Qual
é a missão dos diáconos permanentes na Igreja? Quais são as disposições
necessárias para o diaconato?
O restabelecimento do Diaconato Permanente pelo Concílio Vaticano II representa um dos movimentos mais significativos de renovação eclesial do século XX. Recuperado de suas raízes neotestamentárias e patrísticas, o diaconato volta a assumir sua identidade própria como ministério ordenado de serviço, não apenas como etapa transitória rumo ao presbiterado. Esse retorno às fontes bíblicas e históricas possibilitou à Igreja redescobrir a amplitude da diaconia como expressão concreta da missão evangelizadora, articulando dimensão litúrgica, pastoral e caritativa. No entanto, apesar dos avanços teológicos e canônicos, a implementação desse ministério ainda enfrenta desafios pastorais, formativos e culturais que influenciam sua plena integração na vida e na estrutura da Igreja contemporânea.
-“Existem situações e lugares, principalmente nas
zonas rurais e afastadas e nas grandes áreas urbanas densamente povoadas, onde
somente através do diácono um ministro ordenado se faz presente”. (Documento de
São Domingo, 77)
-“O carisma do diácono, sinal sacramental de “Cristo
Servo”, tem uma grande eficácia para a realização missionária com visitas à
libertação integral do homem”. (Documento de Puebla, 697)
O Papa João Paulo II se referiu aos diáconos
permanentes, dizendo que: “apresentam um rosto característico da Igreja, à qual
tem prazer de estar próxima do povo e de sua realidadecotidiana para arraigar em sua vida o anúncio da mensagem de Cristo”. Por isso
mesmo cresce na Igreja em todo o mundo o número de diáconos casados, apoiados
por suas esposas e filhos.O ministério dos diáconos floresceu até o século V.
Por diferentes razões, declinou depois lentamente até o ponto de que este
ministério chegou a ser tão só uma fase intermediária para os candidatos à
ordenação sacerdotal. O Concílio Vaticano II abriu o caminho para restaurar
este ministério como “grau próprio e permanente da hierarquia”, permitindo que
possa ser conferido a homens em idade madura já casados.João Paulo II agradeceu aos diáconos permanentes “a
missão que realizam pela Igreja como servidores do Evangelho, acompanhando, com
frequência no marco profissional, que é o primeiro contexto de seu ministério,
o povo cristão”. “Com sua palavra e sua exigente vida pessoal, conjugal e
familiar dão a conhecer a mensagem cristã e fazem os homens e mulheres refletir
sobre questões sociais para que resplandeçam os valores evangélicos”. No ano 2001 em todo o mundo, já havia 28.626
diáconos permanentes diocesanos e 578 diáconos permanentes religiosos, segundo
o Anuário Estatístico da Igreja. A “Congregação para a educação católica” e a
“Congregação para o Clero” da Santa Sé, publicaram as “Normas fundamentais para
a formação dos diáconos permanentes”, em 22/02/1998.
O Catecismo da Igreja Católica, fala sobre os
diáconos
§1571. Os diáconos participam de modo especial na
missão e graça de Cristo. São marcados pelo sacramento da Ordem com um sinal
(“caráter”) que ninguém poder apagar e que os configura a Cristo, que se fez
“diácono”, isto é, servidor de todos. Cabe aos diáconos, entre outros serviços,
assistir o Bispo e os padres na celebração dos divinos mistérios, sobre tudo a
Eucaristia, distribuir a Comunhão, assistir ao Matrimônio e abençoá-lo, proclamar
o Evangelho e pregar, presidir o funerais e consagrar-se aos diversos serviços
da caridade.
§1572. Desde o Concílio Vaticano II, a Igreja
latina restabeleceu o diaconato “como grau próprio e permanente da hierarquia”,
a passo que as Igrejas do Oriente sempre o mantiveram. Esse diaconato
permanente, que pode ser conferido a homens casados, constitui um importante
enriquecimento para a missão da Igreja. De fato, ser útil e apropriado que
aqueles que cumprem na Igreja um ministério verdadeiramente diaconal, quer na
vida litúrgica e pastoral, quer nas obras sociais e caritativas, “sejam
corroborados e mais intimamente ligados ao altar pela imposição das mãos,
tradição que nos vem desde os apóstolos. Destarte desempenharão mais
eficazmente o seu ministério mediante a graça sacramental do diaconato”.
