Em tempos de crise religiosa e eclesiástica, principalmente quando ela
atinge as mais altas autoridades da Igreja, é normal aparecerem duas tentações
opostas:
1)-A primeira, e a mais grave, é a de revolta contra a autoridade do
Papa, que pode levar ao cisma e à heresia!
2)- A segunda, mais sutil, é a de, por respeito à autoridade, aceitar em
silêncio os erros, ou fechar os olhos para os pecados de escândalo em que uma
autoridade da Igreja possa a vir a incorrer.
No fim da Idade Média e no Renascimento, por exemplo, muitos católicos
caíram na primeira tentação, aderindo a inúmeras seitas heréticas!
Lutero e a
Reforma, hoje tão louvados por muitos daqueles que se dizem católicos, levaram
ao ápice essa revolta, ao atacarem o próprio papado, sob o pretexto de que
havia corrupção em Roma, e muitos Papas daquele tempo eram realmente conhecidos
por sua vida escandalosa. Os heresiarcas confundiam a pessoa que estava no
sólio de Pedro com o Papado em si mesmo. Tantos foram os inegáveis escândalos de
alguns papas desse tempo que entre os teólogos mais importantes se estudou, de
novo, a possibilidade de um Papa cair em heresia enquanto pessoa particular,
embora nunca enquanto Papa, exercendo o seu ministério "ex-cathedra".
São Roberto Belarmino, o grande Doutor da Igreja nessa época, foi um desses
teólogos. O Concílio Vaticano I, realizado em 1870, proclamou o dogma da
infalibilidade papal, estabelecendo que, quando o Papa ensina "ex-cathedra",
isto é, como Vigário de Cristo, com o poder dado por Nosso Senhor a São Pedro,
ensinando toda a Igreja sobre questões de Fé ou de Moral, com a vontade
explícita de definir uma doutrina e condenando a sentença oposta, o Papa é
infalível. Esse dogma da infalibilidade do Papa, ao qual aderimos do mais profundo
de nossas almas, é a garantia de que a Igreja jamais errará. O próprio Nosso
Senhor Jesus Cristo, ao dar as chaves a Pedro, lhe disse: "Tu és Pedro, e sobre esta pedra
edificarei a minha Igreja. E Eu te darei as chaves do Reino dos céus. Tudo o que
ligares na terra será ligado no céu. Tudo o que desligares na terra, será
desligado no céu. E as portas do Inferno não prevalecerão contra ti..." (
Mateus 16,18).É sobre essas palavras santíssimas de Nosso Senhor que a
Igreja se baseou para proclamar a infalibilidade papal. É nisto que se
fundamenta a devoção que todo católico deve ter pelo Papa, seja ele quem for. Os
inimigos da Igreja sempre quiseram criar confusões acerca desse ponto, ora
atribuindo ao Papa enquanto tal, e à Igreja, os pecados em que um Papa pode
cair como pessoa particular, ora estendendo a infalibilidade a qualquer ação do
Supremo Pontífice.ATENÇÃO!!! O Papa só é infalível como supremo mestre da Igreja, ao se
pronunciar "ex-cathedra", mas isso não o torna impecável
pessoalmente. Ao querer confundir infalibilidade com impecabilidade, os
inimigos da Santa Sé buscam minar a devoção e a fé que se deve ter na
infalibilidade pontifícia.Ao pretender estender a infalibilidade a qualquer
ação, discurso ou atitude do Papa, leva-se os fiéis a cair num erro que os porá
em grave tentação, quando lhes ficar patente que o Papa, como pessoa
particular, erra e ou peca como qualquer um de nós.Não se deve porém, rejeitar
a infalibilidade do Sumo Pontífice por causa de seus possíveis pecados ou erros
pessoais, nem negar suas possíveis faltas morais por causa do brilho do carisma
infalível de sucessor de Pedro. Quanto ao Sumo Pontífice, pois, é preciso
sempre ter em mente que ele continua infalível enquanto Papa, mesmo quando
pecador enquanto homem, e que ele permanece um homem possivelmente pecador e
falível, mesmo sendo Pontífice infalível quando fala "ex
cathedra".
