
o homem e todo o sistema ou estrutura onde ele esteja envolvido e comprometido.
Enquanto esse dia não chega, não está terminada a obra de Deus.
Deus
não compactua com:
Fé que não irradia
no ambiente em que se vive;comerciantes ou
empresários que buscam santidade, mas exploram;políticos que vão à
missa, e apóiam sistema injusto.O
plano de Deus é mudar as estruturas e sistemas anti-evangélicos baseados nos
valores carnais deste mundo. Deus quer estruturas novas nascidas do Espírito,
Só o que nasce do Espírito é que dá vida. O plano de Deus é formar o Corpo de
Seu Filho: sem divisões, sem racismo, sem divisões econômicas, religiosas ou de
nenhum outro tipo. “Exorto-vos... Ef 4, 1-6Cada um põe a serviço
dos outros o dom ou carisma que Deus lhe confiou: Rm 12, 4-8.Deus quer formar
comunidades verdadeiras onde viva a fé, o amor e o serviço uns aos outros. Para
isso Ele nos deu nos carismas de Seu Espírito Santo. l Cor 7,7. Cada um é
responsável pelo dom que Deus lhe deu, e Ele pedirá conta do que se fez e como
se administrou.Não basta nascer. É
preciso crescer na vida nova. Para isso, é necessário manter-se unido à videira
(Jesus), vivendo como parte do corpo de Cristo leva necessariamente ao encontro
do irmão, especialmente do mais necessitado.Nos grupos de
partilha, há entre - ajuda e isto facilita o crescimento pessoal e comunitário.
José H. Prado Flores - Livro: Como
Evangelizar os Batizados (Ed. Loyola)
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Verdade: Se você gosta de nossas publicações e caso queira saber mais sobre
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