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S. Inácio de Antioquia, já no século I, dizia: “Sem
o Bispo, os presbíteros e os diáconos, não se pode falar de Igreja”.O papel do diácono é fundamental sobretudo para
levar o Evangelho no meio do povo, nas casas, nas famílias, onde pode levar a
Sagrada Eucaristia, benzer as casas, etc.“Não podemos mais fechar-nos e aguardar os
batizados nas nossas Igrejas. Temos de ir buscá-los onde vivem e trabalham, com
uma ação missionária permanente, com especial atenção aos pobres das periferias
urbanas”, disse o Cardeal D. Claudio Hummes aos diáconos quando foi Prefeito da
Congregação para o Clero (13/08/2009).Destacando o “ministério da Palavra” confiado aos
diáconos permanentes, o Cardeal pediu “uma familiaridade constante com a
Sagrada Escritura, principalmente com os Evangelhos”. “Ouvir, meditar, estudar
e praticar a Palavra de Deus deve ser um esforço permanente”.
D. Claudio falou “das responsabilidades que podem
ser confiadas aos diáconos na pastoral batismal e na pastoral
matrimonial-familiar, para além de toda a ação da caridade, a solidariedade
para com os pobres, a justiça social”.
No Documento da santa Sé encontramos essa
afirmação:
“O diácono é também ministro ordinário da
exposição do Santíssimo Sacramento e da benção eucarística” (pag 120, cap II do
diretório, paragrafo 32 sobre eucaristia).
Nas Missas, o Bispo, o Presbítero e o diácono podem
distribuir a comunhão em igualdade de condições, sendo que o diácono ao
distribuir a comunhão não o faz como auxiliar do padre, mas no exercício de seu
próprio ministério. O diácono não é auxiliar do padre, mas serve o Altar no exercício de
seu ministério próprio e está ligado diretamente ao Bispo.O diácono pode exercer todas as funções do
presbítero, à exceção da Consagração, Confissão e Unção dos enfermos. Portanto,
pode distribuir a comunhão, conceder bênçãos, conceder a bênção do Santíssimo,
presidir casamentos, realizar batizados e exéquias, fazer homilias nas Missas e
celebrações da Palavra, presidir celebrações da Palavra, presidir todos os
sacramentais, etc..; sendo que nas Missas presididas pelo padre, bispo e até
pelo Papa, é o Diácono quem proclama o Evangelho.O responsável pelo diaconato é o Bispo; o diaconato
no caso de pessoas que não vão se ordenar sacerdote só pode ser após os 35
anos. E deve ser um candidato que conheça bem a doutrina católica, tenha um bom
domínio da Sagrada Escritura, formação teológica e pastoral; viva de acordo com
a fé da Igreja e seja uma pessoa de boa conduta na sociedade. São Paulo disse:
“Os diáconos não sejam casados senão uma vez, e saibam governar os filhos e a
casa. E os que desempenharem bem este ministério, alcançarão honrosa posição e
grande confiança na fé, em Jesus Cristo”(1 Tm 3,12-13). Se o diácono permanente
ficar viúvo, não pode se casar novamente.
O Código de Direito Canônico diz:
“Os aspirantes ao diaconato permanente, de
acordo com as prescrições da Conferência dos Bispos, sejam formados a cultivar
a vida espiritual e instruídos a cumprir devidamente os deveres próprios dessa
ordem” (Cân. 236).
Falando aos diáconos permanentes Dom Claudio pediu
que se esmerassem na santificação pessoal, na vida de oração e da
espiritualidade diaconal.O candidato ao diaconato deve ser alguém que ama a
Igreja, tem zelo apostólico, desejo de evangelizar e salvar almas e vive
intensa vida de oração e sacramental. Assim, poderá cumprir bem a sua missão.Não há ministério eclesial frutuoso sem o tempero
da cruz gloriosa. É preciso que o diácono seja capaz de abraçar a cruz como
dom, como privilégio para fazer o coração do servo pulsar no ritmo do Coração Redentor.
Vivenciar o amor de Cristo de tal modo que nem a tribulação, nem a angústia,
nada nos possa dele separar (1 Cor 8, 35 - 39).