Para ilustrar o que dizemos, convém lembrar como agiu S.
João Bosco no início do pontificado de Pio IX
Como se sabe, o Papa do
incomparável documento "Syllabus", o Papa da Imaculada Conceição, o Papa que
proclamou o dogma da infalibilidade pontifícia, teve no início de seu
pontificado, atitudes que muito favoreceram os liberais. Ele anistiou
os terrorristas e carbonários presos nos Estados da Igreja, deu uma
constituição liberal para esses Estados, nomeou um primeiro ministro liberal;
enfim, ajudou tanto os revolucionários que Roma se tornou o refúgio de
anarquistas, carbonários e revolucionários de todas as gamas e de todos os
tipos! Por isso, a Maçonaria fazia gritar pelas ruas das cidades italianas e
por todo o mundo: "Viva Pio IX !"
São João Bosco, que vivia então em Turim, ordenou a seus alunos que
jamais gritassem "Viva Pio IX" e sim "Viva o Papa !"
Com
isso, D. Bosco desfazia a manobra carbonária! Devemos gritar sempre "Viva
o Papa", pouco importando o nome daquele que está no trono de Pedro. Seja
ele santo ou pecador, devemos manter ao Papa, "doce Cristo na terra",
como dizia Santa Catarina de Siena, nossa devoção filial e nossa fidelidade a
tudo o que ele ensina, como legítimo sucessor de Pedro e com o poder das
chaves! Hoje a compreensão desses princípios é muito necessária, pois somos
ameaçados por dois erros opostos com relação ao Papa: o sede-vacantismo e o
infalibilismo universal. Nós rejeitamos a ambos!
Há quem afirme que os últimos
Papas, por sua adesão a supostos erros do Vaticano II, Concílio tido por
alguns, como meramente pastoral e não dogmático, apesar deste mesmo concílio
ter promulgado 4 constituições de caráter "dogmático!" (definitivo, ou seja, imutável):
1)-DEI VERBUM (a Palavra de Deus).
2)-LUMEN GENTIUM (a Luz
dos Povos).
3)-SACROSANCTUM
CONCILIUM (Sacrossanto Concílio).
4)-GAUDIUM ET SPES (Alegria e Esperança).
Ainda assim, alegam alguns que seria um
concílio falível (passível de erros) e que, por isso, ninguém está obrigado a
aceitar, e teriam portanto, os papas promulgadores e posteriores apoiadores, perdido
o seu pontificado, tese esta que não encontra respaldo nem nas sagradas
escrituras, nem na história da Igreja, nem na sua tradição, e muito menos em qualquer
documento da Igreja. Tese temerária, aventureira e imprudente, pois até hoje
ninguém a demonstrou com provas claras e irrefutáveis.
Essa tese demoníaca põe os fiéis à
beira do cisma, senão dentro dele!
De outro lado, os progressistas, que viram algumas
de suas idéias dúbias e equivocadas, triunfarem no Vaticano II, procuram impingir
aos fiéis católicos essas idéias em sua totalidade, como se fossem dogmas de
Fé, o que é absolutamente falso. Mais ainda, os defensores do infalibilismo absoluto e universal do Papa
procuram fazer com que os católicos julguem qualquer discurso do Papa, até
mesmo um simples discurso de acolhida de turistas, uma entrevista, ou uma fala
isolada e pessoal do papa, como se fosse um dogma de fé, nivelando um texto
pastoral, ou um discurso de cortesia, aos pronunciamentos
"ex-cathedra". Isso também nós não podemos aceitar.O Papa, não é demais
repetir, só é infalível quando ensina "ex-cathedra", ou quando repete
os ensinamentos de todos os Papas anteriores (Magistério Ordinário Universal).
Fora disso, pode errar.
Ter devoção ao Papa é dever de todo católico. Mas o próprio Papa
reinante deve ter devoção ao Papado!
Também portanto, todos os papas do
Concílio Vaticano, desde São João XXIII, seu idealizador, até o papa atual, tem
obrigação de aceitar tudo o que os Papas anteriores a eles ensinaram "ex-
cathedra". É, pois, com verdadeira devoção católica à Cátedra de Pedro
que exclamamos de toda nossa alma "Viva o Papa ! " Qualquer quem ele seja!
