Quando o carioca Ricardo Paes de Barros, 66, voltou ao Brasil após
doutorado nos EUA, era fim da década de 1980 e a discussão no país era
macroeconômica, motivada por anos sem crescimento e inflação alta. Engenheiro e
mestre em estatística, seu interesse ia por outro caminho: o comportamento das
pessoas e a área social.
Durante a pós-graduação na Escola de Chicago, ele foi aluno de James Heckman, ganhador do prêmio Nobel por seu trabalho com microeconomia!
"Sempre houve uma visão grande na área social brasileira, mas
nem sempre ela foi baseada em microinformações. A minha contribuição foi
conectar esse pessoal com a estatística e outros métodos quantitativos",
conta.
Pesquisador do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) desde a década de 1970, passou os anos 1990 trabalhando em temas que se traduziram no maior programa de transferência de renda do mundo. Criado em 2003 na gestão Lula, o Bolsa Família foi concebido por um grupo de economistas liderado por ele: "Porque predominava um pouco na academia [a ideia de] que a pobreza era 'multitudo': multifacetada, multidimensional, um fenômeno intrincado. E o que eu dizia era: fiz uma conta aritmética e se a gente transferir uma quantidade mínima, as pessoas ao menos vão ter dinheiro para comida. E eu acho que, sendo o Brasil um país de renda média com desigualdade gigante, passou da hora de tolerar pessoas com fome."
Diálogo com as pontas
Para Paes de Barros, um motivo do sucesso do Bolsa Família é que ele foi focalizado - ou seja, chegou primeiro aos que mais precisavam - e avançou gradualmente. "A gente teve dez, quinze anos de programa com uma disciplina fiscal muito séria..." - Alcançando 14 milhões de famílias (cerca de 43 milhões de brasileiros, mais de 20% da população), o programa ajudou a reduzir a desigualdade no Brasil em 10% em 15 anos, diminuindo a pobreza em 15% e a extrema pobreza em 25% entre os cadastrados, segundo estudo de 2019 do Ipea. Uma pesquisa de 2014 da Universidade de São Paulo mostrou também que o Bolsa Família contribuiu para que as pessoas tivessem acesso a alimentos saudáveis. Hoje professor do Insper e ex-diretor do Instituto Ayrton Senna, o doutor em economia julga inconcebível, com a riqueza do país, não garantir uma renda mínima per capita aos mais pobres. Vê, no entanto, o Auxílio Emergencial mal desenhado. Em janeiro de 2021, a extrema pobreza disparou: 12,8% dos brasileiros passaram a viver com menos de R$ 246 por mês.
"O
problema é que a gente entrou de uma maneira muito generosa, corretamente, mas
saiu desconhecendo quem são aquelas pessoas que mais precisavam porque optou
por não dialogar com o pobre", diz ele.
Para o professor, que foi subsecretário de Ações Estratégicas da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República entre 2011 e 2015, se de início foi correto garantir renda de forma ampla, depois era necessário entender quem ficou mais descoberto - até para cobri-los melhor. "Depois do primeiro mês a gente percebeu que 10 milhões pessoas perderam emprego, e não 70 milhões. Então você vai atrás desses 10 milhões." - E havia (e há) como fazer isso.
"Se você vai fazer um programa social, nunca é boa ideia você
se isolar de quem você está apoiando. Você tem que conhecer o pobre, chegar
junto. A questão não é que os brasileiros não sabem quem está sofrendo mais - o
governo não sabe, mas tem gente nas comunidades que sabe e poderia te informar.
Hoje o Brasil tem 250 mil pessoas trabalhando na assistência social. Nossa
política na ponta funciona, mas a gente precisa conversar com ela", diz.
Isso porque faz grande diferença a atuação em campo no diagnóstico das necessidades - e possíveis mudanças no cadastro colocam o Cras (Centro de Referência de Assistência Social), justamente, em segundo plano.
"Sempre foi um desafio pro Bolsa Família ter um bom Cadastro
Único. A gente passou uma década tentando construir o sistema, que tem um monte
de problema, mas é o que a gente tem que ter no futuro."
Para o
professor, tanto o melhor uso das informações quanto políticas de inserção
produtiva podem ajudar na saída da crise!
"Hoje há pessoas precisando menos do dinheiro e mais de
assistência técnica para voltar ao mercado de trabalho. O que vamos precisar é
uma espécie de [Plano] Brasil Sem Miséria, que não faço a mais vaga ideia do por que não está no ar."
Um obstáculo do Bolsa Família na superação da pobreza, por
exemplo, segundo estudo do Ipea citado acima, é o valor do auxílio. Por
isso, um projeto complementar de inclusão no mercado como o Brasil sem Miséria
é tão importante.
Sem pesquisas
sérias e verdadeiras, não se governa!
Membro da Academia Brasileira de Ciências e homenageado em 2005 com a Ordem Nacional do Mérito Científico, o carioca diz que outro aspecto do bom funcionamento de um programa social é conhecer e mostrar seus impactos. Para isso é preciso pesquisa. - "Não ter estudos do Ipea sobre pobreza, sobre desemprego neste momento não é bom. O IBGE fez a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Covid, de uma importância gigantesca: a informação dos 10 milhões que perderam emprego nós sabemos por causa desse estudo", diz o professor.
Para ele, essas instituições precisam ser muito mais valorizadas. E, no atual contexto, terão de adaptar a forma de trabalho. "A gente precisa do IBGE hoje mais do que nunca!" Impossível governar esse país sem uma informação censitária!
Dando aulas de casa, o professor vê que os países que estão
enfrentando bem a crise são aqueles cujas recomendações do governo, junto a pesquisadores e da imprensa, andam juntas!
"Quando a elite política está falando coisas de bom senso,
que a elite acadêmica concorda, a mídia concorda, aí você tem a população
entendendo!"
Ele vê a forma como a pandemia vem sendo administrada no país como
a pior possível!
"Não
adianta dar paradinhas e não controlar nada. Se você vai sacrificar a sua
economia, sacrifica sincronizadamente. Essa coisa agonizante brasileira é a
pior do mundo!"
Fonte - https://www.uol.com.br/ecoa/reportagens-especiais/alimentacao-causadores---ricardo-paes-de-barros/#end-card
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