O que é o diaconato?
Diaconato é o primeiro grau do sacramento da ordem.
Os outros dois são o presbiterado e o episcopado, portanto, diáconos,
presbíteros e bispos compõem a hierarquia da Igreja. As mãos lhes são impostas
para o ministério e não para o sacerdócio. Com a ordenação o diácono deixa sua
condição de leigo e passa a fazer parte do clero. Esse sacramento imprime
caráter, que o faz diácono por toda a eternidade. Não há como retroceder.
O diaconato é coisa
nova na Igreja?
Não. O diaconato foi instituído pelos apóstolos.
Podemos ver em Atos 6, 1 - 6 a imposição de mãos sobre os primeiros sete diáconos:
Filipe, Prócono, Nicanor, Tímon, Pármenas, Nicolau e Estevão que foi o primeiro
mártir (At. 6,8-7,60). Podemos, ainda, ver outras referências como Fl. l,1 e 1
Tm. 3, 8 - ss. Permaneceu florescente na Igreja do ocidente até o século V,
depois por várias razões desapareceu.
Quando foi
restabelecido?
Foi restabelecido pelo Concílio Vaticano II.
Inicialmente foi regulamentado pelo papa Paulo VI em 1967 no motu próprio
"Sacrum Diaconatus Ordinem". Em 31 de março deste ano foram
promulgados pela congregação para o clero as "Normas fundamentais para a
formação dos diáconos permanentes" e "O diretório do ministério e da
vida dos diáconos permanentes". Estes documentos deixam explícitos que
"a restauração do diaconato permanente numa nação não implica a obrigação
da sua restauração em todas as dioceses. Compete exclusivamente ao bispo
diocesano restaurá-lo ou não".
Por que permanente?
Existem dois tipos de diáconos. O diácono
transitório é aquele que recebe o sacramento da ordem no grau do diaconato para
depois receber o segundo grau e tornar-se presbítero, ou padre conforme
costumamos dizer. O diácono permanente sendo casado não pode ascender ao grau
superior, ficando permanentemente como diácono.
Ficando viúvo o diácono
permanente pode ser ordenado presbítero?
Na realidade pode. No entanto precisa de uma autorização especial e
ainda de completar os estudos, da concordância do bispo e do conselho de
presbíteros e de forma preponderante da certeza absoluta de sua vocação ao
presbiterado. Contudo
isto é importante: o diácono permanente que ficar viúvo não pode se casar
novamente.
O que é necessário para
se tornar diácono?
As normas da Igreja fazem algumas exigências: a
formação deve durar pelo menos três anos (no mínimo mil horas) e deve conter
obrigatoriamente teologia bíblica, dogmática, litúrgica e pastoral; o candidato
deve estar casado há no mínimo cinco anos; tem que ter pelo menos 35 anos. Vida
matrimonial e eclesial exemplares. Autorização verbal da esposa no momento da
ordenação e por escrito, arquivada no processo.Todas as dioceses têm normas específicas, exemplo:
segundo grau completo, situação econômica estável, indicação do pároco,
entrevistas com o bispo (inclusive esposas), idade superior a quarenta anos,
retiros espirituais a cada seis meses para que se possa meditar sobre sua
vocação; estar intimamente ligado a uma paróquia onde venha prestando valiosos
serviços; complementar seus estudos com teologia moral, história da Igreja,
direito canônico e mariologia. Ser homem de oração e assíduo na freqüência aos
sacramentos.
Alguém pode se
apresentar como candidato ao diaconato?
De modo geral o candidato é escolhido entre aqueles
que se sobressaem na comunidade por sua espiritualidade e engajamento na
paróquia, todavia, nada impede que alguém explicite ao pároco ou mesmo ao bispo
diocesano sua vocação de servir à Igreja como ministro ordenado.
Quais são as funções do
diácono?
Diaconia quer dizer serviço, então o diácono é
ordenado para servir. Faz parte do ministério do Cristo Servo, "que veio
para servir e não para ser servido". A Lumem Gentium diz que: servem o
povo de Deus na diaconia da liturgia, da Palavra e da caridade. ( LG 29). Na
liturgia eucarística o diácono tem funções próprias: servir o altar, proclamar
o Evangelho, convidar para o abraço da paz, purificar os vasos sagrados e fazer
a despedida. Deve, ainda, incentivar a assembléia para uma participação correta
e efetiva na Divina Liturgia.