Um dia, Cristo perguntou aos apóstolos:
"Quem dizem os
homens que eu sou ?" Os apóstolos responderam: "Uns
dizem que és Elias, outros dizem que és João Batista que voltou ". E
Cristo ainda: "E vós quem dizeis que eu sou ? ". Eles
se calaram, não sabendo o que dizer.Não sabiam o que dizer, após terem visto
tantos milagres. Não sabiam o que dizer, após terem ouvido tantas verdades.Até
que S. Pedro proclamou: "Tu és o Cristo, filho de Deus vivo!"
Hoje,
Deus nos pergunta: "Que dizem os homens que é o Papa?"
E alguns respondem que ele
é um homem comum, outros (hereges incubados de católico), ultrajam-no, dizendo-o
que o papa é o anticristo! E nós, quem dizemos que é o Papa? “Ele é Pedro redivivo. Ele é,
de fato, plenamente, "o doce Cristo na terra". Com Santa Catarina de
Siena repetimos essa afirmação tão doce ao nosso coração de católicos, tão
cheia de verdade, dessa Verdade que, desde o batismo, é a luz de nossas almas e
de nossas vidas.Sim, nós temos essa certeza: "Nós, católicos, somos filhos da
certeza", porque somos filhos formados pela Santa Mãe Igreja de Cristo: "Coluna e Sustentáculo da verdade" (I Tim 3,15) - E com a certeza que nos dá a palavra de Cristo e o dogma da
infalibilidade papal, firmes sobre a pedra, nós dizemos com toda força de
nossas almas: o Papa é Pedro reinando em Roma. O Papa é o vigário de Cristo! E
quando esse século maldito nos interroga com sua boca ateia ou com sua língua
progressista; quando ele, sorrindo irônico, duvida de nossa fé; quando nos
ameaça e nos interroga, dizendo: "E quem é o Papa ?", com ufania lhe
respondemos que ele é nosso Pai na Fé !Depois de séculos de santidade gerada pela Igreja e por sua doutrina,
infalivelmente repetida pelos papas de todos os tempos; após dois mil anos de
milagres, como não saber responder a esta pergunta que o mundo, hoje, nos faz
com insolência: "E quem é o Papa? " O Papa é a Rocha sobre a qual
Nosso Senhor edificou a sua Igreja. E quando esse século subjetivista e
relativista, sem convicções, que de cada pseudo-cientista, ou de cada guru faz
um "papa" infalível, repele os Papas do passado e do presente, porque
pensa que tudo evolui, nós lhe respondemos que passarão os céus e a terra, mas
as palavras do Papa, falando "ex-cathedra" jamais
passarão.
Disse um poeta, que:
"É fácil acreditar na luz, ao meio dia. Difícil é
crer no sol, à meia noite". - Era fácil acreditar e ter verdadeira devoção ao Papa,
quando em Roma reinavam São Gregório VII, Pio IX ou São Pio X. Difícil foi
manter a verdadeira fidelidade e a verdadeira devoção ao Papa, em Avignon, ou
no tempo do Grande Cisma do Ocidente, ou na corte de Roma renascentista. Difícil
ainda mais é manter fidelidade à Igreja e a verdadeira devoção ao Papa, nestes
dias de trevas, durante o eclipse do sol católico, causada pelos relativistas e
progressistas com suas achologias, relativizando os dogmas proclamados
solenemente pela Igreja, e absolutizando seus próprios dogmas pré fabricados e achológicos!
É
pois em meios a algumas trevas modernistas e relativistas infiltradas não só no Vaticano II, como em todos os demais concílios do passado da Igreja, odiados e incompreendidos
pelos que erram à esquerda, no centro e à direita, que proclamamos com Fé:
Nós
cremos na Igreja Una, Católica Apostólica e Romana! Nós cremos no Papa!
"Viva o
Papa ! Viva o Papa! Doce, doce Cristo na terra !!!"
*Adaptado de: Orlando Fedeli - MONTFORT
Associação Cultural
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