Então o diácono só não
pode consagrar?
Não é assim. O diácono é ordenado para o serviço e
não para o sacerdócio. Na realidade o diácono é ministro ordinário
dos Sacramentos: do batismo e matrimônio. É também ministro ordinário da
comunhão eucarística. Pode ainda ministrar todos os sacramentais;
dar as bênçãos próprias de ministro ordenado (objetos de devoção, casas,
automóveis, etc.), inclusive a bênção com o Santíssimo Sacramento. Tem
ainda a faculdade de presidir à celebração do matrimônio.
O diácono pode exercer
seu ministério em qualquer paróquia?
Teoricamente pode exercer seu ministério em
qualquer lugar do mundo, afinal de contas ele recebeu um sacramento válido e a
Igreja é una, santa e católica, ou seja, é universal, no entanto o diácono está
intimamente ligado ao bispo diocesano a quem deve plena obediência. O bispo
pode colocá-lo como auxiliar de um pároco, contudo, ele tem a faculdade de
auxiliar em outra paróquia desde que disponha de tempo e tenha a autorização do
titular competente.
Como fica a vida
matrimonial do diácono?
Os documentos de "Santo Domingo" nos
dizem que o diácono permanente é o único a viver a dupla sacramentalidade - da
ordem e do matrimônio. Um não elimina o outro. A vida matrimonial é portanto
vivida em sua plenitude. Esta é a razão pela qual a esposa tem que autorizar,
por escrito e de viva voz, no momento da ordenação, que o bispo tem a sua
autorização irrevogável para ordenar seu marido.
O diácono recebe
ordenado ou remuneração pelo serviço?
Absolutamente nada. Todo seu trabalho é uma doação
à Igreja, no entanto nada impede que seja ressarcido de todos os gastos que
venha a fazer como, por exemplo, o combustível que gasta em suas locomoções
para o exercício de seu ministério. Geralmente o diácono além de nada receber,
presta sua ajuda pecuniária à paróquia onde presta seus serviços.
Porque a estola do
diácono é diferente?
A estola do sacerdote desce verticalmente ao longo
do corpo para mostrar a verticalidade de seu ministério. Sendo pontífice ele
faz ponte, faz ligação entre Deus e o homem através do sacrifício apresentado a
Deus "in persona Christi". O ministério do diácono é voltado para o
serviço à comunidade. A estola atravessada no peito mostra a horizontalidade de
suas funções.
Hà muitos diáconos
permanentes no Brasil?
O Brasil conta hoje com cerca de 1.258 diáconos.
Existe alguma diaconisa?
Não. Sempre foi norma na igreja católica conceder o sacramento da ordem apenas aos homens. As "diaconisas" de que fala a Bíblia Sagrada não receberam imposição das mãos, mas apenas exerciam a "diaconia " (serviço) em suas comunidades.
Existe uma diretoria/comissão para os diáconos como a CNBB para os bispos?
Sim. Existe a Comissão nacional dos diáconos com seu presidente e auxiliares. Existe também em cada regional a Comissão regional dos diáconos. Onde há grande número de diáconos, há a Comissão diocesana dos diáconos.
Por Alberto Magno, Site da Catedral de Brasília - www.catedral.org.br
Conclusão
O restabelecimento do Diaconato Permanente após o Concílio Vaticano II reafirma a intenção da Igreja de recuperar ministérios essenciais ofuscados ao longo da história, restaurando o equilíbrio entre serviço, missão e participação comunitária. Ao mesmo tempo em que representa uma graça para a vida pastoral — aproximando a Igreja das realidades concretas do povo —, a efetivação plena desse ministério exige superar resistências internas, fortalecer programas formativos e aprofundar a compreensão teológica da diaconia como vocação estável e definitiva. Assim, o diaconato permanece como um chamado à conversão pastoral e à renovação missionária, convidando a Igreja a viver mais intensamente sua identidade servidora, em fidelidade às inspirações conciliares e às exigências do mundo atual.
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